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Capítulo V – Gases
5.1. Generalidades
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Capítulo V – Gases
123
Quantitativas ou
1442443
mensuráveis
n.° = 4
Intensivas: pressão e temperatura
P.E.
123
Qualitativas ou
não mensuráveis Componentes do sistema
n.° = nC
A primeira destas leis foi estabelecida por Robert Boyle em 1662 e diz que "o volume
de uma dada massa de gás mantida a temperatura constante é inversamente
proporcional à pressão":
1 1
Volume ∝ ou , simplesmen te , V ∝ (1)
pressão P
cons tan te
PV = cons tan te ⇒ P =
V
em que V é o volume e P é a pressão.
Se V é uma função de P (lei de Boyle), o que pode ser representado por ƒ(P),
então P é função de V, ou seja, P = g(V). Esta função g é chamada função inversa de f e
pode ser representada por P = ƒ-1 (V). A expressão matemática para esta função inversa
pode ser obtida de (1):
cons tan te
PV = cons tan te ⇒ P = (2)
V
Esta expressão pode ser parcialmente entendida desde que se aceite os
fundamentos da teoria cinética dos gases: "As moléculas movem-se ao acaso e em linha
reta e ao atingirem a parede do recipiente que as contém, sofrem colisões perfeitamente
elásticas."
Durante o intervalo de tempo em que molécula e parede ficam em contato, a
molécula sofre uma variação na velocidade, de forma que ao se desligar da parede a
direção e o sentido desta velocidade acham-se alterados (figura 5.1). Neste intervalo de
tempo a partícula fica sujeita a uma aceleração, a qual é a responsável pela mudança na
componente vx da velocidade. Molécula e parede comportam-se como uma mola que é
comprimida e a seguir volta a seu formato original. Logo, a parede do recipiente exerce
uma força sobre a molécula durante o tempo de contato molécula-parede. Pelo
princípio da ação e reação, esta mesma força é exercida, durante o mesmo tempo, pela
molécula sobre a parede.
A figura 5.1 ilustra a ação exercida por uma parede, rígida e fixa, sobre uma
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Capítulo V – Gases
A força total (ou resultante) exercida pelas moléculas do gás, num instante t, sobre
a unidade de área do recipiente, é a pressão P. Ou seja, P = F/A, em que F é a força
resultante agindo sobre uma área macroscópica A. Estatisticamente p independe da
área A escolhida para a medida de F e do tempo considerado. Aumentando-se o
volume V do sistema o percurso que cada molécula deve efetuar, até chocar-se com a
parede do recipiente, aumenta, diminuindo o número de colisões na unidade de tempo
e, conseqüentemente, diminuindo a pressão p, o que está em acordo com a equação (2).
A lei de Charles (1781) diz que "o volume de uma massa fixa de um gás, mantido a
pressão constante, é diretamente proporcional à temperatura absoluta":
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Capítulo V – Gases
A lei de Avogadro (1811) diz que "volumes iguais de gases de natureza diversa,
nas mesmas condições de pressão e temperatura, contém o mesmo número de
moléculas". Da forma como está exposta, a lei de Avogadro refere-se à comparação
entre sistemas gasosos. Interessa-nos explorá-la de uma forma mais ampla, qual seja,
adaptá-la a determinadas transformações que possam ocorrer num sistema gasoso
constituído por um componente (não obrigatoriamente fixo). Para tanto, vamos antes
definir volume molar.
Volume molar, Vm, é o volume ocupado por um mol de uma substância química
qualquer. O volume total pode ser expresso por:
V
Vm = (4)
n
Para um sistema homogêneo, V m é uma propriedade intensiva e, portanto,
independente do volume considerado.
Imaginemos agora um sistema constituído por um gás I em equilíbrio. Num
determinado momento adicionamos um reagente R de tal forma que a reação entre I e
R resulte na extinção completa de I e na formação de um gás II mais um produto de
reação P (figura 5.2).
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Capítulo V – Gases
volume igual a V1 e outra com o que falta para V2 (figura 4, vide representações
volumétricas em cinza). Pela lei de Avogadro, o número de moles (ou de moléculas)
contido na fração de volume V1 é igual a n1. O volume molar do gás II (VmII) será igual
nas duas frações, podendo ser determinado, com o auxílio da equação (4), tanto através
da fração V1 como do volume total V2 do sistema: VmI = V1/n1 ou VmII = V2/n2.
Igualando estas duas expressões chegamos a:
V1 V2
= (5)
n1 n2
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Capítulo V – Gases
Portanto:
a = tg α (10)
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Capítulo V – Gases
funções, que diferem entre si pelo valor de C, ou seja, pelo coeficiente angular. Como b
= 0, quando T = 0, teremos V = 0 e, portanto, todas as retas passam pela origem.
Como a transformação de Charles é a pressão constante, é costume chamar tais
retas de isóbaras, correspondendo cada uma delas a um valor de P.
As leis gerais dos gases nos fornecem três equações de estado úteis para o
estudo de transformações de estado particulares. Interessa-nos obter relações entre
propriedades de estado para uma transformação qualquer. A situação mais geral é a
transformação de um sistema constituído por um gás nas condições p1, V1, T1, m1 e M1
em outro também constituído por um gás, porém nas condições p2, V2, T2, m2 e M2. A
maneira como a transformação ocorreu não nos interessa. Interessa apenas estabelecer
relações entre as propriedades no estado inicial (1) e no estado final (2). Para tanto
podemos utilizar um artifício supondo que a transformação global tenha ocorrido em
três etapas a respeitarem, em cada uma delas, uma das três leis gerais que estudamos
no item 5.2. A figura 5.5, apresentada a seguir, fornece esse raciocínio de maneira
esquemática.
Substituindo o valor de V' dado pela lei de Boyle como apresentado na figura 5.5, na
expressão da lei de Charles, e substituindo-se o V'' assim obtido na expressão da lei de
Avogadro, chegamos a uma relação entre todas as variáveis de estado consideradas
para os estados 1 e 2:
P1 V1 M 1 P2 V2 M 2
=
T1 m 1 T2 m 2
Esta é a equação de estado procurada. Lembrando que n = m/M, e generalizando a
expressão para um estado qualquer, temos:
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PV = cons tan te × nT
PV
=R
nT
ou, como é mais conhecida:
PV = nRT (11)
em que R é a chamada constante dos gases.
As três leis gerais dos gases estão implícitas na equação (11) e os significados
matemáticos das constantes B, C e A estão representados acima na tabela 4. B, C e A
são constantes apenas para transformações específicas e seu valor depende do estado
inicial. Já havíamos admitido esta dependência para C no item 5.2.3, ao discutir a
figura 5.4. Vemos agora, pela tabela 2, que C é uma função de três variáveis: C = ƒ(m,
P, M). A e B são também funções de estado dadas por: A = g(T, p) e B = F(m, T, M).
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Se o gás sofrer uma transformação isobárica tipo Charles (figura 5.6b) até um volume
V2, o corpo de massa m será deslocado para uma posição mais alta. Diremos que m
ganhou energia potencial ∆EP, tal que
∆EP = EP2 - EP1
em que 22,414 litros é o volume molar nas condições normais de pressão e temperatura
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(CNPT) como veremos no item 5.9.3. Resolvendo-se a equação geral dos gases (11) para
1 mol, nestas condições, temos:
R = (1atm⋅22,414litro)/(1mol⋅273,15K) = 0,08206 (atm⋅litro)/(mol⋅K)
A pressão exercida por uma coluna de mercúrio pode ser dada por:
PHg = F/A = mg/A = dVg/A = dgh (vide figura 5.7)
cálculo este que é aproximado em virtude das aproximações efetuadas para d (13,6
g/cm3) e g (980 cm/s2). O valor de R em unidades térmicas pode ser obtido através da
igualdade:
1 cal = 4.184 joule.
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Conservação da Matéria:
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S
m = m1 + m2 + L + mS = ∑ mi
i −1
Lei de Dalton:
p = p1 + p2 + ... + ps
Substituindo p1, p2, L, ps, em (22), pelos valores dados nas equações (20):
RT RT RT
p = n1 + n2 +L+ ns
V V V
ou
RT
p = (n 1 + n 2 + L + n s ) (23)
V
ou
S
pV = RT ∑ n i (24)
i−1
a qual é a equação geral para uma mistura de gases.
em que xi é a fração molar do gás i. Se, por exemplo, a pressão parcial do gás 1 for
igual a 3 atm e a pressão total da mistura dos gases 1 e 2 for igual a 4 atm, teremos para
as frações molares:
x1 = 3/4 = 0.75 e x1 = (p - p1)/p = 1/4 = 0.25
significando que 75% das moléculas da mistura são do gás 1 e 25% são do gás 2.
Decorre da própria definição de fração molar que:
x1 + x2 = 1
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Generalizando as expressões que relacionam pressão parcial com fração molar para
uma mistura de s gases como a da figura 5.9, temos:
pi = xip (27)
e para a relação entre as frações molares:
x1 + x2 + ... + xs = 1
ou
S
∑x i =1 (28)
i −1
∑n i = n 1 + n 2 +L+ n S (29)
i −1
é constante. Um sistema mais geral é aquele onde ocorrem reações químicas e portanto
ni e/ou i são variáveis e a expressão (29) é variável. Se o sistema for aberto (m
variável), a generalização estará completa para o estudo dos gases.
A figura 5.10 mostra uma transformação geral deste tipo na qual um sistema
passa de um estado 1 para um estado 2 através de uma ou mais reações químicas e/ou
transporte da massa φm do exterior para o mesmo. A equação geral para uma mistura
de gases (24) pode ser aplicada a cada estado isoladamente:
Estado 1 Estado 2
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RT S RT r
p1 = ∑ n 1i p2 = ∑ n 2j (30)
V1 i − 1 V2 j − 1
em que
S
∑n 1i = n 11 + n 12 + L + n 1 S
i −1
e
r
∑n 2j = n 21 + n 22 + L + n 2 r
j− 1
CASOS PARTICULARES
S
R
QUALQUER nC ≥ 1 P, V, T e ∑n
i −1
i
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nC = 1 P/RT)
S
Fechado, qualquer P, V e T R e n ∑n i = n PV = nRT
nC = 1 i −1
PV = constante1
Tipo Boyle P, e V T, R e n
(constante1 = nRT)
nC = 1
V = constante2⋅T
Tipo Charles V e T P, R e n
(constante2 = nR/P)
nC = 1
P, V, T, R e
Em equilíbrio S
nC ≥ 1 ∑n
i −1
i
Os desvios entre o comportamento dos gases reais e aquele que seria de se esperar pela
observância da lei dos gases, têm sido exaustivamente estudados à partir dos trabalhos
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Capítulo V – Gases
pV
Z= (33)
nRT
Para um gás que obedeça as leis gerais dos gases, Z = 1, pois PV = nRT.
Em virtude do que foi exposto no item precedente podemos dizer que à medida
em que a pressão de um gás tende a zero, o seu comportamento, frente a alterações em
suas propriedades de estado, tende ao do gás ideal. Outras condições particulares a
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Capítulo V – Gases
cada gás existem em que o comportamento dos mesmos aproxima-se ao do gás ideal.
Em todos esses casos verifica-se que essa aproximação coincide com a obtenção de
valores para Z cada vez mais próximos de 1. E o inverso é verdadeiro: sempre que Z
tende a 1, o comportamento do gás tende ao ideal. É possível então definir o gás ideal
como o limite para o qual tende o gás real, quando Z tende para 1. Simbolicamente
podemos escrever:
gás ideal = lim(gás real )
Z →1
Raciocínio análogo pode ser efetuado para expressões matemáticas. Desta forma,
através da definição de Z (equação 1-42) podemos escrever:
PV
lim =R
Z→1 nT
Esta expressão encerra o comportamento dos gases reais e é, em síntese, o verdadeiro
enunciado para a Lei Geral dos Gases. A lei de Boyle seria um caso particular em que n
e T, sendo constantes, não afetariam intrinsecamente o resultado do limite, podendo
serem colocados em evidência:
PV 1
lim = lim PV = R ou lim PV = nRT = B
Z→1 nT nT Z → 1 Z→1
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gás real) o valor assumido por PV = ƒ(p). Nestas condições podemos dizer que o
gráfico representa Br em função de P.
A figura 5.14 reproduz a figura 5.13 conservando apenas os detalhes que irão, por ora,
nos interessar.
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Capítulo V – Gases
A partir do valor de R pode-se obter uma expressão para o volume do gás ideal:
nT
Vid = 0 ,08206
P
e nas condições normais de pressão (1 atm) e temperatura (273,15 K) seu valor será:
(0 ,08206 × 273 ,15 )
Vid = = 22 , 414 litro ⋅ mol − 1
1
PV MPV PV mT mRT
R = lim = lim = M lim ou M = R lim = lim
P → 0 + nT P → 0 + mT P → 0 + mT P → 0 + PV P → 0 + PV
mRT
A figura 5.16 mostra o gráfico do tipo = f(P) para uma massa fixa de
PV
oxigênio a temperatura constante e igual a 300K. O prolongamento deste gráfico para a
condição em que P = 0 fornece o valor de MO2 e, portanto, o peso molecular do
oxigênio.
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Capítulo V – Gases
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de substância para substância, porque dependem das características das moléculas que
as constituem, provocando portanto desvios distintos à equação dos gases perfeitos.
Assim e por exemplo, o vapor de água apresenta desvios pronunciados a densidades
muito mais baixas do que o azoto, porque, à mesma distância intermolecular, as forças
entre moléculas de água são muito mais intensas do que entre moléculas de azoto.
[Daqui resulta:
Vm = RT/p + b (35)
ou seja, um volume maior do que o previsto para um gás perfeito, tal como dito acima].
[Este termo tem que ser realmente subtrativo. A pressão exercida por um gás nas paredes do
recipiente que o contém resulta da soma dos impactos moleculares. A existência de forças
atrativas vai "puxar" para o interior as moléculas em viagem em direção às paredes, diminuindo
assim a sua velocidade e o impacto na parede].
É importante notar que a e b são parâmetros que variam de substância para substância.
Para se efetuarem cálculos com a equação de van der Waals, e ao contrário da equação
dos gases perfeitos, é portanto necessário determinar previamente o valor destes dois
parâmetros para a substância em questão.
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