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Crônicas sobre um casal

- Por que você não pergunta? - sugeriu Laura.


- Por que seus pais tinham que mudar para Serra da Cantareira?!? - respondeu Sérgio,
entre irritado e perplexo em ter concordado em visitar os sogros ( principalmente a sogra
) num domingo, em pleno verão e em dia de semi-final.
- Minha mãe queria estar num lugar mais bucólico, agora que os dois se aposentaram;
e se você pedisse informações a alguém, nós chegaríamos mais rápido e...
- ...E eu estou seguindo as suas indicações. Pronto.
- Sabia que Moisés passou quarenta anos no deserto por se negar a pedir informações?
- atalhou Laura.
- Sabia que Moisés era solteiro e fazia o que queria da vida, sem ter que visitar sogra
em dia de semi-final?!? - provocou Sérgio.
- Moisés não era solteiro, herege! - ela era católica fervorosa.
- Lógico que era! - ele não estava nem aí.
- Não era, e... Olha! Biju!
- Que é que tem? - perguntou Sérgio sempre espantado com a capacidade das
mulheres de mudarem de assunto tão facilmente. - Você não vai querer biju
agora,vai?
- Por que?
-Como por que?!? Simplesmente porque eu lavei o carro ontem!
- E daí? - a pergunta veio com um manear de cabeça. Era típico da Laura - Eu estou
com vontade Posso?
- Não no meu carro!
- No nosso carro!
- Tá bom - disse Sérgio concordando. - Mas já é hora do almoço e você vai perder a
fome se comer porcarias. Agora ele estava apelando para o senso estético de Laura, que
como toda e qualquer mulher, estava “precisando perder dois quilos”.
- Então eu compro e como depois. - disse já chamando o ambulante, que veio todo
sorridente, mesmo debaixo de um calor ...- Dá um saquinho por favor. E onde fica a Av.
Sezefredo Fagundes?
- Olha ( agora era o ambulante falando ), cêis tão meio longe, mais é só quebrá a
próxima direita...
A explicação parecia não ter fim, nem o passeio, que aliás, nem de longe fazia jus ao
termo. Era semi-final...
Continuaram. Sérgio agora sentia um comecinho de fome, mas não podia dar o braço a
torcer e comer biju no carro que ele lavou ontem, ora essa!
- Acho que agora está perto - acalmou Laura, percebendo o avanço das horas, o sol a
pino e a cara de fome de Sérgio, que não ia dar o braço a torcer e abrir o biju. Nem ela
por já ter perdido a vontade de comer biju.
- Bom, só falta sua mãe ter preparado dobradinha. - resmungou o marido.
- Imagina...
- Como imagina? Seu pai adora e eu detesto. Quer melhor motivo?
- Não sei por que você não come. É bom.
- Quem come aquilo come carpete! E você também não gosta!
- Não é que eu não goste... Eu estou querendo...
- Perder dois quilos, eu sei.
O “passeio” prosseguiu e eles chegaram à casa dos sogros de Sérgio, após mais
algumas voltas e o saquinho inteiro de biju.
- Dane-se o carro, depois eu limpo - pensou ele.
- Dane-se os dois quilos, depois eu corro na academia - considerou ela.
- Ooooooi filha, que demora - disse a sogra abraçando efusivamente a filha e nem aí
pro genro. - Nossa, como o carro de vocês está sujo... Ainda bem que vocês chegaram.
Eu estava preocupada e a dobradinha está esfriando!
Entraram.
- Oi filha! - disse o sogro já indo para a mesa. - Oi Sérgio! Seu time tá perdendo.

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