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HISTRIA GERAL

Santo Agostinho estava frente de seu tempo


Renan Garcia Miranda* Especial para a Folha de S.Paulo "Que , pois, o tempo? Se ningum me pergunta, eu o sei; se desejo explicar a quem o pergunta, no o sei", afirmou Santo Agostinho, um homem entre dois tempos. Entre um tempo romano que desmoronava e o tempo medieval em formao. O jeito romano de olhar para o mundo cedia lugar ao olhar cristo medieval. "O homem destri uma civilizao, mas constri outra usando os tijolos da anterior", afirmou o cineasta polons Andrew Wajda. Dos escombros de Roma os cristos construiriam uma nova sociedade. Em 410, Roma, absolutamente fragilizada, foi saqueada pelos godos. Os pagos _nome com que a Igreja designa os no-cristos_ atriburam a invaso ao fato de os romanos terem abandonado os deuses antigos. De acordo com eles, enquanto fora adorado, Jpiter protegera a cidade; ao ser "trocado" pelo cristianismo, deixara de faz-lo. Entre 412 e 427, Santo Agostinho escreveu "A Cidade de Deus", um livro cuja base era a filosofia grega e que exerceria forte influncia nos tempos medievais. Nele respondeu a tais acusaes, argumentando que coisas piores haviam ocorrido em tempos prcristos. Que os deuses pagos eram perversos. Ele no negava a existncia de entidades como Baco, Netuno e Jpiter, considerados demnios. Demnios que ordenavam aos homens, por exemplo, que criassem peas teatrais, definidas por Santo Agostinho como "espetculos da imundcie". Em razo desses deuses, Roma sempre fora perversa e pecaminosa. Com o cristianismo, ela se salvaria. E, se a cidade dos homens fora invadida, pouco importava, j que o objetivo maior dos homens era a salvao por meio da bondade para atingir a cidade de Deus, a sociedade dos eleitos. A busca central no era a cidadania na sociedade dos homens, mas a salvao no reino de Deus. Para falar sobre o mal que habitaria os homens, Santo Agostinho relatou, em suas "Confisses" _histria apaixonada de sua descoberta de Deus_, que na infncia roubara peras da rvore de um vizinho, embora no estivesse com fome e na casa de seus pais houvesse melhores. Fizera-o por maldade e considerava tal ato um de seus maiores pecados. O pecado para ele habitava todos os homens. E, se os bebs so inocentes, no porque lhes falte o desejo de fazerem o mal, mas por carecerem de fora.

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