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As Organizações Do Terceiro Setor e A Economia Popular Solidária
As Organizações Do Terceiro Setor e A Economia Popular Solidária
Title: The Organizations of the Third Sector and the Solidary Grassroots Economy
Abstract
This articles summarizes the main traits of the solidary economy in Brazil, highlighting
aspects that are peculiar to the state of Rio Grande do Sul. It analyzes the activity, philosophy
and working methods of some agencies that support the grassroots or popular economy and
manage solidary values and practices. It identifies two basic action models: the first one is
based on the idea of social involvement and the second on the premise of the self-
determination of individuals in relation to their interests. The discussion of the virtues and
limits of both models, in the present context of extreme social deprivations and the need for
more encompassing responses for the broadening of the solidary grassroots economy, leads the
author to question the process of construction of a truly public sphere. This implies the
relevance of a discussion of the meaning of the Third Sector, its possible role as a frame of
reference for far-reaching actions, in the horizon of the solidary economy and the construction
of alternative paths to development.
Key words: Solidary economy, Third Sector, Grassroots economy, Support agencies, Basic
action models.
Resumo
1 Doutor em Sociologia, docente da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS (São Leopoldo,
Brasil), vinculado ao Centro de Documentação e Pesquisa e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais Aplicadas (e-mail: gaiger@helios.unisinos.br). Versão anterior deste trabalho foi apresentada na 4ª
Conferência Internacional da ISTR, em Dublin, julho de 2000.
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2 Trata-se de uma pesquisa auspiciada pela Rede Interunivesitária de Estudos e Pesquisas UNITRABALHO,
sob a coordenação do autor, envolvendo inicialmente dez Estados e todas as grandes regiões do país (vide
CUT, 1999).
3 Essas pesquisas foram realizadas ao longo dos últimos cinco anos (vide Gaiger et al., 1999), decorrendo de
uma parceria entre a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, a Cáritas Brasileira – Regional RS e a
Secretaria Municipal de Produção, Indústria e Comércio de Porto Alegre. O presente texto deriva desse
trabalho de equipe e contou com a colaboração de Alberi Petersen (SMIC), Daniela de Oliveira (IC-
UNISINOS), Fernando Lara (IC-CNPq), Marinês Besson (Cáritas-RS) e Raquel Kirch (IC-FAPERGS).
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alternativas sociais. Essa ação, até o presente, não foi ainda avaliada (a bem da verdade, nem
razoavelmente descrita) e cabe começar a fazê-lo, ainda que de forma inconclusiva, quando
menos para chegarmos a algumas proposições preliminares.
Uma segunda razão está em que aquelas experiências populares comungam uma série de
valores e práticas, igualmente partilhadas pelas organizações que as apóiam e hoje
constitutivas da identidade do Terceiro Setor: cooperação, confiança, gratuidade, participação,
promoção humana, distributivismo, eco-sustentabilidade, etc. Existem linhas de continuidade,
de modo que empreendimentos solidários e organizações puderam constituir-se por relações
de mão dupla; como num jogo de espelhos, forjaram assim suas identidades, suas missões e
suas legitimidades sociais. É de se esperar que essas relações se intensifiquem e que a
promoção do solidarismo popular seja uma vocação natural do Terceiro Setor.
Razão mais profunda e decisiva, no entanto, reside no fato de que a tão aclamada
novidade e o potencial inovador do Terceiro Setor apenas se confirmarão se o mesmo
desempenhar um papel construtor de vias inovadoras de desenvolvimento. Isto significa
escapar à lógica dos atores que historicamente ocuparam-se do desenvolvimento (isto é, os
outros dois Setores), rompendo a dualização entre a vida social (Primeiro Setor) e a vida
econômica (Segundo Setor) e suscitando protagonismos que contenham essa possibilidade. O
solidarismo econômico popular decorre em boa parte das contradições e insuficiências
oriundas da Iniciativa Privada e do Estado, sinalizando o desejo de um arranjo emancipatório
dessas duas entidades históricas. Há parentesco de origem com o Terceiro Setor, bem como
correspondências estruturais que avalizam a hipótese de um horizonte comum. Teoricamente,
essas constatações sugerem a conveniência de distinguir e, ao mesmo tempo, articular os
conceitos de Economia Popular Solidária e Terceiro Setor.
No contexto coberto pela análise, as ações do Terceiro Setor produzem efeitos ainda
limitados em prol dos empreendimentos solidários, não obstante o seu pioneirismo em várias
frentes. O amadurecimento dessas linhas de trabalho pode torná-las uma base de referência
para ações de envergadura, em particular a formulação de políticas públicas com maior raio de
abrangência e poder de impacto. Embora de natureza e com papéis diferentes, os
empreendimentos solidários e as organizações do Terceiro Setor, a depender de suas
interações, têm diante de si a possibilidade de constituírem um vetor fundamental de
instauração de novas práticas, conducente a uma nova visão das relações entre a economia, a
sociedade e o Estado.
4 No jogo de disputa entre os discursos competentes, o conceito de Terceiro Setor, embora (ou graças a) sua
falta de clareza, conferiu nova visibilidade e destaque às, agora suas, organizações.
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econômica. Já há mais tempo, no interior do país e nas periferias urbanas, milhares de
pequenas iniciativas comunitárias vinham, no entanto, proliferando (Cáritas, 1995; Gaiger,
1996), advindo delas, em boa medida, o patrimônio de soluções organizativas e econômicas
que hoje se disseminam entre as experiências mais recentes.
Num verdadeiro polimorfismo, os empreendimentos organizam-se hoje das mais diversas
formas, como associações informais ou grupos de produção, de caráter seguidamente familiar
e comunitário ou, ainda, cooperativas de trabalhadores e empresas de pequeno e médio porte.
Na linha de frente, perfilam-se hoje empresas autogeridas vinculadas à ANTEAG,5
cooperativas de produção e prestação de serviços6 e centenas de grupos e cooperativas
agropecuárias, implantadas nos assentamentos da reforma agrária, sob a batuta do MST. 7
Estudos e estimativas indicam haver uma revitalização de experiências antigas, a exemplo das
cooperativas de produção rural e de consumo, lado a lado com a expansão de novos
segmentos e de uma plêiade de iniciativas locais, em zonas rurais e urbanas.
Um fato a destacar é a renovação do cooperativismo em vários setores econômicos.
Contrapondo-se ao conservadorismo político e ao perfil empresarial do cooperativismo
tradicional, novas cooperativas de trabalhadores têm surgido nos segmentos de consumo,
produção, comercialização e serviços. Tais iniciativas vêm gerando estruturas independentes
do sistema cooperativista oficial, com isso tensionando as posições de poder nele dominantes.
Engajados nesse movimento encontram-se setores importantes do sindicalismo, visando a
formular proposições, estimular a formação de cooperativas autênticas e lutar pela conquista
ou a correção de rota das cooperativas desvirtuadas ou criadas de modo fraudulento. Essa
viragem do sindicalismo marca uma reorientação do pensamento da esquerda, ao mesmo
tempo em que reafirma, com uma nova linguagem, valores históricos do movimento operário.
Outra inovação digna de nota são as instituições de microcrédito e demais modalidades
de financiamento de pequenos empreendedores, formais e informais. Funcionam mediante
empréstimos de curto prazo, renováveis e progressivos, com base em avais solidários ou em
garantias extramonetárias. Tais organismos estão multiplicando-se no Brasil, por obra da
sociedade civil, do poder público e, seguidamente, mediante parcerias com organismos
multilaterais (Silveira, Amaral & Mello, 1997; CESE, 1998).8
Nos últimos anos, a multiplicação de protagonistas e de iniciativas é um fato comum às
diversas realidades regionais no país. Somando-se às entidades há mais tempo vocacionadas
para esse campo de atuação, aparecem novas ONGs, movimentos sociais emergentes e
instituições até há pouco alheias a esse campo, como as universidades e as fundações
empresariais. Observa-se, portanto, um espectro amplo de entidades e agentes, cuja presença
foge ao esquema dual Estado – iniciativa privada e configura-se no espaço próprio do
Terceiro Setor. A convergência de propósitos e as interações entre esses agentes vêm
predispondo ao fortalecimento de consórcios e práticas de colaboração e formando,
gradativamente, uma cultura de parceria (Silveira & Amaral, 1994). Estruturam-se redes de
formação, federações cooperativas, sistemas de troca e uniões diversas entre os
empreendimentos.
Seguindo uma tendência internacional, cresce no país o interesse pelos empreendimentos
associativos, bem como por outras organizações que se integram à assim chamada economia
popular solidária. Por esse termo, estamos designando um fenômeno com as seguintes
características:
11 Não se poderia perder de vista, por exemplo, que seu uso corrente recobre um conjunto de iniciativas com
motivações, origens e naturezas distintas, as quais não comportam, em si mesmas, tendências
espontaneamente confluentes, que redundariam, por uma força natural de aproximação, em uma nova
totalidade social.
12 Vale, a propósito, estar ciente do predomínio de uma leitura espontaneísta dos movimentos sociais, que
desconhece o quanto há de intencionalidades deliberadas atrás da cena, ocupadas em produzir um discurso
autodenegatório.
13 A abordagem será necessariamente breve. Sobre a história do associativismo no RS, ver J. Schneider (1994;
1999). Para uma visão mais abrangente e detalhada da economia popular solidária na região, ver o trabalho
de A. Sarria I. (2000).
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As cooperativas filiadas ao sistema cooperativista oficial formam o segmento mais
tradicional e numericamente significativo do RS.14 Atestando sua expansão notável nos últimos
anos, 261 novas cooperativas foram registradas apenas no ano de 1997. No comparativo com
o país, a concentração no Estado é superior à média nacional. Por conta do seu papel
formador do cooperativismo rio-grandense e da sua diversidade atual, esse segmento
apresenta-se em nosso dias extremamente heterogêneo, sendo desconhecido e controverso o
quanto encerra de cooperativas com autênticas qualidades de solidarismo.15 Nele contam-se
507 cooperativas relacionadas à geração de renda, com quase 750 mil cooperados. Entre elas,
predominam as cooperativas agropecuárias, modelo básico do setor até os anos 80. São,
contudo, as cooperativas de trabalho que tomaram a dianteira nos últimos anos, atraindo
contingentes urbanos egressos do mercado ou da economia informal, com 282 novas
cooperativas registradas em 1998.
A frente mais antiga de fomento a experiências de geração de renda, de cunho
comunitário e associativo, iniciou nos anos 80 por obra da Cáritas Brasileira, Regional-RS. A
Cáritas atua em todas as regiões do Estado, tendo apoiado, em seus 14 anos de trabalho, mais
de mil pequenos empreendimentos, através de crédito, suporte técnico e, sobretudo, de uma
metodologia visando a formar uma consciência crítica, socialmente engajada. A visão que
inspira o trabalho da Cáritas está centrada nos valores da justiça social e da solidariedade, o
fomento aos projetos comunitários sendo um meio para a melhoria das condições de vida e
para a promoção dos direitos dos setores postos à margem da sociedade.
Os assim denominados PACs – Projetos Alternativos Comunitários compreendem
diversos setores de atividade, da produção agrícola à prestação de serviços. Indiretamente,
atingem mais de 40 mil pessoas. Além de atenuar a falta de oportunidades de trabalho, esses
projetos comunitários têm por meta propiciar a experimentação de novas práticas econômicas,
servindo, então, como base para a implementação de alternativas mais abrangentes. Ao longo
do seu trabalho, a Cáritas cunhou conceitos e instrumentos metodológicos, hoje de largo
trânsito no campo da economia popular solidária. Ademais, inspirou ações similares de outras
organizações, a exemplo do Fundo de Miniprojetos, dirigido a iniciativas com inserção social e
comunitária, especialmente as vinculadas ao ambiente pastoral.
Em outra faixa, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, de longa e extensa
implantação no Estado, há anos promove a criação de sistemas coletivos de produção nos
assentamentos rurais. Sob a coordenação da Cooperativa Central dos Assentamentos do RS,
contavam-se 17 cooperativas agropecuárias em 1998, além de inúmeros grupos semicoletivos
de produção e uniões informais de agricultores assentados, envolvendo cerca de 3.500
indivíduos. Sobre o processo de organização dos assentamentos, há registro de resultados
estimulantes, no plano socioeconômico e educativo (Vela, 1995), embora persistam graves
dificuldades, em razão das carências materiais, do despreparo técnico e de visões coletivistas,
bancadas pela direção do MST, questionáveis e às vezes pouco condizentes com os fatos
(Navarro, 1995). De todo modo, o associativismo, à medida que se adapta de modo flexível à
realidade de cada família e cada comunidade, se tem mostrado com um caminho seguro para
assegurar a prosperidade dos agricultores assentados e dos pequenos produtores em geral.
Ainda no espaço rural, cabe lembrar uma vertente antiga do associativismo, cujo
esquecimento pelos estudiosos deixa em oculto o seu possível significado para a economia
solidária. Trata-se da miríade de associações de apoio à pequena produção agrícola,
disseminadas por todo o Estado e cadastradas, via EMATER,16 junto à Secretaria Estadual da
Agricultura. Compreendem, grosso modo, formas de socialização de bens de produção
(condomínio de máquinas, infra-estrutura partilhada de armazenamento, compras conjuntas)
ou de coletivização do trabalho (apicultura, suinocultura, etc.). Embora restritas em seus fins e
14 O sistema cooperativista no Brasil é composto por Organizações Estaduais e por uma Organização
Federativa, à qual cabe, oficial e exclusivamente, a representação das cooperativas singulares.
15 Por essa razão, não darei destaque adiante às organizações do Terceiro Setor direcionadas a esse segmento.
16 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, órgão do poder público estadual.
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espaços de atuação, além de desprovidas de instâncias de expressão e representação, essas
organizações, ao que tudo indica, têm preservado a cultura associativa no interior do Estado e,
provavelmente, estão constituindo espaços alternativos às estruturas oficiais, quando não
sustentando várias das iniciativas solidárias que aparecem com maior nitidez em outros
segmentos.17
Se a ação do Poder Público apresenta-se pulverizada e descontínua na zona rural, nas
áreas urbanas concentra-se nas iniciativas de algumas prefeituras municipais. Na capital, Porto
Alegre, a Secretaria de Produção, Indústria e Comércio – SMIC desenvolve ações de fomento
a grupos de baixa renda, para que se organizem solidariamente. As linhas de trabalho
direcionam-se a associações de reciclagem do lixo urbano e a grupos empreendedores, nos
ramos de artesanato, confecções e prestação de serviços. Além da formação técnico-gerencial
e da intermediação visando ao provimento de recursos, a prefeitura oferece a alguns grupos
um período de incubação, onde instalações adequadas servem ao funcionamento e à
consolidação de novos empreendimentos produtivos. O programa Coleta Seletiva, junto aos
galpões coletivos de reciclagem, considerado ponta de lança da política municipal, envolve
hoje oito unidades, beneficiando cerca de 250 associados. Programas semelhantes foram
implantados em outros municípios, perfazendo cerca de 45 empreendimentos e havendo,
ademais, subsidiado uma das linhas de trabalho do atual governo do Estado.
No RS, a economia popular solidária se expande e diversifica, adquirindo um poder de
impacto exponencialmente maior e compondo um quadro plural quanto a concepções,
objetivos e métodos de trabalho. Além do poder público e das organizações já citadas, atuam
nesse campo agências de origem empresarial, como a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho –
FMSS, vinculada ao Grupo de Comunicações RBS. A FMSS apóia projetos de geração de
renda desde 1996, por meio de financiamento, diagnóstico de necessidades e indicação de
assessorias. Entre os critérios de financiamento, estão o caráter solidário da proposta, o seu
impacto social e comunitário e sua viabilidade econômica. Em 1998, 29 projetos receberam
financiamento.
No segmento de apoio a pequenos empreendimentos individuais, com base na
introdução de práticas de confiança mútua, desponta no Estado a ação pioneira do Centro de
Apoio aos Pequenos Empreendimentos – CEAPE Ana Terra. Fundado em 1987, o CEAPE
Ana Terra viabiliza suas ações por meio de parcerias com instituições públicas, fundações
benemerentes e com diversas associações de pequenos e microempresários, além de buscar
recursos em bancos estatais de fomento.18 Oferece cursos de formação para negócios,
assessoria e diversas linhas de crédito à pequena empresa. Em 1998, celebrou 2.615 contratos
de crédito e prestou cursos e assessoria a cerca de 4.000 pessoas. Em breve, tenciona
regionalizar seus serviços, através de postos de atendimento no interior do Estado.
Uma iniciativa de referência na área creditícia é a Instituição Comunitária de Crédito
Porto Alegre Solidariedade – Portosol, inaugurada em 1996. Sua clientela é formada por
micro e pequenos empresários dos municípios da região metropolitana, como feirantes,
costureiras, taxistas, donos de restaurantes, sapateiros, etc. Além dos avais convencionalmente
praticados, aceita como garantia para o empréstimo a pertença a um grupo solidário, cujos
membros contraem financiamentos de igual valor e responsabilizam-se mutuamente pelos
débitos individuais. O volume de operações chega a 200 créditos mensais, num valor médio de
R$ 1.500,00. Mais de 70% dos clientes renova o crédito, ampliando-o de forma progressiva;
para habilitarem-se, evitam a inadimplência, bem inferior à do sistema financeiro convencional.
A marca distintiva do banco, a exemplo das experiências internacionalmente consagradas,
reside ainda na relação com a clientela, personalizada no agente comunitário de crédito. A este
17 Diversos miniprojetos, financiados pela Cáritas, têm origem em grupos de agricultores com essa experiência
anterior. Visivelmente, é esse pano de fundo que torna as propostas de coletivização do MST não de todo
estranhas aos assentados, muita embora sua referência básica seja a agricultura familiar.
18 Destacam-se, como parceiros, o SEBRAE-RS (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)
e o SENAI-RS (Serviço Nacional de Apoio à Indústria); como fonte de recursos, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, por meio de seu programa de Crédito Produtivo Popular.
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incumbe aproximar-se do cliente, avaliar a solvabilidade do seu negócio, calcular suas
condições de pagamento e monitorar as atividades financiadas, instituindo um relacionamento
com base na transparência e na confiança.
O panorama geral do Estado revela um conjunto multiforme de programas de fomento e
de empreendimentos, incorporando graus diferenciados de adesão ao solidarismo econômico e
possuindo, entre si, níveis de conexão bastante diversos. O surgimento constante de novos
grupos e a expansão da demanda às entidades e órgãos públicos denotam, sintomaticamente,
uma ampliação do contingente atraído pelas propostas associativas. Não obstante, a julgar
pelas cifras, o raio de alcance dos principais programas e a penetração social dos diferentes
segmentos são modestos, ficando em alguns casos desprovidos, desse ponto de vista, de
qualquer impacto social razoável. Mesmo assim, importaria reconhecer o elevado crescimento
relativo do campo, haja vista estar num estágio globalmente incipiente. Há não muitos anos
atrás, sua presença era quase imperceptível.
A economia popular solidária no RS não se apresenta configurada como um campo
integrado e sistêmico. São motivo de atenção o estado disperso e desarticulado da maior parte
dos empreendimentos, bem como os hiatos existentes entre os diversos segmentos. Proliferam
propostas visando a suprir essas lacunas, porém sem conseguir abarcar todo o campo, não
apenas devido ao seu caráter policêntrico, mas à ausência de forças com suficiente poder de
aglutinação. Que isso seja uma preocupação generalizada nos dias atuais, provocando uma
progressiva convergência de propósitos entre as instituições mediadoras, deixa em perspectiva
a criação de sistemas de parceria mais amplos, de redes de intercâmbio, apoio e capacitação,
bem como de troca e popularização das soluções metodológicas e operacionais que cada
segmento, ao longo do tempo, foi incorporando à sua prática.
Fazendo um diagnóstico geral, seria apropriado falar de um processo de experimentação
e de incremento de formatos socioeconômicos e de mecanismos de apoio e sustentação aos
empreendimentos. Uma época de experiências modelares, cuja maturação, no entanto, não
parece ir de todo no sentido de eliminar as suas singularidades, resultando, então, numa
tessitura inelutavelmente descontínua e plural. É nesse contexto que se pode estimar o papel
estratégico das organizações do Terceiro Setor.
3.1 - A Cáritas-RS
A Cáritas Brasileira, por sua Seção Regional no Rio Grande do Sul, iniciou seu
programa de apoio aos Projetos Alternativos Comunitários em 1986.19 O programa foi
instituído como meio de dar uma resposta evangélica e libertadora aos segmentos sociais à
margem da sociedade. Desejava-se aprofundar o compromisso da Igreja com os mais
desfavorecidos, estimulando a participação e a iniciativa dos beneficiários, de forma que, aos
poucos, os grupos se tornassem autônomos e pudessem evoluir por suas próprias forças.
Almejava-se, portanto, romper com o assistencialismo e adotar uma metodologia nova, que
desse aos empobrecidos a chance de tornarem-se sujeitos de sua libertação. Os projetos
deveriam ter uma finalidade prática – de produção econômica ou prestação de serviços – e um
cunho educativo, que desenvolvesse o espírito comunitário e a consciência crítica. Deveriam
ser alternativos, isto é, conter novas formas de produzir, comercializar, educar, “gerando um
novo modelo nas relações entre capital e trabalho” (Cáritas-RS, 1993, p. 12). Com o
alargamento progressivo dos seus horizontes de ação, os PACs seriam ao mesmo tempo sinais
e forças atuantes na construção de uma nova sociedade.20
Essa linha de ação não se implantou de maneira uniforme, tampouco sem trazer desafios
imprevistos. Além do enraizamento da cultura assistencialista, os agentes da Cáritas têm uma
formação distinta e condições materiais de trabalho variáveis de uma diocese à outra.
Diversidade maior, todavia, encontra-se do lado da população-alvo, das suas carências e
expectativas. Através da rede de paróquias e comunidades católicas, a Cáritas veio suscitando
e acompanhando projetos em zonas urbanas e rurais, principalmente nas periferias das cidades
e em regiões de pequena produção agrícola. Até o momento, centenas de PACs foram
apoiados, com recursos e assessoria para inúmeros tipos de atividade: construção de
habitações, hortas e fornos comunitários, postos de saúde, artesanato e indústrias caseiras,
comercialização direta, produção agrícola, criação de animais e aves, cooperativas de
produção, etc.
Percebendo a dificuldade de atender a públicos e necessidades tão diversos, a Cáritas
desdobrou seu trabalho em duas frentes: os projetos sociais, de assistência à população
carente, e os projetos de desenvolvimento econômico, para grupos com melhores condições
econômicas e maiores perspectivas. O atendimento a ambos inicia com alguma forma de
acompanhamento do grupo em questão pelas equipes diocesanas; prossegue com a
apresentação de um projeto de demanda de recursos,21 cuja aprovação impõe compromissos
mútuos e requer a continuidade do trabalho pela Cáritas Diocesana, além da presença de
outros colaboradores e instituições parceiras. O projeto deve atestar o caráter cooperativo do
empreendimento, assegurar sua viabilidade e convencer do seu papel de propiciar melhorias na
comunidade e avanços na organização popular.
19 A Cáritas é uma entidade civil, assistencial e filantrópica, vinculada à CNBB através de sua Linha 6 –
Pastoral Social. Além da Presidência e de um Secretariado Nacional, dispõe de Seções Regionais (ou
Estaduais) e de equipes diocesanas. Tais equipes, no RS, estão implantadas em todas as dioceses.
20 Perspectiva, aliás, partilhada pelos estudos sobre os movimentos sociais, nos quais, como recorda L.
Kowarik (1988, p. 323), “a postura interpretativa dominante era a de empurrá-los, na esperança do
surgimento de uma amálgama entre várias formas de luta e seu translado para uma situação na qual as
camadas subalternas tivessem maior presença no processo de alteração do regime político que se acelerou no
percorrer dos anos 80”.
21 Os critérios para aprovação são diferentes para os dois tipos de projeto, devendo eventualmente observar as
prioridades (agroecologia, agroindústria, etc.) das dioceses. Exige-se uma contrapartida material e financeira
dos beneficiários e a devolução de uma porcentagem do valor concedido (até 60% para projetos sociais; de 60
a 100% para projetos econômicos).
11
A Cáritas Regional atua promovendo encontros de formação e capacitação para os
agentes das dioceses e as lideranças dos grupos. Produz também subsídios para a qualificação
técnica (contabilidade, planejamento, etc.) dos empreendimentos. Por fim, faz um trabalho
único de aglutinação dos grupos comunitários, por meio de encontros, fóruns e feiras
coletivas, ao mesmo tempo em que busca a articulação entre agentes, demais organizações do
Terceiro Setor e órgãos do Poder Público.
Nos últimos anos, a Cáritas procurou centrar seus esforços naqueles projetos mais
promissores, considerando as suas características intrínsecas e a estrutura de acompanhamento
e assessoria de que dispunham. Procurou, ainda, canalizar o auxílio aos grupos já previamente
organizados, economicamente experimentados e com possibilidades de encontrar apoio
técnico e travar relações com outras entidades e movimentos populares. Além de alternativos,
no sentido de diferentes e inovadores, pois movidos pelos valores da solidariedade e da
justiça, os PACs deveriam ser alternativos porque viáveis, dotados de autonomia de gestão e
de mecanismos de sustentabilidade.
Resta, no entanto, que esse trabalho responde a setores sociais dos mais precarizados,
particularmente nas periferias urbanas. A Igreja, ali, assume o papel de provedora, diante da
ausência do Estado ou da ineficácia de suas políticas sociais. Para suscitar formas de
solidariedade duradouras e desejos de autonomia, vale-se do fato de que, nesses ambientes, o
reconhecimento mútuo e a convergência de interesses apenas podem nutrir-se da convivência
diária, dos laços de vizinhança, da partilha de culturas arraigadas e das condições de vida. Em
meio ao quadro degradante e anônimo da urbe, e com maior razão em meio rural, quando
afeita a agricultores familiares depositários de uma tradição católica, a Cáritas vê nos laços
comunitários o terreno fértil para o desenvolvimento da solidariedade.
A instituição tem a seu favor a experiência secular da Igreja Católica, a capacidade desta
para colocar-se em posição meridiana e adotar uma atitude de acolhida e diálogo, ao mesmo
tempo em que preserva sua autonomia e autodeterminação, diante de contendas que vitimam
as organizações indissoluvelmente associadas à realização de interesses particulares. Com isso,
perseverou numa forma de atuação com personalidade própria, infensa a injunções de pequeno
calibre ou à pressão por resultados imediatos, pródiga em alianças com outros setores do
chamado campo popular, eficaz em carrear outros apoios ao seu projeto de trabalho.
No RS e no Brasil, a Cáritas constitui-se num agente pioneiro e numa força propulsora
da economia popular solidária, ocupando hoje um papel de referência. De sua contribuição,
vale destacar:
A ação da Cáritas de conjugar diversas formas de apoio apenas ganha seu pleno sentido
diante dos objetivos transcendentes que a orientam: formar, integralmente, consciências
críticas, imbuídas dos valores cristãos e profundamente comprometidas com a transformação
social. Esse horizonte de projeto e a metodologia de germinação de grupos e de engajamento
e fusão na causa comum formam os vértices que sustentam o trabalho da Cáritas.
Questões surgem porém, ao se imaginar a universalização desse modelo. No plano mais
prático, os próprios agentes da Cáritas percebem a impossibilidade de prestar uma assessoria
multiespecializada para oferecer respostas seguras aos mais variados tipos de problemas, além
de garantir o indispensável suporte pedagógico. Multiplicar o quadro de assessores, mantendo
os mesmos requisitos de acompanhamento, inflaria sua estrutura, tornando-a impraticável;
prover assessorias externas alternativamente, como se tem feito, traz o risco de introduzir
focos de conflito e comprometer a metodologia pastoral, pedra angular desse trabalho, cara
aos agentes.
Um segundo óbice se agrega, quanto à possível massificação do modelo, posto que ele
parte de um substrato específico: a teia de laços comunitários, cevados entre as comunidades
católicas de base, em que se estabelece um fusionamento constante dos grupos. Nesse
ambiente de contínuas interações, destila-se uma linguagem particular, colada a uma visão
determinada da realidade social e dotada de poderosos efeitos, simbólicos e práticos. A
despeito de toda a pedagogia includente e da intencionalidade dos atores, a lógica objetiva dos
fatos, nesse segmento, faz com que seja necessário ser parte do povo em marcha para obter os
qualificativos que tornam alguém reconhecido no trânsito intenso do solidarismo popular. Em
outras palavras, o trabalho da Cáritas supõe a formação de uma identidade ideológica prévia
dos seus beneficiários, forjada num modo particular de inserção social, fato sem dúvida
problemático para a generalização desse modelo de trabalho. Como poderia ele, na ausência
desse ativismo comunitarista, vincado na catolicidade, manter a sua pertinência e a sua
eficácia?
23 O CECA – Centro Ecumênico de Evangelização, Capacitação e Assessoria, foi fundado há mais de 20 anos.
Trata-se de uma ONG de caráter confessional, das mais antigas e conhecidas no Estado, remanescente do
grande movimento de ida das Igrejas às bases populares, transcorrido nos anos 70 e 80, sob a égide da
Teologia da Libertação.
24 O CAMP – Centro de Assessoria Multiprofissional, nasceu em 1983, à época em que surgiram inúmeras
ONGs de assessoria aos movimentos sociais, de orientação política claramente contestatória e nítido
alinhamento com os partidos de esquerda.
25 O exemplo provavelmente mais antigo e conhecido é o Fundo de Apoio a Miniprojetos do CERIS – Centro
de Estatística Religiosa e Investigação Social. Atingindo todo o país, financiou no período 1979-89 mais de
900 projetos, com critérios análogos ao programa do RS.
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recursos. Fazê-lo, todavia, implicaria um grande ônus para a estrutura do programa, reduzindo
o dispêndio direto com os financiamentos e colocando o dilema de manter os níveis de
fomento ou diminuí-los em favor de um trabalho mais eficaz.
O problema sugere, em primeiro lugar, avaliar com cautela o peso das exigências
impostas às ações de fomento que prestam serviços em várias frentes, dada a necessidade de
utilizarem com eficiência múltiplos instrumentos e serem, para tanto, multiespecializadas.
Sugere, ademais, ponderar o papel das organizações de apoio, cujas limitações institucionais
deveriam impeli-las a estipular metas para sua intervenção. A noção de “projeto alternativo”,
por sua concentrada carga ideológica, de contornos imprecisos senão no sentido antagônico
ao que aí está, talvez dificulte a tarefa, pois afasta alianças para além desse foco e impede a
visualização de ações abrangentes, para as quais é indispensável o concurso de outros atores,
inclusive daqueles partícipes, de algum modo, do estado atual das coisas. Além disso, ao se
fixar um horizonte imaginário, na ausência de metas programáveis e de indicadores de
eficiência, a validação das ações empreendidas tende a ser regra comum, posto que tudo, de
algum modo, contribui para a causa maior e nada pode ser inibido pelo crivo de argumentos
pragmáticos.26
Um outro questionamento a fazer diz respeito à endogenia implicada no modelo de
engajamento, bastante clara nesse caso. Além dos critérios de seleção já evocados, os grupos
necessitam estar pré-qualificados, mediante recomendação de pessoas e entidades com
circulação no ambiente da pastoral e dos movimentos. Sem essas referências, dificilmente se
obtém o apoio. Isso equivale a dizer que o público-alvo está predeterminado, embora se queira
agir, em última instância, em prol de conquistas universais. Se isto não causa espécie à gestão
do Fundo, por não afetar a congruência entre os meios e os objetivos que apresenta, a questão
adquire outros contornos quando pensada como princípio geral do apoio aos
empreendimentos solidários, quando, então, há chance certa de inexistirem aqueles
pressupostos. O projeto político que embala as ações movimentalistas não termina
necessariamente por reduzir o raio de abrangência de programas dessa natureza e descartar
outros sujeitos, dado o jogo de legitimações que impõe? Não se estaria, em última análise,
ignorando que o movimento pastoral popular representa uma parcela do universo social e que,
a despeito de sua linguagem encompassadora, está eivado de identidades internas sobrepostas,
a disputar entre si as representações legítimas e os recursos de poder nele produzidos?
3.4 - O Portosol
34 Das solicitações recomendadas pelos agentes de crédito, apenas 6% terminam não recebendo o
financiamento. A inadimplência superior a 30 dias equivale a 3% da carteira ativa, um índice considerado
positivo para o setor.
35 No primeiro ano de funcionamento, não ocorreram atrasos superiores a 30 dias para os clientes financiados
com base em garantias solidárias. Essa faixa de financiamento correspondia a pouco mais de 10% da carteira
de crédito da instituição, com tendência de crescimento nos anos subseqüentes.
36 O poder municipal em Porto Alegre, desde 1988, é governado por uma coalizão de esquerda, encabeçada
pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O Portosol foi criado durante a segunda gestão petista. Nas próximas
eleições, em 2000, há grandes chances que o PT seja eleito para o seu quarto mandato.
18
Em primeiro lugar, os aportes ao capital do Portosol, provenientes do poder público,
agências e organismos multilaterais, impõem sua preservação e incremento progressivo. Sendo
uma instituição autônoma, privada de recursos orçamentários correntes, e tendo por objetivo
atestar a viabilidade dos investimentos em microempreendimentos, o apoio aos mesmos foi
concebido sob a premissa de resguardar a auto-suficiência financeira da instituição. A
inexistência de recursos transferíveis a fundo perdido para o crédito obriga a contabilizar, nas
taxas de financiamento, todo o seu custo operacional. O atrativo do crédito depende, então, da
eficiência operacional da instituição.37 Uma das conseqüências disso é o papel decisivo que
cumprem o estudo de viabilidade dos negócios a serem financiados e a oferta, flexível mas
realista, de opções creditícias adaptadas ao tomador. O método de avaliação do crédito e de
relacionamento com o cliente é um patrimônio importante do Portosol, pelo qual se tornou um
concorrido repassador de tecnologia para outras instituições.
Em segundo lugar, tendo o compromisso de selar uma diretriz de ação com poder de
impacto, por intermédio de uma tecnologia altamente especializada, o Portosol optou por
sedimentar suas primeiras linhas de financiamento, para então vir a ampliar o seu escopo de
atuação. A necessidade de assegurar o retorno do crédito, particularmente, inibiu a abertura de
linhas de financiamento que comportam maiores riscos ou demandam instrumentos
específicos. Por conta disso, o Portosol até há pouco descartava o financiamento a atividades
econômicas iniciais e postergou para uma segunda etapa o Crédito Associativo, reservado a
cooperativas e grupos de produção. Em seus quatro anos de existência, tal como no CEAPE,
predominou largamente o apoio a empreendimentos individuais, mesmo no caso dos Grupos
Solidários, em que os negócios financiados são independentes. Todavia, por sua filosofia de
trabalho e pelo papel-chave atribuído aos vínculos de solidariedade, o Portosol não pode ser
equiparado a um mero financiador da economia popular. Além do potencial contido em seu
programa, ele dispõe de uma tecnologia experimentada, certamente de alto proveito para uma
ação de escala direcionada a grupos coletivos.
O fato de haver iniciado, recentemente, o apoio a empreendimentos coletivos,38 de outra
parte, não altera uma característica de fundo desse modelo de trabalho: a mobilização conjunta
dos clientes e a criação de parcerias duráveis, quiçá com motivações extra-econômicas, apenas
podem provir da confluência de interesses individuais, conforme sejam postos em
reciprocidade. Em outras palavras, o solidarismo aparece como possível decorrência da
autodeterminação de sujeitos movidos por seus próprios interesses, não como requisito para a
realização desses ou como uma dimensão imanente aos mesmos. Nada impede que a demanda
a ser atendida venha de indivíduos organizados, integrados ao circuito movimentalista, mas o
fato, em si, é irrelevante. Leva-se à risca o princípio de não pretender modificar indivíduos e
grupos para oportunizar-lhes recursos. Para o Portosol, respeitar a autodeterminação dos que
a ele acorrem, promovê-los como cidadãos, à diferença do modelo de engajamento, consiste
em responder a toda demanda pertinente à sua missão institucional, abstraindo de todos os
demais qualificativos dos sujeitos, inclusive do seu grau de adesão ao exercício contínuo de
práticas solidárias. Essas ficam referidas ao vínculo contratual, garante da realização dos
interesses mútuos, e não a um processo de mobilização coletiva. Fundamenta essa concepção,
partilhada com o CEAPE, a premissa de que o caráter público de um serviço cumpre-se na
medida em que é capaz de universalizar-se.
Em terceiro lugar, como o Portosol foi concebido como parte de um conjunto de
políticas públicas, integrando vários projetos, foi-lhe atribuído o papel exclusivo de atuar com
o microcrédito. Cumprindo essa missão, traduzida em mecanismos que combinam
pragmatismo e inventividade, ele estaria a serviço de um modelo alternativo de
desenvolvimento. Capacitação e outras funções seriam garantidas por uma rede de programas,
a que competiria, especialmente, preparar a demanda popular para o acesso aos recursos
37 A taxa de crédito oscila conforme o ponto de equilíbrio entre o volume de financiamentos e a estrutura de
custos fixos da agência. Em compensação, inexistem taxas adicionais, prática comum no setor.
38 Por enquanto, somente duas associações econômicas, formadas por comerciantes de produtos
hortigranjeiros, receberam financiamento.
19
públicos. O caráter inovador do Portosol e o receio de que, ao exercer múltiplos papéis, os
critérios e procedimentos correspondentes entrassem em conflito, reforçaram adicionalmente
essa convicção.39 A hipótese de uma mistificação do microcrédito, como instrumento de
alavancagem da economia popular, não parece, então, sustentar-se. No caso do Portosol, o
crédito ganha sentido a partir de uma estratégia de articulação de instituições especializadas,
integradas ao aparelho de Estado ou, preferencialmente, autônomas em relação à esfera
estatal.
Curiosamente, no entanto, a estrutura e o fundo do Portosol têm exibido capacidade
ociosa, sendo visível a apatia dos diversos aparatos do Estado que poderiam canalizar a ampla
demanda social não-atendida. O mesmo registro vale para as organizações civis com atuação
junto aos setores populares, as mesmas que levaram ao poder a frente política à testa do
governo e que representam a sua base movimentalista de sustentação. O que parece explicar
essa situação, que obviamente reduz o impacto do microcrédito sobre os empreendimentos
populares, não é a incapacidade do Portosol para inserir-se numa ampla ação de fomento. O
fato deve-se, antes, à descontinuidade na implementação das políticas de desenvolvimento
complementares ao Portosol, decorrendo isto, basicamente, de divergências e contendas, no
seio do governo, quanto ao papel do Estado e ao caráter das relações que deve promover com
a esfera não-estatal. Nesse contexto, o incremento de tais políticas se tem subordinado a
visões e interesses setoriais, no interior do aparelho de Estado.
Não fossem esses fatos, há sinais convincentes de que a oferta creditícia do Portosol
para grupos associativos poderia estar em estágio mais avançado, estabelecendo um fluxo de
recursos de extrema importância para os empreendimentos econômicos solidários. Quanto ao
método de formação e capacitação de tais grupos, as organizações do Terceiro Setor que
atuam na área demonstram possuir experiência e soluções adequadas. Uma política incisiva,
com essas características, traria o justo reconhecimento ao pioneirismo e ao patrimônio
acumulado por umas e outras. No que diz respeito ao Portosol, atestaria, de forma
contundente, o caráter solidário de sua missão institucional e o valor inquestionável da
democratização dos recursos e da formação de agentes econômicos em extratos de baixa
renda.
39 A questãoposta aos dirigentes do Portosol foi a seguinte: como exigir o cumprimento dos contratos, estando
a instituição, ao mesmo tempo, implicada na formação dos demais fatores humanos e materiais
indispensáveis à viabilização do empreendimento e, por conseguinte, atuando simultaneamente como credor
e garante?
20
construir um campo político-institucional de intervenção que fortaleça uma plataforma de
economia popular e solidária” (Silveira, Amaral & Mello, 1997: 90).
Na agenda de ações para os próximos anos, um dos principais itens consiste em
implantar programas de envergadura, de comprovado poder de impacto, local e regional.
Ações, portanto, que venham a influenciar os índices de ocupação de mão-de-obra, de
distribuição de renda e de qualidade de vida.40 Isso supõe, por certo, fazer confluir as
iniciativas em andamento, absorvendo suas melhores soluções e potencializando-as no âmbito
de uma estratégia dirigida a amplos contingentes da população. Em suma, trata-se de evoluir
de experiências modelares localizadas para programas de massa. Essa tarefa, dadas as
condições históricas que se apresentam, está destinada a prosperar conforme se explorem as
virtualidades contidas na economia popular solidária e no Terceiro Setor. O seu sucesso
depende do fortalecimento desses dois campos, de suas respectivas identidades e de seus
vínculos recíprocos. Nossas considerações finais buscam abalizar essas teses.
É útil iniciar por um esclarecimento conceitual. A expressão Terceiro Setor, longe de ser
um conceito inequívoco, é empregada para apontar um fenômeno de fronteiras pouco nítidas,
destacando o que seriam as suas características básicas e, por hipótese, suas linhas
estruturantes. Como bem reconhecem os estudiosos (Mellor, 1991; Fischer & Falconer, 1998;
Lisboa, 1999), ele engloba organizações e iniciativas as mais diversas, com diferentes origens e
vinculações sociais, por vezes com interesses ambíguos ou dificilmente conciliáveis. Não
obstante a sua fachada heterogênea, propícia a variadas conotações e interpretações, a noção
de Terceiro Setor estaria expressando algumas tendências gerais da sociedade contemporânea,
tendências cujo efeito maior é a formação de um novo e amplo campo de práticas, um terceiro
pólo, distinto do setor privado, com ânimo de lucro, e do Estado (Fernandes, 1994). Esse
campo, hoje em exponencial crescimento, congregaria as organizações dotadas, no mínimo,
das seguintes características: a) não fazem parte do aparelho de Estado, sendo, portanto, não-
governamentais; b) são autogerenciáveis, possuindo, então, larga margem de autonomia
institucional; c) envolvem o voluntariado, em algum grau de suas atividades; d) não possuem
finalidade de lucro, sendo movidas pela benemerência e agindo em prol de causas de interesse
público.41
Essa definição, por certo, inclui as organizações de fomento à economia popular
solidária antes descritas, salientando-se, ainda, que os casos estudados correspondem, no
Brasil, ao perfil geral das entidades que atuam nesse campo. Mas não inclui, a nosso ver, a
economia solidária como tal, pois esta se assenta, primordialmente, em um conjunto de
empreendimentos produtivos que visam objetivos para si, entre eles o benefício econômico.
Por sua finalidade de servir aos membros de uma coletividade, dando primazia às pessoas, tais
empreendimentos respondem a necessidades sociais e cumprem uma função de interesse
comum. Não o fazem, porém, em bases filantrópicas, mas com o decisivo investimento, em
trabalho, de quem neles encontra uma alternativa de sobrevivência. Para lograr êxito na
instauração de práticas econômicas inovadoras, alheias à lógica do lucro e da acumulação
capitalista, a economia solidária, com sua rede de aparatos, não se dispensa de atuar no
mercado e de gerar excedentes.42
40 A propósito, a aferição dos resultados produzidos pelos programas limita-se normalmente a contabilizar o
número de beneficiários dos contratos realizados e a estimar alguns efeitos indiretos (cf. CESE, 1997: 93).
Nos últimos anos, cresceu a preocupação com a necessidade de realizar estudos de impacto. Tais estudos
foram realizados por alguns Centros da rede CEAPE e estão no planejamento do Portosol e do Fundo de
Miniprojetos.
41 Agradeço a Domingos Armani (UNISINOS) as indicações para essa síntese.
42 O que não significa obter lucro capitalista, se o subordinamos, nos termos da economia política, à extração
da mais-valia e à acumulação privada.
21
43
Contrariando um hábito corrente de tudo classificar dentro do Terceiro Setor, os fatos
que até agora examinamos conduzem a visualizar a economia popular solidária como um
fenômeno de características e contornos próprios, interseccionados com aqueles do Terceiro
Setor:
Projetos
Economia Sócio- Terceiro
Solidária Econômicos Setor
Figura 2
Vale dizer, então, que o Terceiro Setor e a economia solidária assumem uma mesma
polaridade, no interior de uma configuração histórica triangular. A esse propósito, há um ponto
de convergência entre os estudiosos, no sentido de rejeitar a dicotomia Estado x mercado, ou
público x privado. Coraggio (1977) distingue três subsistemas econômicos: a economia
empresarial, a pública e a popular; Franco (1996) delimita três esferas, no arranjo social: o
mercado, o Estado e a sociedade civil; Nyssens (1996) propõe a visualização de três pólos: o
capitalista, o público e o relacional. O consenso está na caracterização do último elemento da
tríade: o pólo relacional, a sociedade civil e a economia popular constituem conjuntos de
iniciativas e processos de vida associativa em que predominam fatores humanos e relações de
reciprocidade, dirigidos por uma racionalidade não-estatal e não-mercantil. Do mesmo modo,
esse terceiro vértice é visto como fonte de sinergia das forças vivas da sociedade, cujo
dinamismo redefine o papel dos demais pólos e abre novos rumos para a sociedade.
Essas modelizações e projeções (figura 3), em sendo teóricas, servem para dar
inteligibilidade a processos reais em acentuado descompasso. No caso da economia popular
solidária no Brasil, particularmente no Rio Grande do Sul, avançar nessa direção requer o
equacionamento de ao menos algumas questões:
A primeira diz respeito ao lugar social em que se devem concentrar os agentes e as
forças dinâmicas da economia solidária. Para alguns, cabe ao Estado cumprir esse papel,
chamando a si as organizações alinhadas com a sua visão estratégica e o seu programa de
ação. Naturalmente, nesta concepção, não há lugar para instituições como o Portosol; o leque
de articulações tende a depender do grau de funcionalidade – no limite, de subserviência –
identificado nos demais parceiros. Alternativamente, pode-se situar o centro de gravidade na
esfera pública não-estatal, dotando-a de mecanismos capazes de atrair uma pluralidade de
atores, de diferentes matizes, de cuja interação resultem compromissos de longo prazo com
diretrizes e programas de desenvolvimento. Esta visão, quando predominante no governo
municipal de Porto Alegre, levou à criação do Portosol.
23
Terceiro
Setor
Setor Setor
Privado Estatal
Economia
Popular
Solidária
Figura 3
44Não se deve esquecer que o Estado é o principal financiador do Terceiro Setor, seja por seus aportes diretos,
seja pela renúncia fiscal e outros mecanismos facultados às empresas privadas, na medida em que canalizam
recursos para programas de natureza social. No Brasil, as agremiações sindicais e as ONGs estão ganhando
espaço de outras instituições que tradicionalmente promovem cursos de formação profissional com recursos
do Estado. No RS, a fatia que lhes coube do Fundo de Amparo ao Trabalhador, principal fonte de verbas
para esse fim, cresceu de 15% para 50%, apenas entre 1997 e 1999. Não seria exagero afirmar, em certos
casos, que as organizações sociais são um subproduto do setor estatal, ou que se institucionalizam em estreita
dependência desse.
24
procurando direcioná-las a ações com elevado poder demonstrativo, capazes de mobilizar
recursos públicos significativos, para garantir sua multiplicação e sua continuidade.
Essa perspectiva obriga, no entanto, a visualizar a economia solidária para além dos
particularismos das experiências que, até o momento, fizeram dela uma realidade concreta. O
espaço público não pode ser um mero prolongamento de grupos organizados ou de setores
dotados de poder, do contrário estaria condenado a reproduzir mecanismos de distribuição
seletiva dos bens públicos, desprovidos de regras universalistas e de princípios efetivamente
democráticos. Nessa lógica, inexistindo critérios regulatórios, como frisa Doimo, “o que conta
é isso: quem se organiza mais e faz mais pressão é quem leva as fatias do fundo público”
(1995: 60). Se a esfera político-institucional é legitimamente o terreno de disputa de visões e
interesses ideológicos, não deixa de ser sempre nefasta a visão que, amparando-se no aparelho
de Estado ou nele usufruindo de posição privilegiada, fizer da esfera pública uma simples
extensão de grupos de interesse.
No fundo, trata-se de coibir uma tendência espontânea de autoprojeção, pelo qual a
realidade social, em seu todo, adquire as cores e o sentido que possui em um campo particular.
Nesse sentido, importa ter em vista que o principal conjunto de experiências e de fomento ao
solidarismo econômico, gerado no curso dos anos 80, ambienta-se nas redes movimentalistas.
Tais redes, muito embora o seu apelo universalizante, estão circunscritas a um determinado
círculo de representações e relações. Os requisitos para o atendimento das demandas que nele
se manifestam, bem como a eficácia dos seus processos decisórios, não podem ser
transladados, sem mais, ao tratamento da cidadania. Supor que a capacidade de mobilização e
a de pressão sejam atributos naturais do tecido popular, dotado que estaria de elevada coesão
interna, apenas levaria a excluir os já excluídos.
Por sinal, é oportuno atentar para o fato de que, no momento, os mais excluídos da
sociedade o são também da economia popular solidária. Trabalhadores inexperientes,
desqualificados, sem estabilidade econômica e à margem da fração organizada da sociedade,
contam com menores chances de obter algum tipo de apoio. Caso porventura queiram dar
início a um empreendimento em conjunto, essas chances caem: por não terem uma história
grupal (Cáritas), por não pertencerem à malha movimentalista (Fundo de Miniprojetos), por
serem iniciantes (Portosol) e por não serem empreendedores individuais (Ceape). Quadro
social dos mais dramáticos e freqüentes, no entanto desatendido, de pessoas que poderiam
estar em vias de ingressar, precisamente, no circuito idealizado e estimulado pelos programas
de fomento, cujos requisitos deixam, contudo, pressupõem que o passo de entrada já foi dado.
Como responder a essa demanda, com políticas públicas e programas de massa, sem
romper com processos e critérios seletivos que, embora úteis e justificáveis no âmbito de ações
de apoio modelares e focalizadas, comprometem o seu alcance social?45 Como diz, mais uma
vez, A. Doimo, a única forma de contornar a corrida “entre diversos grupos segmentados
concomitantemente mobilizados, é instituir políticas regulatórias que cortem transversalmente
os grupos de interesse, atingindo beneficiários potenciais” (1995: 60). Se há hegemonia a ser
conquistada no espaço público, que seja para oxigenar os aparatos político-administrativos,
conquistar novos dispositivos institucionais e construir propostas viáveis para a sociedade
como um todo.
Referências bibliográficas
45Tornar possível o primeiro passo, é bom que se diga, ocupa boa parte do debate no interior das agências,
defrontando-as com desafios concretos: como formar competências, em grande escala, sem gerar custos
enormes e impactantes sobre as operações creditícias? Como, alternativamente, dissociar o crédito da
qualificação preliminar, arcando com os riscos maiores de insucesso e inadimplência dos tomadores
inexperientes?
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