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RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2008

DESAFIOS PARA 2009


Conselho Consultivo da Conectas FINANCIADORES
Margarida Bulhões Pedreira Genevois Os recursos iniciais para constituir a orga-
Presidente do Conselho Consultivo nização foram concedidos pela Fundação
Coordenadora, Rede Brasileira de Educação em Direitos Ford e pela Fundação das Nações Unidas
Humanos
(UNF). Hoje, os principais financiadores
Âmbar de Barros da Conectas são:
Diretora, Núcleo de Conteúdo Infanto-Juvenil da TV
Cultura (São Paulo) P Better World Fund (UNF/BWF)
P Embaixada do Reino dos Países
Anamaria Schindler
Superintendente, Instituto Arapyaú
Baixos no Brasil
P Fundação das Nações Unidas
Claude Grinfeder P Fundação Ford
Membro do Conselho, Votorantim Cimentos Ltda. P Fundação Oak
P Fundação Open Society Institute
Guilherme Lustosa da Cunha
(OSI, OSISA, OSIWA e OSJI)
Advogado e ex-Funcionário da ONU
P Fundação Overbrook
Jacques Edgard F. d’Adesky P Fundo das Nações Unidas para a
Pequisador, Centro de Estudos das Américas/UCAM Democracia (UNDEF)
P União Européia
Maria Tereza Pinheiro
Jornalista, Rede Globo de Televisão
Outros doadores e parceiros:
Rosiska Darcy de Oliveira P Ashoka Empreendedores Sociais
Escritora e Presidente, Centro de Liderança da Mulher P Consulado Geral do Canadá no
Brasil
Sandra Carvalho P Democracy Coalition Project
Diretora, Justiça Global
(DCP)
Sérgio Fingermann P Embaixada da Alemanha no Brasil
Artista Plástico P Escola de Direito de São Paulo
(FGV-SP)
Theodomiro Dias P Fundação Friedrich Ebert (FES)
Advogado e Professor, Fundação Getúlio Vargas P Oxfam

Conselho Fiscal
Ana Lucia de Mattos Barretto Villela
Diretora, Instituto Alana

Fabio Caruso Cury


Advogado, Cury Advogados Asssociados

Flavia Regina de Souza


Advogada, Mattos Filho Veiga Filho Marrey Jr. e
Quiroga Advogados
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Carta dos Diretores

Caros parceiros e amigos,

Temos o prazer de apresentar o novo relatório de atividades da Conectas Direitos Humanos. Mais completo
que o do ano passado, este relatório traz as principais realizações dos Programas de Justiça e do Sul Global
em 2008, assim como os avanços e desafios na Área Institucional. Contém também as atividades do primeiro
trimeste de 2009 e as perspectivas para esse ano.

2008 foi um ano das grandes oportunidades para consolidar e integrar as nossas iniciativas e
colher os frutos dos nossos esforços.

Foi o ano do aniversário de 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Conectas parti-
cipou ativatemente das comemorações, fazendo convergir suas várias atividades internacionais em torno do
trabalho com a ONU, com o intuito de estimular uma reflexão crítica e produtiva. A oitava edição do Colóquio
Internacional de Direitos Humanos, que reuniu cerca de 80 participantes em novembro de 2008, teve por tema
“60 Anos da DUDH: O papel das organizações do Sul”. Também o II Encontro Estratégico sobre a Participação
da Sociedade Civil no Conselho de Direitos Humanos da ONU, que reuniu representantes de 11 ONGs do Sul,
concentrou seu trabalho sobre a participação da sociedade civil na Revisão Períodica Universal (RPU), à qual
são submetidos os Estados membros, e elaborou um Guia de Intervenção (Roadmap) para as ONGs. Além
de sua própria participação no monitoramento da RPU do Brasil, o projeto de Política Externa da Conectas
incentivou e capacitou outras organizações parceiras ao longo do ano para o engajamento nesse processo.
No mesmo sentido, a Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos publicou um dossier especial sobre o
aniversário da Declaração.

Em âmbito nacional, avanços conseguidos em defesa do acesso à justiça de grupos vulneráveis e no combate
às violações sistemáticas de direitos humanos no Brasil constituem outro exemplo do trabalho conjugado do
Artigo 1º e do Instituto Pro Bono no Programa de Justiça. Após contribuir para as grandes mudanças no sistema
de detenção de adolescentes privados de liberdade, como a desativação dos grandes complexos carcerários e
melhoria das condições gerais, o Artigo 1º decidiu ampliar seu foco de atuação e, além das iniciativas relaciona-
das aos adolescentes, começará a desenvolver projetos sobre as condições de detenção nas Cadeias Públicas.
Outro foco de atuação muito intenso em 2008 foi junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Conectas é parte em
várias ações como amicus curiae, como a interrupção de gravidez de fetos anencéfalos, o reconhecimento da
união estável homoafetiva, o aumento da autonomia dos defensores públicos e a demarcação da terra indígena
Raposa Serra do Sol. O lançamento do site www.stfemfoco.org.br, no ano passado, também ajudou a divulgar
informações sobre o trabalho junto ao STF para outras organizações da sociedade civil.

O Instituto Pro Bono (IPB) obteve grandes conquistas em 2008, com destaque para a aprovação da resolução
local do Estado de Alagoas que permitiu a advocacia pro bono em seu território. O IPB ainda realizou um proje-
to mais acadêmico, chamado de “Estatuto Jurídico do Terceiro Setor”, cujo produto final deve ser submetido em
2009 ao Ministério da Justiça para fundamentar a elaboração de um projeto de lei geral para o Terceiro Setor.
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Mas 2008 foi também um ano de grandes desafios. A crise econômica e financeira alarmou todos
os setores da economia mundial e atingiu particularmente o Terceiro Setor.

Conectas enfrentou este período de crise como uma oportunidade para uma mudança de paradigmas e para a
renovação de suas práticas. Nos últimos anos, a nossa organização já vinha enfrentando os desafios da sua sus-
tentabilidade. Adotamos várias medidas: reduzimos nossas despesas de aluguel com a mudança de sede para
uma área mais econômica; procuramos diversificar nossos financiadores e fortalecer nossa área de captação de
recursos; fortalecemos substancialmente as áreas administrativa e financeira e melhoramos nossos procedimen-
tos internos; revisamos e reduzimos nossos custos operacionais; congelamos salários; e aumentamos a visibili-
dade da organização para fortalecer sua credibilidade.

Aliás, a própria publicação deste relatório de atividades demonstra a continuidade do aprimoramento de sua
prestação de contas a parceiros e financiadores e ao público em geral, reconhecendo a governança e a transpa-
rência como caminhos para a sua sustentabilidade.

Agradecemos a nossa equipe motivada, dedicada e talentosa, assim como a nossos parceiros, financiadores
e conselheiros pela confiança e apoio, essenciais para cumprir a missão a que nos propomos. Os sucessos e
desafios relatados na presente publicação são de todos nós. Boa leitura!

Malak Poppovic Oscar Vilhena Vieira


Diretora Executiva Diretor Jurídico
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SUMÁRIO

PROGRAMA DE JUSTIÇA 6
LITIGÂNCIA ESTRATÉGICA E DEBATE CONSTITUCIONAL
Artigo 1º 7

RESPONSABILIDADE SOCIAL NO DIREITO


Instituto Pro Bono 12

COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL


Projeto Direito à Saúde da Mulher Negra 16

PROGRAMA SUL GLOBAL 20


EDUCAÇÃO: COMPARTILHANDO CONHECIMENTO NO SUL
Colóquio Internacional de Direitos Humanos 21
Programa de Direitos Humanos para a África Lusófona 25

PESQUISA: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NO SUL


Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos 28
IBSA Cortes - Justiciabilidade dos Direitos Humanos 31

ADVOCACY: DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS NO SUL


Política Externa e Direitos Humanos 32

ÁREA INSTITUCIONAL 36

RELATÓRIO FINANCEIRO 41
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Participantes, observadores e equipe da


oitava edição do Colóquio
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Conectas Direitos Humanos é uma organização não-governa-


mental internacional, sem fins lucrativos, fundada em outubro de
2001 em São Paulo, Brasil, com a missão de promover o respeito
aos direitos humanos e contribuir para a consolidação do Estado
de Direito no Sul Global (África, Ásia e América Latina).

Para tanto, Conectas desenvolve programas que propiciam o for-


talecimento de ativistas e acadêmicos em países do hemisfério sul
e fomentam a interação entre eles e com as Nações Unidas. Em
janeiro de 2006, o Comitê das Nações Unidas para Organizações
Não-Governamentais aprovou o pedido de Status Consultivo da
Conectas na ONU.

No Brasil e em âmbito regional, Conectas também promove ações


de advocacia estratégica e de interesse público.

Para atingir tais objetivos, a Conectas concentra suas atividades


em duas grandes áreas:

(1) Por meio de seu Programa de Justiça, a organização visa


ampliar o acesso à Justiça de grupos vulneráveis, tanto através
de litigância estratégica quanto do incentivo ao trabalho pro bono
(voluntário) de advogados. Além disso, a Conectas participa dos
debates constitucionais que envolvem direitos fundamentais e ain-
da emprega esforços no empoderamento de lideranças negras em
questões relativas ao direito à saúde;

(2) O Programa Sul Global busca fortalecer a sociedade civil dos


países da África, Ásia e América Latina, com projetos que alme-
jam a integração do trabalho de ativistas e acadêmicos de direitos
humanos, possibilitando a troca de experiências e o aprendizado
mútuo. Além disso, o Programa incentiva a produção de conheci-
mento no Sul Global e ainda capacita os ativistas e acadêmicos
para a interação com a ONU, um parceiro estratégico essencial na
promoção dos direitos humanos em nível mundial.

O relatório a seguir descreve as principais atividades desenvolvi-


das por ambos os programas em 2008, além da evolução da área
institucional e do relatório financeiro, bem como os principais desa-
fios que cada uma dessas áreas deve enfrentar durante o decorrer
do ano de 2009.
-6-

Programa de Justiça
O Programa de Justiça da Conectas Para o Instituto Pro Bono (IPB), 2008
Direitos Humanos atua por meio de foi um ano de muitas conquistas. Mais
iniciativas interligadas, que utilizam o um Estado brasileiro - Alagoas - apro-
Direito como ferramenta para ampliar vou uma resolução local permitindo a
o acesso à Justiça dos grupos vulnerá- advocacia pro bono em seu território.
veis e combater as violações sistemáti- Para complementar, um projeto de
cas de direitos humanos no Brasil. pesquisa chamado “Estatuto Jurídico
do Terceiro Setor” foi desenvolvido
O programa é composto pelos projetos pela equipe do IPB durante todo o ano,
Artigo 1º, Instituto Pro Bono e Direito e seu produto final será enviado ao Mi-
à Saúde da Mulher Negra, esse último nistério da Justiça para fundamentar a
uma iniciativa piloto. elaboração de um projeto de lei geral
para o Terceiro Setor. Leia o relato
Em 2008, o projeto Artigo 1º realizou mais completo sobre o IPB na pág. 12.
um exame mais detalhado de seus últi-
mos anos de atuação, o que fundamen- Já o projeto Direito à Saúde da
tou a importante decisão de ampliar Mulher Negra teve seu segundo ano
seu foco de atuação. Agora, além das de atuação em 2008. Sua principal
atividades relacionadas a adolescen- atividade foi a realização dos “Cur-
tes privados de liberdade, o projeto sos de Capacitação”, que buscaram
também desenvolverá iniciativas sobre fortalecer as lideranças negras de dois
(a falta de) condições de detenção de bairros da periferia de São Paulo para
Cadeias Públicas no país. o combate à discriminação racial nos
serviços de saúde pública. Mais de
Além disso, sob a perspectiva do deba- cem pessoas participaram da ativida-
te constitucional, 2008 foi ano bastante de, realizada em dois módulos durante
profícuo para as ações judiciais em que o decorrer do ano e baseada nos
a Conectas participa no Supremo Tri- materiais produzidos durante o ano
bunal Federal (STF). Pela primeira vez, anterior. O projeto entra agora em sua
audiências públicas foram realizadas fase de conclusão, com desafios como
e a sociedade civil pode se manifestar a instalação do Centro de Direitos e a
oficialmente sobre tais temas. Casos busca por sua sustentabilidade. Veja
importantes, como a ação sobre pes- mais na pág. 16.
quisas científicas com células-tronco,
foram a julgamento. Mais informações
nas páginas seguintes.
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LITIGÂNCIA ESTRATÉGICA E DEBATE CONSTITUCIONAL


O Artigo 1o conta
com o apoio da
Fundação Oak, da Artigo 1º
Fundação Overbrook
e do Better World
Fund (UNF/BWF) O trabalho do Artigo 1º pode ser dividido em duas linhas principais: a
litigância estratégica no combate à violência institucional, em que ví-
timas de violações de direitos humanos são diretamente assessoradas
pela equipe de advogados; e o monitoramento do debate constitucio-
nal, que incentiva a participação da sociedade civil em casos de direitos
fundamentais julgados pelo Supremo Tribunal Federal.

Litigância estratégica

Depois de quase cinco anos de Em 2008, o Artigo 1º deu conti-


EM DEFESA DO ADOLESCENTE existência, o Artigo 1º fez um nuidade a essa atuação. Novos
levantamento completo de sua pedidos de indenização por
Em fevereiro, Conectas lançou a atuação. Desde 2003, a equipe do morte e tortura contra a insti-
Cartilha “Em defesa do adolescente – projeto já propôs mais de 170 tuição responsável pela custódia
protagonismo das famílias na defesa dos adolescentes privados de
ações e medidas judiciais e pro-
dos direitos dos adolescentes em cum-
cedimentos administrativos, a liberdade de São Paulo (a antiga
primento de medidas sócio-educa-
tivas”, produzida em conjunto com maioria referente a violações dos FEBEM, atualmente chamada de
ILANUD (Instituto Latino-Americano direitos humanos (morte e tortu- Fundação CASA) foram ajuizados
das Nações Unidas para Prevenção ra) de adolescentes privados de e diversos procedimentos admi-
do Delito e Tratamento do Delin- liberdade no Estado de São Paulo. nistrativos instaurados para averi-
qüente), AMAR (Associação de Mães guar más condições de detenção
e Amigos da Criança e do Adoles- Essa litigância individual cons- e maus-tratos.
cente em Risco) e CEDECA (Centro tante, associada a medidas mais
de Defesa dos Direitos da Criança e estruturais, como a apresentação Outra importante conquista
do Adolescente) Sapopemba, com o facilitou o monitoramento dessas
de denúncias junto ao sistema
apoio do UNICEF (Fundo das Nações
interamericano de proteção dos violações. Depois de uma bata-
Unidas para a Infância). O objetivo
da publicação, que está sendo dis- direitos humanos pedindo o lha jurídica de quase três anos,
tribuída em diversas organizações fechamento de unidades mais a Justiça finalmente invalidou
não-governamentais, é esclarecer problemáticas, contribuiram uma portaria da antiga FEBEM,
a população em geral e, principal- para que o Estado de São Pau- que impedia que organizações
mente, as famílias e os responsáveis lo passasse a adotar medidas da sociedade civil entrassem nas
por adolescentes em cumprimento preventivas, buscando evitar que unidades para fiscalizar as condi-
de medidas sócio-educativas sobre essas violações se repetissem. ções de detenção. Isso possibili-
os direitos tou um monitoramento in loco
da criança e da situação nas unidades - por
Vale ressaltar também que a Justi-
do adoles-
ça finalmente reconheceu a gravi- exemplo, o próprio Artigo 1º, em
cente, para
que sejam dade da morte de adolescentes sua primeira visita à unidade de
conhecidos, privados de liberdade sob a Franco da Rocha, comprovou a
respeitados e custódia do Estado e aumentou existência de indícios de tortura
monitorados o valor das respectivas indeniza- e maus tratos aos adolescentes,
por todos. ções de cerca de US$ 7 mil para prontamente denunciados às au-
US$ 100 mil. toridades responsáveis e à mídia.

Capa da Cartilha
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Atuação internacional

Algumas vezes, o sistema jurídico O Artigo 1º, em conjunto com o


nacional é insuficiente, por si só, Instituto Pro Bono e o Conselho JULGAMENTOS NO STF
para resolver os casos e denúncias Comunitário Penitenciário de
de violência institucional. Assim, Guarujá e Vicente de Carvalho, Casos importantes e de grande
quando não há resposta adequa- levou o caso à Comissão Intera- repercussão no cenário nacional
mericana de Direitos Humanos foram levados à julgamento no STF
da no sistema jurídico nacional,
em 2008. A Conectas participou
o Artigo 1º leva suas denúncias e (CIDH-OEA), que concedeu segui-
como amicus curiae da maioria
casos à Comissão Interamericana das medidas cautelares determi- deles. Veja três exemplos:
de Direitos Humanos (CIDH-OEA), nando a retirada dos adolescentes
em Washington, cujas penalida- e a adoção de ações para garantir
Pesquisas com células-tronco
des e medidas cautelares ajudam a integridade dos adultos. Fi- Em março, o STF decidiu sobre uma
a pressionar seus Estados-mem- nalmente, em março de 2008, a ação que visava proibir a pesquisa
bro para que adotem medidas de Cadeia foi esvaziada por ordem da científica com células-tronco em-
prevenção às violações de direitos Justiça nacional. brionárias no país, regulamentada
humanos mais recorrentes. por uma lei específica. A Conectas
O Artigo 1º levou outra denún- foi admitida como amicus curiae
Uma iniciativa inovadora foi cia à CIDH em 2008: o caso de na ação e defendeu a validade das
promovida na Cadeia Pública do Gerson Mendonça, morto por pesquisas, argumentando que ape-
policiais durante a reação a um nas células de embriões inviáveis
Guarujá, no Estado de São Paulo.
seriam utilizadas e destacando os
A cadeia em questão, depois de seqüestro-relâmpago de que era
possíveis benefícios para a área
anos de superlotação e falta de vítima. O policial que matou Ger- de saúde. O Prof. Oscar Vilhena
cuidados com a estrutura, não son foi inocentado pelo sistema Vieira, diretor jurídico da Conectas,
apresentava as mínimas condi- jurídico nacional, que alegou que sustentou oralmente perante os
ções sanitárias ou de segurança o policial agiu em “estrito cumpri- Ministros na sessão de julgamento,
necessárias para abrigar pessoas. mento do dever legal". A denúncia realizada em março. Ao final, o STF
Além disso, ainda havia adoles- apresentada busca a responsabili- decidiu pela constitucionalidade da
centes detidos junto com adultos, zação do Estado e indenização da pesquisa, permitindo-a nas condi-
em evidente violação de seus família da vítima. ções previstas na lei.
direitos.
Raposa Serra do Sol
Debate constitucional – STF em Foco Nos meses seguintes, outro
importante julgamento em que a
A Constituição Federal de 1988 cus curiae em casos no STF tem Conectas participou foi iniciado: o
da Terra Indígena Raposa Serra do
confere ao Supremo Tribunal Fe- também o objetivo de ampliar a
Sol. Esse caso, que decidiu sobre a
deral (STF) a posição de guardião densidade dos argumentos de di-
demarcação desse território indíge-
da Constituição. Nessa condição, o reitos humanos no debate público na no nordeste do Estado brasileiro
STF tem sido provocado a decidir brasileiro. de Roraima, ganhou repercussão
sobre temas de grande impacto na mídia internacional por conta
sobre a agenda de direitos huma- Em 2008, a pauta da atuação dos constantes conflitos entre a
nos. Por isso, o projeto STF em da Conectas junto ao Supremo população indígena e proprietários
Foco, desenvolvido pelo Artigo tornou-se bastante intensa. Duas de terras da região.
1º, tem o objetivo de acompanhar ações em que a Conectas partici-
as ações propostas perante o STF, pou como amicus curiae - a ante-
com o intuito de fazer com que cipação do parto de fetos anencé- Joênia Wapicha-
wa, a primeira
a perspectiva da sociedade civil falos e a proibição da importação indígena a
e dos direitos humanos sejam de pneus usados no Brasil - rea- sustentar oral-
lizaram audiências públicas. Tais mente perante
levadas em consideração pelos
os Ministros do
Ministros no momento de tomada eventos, convocados pelo próprio STF, durante jul-
de decisão. A participação siste- STF, tiveram o objetivo de reunir gamento sobre
a Raposa Serra
mática do Artigo 1º como ami- especialistas para apresentar do Sol
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argumentos técnicos e científicos que fundamenta-


rão a decisão final dos Ministros. Como parte destes
processos, Conectas pode convidar especialistas para
sustentar em seu lugar.

Interesses diversos fizeram com que essa demarca- Além disso, alguns dos casos em que o Artigo 1º
ção, já determinada por decreto presidencial, fosse
atua como amicus curiae foram a julgamento e sua
questionada. Apresentou-se uma proposta de de-
marcação em ilhas, de modo a preservar as proprie-
intervenção nesses processos, além de ajudar no
dades já existentes na região. A Conectas apresentou convencimento dos juízes, possibilitou a divulgação
memoriais a esse caso, destacando a importância da dos casos para a mídia e o envolvimento da opinião
demarcação contínua para a preservação da cultura pública no debate. Veja no quadro ao lado mais infor-
e dos hábitos da população indígena local. Também mações sobre esses casos.
apoiou publicamente o movimento pró-demarcação
contínua, liderado pela advogada e líder indígena O website do
Joênia Wapichawa. projeto (www.
stfemfoco.org.
Após duas suspensões, a sessão de julgamento foi
br), lançado tam-
encerrada em março de 2009, com a manutenção da
demarcação contínua do território indígena e a de-
bém em 2008,
terminação da retirada imediata dos não-indígenas tem por objetivo
da região. divulgar infor-
mações e conte-
Ações afirmativas údo que permi-
Outro caso teve seu julgamento iniciado em abril de tam que outras
2008, mas ainda não foi concluído – sobre a constitu- organizações da Home do wesbsite www.stfemfoco.org.br
cionalidade das ações afirmativas em universidades sociedade civil
brasileiras. Essa ação questiona uma previsão do Pro também monitorem as decisões e o trabalho do
Uni, programa do governo federal que busca estimu- STF, além de possibilitar o acompanhamento dos
lar o ingresso dos estudantes com menos recursos no casos em que a Conectas participa.
ensino superior por meio da concessão de bolsas de
estudos por universidades privadas, feita em troca de
benefícios tributários. A determinação questionada
Para 2009, além do encerramento dos julgamentos
prevê a reserva de parte dessas bolsas para negros, adiados, há a previsão de que os casos que já conta-
indígenas, pessoas com deficiência e alunos da rede ram com audiências públicas devem entrar na pauta
pública, e está sendo questionada pela Confederação de julgamentos do Supremo.
Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (CONFE-
NEN). Acesso a medicamentos
Durante a sessão de julgamento, a Conectas, ad- Outra importante vertente de atuação do projeto está
mitida como amicus curiae no caso e representada relacionada ao direito à saúde e acesso a medica-
novamente pelo Prof. Oscar Vilhena Vieira, foi a única mentos. Conectas é parte do GTPI/REBRIP (Grupo de
que abordou a questão das ações afirmativas, até Trabalho sobre Propriedade Intelectual, da Rede Brasileira
então deixada em segundo plano por conta de ques- pela Integração dos Povos) e, por meio dessa organiza-
tionamentos ção, desenvolve atividades em debates relacionados à
tributários pre- propriedade intelectual, em particular sobre o acesso a
vistos na ação. medicamentos para o tratamento da AIDS (SIDA).
No entanto, o
julgamento foi Além da litigância estratégica em si, o GTPI/REBRIP
suspenso por ainda desenvolve um intenso trabalho de advocacy, a
um pedido de partir de um acompanhamento minucioso das discus-
vistas de um sões governamentais relacionadas ao tema, tanto no
dos Ministros Poder Legislativo como no Poder Executivo. Para desta-
e ainda não car a perspectiva da sociedade civil sobre esse debate,
há previsão de o GTPI apresentou pareceres sobre os projetos de lei e
data para sua Prof. Oscar Vilhena Vieira em documentos de posicionamento em relação às ações
conclusão. sustentação oral no STF durante sessão de executivas, além de promover campanhas de mobili-
julgamento sobre ações afirmativas
zação da sociedade civil (www.saudeemrede.org.br).
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Desafios e Projetos para 2009

Durante os últimos anos, a atua- Esse é um cenário complexo, em


ção junto à antiga FEBEM trouxe que o desrespeito aos direitos hu-
conquistas importantes, mas a manos, tanto dos presos quanto
situação de risco aos direitos dos das pessoas que trabalham no
adolescentes privados de liber- sistema penitenciário brasileiro, é
dade ainda persiste. O Artigo sistemático.
1º pretende dar continuidade
a esse trabalho de constante Sobre as atividades relacionadas
vigilância. ao debate constitucional, se
espera que 2009 seja um ano com
Porém, um desafio ainda maior muitas decisões importantes.
se projeta para o Artigo 1º em Temas fundamentais da agenda
2009. O foco de sua atuação deve nacional de direitos humanos,
ser ampliado e novos esforços como direitos sexuais e reprodu-
serão investidos na atuação junto tivos, ações afirmativas, laicidade
ao sistema prisional como um do Estado e direito à saúde estão
todo, particularmente sobre as previstos para entrar em pauta no
más condições de detenção STF em 2009.
em Cadeias Públicas. Confira na
próxima página a entrevista da co-
ordenadora do programa, Eloísa
Machado, para compreender me-
lhor os motivos dessa mudança.

Esse desafio não é pequeno. Se-


gundo o Ministério da Justiça, são
mais de 420 mil pessoas presas no
país e são necessárias ao menos
mais 185 mil vagas, o que gera
um problema crônico de super-
lotação. Só em 2007, mais de mil
presos foram mortos dentro de
cadeias e presídios no país. Ou
seja, quase três mortes diárias,
seja por conflitos internos, seja
por reação da polícia a eventuais
rebeliões.

E as denúncias não param por aí.


Falta de condições de higiene, de
segurança, atuação de milícias,
tráfico de drogas, entre outros.

Violações aos direitos humanos são sistemáticas


em cadeias públicas brasileiras,
como a do Guarujá (foto)
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ENTREVISTA

Em entrevista, a coordenadora do Artigo 1º, Eloísa Machado, conta o histórico do


Projeto e explica a ampliação do foco para o trabalho em prisões

Como era a antiga FEBEM [insti- Em sua opinião, como a atuação do


tuição responsável pelas unidades de Artigo 1º está contribuindo para
internação de adolescentes privados de essa mudança?
liberdade de São Paulo] quando o Ar- Acreditamos que a advocacia estraté-
tigo 1º começou a atuar em 2003? gica persistente, aliada à mobilização
O cenário era gravíssimo e a antiga de organizações e familiares, teve
FEBEM (atual Fundação CASA) era sim a possibilidade de contribuir para
considerada uma das instituições que estas mudanças. É importante instar
mais violava direitos humanos no o Judiciário a se posicionar frente às
Brasil. O índice de mortes era altíssi- violações de direitos humanos, bem
mo e chegou-se a computar a morte como a assumir sua parcela de res-
de um adolescente por mês em suas ponsabilidade. Desta forma, a litigân-
unidades. A tortura generalizada cia estratégica promovida pelo Artigo
e unidades inadequadas, situadas 1º nestes últimos cinco anos teve o
em grandes complexos, tornavam a mérito de colocar o Judiciário como
antiga FEBEM um caos de rebeliões e ator fundamental no processo de
violações de todo gênero, problemas mudanças institucionais promovidas
estes majorados pela falta de trans- pela FEBEM, além de criar um custo
parência e fiscalização das ações da político grande ao Poder Público
instituição. pelas violações de direitos humanos
cometidas.
O cenário mudou nos últimos cinco
anos? Por que ampliar o foco do projeto
Pode-se afirmar que algumas coisas para Cadeias Públicas?
já mudaram para melhor: os gran- Acreditamos que hoje a situação das
des complexos foram desativados e cadeias públicas seja a mais proble-
deram lugar a unidades menores e mática em termos de direitos huma-
descentralizadas. No entanto, ainda nos no país. Trata-se de um problema
não se pode dizer que as condições complexo, que envolve uma série de
de internação estejam adequadas, ou ações governamentais, e que vem
seja, as violações persistem, ainda que sendo reiteradamente negligenciado
em ritmo menor. nas últimas décadas.
Outra melhora significativa foi a Assistimos a um aumento de mais de
diminuição dos casos de tortura e de 140% da população carcerária em São
mortes nas unidades de internação. É Paulo. Superlotação, más condições
um tipo de violação com a qual não de detenção, criminalidade organiza-
se pode conviver. Assim, a persistên- da, mortes, rebeliões e tortura são ca-
cia da tortura e das mortes, racterísticas comuns, encontradas por
mesmo em menor número, todo o Brasil. As prisões são sempre
segue a justificar uma atua- apontadas como uma solução para a
ção forte em seu combate. crise de segurança que assola o país;
Merece menção a maior no entanto, este discurso vem desco-
transparência hoje conferi- lado da lógica de direitos humanos,
da aos casos relacionados à agravando ainda mais a situação.
antiga FEBEM. Após muita Esperamos que a ampliação de foco
luta, hoje as unidades do Artigo 1º seja capaz de contribuir
da atual Fundação CASA para a melhoria das condições de de-
podem ser fiscalizadas pela tenção, prover melhor defesa pública
sociedade civil. dos presos e diminuir o uso excessivo
de prisões provisórias.
Eloísa Machado,
coordenadora do Artigo 1o
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RESPONSABILIDADE SOCIAL NO DIREITO


O Instituto Pro Bono
conta com o apoio
Instituto Pro Bono da Fundação Oak, da
Fundação Overbrook,
da Fundação Tinker e
O Instituto Pro Bono (IPB), afiliado à Conectas desde 2001, trabalha do Better World Fund
principalmente em duas frentes: (1) localmente, facilita o contato entre (UNF/BWF)
advogados interessados em advocacia pro bono e ONGs que necessi-
tam de assistência jurídica gratuita; e (2) nacional e internacionalmen-
te, incentiva e divulga a prática pro bono, pressionando para que seja
criada uma regulamentação que a permita sem restrições em todo o
território brasileiro.

Expansão pro bono

O ano de 2008 foi marcado por cia jurídica gratuita de qualidade


conquistas muito importantes e advogados voluntários. Para
para o Instituto Pro Bono. Mais isso, conta com um banco de
um Estado brasileiro – Alagoas – horas fornecidas por um número
passou a contar em setembro com crescente de advogados asso-
uma resolução da associação dos ciados.
advogados (Ordem dos Advoga-
dos do Brasil - OAB) local permi- Em 2008, o número de novas
tindo a prática da advocacia pro adesões (55) manteve os padrões
bono (voluntária), que ainda não dos anos anteriores. Isso ampliou
é nacionalmente regulamentada, a capacidade de atendimento
em sua jurisdição. das ONGs, especialmente com a
adesão do departamento jurídico
Mais do que um passo importante da General Electric (GE), que conta
na expansão dos ideais pro bono, tanto com advogados internos da
isso comprova o sucesso da estra- empresa como com um corpo de
tégia de atuação adotada pelo IPB profissionais externos.
junto às OABs estaduais. O objeti-
vo final é fazer com que a advoca- Algumas vezes, a
cia solidária vá sendo permitida própria equipe do IPB
Estado por Estado, expandindo o também participa do
apoio à causa . Desde a assinatu- atendimento dessas
ra da resolução em Alagoas, por demandas. Em agosto
exemplo, mais de 50 advogados de 2008, por exemplo,
já se cadastraram para o progra- a equipe começou a
ma local de advocacia voluntária. prestar seu primeiro
atendimento interna-
Em São Paulo, único outro Estado cional, em conjunto
onde a prática já é regulamenta- com um grupo de ad-
da, o IPB também tem por ativi- vogados voluntários.
dade facilitar o contato entre as Voluntários do IPB durante o primeiro
ONGs que necessitam de assistên- atendimento internacional
- 13 -

O beneficiário desse
ENTREVISTA atendimento é um gru-
po de estudos, ligado
O Diretor Executivo do Instituto Pro Bono, Marcos Fuchs, explica como funciona a a uma ONG argentina,
estratégia de expansão Estado por Estado e as principais dificuldades no incentivo à que está pesquisan-
criação de uma cultura de advocacia pro bono no Brasil.
do sobre a proteção
A advocacia pro bono tem diver- Por que Alagoas representou uma jurídica que as crianças
sos apoiadores em todo o mundo. vitória tão grande? dos países da América
Por que é tão difícil aprovar uma Porque a resolução foi aprovada em do Sul têm na área de
resolução nacional que permita essa ato do Presidente do Conselho, que saúde, especialmente
atividade em todo o Brasil? entendeu a urgência e a relevância em relação ao câncer.
Há alguns fatos que influenciam deste assunto. Tal medida já ajudou a
esse cenário, mas o principal é que cadastrar advogados, que, de forma pro Hoje, no total, são 357
a cultura pro bono ainda não está bono, estão auxiliando na defesa de advogados voluntá-
consolidada por aqui. Prover acesso à presos que não conseguiam exercer
rios individuais, além
Justiça a quem dela necessitar é uma seu direito de defesa. O CNJ (Conselho
obrigadção constitucional do Estado Nacional de Justiça) já usa destes advo-
dos escritórios de ad-
brasileiro. No entanto, com a satura- gados para o seu cadastro nacional. Em vocacia que aderiram
ção das Defensorias Públicas e com os outras palavras, existe uma cooperação de forma institucional.
dativos não dando conta da demanda, entre o Tribunal de Justiça e a OAB. É Assim, as diversas de-
o trabalho pro bono é uma alternativa sem dúvida uma grande vitória, pois mandas provenientes
valiosa, principalmente em casos de também influencia as seccionais vizi- das entidades que che-
advocacia de interesse público. nhas (Pernambuco e Paraíba). gam ao IPB continuam
sendo, via de regra, as-
sumidas integralmente
Por que trabalhar Estado por Estado Recentemente, o CNJ publicou uma
no mesmo dia.
na busca pela permissão nacional? resolução sobre advocacia pro bono.
Essa atuação Estado por Estado (state Isso vai mudar a forma de atuação do
by state) se mostrou bastante positi- IPB?
va nas incursões realizadas. Foram Essa resolução é uma forma positiva
visitados os Estados de Minas Gerais, de intensificar a advocacia pro bono
Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, no Brasil. O CNJ pretende cadastrar
Paraná, Paraíba, Mato Grosso do Sul e advogados em todo Brasil para prestar
Distrito Federal. Em todas as visitas, fui atendimento gratuito. É sem dúvida a
recebido pelos presidentes das seccio- resolução que mais amplia o acesso à
nais da OAB, incluindo o Presidente do justiça de que se tem notícia nos últi- Marcos Fuchs (esquerda),
Conselho Federal. A experiência com mos tempos. diretor do Instituto Pro Bono,
reuniões e palestras demonstrou que e Omar Coêlho de Mello
(direita), presidente da
todos entendem que a responsabilida-
OAB/AL, durante cerimônia
de social no direito é um dever a ser de assinatura da Resolução
exercido por advogados. Ao “conta- Pro Bono de Alagoas
minar” cada seccional com os ideais
pro bono, conseguimos fomentar a
necessidade e a importância de novas
resoluções locais.

Algum desses Estados já está cami-


nhando no sentido de aprovar uma
resolução própria?
Além de Alagoas, que já aprovou sua
resolução, o Paraná discute o assunto
em seu Conselho, e a resolução apenas
aguarda votação. Até o final de 2009,
o Rio de Janeiro promete promover
um debate amplo sobre o tema, e
buscar a aprovação de uma resolução
no início de 2010.
- 14 -

Estatuto Jurídico do Terceiro Setor

Outra novidade importante Em setembro de 2008 foi realiza-


ocorrida em 2008 é que o IPB do um seminário sobre o tema,
desenvolveu, com o apoio do que reuniu mais de cem especia-
Ministério da Justiça, um novo listas em São Paulo. Tal evento foi
projeto – o Estatuto Jurídico do uma importante oportunidade
Terceiro Setor. A criação de uma para debater a questão, colher
lei específica para o Terceiro Setor novas contribuições e analisar as
que, segundo o IBGE (Instituto primeiras conclusões da fase de
Brasileiro de Geografia e Estatísti- pesquisa.
ca), conta com 338 mil fundações
e associações sem fins lucrativos e O projeto Estatuto Jurídico do
emprega 1,7 milhões de pessoas Terceiro Setor foi finalizado no
em todo o país, é uma demanda início de 2009 com a produção
que organizações sociais vêm de uma minuta de anteprojeto
propondo há anos. de lei, apresentada ao Ministério
da Justiça. “A minuta estabelece
“As leis existentes hoje acabam regras claras e precisas, princípios
gerando várias antinomias, não e diretrizes, e incentiva a política
somente aparentes, mas reais, pública de desenvolvimento do
dificultando a aplicação e inter- Terceiro Setor. Desse modo, confe-
pretação das regras existentes. re uma identidade a um setor de
Isso gera uma insegurança jurí- entidades e um segmento de ati-
dica generalizada em entidades vidades muito diversificado, mas
do Terceiro Setor”, explica o Prof. que precisa de uma legislação
Gustavo Justino de Oliveira, da Fa- específica”, conclui o Prof. Justino.
culdade de Direito da USP, um dos
coordenadores do projeto. “Há a
necessidade de uma legislação
específica que contemple direitos
e deveres desse segmento de
entidades, além de uma política
pública específica de desenvolvi-
mento do Setor”, acrescenta.

O projeto em questão visou estu-


dar a viabilidade e a pertinência
da elaboração dessa lei específica.
Seu primeiro ano foi dedicado à
pesquisa acadêmica, realizada por
meio da comparação e da análise Seminário “Estatuto Jurídico do Terceiro Setor”
da legislação internacional sobre
o tema. “Um dos modelos mais
interessantes, ainda em fase de
desenvolvimento, é o italiano.
Entre outros, esse modelo con-
templa inclusive a criação de uma
agência reguladora do Terceiro
Setor naquele país”, comenta o
professor.
- 15 -

Desafios e Projetos para 2009

Além de dar conti- Ademais, o produto final do proje-


nuidade à expan- to Estatuto Jurídico do Terceiro
são dos ideais pro Setor, a minuta de uma lei especí-
bono e manter o fica para a área, será considerado
crescimento do pelo Ministério quando da formu-
número de advo- lação de um projeto de lei. Assim,
gados associados, merece destaque o alto potencial
um dos principais de intervenção desse projeto, que
desafios do IPB é persiste mesmo após seu encerra-
ampliar o núme- mento oficial.
ro de casos de
interesse público
atendidos.

Ainda há uma demanda muito


grande de casos relacionados
à constituição e regularização
estatutária de novas ONGs, até o
momento as únicas beneficiárias
possíveis da advocacia pro bono.
Passada essa fase inicial, o IPB pre-
tende tornar-se um importante
parceiro dessas organizações, au-
xiliando na adoção de estratégias
jurídicas direcionadas a atingir a
missão de cada uma delas.

Uma estratégia diferenciada deve


ainda incentivar a formação de
uma cultura pro bono no meio
jurídico. Em parceria com a Escola
de Direito da Fundação Getúlio
Vargas, o IPB pretende dar iní-
cio em 2009 a um projeto que
vem sendo construído há anos:
o Instituto Pro Bono Júnior. O
objetivo é estimular alunos de
Direito a atuarem voluntariamen-
te em casos de interesse público,
em parceria com escritórios que já
realizam advocacia pro bono.
- 16 -

COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL


O Projeto Direito à Saúde
da Mulher Negra conta
PROJETO DIREITO À SAÚDE com o apoio da União Eu-
DA MULHER NEGRA ropéia e da Embaixada do
Reino dos Países Baixos
no Brasil
O projeto Direito à Saúde da Mulher Negra é realizado pela Conectas
Direitos Humanos em parceria com o Geledés - Instituto da Mulher
Negra, com o apoio da União Européia. Com duração de três anos,
iniciou suas atividades em março de 2007. Desde então vem, por meio
de diferentes atividades, investindo na efetivação de um modelo de
monitoramento capaz de provocar mudanças nos serviços públicos de
saúde no que tange ao atendimento à mulher negra.

Cursos de capacitação

O Projeto Direito à Saúde da reito à saúde da mulher negra,


Mulher Negra desenvolveu em o direito à igualdade racial, os
2008 a principal atividade de sua direitos sexuais e os direitos
segunda etapa – a realização de reprodutivos, a violência contra
cursos de capacitação. Esses as mulheres e, ainda, as doen-
cursos, voltados para as lideranças ças com maior prevalência nas
negras dos bairros de São Ma- mulheres negras.
teus e Cidade Tiradentes, em São
Paulo, capacitaram mulheres para Para tanto, foi PALESTRANTES DO CURSO DE CAPACITAÇÃO
a defesa de seus direitos, visando utilizado como
Dr. Oscar Vilhena Vieira Dr. Rodnei Jericó
ao combate à discriminação racial material o Manu-
Temas Fundamentais de Igualdade Racial
nos serviços de saúde. al de Referên- Direitos Humanos (1o e 2o cursos)
cia em Direito (1o curso)
O curso foi dividido em oito aulas, à Saúde da Dra. Fernanda Castro Dra. Ana Flávia Oliveira
ministradas por professores uni- Mulher Negra, Fernandes Direitos Reprodutivos e
versitários, advogados e convi- produzido pelo Temas Fundamentais de Violência de Gênero
dados especiais. Uma estrutura projeto em 2007. Direitos Humanos (1o e 2o cursos)
especial foi montada para receber (2o curso)
as participantes: para vencer a Por causa do su- Dra. Cláudia Luna Dr. Robson Zamboni
distância entre seus locais de cesso desses cur- Direitos das Mulheres Direitos Sexuais
trabalho e o local do curso foram sos, tais lideran- (1o e 2o cursos) (1o curso)
fretados ônibus e vans. ças estão tendo Dra. Carmem Dora Dr. Sérgio Gardengui Suiama
um envolvimento Direitos das Mulheres Direitos Sexuais
(1o e 2o cursos) (2o curso)
Mais de 100 pessoas, entre intenso na da
Dr. Fernando Musa A. Aith Dra. Janaína Leslão Garcia
promotoras legais populares , terceira etapa do
Direito à Saúde Direitos Sexuais
profissionais de saúde, lideranças projeto, prevista (1o curso) (1o curso)
comunitárias e mulheres qui- para 2009: a cria- Dr. Fernando Camargo Dra. Elisabete Aparecida
lombolas da região do Vale do ção do Centro de Direito à Saúde Pinto
Ribeira, no Estado de São Paulo, Direitos, em São (2o curso) Política Nacional Integral de
participaram das duas edições do Mateus. Dra. Elisângela Mendes Saúde da População Negra
curso. Queiroz e Saúde da Mulher Negra
Saúde da Mulher Negra (1o e 2o cursos)
A capacitação abordou especial- (2o curso)
mente questões relativas ao di-
- 17 -

Materiais do curso
DEPOIMENTOS DE PARTICIPANTES
DO CURSO DE CAPACITAÇÃO Em 2007, primeiro ano do projeto,
a principal atividade do Projeto
Direito à Saúde da Mulher Negra
“O curso superou minhas expecta- “O curso mudou minha relação
foi a produção do Manual de
tivas. Agora pretendo transmitir o com o trabalho e com a minha
que aprendi para outras mulheres patroa. Agora eu conheço os meus Referência em Direito à Saúde
do Vale do Ribeira” direitos e me sinto uma pessoa da Mulher Negra. Trata-se de um
Denise Aparecida de Deus, fisiotera- mais completa”. fichário contendo cinco cartilhas
peuta e quilombola, 1ª turma Gilsa do Sacramento, sobre as temáticas de Direitos
ex-enfermeira, 2ª turma Humanos, raça, gênero e saúde.
“Fiquei sabendo do curso por pes- Seu conteúdo é denso e de cunho
soas da minha comunidade e estou informativo, porém escrito em
muito satisfeita com o que aprendi. “Os professores e as palestras fo- linguagem fácil e acessível.
Entrei em contato com informações ram maravilhosos. Saber não ocupa
que não teria acesso se não fosse lugar. É muito importante saber
Junto com o Manual foram produ-
por essas aulas” ouvir as pessoas e agora saberei
Cristiane Alves Wigboski, também como orientá-las” zidos 21 folhetos, que abreviam
quilombola, 1ª turma Maria Aparecida de Moura Diniz, os principais assuntos de cada
carinhosamente chamada de D. uma das Cartilhas em uma lin-
“As aulas do curso serviram não só Cida, 2ª turma guagem mais simples e sucinta.
para aprender mais, mas para re- Esses folhetos foram produzidos
capitular toda a experiência que já em grande escala e estão sendo
tive. Além disso, os professores têm “É muito importante ter a oportu- distribuídos na região de atuação
muito conhecimento, mas não tive- nidade de reciclar conhecimentos do Projeto, principalmente para
mos dificuldade para acompanhar e aprender coisas novas. O curso
mulheres que freqüentarem o
as aulas. Dava para ver que todo foi muito além de minhas expec-
Centro de Direitos. Além de ser
mundo vinha com muita satisfação tativas”
para assistir o curso”, Simone Ribeiro, distribuído para as participantes
Maria Aparecida Santos, de Cidade Tiradentes, 2ª turma dos cursos de capacitação, tanto
agente de saúde aposentada, 1ª o Manual quanto a coleção de
turma folhetos foram enviados a diversas
organizações que trabalham com
“Fiz o curso para aprender mais a temática racial e de gênero no
sobre racismo e saúde e já come- país.
cei a observar com outros olhos o
atendimento à população negra
no hospital onde
trabalho”
Telma Lúcia Farias da
Silva, Promotora Legal
Popular, 1ª turma

“O curso mexeu
muito com a minha
vida. Os debates
foram excelentes, nos
permitiram confron-
tar muitos dogmas,
principalmente os
Manual de Referência
religiosos”
Danielle Izidoro Var-
gem, 1ª turma Participantes da 1a Turma do Curso
- 18 -

Participantes da 2a
Turma do Curso

Além dos cursos de capacitação, Por fim, o Saúde da Mulher Negra


uma nova iniciativa foi desenvol- ainda lançou em 2008 seu web-
vida ainda no segundo semestre site (www.saudemulhernegra.
de 2008, com a adesão do Saúde org.br). Além de conter infor-
da Mulher Negra à Campanha mações institucionais, o site é
por uma Convenção Interame- voltado a pesquisas na área de
ricana de Direitos Sexuais e saúde e gênero, pois contém um
Direitos Reprodutivos. amplo banco de dados, de acesso
gratuito, com artigos acadêmicos,
Juntamente com as Católicas dissertações e textos de legislação
pelo Direito de Decidir e com a nacional e internacional na área.
Rede Feminista de Saúde, Direitos
Sexuais e Direitos Reprodutivos, o
Saúde da Mulher Negra produziu Capa do Guia de Leitura

um Guia de Leitura do Mani-


festo Abreviado da Campanha,
com o objetivo de complemen-
tar o trabalho que já vem sendo
desenvolvido por essas organiza-
ções desde 1999.

Esse Guia, por ser um material de


fácil leitura e voltado ao público
leigo, pode ser utilizado em diver-
sas oficinas e workshops, sendo
um instrumento importante na
divulgação da Campanha e do
Manifesto em prol da Convenção.
Foi distribuído para diversas orga-
nizações que trabalham com a te-
mática de gênero, direitos sexuais,
direitos reprodutivos e raça.
Site do Projeto Saúde da Mulher Negra
- 19 -

Desafios e Projetos para 2009

O Projeto Direito à Saúde da Mu- Para isso, está programada a


lher Negra tem um cronograma realização de dez “Meses Temá-
de atividades programado para ticos” no Centro em 2009, dando
três anos. Ou seja, em teoria, 2009 continuidade à capacitação de
será o último ano do Saúde da mulheres começada com os cur-
Mulher Negra nos moldes inicial- sos. Serão dois meses dedicados a
mente previstos. cada um dos temas já apresenta-
dos nos cursos, com aulas, pales-
Mas a proposta é que esse projeto tras, oficinas, debates, apresen-
sirva como um modelo, um piloto tação de filmes, peças de teatro
que poderá e deverá ser replicado e outras atividades e dinâmicas
em diversas regiões do país. Os que auxiliem na incorporação dos
maiores desafios são tornar os conteúdos.
resultados permanentes nas
comunidades já atingidas por Também em 2009, o Saúde da
ele (São Mateus e Tiradentes) e Mulher Negra dará continuidade
produzir um registro detalhado a sua atuação na Campanha por
e eficaz que permita sua replica- uma Convenção Interamericana
ção. de Direitos Sexuais e Direitos
Reprodutivos.
Por isso, a maior iniciativa do Saú-
de da Mulher Negra em 2009 será, Já está acertada, inclusive, a rea-
sem dúvida, a montagem e a lização de workshops e palestras
execução do Centro de Direitos. informativas sobre a campanha
O Centro atuará principalmente em espaços de grande mobiliza-
em três frentes: na capacitação ção social. Com tais iniciativas, o
continuada das mulheres, para Saúde da Mulher Negra pretende
que possam monitorar a política conquistar novos apoios para a
pública de saúde; na sensibiliza- campanha e fortalecer a demanda
ção dos funcionários da área da pela Convenção.
saúde; e no recebimento de de-
núncias visando a judicialização Além disso, o projeto ainda pre-
de casos de discriminação racial tende lançar uma cartilha expli-
no sistema de saúde, em parceria cativa sobre outra Convenção
Equipe do projeto inaugura Centro de
com a Defensoria Pública do Esta- – a Convenção Interamericana
Direitos, em São Mateus do de São Paulo. Contra o Racismo e Toda Forma
de Discriminação e Intolerância.
Nesse sentido, o Centro é A idéia é distribuir essa cartilha
fundamental para a conti- para outras organizações que
nuidade dos objetivos do trabalhem com raça, gênero e
Saúde da Mulher Negra. direitos humanos em geral, como
Por isso, é essencial que a um incentivo aos debates sobre o
comunidade se aproprie projeto da Convenção que ainda
de seu espaço e de suas está em discussão na OEA.
atividades, para que ele
se mantenha mesmo
após o encerramento ofi-
cial do Saúde da Mulher
Negra.
- 20 -

Programa sul global


O Programa Sul Global da Conectas de direitos humanos: a Sur – Revista
Direitos Humanos busca capacitar, mobili- Internacional de Direitos Humanos.
zar e fortalecer ativistas e acadêmicos de Em 2008, dois números da Revista fo-
direitos humanos do Sul Global (Ásia, África ram produzidos, em parceria com outras
e América Latina), por meio de iniciativas instituições, e distribuídos gratuitamente
em educação, pesquisa e advocacy. O ob- em mais de 100 países. Mais detalhes
jetivo principal do Programa é aumentar a na pág. 28.
influência e o impacto das atividades indivi-
duais e coletivas de jovens defensores de A Conectas concluiu em 2008 um
direitos humanos, por meio de uma série importante projeto de pesquisa, baseado
de atividades e projetos interligados. em análise comparativa entre África do
Sul, Brasil e Índia. O projeto, intitulado
O Colóquio Internacional de Direitos Justiciabilidade dos Direitos Hu-
Humanos é uma das principais ativida- manos - uma análise comparativa:
des do Programa. Esse encontro anual de África do Sul, Brasil e Índia comparou
ativistas e acadêmicos de direitos huma- um grupo de casos paradigmáticos de
nos é realizado pela Conectas desde sua direitos humanos analisados pelas cor-
fundação, em 2001 e já contou com a tes constitucionais dos três países. Uma
participação de mais de 600 pessoas. Em publicação compilando esses resultados
2008, o evento ainda foi completado pelo II deve ser lançada ainda em 2009. Mais
Encontro Estratégico sobre a Participação informações na pág. 31.
da Sociedade Civil no Conselho de Direitos
Humanos da ONU, que buscou capacitar os O Programa conta ainda com o projeto
participantes do Colóquio para a interação Política Externa e Direitos Humanos,
com os mecanismos internacionais formais cujas atividades, em âmbito nacio-
de proteção aos direitos humanos. Há mais nal, regional ou internacional, buscam
informações sobre o Colóquio na página pressionar pela prevalência dos direitos
seguinte. humanos nas decisões relacionadas à
política externa, especialmente em pa-
Ainda na área de educação, a Conectas íses do Sul Global. Em 2008, o desen-
coordena, em parceria com outras ONGs, volvimento de atividades como a parti-
o Programa de Direitos Humanos para cipação no Comitê Brasileiro de Direitos
a África Lusófona. Em 2008, esse pro- Humanos e Política Externa, a expansão
jeto ampliou seu alcance e trouxe, além e consolidação de suas campanhas
de ativistas de Moçambique e Angola, um trans-regionais e o engajamento no
participante de Guiné-Bissau. Para 2009, processo de Revisão Periódica Universal,
estão sendo recebidos também ativistas de promovido pelo Conselho de Direitos
Cabo Verde. Leia mais na pág. 25. Humanos da ONU, ajudaram a transfor-
mar a Conectas em uma referência em
Já na área de incentivo à pesquisa e pro- termos da participação da sociedade
dução de conhecimento pelo Sul Global, a civil organizada em relações interna-
Conectas produz desde 2004 uma publica- cionais. Leia o relato mais completo na
ção acadêmica semestral pioneira na área pág. 32.
- 21 -

EDUCAÇÃO: COMPARTILHANDO CONHECIMENTO NO SUL


O VIII Colóquio contou com
o apoio da Embaixada da
Alemanha, da Fundação Colóquio Internacional de
Ford, do Open Society Insti-
tute e do Fundo das Nações Direitos Humanos
Unidas para a Democracia
(UNDEF) e a colaboração O Colóquio Internacional de Direitos Humanos reúne ativistas e
da Escola de Direito de São acadêmicos de países da África, Ásia e América Latina em São Paulo
Paulo (FGV-SP), do Consula- para uma semana de capacitação, troca de informações e promoção de
do Geral do Canadá no Bra- ações conjuntas em direitos humanos. Seu objetivo é criar a oportuni-
dade para que esses participantes discutam questões atuais do campo
sil, da Ashoka e da OSISA
dos direitos humanos, desenvolvam relações com organizações par-
ceiras de todo o mundo e compartilhem conhecimentos com base na
experiência de cada um.

VIII Colóquio

O VIII Colóquio Internacional A oitava edição do Colóquio, pro-


de Direitos Humanos, realizado gramada e realizada com base nas
de 08 a 15 de novembro em São sugestões e opiniões expressas
Paulo, Brasil, teve como tema pelos ex-participantes em ques-
central os 60 Anos da Declaração tionários de avaliação, trouxe di-
Universal de Direitos Huma- versas inovações para as palestras
nos: Desafios para o Sul Global. da manhã (confira a programação
O encontro reuniu cerca de 80 das palestras no quadro da página
pessoas, entre participantes, ao lado).
observadores e palestrantes, de
35 países. A escolha dos palestrantes e sua
disposição para o debate foram
Das 350 inscrições recebidas, bastante elogiadas pelos partici-
foram escolhidos 54 participan- pantes. Além disso, a mensagem
tes – 29 mulheres e 25 homens. O em vídeo enviada pela Alta Co-
gráfico abaixo mostra a região de missária de Direitos Humanos,
origem dos selecionados. Navanethem Pillay, a discussão
- 22 -

sobre justiça transicional com o


Ministro da Secretaria Especial de VIII CÓLOQUIO INTERNACIONAL
Direitos Humanos do Brasil, Paulo DE DIREITOS HUMANOS
Vannucchi, e a participação
São Paulo, de 08 a 15 de novembro
do Professor Henry Steiner, da Palestras da manhã
Universidade de Harvard, foram
alguns dos destaques do evento. Abertura: Os 60 Anos da
Declaração Universal de Direitos Humanos
Mensagem da Alta Comissária para os Direitos Huma-
nos [vídeo]
Paulo Vannuchi, SEDH, Brasil
Paulo Sérgio Pinheiro, NEV-USP, Brasil
Roxana Vasquez, CLADEM, Peru
Oscar Vilhena Vieira, Conectas Direitos Humanos, Brasil

Questões atuais em Direitos Humanos


aConvenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência
Anna MacQuarrie, Canadian Association for Community
Living, Canadá
aDeclaração da ONU sobre Direitos dos Povos Indígenas
Prof. Henry Steiner
conversa com os participantes Joenia Wapichana, CIR, Brasil
aDireitos Sexuais e Reprodutivos
Durante as tardes, foram desen- Flávia Piovesan, PUC - SP, Brasil
volvidas atividades de aprendi-
O Conselho de Direitos Humanos da ONU
zado mútuo, para facilitar a troca aONGs e o mecanismo de Revisão Periódica Universal
direta de conhecimento entre os (RPU)
participantes. Iniyan Ilango, Commonwealth Human Rights Initiative,
Índia
Essas atividades incluíram: aO Papel das Instituições Nacionais de Direitos Humanos
Judith Cohen, South African Human Rights Commis-
sion, África do Sul
aGrupo de Trabalho sobre aEmpresas e Direitos Humanos: avaliação dos impac-
Litigância e sobre Mecanismos tos de projetos de investimento estrangeiro em Direitos
de Direitos Humanos da ONU: Humanos
os participantes foram divididos Caroline Brodeur, Rights & Democracy, Canada
nesses dois grupos, para trocar
informações e elaborar propos- Litigância em Direitos Humanos
tas de trabalho conjunto para o aExperiências no Sistema Africano de Direitos Humanos
futuro; Emmanuel Nwaghodoh, CERAC, Nigeria
aLitigância Estratégica
Gastón Chillier, CELS, Argentina
aEstratégias de Cooperação Regional
Eloísa Machado, Conectas Direitos Humanos, Brasil

Novas ferramentas na luta pelos Direitos Humanos


aVídeo Advocacy
Tamaryn Nelson, Witness, EUA
aCultura e Direitos Humanos
Todd Lester, freeDimensional, EUA
aColaboração sul-sul
Juana Kweitel, Conectas Direitos Humanos, Brasil

Simulação de uma sessão do CDH, feita


no Grupo de Trabalho sobre ONU
- 23 -

aO Fórum Aberto (Open Space Como nos anos anteriores, os


Forum): em uma das tardes, os próprios participantes tiveram
participantes puderam escolher li- a chance de avaliar o Colóquio
vremente que temas gostariam de ainda durante sua realização, por
debater, coordenaram os debates meio da aplicação de questioná-
e organizaram as conclusões de rios. Em uma escala de notas de
cada grupo; 1 a 5, a edição desse ano atingiu
4,74 em termos de realização dos
objetivos propostos (quase a mes-
ma média de 2007, que foi 4,73).

No fim de semana que antecedeu


o Colóquio, a Conectas também
realizou o II Encontro Estratégico
de ONGs sobre a participação no
Conselho de Direitos Humanos
(CDH) da ONU, com o objetivo
de capacitar os representantes
das ONGs para trabalhar con-
Grupo em visita ao CEDECA Interlagos juntamente no âmbito da ONU,
a Visita a ONGs locais: na tarde especialmente por meio da
do dia 13 de novembro, os partici- Revisão Periódica Universal (RPU).
pantes foram divididos em quatro A maioria dos participantes desse
grupos para visitar algumas ONGs encontro também participou da
de São Paulo - Ação Educativa, oitava edição do Colóquio. Confira
Católicas pelo Direito de Decidir, na parte do programa de Política
o Centro de Defesa de Direitos da Externa e Direitos Humanos (pág.
Criança e do Adolescente (CEDE- 33) uma descrição mais detalhada
CA) de Interlagos e um acampa- desse encontro.
mento do Movimento dos Sem-
Terra (MST).

Desafios e Projetos para 2009

Depois de oito anos de Colóquio, sido um obstáculo importante


alguns desafios importantes já para pensar novas metodologias e
foram vencidos. Mas outros ainda formatos de debate.
persistem e novos surgiram, o que
levou a uma reflexão mais profun- Desenvolver maneiras melhores
da sobre a própria estrutura do de estabelecer uma conexão
encontro. entre os participantes de anos
diferentes do Colóquio é ou-
Sobre o programa de ativida- tro grande desafio. Nesse caso,
des, por exemplo, um de nossos por exemplo, iniciativas como
principais objetivos é aplicar uma oferecer a oportunidade de que
metodologia que possibilite uma ex-participantes retornem ao
troca de conhecimentos cada Colóquio como observadores ou
vez mais horizontal entre os par- palestrantes têm se mostrado
ticipantes e entre os participantes bastante eficazes.
e os palestrantes. Mas a diversi-
Cena do vídeo enviado por Navi Pillay, Alta
Comissária de Direitos Humanos da ONU dade lingüística do encontro tem
- 24 -

Mas o maior deles é, sem dúvi-


da, estimular os ativistas para
que continuem a desenvolver
trabalhos conjuntos depois do
Colóquio. Uma importante ferra-
menta foi desenvolvida em 2007.
Trata-se de um boletim quinzenal
que divulga as notícias que os ex-
participantes publicam no portal
Conectasur (www.conectasur.
org). Em avaliação posterior, 86%
dos ex-participantes disseram
que o instrumento era muito útil
(os demais 14% disseram que a
utilização de outras ferramentas Acima, participantes durante atividades de interação feitas
como reuniões e visitas também no primeiro dia

seriam necessárias para continuar


o trabalho conjunto depois do
Colóquio).
ENTREVISTA
Para 2009, além da manutenção Juana Kweitel, coordenadora do Progra-
do boletim, cada um dos Grupos ma Sul Global e uma das organizadoras do
de Trabalho do encontro elaborou Colóquio, fala sobre as expectativas com
planos concretos e específicos de relação ao próximo encontro.
ações coletivas e troca contínua
de informações. Qual o tema do próximo Coló-
quio?
Justamente para superar essas di- O tema do IX Colóquio Interna-
cional de Direitos Humanos será
ficuldades, o encontro está sendo
“Uma Avaliação do Sistema Glo-
repensado para 2009. A próxima bal de Direitos Humanos sob a
edição do Colóquio focará exata- Perspectiva do Hemisfério Sul”. A Juana Kweitel, coordenadora do
Programa Sul Global
mente a criação de pontes entre proposta é analisar os principais
as diferentes gerações que desafios para a efetiva implemen-
participaram do Colóquio, e pro- tação dos direitos humanos nos ção de um grupo de mobilização,
moverá também uma avaliação países do Hemisfério Sul, partin- com o objetivo de fortalecer o
do de uma avaliação formulada trabalho colaborativo entre os
participativa do impacto destes
pelos próprios ativistas, que participantes de todas as edições
oito anos no fortalecimento da
analisarão os resultados do tra- do evento. Esse grupo também
sociedade civil do Sul Global. será responsável por avaliar de
balho dos principais órgãos das
Nações Unidas na área de direitos forma participativa os resultados
Assim, alguns aspectos do for- humanos. Durante o Colóquio, os dos Colóquios anteriores.
mato do Colóquio ainda estão participantes formularão juntos
sendo analisados. Mas o obje- propostas para reformas destes E como serão os Colóquios
tivo final dessa reestruturação órgãos e discutirão também seguintes?
será não apenas ampliar ainda estratégias de ação conjunta para Definiremos junto com os partici-
mais o alcance e a influência que os próximos anos. pantes do IX Colóquio os prin-
cipais aspectos das edições de
essa semana de capacitação e
Haverá alguma mudança im- 2010 e 2011. Queremos discutir
aprendizado mútuo tem na vida
portante em 2009? algumas questões importantes,
dos ativistas que participam do como o número de participantes
Diferente das anteriores, a
encontro, mas também fortalecer e a duração ideais e se o evento
próxima edição será focada nos
a sociedade civil dos países de antigos alunos do Colóquio. deve ter um foco temático ou
origem destes mesmos ativistas. Assim, o nono Colóquio será um procedimental para cada ano,
momento essencial para a cria- entre outros.
- 25 -

EDUCAÇÃO: COMPARTILHANDO CONHECIMENTO NO SUL


O Programa de Direitos
Humanos conta com o
apoio do Open Society Programa de Direitos Humanos
Institute, da Open So-
ciety Justice Initiative para a África Lusófona
(OSJI), da Open Society
Initiative for Southern Desde 2004, a Conectas desenvolve um programa de intercâmbio, em
Africa (OSISA) e da parceria com a Open Society Justice Initiative (OSJI), Open Society Ini-
Open Society Initiati- tiative for Southern Africa (OSISA), Open Society Initiative for Western
ve for Western Africa Africa (OSIWA) e um grupo de ONGs africanas. Esse programa – o Pro-
grama de Direitos Humanos para a África Lusófona – tem por objetivo
(OSIWA)
fortalecer a sociedade civil organizada nos países da África que falam
português por meio da capacitação dos ativistas de direitos humanos
desses países.

De 2004 a 2007, ativistas de direitos humanos, quase todos de Angola


e Moçambique, foram selecionados e receberam apoio financeiro para
passar oito meses no Brasil, cursando aulas na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) e fazendo estágios em ONGs locais. No
retorno a seus países de origem, os participantes ainda tem mais um
ano de suporte do Programa para desenvolver o projeto social que
apresentaram quando de sua inscrição.

Edição de 2008

Na edição de 2008, com o apoio certamente enriqueceu o apren-


da OSIWA, foi possível ampliar o dizado. Por exemplo, Anastácio
alcance do Programa com a mes- Elias, de Moçambique, estagiou na
ma proposta dos anos anteriores. justiça estadual do Rio Grande do
Assim, além de dois intercambis- Sul, em Porto Alegre, onde teve a
tas de Moçambique e de dois oportunidade de aprender na prá-
de Angola, um participante de tica sobre os preceitos da Justiça
Guiné-Bissau também foi sele- Restaurativa , que pretende agora
cionado. Veja na página seguinte aplicar em sua terra natal.
um mini-currículo de cada um dos
participantes. E, para 2009, o programa abrange
uma área ainda maior: as inscri-
Vale destacar a fase de estágios ções foram abertas também para
dessa edição do Programa – os ativistas de direitos humanos
participantes tiveram a oportu- de Cabo Verde.
nidade de
adquirir co-
nhecimentos
em direitos
humanos
para além da
vivência aca-
dêmica, o que

O grupo de intercambistas e o
voluntário Alexandre Nápoli na PUC-SP
- 26 -

INTERCAMBISTAS 2008

Kitoko Mavolo é presidente fundador da ONG Kitomavo Comu-


nidades e ativista social. O principal objetivo de sua organização é
apoiar e dar assistência na proteção e promoção dos direitos huma-
nos. Durante sua estadia no Brasil, estagiou no Centro de Defesa da
Criança e do Adolescente (CEDECA) Interlagos. No retorno a Luanda,
no município de Kilamba Kiaxi, está desenvolvendo um projeto de
capacitação em direitos humanos para a cidadania.

Florita Telo trabalha na organização Centro Cultural Mosaiko


em Luanda e atua na capacitação jurídica de mulheres sobre seus
direitos. É graduanda em Direito na Universidade Agostinho Neto. No
Brasil, estagiou na Defensoria Pública do Estado de São Paulo e no
Escritório Modelo da PUC-SP. De volta a Luanda, pretende continuar
trabalhando com a capacitação de mulheres sobre os seus direitos.
Florita também está trabalhando na implementação de um projeto
de acompanhamento da política externa em direitos humanos de
Angola, monitorando em particular sua atuação no Conselho de
Direitos Humanos da ONU.

Maria de Lurdes trabalha no Centro de Prática Jurídica da Facul-


dade de Direito Eduardo Mondlane. Ela é graduanda em Direito na
mesma Universidade, trabalha com assistência jurídica à população
carente e atua contra violência e discriminação contra mulheres. Em
seu estágio no Brasil, conheceu o trabalho da Delegacia de Prote-
ção a Mulher/Casa Eliane de Grammont e do Geledés - Instituto da
Mulher Negra. Retornando a Moçambique, pretende atuar em um
projeto de Assistência Jurídica a crianças e na área de violência e
discriminação contra a mulher.

Anastácio Elias é graduado em Ciências Jurídicas pelo Instituto


Superior Politécnico e Universitário e atua na organização Solida-
riedade a Apoio ao Desenvolvimento da Zambézia, na província
de Quelimane. Com a experiência acadêmica e prática que obteve
no Brasil, em estágios nas justiças estaduais de São Paulo e do Rio
Grande do Sul, em São Caetano e Porto Alegre, pretende educar a
população da Zambézia e tentar reduzir algumas práticas criminais
baseado no código legal de Moçambique, além de trabalhar com a
implementação da Justiça Restaurativa no país.

Augusto Mário é advogado formado pela Faculdade de Direito de


Bissau e trabalha na Liga Guineense dos Direitos Humanos e Agên-
cia Noticiosa de Guiné. Ele atua na defesa e promoção dos direitos
humanos. No Brasil, estagiou junto ao Viva Rio e ao Centro Latino-
Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM). Ao retornar
a Bissau, pretende desenvolver seu projeto focado no debate da
sexualidade e dos direitos humanos, junto a instituições democráti-
cas, mais especificamente sobre o desencorajamento da prática da
mutilação genital feminina em Guiné-Bissau.
- 27 -

Desafios e Projetos para 2009

O maior desafio desse projeto é Além disso, os intercambistas de


fazer com que os vinte e cinco cada ano participam do Colóquio
ex-participantes do Programa Internacional de Direitos Huma-
mantenham contato e desenvol- nos, e desse modo são integra-
vam mais trabalhos em conjunto, dos à nossa rede de ativistas – a
consolidando uma rede de DiálogoDH – que hoje já conta
proteção aos direitos humanos com mais de 600 ativistas e acadê-
na África lusófona. Para tanto, a micos de 53 países de todo o Sul
Conectas se propõe a acompa- Global.
nhar mais diretamente a execu-
ção dos projetos dos intercam-
bistas depois de seu retorno ao
continente africano, fornecendo
contatos e apoio institucional
para os mesmos.

ENTREVISTA

Florita Telo, uma das participantes da edição 2008 do Programa, conta em


suas próprias palavras sobre a importância da experiência e quais as maiores
lembranças que levou consigo em seu retorno à Luana no final do ano.

Qual foi a importância que sua participação no Programa teve em sua


carreira ou em sua militância?
Proporcionou a possiblidade de troca de experiêncas, de contato com rea-
lidades muitas vezes distintas daquelas que estamos habituados a lidar e,
principalmente, uma forma diferenciada de ver e conceber as realidades no
que se refere a direitos humanos.

Quais suas principais lembranças do período no Brasil? Florita Telo, participante da


Primeiramente, as aulas na PUC-SP e, em seguida, o estágio da Defensoria edição de 2008 do Programa
Pública de São Paulo e o contato com a comunidade de uma favela chama-
da Boqueirão, na zona sul de São Paulo.

Como era o projeto que você apresentou quando da sua seleção? E como está sendo a sua execução?
Meu projeto era sobre educação em direitos humanos, com a formação de núcleos comunitários em três
províncias de Angola. A execução está a ser muito boa, apesar de alguns constrangimentos que não de-
pendem diretamente de mim nem da minha organização. Mas, até agora, está tudo a correr muito bem.

Por que você recomendaria a outras pessoas que também participem do programa?
Principalmente pelas realidades diferentes, as diferenças entre aquilo que vemos em nossos países e o que
é o Brasil. Além disso, pela troca de experiências e constante aprendizado no que se refere a direitos huma-
nos mediante a participação permanente em seminários e colóquios sobre o tema.
- 28 -

PESQUISA: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NO SUL


A Sur - Revista Internacional
de Direitos Humanos conta
Sur – Revista Internacional com o apoio da Fundação
Ford e da Fundo das Nações
de Direitos Humanos Unidas para a Democracia
(UNDEF)
A única publicação multilíngüe do gênero, a Revista Sur é publicada se-
mestralmente em português, inglês e espanhol e seu objetivo central é
promover um debate crítico sobre os desafios enfrentados pelos países
do Sul Global na promoção dos direitos humanos. A Revista combina
artigos teóricos com outros que abordam os aspectos práticos do tra-
balho com direitos humanos. Tem uma tiragem de 2.700 exemplares e
é distribuída gratuitamente em mais de 100 países. Sua versão eletrô-
nica também está disponível na íntegra na Internet em www.revistasur.
org. A Revista tem um Conselho Editorial independente, composto por
membros da Rede Sur.

Publicações

Duas edições da Sur – Revista Internacio-


nal de Direitos Humanos foram produzidas
em 2008 (veja lista de artigos nas boxes ao
lado): em julho, a edição número oito, com
o tema Propriedade Intelectual e Aces-
REVISTA SUR – N.8
so a Medicamentos, foi publicada em
LISTA DE ARTIGOS
parceria com a ABIA (Associação Brasileira
Interdisciplinar de AIDS); em dezembro foi
editada a nona edição, feita em parceria
Direitos humanos para todos: Direito à Saúde e
com o International Service for Human
da luta contra o autoritarismo à Acesso
Rights (ISHR), sobre o 60º Aniversário da construção de uma democracia à Medicamentos
Declaração Universal de Direitos Huma- inclusiva - um olhar a partir da Acesso a medicamentos como
nos. Região Andina e do Cone Sul um direito humano
Martín Abregú Paul Hunt e Rajat Khosla
Para a oitava edição, foram recebidos arti-
gos de autores de diversas regiões, dentre Construindo um novo léxico dos Medicamentos para o mundo:
os quais acadêmicos prestigiados e espe- direitos humanos: Convenção incentivando a inovação sem
cialistas. A seleção final refletiu os diversos sobre os Direitos das Pessoas obstruir o acesso livre
aspectos do debate, inclusive a discussão com Deficiências Thomas Pogge
Amita Dhanda
sobre políticas públicas de acesso a me-
Acesso a tratamento para
dicamentos, o papel da sociedade civil e Reconhecimento jurídico dos pessoas vivendo com HIV/AIDS:
até do Poder Judiciário. direitos sexuais - uma análise êxitos sem vitória no Chile
comparativa com os direitos Jorge Contesse e Domingo
Para o número nove, além de artigos reprodutivos Lovera Parmo
sobre a Declaração Universal de Direi- Laura Davis Mattar
tos Humanos, foram selecionados artigos Acesso a medicamentos e
sobre temas gerais de direitos humanos, O papel da litigância para a propriedade intelectual no
e a equipe da Revista entrevistou An- justiça social no Sistema Intera- Brasil: reflexões e estratégias da
thony Romero, Diretor da American Civil mericano sociedade civil
James L. Cavallaro e Stephanie Gabriela Costa Chaves, Marce-
Liberties Union (ACLU) sobre sua visão do
Erin Brewer la Fogaça Vieira e Renata Reis
movimento de direitos humanos.
- 29 -

Certificação e reconhecimento internacional

Além das atividades ligadas à sua No decorrer do ano, a Partners in


REVISTA SUR – N.9 publicação, a Sur ainda obteve em Development, no Egito, demons-
LISTA DE 2008 uma série de certificações trou interesse em produzir uma
ARTIGOS acadêmicas internacionais de edição em árabe da Revista.
grande importância. Essas certi- Essa organização, fundada por um
ficações confirmam a qualidade membro do Conselho Editorial da
acadêmica da Revista Sur e contri- Sur, Mustapha Al Sayed, planeja
Perpetrando o bem: as conse- buem para aumentar o interesse produzir uma edição anual em
quências não desejadas da defesa
dos autores de diversas partes árabe, com a tradução de arti-
dos direitos humanos
Barbora Bukovská do mundo em contribuir com a gos previamente publicados na
publicação. Revista e alguns artigos originais
Prisões na África: uma avalia- produzidos por autores regionais.
ção da perspectiva dos direitos Assim, em 2008, a Sur conseguiu O lançamento está previsto ainda
humanos a certificação do IBSS – Interna- para 2009.
Jeremy Sarkin tional Bibliography of the Social
Sciences, da London School of E, também para 2009, há a pre-
Sobre o intraduzível: sofrimento Economics and Political Science visão de uma edição em chinês
humano, a linguagem de direitos (http://www.Ise.ac.uk/collecions/ da Revista. Wanhong Zhang, um
humanos e a Comissão de Ver-
IBSS). dos participantes do VIII Colóquio,
dade e Reconciliação da África
do Sul é Professor de Jurisprudência na
Rebecca Saunders Além disso, depois de um longo Wuhan University Law School e
processo, a Sur foi incorporada é Diretor do Wuhan University
Sessenta anos da Declaração ao Scientific Electronic Library Public Interest and Development
Universal de Direitos Humanos Online (SCIELO, www.scielo.br), o Law Institute, na China. Depois
Os sessenta anos da Declaração que aumenta significativamente o de negociações realizadas du-
Universal: atravessando um mar acesso à Revista por acadêmicos rante o Colóquio, o professor já
de contradições no Brasil, pois este é um dos prin- organizou uma equipe editorial e
Paulo Sérgio Pinheiro cipais meios de pesquisa científica propôs que a edição chinesa siga
no país. os mesmos moldes da árabe, com
Pobreza e direitos humanos:
da mera retórica às obrigações uma tiragem inicial de mil cópias.
jurídicas - um estudo crítico sobre A previsão de lançamento é para
diferentes modelos conceituais final de 2009.
Fernanda Doz Costa

Novos limites para a luta pelos


direitos econômicos e sociais?
Dados quantitativos como
instrumento para a responsabi-
lização por violações de direitos
humanos SELEÇÃO DE ARTIGOS
Eitan Felner
Os artigos escolhidos para cada edição da Revista
Da Comissão ao Conselho: a passam por um processo criterioso de seleção. Depois
Organização das Nações Uni- de uma primeira revisão dos editores, os artigos são ava-
das conseguiu ou não criar um liados às cegas por dois membros do Conselho Editorial
organismo de direitos humanos ou por dois especialistas convidados a emitir pareceres
confiável? (peer and blind review).
Katherine Short

Entrevista com Anthony Romero,


Diretor Executivo da American
Civil Liberties Union (ACLU)
- 30 -

Desafios e Projetos para 2009

Nos primeiros anos, os esforços Mas os desafios continuam. A Sur


dos editores foram no sentido de hoje conta com bastante reconhe-
garantir a qualidade editorial cimento internacional e os esfor-
e a diversidades de autores, ços de divulgação empreendidos
principalmente do Sul Global. aumentaram muito o número
A avaliação externa realizada de assinantes (no fechamento
em 2007 comprovou que esses deste relatório, a Revista contava
objetivos estão sendo atingidos, com 1970 assinantes, de 101 paí-
ao apontar que 66% dos leitores ses) e os custos de distribuição.
consideram a revista excelente
e 34% a consideram boa. Por isso, os esforços agora se
concentram em duas atividades: a
Com base nesse reconhecimen- busca de parceiros, que possam
to, o foco para 2008 foi outro: a dividir os custos de produção e
distribuição. Esse objetivo final distribuição, e assim facilitar o
levou à busca pela certificação atendimento a essa demanda
internacional e pela inclusão crescente; e investir no aprimo-
da Revista em bancos de dados ramento da versão online da
acadêmicos e comerciais, além Revista, que torna seu conteúdo
de outras ferramentas de busca. disponível para qualquer pessoa
que tenha acesso à Internet e visi-
Além disso, foram feitos contatos te o site www.revistasur.org.
com diversas publicações simila-
res, em busca de novas parcerias.
Com isso, a Sur foi indexada por
muitas bibliotecas de prestígio,
como a Biblioteca Britânica e a
Biblioteca do Congresso dos Esta-
dos Unidos.

Esse esforço de divulgação se


refletiu nos resultados. O call for
papers para a décima edição da
Revista, que será publicada em CONSELHO EDITORIAL - REVISTA SUR
julho de 2009 em parceria com
o Alto Comissariado das Nações aChristof Heyns, Universidade de Pretória, África do Sul
Unidas para os Refugiados (AC- aEmílio Garcia Méndez, Universidade de Buenos Aires,
NUR), sobre o tema Direitos Hu- Argentina
manos das Pessoas em Movimen- aFifi Benaboud, Centro Norte-Sul do Conselho da União
to, recebeu mais de 80 artigos. Européia, Portugal
aFiona MacAulay, Universidade de Bradford, Reino Unido
aFlavia Piovesan, Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, Brasil
aJ. Paul Martin, Universidade de Columbia, Estados Unidos
aKwame Karikari, Universidade de Gana, Gana
aMustapha Kamel Al-Sayyed, Universidade do Cairo, Egito
aRichard Pierre Claude, Universidade de Maryland, Estados
Unidos
aRoberto Garretón, ex-funcionário do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Chile
aUpendra Baxi, Universidade de Warwick, Reino Unido
- 31 -

PESQUISA: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NO SUL


O IBSA Cortes con-
ta com o apoio da
Fundação Ford IBSA Cortes – Justiciabilidade
dos Direitos Humanos
O projeto “Justiciabilidade dos Direitos Humanos - uma análise
TEMAS
comparativa: África do Sul, Brasil e Índia”, também chamado de
aAtivismo Constitucional IBSA Cortes, baseia-se nas similaridades entre a situação desses países,
aDignidade humana; principalmente na área de direitos humanos. O objetivo desse estudo é
aCidadania; debater o papel das cortes constitucionais de África do Sul, Brasil e
aDireito ao Reconhecimento: Gê- Índia na proteção dos direitos humanos e ainda analisar a atuação e as
nero, Minorias Sexuais e Religião; principais estratégias da sociedade civil quanto à proposição de casos
aDireito à Redistribuição: Ações junto a esses tribunais.
afirmativas, Subsistência, Saúde,
aTerra e Povos Indígenas; A equipe de pesquisa é composta por pesquisadores e acadêmicos dos
aDireitos Humanos além do
três países, coordenados por três renomados professores: na África do
Estado;
Sul, o Prof. Frans Viljoen; no Brasil, o Prof. Oscar Vilhena Vieira; e na Índia,
aGarantias do Sistema Internacio-
nal de Direitos Humanos; o Prof. Upendra Baxi.
aMovimentos Sociais e Cortes
Constitucionais; Ao final da pesquisa, o Projeto IBSA Cortes ainda produzirá uma publi-
aPerspectiva Judicial. cação, que reunirá esse debate e a análise comparativa entre as deci-
sões estratégicas e sentenças de cada um desses tribunais. Tal pesquisa
PESQUISADORES representa um esforço único por produzir uma análise comparativa, na
qual as equipes de pesquisadores dos três países trabalham de forma
BRASIL: Conrado Hubner, Flavia integrada sobre cada um dos temas, em vez de manter a divisão geo-
Scabin, Juana Kweitel, Octavio gráfica comum em pesquisas deste tipo.
Ferraz, Oscar Vilhena Vieira, Thiago
Acca e Thiago Amparo;
INDIA: Amita Dhanda, Ghanshyam
Singh, Ranbir Singh, Shylashri Conclusão do projeto
Shankar, Sudhir Krishnaswamy e
Upendra Baxi; A primeira parte desse estudo, Ainda em abril de 2008, a equipe
AFRICA DO SUL: Danie Brand, desenvolvida durante todo o ano se reuniu pela segunda vez , em
David Bilchitz, Frans Vilijoen, de 2007, foi dedicada à produção Nova Delhi, na Índia, para dis-
Henk Botha, Jaco Barnard, Mmatsi de artigos acadêmicos e à escolha cutir as bases metodológicas da
Mooki,Owen Mhango, Pierre de
e análise da jurisprudência desses pesquisa e definir os parâmetros
Vos, Sammy Adelman, Theunis
Roux, Tshepo Madlingozi, Vinodh tribunais, para identificar os casos de comparação do estudo.
Jaichand, Wessel Le Roux e Zac paradigmáticos relacionados
Yacoob. a alguns dos temas de direitos Em dezembro, foi realizada nova
humanos. reunião da equipe, agora em
Pretoria, na África do Sul, para
Parte da equipe de pesquisadores em
encontro em Pretoria
Já em 2008, depois da seleção, apresentação da primeira versão
a equipe do projeto no Brasil dos estudos finais. Assim, a reu-
compilou e traduziu os casos, nião foi um amplo foro de debates
na medida em que o inglês foi sobre o conteúdo da pesquisa e
escolhido como língua oficial da sobre a produção do livro, cujo
publicação. Foram selecionados lançamento está previsto para
10 casos brasileiros, 14 indianos e 2009.
13 sul-africanos (veja a íntegra dos
casos em http://www.conectas.
org/IBSA/ibsa.htm).
- 32 -

ADVOCACY: DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS NO SUL


O Projeto Política Externa e
Direitos Humanos conta com
Política Externa E o apoio da Fundação Ford,
Fundação Oak e do Open
Direitos Humanos Society Institute e a colabo-
Promover a prevalência dos direitos humanos nas políticas externas de ração da Fundação Friedrich
países do Sul Global, por meio da participação cidadã e controle demo- Ebert (FES) e do Democracy
crático dessas políticas. Esse é o objetivo do projeto Política Externa e Coalition Project (DCP)
Direitos Humanos, desenvolvido pela Conectas desde 2005.

Com esse propósito, o projeto busca:


a incentivar a participação das ONGs da África, Ásia e América Latina
na elaboração, execução e monitoramento da política externa de seus O BRASIL NA REVISÃO PE-
países com impacto nos direitos humanos; RIÓDICA UNIVERSAL (RPU)
DA ONU: PARTICIPAÇÃO DA
apromover iniciativas e campanhas trans-regionais, especialmente CONECTAS
em países onde a sociedade civil é ameaçada ou impossibilitada de
agir; e Em 2008, Conectas engajou-se na
a fortalecer a participação e ação conjunta dessas organizações passagem do Brasil pela RPU por
junto aos sistemas regionais e internacional de direitos humanos, com meio de:
ênfase no Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH). aIncentivo e participação no
processo de consulta nacional
para a elaboração do relatório ofi-
Vozes do Sul no Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH) cial do Estado Brasileiro, incluin-
do audiência realizada no Senado
Participação na Revisão Periódica Universal Federal;
aEnvio de informações ao Alto
Em 2008, 48 Estados foram durante todo o ano, especialmen- Comissariado da ONU para os
submetidos à primeira rodada te da Índia, Filipinas, Argentina, Direitos Humanos, com ênfase
do novo mecanismo de Revisão Guatemala, Peru e Colômbia. em tortura, execuções sumárias e
Periódica Universal (RPU) do Às vésperas do VIII Colóquio acesso à justiça no Brasil;
CDH. A RPU determina que todos Internacional de Direitos Huma- aAção junto a delegações
os Estados-membros da ONU nos, foi realizado o II Encontro em Genebra com o objetivo
Estratégico sobre a Participação de influenciar nas perguntas e
passarão, a cada quatro anos,
recomendações a serem feitas ao
por uma revisão que visa avaliar da Sociedade Civil no Conselho
Brasil;
o cumprimento das obrigações de Direitos Humanos da ONU,
aParticipação, em Genebra, na
e compromissos internacionais com a presença de representantes sessão em que o Brasil apresen-
assumidos em matéria de direitos de ONGs, instituições nacionais tou seu relatório e pronuncia-
humanos. de direitos humanos e universida- mento oral durante a sessão de
des de 12 países. Os objetivos do adoção das 15 recomendações
O Brasil esteve entre os primei- encontro, feito em parceria com o endereçadas ao país;
ros países avaliados e Conectas International Service for Human aTradução e disseminação
participou ativamente de todo Rights (ISHR), foram promover a dessas recomendações, a serem
troca de experiências e capacitar implementadas pelo Brasil nos
o processo de revisão (veja as
próximos quatro anos.
atividades desenvolvidas no box ao organizações da sociedade civil
lado). para trabalharem com a RPU e
Conectas acredita que a RPU
definir ações conjuntas e estraté- deve ser um processo perma-
Além de participar do processo gias para trabalhar com o CDH da nente em nível nacional e, assim,
brasileiro, Conectas comparti- ONU. pretende trabalhar entre 2009
lhou informações e deu suporte e 2012 no monitoramento das
a ONGs de outros países do Sul Com base nos debates ocorridos recomendações a serem imple-
Global que passaram pela RPU durante o encontro, foi elabo- mentadas pelo Brasil.
- 33 -

rado o “Passo-a-Passo Estimulados pelo encontro no


“Da República Dominicana,
para a Participação da Brasil, participantes de Angola,
envio meu agradecimento pela
oportunidade de aprender
Sociedade Civil na RPU” China, Rep. Dominicana, Zâmbia
sobre o mecanismo de Revisão – documento que tem e Quênia realizaram ou realizarão
Periódica Universal e assim por objetivo auxiliar a atividades relacionadas à RPU em
servir como multiplicador de sociedade civil a engajar- seus países em 2009.
conhecimentos em meu país, se nesse processo.
e também pela ferramenta
Passo-a-Passo” Sessões do CDH e interação com os Mecanismos Especiais
(Christian Manuel Jiménez - Fundación Co-
munidad Esperanza y Justicia Internacional Além de sua atuação jun- mecanismos especiais da ONU,
– Rep. Dominicana) to à RPU, Conectas esteve como:
presente nas 7ª e 8ª ses- a Disseminação na mídia e
“Minha presença, tanto no sões regulares do CDH para organizações da sociedade
Colóquio Internacional de em Genebra. Por meio
Direitos Humanos como no civil das recomendações feitas
de seu status consultivo ao Brasil pelo Relator para Exe-
Encontro Estratégico, ampliou
junto ao ECOSOC, Conec- cuções Sumárias, Arbitrárias e
horizontes, meus e da minha
organização. Desde que eu tas mobilizou esforços Extrajudiciais, Philip Alston; e
deixei o Brasil venho traba- durante as sessões para
influenciar: na renovação
aCampanha para escolha de
lhado em uma iniciativa que relatores especiais temáticos
ajuda as organizações da sociedade civil do de mandatos de relatores
com indicações de nomes para
sul da África a trabalhar com o Conselho de especiais; no tratamento
Direitos Humanos da ONU e a Revisão Perió- as relatorias de direito dos indí-
pelo CDH da situação
dica Universal (RPU)” genas, dívida externa e direitos
dos direitos humanos
(Mary Mutupa, AWOMI – Zâmbia) humanos, detenções arbitrárias,
em países específicos,
direito à saúde (em parceria
especialmente em Burma
com ABIA – Associação Brasileira
(Mianmar), Zimbábue e Sudão; e
Interdisciplinar de AIDS) e desa-
na garantia e definição de modali-
parições forçadas. Para os dois
dades para participação das ONGs
últimos, foram escolhidos os
nos trabalhos do Conselho.
candidatos sugeridos e apoia-
dos pela Conectas – Anand
Vale ressaltar que, desde 2006,
Grover e Jeremy Sarkin.
Conectas é parte da HRCNet -
rede de organizações regionais
Por fim, Conectas está elaborando
e internacionais que trabalham
a edição 2008 do Anuário “Direi-
junto ao CDH.
tos Humanos: o Brasil na ONU” –
publicação que compila e analisa
Em 2008, Conectas também
os votos brasileiros nas instâncias
promoveu ações relacionadas aos
de direitos humanos da ONU.

Cooperação trans-regional

“Amigos do Zimbábue”

Desde junho de 2007, Conectas Em 2008, a campanha centrou


tem facilitado a campanha “Ami- esforços nas eleições presidenciais
gos do Zimbábue” (Friends of Zim- que ocorreram no país africano.
babwe) composta por sete ONGs Antes das eleições, foram en-
da América Latina e desenvolvida viadas cartas a alguns governos
em parceria com o Zimbabwe La- latino-americanos pedindo que
wyers for Human Rights (ZLHR). zelassem pela transparência do
- 34 -

processo eleitoral. No caso do Bra- cional de Direitos Humanos, foi


sil, foi estimulado, com sucesso, o aprovado um abaixo-assinado
envio de uma missão de observa- pedindo o restabelecimento
dores oficiais. do Estado de Direito no Zimbá-
bue. O documento foi enviado ao
Durante o primeiro turno, em governo do Zimbábue, à Comu-
março, Conectas apoiou a realiza- nidade para o Desenvolvimento
ção de uma missão de jornalis- da África Austral (SADC), à União
tas brasileiros para acompanhar Africana e aos integrantes do
o processo eleitoral no país. E Conselho de Direitos Humanos da
durante o VIII Colóquio Interna- ONU.

“Amigos da Birmânia”
Uma nova iniciativa começou política em Burma e sensibilizar
a dar seus primeiros passos e mobilizar a sociedade brasi-
também em 2008: a campanha leira para situação dos direitos
“Amigos da Birmânia” (Friends of humanos e repressão política
Burma), oficialmente chamada de no país. Para atingir tais
Mianmar. Em março, um repre- objetivos, foram realiza-
sentante da IBMO – International das reuniões com auto-
Burmese Monks Association, ridades governamentais,
fazendo uso do status consultivo parlamentares, intelectuais,
da Conectas junto à ONU, realizou movimentos sociais e sin-
um pronunciamento durante a 7ª. dicais, entidades religiosas e
Sessão do CDH, em Genebra. veículos de comunicação.

Em agosto, Conectas organizou a Foi, ainda, realizado um semi-


vinda de uma missão de monges nário com a presença de Paulo
birmaneses ao Brasil, integrantes Sergio Pinheiro, ex-Relator Espe- Manchetes dos principais
jornais brasileiros à época das
da IBMO, com apoio do Burma cial da ONU para Mianmar, e uma eleições presidenciais no Zimbábue - envio
de jornalistas ao país ajudou a ampliar cobertura
Project (OSI). Os objetivos da mis- exposição de fotos em local com que mídia nacional deu ao tema
são foram pressionar o governo circulação de 30mil pessoas por
brasileiro a reafirmar seu compro- dia. Ao final da missão foi acorda-
metimento e empreender esfor- do um plano de ação preliminar,
ços na ONU para a proteção dos buscando dar continuidade à
direitos humanos e fim da crise iniciativa.

Mecanismos inovadores de participação

Em muitos países do Sul Global, Conectas é uma das organiza-


a política externa é atribuição ções fundadoras do Comitê
do Poder Executivo, com pouca Brasileiro de Direitos Huma-
participação da sociedade civil e nos e Política Externa (www.
dos Poderes Legislativo e Judi- dhpoliticaexterna.org.br), coa-
ciário. A falta de transparência e lizão criada em 2006 que reúne
accountability dessa política são ONGs, comissões legislativas e
prejudiciais à prevalência dos entidades estatais com o intuito
direitos humanos e exigem a cria- de fortalecer a participação na
ção de mecanismos inovadores de política externa brasileira em
participação. temas relacionados aos direitos
humanos.
Missão de monges em visita ao Congresso Nacional, em Brasília
- 35 -

Em 2008, o Comitê desenvol- De 2006 a 2008, Conectas foi


ENTREVISTA veu atividades relacionadas Secretaria Executiva do Comitê e
ao posicionamento do Brasil hoje integra seu Conselho Gestor.
A coordenadora de Relações Internacio-
nais da Conectas, Lucia Nader, comenta em âmbitos de direitos hu- A iniciativa tem o apoio da Friede-
a evolução do projeto de Política Externa manos da ONU, da OEA e do richt Ebert Brasil.
e aponta seus destaques. Mercosul, como:
aRealização de audiên- Conectas acredita que iniciativas
Quais as principais lições apren- similares ao Comitê podem ser
cias públicas na Câmara
didas desde a criação do Projeto desenvolvidas em outros países
de Política Externa e Direitos dos Deputados para deba-
ter as prioridades do Brasil do Sul Global. Nesse intuito, em
Humanos no final de 2005?
nesses fóruns; 2008, foi realizada missão à África
Percebemos que três elementos
são fundamentais para promover a do Sul, para disseminação da
aParticipação ativa no experiência entre organizações
prevalência dos direitos humanos processo de consulta na-
nas políticas externas de países do da sociedade civil. Em 2009, em
cional para passagem do
Sul Global. O primeiro é que esse parceria a ONG Commonwealth
Brasil pelo mecanismo de
trabalho começa em casa e deve se Human Rights Initiative pretende-
dar de forma permanente. Temos Revisão Periódica Univer-
se fomentar a criação de coalizão
que desenvolver ações em nível sal do Conselho de Direitos
similar na Índia.
nacional junto aos formuladores Humanos da ONU;
e executores das políticas exter- aEnvolvimento no pro- Por fim, Conectas foi convidada
nas de nossos países que tenham cesso de elaboração do pela Secretaria Geral da Presidên-
impacto nos direitos humanos. O relatório anual de direitos
segundo elemento fundamental é a cia da República e pelo Ministério
humanos do Parlamento das Relações Exteriores do Brasil a
construção de redes de cooperação
horizontal, tanto com ONGs do Sul do Mercosul e na Cúpula integrar o Conselho do Mercosul
Global como com aquelas conheci- Social do Mercosul. Social e Participativo, que tem
das histo- aParticipação na XI por objetivo “promover a interlo-
ricamente Conferência Nacional de cução entre o Governo Federal e
como ONGs Direitos Humanos com o as organizações da sociedade civil
internacio- intuito de incluir a pers- sobre as políticas públicas para
nais. Seja nas o Mercosul” (decreto nº 6.594,
pectiva internacional no
campanhas
III Programa Nacional de 6/10/2008).
transregio-
nais ou no Direitos Humanos.
trabalho
relacionado à Desafios e Projetos para 2009
ONU, à OEA e
ao Mercosul,
Lucia Nader, coordena- O projeto de Política Externa (2) Sistematizar a experiência
essas redes
devem ser
dora do Projeto Política e Direitos Humanos busca ser adquirida nesses quatro anos de
Externa e Direitos Hu-
baseadas em manos inovador e desenvolve ativi- atuação, para que possa ser dis-
relações de dades para as quais não exis- seminada e replicada por outras
confiança, igualdade e interesse tem modelos prévios a serem organizações, adaptando-a a cada
mútuo. Só assim, e com muita replicados. Atualmente, país;
persistência, elas dão frutos. Final- seus principais desafios são: (3) Desenvolver formas de docu-
mente, é importante criar soluções (1) Fortalecer a atuação em mentar e denunciar concessões
inovadoras que sejam adequadas à âmbitos regionais de direitos feitas pelos países nos âmbitos de
nossa realidade e às de nossos par-
humanos, especialmente na direitos humanos, em benefício
ceiros e que nos permitam respon-
OEA, Mercosul e União Afri- de interesses comerciais e geopo-
der com agilidade às dificuldades e
desafios do Sul Global. cana, com iniciativas temáti- líticos e
cas a serem tratadas nesses (4) A sustentabilidade do projeto,
foros, tais como o direito à não apenas em relação a recursos,
informação e direitos sexuais mas à ampliação e ao fortaleci-
e reprodutivos; mento de parcerias com outras
ONGs.
- 36 -

área institucional
A autonomia das organizações da socie- O aprimoramento dessa área, para além
dade civil, necessária para suas principais da captação de recursos e do moni-
atividades e metas, só pode se dar quando toramento dos projetos, é fruto de um
há uma gestão estratégica, que busque a processo interno de reflexão, realizado
sustentabilidade e integre recursos, servi- ao longo dos anos e conduzido de forma
ços, pessoas e comunicação. participativa, envolvendo diretores e
coordenadores, com o apoio, inclusive,
Desde a sua criação em 2001, a Conectas de consultores externos. Nesse pro-
cresceu bastante, não apenas em termos cesso, merece destaque a ampliação e
dos projetos que desenvolve, mas também fortalecimento do Conselho Consultivo
em termos de equipe, estrutura e orça- da organização, no sentido de aumentar
mento. Para acompanhar essa expansão, sua participação na tomada das deci-
foi criada a área institucional, cujo objetivo sões institucionais da organização.
principal é fornecer o suporte necessário -
técnico, administrativo e financeiro - para
que os programas da Conectas possam ser
desenvolvidos em sua plenitude, concen-
trando os esforços nas atividades propos-
tas em si.
- 37 -

INSTITUCIONAL
A área institucional
da Conectas conta
com o apoio do Open área INSTITUCIONAL
Society Institute

A área institucional pode ser dividida em três frentes, cujas atividades


estão profundamente interligadas: Captação de recursos, Comunicação
e Planejamento, Avaliação e Administração.

Captação de recursos

A necessidade de buscar fontes tação junto ao setor empresarial


alternativas de financiamento e a brasileiro, mas ainda sem sucesso.
demanda crescente de recursos No entanto, Conectas recebeu
para os novos projetos desenvol- importantes contribuições não
vidos pela Conectas fazem com financeiras, sem as quais muitos
que a captação de recursos seja dos resultados de seus projetos
uma atividade essencial para a não teriam sido atingidos. As con-
organização. Desde o início, a tribuições em espécie incluem,
maioria dos financiamentos con- entre outros: o trabalho de quase
quistados pela Conectas é pro- 30 voluntários (estudantes uni-
veniente de fundações e fundos versitários) por ano; os estágios
internacionais. em ONGs parceiras e a capacita-
ção universitária na PUC-SP dos
Em 2008, os principais apoiadores intercambistas do Programa de
de Conectas continuaram sendo Direitos Humanos para a África
a Fundação Ford, a Fundação Oak, Lusófona; o espaço oferecido para
os vários escritórios regionais e te- a realização do Colóquio pela Fun-
máticos da Open Society Institute, dação Getúlio Vargas, bem como
o Fundo das Nações Unidas para as palestras não-remuneradas de
a Democracia (UNDEF), a União especialistas de todo o mundo
Européia, a Fundação Overbrook, durante o encontro e os autores e
a Fundação das Nações Unidas, o colaboradores não-remunerados
Better World Fund (UNF/BWF) e a da Revista Sur; além das centenas
Embaixada do Reino dos Países de horas de serviços pro bono ofe-
Baixos no Brasil. Em atividades recidos por membros da comuni-
pontuais, Conectas também dade jurídica às causas do Institu-
contou com o apoio das seguintes to Pro Bono. Tais doações foram
instituições: Embaixada da Alema- obtidas graças à credibilidade do
nha no Brasil, Oxfam, Fundação trabalho da Conectas e, quanto
Friedrich Ebert (FES), Democracy mais reconhecida a organização
Coalition Project (DCP), Ashoka, se torna, mais fácil se torna obter
Escola de Direito de São Paulo tais respostas para as demandas.
(FGV-SP) e Consulado Geral do Infelizmente, ainda não é possível
Canadá no Brasil. fazer a contabilidade dessas con-
tribuições em termos financeiros,
Novas investidas têm sido feitas mas esperamos fazê-lo em futuro
no sentido de desenvolver meca- próximo.
nismos e estratégias para a cap-
- 38 -

Vale ressaltar, ainda, que a orga- a sua independência. Para 2009 e


nização tem por política aceitar os anos seguintes, Conectas bus-
contribuições governamentais cará ampliar sempre suas fontes
apenas para atividades de pesqui- de recursos, tanto internacionais
sa e educação, a fim de preservar como domésticas.

Planejamento, Avaliação e Administração


Para responder à expansão da Em 2008, os principais projetos da
Conectas, à multiplicação dos Conectas foram avaliados interna-
seus projetos, assim como à mente e quando possível, junto
diversificação de suas fontes de com os beneficiários. E, em 2009,
financiamento, foi necessário está prevista uma avaliação mais
revisar alguns mecanismos. Assim, ampla de todos os projetos e da
em 2008, Conectas reorganizou organização, que será desenvol-
sua área administrativa com o vida com um facilitador externo,
apoio de uma consultoria externa. para diagnosticar os nichos de
Também desenvolveu um manual aprimoramento de seu trabalho e
de procedimento interno para as respostas que podem ser dadas
facilitar o acompanhamento e aos desafios que apresenta uma
monitoramento dos projetos. conjuntura sempre em evolução.

Além da reavaliação de sua es- Este processo auxiliará


trutura, a organização ainda teve no planejamento, sinali-
que reformular algumas das suas zando os melhoramen-
necessidades e seu planejamento tos e investimentos ne-
para enfrentar o cenário de crise cessários, a definição de
internacional. Em dezembro de horizontes institucionais
2008, foram tomadas, em consen- e rumos estratégicos de
so e com a colaboração de todas maior prazo. O que está
as equipes, uma série de medidas sendo amadurecido é
visando a redução das despesas um plano que traduza
fixas como, por exemplo, a deci- uma visão cada vez mais
são de mudar de sede para uma aprimorada de seu papel
região da cidade de São Paulo e impacto.
com aluguel mais econômico e o
congelamento dos salários.
- 39 -

Comunicação

Divulgar informações sobre a site do Instituto Pro Bono (www.


atuação e os resultados obtidos probono.org.br), o STF em Foco
pelos projetos da Conectas para (www.stfemfoco.org.br) e site do
redes de parceiros, autoridades Projeto Direito à Saúde da Mulher
governamentais, colaboradores, Negra (www.saudemulhernegra.
voluntários e financiadores é uma org.br), os dois últimos lançados
das principais atividades da área pela Conectas em 2008.
de comunicação, que busca não
apenas ser um instrumento para Por meio de atividades de asses-
a sua consolidação institucional, soria de imprensa, a Conectas
mas também auxiliar na troca de esteve em constante contato em
informações e conteúdo funda- 2008 com os principais meios de
mentais para o trabalho em rede comunicação, rádio, TV e impren-
previsto em quase todos os seus sa escrita e online, que deram
projetos. espaço às atividades da Conectas.

As atividades de comunicação
foram muito intensas em 2008:
• a Newsletter mensal trilíngue
(português, espanhol e inglês)
sobre as atividades Conec-
tas teve 9 edições em
2008 e foi distribuída
a mais de 3 mil
assinantes;
• o boletim
quinzenal Conec-
taSur, uma iniciativa
dos ex-participantes do
Colóquio Internacional de
Direitos Humanos e do Encon-
tro Estratégico e facilitado pela
Conectas, teve edições regulares
durante todo o ano;
• a Conectas gerencia sete
websites que requerem, além de
atualização periódica e manuten-
ção, esforços para a tradução do
conteúdo, uma vez que a maioria
deles está em três línguas – por- Os membros de sua equipe apa-
tuguês, inglês e espanhol. São receram regularmente na mídia
eles a Revista Sur online (www. brasileira, por meio de entrevistas
surjournal.org), Conectas (www. ou declarações. Os jornais, pro-
conectas.org), ConectaSur (www. gramas televisivos e de rádio são
conectasur.org) e Comitê Brasilei- meios muito importantes para
ro de Política Externa e Direitos que a Conectas divulgue o seu
Humanos (www.dhpoliticaexter- trabalho.
na.org.br); e, só em português, o
- 40 -

Desafios e projetos para 2009

O ano de 2009 deve ser um dos Igualmente, a Conectas precisa


mais desafiadores para a área investir em sua estrutura adminis-
institucional da Conectas. Em trativa. Hoje, ela é composta por
termos de captação de recur- três colaboradores, com o apoio
sos, por exemplo, um dos seus de uma empresa externa de con-
maiores objetivos é assegurar a tabilidade, além da contratação
sustentabilidade financeira da or- de uma empresa internacional de
ganização em um cenário de crise auditoria. A equipe responde pelo
econômica mundial. O processo controle de todas as atividades
da ampla avaliação da organiza- financeiras e administrativas da
ção e o planejamento do desen- organização. Assim, pretende-se
volvimento dos seus projetos no melhorar o sistema de controle
decorrer do ano indicam que este interno, buscando soluções para
é um momento decisivo para que uma gestão integrada.
a organização possa refletir sobre
visão institucional, capacidade de Para completar, no primeiro
gestão, parcerias estratégicas e trimestre de 2009 a Conectas
fontes de financiamento. mudou a localização de seu escri-
tório, transferindo suas atividades
Já a área de comunicação ainda cotidianas para uma área mais
precisa ser reforçada para que central da cidade de São Paulo,
consiga dar mais visibilidade às o que facilitará o contato com os
atividades e resultados da Conec- outros parceiros da organização,
tas. Um componente essencial sejam eles do terceiro setor, en-
dessa estratégia é o aprimora- tidades públicas ou empresas. O
mento do site institucional da escritório encontrava-se em duas
organização – www.conectas.org - pequenas casas, em uma área
e do portal – www.conectasur.org comercial, cujos custos de ma-
-, ferramentas que visam facilitar nutenção e aluguel aumentaram
a divulgação de informações, a consideravelmente nos últimos
interação e o trabalho de advo- anos. Além de mais econômico, a
cacy com organizações parceiras. mudança para um espaço maior e
Além disso, é necessário atualizar mais funcional facilita a comuni-
os materiais institucionais, como cação interna e a interação entre
folhetos e publicações. os colaboradores.
- 41 -

RELATÓRIO FINANCEIRO
Conectas Direitos Humanos é composta por duas pessoas jurídicas, registradas como
Associação Direitos Humanos em Rede e Sur – Rede Universitária de Direitos Huma-
nos. Os relatórios abaixo se referem à cada uma das entidades.

ASSOCIAÇÃO DIREITOS HUMANOS EM REDE

Quadro I - Balanço patrimonial em 31 de dezembro em milhares de Reais)

ATIVO 2008 2007 PASSIVO 2008 2007


CIRCULANTE CIRCULANTE
Disponibilidades 26 53 Contas a pagar 3 3
Aplicações financeiras 367 383 Obrigações sociais 12 23
Outras contas a receber 9 21 Obrigações tributárias 7 12
403 458 Adiantamentos diversos 74 64
98 103

NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE

Patrimônio Social
Permanente Patrimônio social 394 242
Imobilizado 39 57 Superávit (Déficit) do exercício (49) 169
345 412
TOTAL DO ATIVO 443 515 TOTAL DO PASSIVO 443 515

Quadro II- Demonstração do superávit/déficit Quadro III- Demonstração das mutações do patri-
dos exercícios findos em 31 de dezembro (em mônio social (em milhares de Reais)
milhares de Reais)
2008 2007 patrimônio Superávit Total
social acumulado
Em 31 de dezembro de 2006 321 (79) 242
RECEITAS
(não auditado)
Doações nacionais 61 518
Transferência para patrimô- (79) 79
Doações do exterior 2.159 1.499 nio social
Receitas das doações 2.221 2.018 Superávit do exercício 169 170
DESPESAS Em 31 de dezembro de 2007 242 169 412
Gastos com os projetos (1.958) (1.656) Transferência para patrimô- 169 (169)
Despesas com pessoal (328) (226) nio social
Despesas financeiras (6) (14) Ajuste do ano anterior (17) (17)
Despesas tributárias (24) (11) Déficit do exercício (49) (49)
Receitas financeiras 47 60 394 (49) 345
Em 31 de dezembro de 2008
DESPESAS DAS ATIVIDADES (2.270) (1.848)
SuperÁvit (DÉficit) do (49) 169
exercício
- 42 -

Quadro IV - Demonstração dos fluxos de caixa do PARECER DOS AUDITORES


período findo em 31 de dezembro (em milhares INDEPENDENTES
de Reais) 2008
fluxo de caixa das atividades operacionais Aos Conselheiros e Administradores
Déficit do período (49) Associação dos Direitos Humanos em Rede

Ajustes por 1. Examinamos o balanço patrimonial da


- Depreciação 22 Associação dos Direitos Humanos em
Rede, levantado em 31 de dezembro de 2008,
- Ajuste do exercício anterior (17) e a respectiva demonstração de
(44) déficit do exercício, das mutações do
patrimônio social e do fluxo de caixa,
VARIAÇÃO NOS ATIVOS E PASSIVOS correspondente ao exercício findo naquela
Outras contas a receber 11 data, elaborados sob a
responsabilidade de sua administração. Nossa
Contas a pagar 0,5 responsabilidade é expressar
Obrigações sociais (10) uma opinião sobre essas demonstrações
contábeis.
Obrigações tributárias (4)
Adiantamentos diversos 9 2. Nossos exames foram conduzidos de acordo
com as Normas Brasileiras de
Caixa líquido proveniente das atividades operacionais (38) Auditoria e compreenderam: (a) o
FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTO planejamento dos trabalhos, considerando a
relevância dos saldos, o volume de transações
Compra de ativo imobilizado (5) e o sistema contábil e de
Caixa líquido usado nas atividades de investimentos (5) controles internos da entidade; (b) a
constatação, com base em testes, das
AUMENTO LÍQUIDO DE CAIXA E EQUIVALENTE DE CAIXA (43) evidências e dos registros que suportam os
valores e as informações contábeis
demonstração do aumento do caixa e equivalente do caixa divulgadas; e (c) a avaliação das práticas e das
Caixa e equivalente de caixa no início do período 437 estimativas contábeis mais
representativas adotadas pela administração
Caixa e equivalente de caixa no fim do período 393 da entidade, bem como da
apresentação das demonstrações contábeis
(43) tomadas em conjunto.
Quadro V- Demonstração das origens e
aplicações de recursos dos exercícios findos 3. Em nossa opinião, as demonstrações
contábeis acima referidas representam
em 31 de dezembro (em milhares de Reais) 2007 adequadamente, em todos os aspectos
ORIGENS DE RECURSOS relevantes, a posição patrimonial e
financeira da Associação dos Direitos Humanos
Das operações: em Rede em 31 de dezembro
Superávit do exercício 182 de 2008, o déficit de suas operações, as
mutações de seu patrimônio social e o
Total das origens 182 fluxo de caixa referente ao exercício findo
APLICAÇÕES DE RECURSOS naquela data, de acordo com as
praticas contábeis adotadas no Brasil.
Déficit do exercício
Aquisição de imobilizado 23 4. Anteriormente, auditamos as demonstrações
contábeis referentes ao exercício
Total das aplicações 23 findo em 31 de dezembro de 2007,
AUMENTO (REDUÇÃO) DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 159 compreendendo o balanço patrimonial, a
demonstração do superávit do exercício, das
DEMONSTRAÇÃO DA VARIAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO DO EXERCÍCIO mutações do patrimônio social e as
Ativo circulante: origens e aplicações de recursos daquele
exercício, sobre as quais emitimos
- No final do exercício 458 parecer sem ressalva, datado de 14 de abril de
- No início do exercício 312 2008. Conforme mencionado na
nota explicativa no. 2 , as práticas contábeis
145 adotadas no Brasil foram alteradas
a partir de 1º. de janeiro de 2008.
Passivo circulante:
- No final do exercício 103
- No início do exercício 116 São Paulo, 13 de março de 2009.

13
BAKER TILLY BRASIL
AUMENTO (REDUÇÃO) DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 159
AUDITORES INDEPENDENTES S/S
Superávit (Déficit) do exercício 170 CRC-2SP016754/O-1
Depreciação 12
Resultado do período ajustado 182
- 43 -

SUR – Rede Universitária de Direitos Humanos


Quadro I - Balanço patrimonial em 31 de dezembro
(em milhares de Reais)

Ativos 2008 2007 PASSIVOS 2008 2007


circulante circulante
Disponibilidades 20 9 Contas a pagar 12
Aplicações financeiras 362 181 Obrigações socias 4 2
Outras contas a receber 28 6 Obrigações tributárias 4 4
410 196 Credores diversos 5 5
13 23
NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE

Patrimônio social
Permanente Patrimônio social 176 137
Superávit (Déficit) do exercício 223 39
Imobilizado 2 4 399 176
Total do Ativo 412 200 Total do Passivo 412 200

Quadro II- Demonstração do superávit/déficit dos exercícios


findos em 31 de dezembro (em milhares de Reais)
2007 2008

RECEITAS
Doações nacionais 125
Doações do exterior 823 674
Receitas das doações 823 799
DESPESAS
Gastos com os Projetos (587) (760)
Despesas com Pessoal (12) (6)
Despesas Tributárias (8) (2)
Resultado financeiro 7 8
DESPESAS DAS ATIVIDADES (600) (760)
Superávit (DÉficit) do exercício 223 39

Quadro III- Demonstração das mutações do patrimônio


social (em milhares de Reais)
patrimônio Superávit Total
social acumulado
Em 31 de dezembro de 2006 (não auditado) 176 (39) 137
Déficit do exercício (39) 39
Superávit do exercicio 39 39
Em 31 de dezembro de 2007 137 39 176
Transferência para patrimônio social 39 (39)
Superávit do exercicio 223 223
Em 31 de dezembro de 2008 176 223 399
- 44 -

Quadro IV- Demonstração das origens e aplicações de PARECER DOS AUDITORES


recursos dos exercícios findos em 31 de dezembro INDEPENDENTES
(em milhares de Reais)
Aos Conselheiros e Administradores
2008
SUR – Rede Universitária de Direitos
fluxo de caixa das atividades operacionais Humanos
Superávit do período 223
Ajustes por 1. Examinamos o balanço patrimonial da
- Depreciação 2 Sur – Rede Universitária de Direitos Humanos,
levantado em 31 de dezembro de 2008, e a
225
respectiva demonstração de superávit, das
VARIAÇÃO NOS ATIVOS E PASSIVOS mutações do patrimônio social e do fluxo de
Outras contas a receber (22) caixa, correspondente ao exercício findo naquela
Contas a pagar (13) data, elaborados sob a responsabilidade de
Obrigações sociais 2 sua administração. Nossa responsabilidade
é expressar uma opinião sobre essas
Caixa líquido proveniente das atividades operacionais 192
demonstrações contábeis.
AUMENTO LÍQUIDO DE CAIXA E EQUIVALENTE DE CAIXA 192 2. Nossos exames foram conduzidos de acordo
demonstração do aumento do caixa e equivalente do caixa com as Normas Brasileiras de Auditoria e
compreenderam: (a) o planejamento dos
Caixa e equivalente de caixa no início do período 190
trabalhos, considerando a relevância dos saldos,
Caixa e equivalente de caixa no fim do período 382 o volume de transações e o sistema contábil
192 e de controles internos da entidade; (b) a
constatação, com base em testes, das evidências
e dos registros que suportam os valores e
as informações contábeis divulgadas; e (c) a
avaliação das práticas e das estimativas contábeis
mais representativas adotadas pela administração
da entidade, bem como da apresentação das
Quadro V- Demonstração das origens e aplicações de
demonstrações contábeis tomadas em conjunto.
recursos dos exercícios findos em 31 de dezembro
3. Em nossa opinião, as demonstrações contábeis
(em milhares de Reais)
acima referidas representam adequadamente,
em todos os aspectos relevantes, a posição
2007
patrimonial e financeira da Sur – Rede
ORIGENS DE RECURSOS Universitária de Direitos Humanos em 31 de
Das operações: dezembro de 2008, o superávit de suas operações,
Superávit do exercício 39 as mutações de seu patrimônio social e o fluxo de
- Depreciação 3 caixa referentes ao exercício findo naquela data,
de acordo com as praticas contábeis adotadas no
Total das origens 42
Brasil.
AUMENTO (REDUÇÃO) DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 42 4. Anteriormente, auditamos as demonstrações
contábeis referentes ao exercício findo em 31 de
DEMONSTRAÇÃO DA VARIAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO DO dezembro de 2007, compreendendo o balanço
EXERCÍCIO patrimonial, a demonstração do superávit do
Ativo circulante exercício, das mutações do patrimônio social
e as origens e aplicações de recursos daquele
- No final do exercício 196
exercício, sobre as quais emitimos parecer sem
- No começo do exercício 152 ressalva, datado de 14 de abril de 2008. Conforme
44 mencionado na nota explicativa no. 2 , as práticas
Passivo circulante contábeis adotadas no Brasil foram alteradas a
- No final do exercício 23 partir de 1º. de janeiro de 2008.

- No começo do exercício 21
São Paulo, 13 de março de 2009.
(2)
AUMENTO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 42
BAKER TILLY BRASIL
AUDITORES INDEPENDENTES S/S
CRC-2SP016754/O-1
EQUIPE Conectas Direitos Humanos
Diretora Executiva - Malak El Chichini Poppovic
Diretor Jurídico - Oscar Vilhena Vieira

Área Institucional
André Degenszajn - Coordenador de Desenvolvimento Institucional (2008)
Nathalie Nunes - Coordenadora de Desenvolvimento Institucional (2009)
Denise Conselheiro - Assessora de Comunicação
Lucia Nader - Coordenadora de Relações Internacionais
Marcelo Moisés - Programador Web
Muriel Soares - Estagiária

Programa Sul Global


Juana Kweitel - Coordenadora de Programa
Laura Mattar - Coordenadora de Projeto (2008)
Camila Asano - Assistente de Projeto
Mila Dezan - Assistente de Projeto
Thiago Amparo - Assistente de Projeto
Daniela Ikawa - Editora da Revista Sur
Pedro Paulo Poppovic - Editor da Revista Sur
Raphael Daibert - Estagiário

Programa de Justiça
Artigo 1º
Eloisa Machado - Coordenadora de Programa
Marcela Vieira - Advogada
Samuel Friedman - Advogado Conectas também conta com uma equipe de
voluntários para cada um de seus projetos e
Vivian Sampaio - Estagiária recebe estudantes para estágios não-remunerados.
Valcrécio Paganele (Teo) - Estagiário
Voluntários Estrangeiros
Emma Dearnaley, Eric Lockwood, Fred Hasselquist,
Instituto Pro Bono Karim Mijal, Marisol Soltero Soto.
Marcos Fuchs - Diretor
Carolina Bittencourt - Advogada Voluntários
Alexandre Nápoles Filho, Amir Choaib Jr, Ana Letí-
Eric Lockwood - Advogado (2009) cia Salla, Bruna Santana, Caio Vilella, Conrado Da-
João Pedro Pereira Brandão - Advogado (2008) voli, Fabiana Bacchi, Felipe Silva, Gabriela Barros
Laura Mattar - Advogada (2008) de Luca, Isabel Arbex, Isamar Escalona, Marcelo
Haydu, Mariana Parra, Mariana Piazilla, Mariana
Septimio, Mila Dezan, Nathalie Nunes, Raphael
Projeto Direito à Saúde da Mulher Negra Daibert, Ricardo Ferraz, Severine Calza, Stephanie
Laura Mattar - Coordenadora do Projeto (2008) Guimarães.
Bruna Angotti - Pesquisadora (2008) e Coordenadora Monitores voluntários do VIII Colóquio
do Projeto (2009) Alberto Coutinho Rabelo, Alexandre Pacheco
Fabiane Oliveira - Estagiária Martins, Ana Carolina Alfinito Vieira, Ana Letícia
Mafra Salla, Ana Teasca, Daniel Escorel Alencar,
Fabiana Rizzo de Moura Leibi, Gala Lígia Dahlet,
Administração Igor Rolemberg Gois Machado, Ingrid Leão, Luis
Fernanda Mioto - Gerente Administrativa Henrique Correa do Amaral, Mariana dos Santos
Parra, Marina Mattar Soukef Nasser, Muriel Soares,
Juliana Gomes - Assistente Administrativa (2008) Newton Garcia Teixeira Martins, Pedro Affonso Du-
Maira Barreto - Assistente Administrativa arte Hartung, Pepe Tonin e Raphael Muniz Garcia
Meiry Carminati - Assistente Financeira de Souza.
Rua Barão de Itapetininga, 93 - 5º andar
São Paulo/SP - 01042-908 - Brasil
Tel/Fax (55 11) 3884-7440
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