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Fogo Sobre Terra Cap.25
Fogo Sobre Terra Cap.25
14/04/2008
Central Destino de Produção Cap. 25
Inspirada no original de
Janete Clair
Colaboração de
Eduardo Secco
Direção
Claudio Boeckel e Marco Rodrigo
Direção Geral
Luiz Fernando Carvalho
Núcleo
Luiz Fernando Carvalho
Personagens deste capítulo
Atenção
“ Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA e por conter informações confidenciais, não
poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer meio, sem o prévio e expresso
consentimento da mesma.No caso de violação do sigilo, a parte infratora estará sujeita às penalidades previstas em
lei e/ou contrato.”
CENA 01. BAR NA ESTRADA PARA ARAGUAIANA. INTERIOR. TARDE
PEDRO — Ocê num disse que tava procurando confusão? Encontrou! Vai ficar aí
chorando ou vai me enfrentar que nem homem?
O HOMEM SORRI NERVOSO E COMEÇA A FALAR ALTO PARA QUE OS CLIENTES QUE
RESTARAM, OUÇAM.
HOMEM — Esse homem tá é bêbado! Todo mundo aqui viu o que aconteceu! Eu
esbarrei nocê e pedi desculpa. Mas num adiantou. Tá aí o pobre do meu
amigo caído no chão, todo ensangüentado com a garrafada que ocê deu
nele!
PEDRO PERCEBE QUE AS PESSOAS COMENTAM ENTRE SI, OLHANDO PARA ELE DE
FORMA ACUSADORA.
PEDRO — Espera aí, minha gente! Não é nada disso! Eu tava aqui sossegado no
meu canto. Esses três que vieram mexer comigo! Eu sou homem de paz!
HOMEM — É bom mesmo! Assim a gente esclarece tudo de uma vez. Todo
mundo aqui viu quem arrumou a confusão!
Sonoplastia: SOM DE SIRENE POLICIAL. PEDRO FICA SEM SABER O QUE FAZER.
DOIS POLICIAIS ENTRAM.
CORTA PARA:
DIOGO SE SENTA.
DIOGO — Fazia muito tempo que eu não conversava com a Nara. Foi bom. Bom
também rever aquela casa. (p) Lembrei muito da minha infância. Dos
meus pais.
DIOGO — Mexeu, sim. E também me fez sentir mais culpado do que antes.
EDUARDA — Tira isso da cabeça, Diogo. Você não têm do que se culpar.
DIOGO — Eu sei que não. Pelo menos eu quero pensar assim. Mas não têm
como não sentir um certo remorso. Nem que seja bem lá no fundo.
EDUARDA — Quero sim. Preciso trabalhar um pouco. Foi pra isso que eu vim até
aqui.
EDUARDA SE LEVANTA.
EDUARDA SAI.
CORTA PARA:
BÁRBARA — A vida é assim mesmo. Quando a gente menos espera, acontece uma
novidade.
BÁRBARA — Vovó, a senhora está fazendo tempestade em copo d’água. Eu não fiz
nada demais. Nada que comprometesse... A minha honra. Nem a minha e
nem a da família.
HILDA — Você está muito tempo fora de Divinéia. Não foi criada aqui. Não
sabe como são as coisas. Os valores dessa terra são outros!
HILDA — Não interessa! Você pode achar o que for, mas é assim que as pessoas
aqui de Divinéia pensam!
HILDA — Graças a Deus! Ia ser um castigo grande demais pra mim ter uma neta
como você vivendo em Divinéia!
HILDA — Eu entendo que por viver em uma cidade grande, você tenha esse seu
jeito. Vá lá. Mas aqui, você precisa agir de outro modo. Nós somos uma
família importante. Temos um nome a zelar. Você não pode
simplesmente chegar e freqüentar o bordel! Isso é um absurdo!
BÁRBARA — É que isso não foi hoje. Foi ontem. Hoje eu só fui ver se ela havia
melhorado.
HILDA FICA CHOCADA.
HILDA — Você... Você está me dizendo que... Que já foi duas vezes naquele
lugar?!
BÁRBARA — É.
HILDA — Menina, dessa vez você passou dos limites! Eu não posso tolerar uma
coisa dessas!
BÁRBARA — Ah não?! E a senhora vai fazer o quê? Me colocar no seu colo e dar
uns tapas na minha bunda?!
HILDA — Eu...
BÁRBARA SE LEVANTA.
BÁRBARA — Chega. Minha paciência esgotou. Eu vim até aqui com a senhora, ouvi
o seu piti, não briguei, não reclamei, mas já tá de bom tamanho. Vou
cuidar da vida.
HILDA — Eu não quero que você volte naquele lugar! Você está me
entendendo?!
BÁRBARA — Dona Hilda, eu não quero tanta coisa. Sinto muito, mas eu vou voltar
lá sim. Quantas vezes eu quiser. E não vai ter sobrenome que me impeça.
HILDA — Nada.
CORTA PARA:
VIDIGAL — Não têm nada combinado. Nós ainda temos muito o que negociar.
BRENO — Não fala assim, Vidigal. Dá pra gente entrar num acordo.
VIDIGAL — Depois a gente continua essa conversa. Até logo, dona Lourdes.
BRENO — Até.
BRENO — Esse aí eu preciso saber levar. Têm que encontrar o jeito certo de
agradar. Vidigal é líder da oposição. Pode me atrapalhar bastante lá na
câmara.
LOURDES — Pois eu tô achando que têm coisa que pode atrapalhar você muito
mais do que o sonso do Vidigal.
CORTA PARA:
CELESTE — É. Mas não é trabalhar por trabalhar. É uma forma de manter você
mais próximo da Bárbara.
GUSTAVO — Celeste, infelizmente eu acho que a última coisa que a Bárbara quer é
que eu esteja próximo.
CELESTE — Mas assim a coisa é diferente, Gustavo. Ela tá acostumada a ver você
correndo atrás dela, tentando chamar a atenção. Meu querido, mulher
nenhuma gosta disso. Não me pergunte por quê. Eu também não sei.
Quanto mais solícito, gentil, prestativo o homem for, menos nós
gostamos. Achamos o máximo no início, mas depois perde a graça.
CELESTE — Ela está certa. Eu quero que a Bárbara veja você a partir de um outro
ponto de vista. Quero que ela lhe veja como um homem seguro,
decidido, que sabe o que quer. E principalmente, que não está mais tão
interessado nela.
CELESTE — Difícil não é impossível. Além do mais eu vou estar por trás lhe
ajudando, dizendo como você deve agir.
GUSTAVO — Eu não sei se me sentiria bem com isso, Celeste. Parece que eu estou
enganando a Bárbara.
CELESTE — Meu amor, você quer ou não quer conquistar o coração dela?
GUSTAVO — Celeste... Eu acho ótimo que você queira me ajudar. Mas... Por que
você está fazendo isso?
CELESTE — Eu vou ser sincera com você, Gustavo. Não é segredo pra ninguém
que a Bárbara é uma grande dor de cabeça pra mim. Pra mim e pro
Heitor. Ela precisa se casar, ter uma família. (p) Às vezes eu acho que a
Bárbara pensa que ainda é uma adolescente. Não percebe que o tempo
passou e que ela tem quase trinta anos. O Heitor se preocupa muito com
isso. Claro que nós temos um ótimo patrimônio, mas a Bárbara precisa
pensar no futuro dela. Não pode achar que a vida é essa brincadeira que
ela pensa que é. E eu acho que você é a pessoa certa pra fazer isso,
Gustavo. Um rapaz responsável, com uma ótima cabeça e,
principalmente, alguém que ame a Bárbara.
CELESTE — Eu sei. Só estou fazendo isso porque é você o rapaz, Gustavo. Não
costumo me meter na vida dos outros. Mesmo que seja pra ajudar.
GUSTAVO — Mas o Heitor está sabendo disso? Dessa proposta que você está me
fazendo?
CELESTE — Claro que sabe. Sabe e me apóia. Gustavo, você é um engenheiro que
têm um certo nome. É novo ainda, mas muito respeitado. Até mesmo
pela tradição da sua família. Heitor vai adorar ter você trabalhando com
ele. Ainda mais agora.
CORTA PARA:
EDUARDA — É aqui sim. Olha ali aquela ilha no meio do rio. Pelas medições e pela
própria localização, os técnicos disseram que aqui é o lugar perfeito pra
fazer o desvio.
DIOGO — É. Eles podem mudar o curso do rio pra construção da barragem mais
na frente.
EDUARDA — Vamos ver mais pra frente? Eles marcaram no mapa uma indicação
pro locar da construção da barragem.
DIOGO — Vamos.
CORTA PARA:
HILDA — Você está alterada. Eu não estou acostumada a que falem comigo
nesse tom!
HILDA — Eu não quis dizer nada! Falei da boca pra fora! Você têm o dom de
me deixar nervosa. Sempre foi assim! Desde criança!
BÁRBARA — Sangue ruim. Claro que esse sangue ruim não é o seu. Não é o dos
Gonzaga.
BÁRBARA — Vocês nunca falam da minha mãe. Só falam que era uma namorada
do meu pai e que se chamava Regina. Só vi uma foto dela, uma foto
velha. Nunca falei com nenhum parente. Era ela que tinha sangue ruim?
HILDA — Você está colocando chifre em cabeça de cavalo. Acho melhor você
voltar pra fazenda. Já arranjou confusão demais em Divinéia por hoje.
BÁRBARA — Me fala da minha mãe. O que a minha mãe fazia pra senhora dizer
que eu não nego a minha raça?
HILDA — Chega! Eu não vou mais ficar aqui escutando esse monte de sandices!
Se você quiser ficar aí, fique, mas vai falar sozinha!
BÁRBARA — Dona Hilda, volta aqui! Volta aqui que eu não acabei!
BÁRBARA — Não adianta porque essa aí é tão teimosa quanto eu. Não vai me falar
nada!
BÁRBARA SAI.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
HILDA — Cuidado com o que fala, Hilda Maria. Essa menina não pode saber de
quem é filha. Não pode saber que a mãe é aquela índia nojenta.
CORTA PARA:
DONANA — É bão, filha. As coisa melhoraram por aqui, mas o doutor ainda tá
precisando de ajuda.
NARA — Deixa ele reclamá. Juliano já era assim, desde antes de virá beato.
JULIANO — Do jeito que ocê falá, inté parece que eu sou o único reclamão. Ocê
reclama muito mais do que eu.
DONANA — Juliano, ocê termine de tomá essa sopa que eu preciso conversá com
Nara.
DONANA — Veio com André mais o delegado pra falá com Juliano. Tá uma moça
bonita.
NARA — Eu sei. Eu sei que não, mas foi mais forte do que eu. É minha filha,
Donana. Eu precisava ver ela. Essa menina foi tirada dos meus braço,
levaram pra longe de Divinéia. Eu precisava vê como ela tava.
NARA SORRI.
NARA — Vi. Ela tá linda demais. É uma mulher. Uma mulher feita.
DONANA — É sim. Uma moça muito bonita. Ocê conseguiu falá com ela?
NARA — Não. Nem tentei. Fiquei só olhando de longe. Até a hora que o
Lucena apareceu.
NARA — Viu. Mas eu inventei uma história. Disse que tava lá pra falá com
Rita.
DONANA — E ele acreditou?
NARA — Num falô nada que eu já num desconfiasse. Sempre soube que aquela
uma cobra perigosa!
NARA — Por enquanto, nada. Mas num é porque eu tenha medo dela não.
Quero encontrá a hora certa de contá a verdade pra minha filha.
DONANA — Eu tenho tanto medo, Nara. Medo de que lhe façam arguma coisa.
NARA — Podem até fazê, mas antes eu conto tudo pra Bárbara. Eu lhe juro
isso, Donana. Lhe juro!
CORTA PARA:
EDUARDA — O lugar é mesmo perfeito. Acho que pelo menos nesse ponto não há
mais nenhuma dúvida.
LUCENA — Eu sei onde é. Tô indo agora mesmo. (p) Não precisa de advogado
nenhum. O delegado é amigo do seu Heitor. Em umas duas horas eu tô
aí. Enquanto isso, vê se não me cria mais nenhuma confusão.
LUCENA DESLIGA O CELULAR.
LUCENA — Não aconteceu nada. Não precisa se preocupar. Pedro tá bem. (p) Ele
tá preso.
LUCENA — Preso. Parece que ele arranjou briga num bar de beira de estrada.
Agrediu um homem com uma garrafa. O pobre foi levado pro hospital se
esvaindo em sangue.
LUCENA — Você me desculpa falar, Diogo, mas você não conhece o seu irmão.
Ele tá sempre me arranjando esse tipo de problema. Já mandei ele pra
Araguaiana por causa dessas confusões. Eu vou lá tirar Pedro da cadeia.
EDUARDA — Diogo, deixa o Lucena ir sozinho e resolver tudo. Você acha que seu
irmão vai gostar de lhe rever desse jeito? Ele preso por ter... Quase
matado um homem? Atrás das grades? Imagina como ele vai se sentir.
(p) Também não vai ser bom pra você. Depois de tantos anos reencontrar
o Pedro dentro de uma cela de delegacia.
LUCENA — Dona Eduarda tá certa, Diogo. Eu vou lá, resolvo tudo e trago o Pedro
pra cá. Vai ser melhor pra vocês dois.
LUCENA — Eu vou indo. Assim que resolver tudo telefono dando notícia.
EDUARDA — Vá rápido, Lucena.
MAIS UMA VEZ UMA TROCA DE OLHARES ENTRE OS DOIS SEM QUE DIOGO
PERCEBA. EDUARDA PUXA DIOGO PARA O SOFÁ.
OS DOIS SE SENTAM.
EDUARDA — Parece que... Parece que o seu irmão não é bem... Parece que ele não
é bem como você esperava.
DIOGO — Será?
EDUARDA — Pelo que o Lucena falou não é a primeira vez que ele arranja
problema.
DIOGO — Ele sempre foi mesmo bem genioso. Muito mais do que eu.
EDUARDA — Tá bem. (p) Tomara que você... Não se decepcione com o Pedro.
Falei. Era isso.
DIOGO — Será que... Será que ele é assim tão diferente do que eu penso?
EDUARDA — Pode ser, Diogo. Pelo menos é isso que está parecendo. (p) Se eu
fosse você, ficaria preparada para qualquer coisa.
CORTA PARA:
VINÍCIUS — Imóvel. Da mesma forma como eu vou passar todos os meus dias
daqui pra frente.
LEONOR — Não fala assim, Vinícius! Vai passar os seus dias imóvel sim, mas só
se você não fizer o tratamento. (p) Filho, o médico disse que talvez esse
estado em que você esteja possa ser revertido. Têm tratamento, Vinícius.
Pra que pensar desse jeito? Pra que se martirizar assim?
VINÍCIUS — Eu sei de tudo isso. Só que a senhora também tem que entender o meu
lado, caramba!
LEONOR — Filho.
LEONOR — Mais vai também seguir o tratamento que o médico pedir e vai voltar
a andar. Eu tenho certeza disso! Não quero ver você se martirizando!
LEONOR — Filho, têm... Têm um outro assunto que eu quero conversar com você.
VINÍCIUS — Mais um? Só falta me dizer que eu tô com os dias contados! Se bem
que se for pra viver assim...
LEONOR — Pára com isso! Não fala uma coisa dessas nem brincando! (p) Eu... Eu
ainda não consegui conversar com o teu pai.
LEONOR — Não consegui. Fui até o telefone, teclei o número, mas desliguei.
LEONOR —Você acha que é fácil pra mim ligar pro Arthur e contar tudo o que
aconteceu? Contar que você tá assim?
VINÍCIUS — Mas agora eu preciso! Não quero te obrigar a ficar aqui com ele o
tempo todo, mas eu tenho essa necessidade, de ter o apoio dele. (p) Liga
pra ele mãe. Se não quiser falar com ele, pode deixar que eu falo.
LEONOR — Deixa filho. Não se preocupa com isso. Eu vou fazer o que você ta me
pedindo. Mesmo que eu não gosto dessa história, eu vou fazer. Ele é seu
pai. Você tem o direito de querer que ele esteja ao seu lado nessa hora.
CORTA PARA:
LOURDES — Pode chamar São Judas Tadeu, Santo Antônio do Porquinho, até
Santa Marta Fabril! Não adianta, porque eu não vou cair nessa sua
conversa. Quero saber o que é que você está me escondendo!
LOURDES — Breno Athayde, eu posso ser um pouco maluquinha, mas não sou
burra. E nem surda! Ouvi muito bem o que você e o Vidigal estavam
falando. Escutei quando você disse sobre a destruição de Divinéia. Quero
saber que história é essa. Quem tá querendo destruir a nossa cidade?
BRENO — Lourdes, luz da minha vida, flor da minha existência, me ouça! Isso
foi apenas... Foi apenas modo de dizer. Quase uma licença poética. É
claro que não têm ninguém querendo destruir Divinéia. Essa é uma idéia
absurda!
LOURDES — Se você não vai me dizer, com certeza alguma outra pessoa vai.
LOURDES — Vou sair perguntando pela cidade. Alguém deve saber quem quer
destruir Divinéia. Vou parar todo mundo na rua, um por um, e perguntar.
Uma hora eu encontro alguém que saiba.
BRENO — Pelo amor de Deus, Lourdes! Você não é louca de fazer uma coisa
dessas!
LOURDES — Ah, sou! Você sabe que eu sou! Pra isso e pra muito mais. Sai da
minha frente!
BRENO — Não.
BRENO — Não.
CORTA PARA:
DELEGADO — E foi isso o que aconteceu. O seu funcionário aqui parece que gosta
de confusão. Arrumou a maior briga no bar e ainda por cima quase
matou um dos clientes.
DELEGADO — Não adianta ficar negando, rapaz! Existem testemunhas! Todo mundo
viu que foi você quem começou a briga!
PEDRO — Mas é uma injustiça! Eu não acredito que uma coisa dessa esteja
acontecendo!
LUCENA — Pedro, ocê fique calmo. Não adianta nada ficar nervoso. Só vai piorar
a sua situação aqui.
LUCENA — Eu quero saber como fica a situação do Pedro. Vim até aqui pra isso.
DELEGADO — Lucena, o que ele fez foi muito sério. Podia ter matado o outro lá.
LUCENA — Pedro, por favor! Eu estou aqui tentando lhe ajudar! Tô tentando
resolver todo esse abacaxi que você arranjou. Por favor, não me
atrapalhe!
DELEGADO — Você deve ter muito trabalho com esse aí lá na fazenda, Lucena.
DELEGADO — Não. Já tá fora de perigo. Como você é meu amigo, eu conversei com
os outros dois agredidos. Consegui convencê-los a não prestar queixa
contra o seu... Funcionário.
LUCENA — Então... Não há acusação?
DELEGADO — Mas o dono do bar teve prejuízo. Não foi muita coisa, mas teve.
LUCENA — E... Você acha que se ele receber um bom dinheiro, esquece toda essa
confusão?
LUCENA — Então não têm mais problema. Pedro é agregado do seu Heitor. Ele
não ia gostar de ver o rapaz preso. Eu cubro o prejuízo do tal do homem.
CORTA PARA:
PEDRO — Eu já disse que não fiz nada! Foram eles quem começaram a briga.
LUCENA — Já mandei Tonho fazer isso. Você volta comigo. Entra no jeep.
CORTA PARA:
BRENO CORRE PARA OLHAR ATRÁS DAS PORTAS E VER SE NÃO TÊM NINGUÉM
OLHANDO, DEPOIS VOLTA A SE SENTAR.
BRENO — Ninguém pode saber disso, Lourdes! Esse assunto é sério demais!
LOURDES — Eu já disse que não vou falar nada! Pode ficar tranqüilo. (p) Uma
hidrelétrica. Mas por que, aqui? Você mesmo disse que a cidade... Que a
cidade vai ser inundada. Não dava pra fazer em outro lugar?
BRENO — Não sei. O Heitor ficou de vir aqui, conversar com a gente, explicar
tudo direitinho, mas até agora nada. Se você quer saber, nem certeza de
que essa hidrelétrica vá sair, eu tenho.
LOURDES — Mas Breno, isso é bom ou ruim pra gente? Claro que vai ser um
transtorno, mas existe alguma vantagem pra gente se a hidrelétrica for
construída?
LOURDES — Não! Disso eu gosto! Sem vantagem como é que eu posso comprar os
meus perfumes importados? Tô falando dessa história de inundarem
Divinéia. Eu sei que isso aqui não é lá grande coisa, que é um fim de
mundo... Mas é a nossa cidade. Foi aqui que a gente nasceu. Sem contar
que tudo que é nosso tá aqui. Como vai ser?
LOURDES — É?
LOURDES — Menos mal. (p) Mas eu acho que isso pode ser uma faca de dois
gumes. A repercussão pode ser péssima pra sua carreira política.
BRENO — E você acha que eu também não estou preocupado com isso? Não
paro de pensar. Pode ser uma catástrofe!
LOURDES — Breno, você precisa pensar muito bem nesse assunto. Precisa ver se
vale mesmo a pena apoiar essa tal hidrelétrica. Imagina só quantos
eleitores vão ficar sem casa! Porque é isso o que eles vão pensar! Não
adianta dizer que vão fazer outra cidade. Pra esse povinho, eles vão
perder tudo e acabou. E são eles que votam em você.
BRENO — Eu sei. E a minha imagem não tá das melhores com esse raio dessa
epidemia.
LOURDES — Pois é. Por isso que eu estou falando. Breno, essa história vai começar
uma guerra aqui em Divinéia, e você precisa escolher muito bem de que
lado vai ficar.
CORTA PARA:
CHICA — Diacho de vida! As coisa num podia sê bem mais fácil do que é?
Pedro podia querê i embora daqui comigo e ia ficá tudo certo. E ocê,
Chica, também é uma cabeça dura. Têm tratado o pobre de um jeito!
BRISA ENTRA SEM QUE A IRMÃ PERCEBA E FICA OUVINDO ELA FALAR SOZINHA.
CHICA — Mas eu também num tenho culpa se ele num consegue entendê as
coisa. Nossa vida ia sê bem melhor longe daqui. Ele fica dizeno que tá
pensano em ganhá mundo, em saí de Divinéia, mas aposto que é tudo da
boca pra fora! No fundo o que ele qué mesmo é fica véio aqui. Mas eu
não! Eu num quero isso, não! Imagina que eu, Chica Martins... Chica,
não! Débora! Imagina que eu, Débora Martins, vô passá o resto dos meus
dia nesse lugar besta! Nem morta! Nem morta!
CHICA — Num queria, mas assustô! Isso lá é jeito de entrá? Parece uma arma
penada! Num faz barulho e de repente desembesta a falá!
BRISA — Ocê tava falano de Pedro, num é?
BRISA — Ocê queria que ele fosse embora de Divinéia com ocê, num queria?
CHICA — Era tudo o que eu queria da minha vida. O que eu sempre quis.
BRISA — Quando... Quando ocê foi embora daqui com aquele caminhoneiro,
foi por isso? Foi só pra saí daqui?
CHICA — Quando eu conheci ele, ainda num namorava Pedro. A gente teve um
namorico de criança, mas só isso. Aí o Leonardo chegou aqui na cidade.
Homem bonito, que sabia falá as coisa que uma mulher qué escuta. Eu
me encantei por ele e ele por mim. Nóis namorô um tempo e ele me disse
que queria caçá serviço longe daqui.
CHICA — Do interior de São Paulo. Dizia que a vida aqui era parada demais pra
ele. Nessa época eu já queria ir embora de Divinéia, mas era menor de
idade. Pai num deixou. Ficou até contra o namoro.
BRISA — Eu lembro pouco disso, era pequena, mas lembro de ocês dois
brigando.
CHICA — Era só o que eu e pai fazia naquela época. Brigá! Eu resorvi i embora
sem ele sabê. Vivi uns dois mês com Leonardo, mas num deu certo. Ele
era um safado. Num podia vê um rabo de saia. Foi aí que eu vi que num
tava apaixonada por ele. Tava apaixonada pelo que ele era pra mim.
Porque, com ele, eu podia sair de Divinéia. Era isso que eu queria. E
podia tê sido com quarqué um. Mas quando eu larguei ele, vi que num
tinha pra onde corrê, aí acabei vortando pra cá. (p) Pai me recebeu de
cara feia, mas recebeu.
BRISA — Pedro é um bom homem. Ocê devia de levantá as mão pro céu todo
dia. Um home bão desses e apaixonado por ocê. Têm um monte de
mulher por aí querendo isso.
BRISA — Eu sei, Chica! Tô aqui morrendo de curpa. Num sei como vô te cara
de falá com ele.
CHICA — Eu tenho certeza de que ele vai lhe perdoá. Sabe por quê? Porque
Bicho-Brabo lhe ama. Amor de verdade. Eu sei que a gente num escolhe
de quem gosta, mas eu, se fosse ocê, tentava vê esse moço com outros
óio.
CORTA PARA:
PEDRO — Tô indo pra minha casa! Já escutei sermão demais por hoje! Amanhã
eu volto pra trabalhá!
CORTA PARA:
DIOGO — Cadê o meu irmão, Lucena? Cadê o Pedro? Ele ainda tá preso?
LUCENA — Foi embora pra casa. Num tava pra muita conversa. Também não é
pra menos.
DIOGO SAI. LUCENA E EDUARDA TROCAM OLHARES, MAS DESSA VEZ, ANDRÉ
PERCEBE.
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO