René Dotti. Walter Borges Carneiro Regina Helena Afonso
Advogados
EXCELENTISSIMO SENHOR JUIZ AUDITOR DA QUINTA CIRCUNSCRIGKO JUDICIK.
RIA MILITAR
" Quem sacrifica a liberdade, em
nome da seguranca, nao merece
nem seguranca, nem liberdade *
Benjamin Franklin
ROSANGELA DE SOUZA e LIGIA GIOVANELLA, *
qualificadas nos autos da acdo penal n9 7/80 a que respondem peran-
te esta Auditoria Militar, vém, respeitosamente, através de seu ad-
vogado adiante assinado, apresentar suas
alegacgées finais
de forma e contelido seguintes :
INTRODUCKO AO EVENT
Retomando as iniciativas para a preserva
gio das Hiberdades publicas e dos direitos fundamentais do Homem, *
cuja capacidade lhe fora interditada por trés extebsos lustros, a
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ees
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comunidade social e polftica da Nacio passou a exercitar a sua voca
Go democratica em diversas frentes.
Desde a sustentagao formal dos Direitos’
Humanos até o decidido empenho na luta em favor dos direitos soci -
ais, polfticos® econdmicos; povo e governo iniciaram um fecundo pro
cesso de necessario confronto. De um lado a corrente de manifesta ~
g5es de protesto:contra as opressdes ainda residuais do regime em @
gomia; de outro, as promessas enfaticas partidas da voz do Presiden
te da Repiblica, dando através de sua palavra e da emocio que a ani
mou, a perspectiva da concretude democratica para o nosso grande Pa
ts.
A confrontago portanto & um fendmeno
nerente aos Estados sociais e democraticos de Direito, na medida en
que & impossibilidade de se restaurar o processo da democracia dire
ta B imagem e semethanca da AntigOidade classica grega, os cidadios
dirigem na forma oral ou escrita as mais variadas petigdes aos pode
res piblicos. 0 Parlamento como instituicdo representativa nao pode
com plenitude e em todos os momentos ser o efetivo meio de comunica
Ho entre o povo eo governo, frente % multiplicidade dos interes -
ses postos sob os mais diversos Sngulos de consideracao. Tal restri
gio institucional — comum em todos os regimes efetivamente democra-
ticos, tem sido particularmente agravad@& em nosso Pats pelas mutila
ges que o Congresso Nacional tem sofrido em sua organica e essenci
almente na sua esséncia de Poder de representacéo e de moderagio.
Vivemos ainda os efeitos danosos de um *
processo que abriu enormes fossos entre o governo, 0 povo e as enti
dades de representacao civil.
Sob esta perspectiva rigorosamente criti
ca, nascem e se desenvolvem os grupos de pressio como fendmenos de
reivindicacdo pacTfica. A propdsito LUCAS VERDO define o grupo de. :
pressio como qualquer formagéo social " permanente y organizada, *
que intenta com éxito o sin &1, obtener de los poderes piblicos la
adopeién, derogacion o simplemente no adopcion de medidas ( leaisla
tivas, administrativas 0 judiciales ) que favorezcan, o al menos no
prejudiquen, sus ideas e intereses, sin que su intento suponga en
principio una responsabilizacion politica del grupo presionante ent
caso de lograr su pretension ", como se poder ver em sua obra Prin
cipios de Ciencia Politica ( t. III, Madr, 1974 ). a
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René Dotti. Walter
A atuacdo dos grupos de presséo como fe-
nodmeno rotineiro em muitos pafses politicamente informados por prin
cipios democréticos, tem sido objeto de grande literatura. 0 tema
referido entré outros, por MORTATI, Istituzioni di diritto pubblic
vol, II, Padua, 1976, pag. 882 es. .
Por outro lado, num sistema em que os *
meios de comunicagdo no oferecem ainda suficientes espacoa de li -
berdade na exposigao, na defesa e na critica de doutrinas, direitos
e interesses e ndo raro, dirigem agressivamente a propaganda do Es-
tado, os grupos de pressao sentem-se reduzidos aos meios e aos ins-
trumentos mais primitivos de expressao.
A crénic, Jiberdade e do direito a in
formacao registra @s mais variadds desse fecundo processo'
desde os primeiros estadios : sinalizacdo a vista, aviso sonoro [| '
(tanta ), os mensageiros a pé, com redevo para o soldado da marato -
na, 0s correios a cavalo, até as anilhas dos pombos-correios.
Na atualidade, as comunicagdes por saté-
lites representa o triunfo de todo esse proceder que serve a um 33°
tempo para diluir’a cultura e o progresso ético da personalidade hu
mana, mas também se presta, 20 reverso,para gerar inquietacdes e
conflitos no somente sob o dnqulo das verdades formais e materiais,
como também no profundo e extenso territério da seguranca individu-
al e coletiva.
Recentemente, 0 Servico de Documentagao'
francesa, editou o relatério do Comit® Nacional da Prevencio da Vio
léneia, que tem entre os seus membros, os representantes da Assem -
bléia Nacional, do Senado, do Conselho Econdmico e Social; persona~
gens qualificadas ( entre elas conselhbiros de Estado e professores
universitarios, presidente da Orden dos Advogados ) e os da Justicas
da Saide e da Seguranca; do Interior: da Defesa; do Trabalho; do Am
biente e Qualidade de Vida; de Educacto, e por Gitimo, representan-
tes das universidades, da juventude, de Srgdos de informacdo e comu
nicagde. No aludido documento, se destacou o crescimento da crimina
Vidade aparente, a agravagio do sontimento de inseguranca e as con-
digdes de atenuacéo desse sentimento como um programa de polftica *
preventiva para lutar contra o processo da violéncia e da criminali
dade. Entre as recomendacées apresentadas para se atenuar o senti -
mento de inseguranca, sdo relevantes as sugestées atinentes : a) *
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Aco informativa; b) Acdo dissuasiva; c) Acéo de protecao. ( Préve-
nir Ja violence, Paris, 1980 )
Na impossibilidade de se utilizar dos '
canais comuns, mas freqlentemente vedados aos grupos de presséo ,
servem-se eles da persuasio através de palavras e do impresso, que
fogem, no entanto, dos paradigmas ortodoxos : tanto na entonacao e
curso das idéias, como na forma de apresenta-las. Trata-se cofise -
qtentemente de uma insurreicao de aparéncia esotérica, mas que no!
fundo constitui a linha avancada de uma parcela da comunidade e
que também a Tapresents, mesmo sem um mandato formal, na luta em *
prol das reivindicagées gerais. No repertdrto dos sinais e dos '
instrumentos pelos quais se comunica o grupo de pressao, a faixa *
cumpre um importante papel, na medida em que pacificamente pode ca
racterizar o simplificado mural onde sao talhadas as manifestacdes
transmitidas através do grupo.
1
0 CONFLITO DE FLORIANOPOLIS
Dias antes da visita presidencial,a cida
de de Floriandpolis tomou conhecimento de que a programacio incluta
uma homenagem a Floriano Peixoto, responsavel pela orden de execu =
gio de 183 catarinenses, segundo a narrativa histdrica e posta em '
eviddncia através inclusive da televisdo. Com efeito, um professor’
de nome Cascais aludiu.a este fato num programa de grande audién -
cia. No mesmo sentido de reac3o, homenagem para Floriano, manifes
taram-se vozes nas Assembléia Legislativa e na Camara Municipal.
Mas nao parou af o circuito de conspiracao oficial. Realmente, dois
dias antes da visita do Presidente e dos Ministros, inclusive da 3-
rea econdmica, 0 povo sofreria mais um impacto resultante do aumen-
to ( 50% ) da aasolina e dos demais derivados do petrdleo.
Outros fendmenos periféricos, mas de
grande ressonancia comunitéria e politica, estiveram presentes nos
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festivais que a recepcdo preparana ao Presidente da Repiblica : en-
tre elas a rufdosa e mistificadora propaganda do governo estadual '
desenhada em diversos out-doors, as faixas oficiais anunciando enga
nosamente a paz comunitaria e o Sxito material. Por Gitimo, como *
sessdo de clausura, 0 opfparo almoco para sets mil convidados. Este
nimero, certamente de alegres arautos do governo estadual, era o do
bro do total de pessoas que na praca se concentrava para ver o Pre-
sidente.
A presenca nao sé do chefe da Nacdo, mas
também dos ministros e um cortejo de autoridades federais, demons -
trava que a rigor, a visita a Santa Catarina estava sendo feita pe-
Jo governo ( e nao, destacadamente pelo Presidente da Republica ) .
Alias, em seu offcio que esta Gs fils. 741 e 742, 0 Senhor Presiden-
te destacou num dos pardgrafos :
" Visitet a cidade de Floriandpolis
naquela data, a convite do Gover-
no do Estado, para participar de
eventos solenes nos quais se enca
recia a presenca do Presidente da
Repiblica ".
A conspiracéo das circunstancias, portan
to, §& estava montada, sem que o governo do Estado de Santa Catari-
na revelasse a sensibilidade piblica e a maturidade polftica para '
esclarecer previamente 20 Governo Federal que os preparativos da vit
sita estavam marchando para um confronto profundamente desgastante.
N3o foi certamente o Presidente da Repiblica, esclarecido do clina®
de conspiracdo que, independentemente da vontade patsffica do povo,
estava em franca gestacio.
0s estudantes portando faixas e pronunci
ando palavras de ordem, de natureza tipicamente reivindicatéria, ja
mais poderiam ser elevados 3 categoria de promotores, de articulado
res ou de fomentadores dos episddios ofensivos que viriam a surgir.
Alias, em diversas oportunidades em que se dirigiu & Nacéo, o Presi
dente Jodo Figueiredo revelou o seu empenho em obter de todos os '
Seamentos da comunidade; os esclarecimentos necessarios — em canais
livres e permanentes — a respeito dos problemas que preocupam a co-
munidade brastleira.~
Fiel a princfpios adequados 3 harm@nia '
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convivéncia entre o Estado e a comunidade, @ a doutrina de WALTER '
MONDALE, de que " o maior obstaculo ao exercicio do poder presiden-
cial deve ser a vigilancia do povo. £ 0 povo que deve defini as me
tas da presidéncia e a forma de atingf-las. Os Ifderes politicos —
e particularmente os presidentes — devem encorajar a vigilancia do
povo. Mais ainda, devem exigi-la " ( As obrigacdes do poder, para '
uma_presidéncia responsavel, Rio de Janeiro, 1977, p. 103 ).
Revelando um indiscutTvel mérito de ava-
liarem adequadamente diversos aspectos da situacdo econdmica, sociz
al, polftica e cultural que aflige a comunidadedbrasileira, os estu
dantes foram @ praca cumprindo a vocacéo e a misso naturais de sua
condigdo de universitarios.
Somente uma visio obscurantista do home
e da histéria poderia desencarnar @ Universidade do povo. A Univer-
sidade € uma instituicdo que representa a cultura intelectual junto
3 comunidade. Tem uma fung#o educativa através da qual recolhe os '
valores essenctais da tradicio, para transmitf-los cuidadosamente a
geracdes futuras. Esta perspectiva foi muito bem posta pelo profes-
sor D. H. SALMAN da Universidade de Montreal : " A primeira funcao’
educativa geralmente reconhecida & Universidade concerne & transmis
sio da cultura. Desempenhara este encargo, recolhendo fielmente os
valores essenciais da tradicio e transmitindo-as cuidadosamente is
geracdes futuras. Todas as riquezas acumuladas pelos séculos devem
ser preciosamente salvaguardadas, pois constituem o fundamento mes-
mo de nossa cultura. Sera preciso discutT-las assiduamente, para’
que n&o cessem de viver e frutificar. A cultura humana & uma reali-
dade de natureza histdrica que se desenvolve no tempo. £, partici -
pando de seus valores essenciais, foge-se da ignorancia ingénua do
analfabeto e da barbarie agressiva do tecnocrata " ( 0 Lugar da Fir
losofia na Universidade, Petrépolis, 1969, p. 39 ).
Mas a missio da Universidade néo se esgo
tana tradicéo de conhecimentos. Novamente SALMAN : " aos tesouros®
do passado @ preciso acrescentar-se as descobertas do presente, Nio
basta transmitir ad estudante tradicdes adquiridas; & preciso tem -
bém ensinar-The a fazer progredir nossos conhecimentos em vista do
futuro " ( ob. cit. , p. 40). Assinale-se ainda uma terceira fun-
a0 educativa da Universidade. Consiste ela na nocdo de integracdo.
E preciso ensinar aos jovens espfritos "a intearar em uma sintese
viva, as aquisicées do passado e as descobertas do presente " ( ob.
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Advegades
cit.,p. 41).
Dentro de uma cosmoviséo dos problemas '
soctais em seus diversos matizes e da posicio que deve assumir '
uma Universidade digna de tal qualificago, a passeata e as faixas'
vio perdendo aquele carater de insurreicdo maldita, que poderiam '
mostrar através de um painel deformado pelo preconceitc ideoldgico®
e pela indiferenca & condicéo humana e cultural desse evento." as-
sim foram os estudantes com as faixas e apelos crfticos sobre os '
problemas econdmicos, os integrantes de um grupo de pressio perfeis:
tamente admissfvel na verdadeira convivéncia democratica. Foran com
suas palavras de ordem, com as faixas e a presenca ffsica, os porta
dores de uma opinio piblica, na medida em que por esta expressio '
se devem compreender as opinides sobre os assuntos de interesse da
Nagio, livre e publicamente expressas por pessoas “ que nao partici
pam do governo e reivindicam &s suas opinides o direito de influen-
ciarem ou determinarem as acdes, 0 pessoal ou a estrutura de gover-
no" (cf, SPEIER, cit. por EVA MARIA LAKATOS, Sociologia Geral, '
S80 Paulo, 1978, p. 122 ).
Torna-se portanto conflitante a esta or-
dem de dias e conviccdes, a existéncia de um direito penal do ter
ror que procura perseguir todas as manifestacdes de reivindicagso '
como se fossem atentados 3 Seguranca Nacional. Na transiclo do Esta.
do autoritério — que dominou nosso Pats por 15 anos — para o Estado
social e demécratico de Direito como sintese dos valores mais altos
da ordem jurfdica, da liberdade, da justica, da igualdade e do plu-
ralismo polftico, um novo direito declara incompativel a doutrina *
do diretto pena? terrorista.
Analisando 2ste tema @ luz dos novos ho-
rizontes assinalados pelo atual regime polftico da Espanha, que ar-
ranca da concepgéo, dos ideais e da viabilizacdo de um Estado soci-
ale democratico de Direito, JUAN-RAMON CAPELLA disserta : * 0 que!
concede seu carater libertario ao novo tipo de direito & a remisséo
continua para a articulacio da sociedade civil. Esta organiza-se pe
ra dar cumprimento a funcdes que The eram anterformente estranhas .
Pois a sociedade civil organizada difere da congregacio inorganica’
dos seus simples elementos atdnicos. ... 0 novo tipo de direito no
pode apoiar-se simptesmente "na sociedade ". Exige uma sociedade '
civil organizada, articulada em torno dos centros da propria rela -
| ¢do social, e, sobretudo, produtiva : organizacéo de fabricasda en-
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Advegados
presa, da comunidade camponesa, dos trabalhadores cientTficos, dos*
centros de estudo, do bairro, da juventude... Uma sociedade que su-
pere, com o trabalho da vontade das suas forcas progressives, as de
sagragadoras tensdes de uma realidade atomizada. “ ( Sobre a extin-
Jo do direito e a supressio dos juristas, Coimbra, 1977, p. 99, *
grifos do oriainal
De a
05 incidentes que se sequiram % passeata
| de carter dos estudantes, jamaiswpodem ser a estes debi-
tados como se tivessem eles a capacidade de inflar toda a multidio'
que se encontrava na praca, através das manifestagées tYpicamente '
reivindicatdrias, muito embora existisse a embasa-l@s protestos de
ordem critica. Nada, porém, caracterfstico de abuso da manifestacao
do pensamento e das idéias.
Mas por que polftico o processo, politi-
ca também tinha que ser a atuagio da Polfcia Federal que promoveu a
investigacao a$ instancias do governo estadual.NUocasdo Presidente’
da Repiblica ou do governo federal, posto que em entrevista que se
tornou conhecida de todo Pats, e prestad& logo apds o evento, o Pre
sidente Jodo Figuetredo declarou considerar o incidente encerrado .
Essa manifestacdo — pacificadora sem divida ~ o Presidente transmi-
tiu também ao Hinistro Karlos Richbitter conformese contém no depos
mento que este prestou na Auditoria.
IT
2 CONFRONTO PROBATORIO
Ao longo de quatro extensos volumes abar
rotados de fotografias, testemunhos e documentos variados se movi -
mentou. todo o procedimento revelando-se o empenho muito grande da
Polfcia Federal em incriminar os indictados.
0 Indiciamento alias, resultou de um pro
cesso seletivo quando os acusados foram escolhidos em face de atua-
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Advogados,
Gio politico universitaria. A sucessdo de interrogatrios e acarea-
gGes demonstrou que a investigacao pretendia efetivamente e a todo’
custo, comprometer as acusadas como responsaveis por suposto delito
contra a honra assacada ao Presidente da Repiblica.
ROSANGELA DE SOUZA foi interrogada cinco
vezes e por trés vezes, submetida a acareacio. Tanto ela, estudante
de direito e qualificada funcionaria do Tribunal de Justiga dé Esta
do de Santa Catarina, como a sua colega LIGIA GIOVANELLA, universi-
tdria de medicina ( % época dos fatos ), e também pessoa iddnea, fo
ram objeto de uma auténtica e tormentosa devassa, tendo a frente de
tal procedimento o cariz ideolégico. Dentro desta perspectiva, o '
dossié das atividades polftico-estudantis procurava ganhar forca de
um auténtico corpus delicti como se a atuacio polftica fosse algo '
de nefasto e interdito para o estudante universitario, Mesmo em re-
lagio Bqueles que nos programas dos cursos respectivos, deveriam *
ter liberdade de ensino e de exercicio das doutrinas sociais, polT-
ticas e econdmicas.
No obstante a pressio dos interrogaté -
rios e das acareagdes em regime de privacdo da liberdade e do temor
carcerfrio, as rés esclareceram suficientemente a sua inocéncia. Fi
cou mesmo provado que quando parte da populagio dirigia palavras *
ofensivas contra as autoridades e também contra o Presidente da Res
pablica, tanto as acusadas como os demais denunciados se preocupa -
vam em aumentar o volume das chamadas palavras de ordem, buscando '
impedir que @ passeata degenerasse. Alias, o protesto pactfico & um
direito de cada cidadio que n&o pode ser por qualquer forma obstacu
lado sob pena de se comprometer profundamente um valioso setor das
Viberdades piblicas, e dos direitos e garantias individuais.
Durante os debates no plendrio, ficara '
ainda mais clara e evidente a inocéncia das acusadas. Deve-se-consi
derar que a imprecisdo nao somente dos testemunhos, como ainda dos*
autos de reconhecimento jamais poderdo levar a uma condenagao que *
teria a lastimavel conseqUéncia de inquietar a juventude université
ria, pressionada j@ fortemente por um sistema de educacio precirio'
e massificante.
Manda a grandeza e a sensibilidade da al
ta jurisprudéncia que se declare a improcedéncia da deniincia. Tal
solucio constituira o desdobramento natural da atitude do Ministério
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René Dotti Walter Borges Carneiro Regina Helena Afonso
Advogades
PGblico que pediu a absolvicao de todos os réus, menos das acusadas.
Finalmente @ precisocconvir que a veloci
dade dos fatos nao permite uma segura conviccao a respeito da indi-
cacao de autoria e ainda mais de autoria destacada no evento. As *
conseqléncias que a priséo e 0 processo trouxeram as rés atingiram'
n&o somente s carne e a alma de cada um dos acusados, mas também de
seus familiares e das pessoas de suas relacées de estima. Nag vaie!
a pena transformar o tribunal num pelourinho da honra, marcando 2
histOria pessoal desses réus sem crime com . alegoria de uma conde-
nacdo. Longe de servir & seguranca e ao interesse da Nacdo, a sens
tenga se inscreveria como um trecho opaco de nossa Histéria. Ea *
semelhanca das penas infamantes esculpidas com o cinzel do medo
da supersticao, deambularia a imagem neqra da condenacio como se *
fosse um meio incensdrio para afugentar as tentacdes desde o primet.
ro até o iltimo dos purgatérios.
. a sua Sentenga, ca eeaeerel 2 forme de
se-executar a decisaéo através de uma fantastica maquina qpQmms de
qual se gravava no corpo do condenado, por meio de um ancinho, a *
disposicao por ele violada. " Por exemplo, no corpo deste aque — e
apontou para o condenado — serfo escritas as seguintes palavras : '
I Honra a teus superiores " ( A Sentenca, ed. Tecnoprint Grafica, Rio
de Janeiro, 1973, p. 70, trad. Marques Rebelo, grifos no original ).
Ww
ABSOLVICKO
Em face de todo exposto, aguarda-se a '
absolvicio das acugadas, por ser medida de inteira Justiga.
E : Curitiba, 15 de dezembro de 198
RENE DOTTI _ OAB-PR 2612
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