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Manual de Formacao Permanente CV Bloco IV “Ao vé-lo moveu-se de compaixéo...” (Lc 10,33) Manual do Formando MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) CALENDARIO GERAL sewana | tema | OBEIVOPARAOS>DOISMONENTOSOA | cues umumADO 18 semana Para 0 VER: Abrir nossos olhos para, como | OVD com a pregacéo 2024.01" familia, compreendermos melhor 0 que sao | “Psicossomatica hoje” — Daniele enfermidades sométicas, psiquicas e | Cajazeiras (as psicossomaticas. L& semanas poderio ser | Oenfermoe | Para o MOVER-SE: Levar-nos a uma sadia | Textos para leitura e oracdo: adiantadas | aculturado | reflexdo de como a “cultura da | “Introdugdo” e “O enfermo e a e808 descartavel | produtividade” tem influenciado na nossa | Cultura do descartavel” missdo nde vivéncia comunitéria e como corremos © ine: isco de trazer para dentro da nossa vida | Leitura complementar (a ser feita Recienrerd: ‘comunitéria o que o papa Francisco chamade | fora do momento de oragéo Aaa “cultura do descartével”. pessoal}: Palavras do Papa Janeiro 2014 Francisco 31.05.13 Para VER: Abrir noss0s olhos para, como | DVD com a pregagao familia, compreendermos melhor 0 que é a | “A depressio” — Daniele depresso, como identificar, quais as | Cajazeiras possiveis causas e principalmente, como ae ajudar um imo deprimido. Texto paraleitura eoraplo: “O © irmso SRsarcare | ani6r55% imo enfermo ¢profecia pare a7 aa01 | ‘profena, | P&2°MOVER:SE: Compreendermos como 0) née fst iro enfermo é uma profecia no meio de ara.nds | ass que nos recorda Jesus flageladoe que nos | Leitura complementar (a ser lembra que a caridade esté acima de | feita fora do momento de qualquer outra realizacao humana. ‘oraco pessoal): Tabela 3 estégios da depressio... Para 0 VER: Abrir nossos olhos para, como | DVD com a pregagao “Distirbios, familia, compreendermos melhor o que slo | de Ansiedade e Sindrome do 5 disturbios de ansiedade (Transtorno de | Panico” ansiedade generalizada, Fobias, TOC ete)ea| 05/5 sindrome do panico, quais as possiveis Cirmao | origens, como identificé-las, e como ajudar 3%semana | enfermoe | aiguém com esses disturbios. 03 207.02 as autoridades | para o MOVER-SE: Refletitmos sobre como | Texto para leitura e ora¢ao: “O temos nos compadecido do sofrimento dos | irmo enfermoe as autoridades” inmaos e vivido a caridade, se é algo que é parte de nds ou que precisa ser “orientado” pelas avtoridades. ‘SEMANA TEMA OBJETIVO PARA OS DOIS MOMENTOS DA FORMAGAO RECURSO UTILIZADO 42 semana 10a 14.02 Cansago, enfermidad eezelo Para 0 VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor 0 que so essas enfermidades: Fibromialgia, sindrome da fadiga crénica e doengas autoimunes, quals as possiveis origens, como afetam o relacionamento com outras pessoas consigo proprio, e, sobretudo, como ajudar alguém com alguma dessas enfermidades. Para o MOVER-SE: A partir das palavras do Papa Francisco refletirmos, como consagrados, onde esté realmente a origem do nosso cansago € as vezes, até mesmo, do nosso dessnimo, DVD coma pregacio “Fibromialgia, Sindrome da fadiga crénica e doencas autoimunes” ‘Texto para leitura e oracdo: “Cansaco, enfermidade e zelo” St semana 1721.02 Wo Pressuroso socorroe atengio a0 irmlo enfermo ou limitado Para o VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor 0 que so esas enfermidades: Culpa, Choque pés- traumatico e surto psicético, quais as ossiveis origens, como identificar, e, Principalmente, como ajudar alguém com ‘alguma dessas enfermidades, Para o MOVER-SE: Levar-nos a refletir e fazer um bom exame de consciéncia sobre como tem sido nosso socorro e atencao ao irmao enfermo ou limitado, se no concreto da vida estamos realmente encontrando Cristo nesses irmaos conforme Mt 25, 31-46. DVD com a pregagao “A culpa, cchoque pés-traumatico e surto psicético” Texto para leitura e oracdo: “Pressuroso socorro e atengo 20 irmao enfermo ou limitado” 6% semana 24.28.02 Quando 0 irmao diz que esta doente, mas nem parece... Para o VER: Compreendermos melhor, como familia, 0 que s80 essas enfermidades: distirbios de cardter, disturbios na afetividade, as manias e as psicopatias; quais so as possiveis causas, e, sobretudo, como ajudar alguém com alguma _dessas. cenfermidades. Para o MOVER-SE: Refletir como temos reconhecido nos nossos irmaos “o prolongamento permanente da Encarnacso para cada um de nés” enos ajudar aestarmos, atentos aos gritos “surdos” de sofrimento dos 1nossos irmaos e socorré-los prontamente. DVD coma pregagao “Distarbios de carater, disturbios na afetividade, as manias e as psicopatias” Texto para leitura e oragdo: “Quando o irméo diz que ests doente, mas nem parece...” 03 a 07.03 (02 a 04 Renascer/Reviver (05 quarta feira Cinzas Inicio Quaresma 2014 ‘OBJETIVO PARA OS DOIS MOMENTOS DA semana | TEMA ee RECURSO UTILIZADO Para o VER! Compreendermas melhor, como | DVD com a pregaqlo familia, o que é 0 transtorno do déficit de | “Transtomo do deficit de atencio e hiperatividade (TDAH), o stress ea | atencio e hiperatividade (TDAH), estafa; como evitar, quais s80 as possvels | o stress e a estafa” O prude de | ©4595 ® Principalmente, como deiarse Perigo | ajudar e como ajudar alguém com alguma 72 semana | “AOSTEENS | dessas enfermidades 10a rags | Seo irmso debited |P2"2 0 MOVER:SE: Refletimos ¢ | Texto para leiturae oraglo: “O compreendermos melhor @ grande graca que | prurido da transferéncia do 6 para uma comunidade a profecia do emo | irméo enfermo ou del enfermo e no cairmos na tentagio de antepor 0 nosso bem a0 dele, a0 ensejarmos a sua transferéncia, Sho José na 1721.03 | Vocagio | Bem celebrarmos 0 dia de Séo José (19.03) | DVD ou pregacoao vivo shalom Para o VER: Compreendermos, refletirmos e | DVD coma pregagao "Terceira dialogarmos, como familia, sobre a tercera | Idade: mitos e realidade” de © sobre a sadia convivéncia entre saber | i#0s0s, jovens e crancas na comunidade e escobrimos juntos a nova forma de amar e convalescer, ser amado na comunidade de vida. 8tsemana | saber 7422803 | depender | para o MOVERSE: Refletir como temos | Texto paraleitura e oragio: emcatecer | eeonhecido nos noss0s iemios “0 | “Saber convalesce, saber prolongamento permanente da Encarnacio | depender, saber envelhecer” para cada um de nds" e nos ajudaraestarmos atentos aos gritos “surdos” de sofrimento dos os50sirmBos e socorré-los prontamente. Para o VER: Compreendermos, refletirmos e | DVD com a pregagio 7 logarmos sobre alguns aspectos da satide | “Conhecendo aspectos da sauide 98 semana | COmhecendo | infantil para melhor vivermos como familia, | infantit” pucga: | Seed 04.04 race, | Para o MOVER-SE: Refletimmos sobre a nossa | Texto para letra e oraglo: vivencia do amor gratuito e desinteressado, | “Santa Mica, Santo Agostinho eo escorpiso” Para o VER e o MOVER:SE! Refletinmos sobre | Leitura e partiia em grupos do a mistica do sofrimento e de como o irmio | texto: “A mistca do sofrimento” que softe vive um novo aspecto do Amor 108 esponsal,a fim de melhor compreendermas | Partilha geral do texto e do bloco A mistica do : semana | AMIsED 4 | & ajudarmos os irméos que vivem essa | e Ato de entrega a Maria com 07 11.08 mistica, coragio do Papa Francisco Texto para a oragao: “A mistica do sofrimento” 13.04 Domingo de Ramos Inicio Semana Santa / 20.04 Pascoa MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) CARTA INTRODUTORIA Caro(a) irmao(a) Shalom! Estamos quase concluindo nosso ano formativo. se de compaixdo (Le 10,33). Iniciaremos hoje nosso timo bloco: Ao vé-lo moveu- No préprio nome do bloco podemos perceber os dois movimentos que seremos levados a fazer em cada formacao: VER e MOVER-SE. Por isso a formagdo se dividira sempre em dois momentos: 1. VER - que seré caracterizado por videos onde alguns médicos da comunidade e amigos da ‘comunidade nos ajudargo a compreender methor algumas enfermidades que podemos perceber Ros nossos irmBos ou em nds mesmos. No seré uma aula, mas um momento para como familia conhecermos melhor o que sdo essas enfermidades, como diagnosticé-las e principalmente, como ajudar-nos a melhor conviver com elas ou como tratd-las. O objetivo principal dessa primeira parte € 0 de nos ajudar a melhor cuidarmos dos nossos irméos e também da nossa prépria sade, para assim poder nos dar mais e melhor ao Senhor e a Sua Vinha. 2. MOVER-SE - que seré caracterizado por esse movimento de compaixio (interior e exterior), que rnasce do interior, por isso nasce da oragdo com alguns textos que nos ajudardo a refletir como estamos vivendo. a compaixfo concretamente nas nossas casas e avaliar nossos comportamentos/posturas diante dos nossos irmaos que passam pela prova da dor ou da tenfermidade (cf. ECCSh 50 -53) e também como estamos vivendo esses momentos, caso estejamos 'n6s mesmos passando por eles. O objetivo principal desse segundo momento é o de nos levar a um movimento de conversio de valores e de atitudes, ou seja, n8o s6 percebermos as nossas ‘mentalidades erradas, mas, com a graca de Deus, fazer com que exista no meio de nds um ‘movimento de conversao & compaixao e a misericérdia que transbordaré em agées concretas. Creio que a parabola do bom samaritano (Lc 10, 30-37) muito nos iluminard neste tempo. Rezemos com ela e pecamos ao Senhor que nos dé a graca de, também nés, escutarmos dos seus labios: "Vai, e faze tu 0 mesmo" e imitarmos o seu exemplo. Outra posture importante que devemos aprender a ter a partir desse bloco ¢ a de estarmos sempre atentos a ago formativa de Deus em nossas vidas, porque Deus nos ama tanto que deseja modelar em nés 0 rosto de seu Filho Jesus e para isso ele se utiliza de todas as circunstancias, momentos e situagées, inclusive, a enfermidade, para nos formar. Tenhamos esta postura ativa e consciente de quem esta sempre pronto a se deixar formar na vida e através da vida pelas mos providentes de Deus. Devemos sempre nos questionar: “o ‘que Deus esté querendo me formar através dessa situa¢ao?”, porque “sabemos que todas as coisas concorrem. para 0 bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so os eleitos, segundo os seus designios.” (Rm 8,28). ‘Acolhamos a graca formativa de Deus através da nossa vida, no nosso quotidiano e através dos nossos irmaos e deixemos o Senhor nos fazer, a cada dia, mais santos, MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) CARTA INTRODUTORIA Caro(a) irmao(a) Shalom! Estamos quase concluindo nosso ano formativo. se de compaixdo (Le 10,33). Iniciaremos hoje nosso timo bloco: Ao vé-lo moveu- No préprio nome do bloco podemos perceber os dois movimentos que seremos levados a fazer em cada formacao: VER e MOVER-SE. Por isso a formagdo se dividira sempre em dois momentos: 1. VER - que seré caracterizado por videos onde alguns médicos da comunidade e amigos da ‘comunidade nos ajudargo a compreender methor algumas enfermidades que podemos perceber Ros nossos irmBos ou em nds mesmos. No seré uma aula, mas um momento para como familia conhecermos melhor o que sdo essas enfermidades, como diagnosticé-las e principalmente, como ajudar-nos a melhor conviver com elas ou como tratd-las. O objetivo principal dessa primeira parte € 0 de nos ajudar a melhor cuidarmos dos nossos irméos e também da nossa prépria sade, para assim poder nos dar mais e melhor ao Senhor e a Sua Vinha. 2. MOVER-SE - que seré caracterizado por esse movimento de compaixio (interior e exterior), que rnasce do interior, por isso nasce da oragdo com alguns textos que nos ajudardo a refletir como estamos vivendo. a compaixfo concretamente nas nossas casas e avaliar nossos comportamentos/posturas diante dos nossos irmaos que passam pela prova da dor ou da tenfermidade (cf. ECCSh 50 -53) e também como estamos vivendo esses momentos, caso estejamos 'n6s mesmos passando por eles. O objetivo principal desse segundo momento é o de nos levar a um movimento de conversio de valores e de atitudes, ou seja, n8o s6 percebermos as nossas ‘mentalidades erradas, mas, com a graca de Deus, fazer com que exista no meio de nds um ‘movimento de conversao & compaixao e a misericérdia que transbordaré em agées concretas. Creio que a parabola do bom samaritano (Lc 10, 30-37) muito nos iluminard neste tempo. Rezemos com ela e pecamos ao Senhor que nos dé a graca de, também nés, escutarmos dos seus labios: "Vai, e faze tu 0 mesmo" e imitarmos o seu exemplo. Outra posture importante que devemos aprender a ter a partir desse bloco ¢ a de estarmos sempre atentos a ago formativa de Deus em nossas vidas, porque Deus nos ama tanto que deseja modelar em nés 0 rosto de seu Filho Jesus e para isso ele se utiliza de todas as circunstancias, momentos e situagées, inclusive, a enfermidade, para nos formar. Tenhamos esta postura ativa e consciente de quem esta sempre pronto a se deixar formar na vida e através da vida pelas mos providentes de Deus. Devemos sempre nos questionar: “o ‘que Deus esté querendo me formar através dessa situa¢ao?”, porque “sabemos que todas as coisas concorrem. para 0 bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so os eleitos, segundo os seus designios.” (Rm 8,28). ‘Acolhamos a graca formativa de Deus através da nossa vida, no nosso quotidiano e através dos nossos irmaos e deixemos o Senhor nos fazer, a cada dia, mais santos, E confiando esse Bloco da formacao nas mos de Maria, concluamos com essa oragao que o Papa Francisco fez no dia 31 de maio de 2013, na festa da visitacao, depois de comentar sobre a postura de Maria de escuta,,decisio e aco quando foi ao encontro da sua prima Isabel: “Moria, Mulher da escuta, do deciséo e da agéo. Maria, Mulher da escuta, abre os nossos ouvides; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada ‘pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade. Maria, Mulher do deciséo, ilumina a nossa mente e o nosso coragto, a fim de que saibamos obedecer & Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitagdes; concede-nos a coragem da decisdo, de ndo nos deixarmos arrastar ‘para que outros orientem a nossa vido. Mario, Mulher da a¢do, faz com que as nossas mdos ¢ os nossos pés se movam «apressadamente» rumo 205 outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus, para levar a0 mundo, como tu, a luz do Evangelho. Amém!” Deus nos abengoe e Maria cuide de nés Shalom! Setor Intracomunitario Assisténcia de Formagio Bloco elaborado por: Maria Emmir 0. Nogueira com a colaboracao de Luciana Mariano MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 18 SEMANA TEMA O enfermo e a cultura do descartavel OBJETIVO Para 0 VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor o que so enfermidades somaticas, psiquicas e psicossomaticas. Para 0 MOVER-SE: Levar-nos a uma sadia reflexio de como a “cultura da produtividade” tem influenciado na nossa vivéncia comunitaria e como corremos o risco de trazer para dentro da nossa vida comunitaria 0 que 0 papa Francisco chama de “cultura do descartavel”. TEXTO PARA LEITURA E ORACAO INTRODUGAO “Aquele que diz amar a Deus, mas néo ama seu irméo, é mentiroso” (I Jo 4,20) Foi-me pedido para fazer uma carta de introdugéo a0 bloco sobre algumas enfermidades na forma¢ao da Comunidade de Vida. Pretendia fazer uma carta brevissima, apenas para olertar que as enfermidades elencadas néo nos deveriam impressionar ao ponto de acharmos que nés ou outros membras de nossa casa a possuam. Acontecev, porém, que o pedido me chegou em momento no qual eu mesma estou de coma e, além de ‘mim, hé outros ims enfermos, nos hospitais, em UTIs, 8 espera de exames decisivos. Em outras polavras, formamos um grupo considerével de “pobres, necessitados, enfermos, dependentes, improdutivos, menores, ‘oméveis-porque-ndo-oméveis, trabalhosos, desafiontes, figures proféticas no meio da comunidade.” Junto a isso, chegam-me e-mails pedindo consideragées sobre irmaos da Alianga que, tendo dado sua vida, sentem-se agora idosos, cansados, incopazes de participar de todas as atividades da comunidade e como que “descartados” porque inativos ou menos ativos. Pareceu-me, portanto, niio ser 0 caso de mera formalidade de uma carta de introducdo, ainda mais diante da Exortacdo Apostélica Evangelli Gaudium (EG), na qual o papa Francisco fala td0 claramente dos pobres, dos mais fracos, dos “residuos” humanas e do cansaco entre os consagrados. Resolvi, entéo, propor temas para oracdes dirias a nos acompanhar no caminho de formagGo acerca de ‘algumas enfermidades frequentes nos tempos de hoje. ‘Maria Emmir 0. Nogueii 18 de dezembro de 2013 ‘© ENFERMO E A CULTURA DO DESCARTAVEL Sabemos bem que a mentalidade do mundo e a tentacdo de carne nos acompanham onde quer que estejamos. Sio resultado da concupiscéncia que habita em nés. E, portanto, considerado “normal” e quase automético que valorizemos as pessoas pelo que elas produzem no apostolado e pelo que elas “conseguem viver” na vida comunitaria. A pessoa esta “bem”, nao é “transferivel” se viver bem todos os momentos comunitérios, a manh8 de formacio, as convocagées, as oracées comunitérias, vigilias, e todos 0s outros compromissos que abracou livremente Sem esforco adicional, seré bem quista, agradavel e considerada a pessoa que est4 sempre ativa no apostolado, que no encontra motivos para faltar, que produz sempre mais, que cumpre todas as metas € expectativas. O mesmo se diga dos RL, FC e CAP, que procuram corresponder as expectativas muitas vezes criadas‘por eles préprios, mas, mesmo assim, reais, e a indices e metas propostas pelo Governo Geral. Quando permitimos que essa “cultura da produtividade” influa em nossa convivéncia, trazemos para dentro de nossa preciosa vida comunitéria o que o papa Francisco chama de “cultura do descartavel”: “O ser humano é considerado em si mesmo como um bem de consumo que se pode usar e depois jogar foro. Assim teve inicio a cultura do descartavel, que, alids, chega a ser promovida (..) 0s pobres, os excluidos so residuos, sobras.” (Papa Francisco, EG, 53) Nessa cultura, “gastar tempo do apostolado” ou da “vida comunitéria” com um enfermo ou limitado faz-nos improdutivos e prejudica “nosso desempenho” ‘Temos aqui, duas reflexdes a fazer: 1. Vale a pena eu deixar meu apostolado, oracio, vigilia, oracdo comunitéria, laudes, manhé de formaso e adoragao para servir a um enfermo, idoso ou limitado, dependente na comunidade? Aflige-me ter de deixar de fazer 0 que estava agendado para servi-lo? Aceito tornar-me, como ele, “improdutivo” para percorrer com ele parte dolorosa do caminho como um nao-visto, ndo-prezado, ‘ndo-participante, pobre, pequeno? 2. © que ¢ um irmao doente, dependente, limitado para mim? Um estorvo? Seu adoecimento constante me faz exclamar “Outra vez?1? Isso s6 pode ser somatizaco! E psicolégicol E emocional! Se quisesse, levantarial” Meu irmao se torna, na vida comunitéria e no apostolado, alguém “‘descartavel”, um “residuo” que atrapalha, uma “sobra"? + Interessante notar que, mesmo depois de um ano de constantes enfermidades e auséncias do apostolado da formadora geral, o fundador discerniu manté-la na fungo. Nao a descartou por estar sempre enferma. Belo testemunho! Maria Emmir 0. Nogueira Para orar: “Aquele que diz que ama a Deus, que néo vé, mas nao ama o irmdo, que ve, é mentiroso” (I 30 4,20) LEITURA COMPLEMENTAR (A SER FEITA FORA DO MOMENTO DE ORACAO PESSOAL) RECITACAO DO SANTO ROSARIO NA CONCLUSAO DO MES MARIANO PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO ate Praga de Sto Pedro Sexte-feira, 31 de Maio de 2013 Estimados irmGos e irmas Esta tarde oramos juntos 0 Santo Rosério; repercorremos alguns acontecimentos do caminho de Jesus, da nossa /acZo, juntamente com Aquela que é a nossa Mie, Maria, Aquela que com mao firme nos guia rumo ao seu Filho Jesus. Maria guia-nos sempre para Jesus. Hoje celebramos a festa da Visitacao da Bem-Aventurada Virgem Maria a sua parente Isabel. Gostaria de meditar convosco este mistério que indica como Maria enfrenta o caminho da sua vida com grande realismo, humanidade e consisténcia, ‘Trés palavras resumem a atitude de Maria: escuta, decisdo e a¢do; escuta, decisio e ago. Palavras que indicam ‘um caminho também para nds diante daquilo que 0 Senhor nos pede na vida. Escuta, decisio e acao. Escuta.-De onde nasce o gesto de Maria, de ir visitar a sua parente Isabel? De uma palavra do Anjo de Deus: «Também Isabel, tua parente, concebeu um filho na sua velhice...» (Lc 1, 36). Maria sabe ouvir a Deus. Atencao: nao se trata de um simples «escutar», um ouvir superficial, mas € uma «escuta» feita de atengSo, de acothiménto € de disponibilidade @ Deus. No é o modo distraido com que as vezes nos pomos diante do Senhor ou perante os outros: escutamos as palavras, mas no owvimos verdadeiramente. Mara esté atenta @ Deus, Mas Maria ouve também os acontecimentos, ou seja,lé os eventos da sua vida, para compreender o seu significado. A parente Isabel, que i ¢ idosa, esté gravida: este é 0 acontecimento. Mas Maria esta atenta ao significado, sabe compreendé-lo: «A Deus nada é impossivel» (Le 1, 37). Isto ¢ valido também na nossa vida: escuta de Deus que nos fala, e escuta também da realidade quotidiana, atengo as pessoas, aos acontecimentos, porque o Senhor esta a porta da nossa vida e bate de muitos modos, langando sinais a0 longo do nosso caminho; dé-nos a capacidade de os ver. Maria é a Mae da escuta, da escuta atenta de Deus e da escuta igualmente atenta dos acontecimentos da vida. ‘A segunda palavra: Deciséo. Maria nao vive «apressada», ansiosamente, mas, como sao Lucas ressalta, «ponderava tudo no seu coracéo» (cf. Le 2, 19.51). E também no momento decisivo da Anunciacao do Anjo, Ela pergunta: «Como aconteceré isto?» (Le 1, 34). Mas nao se detém nem sequer no momento da reflexao; m asso em frente: decide. NSo vive‘apressadamentepmas sé quando:é necessério’wval’pressan. Maria nBo se deixa levar pelos acontecimentos, no evita o cansaco da decisdo. E isto acontece tanto na escolha fundamental ‘que mudard a sua vida: «Eis @ serva do Senhor...» (cf. Lc 1, 38), como nas opgées mais quotidianas, mas também elas ricas de significado. Vem ao meu pensamento 0 episédio das bodas de Cand (cf. Jo 2, 1-11): também aqui se vé 0 realismo, a humanidade e a consisténcia de Maria, que permanece atenta aos acontecimentos e aos problemas; Ela vé e compreende a dificuldade daqueles dois jovens esposos aos quais vem a faltar 0 vinho da festa, medita e sabe que Jesus pode fazer algo, e assim decide dirigir-se ao Filho para que intervenha: «Eles ja no tém vinho» (Jo 2, 3). Decide. ‘Nalvida\é dificil tomar decisies/'@ muiitasvexestendemos@adiar; a deixar que outras pessoas decidam por nés, frequentemente”preferimasideixaronds leva pelos.acohtedifiientos, seguir a moda do momento; as vezes sabemos 0 que devemos levar a cabo, mas ndo temos a coragem de o fazer, ou parece-nos demasiado dificil porque significa ir contra a corrente. Na Anunciaggo, na VisitacSo e nas bodas de Cand Maria vai contra a corrente; Maria vai contra a corrente; pde-se a escuta de Deus, medita, procura compreender a realidade e decide confiar-se totalmente a Deus, e embora esteja gravida decide ir visitar a sua parente idosa, decide -confiar-se ao Filho com insisténcia para salvar a alegria das bodas. A terceira palavra: Acdo. Maria pés-se a caminho «apressadamente...» (cf. Lc 1, 39). No domingo passado sublinhei este modo de agir de Maria: ndo obstante as dificuldades, as crticas que terd recebido devido a sua decisdo de partir, ndo se detém diante de nada. E assim vai «depressa». Na oracdo diante de Deus que fala, ponderando e meditando sobre os acontecimentos da sua vida, Mariando tem pressa, ndo se deixa levar pelo: momento, nio se deixa arrastar pelos eventos. Mas quando compreende claramente 0 que Deus Ihe pede, 0 "que deve levar a.caboy no hesita; ndo se atrasa, mas vai «depressa». Santo Ambrésio comenta: «A graca do “Espirito Santo no permite demoras» (Expos. Evang. sec. Lucam, i 19: pl 15, 1560). O agir de Maria é-uma consequéncia da sua obediéncia as palavras do Anjo, mas e ‘segues dsc sce sot Hor les on aa 050: Jesus; As vezes, também nés nos limitamos a escuta, & reflexdo sobre aquilo que deveriamos levar a cabo, e talvez compreendamos claramente a decis3o que devemos tomar, mas nao realizamos a passagem para a ado. E sobretudo no nos pomos em jogo a nds mesmos, movendo-nos «depressa» rumo aos outros para Ihes prestar a nossa ajuda, a nossa compreensio e a nossa caridade; para levar também nés, a exemplo de Maria, aquilo que Possuimos de mais precios e que recebemos, Jesus © o seu Evangelho, com a palavra e sobretudo com 0 testemunho concreto do nosso agir. ‘Maria, Mulher da escuta, da deciséo e da a¢éo. ‘Maria, Mulher da escuta, abre os nossos owvi sasianiantiteahaiendbnioain fo: crn que sateen oorh ¢ ealdeDe we que iveres cia pessoa que encontramos, especialmente quem ¢ pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade ‘Muther da Amém! Agradeco-vos este Rosério recitado juntos, esta comunhdo ao redor da Mie. Que El tnos torne mais irm&os. Boa noite e bom descanso! encoe todos nds, que 10 MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 3 SEMANA TEMA Be bd O irmao enfermo é profecia para nés OBJETIVO Para © VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor 0 que é a depressao, como identificar, quais as possiveis causas e principalmente, como ajudar um irmao deprimido. Para 0 MOVER-SE: Compreendermos como o irmao enfermo é uma profecia no meio de nés que nos recorda Jesus flagelado e que nos lembra que a caridade esté acima de qualquer outra realizagéo humana. TEXTO PARA LEITURA E ORACAO (© IRMAO ENFERMO £ PROFECIA PARA NOS Gragas a Deus, nunca se falou tanto deGair de si! O interessante, porém, é perceber como recebemos. essa mensagem: em determinado retiro, de cerca de 100 participantes, perguntei o que significava para eles sair de si. Recolhi as respostas. Para minha surpresa, cerca de 5 responderam que era viver os Estatutos e os Escritos de todo coracao; 3 deram outras respostas; cerca de 90 pessoas falaram que era dar-se inteiramente e com maior parresia no apostolado e(Somente 2, isso mesmo, somente duas se referiram a amar a Deus e ao irméo dando-seinteiramente a Ele através do amor a0 préximo!l!7 Fiquei vivarente impressionada e questionada sobre minha prépria vida e forma de sair de mim. Fiquet @ me questionar até que ponto nosso apostolado tem o irmao como centro e até que ponto é considerado_ “perder tempo” ou “sair de si” cuidar dos fracos enecessitados._ Entendi, ento, como o irméo enfermo é uma profecia no meio de nés. Profecia que nos lembra que a “car std acima de qualquer outra realizagdo humana. Profecia que nos recorda (lesus flagelado) sem recursos humanos. Profecia do Rei Jesus coroado de espinhos, desvalido, mas Rei. Profecia de Jesus em sua paixdo: solitério, incapaz de cuidar de si mesmo, estonteado de dor, de incerteza, cujo corpo se recusa a funcionar normalmente. € Claro, Jesus sofreu assim por op¢o. Porém, sendo consagrados a Jesus, no pode Ele optar por sofrer ‘em sua Esposa e seu Corpo o que faltou & Sua Paixo em favor da salvacdo do mundo? Evidentemente que sim. Felizes os que tém esse privilégio e os que aceitam caminhar com eles![{V8o sejamos nds a chorar na Via Sacra, a fazer companhia a Jesus na Lectio da Paixdo, a dizer 0 quanto 0 amamos em nossa orago pessoal e, qual egos, desprezé-lo ou nos omitirmos quando Ele se coloca como patiens, sofredor, no meio de nés na carne concreta do nosso irmao,] Q irmio patiens, que é profecia, viva em Cristo sua enfermidade. Os irm3os sadios, autoridade ou no, cari licita a profecia que & o irmao enfermo. Maria Emmir 0. Nogueira Para orar: Le 23, 26-38 - Simao de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz uw €€e COCECECCECCECCOCTE ¢ Cee 66.6 Gs iG c LEITURA COMPLEMENTAR (A SER FEITA FORA DO MOMENTO DE ORACAO PESSOAL) 3 estagios da depressio, 3 atitudes para ajudar uma pessoa deprimida a sair da depressio 0 que voce ode fazer para ‘ajudé-to/la Remissio.. wate sair da depressio Perda progressivada | Mabilidade parcial para | Retorno progressive a vi capacidade de realizar . realizar atividades | _profissional, social e familiar Interesse e motivagze __Restauracdo progressiva do incompletos interesse e da motivacao @ Sele toeame « emptica. | Woy quando eleela da | @ Cie oporuridades ara que ellla Nao dete ela se senir‘ ” bemcom alguna stuago | sje reimerio na vida sada fiat. culpa Depo's sia gradalmente € dene-fa suit contle © tncasjecia aprocuar air | QB Encore os pemvenos | Domine paertando 0 progres 8 averumméscoparare | progresses cebervaramert adequose pvt ots podem lear as ep © Adel a restora ses tas liga sds 1+ oda tegument ores ho Sella esse ego a sSeexictar esa an ieee ‘okra padres almentaes egdlaes 12 €€e COCECECCECCECCOCTE ¢ Cee 66.6 Gs iG c LEITURA COMPLEMENTAR (A SER FEITA FORA DO MOMENTO DE ORACAO PESSOAL) 3 estagios da depressio, 3 atitudes para ajudar uma pessoa deprimida a sair da depressio 0 que voce ode fazer para ‘ajudé-to/la Remissio.. wate sair da depressio Perda progressivada | Mabilidade parcial para | Retorno progressive a vi capacidade de realizar . realizar atividades | _profissional, social e familiar Interesse e motivagze __Restauracdo progressiva do incompletos interesse e da motivacao @ Sele toeame « emptica. | Woy quando eleela da | @ Cie oporuridades ara que ellla Nao dete ela se senir‘ ” bemcom alguna stuago | sje reimerio na vida sada fiat. culpa Depo's sia gradalmente € dene-fa suit contle © tncasjecia aprocuar air | QB Encore os pemvenos | Domine paertando 0 progres 8 averumméscoparare | progresses cebervaramert adequose pvt ots podem lear as ep © Adel a restora ses tas liga sds 1+ oda tegument ores ho Sella esse ego a sSeexictar esa an ieee ‘okra padres almentaes egdlaes 12 MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 3? SEMANA TEMA 500, 0 irmao enfermo e as autoridades OBJETIVO Para o VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor 0 que sao os disturbios de ansiedade (Transtorno de ansiedade generalizada, Fobias, TOC, etc.) e a sindrome do panico, quals as possiveis origens, como identificd-las, e como ajudar alguém com esses distirbios, Para 0 MOVER-SE: Refletirmos sobre como temos nos compadecido do sofrimento dos irmaos e vivido a caridade, se € algo que é parte de nés ou que precisa ser “orientado” pelas autoridades. ‘TEXTO PARA LEITURA E ORACAO OIRMAO ENFERMO E AS AUTORIDADES Naturalmente, cabe as autoridades da Casa Comunitaria e ao RL o zelo, cuidado e socorro ao irmao. enfermo. Entretanto, cadlalifanaio bie ptimeito:responsével por sualsalid@se'e'do|prOdimo. Um exemplo simples do os planos de satide e dentarios que, gracas a Deus, conseguimos pagar. No Brasil, ao receber a carteira do plano, poucos se interessam em ver em que hospitais o plano é valido, a quais exames da direito, como fazer para ter direito aos beneficios do plano, etc. O resultado é que, em uma emergéncia, nem a autoridade nem 0 préprio irmao sabem onde ir e acabam rodando de hospital em hospital sem conseguir 0 socorro adequado. No exterior, poucos se interessam em saber a que, como e quando realmente tém direito. E sempre responsabilidade de outra pessoa € as informacdes sempre serdo dadas pelos nativos do local. Quanto ao servico do Irmo, oiqueisenota-porveres ¢.o:desinteresse das-demais irmaes— quando nao ‘uma articulacdo mental imediata para “escapar” da “convocacdo” ~aojponto que,seaautoridade fiio\“orientar” ovenfermo- nao recebera: companhia, Socorro, visitas ou até alimentagio:adequada: € mais importante comparecer a0 evento, no faltar a0 apostolado do que ficar “esquentando cadeira” com o irmao doente. Sendo discipulos de Jesus, nfo deveriamos correr a nos oferecer para, antes de todos, servir ao irmio enfermo ou limitado? Falamos tanto de Santa Teresinha, gostamos tanto dela, mas custa-nos imité-la! Sugiro que voc® se coloque no lugar de um irmao enfermo ou limitado e perceba que, de repente, devido 4 uma “orientacao” da autoridade, vocé, que antes havia passado dias de soliddo e necessidades de varios tipos, passe a receber visitas de todos os membros de sua casa, um apés 0 outro, como uma escala. Seria, no minimo, constrangedor e um pouco humilhante. Quem no pensaria “Esto aqui porque alguém orientou, alguém os escalou, no porque vem que preciso deles!” Esse pensamento é inevitdvel. A dor que o acompanha, também. Coloque-se agora no lugar de um enfermo que recebeu orientagio de “visitas” e que necessita de coisas minimas, como alguém que limpe seu quarto ou banheiro, alguém que the faga um suco, alguém que the traga algo para ler ou um video para assistir, alguém que confirme uma consulta, alguém que pegue um exame e... recebe visitas répidas, de cinco ou dez minutos, para conversas animadas que no incluem suas necessidades! Novamente ficaré a sensa¢o de “vieram porque foram orientados, nao porque preciso deles, ndo porque me vem fraco, necessitado. No posso contar com eles.” Diz 0 Papa Francisco sobre esses benditos pobres, fracos e proféticos irmaos que vivem nas periferias existenciais ~ sim, viver em uma “periferia-existenciat" ¢ perfeitamente possivel na.comunidade! € possivel ser relegado "8s periferias da comuni B “Quose sem nos dar conta, tornamo-nos incopazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, jé no choramos @ vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidor deles, como se tudo fosse responsabilidade de outrem, que no nos incumbe” (EG, $4) E ou no verdade que tendemos a relegar tudo para “outrem” sejamos nés autoridades ou ndo? € ou no verdade que nos omitimos porque achamos que “no nos cabe” cuidar do irmao? € ou no é verdade que passamos correndo para ir 8 missa, 8 vigilia, & adoracdo, a oragdo, a formacdo e atravessamos apressados a tua para no ver o irmao caido? Maria Emmir O. Nogueira Para orar: Le 10, 30-37 -O Bom Samaritano 4 “Quose sem nos dar conta, tornamo-nos incopazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, jé no choramos @ vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidor deles, como se tudo fosse responsabilidade de outrem, que no nos incumbe” (EG, $4) E ou no verdade que tendemos a relegar tudo para “outrem” sejamos nés autoridades ou ndo? € ou no verdade que nos omitimos porque achamos que “no nos cabe” cuidar do irmao? € ou no é verdade que passamos correndo para ir 8 missa, 8 vigilia, & adoracdo, a oragdo, a formacdo e atravessamos apressados a tua para no ver o irmao caido? Maria Emmir O. Nogueira Para orar: Le 10, 30-37 -O Bom Samaritano 4 MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV ~ AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 4? SEMANA TEMA Cansaco, enfermidade e zelo OBJETIVO Para o VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor 0 que so essas enfermidades: Fibromialgia, sindrome da fadiga crénica e doencas autolmunes, quais as possiveis ‘origens, como afetam o relacionamento com outras pessoas e consigo proprio, e, sobretudo, como ajudar alguém com alguma dessas enfermidades. Para 0 MOVER-SE: A partir das palavras do Papa Francisco refletirmos, como consagrados, onde esta realmente a origern do nosso cansago e as vezes, até mesmo, do nosso desanimo. ‘TEXTO PARA LEITURA E ORACAO CANSACO, ENFERMIDADE E ZELO Uma das queixas mais frequentes dos consagrados é a exausto, o cansaco. Em contrapartida, uma das recomendagdes mais frequentes dos que se ocupam com nossa sauide é a pratica regular de exercicios fisicos alimenta¢o adequada, com estilo de vida equilibrado para servir melhor e mais longamente 0 Senhor. Que o Espirito nos ajude a entender o que diz 0 Papa Francisco acerca do cansaco dos que servem ao Senhor: Tentacdes dos Agentes “Como filhos desta época, todos estamos, de algum modo, s0b o influxo da cultura globalizada atual que pode também limitar-nos, condicionar-nos ou até combalir-nos. (..) Hoje se nota mesmo em pessoas consagradas, uma preocupacdo exacerbada pelos espacos pessoais de autonomia e relaxamento, que leva a viver 0s préprios deveres como mero apéndice da vide, como se néo fizessem parte da prépria identidade. Ao ‘mesmo tempo, a vida espiritual confunde-se com alguns momentos religiosos que proporcionam algum alivio, ‘mas néio alimentam o encontro com os outros, o compromisso no mundo, a paixdo pela evangelizagao. Assim é possivel notar em muitos evangelizadores — no obstante rezem uma acentuagéo do individualismo, uma crise de identidade, um declinio do fervor. storais (..1) 0 problema (do cansaco, do desénimo] ndo esta sempre no excesso de atividades, mos sobretudo nas atividades mol vividas, sem as motivag6es adequadas, sem uma espiritualidade que impregne a a¢do e a torne desejdvel. Doi que as obrigardes cansem mais do que é razodvel as vezes fagam adoecer. NGo se trata de uma fadiga feliz, mas tensa, gravosa, desagradével e, definitivamente, no assumida. Esse _desdnimo pastoral pode ter origens diversas; alguns caem neles por sustentarem projetos irreolizéveis e no viverem de bom grado 0 que poderiam razoavelmente fazer; outros por ndo aceitarem a custosa evolucdo dos processos e quererem que tudo caia do céu; outros, por se apegarem a alguns projetos ou @ sonhos de sucesso cultivades pela sua vaidade; outros por terem perdido o contato real com o povo, numa despersonalizaro da pastoral que leva a prestor mais atencbo 6 organizardo que &s pessoas ..) outros, aindo, por ndo saberem esperar e querer dominar o ritmo da vida. A énsia hodierna de chegar a resultados imediatos {faz com que os agentes pastorais ndo tolerem facilmente tudo 0 que signifique alguma contradicdo, um aporente {fracasso, uma critica, uma cruz” (EG, 77.78;82) © cansaco seguido de depressio, angistia, sindrome do panico, ansiedade, TOC, tem adoecido no poucos de nés. Sera que caimos em alguma das tentagdes que o papa fala acima? Seré que impusemos metas 15 altas demais para nés mesmos? Sera que as impusemos aos nossos irm0s? Serd que nos julgamos ¢ julgamos 0s outros? Ser que queremos enquadrar a nés mesmos e a todas as pessoas num mesmo parametro rigido segundo as nossas medidas e no segundo o Evangelho? Serd que exigimos e esperamos tudo das autoridades de nossa casa e missio, sem participar dos desafios, como uma familia? Seré que tornamos o clima de nossas casas insuportéveis cansando a nds préprios e aos outros? Sentimo-nos amados? Os de nossa casa se sentem amados por n6s? Sentimo-nos uma familia? Maria Emmir 0. Nogueira Para orar: Gen 11, 1-9 - Babel 16 MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Le 10,33) 5? SEMANA TEMA Pressuroso socorro e atencao ao irméio enfermo ou limitado OBJETIVO F0sTene pcs tremotiicc Para 0 VER: Abrir nossos olhos para, como familia, compreendermos melhor 0 que so essas enfermidades: Culpa, Choque pés-traumético e surto psicético, quais as possiveis origens, como identificar, e, principalmente, como ajudar alguém com alguma dessas enfermidades. Para © MOVER-SE: Levar-nos a refletir e fazer um bom exame de consciéncia sobre como tem sido oso socorro e atencéo ao irm&o enfermo ou limitado, se no concreto da vida estamos realmente encontrando Cristo nesses irméos conforme Mt 25, 31-46. ‘TEXTO PARA LEITURA E ORACAO PRESSUROSO SOCORRO E ATENCAO AO IRMAO ENFERMO OU LIMITADO E bem possivel que na ora¢o de nossos santos prediletos ou em nossa orago pessoal tenhamos dito, com sincera devocéo: “Quisero, Jesus, retirar teus espinhos, lavar teu sangue, aliviar tuas dores, beljar tuas feridas”. Bendito seja Deus, que responde concretamente a esse nosso desejo no iro doente ou limitado. Ele atende nossa oragdo naqueles que sofrem todo tipo de pobreza! € nd irmao enfermo, limitado, incapacitado, desvalido, desagradével que o Senhor atende, bem coneretamente, nossa oracio! Isso no 6 teoria. £ Evangelho. Deus nos atende porque Ihe pedimos conforme a sua vontade em Mt 25. 'Na oragio, ele nos enche de compaixio para que na aco tenhamos pressa em socorrer os que sofrem. Ha coisas que seria desnecessario dizer, mas que, infelizmente, ainda acontecem entre nds, embora ndo. sejam de forma nenhuma nem o Evangelho, nem a pobreza proposta pela vocagio, nem a tradic’o da comunidade nem o espirito do fundador. Nao sero afirmagées misticas, mas talvez sirvam a todos nds como ‘exame de consciéncia. ‘a. Faleceu um parente préximo de um irmao, que, evidentemente esté sofrendo. € dbvio que se tem que fazer 0 possivel e o impossivel para aquele irmao ir enterrar seu parente, a no ser que ele no queira. Temos 0 socorro da Assisténcia Missionéria, de irméos amigos da comunidade e a inspiracao de Deus para cumprir esse ato da mais reles caridade crist. Sabemos muito bem encontrar meios financeiros para férias, reciclagens, retiros e por vezes nos omitimos em confortar um ito sofrido sua familial Socorramos os altos, pelo amor de Deus! b. Um imo vai fazer procedimento simples, sem intemnagio: retirada de um dente, de sinais, intervengdes oculares, exames invasivos com contraste. Esse irmao, por mais jovem e destemido que seja, no tem como ir fazer 0 procedimento sozinho, ou voltar para casa de Onibus. A justificativa de que voltar de énibus sem condigSes é pobreza 6, na verdade, contréria a0 Evangelho, & pobreza Shalom e ao espirito do fundador. A explicagio de que a pessoa ¢ joven e é “56 um procedimento dentério” ndo condiz com a caridade. Alguns irmaos se sentem muito inseguros e passam mal com qualquer procedimento invasivo, com contraste ou anestésico, ainda que seja ‘anestesia local. Além disso, esse tipo de procedimento & sempre um trauma. Sabemos arranjar carona para vérias ocasiées. Deveriamos, também, saber encontrar transporte para esse irmao, v ainda que tenhamos que pagar um taxi. Tenhamos zelo e sejamos pressurosos no socorro dos irmaos! 'No Brasil ou na Africa, um irmao esta com dor e vai a um pronto atendimento no somente uma vez, mas cinco, dez, com a mesma queixa. Naturalmente esse irmao necessit muito mais do que um pronto otendimento! Ele necessitaré ser encaminhado a um médico, que pedira exames, que custardo dinheiro & miso, que devera mudar seus planos orgamentérios porque um irmao vale muito, muitissimo, infinitamente mais do que um planejamento orcamentério, uma divida, um ‘evento, uma constru¢ao! Um irmao vale mais que eu mesmo! € preciso estar alerta para o fato de que um exame caro pode revelar a existéncia de doencas como o cancer, problemas neuroldgicos ou esqueléticos graves e incapacitantes, podendo levar & morte. Nesse caso, trava-se uma corrida contra o tempo, pois qualquer dia é essencial para que a doenca ndo crie metastases, degeneracdes neuroldgicas ou osteopatas. A falta de dinheiro da missio néo é justificativa. Isso acontece com toda familia no mundo! A diferenca talvez seja a de que @ familia se endivida, pede emprestado, renuncia as férias, desiste dos planos porque a vida de um de seus membros pode depender daquele exame. E muito triste ver que, além de no se providenciar tratamento adequado, ainda se reclama que o imo no corresponde as expectativas da vida comunitéria ou do apostolado! Deus nos perdoe ‘nossa desinformacao, nossa cultura da indiferenga e do descartvell Deus nos ajude a nos espelhar ‘nas familias que vendem tudo e se endividam para salvar seu ente querido! 'No caso do Brasil, e em alguns paises da América do Sul e da Africa, um irmao esta com dor e vai ara o pronto atendimento, (4, naturalmente, Ihe dardo uma inje¢ao para dor, Ihe mediréo a pressdo e a temperatura, he dardo algum soro e o enviardo para casa, sem dar-the maior atencao. Caso a dor persista, assistiremos, atordoados, o irmao sair de hospital em hospital pela simples falta de um telefonema de orientago ao plano de saiide ou ao setor de satide antes de sair de casa ou entre um hospital e outro. E preciso que cada casa comunitéria conte com uma rota clara de atendimento aos seus membros, Poupemos maior desgaste aos nossos irmos enfermos! Um dos desafios e humilhagbes que irmaos enfermos em geral precisam enfrentar, além da enfermidade em si, é a questio da alimentacéo diferenciada. Em geral as pessoas responséveis pela alimentacdo ou coordenadores de casa experimentam dificuldade em compreender que, no caso de enfermidades, especialmente nas crénicas, 0 irmao enfermo deverd ter alimentacdo diferenciada (dieta médica) talvez durante toda 2 vida. € 0 caso das pessoas em tratamento quimioterdpico doméstico, pressdo arterial alta, tratamento com corticoides, esteroides, dentre outros. £ necessério ser sensivel &s necessidades do irmo, ainda que se tenha que fazer um sacrificio ‘orgamentério ou nutricional. Casos desse tipo nos ajudardo a entender bem 0 que, de fato, é a pobreza e a riqueza dos irmaos que se empobrecem para enriquecer, bem alimentar o que precisa. Assim faz uma familia, Assim fazem pai e mae. A alimentacdo é um aspecto muito sensivel no relacionamento entre as pessoas e 0 desprezo pela alimentaco de um irm&o em sofrimento certamente algo para ser evitado a todo custo pelas autoridades. Nao humilhemos nossos irméos! (O mesmo se diga com relago a medicamentos de uso continuo néo fornecidos pelo governo. Eles devem ser providenciados antes que terminem. Gracas a Deus, a comunidade tem, hoje, setores que se encarregam da providéncia da medicacao, consultas médicas e cuidados como fisioterapia, dentre outros. Entretanto, é necessario nos lembrarmos de que por vezes a pessoa enferma sofre uma espécie de “atordoamento” ou leitura equivocada do préprio estado e ndo tem como tomar providéncias simples como essa. Nao abandonemos nossos irmos & propria sorte! 18 8. Hade se dizer algo, igualmente, acerca dos irmos que necessitam de horérios diferenciados dos da comunidade durante certo periodo. Ha enfermidades e medicamentos que provocam ins6nia ou sonoléncia, por exemplo. Outros que provocam falta de atenco ou astenia (moleza). Outros que geram apetite excessivo ou falta de apetite e enjoo. Outros, dores de cabeca ou dor no corpo. Esse estado de coisas exige consideracdo individualizada de cada caso. E impressionante como temos @ reacdo (ignorante, por certo) de dizer “E somatiza¢ao", querendo dizer “a culpa é dele/dela”, mas falaremos sobre esse tipo de ignordncia adiante. Outro erro de discernimento muito comum é achar que a oragdo vai resolver aquele caso, colocando a pessoa diante do Santissimo ou para ler determinada passagem da Biblia ou Estatutos. Chega a ser engracado, se no fosse estarrecedor. A injustica, segundo 0 papa Francisco, € © mal consentido. Deus nos livre do excessive rigor e julgamento que gera a injustica para com os enfermos| fh, Uma palavra sobre irmlos que necessitam de permanente assisténcia devido a limitagées motoras ‘ou emocionais. A obviedade da situacSo no nos deixa muito a dizer. Um irmao com limitagao motora ou emocional necesita de constante assisténcia pols sua integridade fisica pode ser posta ‘em perigo se ele estiver desassistido, o que pode resultar em acidentes fatais. Zelemos pela vida do 110550 irmao! i, Parar para ouvir, parar para escutar a Deus, parar para agir. Uma enfermidade ndo se cura de um dia para 0 outro, Nem uma simples gripe. Inumeras vezes, a pressa, a superficialidade na conversa com o irmao enfermo nos leva a tomar a aparéncia pela realidade, como diz © papa Francisco (EG, 61). € preciso parar, ouvir, olhar nos olhos, sentir com ele, ouvir seus medos, suas insegurancas, seus sintomas com tengo. Quantas vezes nossos médicos nos'ddo uma orientagio e os irmaos parecem ignord-la por no ouvirem atentamente e até o fim! E 0 doente que muitas vezes precisa insistir em lembrar 0 que 0 médico recomendou. E espantoso perceber 0 quanto necessitamos nos ouvir melhor, com maior aten¢o, com zelo e com 0 coragdo aberto e a servigo auténtico ~ e ndo meramente educado ou formal - da cura do enfermo ou limitado! Sei que me ative demasiadamente & realidade do Brasil, alguns paises da América do Sul e da Africa. Gragas a Deus a realidade dos outros continentes ¢ bastante diferente. La, 0s irm&os enfrentaro o desafio de indo saber expressar as proprias dores na lingua do pais, mas terdo a melhor assisténcia médica no momento mais adequado, gracas a Deus. Precisardo, entretanto, da presenca, atencio, ajuda, oracdo e companhia que ‘nem o melhor plano de satide social do mundo ¢ capaz de dar. Papa Francisco ajuda-nos a meditar. Note-se que ele se refere ao “primeiro anincio”. Imagine o que diria de uma vida comunitaria: “A aceitagdo do primeiro anincio, que convida a deixar-se amar por Deus e a amé-lo com 0 amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas suas agdes uma primeira e fundamental reacdo: desejar, buscar e cuidar do bem dos outros.” Maria Emmir O. Nogueira Para orar: Mt 7, 12 - Regra de ouro ~ fazer ao outro o que se desejaria que fosse feito consigo MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 62 SEMANA TEMA Quando 0 irmao diz que esté doente, mas nem parece... OBJETIVO Para o VER: Compreendermos melhor, como familia, 0 que si essas enfermidades: disturbios de Caréter, distlirbios na afetividade, as manias e as psicopatias; quais séo as possiveis causas, e, sobretudo, como ajudar alguém com alguma dessas enfermidades. Para o MOVER-SE: Refletir como temas reconhecido nos nossos irméos “o prolongamento permanente da Encarnacao para cada um de nés" e nos ajudar a estarmos atentos aos gritos "surdos” de sofrimento dos nossos irm&os e socorré-los prontamente. TEXTO PARA LEITURA E ORACAO QUANDO 0 IRMAO Diz QUE ESTA DOENTE, MAS NEM PARECE... Quando alguém diz que “no esté se sentindo bem” em geral quer dizer que ha algo errado com ele, ‘mas no sabe definir o qué, nem se é em seu corpo, sua alma ou seu espirito. E isso 0 que significa “adoecer”: ter 0 corpo ou a psique (alma) afetado por um agente interno ou externo de forma to insidiosa que todo seu ser diz: “N3o posso lutar mais contra isso (germe, bactéria, virus, disfuncdes organicas, tenses, estresses). Eu (meu corpo, minha psique, ambos) ndo aguento mais!” Em outras palavras, é esse o principal sintoma de qualquer adoecimento: "Ha algo errado e eu ndo aguento mais!” Mas, como isso é manifestado, como decodificar esse grito de sofrimento? Conta-se que Sao José Maria Escriva de Balaguer exortava seus discipulos a se anteciparem as necessidades de seus irmaos ensinando-os a estar sempre atentos aos riscos e sintomas. “Quando vocé souber que seu imo idoso passaré por um local, retire do caminho os tapetes antes dele passar. Assim nao temera cair e nem perceberd que foram retirados”. Antecipar-se através da caridade atenciosa é, sem duvida, virtude a ser cultivada. O primeiro grito de um doente, em geral, 6 0 que se conhece como “grito surdo”. Abafado. Indecifrado pela prépria pessoa. € normal que se leve algum tempo até se perceber que se esta doente. Entra aqui a atenta logica da caridade. Hé mudangas no humor, na disposigo, na postura, na vida de ora¢o, na vida comunitaria, no comportamento. E ‘© momento de prevenir, de levé-lo a repousar um pouco mais, alimentar-se melhor, expor-se menos. [sso para ‘no mencionar a prevencao através do exercicio fisico. Algumas vezes, entretanto, ndo hé como notar nada, pois o imo esta sempre “bem”. Nesse caso, & esperar até que 0 corpo ou o humor dele digam “no aguento mais!” e enfermidades se manifestem. Seja como for, quando o irmao diz que esté doente, é preciso crer que ele esté doente. Sera muito facil julgar que € invencionice, ou “psicolégico”, ou emocional, ou uma forma de chamar ateng&o. Aliés, seja invencionice, caréncia, emocional ou “psicolégico’, trata-se de um adoecimento que requer atencdo. E, portanto, nosso dever acreditar que o irm@o esté doente. Nem todos tém a capacidade de expressar 0 que sentem e como sentem. ‘Temos a mania um pouco ignorante de achar que somatizagies no so enfermidades. Esse tipo de ensamento, além de denotar grave ignorancia da parte de quem o tem, seria como dizer algo como: “Nao... & uma meningite, mas é bacteriana. Nao precisamos the dar atenglo! Se fosse virética, al, sim...!" Seria ridicula uma afirmacao ignorante dessa. A causa da enfermidade iré interessar, sem duvida, a0 médico. A quem vai cuidar do doente, interessam as recomendagdes do médico e a atencdo, paciéncia, carinho e ternura com 0 irmao, independente da origem de sua enfermidade. A somatizacao é uma defesa do ser inteiro. £ um grito de dor muitas vezes abafado por longos anos de doacao e amor. Deveria, na verdade, ser mals respeitada que a doenca bacteriana ou viral. Ignorar o grito de dor de corpo ou de alma de um irmao no & caridade. Ele precisa de socorro, de atencdo, de tempo, de apoio, de caridade, paciéncia e confianca, pois, pelo menos por um periodo, com certeza no sera tdo produtivo e ativo quanto nds gostariamos. Mas, diante de Jesus crucificado, 0 que é mesmo atividade e produtividade? Quem consegue medir a produtividade do sofrimento vivido em Cristo? Sua morte de cruz foi, no final das contas, tomar sobre todo seu ser — inclusive o soma, o corpo —o pecado que cabia a nés tomar e que, mesmo hoje ele divide com alguns que, como ele, levam em seu soma 0 peso do pecado da comunidade e do mundo, ‘As somatizacdes podem vir de causas imediatas, como excesso de trabalho, tensao, preocupacao, medo, inseguranca, mudanga de cultura ou pais. Podem também vir de causas remotas, como sofrimento mal vivido 1na vida pessoal e familiar, na hist6ria da prépria comunidade. Seja lé como for, so sempre um imenso grito de dor expresso no corpo e merecem toda atengio e respeito. ‘Ags poucos, nossas casas precisardo ter barras de sustentacdo nos banheiros, aquecimento para os que sofrem de artrite, portas largas para cadeiras de rodas, alimentago especial para os enfermos. Aos poucos, 0 Senhor nos treinard na paciéncia de escutar as mesmas historias, de repetir as mesmas recomendagbes, de explicar as mesmas razdes. Aos poucos, teremos profecias mudas, somatizadas em nossas casas! Como as acolheremos? Por enquanto, ainda estamos em treinamento, envelhecendo juntos. Por enquanto, 0 desafio é ndo julgar, ndo criticar, nfo expor, no duvidar, no exigir além do possivel. Por enquanto, é aprender a ver Jesus no imo que se doou até a exausto e que, muito provavelmente tem um ritmo diferente do seu. € refreara lingua quando quiser dizer: “Eu também estou trabalhando muito, estou cansado e nem estou pedindo folga!” € saber ser grato pelo iro que esta sob forte tensdo, stress, burnout (estafa), pois ele se deu até esse ponto por amor, mesmo que voce no julgue assim. Foi o que ele pode dar, o que ele soube dar, como ele conseguiu se dar. E muito itl conhecer a origem de algumas palavras que a psicologia tomou emprestado da fisica. Por exemplo, quando uma viga trabalha sob um peso, ela se verga para néo romper e isso custa a ela muito mais esforgo do que quebrar. Quando um material precisa ser testado, ele é submetido a uma tenséo que gera um stress: por exemplo,coloca-se peso em suas duas extremidades de uma viga de metal e apoiando-a somente no centro. Ela vergara até seu ponto maximo de stress. A partir dai, se continuar a sofrer a mesma tensdo ou tenséo maior, se rompera em um burnout, estafa ou desgaste tal que a levaré a romper-se, ou até perder, no ponto de stress suas caractersticas moleculares originas. 'Nosso preconceito nos leva a considerar enfermidades como estresse, estafa, depresséo, ansiedade, sindrome do panico, TOC, fobias como doencas dos fracos. Longe disso! Quando exégenas, séo enfermidades caracteristicas dos que lutaram além das préprias forgas e da prépria vontade por amor a Deus, & humanidade, 2 Igreja, S80 enfermidades daqueles que sempre acharam que, por amor, poderiam aguentar um pouco mais, tum pouco mais, um pouco mais. Enfermidades so indesejéveis, como todo mal. Algumas vezes evitéveis, mas de forma nenhuma caracteristica dos fracos! Os fracos desistem. Nao adoecem. Abandonam a luta para melhor passar! Pensam mais em si do que na doag3o de si Outro preconceito a considerar aqui é 0 do tratamento dessas enfermidades emocionais. Ndo temos preconceito quanto a procurar um médico para as enfermidades fisicas, mas quando se fala em buscar um profissional para os males “da alma” é um tal de segredo, de deus-nos-acuda, de no expor o irmao! Por que, mesmo? Esse e todo preconceito & contrério 8 caridade, dificulta a cura e a reinserc3o do irmao, 21 ‘Mais uma vez ajuda-nos 0 Papa: “0 laco indissolivel entre a recepgdo do ontincio salvifico e um efetivo amor fraterno exprime-se nalguns textos da Escritura que convém considerar e meditar atentamente para tirar deles todas as consequéncias. £ uma mensagem a que frequentemente nas habituamos e repetimos quase mecanicamente, mas sem nos ‘ssegurarmos de que tenha real incidéncia na nossa vida e nas nossas comunidades. Como é perigoso & prejudicial esse habituar-se que nos leva a perder a maravilha, a fascinagdo, o entusiasmo de viver o Evangelho da fraternidade e da justica! A Palavra de Deus ensina que, no irmdo, esté o prolongamento permanente da Encarnagéo para cada um de nés: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irm@os mais pequeninos, foi a ‘mim mesmo que o fizestes (Mt 25, 40). 0 que fizermos aos outros, tern uma dimensdo transcendentel” (EG 179) Maria Emmir 0. Nogueira Para orar: Mt 5, 41; Le 6, 30-31 2 MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 72 SEMANA TEMA prurido da transferéncia do irmo enfermo ou debilitado OBJETIVO Para o VER: Compreendermos melhor, como familia, 0 que é 0 transtorno do déficit de atencio e hiperatividade (TDAH), 0 stress e a estafa; como evitar, quais séo as possiveis causas, e, principalmente, como deixar-se ajudar e como ajudar alguém com alguma dessas enfermidades. Para o MOVER-SE: Refletirmos e compreendermos melhor a grande graca que é para uma comunidade {a profecia do irmao enfermo e nao cairmos na tentago de antepor o nosso bem ao dele, ao ensejarmos a sua transferéncia. TEXTO PARA LEITURA E ORACAO (© PRURIDO DA TRANSFERENCIA DO IRMAO ENFERIMO OU DEBILITADO Quando nao entendemos a “mistica do imo” a que se refere o Papa Francisco na EG ou quando néo entendemos a graca que é para uma comunidade a profecia do irmao enfermo, podemos cair na tentacio de transferi-1o nao para seu préprio bem (como seria a transferéncia para um centro mais avancado de tratamento) mas porque “no rende como antes”, ou porque “a missio nao tem condig6es financeira para cuidar dele”, ou ainda porque “somos poucos para nos dedicarmos a ele”, Esse tipo de raciocinio, que nao é voltado absolutamente para o bem do imo e melhor tratamento de seu estado de satide, € um acinte & caridade e pode ferir profundamente 0 enfermo ao retiré-lo do meio de irmaos e amigos com quem se sentia em casa para uma outra misao de irmos com quem nao tem intimidade € que iro cuidar dele, certamente com todo esmero, mas talvez de forma invasiva. Nao é agradével ter seu corpo, por exemplo, banhado por uma pessoa de quem vocé nao é intimo, ou ser sustentado por alguém que vocé nunca viu, ou ter que entabular conversa enquanto alguém pouco familiar the leva alimenta¢o ou remédio. Nao é fécil pedir um favor a alguém meramente “escalado” para culdar de voce. (O medo da responsabilidade com um irmao gravemente enfermo pode levar a comunidade a prescindir de oportunidade de crescimento e amadurecimento que o préprio Senhor Ihe esté providenciando. Diz Francisco, 0 papa: “Nisto esté a verdadeira cura: de fato, o modo de nos relacionarmos com os outros que, em vez de nos ‘adoecer nos cura, é uma fraternidade mistica, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do préximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivéncia agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir 0 cora¢do ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom.” (EG, 92) 0 “prurido da transferéncia”, que significa achar que mudar de casa ou de lugar resolve todo desafio da convivéncia e “melhora” toda enfermidade pode ser tentaglo tanto das autoridades e da casa comunitéria quanto do enfermo. Novamente o papa Francisco: “Um desofio importante é mostrar que a solucdo nunca consistiré em escapar de uma rela¢éo pessoal e ‘comprometida com Deus, que 00 mesmo tempo os comprometa com os outros. Isso é 0 que se verifica hoje quando os irméos procuram esconder-se e livrar-se dos outros, e quando sutilmente escapam de um lugar para outro ou de uma tarefa para outra, sem criar vinculos profundos e estéveis. “A imaginacdo e mudanca de lugares 23 enganou @ muitos”. € um remédio falso que faz adoecer 0 coracdo e, as vezes, 0 corpo. Faz falta ajudar a reconhecer que 0 Unico caminho é aprender a encontrar os demais com a atitude adequada, que é valorizd-los e aceita-los como companheiros de estrada, sem resisténcias interiores. Melhor aindo, trata-se de aprender a descobrir Jesus no rosto dos outros, na sua voz, nas suas reivindicacdes; a aprender também a sofrer, num abraco com Jesus crucificado, quando recebemos agressGes injustas ou Ingratidées, sem nos cansarmos jamais de optar pela fraternidade.” (EG 91) Maria Emmir 0. Nogueira Para orar: Mt 6, 25-34 - A providéncia divina MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 83 SEMANA TEMA ‘Saber convalescer, saber depender, saber envelhecer OBJETIVO Para o VER: Compreendermos, refletirmos e dialogarmos, como familia, sobre a terceira idade e sobre a sadia convivéncia entre idosos, jovens e criancas na comunidade e descobrimos juntos a nova forma de amar e ser amado na comunidade de vida. Para 0 MOVER-SE: Refletir como temos reconhecido nos nossos irmaos “o prolongamento permanente da Encarnaco para cada um de nds” e nos ajudar a estarmos atentos aos gritos "surdos” de sofrimento dos nossos irmaos e socorré-los prontamente. ‘TEXTO PARA LEITURA E ORACAO SABER CONVALESCER, SABER DEPENDER, SABER ENVELHECER ‘Quando se pensa nas enfermidades na Comunidade de Vida, no tempo em que vivemos, é preciso Considerar os dois lados da moeda. € preciso humildade, caridade, prudéncia e sabedoria para, na caridade saber convalescer, saber depender, saber envelhecer. Pela oracdo e auxilid dos irmaos, aqueles com enfermidades crénicas aprenderdo aos poucos a mistica de estar doente como oferta agradavel ao Pai em Cristo Crucificado em favor dos jovens, da humanidade e da Igreja. Temos, j, na comunidade, irmaos que vivem essa mistica da cruz, t80 preciosa para todos. Irmos que vivem suas enfermidades cronicas e incurdveis na esperanca, na fé © na caridade. sofrimento pela enfermidade aguda ou crénica é um aprendizado mistico profético e precioso. Mas, como todo aprendizado, exige humildade. € preciso aprender com o Santo Espirito a sofrer, convalescer, depender, deixar-se cuidar. Sim, ¢ 0 Espirito quem ensina essas coisas, uma vez que tocam a esfera da mistica. © grande, enorme perigo, é 0 orgulho que deseja ensinar a comunidade e nao aprender do Espirito Santo. O desafio do irm&o doente, convalescente é viver unido a Jesus Cristo humilhado e padecente, a mansidio, a humildade, 0 aceitar ser esquecido, deixado sé, no socorrido em suas menores necessidades, vendo isso como providéncia de Deus, embora evidencie a negligéncia dos outros irmaos. O segredo para quem esté enfermo ou dependente, ou que padece de doenca cronica, é esmerar-se em fazer entender sua enfermidade, necessidades e limitaco no somente uma, mas duas, trés, dez vezes. £ suportar com paciéncia que todos insinuem que sua enfermidade é “emocional” como se essa origem dos males fisicos 0s fizesse “inexistentes” ou responsabilidade do proprio enfermo e no da comunidade. £ entender a boa vontade dos que insistem que ele se levante para participar dessa ou daquela atividade, confraternizagao, reunio, evento. £ compreender caso os irméos responséveis ndo se esforcem por compreender mais a fundo seus desafios. Entender, igualmente, que sua enfermidade, limite ou situacdo de dependéncia podem deixd-lo irritadico, irénico, impaciente, grosseiro, revoltado e orar para que isso no prejudique a ele e aos irmaos. O irmao enfermo, convalescente ou limitado precisa esmerar-se em viver a mistica do seu sofrimento ‘em unio com Jesus Cristo Intercessor, Sacerdote, Profeta e Rei, que padece em sua carne pela salvacéo dos jovens e dos homens e para o bem da Igreja. Hé toda uma mistica a ser desenvolvida nessa condigio. ‘A mistica do envelhecimento com sabedoria também deve ser desenvolvida em nosso meio. Envelhecer ‘com sabedoria requer aceitar o periodo da vida em que se est alegrando-se e aprendendo a conviver com os 25 irmaos em outra fase da vida, respeitando suas expresses e modo de viver e procurando, com paciéncia, que respeitem os da pessoa mais velha. _Também com relacdo ao envelhecimento a comunidade deve estar atenta a atividades fisicas, alimentacao e periodos de sono proprios de cada pessoa em processo de envelhecimento, assim como suas roupas, seu colch3o, seus sapatos, seu transporte, etc. Deus nos livre de, ao ficarmos nés préprios mais velhos, venhamos a nos arrepender da forma como tratamos os que envelheceram em nosso meio! Mais uma vez 0 Papa Francisco vem em auxilio dos enfermos, limitados e dos irmfos sadios que convivem com eles: “Sede misericordiosos como 0 vosso Pai & misericordioso. Néo julguels endo sereis julgados; ndo condeneis e néo sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-d dade [..] a medida que usardes com 0s outros seré usada convosco” (Lc 6, 36-38). Nesses textos, exprime-se a absolute prioridade do “saida de si pr6prio para o irméo”, como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como 0 sinal mais claro para discernir sobre 0 caminho de crescimento espiritual em resposta & doagdo ‘absolutamente gratuita de Deus. Por isso mesmo, “também o servico da caridade é uma dimenséo constitutiva da missdo da Igreja e expressio irrenunciével da sua prépria esséncia” (EG 179) ‘Maria Emmir 0. Nogueira ra orar Le 6, 36-38 MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 92 SEMANA TEMA Conhecendo aspectos da satide infantil OBJETIVO Para o VER: Compreendermos, refletirmos e dialogarmos sobre alguns aspectos da satide infantil para melhor vivermos como familia. Para o MOVER-SE: Refletirmos sobre a nossa vivéncia do amor gratuito e desinteressado. TEXTO PARA LEITURA E ORACAO SANTA MONICA, SANTO AGOSTINHO E 0 ESCORPIAO Conta-se que todos os dias Santa Ménica costumava caminhar com seu filho, Santo Agostinho, ao longo do rio que cortava a cidade de Hipona. Nesse tempo, Agostinho ainda nao havia se convertido ao Cristianismo. Numa dessas caminhadas matinais, Ménica viu um escorpigo sobre a folha de uma mangueira, querendo atravessar o imenso rio. Temendo que 0 escorpiso morresse afogado, disse a Agostinho: - Veja, meu filho, aquele pobre scorpio vai acabar morrendo afogado; eu vou salvé-lol ‘Ménica, entéo, ingressou no rio e pegou delicadamente o cabinho da folha da mangueira, onde estava perto de colocar a folha sobre a areia, 0 escorpiéo @ picou, fugindo em seguida. Resultado: Santa Ménica ficou uma semana de cama, ‘Ap6s perfeita recuperacéo, ela voltou a caminhar com seu filho ao longo do rio de Hipona, quando, de repente, viu aquele mesmo escorpiso sobre uma folha de mangueira, querendo atravessar para a outra margem do rio. Disse, entdo, Manica a seu filho Agostinho: ~ Veja s61 0 mesmo escorpio que me picou esté tentando, outra vez, atravessar 0 rio. Ele pode, morrer afogado. Vou salva-lo! ‘Mesmo sabendo do perigo, Manica entrou no rio, trouxe a folha pelo cabinho e nao desgrudava o olho do escorpido, Quando estava jé perto de colocé-lo sobre a areia, 0 escorpido picou e saiu correndo. Monica, entdo, foi obrigada a ficar mais uma semana acamada ‘Apés recuperar-se da picada, ela voltou aos seus passeios matinais 20 longo do rio de Hipona, juntamente com seu filho Agostinho. Viu, entdo, pela terceira vez 0 escorpido querendo atravessar para a outra margem. Ela, entlo, disse a seu filho Agostinho: ~ Veja meu filho, aquele escorpido teimoso vai se afog: ‘Antes que ela terminasse a frase, Agostinho retrucou. = Nao, mie! Nao invente de salvar esse escorpigo. A senhora no sabe que ele vai picé-la pela terceira vez? Ela, ent&o, num misto de teimosia e persisténcia, se dirigiu ao rio, entrou na agua, pegou a folha sobre a qual estava o terrvel escorpido e a levou para a terra firme. O escorpido, vendo que Ménica nao Ihe faria mal algum, saltou da folha e fugiu sem picd-la. 27 ‘Santa Ménica ficou ali parada, rodando, pelo cabinho, a folha da mangueira diante do seu filho, e disse- the: _~ Agostinho, a ele, pela natureza, cabe picar. A mim, que sou crist, cabe salvar, (Texto tirado do livro "Era uma Vez... 100 historias e pardbolas que educam para a vida" - Dom Gregorio Paixo, OSB - Edigbes S80 Bento, 2011) ra orar ~ Rm 12, 9-21 ~ Que vossa caridade nio seja fingida 28 v MANUAL DE FORMACAO DA COMUNIDADE DE VIDA 2013-2014 BLOCO IV — AO VE-LO MOVEU-SE DE COMPAIXAO (Lc 10,33) 102 SEMANA TEMA r ‘A mistica do sofrimento OBJETIVO - Para 0 VER e o MOVER-SE: Refletirmos sobre a mistica do sofrimento e de como o irmao que sofre v vive um novo aspecto do Amor esponsal, a fim de melhor compreendermos e ajudarmos os irm&os que vivem essa mistica. = ATO DE ENTREGA A MARIA Bem-Aventurada Virgem de Fatima, com renovada gratidio pela tua presenca materna unimos a nossa voz a de todas as geragdes que te : dizem bem-aventurada. Celebramos em tias grandes obras de Deus, que nunca se cansa de se Inclinar com misericérdia sobre @ humanidade, atormentada pelo mal e ferida pelo pecado, para a guiar e salvar. Acolhe com benevoléncia de Mie o ato de entréga que hoje fazemos ‘com confianca, diante desta tua imagem a nds to querida ‘Temos a certeza que cada um de nés precioso aos teus olhos e que nada te & desconhecido de tudo o que habita os nossos coracdes, Deixamo-nos alcangar pelo teu olhar dulcissimo e recebemos a caricia confortadora do teu sorriso. Guarda a nossa vida entre os teus bracos: abencoe e fortalece qualquer desejo de bem; reacende e alimenta a fé; ampara eilumina a ‘esperanca; suscita e anima a caridade; guia todos nés no caminho da santidade. . Ensina-nos 0 teu mesmo amor de predilecdo pelos pequeninos e pelos pobres, pelos excluidos e sofredores, pelos pecadores e os desorientados; reine todos sob a tua protecdo e recomenda todos 20 teu dileto Filho, nosso Senhor Jesus. ‘Amém, : TEXTO PARA LEITURA, PARTILHA E ORACAO ‘AMISTICA DO SOFRIMENTO 0 Servo Sofredor, cujo rosto todos evitavam, Jesus abandonado, acoitado, desprezado, inativo, exangue, inerte, profundamente triste “de uma tristeza mortal", crucificado, inaugurou nova mistica do sofrimento. Precisamos compreender que o irmio portador de uma enfermidade crénica ou aguda, se ele a vive unido a Cristo, ¢ chamado a viver essa mistica do sofrimento inaugurada pelo Esposo. Viveré um novo aspecto do Amor Esponsal, seja por poucos dias, seja de forma prolongada. Seu ritmo, seu tipo de oraco, seus pensamentos, até ‘sua consciéncia de unigo com Cristo e com 0s irmdos, nao sero os mesmos que se estivesse sadio. -Por outro lado, no serdo os mesmos de Santa Teresinha ou So Joao da Cruz em suas respectivas ‘enfermidades e agonias. Cada um desenvolve uma forma tnica e profética de viver os sofrimentos do Servo de Isaias. No podemos exigir isso deles. Nosso papel é servi-los, nao oprimi-los com nossos conceitos. Lembro-me, a propésito, de nosso irmao Carlos, j4 no céu, mesmo estando ja préximo & morte jogava futebol em video game instalado em seu quarto. Algumas pessoas criticavam essa sua atitude e nos condenavam or acharem que precisavamos prepara-lo para morrer, jé que seu estado se tornava cada dia mais critico, Certo dia em que fui fazer curativo em sua laringe, retirando os pedagos do cdncer que no 0 deixavam respirar, ele pediu para desligar 0 jogo e me disse: “Emmir, o pessoal acha estranho eu estar jogando ao invés de rezar, no é? Pois eu te digo que gosto muito de jogar e alegrar os irmos que vém aqui ficar comigo e cuidar de mim e quando estou de olhos fechados, muitas vezes nao estou dormindo, mas rezando e ofertando a Deus meu sonho de viver em comunidade, de casar e ter meus filhos pelo bem dos jovens e da Igreja.” ‘Como as aparéncias enganam! Como é facil julgar! Como seria leviano querer determinar até a forma de adoecer e de morrer de um irmao! Ha alguns dias atras, dia 14 de Dezembro de 2013, dia de So Jodo da Cruz, Pe. Denys fez uma homilia sobre 0 sofrimento. Esta transcrita abaixo a fim de que todos nés, que sofremos por ter uma enfermidade ou or ter entre nés um irmao enfermo, crescamos nesta mistica que nos é dada como precioso tesouro: “Sao Jo%o da Cruz é um homem plenamente convicto de que seu caminho era um caminho de oferta e de amar na dor se unindo ao Senhor. No caminho dele, dizia: “enquanto estivermos nesta terra a nds convém o pior’, e ele vivia desta forma, buscando uma vida muito ascética. As vezes a gente, sem querer, atenta contra o mistério da cruz na nossa vida. As vezes adoecemos e naquele tempo de doenca parece que a ac3o mais espontanea é: estou perdendo. tempo, poderia estar fazendo algo pelo reino de Deus. A gente enfrenta outros tipos de sofrimentos e parece que aquele tempo é como que um paréntese na nossa vida - daqui a pouco eu volto para minha vida normal, volto para minha vida missiondria; eu volto a fazer alguma coisa por Deus. A visio de Jesus no era essa. A visio dele era: “como vou dizer ao Pal afasta de mim este célice se foi exatamente para isso que vim?". A gente até sabe disso e talvez 0 momento mais importante da nossa vida crista é 0 momento em que a gente vai transformando as nossas ofertas de dor em ofertas de amor. Mas quando este conhecimento intelectual tem que se traduzir num conhecimento experiencial a carne treme, como tremeu até a de Jesus na angustia do Getsémani. Temos que ter consciéncia de que aquela é a hora da Gidria de Deus, aquela é a passagem para a Ressurreicao, aquela é a morte do velho para 0 inicio do novo. Aquele é um momento Unico de darmos uma prova de amor a Deus, um momento que vai passar, que precisa, portanto, ser aproveitado ao maximo. Ontem a liturgia falava desta graca que passa e nés devemos olhar com temor e tremor para a graca que passa. Os momentos de dores véo passar porque nds vamos terminar nossa histéria na Gléria de Deus, mas esses momento de dores 530 Unicos e vai chegar o dia em que ndo vao mais existir. Entretanto, é naquele momento Unico que pode subir um incenso ao céu, porque nunca mais vai existir aquela dor, podem vir outras, mas aquele momento & dnico de vocé dar glérias a Jesus e dar uma grande prova de Amor. A dinamica do Reino de Deus é esta dinémica redentora. S6 existe uma forma de cooperarmos com Jesus: Seguirmos 0 mesmo caminho Dele, assumirmos as consequéncias do mal sobre nds e transformarmos isso em amor, em oferta pelos homens e por Deus. A liturgia de hoje vem falar exatamente desta batalha da profecia contra 0 mundo que resiste. A vinda de Elias antes do Messias era exatamente esta manifesta¢30, como ouvimos ontem na homilia do Pe. Romulo, esta manifestago uitima da forca da profecia que tinha acompanhado todo 0 povo do Antigo Testamento e que clamava mais uma vez no meio do deserto por conversso. Nesta voz forte: “Elias como te tornaste glorioso por teus prodigios, pela palavra do Senhor fechou 0 céu e de Id fez cairo fogo por trés vezes”. A palavra de Deus é como uma espada de dois gumes, € como fogo que cai do céu. Esta profecia vem lutar contra as trevas e dissipar o mal, e a grande forca da palavra de Deus vem também quando ela esté ligada a oferta de vida. Elias e Jodo Batista, que vieram antes do Senhor eram estes homens profundamente ligados 4 perda de si pelos outros. N30 0 culto do sofrimento, mas do Amor verdadeiro nesta terra, terra marcada pelo pecado, pelo sofrimento do homem. E 0 Reino de Deus sofre violéncia todos os dias, como diz o Evangelho, e 880 05 violentos que o arrebatam. Pecamos a0 Senhor essa forca da alma. Nao se trata de um convencimento intelectual: “entendi, vou viver assim”. E necessario pedir a Deus virtude, é necessério pedir a Deus forca para passar por este feliz caminho que vai unindo a alma ao Senhor, que vai trazendo o céu a esta terra, © céu dentro de nés e o céu que resplandece de dentro daquele que vo se unindo 8 cruz para homem de hoje que vive nas trevas. Pecamos ao Senhor essa dindmica para a nossa vida. ‘Sao Jodo da Cruz viveu este mesmo caminho de Jogo Batista, trazia uma profecia muito forte: a reforma na ordem carmelitana e também no seu ramo masculino, e, como Jodo Batista fol preso, rejeitado e morreu aparentemente de uma morte natural, mas, no fundo, ja ndo era mais uma morte natural porque foram os intimeros maus tratos nas prises que ele recebeu que 0 acabou levando a esse martirio, vamos dizer assim. Pecamos ao Senhor que o testemunho deste santo nos incentive a amar mais o Senhor. Gostaria de oferecer esta Eucaristia pelos irmaos que enfrentam a luta contra as trevas de forma bem real nos paises perseguidos, eles se unem a igreja persequida de uma maneira muito concreta estando Id. Vamos interceder por estes irmaos nesta Eucaristia. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! (Homilia transcrita do Pe Denys Lima - 14.12.13) Para rezar — Isafas 52,13-53,12 Servo Sofredor ‘Maria Emmir 0. Nogueira 31

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