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* is GP eae REDACGAO © ADHINISTRAGRO. > Pxorminrame, Dikncton 2 Kolton: Franciseo de Paula A. da Siheira Pinto Peg s (GOWPOSTA E IMPRESSA HA ImprENsA CIviLisacko PO a 3 : Por obsequio, aio representantes © correspondentes desta os nossos estimaveis iemios na ‘Rio. de Janciro, M. Faria Pereira, ra Voluntarios,-10, (moderne), Botafogo—Porto "Jodo Gay, rus Arvorede, 98.—Pard, Jost Domingos da Silva Lopes, cidade de Belem.—Carlos de Souza ¢ Cunha, Alagoinhas, Estade da Haahia—Brazile “ Revista Espirita com- plete, com o presente numero, 0 seu undeci- mo anno e com elle termina a sua publica. Gio. A nofasta influencia do Jesuita que pouco a pouco invadira Portugal eo procurava dominar, obrigava a com- bater as doutrinas que, em prol de seus interesses e com manifesto pre- juizo da humanidade ia infiltrando nos espiritos. Implantada, porém, a Republica, ¢ pelo seu governo decretada a liber- dade de pensamento e de cultos, ex- pulsos os jesuitas e fechados tudos os coios por onde principalmente faziam irradiar, sob todas as formas a sua influencia, reconhecido o direito de divoreio e decretada a separacto da Egreja do Estado, desnecessario se torna a nossa acciio. Ao terminar a nossa publicac&o nio devemos esquecer de patentear, a todos quantos acceitaram a Revista Espirita e contribuiram para a sua sustentagiio, o nosso profundo reco- nhecimento. E pelo valioso e desinte- ressado concurso prestado & mesma pelos nossos estimaveis representan- tes e correspondentes snrs. Jo%o Gay, de Porto Alegre; M. Faria Pereira, do Rio de Janeiro; José Domingues da Silva Lopes, do Para, cidade de Belem; Augusto Simdes Carril, do Pard; e José Joaquim da Silva Braga, de Maceid, dos quaes recebemos tio valioso como. desinteressado auxilio, nao podiamos deixar de os especiali- sar confossando-nos eternamente gra- tos, A todos os nossos irmios na Cren- ga 0 Fe Pas, Justiga ¢ Amor. A Redacep&o. NATAL O facto assombroso de que foi thea- tro o pobre estabulo de Belem, é, e seré eternamente commemorado pela humanidade, como a maior e mais grandiosa verdade que testemunhou o Amor infinito do Creador para com a ereatura. O mais elevado Espirito que 4 Ter- ra tem baixado. Aquelle a quem Deus confiou a miss%io de vir entre os ho- mens, exemplificar a lei divina e lan- |gar a semente das verdades da Orea- gao e do Destino, apparece, como ai- rora de inextinguivel luz, nas miseras palhas de um estabulo em Belem, pa- Ta que 0 consorcio do Céo com a Ter- ra fosse firmado com um extraordi- | nario e bem caracteristico exemplo da Humildade, que é a base de todaa felicidade. Jesus, o Messias divino—-glorioso Apostolo da Justigae do Bem—as- senta o seu imperio de Amor e de Paz, na humildade do seu nascimento e na multiddo anonyma dos pequéninos que 0 rodeiam, derrubando assim todos os potentados da terra com t&o frizuntes exemplos das divinas dontrinas. A sua maravilhosa vida, que nem 8 ignoraneia nem a maldade poderio jémaie apagar da historia da huma-| nidade, 6 um facho inextinguivel d’on- de irradiam todas as virtudes, d’onde brotam todos os elevados e nobres sentimentos, que impulsionar devem todos os homens todos os povos pa- ra a realisacto da felicidade terrena e pata a conquista da gloria celeste. Jesus foi o primeiro de entre os mortaes, e porque o fui, firmou os pe- destaes de seu throno nas leis da Hu- mildade, da Oaridade e do Amor,|. exemplificando as divinas doutrinas desde Belem ao Calvario, d’onde, com @ resignagio de um justo divino, di- ¢tou o mandamento do eterno perdao. E' por isso que o seu reinado 60 uni- co que tem resistido e resistira & accaio dos tempos ¢ & maldade dos homens, obstinados em nao comprehender e seguir os seus divinos ensinos. O nascimento de Jesus na mais in- confortavel das habitagdes, longe de todos os humanos recursos, demons- trou & humanidade que, nfo sto os damascos, os bordados @ o8 oiros que podem tornar grande o homem e per- petuar a sua memoria, mas sim os seus sentimentos, as suas acgdes, os ornamentos, emfim, do seu espirito. | © apostolado de Jesus, synthetisou| @ regeneragéo da humanidade pelo Amor ¢ pela Caridade, pela Justiga 6 pela Liberdade e, assim, constituiu a unigio augusta do Céo-com a Terra, F’ para isso que aquelle éra, envia @ esta a luz necessaria para que com- prehendidos sejam os ensinos de Je- sus, e elles illuminar possam a cons- ciencia humana, que affastada tem si- |do do seu objectivo, pela ambigao des- medida dos que sé buscam as ephe- moras grandezas terrestres. Mas, co- mo as verdades de Jesus so as unicas leis que hiio de atravessar todos os se- culos, com propriedade para todo o gran de progresso humano, por mais |elevado que elle seja, a grandeza e o poder dos que 4 sombra de Suas dou- trinas buscam avassalar os povos, ha- de baquear para que implantadas se- jam as leis divinas. E hoje, que universal veneragio é prestada ao facto assombroso que ini- cion o periodo, embora secular, da re- generacio do genero humano—o nas- cimento do divino Messias—seja-nos permittido que nds, os mais pequenos @ humildes dos crentes em suas divi. nas verdades, nos unamos pelo pensa- mento a todos os povos nossos irmaos e, com elles, dirijamos ao Pae-de in-~ finito amor os nossos louvores @ uma humilde prece, para que o yen daa trevas que ainda occulta 4 humani- {dade a sublimidade da divina doutri- na, descorrado seja, afim de que todos os homens possam comprehender as eternas leis e, meditando as inabala- veis verdades do Evangelho de Jesus, repletos de amor e gratidio, saibam render gloria a Deus e preparar o Seu reinado—a Paz e a Fraternidade entre todos os povos. : eee ¢ —4 0 MSDMENTO NE JESUS © Cesar Augusto—o imperador roma- no, celebre pela oppressiio que exer- ceu sobre um poyo humilde e fraco, desejando servir de proferencia os in- teresses da sua dymnastia, embora contra 0 desejo « vontade do povo he- braico, dividiu em trez principados o reino da Judéa, cujos governos con- fiou aos descendentes de Herodes—o Grande,—celebre tambem pela foro- cidade de seus crimes. Esses governadores que, diz a his- toria, se chamaram Archeldu, Fellippe e Antipas, tinham amplos poderes pa- ra, no massacre do povo judeu, serem os continuadores do seu antepassado; @ isso pela raziio de que Cesar Augus- to, n&io queria que o humilde povo po- | desse conquistar jamais quaesquer di- reitos, nem mesmo o de ter uma re- ligido. Desejoso de conhecer o numero de escravos que tinha sobre o seu mando| e no intuito de mais e mais submetter | © povo ao seu despotismo, mandou proceder a um geral recenseamento nos seus dominios, afim de que nin- guem deixasse de estar sujeito 4 sua tyrannica vontade, Foi assim que, em obediencia a essa ordem, Maria a mae de Jesus e 0 virtuoso varao José, que mais tarde seria o Esposa da Virgem, como galileus que eram, procuram a cidade de Bethelem, onde se procedia ao recenseamento ordenado e onde} | (© Segundo communicagsos de um Es- pirito de laz —Jesus perante a Ohristandade, dovia apparecer, 4 luz da Terra, o Messias promettido que era a LUZ DO CEO. Assim, emquanto os huma- nos despotas, cegos pela vaidade e pela ambicao, entrinchoirados no seu orgulho, procuravam caleular as for- gas de que dispunham para escravisar 0 povo, a Bondade infinita permittia que no horisonte da Palestina, despon- tasse a aurora da humana redempgio, annunciando nao sé a liberdade dos pequenos e humildes, mas ainda a egualdade de todos os homens que, pelo Amér do Oreador, para um egual destino s%o caminhantes na jornada da vida. Pequena era a cidade de Bethelem, @ 0 povo que em grande massa ali concorrera, em obediencia ao édito do imperador, hayia enchido todas as es- talagens © casas, de forma que, os predestinados peregrinos, Maria José, s6 puderam obter abrigo as in- clemencias da estacio, na palhoga, de am simplese arruinado estabulo. D'es- ta forma, o poder material de um ho- mem, buscando coagir um povo livre ao dominio de sua vontade despotica, preparava inconscientemente a reali- sagio das prophecias, que anterior- mente haviam annunciado o nascimen- to, em Bethelem, do Salvador de Israel, segundo o dizer e pensar dos povos d’aquella epoca. Mas, Aquelle que o povo judeu, tomando 4 letra as intru- egdes dos prophetas, esperava que ‘viesse no meio das maiores grandezas, rodeado das mais sumptuosas galas e riquezas, appareceu numa humilde e pobre palhoga e, por esse facto, aquel- i mesmos a quem Elle vinha trazer a liberdade e a vida, foram os primei- ensinar-Ihes o caminho para o Reino da ros a nfo crér na sua missfio e, para|eterna verdade, da eterna felicidade. Elle, mais tarde, a pedir a morte. Pa- ra elles 0 Messias promettido, seria 0 mais poderoso rei que, governando materialmente a Judéa, a ella sabme-| teria todos 08 reinos e todos os impe- rios, Fatal cegeira, que de seculo em seculo tem manietado a consciencia humana ao ephemero goso da materia e limitado a vida ao estreito cireulo| los bons Espi | extasis o mais puro @ santo, e, voltan- de uma curta existencia! A Divina Sabedoria, cujas leis nao estilo sujeitas ao preconceito humano, tinha promettido pela bécea de seus ingpirados servidores, um rei liberta- dor, mas um rei que eternamente de- via governar moralmente os homens, libertando-lhe as almas para as enca- minhar & eterna felicidade, e naio um rei para satisfazer reprezalias, nem para sabmetter os povos pela tyran- nia. Assim, a vaidade e egoismo hu- mano, deu o Creador a mais grandiosa ligdo de humildade. O Rei que em Seu nome vinha libertar, nfo um po- vo mas a humanidade de todos os tempos passados e vindouros, nascia na palhoga de um misero estabulo! Elle poderia ter nascido, como es- poravam os povos d’aquelles tempos, nas grandezas e sumptuosidades dos dourados palacios, rodeado de pom- pas e honras, mas Blle nfo vinha a entre os homens deslumbral-os com vis -riquezas, intimidal-os com a op- presto e a tyrannia; Hile vinha trazer‘ lhes amor e caridade, fraternidade e paz, Elle n&o vinha submotter os povos 4s forgas materiaes de um reino, vinha “Nao vinha subjugar corpos mate- riaes, vinha libertar espiritos dos gri- Thdes do erro e das grosseiras paixdes. | Emquanto José, o santo variio, pro- curava no mercado de Bethelem o necessario para a sua alimentacioe da Virgem, esta, saturada dos fluidos di- yinos, em volta d’ella concentrados pe- Jos bons Espiritos do Senhor, entra em |doasi d’esse enleio divino que 86 08 | puros Espiritos podem comprehonder, encontra em seus bragos Aquelle que lvinha trazer a Luz ao mundo © a0 | mundo fora annunciado. Cheia de confusdo e respeito, volve seus olhos ao Céo dando louvores a Deus, fazendo céro com os canticos 80- noros com que os elevados Espiritos, yibrando os fluidos sonicos e lumino- 508, anntnciavam aos pastores mara- vilhados que ora nascido 0 Redemptor do genero hamano. Assim, longe do borborinho da ci- dado © envolto em miseras palhas de um derruido estabulo, trocam-se os primeiros sorrisos do Céo com a Ter- ra, sorrisos que estabeleceram o fio que conduz o sér creado, 4 gloria do Sér creador, Assim, apparecen na 'ler- ra o mais clevado dos Espiritos a ella baixado. Nasce Jesus—resgata-se a humani- |dade do servilismo e da escravidio, desponta a estrella aurifulgente de eterno brilho, que illuminara todas as geragdes, conduzindo-as atravez os tempos e por entre as luctas das hu- |manas paixdes, ao reino do Pae, para k i I que todos foram creados e que todos eonquistaréo, com maior ou menor bre- vidade, segundo o bom ou man uso que fizerem da sua liberdade 6 dos es- forcgos que empregarem para guiar suas acgdes e seus desejos pelas leis di- vinas, codificadas nas santas paginas do Evangelho. Ao commemorar o potentoso acon- tecimento—o nascimento de Jesus— que os povos de todos os seculos re- cordarao, lenbremo-nos todos dos po- bres e humildes que, dilacerados pela dor ou opprimidos pela miseria, 86 teem lagrimas para festejar o Natal de Jesus. O anniversario do nascimento de Jesus 6 de paz o alegria, Reparta- mos, pois, nés todos do Seu Pio com os famintos, dos Seus sorrisos com os tristes, da Sua felicidade com os in- felizes, Cumpramos os divinos precei- tos de-Jesus, suavisando as dores dos nosso irm&os, derramando o balsamo da Esperanca, exercendo a Caridade em toda a sua ampla accio, pois que todas as vezes que o fizermos, ao divi- no Messias o faremos, segundo o dizer da sua santa doutrina, (Ext, da «Luz da Vordades). AOS PEQUENINOS Meus meninos e minhas meninas E’ chogado 0 Natal; a festa de. Je- sus e a festa das creangas! Sabeis quem 6 o Menino Jesus? Creio que de entre vés nfo ha um unico que o desconheca completamen- te: ou por ter visto a sua linda ima- gem nas egrejas ou nas pinturas re- produzidas nos postaes illustrados, ou pelas oragdes que as yossas mies vos tenham ensinado, ou ainda pelas gra- | ciosas e enternecidas historias que al- | guma boa avosinha vos tenha contado nas longas noites de inverno. E’, porém, muito imperfeita a ideia que tendes do Menino Jesus, a quem deveis conhecer bem, porque muito vos ama e 86 quer a vossa felicidade, O Menino Jesus é aquolla meiga o |doce creanga que veio ao mundo em | Bethlom da Judeia, ha j4 muitos an- jnos, para ensinar a bondade 6 o sof- frimento, para amparar os fracos 9 os humildes, para consolar os tristes e os infelizes. Nao pensem nunca que Elle 6 mais amigo dos reis e das rainhas, dos grandes e dos ricos, emfim, de todos aquelles que podem fruir os gosos o |prazeres deste mundo; nao, meus pe- queninos, isso seria ter uma falsa ideia d’esse divino Jesus! Elle ama de preferencia as crean- cinhas pobres ¢ aquellas que n&o tém |paes, as mies que n&o possuem pao para dar a sous filhos, os bons opera- rios que s&o paes e que n&éo ganham o sufficiente para sustentar as suas familias, aquelles que andam sobre as agnas do mar para ganharem o ali- mento de todos os sous, ¢ finalmante os pobres mineiros, que andam de- baixo da terra para angariarem um pedaco de pio megro com que matem a fome a suas velhas maes, a suas en- fraquecidas mulheres ¢ a seus magros filhinhos, ~ Ja védes como o Menino Jesus & bom e carinhoso, e portanto dovois amal-o, gravando a sua imagem no vosso coragaosinho e no vosso cerebro infantil. Hille tambem 6 muito amigo dos meninos que s&o obedientes a seus pass @ a seus mestres, dos que tém amor ao estudo, © d’aquelles que sto bons uns para os outros, desculpando mutuamente as suas faltas @ niio accu- sando nunca os seus companheiros, Assim, pois, meus filhos, 6 em nome do Menino Jesus que vos offerego esta pequena festa, esperando que nao vos esquecereis das minhas palavras, ¢ que tomareis sempre para exemplo aquelle bondoso amigo, Cacilhas, 24 de Dezembro de 1909. Emilia Pomar de Souza Machado. PRECE A JESUS Meu casto © meigo Nazareno, escuta Esta mimosa ¢ perfurauda prece, Que em brandas rimas, a minb’sima tece Por entre os golpes da mundana luctal Ver-te, nfo quero, preso & cruz polluta, Ensanguentado, como um rea, ferido: Quero-te alegre ¢ em liberdade, erguido No altar do meu amor, a fronte entuta! Quero-te assim, do coragto bem perto! ‘Quero srntir-te'na slina, ceu aberto, Das minbas crengas alvas, impollutas! Porque, morando no meu pobre seio Melhor as preces que te envio, ereio, Men casto ¢ meigo Nazareno escutas, Ext. das «Aves Implumes. Castine Cuma. A figueira maldita Percorria Jesus, em sua peregrina- |¢80 moralisadora, aestrada que vae de Bethania a Jerusalem, quando di- | Yisou ao longe, uma frondosa figueira que, pela vestidura abundante de fo- Thagem, attrahia desde logo a atton- gio dos viandantes. Como que fascinado pela magesta- do ostentada pela grande arvoro, ap- proximou-se d’ella, acompanhado do seus discipulos, o Divino Mestre, afim de colher algam fructo, dentre os |muitos que, certamente abundariam em tio bello specimen do reino vege- tal. Uma vez, porém, ao pé da arvore, debalde mergulhou sen olhar pesqui- sador por entre os copados ramos que, |do musculoso tronco, se. eatendiam | por todas as direécdes,—nenham fru- | cto logrou encontrar. Nem sequer um minguado e macilento figo pendia d’a- |quelles galhos pujantes de vida o vi- gor; nada mais, além do esplendor, |podia fornecer aquella arvore de tio bella conformagio. Ao seu lado, pereceria o viajor fa- minto, a despsito de sua grandeza, visto como todo o seu valor consistia apenas n’um conjuncto de folhas vor- des. que erguiam-se altaneiras 4 mar- gomi da estrada. Deante d’aquella apparencia de ri- |queza e miseria de essencia, pronun- ciara o Mestre a sua condemnagio di- zendo: nunca mais nasea fructo de ti; em seguida, a figueira emmurchecen, crestaram-se-Ihe as folhas, mirrou-se ee © troneo, seccando completamente aquella arvore, até entio cheia de! vicio @ frescor. Porque a ferira assim o Manso Cor- deiro? Far-se-hia mister approximar-se da figueira para conhecer sua esterilida- de, aquelle, cujos olhares devassavam o intimo dos coragdes, lendo n’elles até o ultimo refolho? Se de alimento carecesse, n&o pode- ria, porventura, produzil-o quem com cinco pies e dois peixes saciara 5:000 pessoas, levantando-se ainda doze al- cofas dos sobejos? Jesus nao castigéra, pois, a figueira sen%io com o intuito de personificar nella a vida ociosa e improductiva d’aquelles que passam por este mundo sem nada produzirem de aproveitavel e de util em prol do Bem e da folici- dade humana. Jesus condemnou, na figueira este- ril, essas vidas infructiferas que atra- vessam a Terra sem jamais hayerem contribuido com o seu contingente para a edificagio da Verdade e da Justiga. Quantos niio existem que, somelhan- te 4 arvore maldita, nunca mitigaram a fome dos famintos? Quantas figuras imponentes e ma- gestosas n&io se yéem na sociedade, vazias de sentimento, de amor e de caridade, que represeatam a perfeita incarnagto da figueira esteril?! Esta 86 tinha folhas que lhe davam appa- rencia de grandeza, aquellas outro me- rito nfo possuem que as distinga, além dos que lhes emprestam, a posi- gto, que as mais das yezes, indevida- mente, occupam, ou a fortuna que cri- minosamente monopolisam conservan- do-a na inactividade. Esta categoria de homens illudem constantemente aos incautos, tal qual outr’ora a figueira aos viandantes da estrada de Bethania. Sempre que se trata de um emprehendimento genui- \namente hamanitario, que tenha por escopo unico o Bem sem ostentagio, procura-se-os debalde, porque sao ar- vores frondosas que attrahem unica- mente pela abundancia de ramagem |_-nenhum fracto lograremos colher, ‘porque sto doracgtes estereis—almas vazias, despidas de sentimento, como de figos, a figueira maldita. Como permaneceria na terra, a hu- manidade, se as arvores 86 produzis- sem folhas? | O que seria egualmente d’ella, se |s6 se compuzesse de homens d’aquella especie? Indigna do logar que occupa |6 a arvore que nao produz, como in- |digno da sociedade 6 0 homem falho ide sentimentos, que nao se interessa pela causa do Bem e da Justiga. Outro tanto se péde dizer da mu- lher que, qual figueira esteril de vasta céma, apresenta-se alardeand) a com- postura dos cabellos e do vestuario, mas que nfo possus nenhuma virtude que a eleve, neahu a dote moral que a torne, de alguins sorte, util no meio ‘em que vive. Ella attrahe de longe os olhares dos transeuntes pela magestade da gou porte, mas reserva-lhes aquelle mesma decepgio quo a figueira de Be- ithania produzia aos viandantes que della se approximavam em: busca de alimento. Nulla—inteiramente nulla—sera toda a belleza de seu plastico, que entdo criminosamente seduziré, quan- do se n3o encontre em seu espirito as virtudes que devem ser inseparaveis da mulher, como o fructo da arvore: a innocencia e a pudicicia. Se nao fossem os homens de acgiio e as wulheres de virtude que se dedi- cam ao Bem, ds sciencias e 4s artes, individualidades cujas essencias muito, mais representam que as apparencias, nao haveria progresso nem civilisag&o, e a humanidade estaria ainda como nas eras remotas de sua origem, ha- bitando as grutas 6 penhascos, dando aga aos animaes ferozes por entre as brenhas e florestas. A Providencia n&io nos desterrou para este planeta, sendo para que nos auxiliemos mutuamente. A sociedade 6 composta de elemen- tos heterogeneos—ricos e pobres, in- telligentes e tardios, virtuosos © li- bertinos, genios e obscuridades, tudo n’um conjuncto, aqui se acotovela. B’ necessario, portanto, que 0 rico pro- porcione, com seus capitaes, ganho ao | pobre; que os intellectuaes esclaregam os retardatarios; os virtuosos exem- plifiquem » moralizem os criminosos @ devassos, e os genios illuminem as obscuridades. O homem tem o dever de produ- zir, seja qual for a condig&o em que se encontre. A ociosidade é um crime —ninguem na terra tem o direito de permanecer na indolencia, quando a natureza inteira nos conyida ao traba- # Tho, dando-exemplo de ininterrupta aotividade, Bomdita a arvore que, de permeio /com suas folhas, deixa pender sazona- dos fructos; Bemaventurada a mulher, atravez de cuja belleza se véem transparecer as delicadas nuances da virtude; Bemaventurado ainda, o homem, cuja vida é util e preciosa a alguem, cuja existencia é como um pallio que go desdobra abrigando a muitos, das intemperies da necessidade ¢ do soffri~ mento. Maldita —sim—maldita a arvore que nao produz. Oh! Grande Mestre, como sio pro- |fandos teus ensinamentos! Como sio sabias as tuas ligdes. 94.7-1910. | | Vinicius. | (Da ePribuna Espiritas), | D'ALEM TUMULO | Ao Grupo Familiar «La Paz» | POR VIVES O sacrificio, a abnegag%o e os bons costumes, 840 0 que faz progredir o expirito. Que 6 0 corpo humano? Quando vos approximaes. dum ca- daver, como o védes? Causar-vos-ha horror, repugnancia @ médo vendo-o em tal transforma- co! Hontem era formoso cheio de at- tractivos @ encantos, © hoje cansa | pena ¢ payor! E’ certo que o corpo é o auxiliar do espirito para o fazer progredir; mas quando aquelle se revolta contra este, @ procura 0 illicito, o orgulho, o egoismo e mil defeitos com que pre- tende revestir-se, veste-o de purpura, adorna-o com milhares de attracti-| vos, adorna-se com brilhantes e pe- dras preciosas, © tudo para que? para enganar o mundo porque a Deus nun- ca péde enganar. Mas no que devia pensar era em engalanar a alma. E de que maneira? Vestindo-a com todas as virtudes, procurando as mais| bellas e odoriferas fldres que encon- trasse nos jardins da terra, taes como: a caridade, o sacrificio, a abnegacito e conformidade em todas as circums tancias da vida, nao querendo nunca sero primeiro nos logares publicos, mas sim 0 ultimo; tendo sempre na mente bons pensamentos e bons pro-| positos, e bons costumes em todas as suas coisas, desviando do sentido tu- do que for illicito © feio; querendo ser sempre 0 primeiro nas boas obras, sempre valoroso e animado em todas as luctas, sempre disposto a perdoar © a esquecer as offensas recebidas. Que sio, irm&os meus. 70 ou 80 wn @ faltas a privario do véo que teria podido levantar? Se pensasse, e trabalhasse fazondo boas obras, veatindo-se de ricas galas, entao teria feito a sua ascengio para as altas espheras, 6 gosaria para sem: pre. Irmaos queridos: vale a pena pen- sar no que vos digo occupando-vos em vostir o vosso espirito para agra- dar mais ao Pae do que aos homens, porque a estes podereis enganal-os, mas a Deus, nunca, porque tem os olhos sempre em vos. Seguide a estrada do Bom; séde bons discipulos do Mestre, © nto vos afasteis do Espiritismo, porque é este que vos conduzira 0 levard pelo ca- minho do Bem fazer. Amo-vos a to- dos; muitas vezes fazeis-me pena, por- que sois muito cegos! ‘Vosso irmto Vives, (Bxtr. de «Lua Voz de la Verdads). te PENSAMENTO Um dos signaes inequivocos da su- annos de sacrificios comparando os|perioridade moral do homem, 6 a com toda uma eternidade? | tranquillidade que apresenta nos tran- De que serve 4 humanidade querer ses violentos da vida. viver gosando @ folgando sempre du-| Quando virdes que alguem respon- rante a vida na terra para deslum-|de a uma injuria quer seja por pala- brar o mundo, se 4manh& 0 seu corpo vras, quer por factos, com o silencio, tao gentil e formoso hoje, estaré co- ou com palavras suaves e razoaveis, berto de vermes © a sua alma ficard| podeis dizer que esse espirito elevou- feia cahindo por terra sem poder le-|se-tanto, que conseguia ter inaltera- Yantar-se, porque as suas iniquidades|veia og seus fluidos, seja qual fora -u= impress%o desagradavel que tenha re- cebido. Foi o que aconteceu com Jesus quando recebeu uma bofetada dum judeu, ao qual disse: «fallei mal ou fallei_ bem; se fallei mal dize-me em que, e 80 fallei bem, entdo porque me maltratas»? Era o que aconselhava o espirito superior que guiava os trabalhos me- diunimicos de Andrew Jakson Davi «Em todas as circumstancias da vi- da, conserva o espirito sereno». E' n’isto que tambem consistea su- perioridade da raga anglo-saxonia so- bre a latina, porque em todos os ca- | sos da vida individual ¢ social, aquel- la conserva o sangue-frio, ao passo que esta exalta-se e encolerisa-se, 0 por isso os paizes latinos sio revolu- cionarios 6 os anglo-saxonios evolucio- nistas praticos, porque dio logar 4 re- flex&o, © por isso o que fazem 6 bem feito. O kecp cool dos inglezes, que quer dizer: conserve-se sereno, vale um the- souro. (a) Felicisimo Lopez. (Bxtr, da «Luz y Union»). ee Felizes os que sabem soffrer ! Sim. Felizes os que sabem soffrer! Porque o soffrimento, moral ou phy- sico, qnando supportado com resi- gnagio @ coragem 6 o purificador do Espirito, O homem, emquanto n’este mundo, por mais hayeres que possua, jamais deixa de passar pelo cadinho do sof- frimento, porque isso é uma condi- cdo indispensavel para o progresso do Espirito, que nao se obtem sem expia- | Glo. ‘A’ Terra quasi s6 baixam os Espi- ritos que carecem purificar-se e pro- gredir, expiando pelo soffrimento as suas faltas, pois raros sfio os que a el- la voltam om missiio a bem dos seus irmaos; 6 ainda assim, esses mesmos soffrem. Christo foi o maior de todos os Expiritos enviados aos homens pa- ra promover o progresso espiritual de seus irmaos, mas, nao obstante a ele- vagdo do sou Hspirito, soffreu as in- justigas e ingratiddes dos homens, pa- va Ihes legar o exemplo da resigna- g&o © do perdao. 0 soffrimento 6, pois, um caracte- lristico do planota que habitamos, e se nelle, como em tudo, nao seguirmos os exemplos do Christo, o nosso Hspi- rito nada utilisard com a sua passa- gem por este vale de lagrimas. Sem o soffrimento o homem nao pode ascender aos paramos do infini- to, onde reina a paz ea felicidade; e sem a resignagio, todo o soffrimen- to é nullo. Ea Angra, 13—9—910. (Extr. da ), A VIDA ... Ba alma ao contemplar a vida, ér por toda a parte existencias miseraveia ¢ repugnantes, dizia; aaa po tadliy tes ae —Ww— Alma, que vés? Espirito, que sen- tes? E a alma abysmada perante a pers: pectiva das grandes penas, chorava constantemente e exclamava: Ser4 possivel, que na vida n&o haja) senao erueldades de tyrannos, e op- presstio de fracos? Nao, nfo; isto no é vida porque falta o excelso canto do Amor. E com este pensamentoa alma quiz Yoar, 6 voou para as azuladas immen- sidades do espaco. «Deveres do homem para com Deus, para comsigo mesmo e para com os seus semelhantes » O Decalogo ¢ a lei divina emanada |do Ente Supremo e escripta por Moi- sés no monte Sinai, occulto 4s vistas dos homens para a mais assombrosa manifestagaéo da Magestade Suprema, | que os seculos tem presenceado! Esse Codigo que o nosso Pae Celestial se dignou dar-nos, é uma prova patente Ahi, encontrou um Anjo, que Ihe|de que a sua altissima Providencia disse: Alma! que procures? Procuro a vida, Nao a tens no teu planeta? Nao. Porque? Porque os homens sao maus. nunca nos abandona. | © seu primeiro artigo, com uma \admiravel concisio, é inimitavel, por- que nfo s6 comprehende o sentido dos restantes nove, mas syathetisa |toda a doutrina que depois veio es- \planar o Redemptor do genero hu- E julgas que aqui sfio differentes?/ mano, o Justo por excellencia, o Sa- Sim: na tna mansao s&o bons. Como sabes isso? _ Diz-m’o a intelligencia. E tu queres ficar commigo? Quero. Alma! Alma! a tua hora ha-de che- gar, mas ainda é cédo, E entdo 0 Anjo mostrou-lhe o li- vro-karma da humanidade terrestre, e disse-Ihe: No relogio do tempo, nada escapa aos olhos de Deus. bio d’entre os sabios, o Amor perso- nificado, emfim, Jesus. ; Ama oteu Deus sobre todas as \coisas e o teu proximo como a ti mesmo». A intelligencia mais sagaz, o genio mais brilhante, nfo podia accrescea- tar coisa alguma a este pensamento. Esta éa lei de Justiga; ¢a lei d’A- mor, que posta em pratica como quer 0 nosso excellente legislador, ndo sé dé felicidade na terra pela satisfagao E a alma descen 4 terra, endo quia|do Bem feito, mas tambem no espago mais voar. Tinha comprehendido a vida. Febo de Limosin. {De «la Voz do la Verdad)>. |pela recordagdo gravada na nossa | consciencia! | Mas perguntaré alguem: como é | possivel que palavras tau singelas se- |jam a synthese do pensamento mais |sublime que péde conceber-se? —i Rasguemos o veu tanto quanto seja jivel, € mostrar-se-ha parte do occulto aos olhos dos que nao podem penetral-o. Se em noite amena te encontrares em campo solitario, e admirando os sées e mundos que gravitam no espa- go, elevares o teu pensamento para o Supremo Creador, reconhecendo seu infinito poder e a insignificancia da tua pessoa, tu adoras a Deus na sua magnificencia, mas ndo o amas se fi- zeres aos teus semelhantes alguma coisa que para ti ndo quizeres. Se em noite tenebrosa te encheres| d’espanto ao ouvires o estrondo do. trovdo e o bramido da tempestade, e pensares receioso n’um poder que nfo! comprehendes, mas que a tua intelli- gencia adivinha, adoras a Deus, mas n&o o amas se nao protegeres o ne-) cessitado, se nfo deres pdo ao que| tiver fome, se ndo deres agua ao que) tiver sede, se nao vestires 9 nu con-) forme os meios de que possas dispér. | Se durante o inclemente inverno se) apresentar deante de ti, ou se soube- res onde é que est4 um infeliz coberto| de andrajos, transido de frio, cheio de fome e de déres, corre, voa e vae vestil-o, leva-lhe p&o e medicamentos| para salvar-lhe a vida, porque se as- sim ndo fizeres ndo correspondes ao amor para com Deus, ao amor com que Elle te protege, nem procedes paracom o teu proximo como dese- javas que este procedesse para com- tigo, se por desgraca te encontrasses nas mesmas circumstancias. Se um teu irmdo, n’um momento d'offuscag&o mental, arremetter furioso contra ti (ou coftra outro) para pér termo 4 tua existencia, tens obrigagSo de o trazer a bom caminho por meio de prudentes conselhos e acertadas tazdes para o dissuadires das suas criminosas e brutaes iatengdes, mas se o nfo fizeres, ndo amas o teu pro- ximo, ndo cumpresa lei da caridade e assim faltas é lei diviaa. - Por ultimo dir-te-hei, que devemos procurar ser bemq.tistos na sociedade, mas sem hypocrisia, devendo ser sia- ceros nos nossos actos, e 14s palavras, amaveis, caritativos e prudeates, e antes de fallarmos ou de procedermos devemos meditar nis palavras que te- ahamos de proferir e nos actos que tenhamos de praticir, procedendo sempre d’harmonia com a nossa cons ciencia. D’este modo cu.aprirengs para conr Deus, para com a humanidade e para com nés mesmos, os nossos ‘leveres, porque a consciensia nis aos induzird a fallar, nem a proceder mal, se cui- dadosamente atteaderms ao que ella nos dictar. (2) Ricardo Boleas. (Da «La Vos do In Verdads). PENSAMENTOS por D. Michaela @. de Pardo Os pensamentos que vamos trans- crever, foram lidos pela auctora dos mesmos n’uma das conferencias que teve logar na sala da Junta Permanen- te do 2.° Congresso Espirita, no Me- xico, e foram publicados no n.* 15 de k [ Setembro p. p. da Revista mexicana «El Siglo Espiritan: A soliddo é formosa para as almas, ‘que sabem sentir, mas perigosa para os séres que sabem odiar. O amor € 0 alvo arminho com que © espirito se veste para atravessar o pantano de todas as paixdes, sem que a lama o salpique. A ternura d’uma alma bella é mais eloquente que todos os discursos dos sabios, Com a esperanga formam-se os grandes ideaes, e coma fé sublime é que estes se realisam. A caridade bem exercida na terra € 0 facho divino cujos resplendores illuminam constantemente o caminho da verdadeira felicidade. O amor 6 0 thesouro dos humildes| € 0 constante aguilhdo dos soberbos. | = | A ambiciio €0 acicate dos egois-_ tas. @ 0 verme roedor dos invejosos. | | & tolerancia quando se dispensa Para o Bem dos nossos semelhantes, | € como o suave perfume que se exha- la d’uma flér, mas quando sé serve| para mais enraisar os defeitos em pre-| juizo dos séres, & entdo o veneno mais corrosivo que ha na terra. i: ‘ i Sea ave nasceu para voar, o espi-| rito do homem veio tambem para re-| montar o- seu vOo engrandecendo as a Se quizermos saber a que altura est4 o nosso espirito, é preciso medir bem nossas acgdes, e a consciencia fiel barometro d’estas, nol-o marcar4 com preciso. et ot Perddo-te! | Memorias d’um espirito Por D. Amalia Domingo Soler XLVI O sacerdote sorriu e disse-me: que jvalér o vosso! e fallou admiravel- mente 4cérca da omnipotencia de Deus, e das suas sabias e inaltera- veis leis, Meu irmdo estava contentissimo, e eu vendo ambos com tao favoravel disposiga0, pedi-lhes para quando fossem ao campo, me deixarem acom- panhal-os, nfo para cacar, nao para matar, mas para estudar junto d’elles no grande livro da Natureza. Lembrei-me da planta feia e cheia d'espinhos, cujo suco cicatrizava as feridas, e disse: as plantas sdo as let- tras de Deus escriptas na superficie da terra. Voltou o medico, e cresceu a sua admirago, fez 0 curativo, e no lhe foi possivel explicar tal milagre. Fallei a sds com elle e perguatei- lhe se ainda era perigoso o estado do suas faculdades. doente, e respondeu-me; ndo vejo ~t perigo algum, se a cura nfo ¢ falsa. Parece-me que ninguem péz mao na ligadura, mas dizei-me com franque- 2a, que desteis a vosso irmio? a fe- rida estd quasi cicatrisada, que lhe fizesteis? Contei-lhe ent&o 0 que fiz durante um somno, e o medico riu-se a ban- deiras despregadas, e disse-me: pa- rece incrivel que uma mulher como vés, esteja completamente allucinada! Est4 muito enganado, ndo estou como julga. Eu via planta cheia d’es- pinhos, toquei no suco d’ella, vi o fogo que se encaminhava para a ca- beca de meu irmao, € ouvi uma voz dizer-me: basta, darias demasiada vida. Pois bem, se ndo fizesteis mais que isso, nada direi, e se assim conti- nuar, 4manha a ferida estar cicatri- sada. Esté, com certeza. Como o sabeis? Porque sou eu que a cicatrisarei, e deante de yds operarei a cura. No dia seguinte estava eu a sus- pirar que chegasse o medico, Se todos os livros religiosos tives- sem dito que eu nfo curaya a ferida, eu dizia: pois hei-de cural-a! Chegou o medico muito serio e| examinou a ferida, e disse: nado é possivel fechar a ferida. | Eu olhei para elle e disse-lhe: po-! rei_a minha mao, quando o orde- nardes. Podeis comegar. Puz a mio sobre o peito ¢ pare-| ceu-me que uma forga poderosissima | se assenhoreava de mim, e me arre- 5 batava. Pouco tempo durow este.es: tado, Retirei a mo eo medico deu um grito d’assombro! a ferida estava cicatrisada! N&o percebo, disse elle secca- mente. Nem eu, respondi, o que seié que sinto em mim uma forga desconheci- da, ¢ que ainda que em vez d’ama ferida, fosse um corpo inteiro aberto de cima abaixo, eu fechal-o-hia! por- que n’essas occa:id2s sinto-me com forcas para levantar um mu ido. A’ vista d’isso, nd> sou aqui pre- ciso para nada. E’ preciso, sim, disse meu irmao, notando que o medico ndo éstava sa- tisfeito. Uma coisa é 0 desconhecido, e outra & a sciencia medica. Fazeio que julgardes conveniente. O medico nem por isso ficou satis- teito, e retirou-se o mais breve que pode. A’ sahida eu disse-Ihe: até 4ma- nha, Nao, responden elle, até nunca mais? Voltei para juito de meu irmdo, que me disse: retira-te porque pre- ciso vestir-me. Vestiu-se, deu um passeio e ficou satisfeitissimo com a rapidez da cura, O medico nfo voltou no dia se- guinte, o que muito desgosto me causou, Era um inimigo mais que eu tinha, e eu temi sempre os inimigos. Meu Deus! meu Deus! exclamei, |porque motivo se julga‘elle offendi- do?! e¢ ouvi uma voz dizer-me: feris- te-o com a tua temeridade, rebaixas- |tes a sciencia d’elle, mas o interior —1 d'elle é bom, se tu fdres tet com elle, receber-te-ha muito bem e ficaré tudo sanado, Diz-lhe que vaes vél-o, porque elle est doente, e tu queres cural-o para bem dos seus doentes. Obedeci immediatamente e fui pro- curar 0 medico, que logo que me via, perguntou-me cheio de interesse: que tem vosso irm&o? Nada. Vae bem. Ent&o a que vindes aqui? Para vos distrahir. Mas eu ndo estou apprehensivo, LA isso estaes, e eu venho pedir-) wos perddéo por vos ter offendido, embora involuntariamente. | Sei que sois um sabio, um-homem | encanecido no estudo, mas que culpa| tenho eu de utilisar-me de forgas que desconhego, € ouvir vozes, que me guiam? © Ouvi-me senhor, ¢ em vez de vor afastardes de mim, observae-me, es- tudae-me, e depois fallei eloquente- mente sobre 0 organismo humano, e olhando para elle, disse-me: nao olheis d’essa. maneira para mim por- que os vossos olhos tem o quer que seja,e.-- Pois preciso olhar para vés, por- que estaes doente. E estou por certo. Quereis que vos cure? E que fareis? Pér as minhas m4os sobre a vossa eabega. Podeis pél-as, e chegou a sua lin- da cabega para ao pé de mim. Collo- quei as minhas mos sobre ella muito ao de leve, e logo experimentei uma ¢ oo, Co sensac&o tiuito parecida com as que senti quando curava meu irmao. Sen- ti muito calér mas extremidades dos dedos e notei que o medico chorava, mag muito 4 sua vontade, e que uma ‘nuvem de fumo impalpavel lhe cer- cava accabeca. Elle olhou para mim e disse: Que bem me fazem as vossas mos € os vossos olhos! Sahiu-me da cabega um peso enor- me. Sem dar por isso, puz-lhe a mao sobre 0 coragdo, e dentro em pouco o medico deu um grito de alegria € d'admiragdo, dizendo: que ¢ isto? que é isto, Deus meu? que é isto? que é isto que nfo faz parte da sciencia? Ha-de fazer, meu amigo, ha-de fazer, e entdo os medicos hao-de ser os sacerdotes de Deus, porque co- nhecerfo as forcas da natureza € 08 especificos que as plantas contéem- | para curarem todas as enfermidades, O medico levantou-se todo satis- feito, olhou para mim com respeitosa ternura, e beijou-me a mao sem que eu podesse evital-o, e disse-me: Vou 4 egreja para dar gracas a Deus, pelo \bem que me fizesteis. Depois iret re- ceber as ordens de vosso irmao, € felicital-o por ter tal irma! Que sois vos? anjo? mulher? santa? ou o qué?! Nao sei. Sei eu. Fui muito md... e desejo ser... muito bba, © medico nfo comprehendeu o sentido das minhas palavras, e na verdade nfo podia comprehendel-o. ae

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