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NOVEMBRO— DEZEMBRO 1947 ee — ESPIRITISMO _ FILOSOFIA - METAPS/[QUICA SUMARIO: A Teorla Electrénica pelo Dr. Antonio J. Freire Da Intuigaio por Ramos Pereira Mediunidades cétebres pelo Coronet Faure da Rosa As nossas conferéncias: Alguns aspectos da energia mental - Eprégi Técnica da sua produgio, seu poder pelo Dr. Antonio J. Freire Alguns fonémenos imadistos & morte do corpo io Panordmica; 0 Elemental do Desojo (sua formagdo, estrutura @ finalidade) pelo Dr, Antonio J. Freire Mensagem por D. Maria Carlota Santos A Mulher na Evolugéo da Humanidade por D, Yoone de Sousa Mensagens Supranormais Um escritor portugués por H.R. Dr, ANTONIO JOAQUIM FREIRE Noticlario No limiar do ano de 1948, rogamos paz e harmonia para a flumanidade; para cada indi- viduo, rogamos progresso espiritual; para cada familia e para cada magdo, rogamos muita prosperidade, ie Fanematnmawann SENG ie Por uma cotizacio minima de 30$00, anualmente, cada filiado desta agremlacéo, tem direito a todos os beneficios que ela pode prestar-Ihe, incluindo esta revista, Sociedade Portuense de Investigagdes Psiquicas 22, Rua Alvares Cabral, 26 — PORTO ANO XVII NOVEMBRO e DEZEMBRO 1947 Revista bimestral de divulgacao espirita, cristé © metapsiquica PROPRIEDADE DA ortuense de Investigates Psgacas ‘Administragae |. 28 — PORTO MANUEL CAVACO L, DE CARVALHO Composia @ improssa na Tipe da COOP, DO POVO PORTUENSE Rua de Camées, 576— PORTO Director: Editor: A TEORIA ELECTRONICA (ALGUNS DOS SEUS ASPECTOS MAIS GERAIS) A doutrina transformista, sistematizada no século passado, revolucionou a Biolo- gia, introduzindo-lhe dois novos concei- fos: a Unidade: de Vida e a Evolucio ancestral das espécies zoologicas. O Evolucionismo um dos conceitos mais fecundos e generalizadores do pen- samento contemporaneo. A doutrina electronica, sistematizada no século actual, revolucionou as ciéncias Fisico-quimicas, desmoronando as colunas basilares da sua construgdo atomistica, dois principios considerados intangiveis como dogmas: a Lei da conservacao da matéria, de Lavoisier; e a Lei da conser- vagdo da energia, de Meyer. A teoria electronica impds novos con- ceitos as ciéncias Fisico-quimicas, remode- lando-as em novos principios: a radioactt- vidade, a unidade da matéria, a evoluc&o da matéria, a desintegragao do complexo atémico. O Evolucionismo abrange, pois, no 86 08 reinos orginicos, mas ainda o reino inorganico, isto €, todos os teinos da Natureza, todo o Universo. A evolugdo, assim generalizada na sua maxima ampli- tude, transforma-se num maravilhoso in: trumento para o estudo e melhor com- preensio da dualidade: Espirito-matéria, Vida-forma, paralelos e inter-dependentes nos seus niveis evolutivos, A maiéria nasce por condensacio do ter; vive da energia do éter; dissocia-se € desmaterializa-se, regressando ao éter primordial. O éter € 0 «protoplasma da matéria >, involucionando, num arco descendente, pelo Dr. ANTONIO J. FREIRE jor «vortex» turbilhonares até se cruci- car na matéria desde a primitiva nebu- losa; evolucionando, num arco ascendente, por radioactividade, a-fim-de recuperar a sua origem supra-terrestre. A matéria, como os mundos, —nas- cem, vivem € morrem—no étet infinito e eterno, para, como a Fénix, renascerem de novo mais fortes e vigorosos, numa maior acumulacdo de experiéncias, vivi- das e instintivamente sentidas, numa ascen- Glo incoercivel e infinda para 0 Foco ori- ginal, em ciclos intermitentes de vida e de repouso, palingenésicos, no infinito do Espaco e da etemidade, (manvantaras alternando com pralaias), através de periodos multi-milendrios ('), Matéria, forca, energia, — termos itre- dutiveis, constituindo dois mundos nitida- mente separados perante a Ciéncia do século pasado, tém actualmente o mesmo significado e origem expressos no conceito do Eter césmico. A matéria traduz-se, em iltima andlise, em energia conden- sada, em estado potencial, que, pela sua desintegracao, da lugar a energia dinami- zada, libertando as idrcas activas que mo- vimentam, fecundam e dirigem 0 Uni- verso. O atomo é um sistema solar em minia- tura, com 0 seu nticleo positivo € os seus electres negativos, animados nas suas () GC, Jinarajadasa—1’Evotution Occulte de VHumanité — trad. franc. Paris, 1928. 13 me LEM Orbitas elipticas de velocidade vertiginosa da ordem da luz. O multimilendrio afo- rismo de Hermes Trimegista, (A Tdbua da Esmeralda), tem actualmente a con- sagragéo da Ciencia: «O que existe em baixo (na Terra) é como o que existe no alto (nos Céus) para fazer os milagres duma s6 coisa. ‘E como todas as coisas sdo provenientes do Um, assim todas as coisas sto nascidas do Universo por adaptagao» (‘). ‘Os alquimistas e os filésofos hermetis- tas da época medieval, proclamando o panvitalismo (Hilozoismo) e a Unidade da matéria através das transmutacdes dos ele- mentos quimicos (Pedra filosofal), estao agora reabilitados dos sarcasmos com que a Cigncia, precipitada e irreflectidamente, os vém ridicularizando, ha séculos. medida que a Ciéncia avanca no dominio dos fluidos, das radiacdes € das vibragdes, vai redescobrindo o que ja era do conhecimento da Sabedoria Antiga, aproximando-se dos mundos supra-terres- tres: astral e espirituais, Logo que o Espiritismo ¢ a Metapsiquica estejam in- tegrados no estudo da Ciéncia oficial — o que sera talvez num futuro nao dis- tanle—o triunfo do Espirito sobre a matéria seri definitivo e completo, abrindo um novo ciclo na evolugdo espiritual da Humanidade. O egoismo. seri. vencido pela fraternidade e pelo altruismo. ‘A Humanidade conquistara 0 seu devido lugar na hierarquia do Divino plano. da Griacao pela sua ascengdo espiritual, orien- tada no Cristianismo, «em espirito e ver- dade», A concepgao electronica foi obtida pelo concurso dos mais notaveis fisicos ‘con- temporaneos: J. Thomson (Lord Kelvin), os Curie, Rutherdori, Oliver Lodge, Bec- querel, G. Lebon, etc. ‘Ao lado destes eminentes cientistas, destaca-se, a justo titulo, o sibio W. Croo- kes, Crookes foi o precursor da remode- lagéo das ciéncias Fisico-quimicas com 08 seus notabilissimos trabalhos de Fisica molecular no vacuo sobre gases rarefeitos () P. Plobb—L’Evolution de l'Occultisme et Ja Science d’Aujourd‘hui,—Patis, 54, (tubo ou ampola de Crookes), descobrindo 0s «» » —La naissance ef Vévanouisse- ment de la matiére (Mercure de France, 1908). ALEM «A Ciéncia é tao segura quando se limita ao dominio dos factos, quanto incerta na sua interpretagao. A matéria ea fora, que pareciam, tempos atrds, constituir dois mundos separados, apare- cem hoje como formas diferentes dauma mesma coisa, A matéria que era consi- derada como um elemento inerte, imagem do repouso, sé subsiste devido @ imensa rapidex do movimento turbilhonar dos dtomos que a compoem. A matéria é velocidade, e ndo repouso. Sob a sua aparente imobilidade, a matéria mais estdvel, por exemplo: um bloco de mar- more, possui uma vida intensa e uma impressionabilidade extrema, facilmente reveladas por certos instrumentos, tals como o balémetro, As novas experién- cias sobre a variagao da massa com a sua velocidade, sobre a identidade da matéria e da forca, sobre a radiagdo da energia por elementos de grandeza varid- vel denominadas —quanta—e por conse- guinte sobre a substituigao do discontinuo ao continuo nos fendmenos, é suficiente para demonstrar a fraca solidez dos prin- cipios clentificos constderados até agora como inabaléveis. A mais colossal des- tas forcas, a energia intratémica (por mim descoberta), era tao desconhecida hd alguns anos, como foi a electricidade durante longos séculos. Um miniisculo fragmento de metal contém uma quanti- dade imensa de energia intratémica. No dia em que a cléncia consiga desagregar intelramente os dtomos dum corpo, tera entre as mdos uma origem colossal de energia que tornard iniitil 0 emprego da hulha, transformando completamente as condigdes da nossa existéncia». Segundo as experiéncias de G. Le Bon, confirmadas por outros investigadores, a quantidade de corpiisculos emitidos pelos elementos ridio-activos é varidvel de corpo para corpo. Para um grama de uranio ow de torio € de 70.000 por segundo, atin- gindo no radio a elevada cifra de 100,000 trilides. Um grama de cobre, desde que fosse susceptivel de ser desmaterializado instan- {neamenie, produziria uma energia equi- valente a sete bilides de cavalos-vapor, fora suficiente para fazer percorrer um combéio de mercadorias quatro vezes em volta da Terra, ALEM A Ciencia, por enquanto, s6 consegue dissociar quantidades minimas de maté- tia — milésimas de’ miligrama—mas, se pudesse obter a desmaterializagao de alguns quilogramas, captando e. orien- tando a respectiva energia intratomica, a forca assim obtida seria incomparavel- mente superior & de todas as minas de carvao existentes. No dia em que a Ciencia solucione este magno problema, a vida planetiria, no ponto de vista material, transformar- -se-d num den paradisiaco. pela facili- dade, abundancia e barateza da forga- -mottiz. Facto estranho e paradoxal: perante alguns sdbios a radioactividade espititua- lizou a matéria, Para logo, num galope desenfreado, a Ciencia foi até a audaciosa € imeverente concepcio dum Eter-deus, ilaqueada nos seus inveterados ¢ tradicio- nais dogmas negativistas: 0 ate/smo mo- nista € 0 misoneismo. Um deus definido é, por definigao, um deus finito, ndo podendo subsistir no nosso sentimento, ¢, menos ainda, radicar-se na nossa alma perante o consenso da razdo. O Eter-deus € uma concepgdo gros- seita, incompativel e antagonica com a mais elementar nogao de divindade, ou, mesmo, de espiritualidade, ‘Mais uma vez, a Ciéncia confandiu intencionalmente a maquina com o Divino Maquinista; 0 efeito com a Causa primor- dial, conturbada pelo agnoticismo e teo- fobia que a orientam e dominam. A-lim-de satisfazer paladares mais requintados, forjou-se um pequenino e linfatico Eter-deus nos laboratorios da alta-ciéncia, depois de ter sido votado a0 ostracismo 0 Deus Unico-e Verdadeiro; Criador ¢ Legislador do. Universo. Sabio algum cria um simples atomo. A Ciéncia sabe apenas descobrir e transformar os produtos da Divina Criacao, e, neste sen- tido, tem produzido uma obra prodigiosa de altissimo valor. O facto da Ciéncia pretender criar um novo deus, nao. é ‘novo, nem original. Por vezes, 0s antigos Hierofantes egipcios destronavam velhos deuses, forjando, de todas as pecas, novos deuses ao capricho 133, dos seus interesses e vaidades, num a vontade admiravel. Os Farads depostos, se ressuscitassem, muito teriam que reve- lar destes traigoeitos golpes-de-mao sacer- dotais. Na sua egolatria, s6 a Ciéncia & sobe- tana na orientagao e destinos da Huma: nidade, circunscrevendo-os nos estreitos limites que vao do berco ao timulo, per- dendo, assim, 0 fio de continuidade com © passado e com o futuro, As leis tedentoras e evolutivas do Reincarnacionismo, através das vidas su cessivas (Palingénese), e a lei da causali- dade psiquica, expresso da Justia ima- nente (Karma), onde o Evolucionismo encontra os seus mais solidos fundamen- tos e todo 0 seu mecanismo dinamico ¢ orientador, através do Espaco e do tempo, ‘ou, melhor talvez, através do infinito ¢ da eternidade, so meras frioleiras, in- dignas de penetrar 0 limiar dos sumptuo- sos santudrios da Giéncia, onde pontifica a mais consumada egolattia preside o seu uvenil Eter-deus. No entanto, as leis reincamacionista e kérmica tém sido comprovadas mundialmente, por métodos cientificos — observagdo. e experiéncia— desde a «regressdo da meméria», as «comunicacdes supranormais», autentica- dase colhidas em profusdo, de mundo-a mundo (') E elucidativo, ainda que desconcer- tante e confrangedor, © siléncio em que se fecharam, ha anos, algumas academias cientificas, de Paris, com a apresentagao do «7ratado de Metapsiquica>, do emi- nente Professor da Faculdade de Medi- cina, da Universidade de Paris, C: Richet, um dos mais_notaveis fisiologistas_con- tempordneos, prémio Nobel, etc. A Metapsiquica é, em, tltima andlise, © estudo das observacdes e experi@ncias dos factos supranormais inerentes & alma humana, base’ cientifica do Bspiritismo, para a qual tém contribuido muitos sabios de renome mundial, (i). Engenhetro G. Detanne—A Reincarnagao, trad, port, Dr.-A. Lobo Villa Q Destino Humano: 1941-Lisboa; Dr. A. Lobo Vilela—O Problema da Sobrevivéncia, 194i-Lisboa; Dr. A. Labo Vilela— Hipdteses Metapsiquicas, ed. 8, P. 1, P.-Potto, 134 E neste asfixiante e estéril niilismo espiritualista, que a Ciéncia professa e pro- paga, que se radicam as temerosas crises politicas e sociais com que se debate actualmente a Humanidade, afastada, em grande parte, do dogmatismo teligioso, mas fiel & ortodoxia negativista da Ciéneia, Se a vida €, como diz a Ciéncia, 0 curto espaco que vai do berco ao tiimulo, sem sangdo postuma, liberta da Justica imanente, teremos, como légico corolario, 0. triunfo das mais baixas e sordidas pai- xdes, para regalo de apetites grosseiros que 0s nossos sentidos hiperstesiados re- clamam pata acalmar as tristezas e as lutas desta vida trepidante ¢ hostil, onde so medram e florescem 0 egoismo, a pre- poténcia, a ambigdo e 0 orgulho. O desequilibrio moral e espiritual, em que se contorce e desfalece a Humanidade, atingiu tais proporgdes neste paroxismo desolador que quase esté esgotada a sua capacidade de sofrimento, Tenhamos fé, ainda assim, em dias melhores. A evoluc&o nao tem efeito retroactivo; Tecua-se, por vezes, para mais facilmente galgar abismos tenebrosos e reconquistar a Luz. As leis naturais, radicadas na Providén- cia, incoerciveis € irrepremiveis, podem ser contrariadas, mas ndo aniquiladas pelo capricho humano. A nossa civilizagao cristd, duas vezes milendtia, n4o pode softer eclipses totais, porque esta integrada na evolugdo espi- ritual da Humanidade, tecida, como é, de Luz e de Verdade. Tenhamos f€ € esperanca num futuro ALEM melhor, olhos fitos no Supremo Poder, coracao ajoelhado aos pés de N. S. Jesus Cristo, o Senhor do Amor e da Compai- x40, Verbo feito de Luz bendita para redi- mir esta Humanidade e guié-la na sua ascengéo para Deus, integrando-a no Divino Plano da sua evolucao espiritual, Seguir os santos e luminosos ensina- mentos de N. S. Jesus Cristo, desde a sua Lei Aurea do duplo amor, divino e humano, éste expresso na Fraternidade Universal, até os redentores preceitos ins- critos no seu memoravel «Sermao da Montanha>, poema maravilhoso de Luz e de Amor, & seguir a via rectilinea para Deus ("). (@) Do «SERMAO DA MONTANHA»: Amaia vossos inimigos, fazei bem aos que 08 tem dio, e arai pelos quie 00s perseguem ¢ caluniam, para serdes fithos de vosso Pal que esta nos céus, e fez nascer o sol sobre os bons € maus, e vir chuva sobre justos e injustos. (Mar.'v44, 45). Nao queirais entesourar para vés tesouros nna terra, onde a ferrugem e a traga os consomem, @ onde os ladrOes os desenterram e roubam; mas entesourai para vds tesouros no cét, onde ndo 08 consome a ferrugem nem a traca, e onde 0s ladroes ndo os desenterram, nem roubam. (MAT, VEI9, 20), Nao quetrais julgar, para que ndo sejais julgados, pois com 0 juizo que julgardes, sereis Julgados, ¢ com a medida que medirdes, vos ‘medirao também a vés. (Mat. Vit, 2) Tudo 0 que vds quereis que vos facam os homens, fazet-o também v6s a eles, porque esta a lei € 0s profetas. (MAT. Vil-12), Nesse periodo a que ora nos referimos sucintamente, no temos que registar movimentos externos contra o Espiritismo. Os nossos adversdrios, continuadores dos sacerdotes do judatsmo do primeiro século e herdeiros dos planos que levaram o Cristo a0 Gélgota, afora um que outro ataque em seus jornais, parecem adormenta- dos; todavia, cumpre-nos lembrar aos nossos sucessores que esse adormecimento é apenas aparente, visto que a campanka de deserédito contra o Espiritismo se tornou, em real.dade, muito maior e perigosa, porque dirigida do sector invisivel, com a utili. 2aga0 da mediunidade intuitiva de colubreantes elementos do nosso proprio meio, despertando-thes a ambigao de dominio, turiferando-thes o orgulho e inspirando-thes © combate 4 fortaleza maxima do Espiritismo planetdrio, na esperanga de conveli-la. (Do Relatério da F. E. B.) ALEM ENSAIOS 135 DA INTUICAO I Até hoje, 0 homem pouco valor tem atribuido 4 intuigto na especulagao cien- tifica ou filoséfica. E, no entanto, utili- za-a num dos seus aspectos:—a indugdo. Tendo a mesma natureza, diferem, porém, no seu caminho:—ao passo que a inducao trabalha sobre a experiéncia, sobre 0 dado fenoménico, a. intuigao opera para Id desse lado. Mas se aten- tarmos bem, veremos que a intui¢ao tanto pode ser uma ascensao intelectual (na qual transcende o indutivo) como uma descida, excedendo o mergulho do dedutivo. A intuiggo enlaga superior- mente aquelas duas operagdes do pensa- mento humano. Estas s40 0 escopro do raciocinio no plano fisico, aquela o bor- dio do homem na sua vivéncia momen- tanea no plano metafisico, A intuicdo & uma sintese do que poderemos chamar a meta-indugio e a meta-deducto. Mas h& um complexo sensivel que nas outras nao encontramos, embora sejam sempre as leis da ldgica as reguladoras tiltimas do caminho do pen- samento. Teremos assim um terceiro método— 0 intuitivo—o método por exceléncia na especulagdo metafisica. Como aplicé-lo? Suponhamos que nos encontramos na frente dum fend- meno, Pesquizamos a sua natureza ¢ ligimo-lo, por generalizagto, aos que com aquela se relacionam por qualquer forma. Vamos progredindo na generali- zagio e a nossa visia alarga-se cada vez mais até se deter no limite dum hori- zonte. Largamos 0 condicionalismo a que nos atinhamos e, apoiados nele, avancamos por indugto ou dedugao. Vislumbramos as leis reguladoras do fendmeno, porque abstraimos. Parece- tos enit4o que nao podemos seguir mais longe; mas notamos que as leis se enca- deiam, revelam tma tendéncia para se sintetizar no Um, na Lei; pressentimos que podemos ainda continuar 0 nosso caminho para 0 absoluto, ainda que che- por RAMOS PEREIRA gados as tiltimas forcas da indugao ou dedugio. Eo homem transcende-se, foca-se num plano de menor relativismo, Alga-se do plano fisico a0 plano metafisico. Coniega a servir-se da intuigao, cume da indugdo — dedugao «fisicas ». O horizonte esfuma-se numa linha que parece & primeira vista ser tracada no Infinito, O homem tem o primeiro indicio duma sintese em si— duma vibra- gio que & ideia —sentimento— forga; 0 triplo comega a fechar-se no uno. Porém, embora o horizonte visto se tenha dilatado extraordinariamente, a pro- pria intuigao nos diz que h4 mais para 1d desse limite... aparente, Nao se alean- gou ainda o absoluto. E, apoiados em n6s préprios, vogamos para aquela linha. Ao passi-la, navegamos num Infinito humano, paitamos num plano césmico, atingimos a visto nebulosa das tltimas causas, dos principios primeiros do Cos- mos em que vivemos. E paramos, embora intuindo que essa paragem nao 6a derradeira, Alcamo-nos para lancar um olhar para L4, mas como mao fize- mos ainda a sintese final do Ser, como nao despertamos em nds, completamente, 0 Ego superior, 0 que vemos sio mo- mentaneos, fugazes clardes a rasgar as trevas, Mas nao se perderd 0 homem nessas sucessivas transcendéncias, nao ser uma faldcia o resultado dessa... metaintuicao? Isso se dard se quebrarmos a sequéncia das operagdes intelectuais..._ Notemos contudo que aquelas transcendéncias sto simples especulagdes sobre os. tiltimos dados do que fica para tras; o funda~ mento continua a ser o plano fisico. Entre este e o plano cdsmico langa-se uma linha ininterrupta de ideias, sempre sob a dureza da lei Idgica que se mantém intacta em todos os planos. O ildgico 136 MEDIUNIDADES CELEBRES ALEM JOANA 'LAPLACE (Continuado do niimero anterior) Quando se trata do passado ou do presente, 0 écran fica a distancia normal, aquela a que é costume colocar um livro para ler, cerca de 30 centimetros. Mas quando se trata do futuro, 0 écram afas- ta-se tanto mais da médium quanto mais longinqua for a realizagéo do aconteci- mento. Assim, quando as visdes Ihe apa- recem a dois ou trés metros, Joana La- place diz: «Trata-se duma coisa que aconteceria na sua vida muito mais tarde»; quando estejam a um metro: «Nao est muito proximo, mas ha-de dar-se dentro de poucos anos», Joana Laplace também ouve sons, ruidos, vozes que acompanham pelo Coronel FAURE DA ROSA 0 desfile das visdes. Neste caso, a médium tem a impressio de ouvir uma voz muito préxima do ouvido direito (nunca do esquerdo), que lhe diz um nome, uma palavra, uma frase de informacao. Se acontece estar em presenga dum esses entes malfasejos, em que a vida terrena tanto abunda, costuma ouvir logo uma voz: «Acautela-te!» O paladar e 0 olfacto também sao in- formados. O cheiro a cadaver, siibitamente sentido ao pegar numa carta, num objecto, ou diante de alguém, esclarece-a de que quem escreveu a carta ou 0 dono do tanto pode ser um absirdo fisico, como metafisico, como césmico. E, assim, no plano metafisico, a intuigao leva-nos A primeira unificacto do Ser ede Tudo, a primeira sintese. Vemos a Evolucao das formas e do Espirito desde um ponto que é Energia; vislum- bramos o Superior planeamento dessa Evolugto, 0 sineretismo duma Lei. No plano césmico, a meta-intuigao arremes- sa-fios aos problemas ontoldgicos e teo l6gicos. Precisando:—no plano metafisico ata~ camos @ Filosofia da Ciéncia, a Psicolo- gia racional e a especulacdo ético-estética, isto’ & 0s problemas das origens das espécies, do honiem, da vida eda maté- ria, da natureza desta, da imortalidade da’alina, da palingénese, do bem e do belo. No. plano césico, atiramo-nos para’ 6 Ser e para a Causa incausada. Sera a intuigdo. um método vilido? Nao’ € ele possivel, no se integra nos principios Légicos? | Nao € ele, em tiltima anilise,' uma simples superiorizacao dos métodos fisicos, ou melhor, esses mes- mos métodos unificadds ¢ transcendidos? E'valido o que ldgicamente for possivel. Mas sera a. Verdade? Quem ousard responder afirmativa ou negativamente? Eu direi... sim enaos.. Os resultados da intuigdo mostram uma Verdade, mas nao a Verdade absoluta. Poder’o contrapor: — suponhamos que 0 raciocinio intuitivo é valido, isto é, vasado nos principios légicos; daré uma ideia universal, algo que todos os homens sejam forgados a aceitar pela sua clareza esimagadora? Sem duivida que nao... como nem todos aceitam —até—conclu- sdes tiradas por inducéo ou dedugao... Quantos repelem o evolucionismo das espécies. que a outros parece natural? Aquela universalidade s6 se daria dentro da uniformidade humana. Esta nao existe e, por isso, aquela é... mera gene- ralidade! Querer que assim nao seja é violentar 0 realy 6 dogmatizar. O dogma & a inércia do geral que se deixa abafar no manto pesado dum universal ficticio. Bem mais humano € emitir um. pen- saimento, embora sabendo que alguns o aceitarao, total ou parcialmente, ¢ que outros s¢ rirao de mil formas.e em mil tons... © homem ainda nao se habi- tuou.,. a ser humano, a abrir-se inteira~ mente para o pensamento dum outro homem, aceitando os esclarecimentos para mais ou para menos, nada rejei- tando sem exame prévio. PEM i IS? objecto’ jé ‘esté torto ou que’.a’ pessoa presente morreri dentro de pouco tempo. Muitas vezes é pelo olfacto que define a profissio duma pessoa. O cheiro a cozi- nha leva-a a dizer: «é gerente dun res: taurante»; 0 cheiro a coito fresco: «é um curtidor»; 0 cheiro a éter: <6 um qui mico>. © ‘tacto. também | desempeniha’ um papel informador importante, Se por exemplo, sente 0 corpo arrefecer, deduz que a pessoa de que se trata esta’ morta; se, imediatamente a seguir, tem a’sensa- 40 do corpo ardente e ao mesmo tempo sentir © cheifo a queimado, deduz que a morte foi devida a fogo; se:a sensago & de ter 0 corpo molhado e de sufocar, entdo diz: «morreu afogado>. Muitas vezes as visdes de Joana Laplace s4o alegéricas. Exemplos: vé uma sala de liceu com as suas Dancadas, estrado e secretiria do professor, varios ornamentos didacticos, especificos, depois livros e, por fim um diploma que diz «latim>; isto quer dizer que a pessoa a quem pertence 0 objecio que entregaram a médium, fez os seus estudos e tirou 0 bacharelato em latim. Se na visio se sucedem livros, uns escritos em grego, outros em latim, outros ainda em linguas modernas, Joana Laplace diz: «A pessoa a quem pertence este objecto fez altos estudos e especializou-se em linguas anti- gas e modemas». Certa ocasido em que finha na sua presenca um rapaz, viu de stibito, as letras «F. Q..N.»; ora, como estas iniciais significam certificado de cigncias fisicas, quimicas ¢ naturais exi- gido para a entrada nas escolas médicas de Franga, a médium concluiu: «O senhor é estudante de medicina». Dois exemplos tipicos: bastantes para darem uma ideia da sucessio de imagens alegéricas. Joana Laplace tinha entre as maos um objecto a fim de dizer se a pessoa a quem pertencia, no presente, estava doente e, em. caso afirmativo, qual era a doenca. Sitbitamente aparece-the a imagem de dois tins, um a esquerda, outro @ direita. Depois o rim esquerdo manteve-se sem nenhuma modificacéo, mas o direito engrossou, depois diminuiu e ficou com aspecto atrofiado. A médium concluiu: «Avdoengar é' num rim. O° esquerito ésta $40; nd direito é que existe a doenga, Esté perdido». Ao contacto doutro objecto :prove- niente doutra pessoa, Joana Laplace tem'a visio dum’ figado, ¢ diz: «Trata-se. do figado», ‘Acto continuo, vé 0 figade engrossar, \depois minguar e, em: seguida; cobrit-se ‘de manchas. Apos tudo isto, apatece-Ihe'@ imagem dum ‘cérebro. » Vé a seguir, uma ‘proveta’ em -que distingue muitos cristais, ‘pequenos como graos de sal." Joana’ Laplace diz. entdoz' «Esta: pes: soa tem uma doenca de figado, mas’ 4, também, complicacdo cerebral, Segue-se ainda aimagem dum homem a beber e embriagado, do que ela conclui: « Trata-se duma doenga do figado, com complica- 0es cerebrais por excesso de bebidas alcodlicas. Provavelmente é um cirro alcodlico do figado ». " Exemplos de prognésticos: Joana vé a imagem de dois seios de aspecto normal; depois um deles incha e apresenta uma erosdo; isto leva-a a dizer: «Trata-se duma afecgao nos. selas: vejo 0 seio direito inchado, wlcerado ; deve ser um ‘cancro.» Sé as imagens seguintes The mostram o seio cicatrizado, anuncia que a doenga tera cura. A morte ¢-Ihe assinalada por uma das diversas alego- tias; nuvem negra, um esqueleto, um esquite, ete. O Dr. Desoille resumiu na Revue Metapsichigue cutiosas veriticacdes feitas por este médico quando Joana ‘Laplace trabalhava_no hospital em que ele era interno. Entre ontras coisas, conta como a médium o advertia’da: morte proxima de certos doentes, morte algumas. vezes inesperada. Dizia, por exemplo, depois de ter percorrido a enfermaria:” «O ntimero 5 morre muito proximamente; vi a nuvem negra por cima da sua cama». ‘Um facto espantou-o médico:-a~afirma- cdo, feita por Joana Laplace, de que quando o doente estivesse sob a influén- cla duma injeccao de morfina, ndo via a nuvem negra. Para verificar se a médium se enganava, ou ndo seria antes simples sugestdo, 0 médico’ interno, deu, aos doentes escolhidos ‘para. as ‘visdes fiinebres e diante dela, injeccbes que ele declarava serem de morfina mias que, na 138. ——— Alin realidade, eram de agua salgada, Essa falaciosas injecgdes nao impediram a visio da nuvem negra, ‘Um exemplo curto e significative do proceso informador premonitorio por alegorias: André L... pos nas maos de Joana Laplace um objecto pertencente a0 pai, recentemente arruinado, a fim de que cla Ihe dissesse qual viria a ser o seu futuro material, Depois de revelar a catéstrofe ¢ as circunstincias em que se deu, a médium declarou: Esse senhor nao refaz a fortuna. Tenko uma péssima impressdo. Sinto frio. Sinto-me arri- piada como a carné de galinka; no cami- nho que ele segue distingo um timulo com oito degraus para descer...» -O pai de André L... estava de per feita satide no dia desta sessao. Semanas depois, morria em resultado duma com- plicagdo grave que sobreveio a um ataque de gripe, ao oitavo dia da doenga, ‘Ao professor Rojas, de Buenos-Aires, de passagem no Instituto Metapsiquico, Joana Laplace improvisou uma_ sesso, na mais completa ignordncia de quem se tratava. Nao obstante, disse-lhe imediatamente que ele era médico e, melhor que isto, que ele se dedicava escultura. Termi- nada a sesso, a médium foi convidada a dizer como obtivera as informagoes. A primeira visdo que Ihe apareceu —expli- cou Joana Laplace —foi a silhueta dum homem coberto.com uma blusa branca de mangas: compridas ¢ isto Ihe dera a nogdo de que se tratava dum médico; a visio imediata mostrou-lhe a silhueta dum homem, com um pequeno instru- mento na mao, a trabalhar numa estatua que apresentava uma pessoa nua, Na tealidade, 0 professor nunca se dera a escultura, mas era médico legista; a sua escultura consistia em dissecar cadaveres, A médium tomara a visio do corpo nit por uma estitua, ‘Ao Almirante X... disse a médium, um dia: «O senor vai fazer uma grande viagem, uma viagem longa como a que necessitamos para ir 4 China, por exem- plo. O seu destino vai mudar...». (© Almirante julgou inverosimil que tal coisa Ihe acontecesse. Tinha ido a China nouttos tempos, mas agora na situagéo da Reserva, no desejava nem poderia efectuar semelhante viagem. ‘A mulher do Almirante assistia a ses- so, Joana volta-se para ela e diz-lhe: «Tem um vestido bem lindo, minha senhora, (era vermelho tango); é 0 tiltimo dia que 0 usa porque, em seguida, vejo-a de luto...». ‘A mulher do Almirante respondeu que era _possivel: a Mae dela estava doente e tivera mas noticias. Entretanto, néo esperava um desenlace tao proximo. Antes de deixar Paris, esta dama pro- curou Joana Laplace e. disse-lhe toda chorosa: «Porque me nao disse toda a verdade?... Porque ndo me preveniu que meu marido estava em perigo?» Na propria noite da sesso meditinica, © Almirante tinha sido atacado por doenga stibita e morrera pouco depois. Fora esta a informagio alegérica dada 4 médium; ela é que nao ligara as duas informages. A grande viagem, a viagem muito longa, era a que todos’ nés havemos de fazer um dia para o Além. _ Osty faz, apenas, este comentario: . Certamente: a inteligéncia do espirito desencarnado informador. Assim, diante dessa incompreensdo dos Ananias e das Safiras, a execugao desse plano vem sendo retardada; todavia, apoiados pelo Alto, esperamos que ele venha a ser plenamente coroado de éxito, porque, doutra forma, nao seriamos dignos de repetir, com os Espiritos, que o Brasil é 0 Coragao do Mundo, a Pétria do Evangelho, (Do Relatério da F, E. B) ALEM AS NOSSAS CONFERENCIAS 139 Alguns aspectos da energia mental—Egrégoras Técnica da sua producdo, seu poder e efeitos pelo Dr. ANTONIO J. FREIRE Riolato do Dr. Martins de Oliveira, licenciado om Matométicas, doutor om Filosofis, A Sociedade Portuense de Investiga- goes Psiquicas, apés um laboriosissimo ano de trabalhos culturais, com que muito tem a lucrar a fenomenologia espirita e, muito especialmente, as teorias magnifi- cas da sobrevivéncia humana, resolveu fechar as suas actividades de 1947 com uma conferéncia admiravel, subordinada ao titulo: «Alguns aspectos da energia mental — Egrégoras—Técnica da sua pro- ducéo—O ‘seu poder e efeitos», Para isso, carecia-se, porém, de um grande sibio, que fosse, 20 mesmo tempo, um valor indiscutivel nas ciéncias «oficiais». Era, portanto, indispensavel que um grande médico—um médico distintissimo de re- nome universal —areasse com a tespon- sabilidade de explicar a um priblico cheio de conhecimentos cientificos da especia- lidade, 0 «processus» transcendente da prece € a constituicdo, muitas vezes incons- ciente, das egrégoras no Espaco. A Direceao da S. P. I. P. escolheu entdo o Sr. Dr. Ant6nio Freire, um homem de ciéncia, cujas investigagdes 0 tém cele- brizado em todo o Mundo. Sua Ex. num gesto que s6 de cientistas é habito esperar, aceitou o convite e com sacrifi- cios que seria longo descrever, acedeu a deslocar-se de Lisboa ao Porto, s6 para ser titil 4 Ciéneia e para comprazer uma instituiggo que em prol da evolugdo do espigito tem sacrificado a vida inteira. E, pois, facil de calcular que, apesar da chuva e da catastrofe maritima que enlutou © norte do pais, a sala estivesse cheia, Quando o Dr. Antonio Freire subiu ao paleo, uma ondulagao de veneragao e respeito irradiou por toda a plateia. O pre- sidente, St. Camilo de Almeida, depois de convidar para a mesa de honra, a mim e Antonio Dias, apresentou o eminente cientista. Disse que a Sociedade estava’ em itor @ jo festa por ter dentro das suas porias o Dr. Antonio Freire, um dos maiores valotes —afitmou —da cultura contempo- rinea, E, numa expressfio de sinceridade que define o grande homem que ora se alberga sob 0 tecto da Sociedade Portuense de In- vestigacdes Psiquicas, Camilo de Almeida, naquela espontanea eloquéncia que todos nos he conhecemos, continuou: —Apresento, pois, a Vossas Excelén- cias o Dr. Antonio Freire, que certamente ninguém desconhece jé, pois trata-se de uma figura edénica, tadiante de beleza e de bondade, universalmente conhecida pela sua projecgdo nas actividades cienti- ficas de todo o Mundo. O Dr. Antonio Freire, médico distintissimo e filosofo emi- nente, cujo valor ha muito se tomou in- discutivel, esté entre n6s e vem iluminar os nossos cérebros e acalentar os nossos coragdes com a sua ciéncia inexcedivele a sua bondade incompardvel. Antonio Freire, como jornalista e eseritor que é, sabe fazer-se compreender por todas as mentalidades, visto que o grau cultural dos povos nao tem segredos para ele. Se, portanto, o grande cientista quisesse apresentar-sé numa plateia menos culta do que aquela que hoje s¢ encontra aqui a distinguir-nos com a sua presenga, 0 ilustre sabio, mesmo assim, fat-se-ia com- preender, porque a sua linguagem, em- bore foque 0 que de mais transcendente existe nos conhecimentos humanos, sabe fazer-se assimilar por todos os graus inte- lectuais dos seus ouvintes. O homem dinamico e combativo— raciocinador sublime ¢ sébio eminente que € 0 Dr. Antnio Freire — sabe, melhor do que ninguém, mergulhar na alma humana e transmitir ao seu amago, inco- gnoscivel para muitos, 0 verbo compreen- sivel das suas conviegdes. E estas, filhas {40 = de um estudo persistente e seguro, nao podem oferecer diividas aos leigos e muito menos..aas-estudiosos} .que.,podem con: ffolar por si mesmo a vetacidade dos factos:...° © eminente cientista, depois'de agra decer as palavras do Sr. Presidente, que ele;.na;sua exttaordinaria modéstia, classi- fica de amaveis, iniciou o seu trabalho ‘Mesa que presidiu a conferéncia do Sr. Dr.,Ant por solicitar 4 assisténcia uns minutos de, concentragdo pela paz universal dos povos. Findo este pensamento egregérico, certamente projectado no Espaco em on- dillacdes policromicas de beleza ede bon- dade, 0 eminente sébio comecou por definir as formas-pensamento ¢ por de- monstrar ‘com graficos no quadro negro ‘0'seu extraordindrio dinamismo na pré- pria natureza das coisas. Num pensamento intelectual puro — disse —& de elaboracdo quase impossivel, porque os estados. emocionais — quando aaicielinaenies ALEM ndo egoeéniricos—pertinrbam sempre: a grandiosidade inicial da concepsao que a concebe, Ha’ certos meios— ésclareceu — onde 08 pensamentos egregaricos, precisamente por se liberlarem naturalmente e sem esforco do egocentrismo da Humanidade, obtém umafenomenologia transcendente. E essa transcendéncia € tal, que a igno- raucia. provisoria, dos homens, escreveu nos dicionarios um vocdbulo curiosissimo Joaquim Freire para definir, sem nada explicar, a fenome- nologia observada: «Milagre »! O ilustre conferencista, depois'de pro- var que todos os fendmenos sao naturais € se podem explicar, contanto que se saiba fazé-lo e nao haja interesse em tor- cer-lhe a curva da causalidade, mergulha a fundo na irradiagio dos pensamentos no seu dinamismo actuante— nos’ seres, objectos. e coisas. Um pensamento egregérico, vibrando rigorosamente 4 mesma frequéncia e, por conseguinte, ao mesmo. comprimento. de onda, chega a ter os atributos, incom- ALEM, preensiveis para muita gente, de uma ver- dadeira entidade. Este «ser» egregérico = acrescenta—é capaz do bem edo mal, como. qualquer multiddo, disciplinada- mente dirigida por uma voz gigantesca! claro. que o pensamento egregorico nao traduz palavras, mas imicamente for ma-energia, de que nos da uma ideia— embora palida, forcosamente imprecisa — os fendmenos de ressonincia observados em aciistica. Aspecto da assistencia &-confertncia ' E 0 Sr, Dr. Anténio Freire, com aquela erudicdo exiraordinaria que 0 tor justica, cerebracdo invulgar, ini por fim, na potencialidade do pensa- mento: Os centrifugos s4o os que mais facil- mente esteriorizam potencial vibratorio os centripetos podem considerar-se os maiores assimiladores desse potencial vi- bratério, Quando, por exemplo, um psicasténico —centripeto por natureza—pensa vaga- mente em matarse e é alacado por pen- samentos egregéricos .que;avolumam os seus pensamentos, estes convertem-se em accdo, objectivam-se, e ele, sem verda: deira’ consciéncia do. que 'pratica, poe termo a existéncia, Compreende-se: que’ suceda com os pensamentos. 0 que se verifica com. a desintegracdo atémica, Nesta, um dtomo cujo nticleo foi despedacado, vai ferir dois atomos ¢ estes, alingidos por sua vez, fragmentam quatro o que, em cadeia sucessiva, origina a destruic&o, de oito, Gezasseis, trinfa e dois, sessenta e qua- tro, etc. Ora, um pensamento, s6 por si; apenas se avoluma em progressfo ari- tmética, porque a fonte que o vitaliza.ndo pode multiplicar-se por si, mesmo. Se, porém, encontra no seu trajecto outros pensamentos semelhantes, ndo se avoluma por adico, mas, por multiplicagio. ¢ 4 progressdo geométrica observada sera tanto mais potente e crescerd tanto mais rapidamente quanto maior for .a azo ini Ye ALEM Era meia-noite. © grande cientista nao tinha dito a terca parte do que pro- jectava ensinar-nos. Arteliado, vira-se para o Presidente e, num desabafo, infor- ma-o: —Tenho de fazer outta... Desta vez mal tive tempo para enunciar o problema! E, dirigindo-se a assisténcia,. acres: centou: —Tenho de concluir. Antes, porém, quero pedir-Ihes nova concentragao pela paz dos Homens. Acabo como comecei, desejando 4 Humanidade mais Luz, mais Harmonia e mais Bondade. Alguns fenémenos imediatos G morte do corpo fisico: A Visdo Panordmica; O Elemental do Desejo (sua formagdo, estrutura e finalidade) Foi este o tema da segunda conferén- cia tealizada pelo Sr, Dr. Antonio J. Freire, na sede da S. P.I. P,, no dia 8 de Dezembro. (© conferente comecou por diferenciar © subconsciente inferior e o subconsciente superior da consciéncia normal de uso cotrente na vida cotidiana pratica. No primeiro esto registados todos os pensamentos, palavras e actos de cada vida, enquanto que no segundo estao atquivados os mesmos factos relativos as vidas passadas. O subconsciente inferior reside no perispirito; 0 subconsciente su- perior num dos corpos espirituais. Em seguida evidenciou o paralelismo que existe entre a «Meméria da Natu- rezam, facto. comprovado a saciedade pelos iniimeros casos de Psicometria re~ gistados na Metapsiquica, e a Meméria subconseiente para cada vida terrestre. ‘A Visio Panoramica é uma visto subjectiva que o subconsciente inferior projecta a maneira dum filme, dos acon- tecimentos mais recentes para os mais antigos, para que o recem-desencamado possa avaliar o bem ¢ 0 mal que produza na sua vida terrestre e compreender o lugar a que tem direito no Mundo Astral. Neste filme da Visio Panoramica, disse 0 orador, so projectados, nos seus minimos pormenores, todos os actos € pensamentos que animaram toda a acti- vidade do recem-desencarnado. ‘A Visio Panordmica também se tem registado, afirmou o conferente, sempre que se corre grave perigo de vida: nos grandes traumatismos, quedas de grande altura, e, particularmente, nos casos de pelo Dr. ANTONIO J. FREIRE submersio no mar onde os sobreviventes se tem salvado da morte miraculosamente. Ha intimeros casos registados nos anais dos desastres maritimos. O mecanismo desta visio subjectiva, disse ainda o conferente, € sempre o mesmo: o desdobramento € a exterioriza- do, mais ou menos completa, do Corpo etético, que € definitiva na crise da morte. Entrando no estudo do Elemental do Desejo, 0 conferente expds a organizagio e estrutura do Corpo Astral, onde se for- mam sentimentos, desejos e emogdes, tendo 0 Corpo Astral fundidos num so todos os sentidos astrais, devido a entrar na sua circulagdo geral todas as substan- cias de que € composto, desde as mais subtis as mais grosseiras. E devido a este facto que os sondmbulos, ¢ em certos estados hipndticos, os sensitivos podem let pelas pontas dos dedos, pelas costas, pelo vértice da cabega, etc. Nestes esta- dos supranormais hé sempre uma exterio- rizagio, mais ou menos completa, do Corpo Astral. E 0 orador continua: o Elemental do Desejo, entidade semiconsciente, 4 hora da morte do corpo fisico, temendo_pela sua vida, altera a estrutura do Corpo Astral dispondo em camadas concéntricas a substincia astral, por ordem de densi- dade, a mais grosseira na parte exterior para melhor resistir 4 sua desagregagio. © corpo astral assim reorganizado é cha- mado pelos orientais—Yatana ou corpo do sofrimento. ALEM 143 MENSAGE™M (Continuado da nimero anterior) Numa vontade laboriosa devemos estreitar nossos los com a Vontade Suprema, para que se torne realidade, 0 anseio de projectar amparo por essa Humanidade que desliza sobre declives de decadéncia moral, procurando suster sua queda. A nossa crenca que € a revelagio e consolagdo prometidas, tem dois campos distintos onde ‘se podem espraiar inteli- géncias © sentimentos. Um campo que se oferece para as grandes investigacoes cientificas, ¢ 0 campo doutrinario € ideo- logico. Mas sendo distintos por sua natureza delicada, s4o unos na sua finalidade. O investigador tem de se subordinar as leis, como qualquer sabio se subordina a mé todos. Como ja foi dito, a Ciéncia tem de caminhar -par-da beleza fecunda da alma, porque Deus, sendo incognoscivel, em Sua esséncia, em Suas intimas profun- dezas, revela-se em todas as obras através das leis harménicas do amor, Para aqueles que reclamam uma defi- nig&o cabal pela Ciéncia, nfo satisfard em absoluto sendo 0 esclarecimento pene- trante de verdade, através dos prismas da por MARIA CARLOTA SANTOS tazo, da coeréncia, da harmonia suprema de todas as leis. 'Conservemos a con- viegto de que Deus € 0 tinico poder do Universo e tudo o que pasmia ow absorve os homens, tem origem Nele. Swedenborg escreve: «toda a volicio da Ciéncia ‘e todo o pensamento esto ins critos no cérebro do homem e no seu corago», «Ele—continua o filésofo — descreve a sua vida no seu ser fisico, € 08 anjos descobrem assim a auto biogra- fia de sua estrutura >. Esta maxima do filosofo sueco adapta- -se ao caso de podermos neutralizar pen- samentos inimigos por meio dos seus ainti- dotos. Anulando essas forcas negativas, tomamos posse de uma moralidade supe: rior € duma capacidade directiva, das quais dependet 0 éxito do nosso esforgo em prol do semelhante; o espirita auto-edu- cando-se, coloca-se no lugar preciso, donde ninguém pode aped-lo. Medindo todos os actos pela bitola rigorosa dos ensinamentos cristéos, 0 espirita tem a missio mais facilitada da Terra, mas a de mais transcendente responsabilidade, Em qualquer credo pode ser descul- De facto, assim é, afirma 0 conferente, porque o espirito desencamado s6 pode receber e ter conhecimento das vibracoes correspondentes is mais baixas sdrdidas emogdes dos habitantes do Mundo Astral onde s6 vé o que de mais depravado existe no mundo que habifa, devido a afinidade e sintonia do ritmo vibratério da matéria astral mais grosseira e densa que o envolve. Donde se compreende a utilidade destes conhecimentos antes da morte do corpo carnal, pois por um esforco volitivo intenso e perseverante 0 recem-desencar- nado pode impedir a reorganizagao do seu corpo astral, poupando-se, assim, a dolorosos e prolongados sofrimentos. O conferente terminou fazendo um vibrante e comovedor apelo a todos os assistentes, pedindo-Ihes que sempre que estivessem em cimaras mortuétias empre- gassem os méximos esforgos para evitar explosdes de dor e de lagrimas, seja qual for a amizade e saudade da familia e ami- gos pata'com o. recem-desencarnado que nestas horas solenes s6 deseja paz, sossego € preces fervorosas, juntas a uma resigna- Gao cristé por parte da familia e amigos, mas, sobretudo, preces, muitas preces, sentidas e fervorosas, para auxilidr 0’ sett ente querido na reconstituigéo dos seus corpos animicos, e na sua ascencao para Mundos de Luz e de Amor. A fluéncia do ‘orador ea compleki- dade dos asstntos versados impedem que possamos dar o devido desenvolvimento € realce a esta conferéncia que foi muito instrutiva e ‘itil para a assisténcia que aplaudia com calor o conferente, 144 pado um deslise; ao espiritualista que deseja merecer tal nome, tudo ¢ niecessi- rio para cumprir sua devotada missao. Sabedor das causas e dos efeitos, deve ele reget um mar. de pensamentos onde as correntes tomam varias direccdes. Influén- ¢ias opostas ¢ correntes divergentes, sero vencidas pela normalidade do viver ¢ristéo, que servird de preponderante fac- for pata manter 0 fisico e 0 psiquico cal- ‘mos_e sdos. E feliz quem cedo aprende o segredo da cultura mental e adquire a arte.de reter ho espirito a sugestdo justa, a poder triun- far no ambiente em que vive ou luta. Essa misao, de certo, modo, também nos est confiada. Devemos ensina-la aos mais novos, Aqueles a quem legaremos 0 lugar. sentir e 0 querer originam a con- versio dos habitos em actos que estabele- cem uma conduta e regra para a vida. Se aos novos falarmos desde a infancia a linguagem pura e simples da verdade imensa, ensaiando seus passos para as maravilhas. divinas, trabalhamos, pela evo- lugo, Iniciando os que nos estdo. con- fiados, nesses exercicios. grandiosos onde eles podem aurir ensinamentos e defesas exttaordinarias, cumprimos fielmente a tarefa bem facil da nossa vida, Hoje, mais do que nunca, o grande problema ¢ 0 dos jévens. Hoje, mais do que nunca, a juventude é 0 fundo de re- serva do Mundo, Ha que colocé-los em primeiro plano, encarar o seu caso pelo lado bésico, 0 lado espiritual, De facto ngo basta criar seres.dotados de bons miisculos ou boa estética, é preciso culti- var-lhes 0 cérebro e a alma; despertar-Jhes © gosto por tudo o que seja clevado, arran- ca-los a0 dominio da carne, destacando- -lhes 0 espirito. Ainda que. o espirito seja um drgdo imaterial, que tem 0° cérebro por instru- mento de manifestacdo, esta sujeito, nas suas fungdes, as leis biolégicas de todo o organiismo, de sorte que, por falta de edu- cacao ou de preparacdo, se vai debilitando até 4 atrofia, determinando, por simpatia na vontade, repugndncia pelo transcen- dente, mas inclinagdo para mal gastar o tempo em futilidades. A generalidadg dos jovens de hoje tem o espirito semelhante a um balde.cheio de orificios no undo, ALEM por ondevsai a aguavantes de chegar ao ponto de destino, A mocidade esta en- ferma de espitito. Ailitivamente devemos ponderar nas causas e nos efeitos desta enfermidade,.. Nas causas que esto por vezes em negligéncias de seus maiores, em faltas de atengao ¢ rebeldia a orien- tagdo cristd, sobretudo na tentacao desco- nhecida de todas as torpezas ¢ desmandos, que 0 progresso dissoluto Ihes oferece. Prazeres efémeros, labaredas de vicio ¢ corrupedo, que envolvem a carne, subver- tendo o espirito, Assim, a sua mentali- dade, se bem pensarmos, nao é mais do que 0 produto do tempo, pelo esiorco do Ego na aquisicdo de conhecimentos que © fazem senhor de uma. parte do mundo exterior, daquela parcela infima que o tenta, que 0 absorve, dando-Ihe artes ma- gicas de dissimulagao. Os efeitos, como podemos calcular, é reterem e assimilarem podridao, em vez do mel elaborado com o pélen libado pela inteligéneia, nas fontes do belo e do conhecimento de Deus. Desgracadamente a) mocidade desvia~ -se_ das belezas do Universo e poisa demasiado os seus olhos nas belezas convencionais ¢ artificios ridiculos. A par desta tristeza, uma indiferenca cruel se nota: a barreira cavada entre os jovens € 08 que j4 0 ndo sdo; as suas’relagdes s8o 2s, mais tensas, comecando no lar, seguindo pelos professores ¢ orientadores, A maior parte vive uma vida aparte, © esta maioria é exactamente, a formada pelo pseudo escol da sociedade, O dominio da casta esti em decadéncia, A moci- dade.ndo reflecte, nao discorre, vagucia... Por todo o mundo se formam associa- ges pro, mocidade, Um movimento de solidariedade aflitiva reboa pela Terra, num frémito de temor pelo AMANHA, Disse 0 professor Guilherme James que «se esta vida ndo fosse uma verda- deira batalha em que o homem tem que ganar alguma coisa a favor do Universo, ndo seria mais do que uma comédia fri- vola»! Mais acrescenta «que é uma verdadeira Iuta épica, como se no Uni- verso houvesse alguma coisa susceptivel de melhorar, pelo esforco do nosso ideal », Pelejar por um ideal, por um objectivo que nos incita e nos anima, levando o esforgo pessoal a engrossar 0 esforco BEM 8s colectivo do bem pelo bem... ndo sao castelos no at, mas decisdes ponderadas, nfo so utopias, mas sim, movimentos sectetos de remodelacao e evolucao, Nem loucos ou visiondtios sio os nossos anseios de colaborar para um Mundo mais puro e mais fraterno, mas sim naturais necessidades de equilibrio, naquilo que deixamos)eé obra: nossa. Sera um sonho que representa o sincero desejo de realizarmos uma empresa itil e honrosa, mas ndo um devaneio irivolo; tenho a certeza que em todos os peitos que t@m o ideal cristo, hdo-de brotar energias necessarias para levar a cabo essa obra, que embora ardua e espinhosa ¢ de todos. Verdadeiramente, nem todos foram pre- destinados para o mesmo caminho, mas ja que chamamos destino a tudo 6 que nos limita, fagamos que nfo seja muito estreito, para que nele caibam amplitudes ideais, com tendéncias executivas ¢ reno- vadoras. Recordemos aqui uma frase de Mae- terlinck em «Tesouro dos Humildes»; diz o autor: «s6 a nos compete engrandecer a consciéncia da Terra; ela é a linguagem das almas, que se traduz em beleza. E preciso bem pouco para. animar a beleza de uma alma, & necessirio bem pouco para despertar os anjos adormecidos», Asse pensamento acrescento com ousa- dia: € preciso iinicamente comecar, cada qual em seu caminho, mas COMEGAR! Porque nao ousaremos ser aqueles que comecam a trabalhar espiritualmente pela mocidade? Tentemos chamar as fileiras espiri- tuais, sem imposicdes ou dogmas, com a clareza da opinido e da explicacao (por- que a juventude avida) tentemos. cha- mar, repito, os que nos ndo tem merecido a devida atengdo, remediando a tempo um grande erro, Uma coisa bela néo morre sem ter purificado alguma coisa, A nossa dou- trina sem a beleza dos novos, perder-se-A como filosofia dificil que os jovens arre- dios olhardo com desprezo. Porque se ndo comeca uma campanha de interesse pelos jévens, interessando-os pelos problemas espirituais sem a obriga- toriedade de espiritismo, que chegaria a seu tempo, mas focando e destacando tudo quanto se prende com a manifest: Gio espiritual em todas as facetas, evider ciando a arte? Porque se nao fazem palestras compostas por mestres, mas ditas por rapazes € raparigas de boa dicclo, onde os assuntos espirituais fossem trata- dos com a leveza propria que interessa a gente moga, e onde ressaltasse 0 porme- nor didatico? A meu ver, ha necessidade absoluta de intercimbio espiritual entre a juven- tude, para despertar virtudes latentes e aptidoes inatas. Que se promovam expo- sigdes de arte onde todos os jovens possam colocar um trabalho por mais simples, onde sejam estimuladas todas as suas aptiddes ¢ auxiliadas as suas tendén- cias artisticas, E ainda Maeterlinck que nos diz: «as” criangas comprimem-se no limiar, segre- dam, olham pelas fendas, mas ndo ousam impelit a portal Esperam que uma pessoa crescida va abrir!» Ha necessidade portanto de abrir a nossa porta, como pessoas crescidas espi- ritualmente, abri-la com a-atengéo e deli- cadeza, para com os jévens que sdo muito susceptiveis. Sem os espantar com coisas sérias demais, mas com a diploma: cia dos bem. intencionados, guid-los no caminho das naturais revelacdes. Prepa- remos-lhe 0 caminho espiritual porque sem se ser espiritual no se pode ser espirita. Interessemo-nos pela pleiade jOvem que espreita 4 nossa porta, julgan- do que a nossa casa é casa de fantasmas, mostrando-Ihe que & um retiro‘de sequio- sos de saber, € uma casa onde se ndo forcam credos, mas onde se esclarecem espiritos, A grandeza da obra é directamente proporcional 4 intensidade do empenho em realizé-la; essa grandeza cabera aque- Jes que auxiliarem a pér em execugéo 0 Projecto de aproximacao, de continuidade, absoluta. Disse Disraeli: «depois de muito reflectir e ensinado pela experiéncia, propria e alheia, convenci-me que de todo © homem, com o propésito de conseguir algo, acaba por consegui-lo, se se empe- nhar com firmeza, ainda que com o risco da propria vida. » A nds nao € preciso comprometer a vida; a tarefa é facil, basta unirmo-nos e QUERER. Todos poderdo ser poderosos Propulsores, logo que ponham seus talen 146 ALEM A Mulher na Evolucdo da Humanidade (Continuado do niimero anterior) Feminina ou masculina todas as dita- duras so fontes de desgraca para a Huma- nidade. O elemento optimido revolta-se contra © opressor; foi 0 que aconteceu na grande antiguidade contra o matriarcado. Dessas revoltas, a mais conhecida veio até nds através das Belas Artes, em expressoes geniais na pintura, na escultura e na lite- ratura, simbolizada no rapto das Sabinas, Nessa tremenda Iuta, a mulher ficou vencida e, assim, de senhora absoluta, passou a triste situagdo de escrava. Sobre © seu reinado 0 homem langott cuidadosa ¢ expressamente o véu do esquecimento, para que os vindouros ignorassem 0 extraordinario poder de que ela usara e abusara, Contudo, esse poder continuou sempre a existir nela, por emanar das leis supremas da natureza espiritual, e que no decorrer dos séculos se tem manifestado, como no-lo regista a propria Historia, € entre muitos, 0 mais conhecido ¢ 0 caso de Joana d’Are, O vencedor masculino habilmente soube inverter os papéis, lancando a mulher para todos os planos inferiores da sociedade, aonde se conservou até 20 por A. YVONE DE SOUSA (Haydi de Thebeten) principio do século xx, em que comecou’ a pelejar pela sua independencia. Longe ira eu em narrar os abomind- veis suplicios a que a mulher foi conde- nada desde a queda do matriarcado, Basta lembrar que em muitos povos, como na China e em muitas regides da India, 0 nascimento duma tapatiga era considerado um castigo do céu, e por isso a enterravam viva. Quando enviuvava também a sepultavam ainda em vida, jun- tamente_com o cadaver de seu marido. Na Europa, principalmente na Ingla- terra e na Franga, dos séculos xv a xvit foi muito empregada a cintura de casti- dade, 0 agamo das faladoras e a pipa das gulosas, das ébrias e das braxas, ow que como tal fossem julgadas pelos respecti- vos esposos. Estes horriveis instrumentos de tortura foram felizmente abolidos € hoje figuram em museus de Londres ¢, em Paris, no Museu Cluny, a atestar quanto no Ocidente era ignorada a ma- xima japonesa que diz: «que numa mu- Ihet nao se bate nem com uma flor!» As torturas e afrontas de toda a espé- cle de que ela foi vitima através de sécu- tos e recursos de engenho, a virtuosidade da palavra € da pena, o cristalino espelho do exemplo, servindo esses recursos para afastar do caminho da inconsciéncia alguns irmaos mais novos, enfileirando-os fora do erro da supersti¢ao, do fanatismo, € da rotina que assinala um ponto longin- quo do cume do ideal, onde resplandece © farol da Verdade. Unificando esse esforgo, dentro em breve feremos a satis- facio de uma obra de esmero. Mas € preciso audicia e coragem; sao sobretudo precisas obras, porque pata os jévens muito vale 0 exemplo. Sou partidaria do ecletismo, dentro da filosotia espiritualista, Cada um tomara o partido que entender, ficando preso 4 parte moral peculiar a tudo o que € espiritual. Trés séculos an- tes de Cristo, na Alexandria, fundou-se uma escola eclética formada por sabios, tendo por chefe Potamon; mais recente- mente, em Franga, Victor Cousin fez revi- ver a filosofia eclética, procurando nos escritos de filésofos de todos os tempos, 0 que mais veros Ihe parecia e, sem adoptar sistemas, ofereceu-a 4 mocidade do sew tempo. Foi um dos momentos fureos do pensamento francés. Temos ainda a escola de Pestallozi a atestar este camninho de espiritualidade, Muito importante € 0 modo de come- car uma obra, mais importante ainda, ¢ 0 modo de a continuar e acabar. O fim coroa a obra diziam os romanos. (continua) AEM. —$—$—$—$—$— 17 los e que ainda sofre nalgumas ragas atra- sadas, € motivo de sobejo para provar o atraso do género humano. ‘Mais considerado como cousa do que como ser da mesma espécie do homem, a mulher € ainda vendida sob varios aspectos, sendo o mais degradante a prostituicdo tegulamentada. Esta nédoa, mancha nfo s6 a vitima como os seus proprios algozes. ‘Tanto no Oriente como no Ocidente, sem esquecer a chamada des dessas épocas aparecem como estrelas de primeira grandeza a brilhar com estra~ nho fulgor algumas mulheres. célebres pelo talento pela coragem de se evi- denciarem em tempos tao terriveis. Em seguida vem.a cavalaria ede novo a mu- Iher_ aparece nas Lauras © nas Beatrizes. Durante ieudalismo. destacaram-se pela sua laccdo enérgica na politica: a ‘condessa’ Matilde, em Italia; D. Teresa ¢ sua’irma D, Urraca, na Peninsula Ibérica. No ducado da Bretanha, Joana de Mon- ffort, princesa da Flandres, de espada desembainhada, 4 frente dos seus homens, conseguiu derrotar o inimigo e levantar 0 cérco. Isabel de Aragao, rainha de Por- tugal, colocando-se 4 frente das tropas de seu marido e de seu filho conseguit rea- lizar a paz entre os dois régios conten: dores.” A Idade-Média deu-nos ainda Marga- rida da Dinamarca realizando o célebre pacto de Colmar. Em Portugal, Brites de Almeida, Deu-la-Den Martins, D. Filipa de Vi- Ihena, D. Luisa de Gusmao ea rainha D. Maria Il, além de muitas outras mulhe- res de valor, simbolizam.o verdadeiro espirito de liberdade e de independéncia da mulher portuguesa. Em 1643 nascia na Hungtia a princeza Iona Zrinyi, que ali foi t40 célebre como Joana d’Are em Franca. Defendeu'o seu pais; comandando as tropas em substitui- go de seu marido, exilado na Turquia. Depois de ter dirigido 0 cerco contra os alemfes conseguitt a assinatura dum hon- 1080 tratado de’ paz, em que se firmava a independéncia da sua patria. E, quantas, quantas outras” hieroinas conhecidas ou obscuras, contribuiram para © bem estar dos povos ¢ ergueram bem alto 0 nome de muitos homens que na Historia ficaram célebres? ALEM Como se explica qite os dominadores do: Mundo,’ imperadores, reis, generais, sacerdotes, sibios, filésfos, artistas, etc., descendam dum ser tanto Aparte na Huima- nidade? Como compreender que esses homens: superiores pelo mando e. pelo. génio, tenham sentido as mais violentas paixSes por um ente tao «inferior»? Que forga misteriosa, que extraordina~ tio poder tem ela exercido sobre o homem de todas as épocas, que o sew olhar tem feito. mudar o destino de milhares de seres, levar ao apogeu ou a destruigao as civilizagoes, e ampliar ou teduzir fron- teiras? Se nao fora o rapto da formosissima Helena, Troia nao teria’ sofrido o terrivel ceico que lhe impés a colera de Agame- menon. A perda de Anténio, motivada pela sua fatal paixo por Cledpatra’ cau~ sou a unidade do império romano e faci- litou a conquista da velha Galia. O amor de Mohamed por Kadidja abriu-lhe o caminho em que seria reconbe- cido profeta e em que faria a.unidade do Islamismo, impondo-o numa terca parte do Mundo. Clovis, rei pagio, desposando também por amor a princesa. Clotilde, converte a Galia ao cristianismo e inicia as ctuzadas na Idade-Meédia. Os iragicos amores de D. Inés de Cas- tro e de D. Pedro, mancharam uma pa- gina do brilhante reinado do «Bravo».e fiveram decisiva influéncia no cardcter daquele principe, acentuando-lhe a natu- reza severa de justiceiro. Isabel da Baviera, vitiva de Filipe-o- -Belo, mulher de prestigio turbalento quase perdéu a Franca, pela influéncia perni- ciosa que exerceu, Henrique VII de Ingla- terra, querendo casar com Ana Bolena, como 0 Papa Ihe tivesse recusado 0 seu consentimento para o divércio, advoga a Reforma, criando.o Protestantismo ingles. Os amores do Ministro Mazarino por Ana de Austria ‘iniciatam 0 poder abso- Into nos reinados de Luis XIV, Luis XV e Luis XVI, preparando a revolucdo de 1793. Luis XVI deve a sua perda ao ascen- dente que sobre ele tinha sua mulher Maria Antonieta. Esta rainha, de educa- cdo rigida e conservadora, impeliu 0 rei a combater as ideias liberais, provocando a sanguinitiz Revolugio Francesa que os levow a guilhotina. ALEM te Ll MENSAGENS SUPRANORMAIS Bagands oE preciso viver muitas vezes para vencer-a dura ‘batalha!. Qi caso que vai ser nartatlo baseia-se nos‘ apontamentos de pessoas da familia do personagem que vai ser focada e que merece estudo € meditado com atencao, O facto &'digno ‘disso. Havia ja quatro anos que o St. Joaquin Pedro de M..., atacado de snbitahea mo- léstia ‘aos dez anos, jazia anquilosado, no Ieito, sofrendo dores incomportaveis que ele Suportava com coragem e constancia inauditas.» Desde muito novo mostrava sentimentos amaveis e uma;delicadeza de atitudes que o faziam veramente estimado pela familia e pessoas amigas, No dia em que fizera 0 10° aniversério do sew nascimento, a doenca prosttéra-o impla- cavelmente. . Inteligentissimo ¢ dotado de muita paciéncia, diligenciava’ continuar a estudar, segisrando com muito custo os livros com’ a quase paralisada mao direita. Apenas fizera o exame de instrugao pri- maria, Seu tio’ materno por afinidade, o Dr. Joaquim da S... V.., médico distinto, matemitico consumado ¢ com alta cultura literaria, era o seu assistente, cercando-o do maior carinho. Todavia a pobre ctianga tinha ainda uma grande afeigdo na sua vida: a mae, a quem adorava e/a quem chamava a sua doa fada.. A desolada senhora, que muito Ihe queria, debrugada sobre aquele leito de anguistia, suportava © seu calvatio com nao. menor coragem que o filho estremecido, que tanto a fazia sofrer!... tudol... — Mama. querida, estou com imensas dores!....|Da-me um beijo e elas desapa- Tecerao!.., De, facto repousava imediatamente, Mal sabiam.os dois que nesse ésculd iam os efltivios que eram o balsamo. para aquele horroroso softer!.... O pobre mar- tir tinha dores constantes e horrorosas, ¢ os, médicos nao atinavam com a origem do mal impiedoso. O tio,’ que muito. o estimava, passava junto dele todo o tempo de que podia dispor, porquanto o inte- ressava aquele excelente mocinho que tinha, apesar das dores, saidas espirituo- sas. O softimento nao o vencia e ndo 0 venceu até a hora da sua mortel... Um dia disse: — Meu tio, apetece-me comer o petisco de D. Afonso IV, 0 Bravo!... =O que vem a Ser esse petisco?. —perguntou, sorrindo, 0 médico, que ja esperava qualquer coisa alegre. —Uma boa aliace como a que ele comen na batalha da Salada, a sociedade com o Rei de Castelal... Apesar de nunca ter estudado Mate- mética, resolvia, com a’ maior rapidez, problemas de proposigdes dificeis. Certo dia disse ao tio: —Parece-me que nao é a primeira vez que venho a este Mundo!... O médico, educado na escola mate- rialista, rin com vontade.e decretou logo: — Disparates!.... Vamos falar noutras coisas mais sérias ¢ instnitivas!..: A paixdo de Luis XIV. por Maria de ‘Mancini, sobrinha de, Mazarino, provocou © descontentamento do povo pelo desba- rato financeiro ocasionado por estes amo- res do rei. E por Josefina de Beauharnais\ que Napoledo faz a campanha de: Italia, 'e voa de gloria em gloria para a oferecer & sua bem-amada ¢ assim formar um grande Tailletant, antigo bispo de Antun e principe de Benevent, teve a influenciar a sua carteita’ politica Amanda de Coigny, que ele adorava, E quantos outros gran- des amores de homens ‘célebres poderiam ser citados pela decisiva influéncia que sobre eles exerceram as. mulheres por quem se apaixonaram? (Continua) 150 Joaquim Pedro nao Ihe respondeu... Concenirou-se um pouco e comecou com ares de professor: —Meu senhores, falemos agora. da estrutura do globo ocular... Alojado na cavidade da drbita... E seguiu uma ligdo magistral que o meédico ouvin estupefacto e maravilhado. Descreveu a cérnea transparente, a escle- rotica, o cristalino, a retina, os segmentos dos miisculos, 0 nervo lacrimal, 0 nervo 6ptico, a funcao do diafragma, a forma- gdo da imagem e os defeitos da vista. No fim, dirigindo-se a0 médico, con- tinuou: —O aluno é miope; eis a tazdo porque a sua vista esta sendo corrigida por lentes cOncavas. Vamos agora ver qual_o caminho da retina até ao cérebro... Quase meia hora de exposicio fluente que terminow assim: —Tenho na minha clinica hospitalar exemplares raros que faco apresentar nesta Faculdade... Este doente. —Mas quem és tu? — inquiriu 0 mé- dico a seu pezar subjugado e pegando- -lhe na mao— Como € possivel tu falares Ensinei Prof. Jarolow (?)... E a voz era meio soturna... O sem- blante _demudou-se-lhe completamente... O Dr. V... saiu do quarto e disse a sua cunhada, cheio da mais profunda comocao: —Este pequeno assombra-me!... Ha aqui qualquer coisa que escapa a minha percepcaio Certo dia disse a sua ma —Mamé querida, vou visitar a nossa Maria José!... . A St. D, Maria Sofia, que por fim ja se nao admirava de coisa alguma, disse sorrindo: —E como fards tu essa viagem a Inglaterra, meu querido filho?... —Tu verds mamal.... Vou 14 num pulo e volio!... E ha-de ser hoje!... —Esti bem, filhinho!.... Boa viagem te desejo e cé te esperol...—E a boa senhora sorriu... E 0 pequeno, ao meio da tarde, im- formou a sua excelente progenitora; ALEM ~ Querida maizinha, vi a Maria’José, que primeiramente se admiron, acabando por chorar e ir dizer A directora do colé- gio: . Eu ti a valer, pois achei muita graca a mensagem. caso 6 que por diversas vezes me encontrei com ele, num estado deploravel de intoxicacao. Rejubilo-me por ele ter seguido o conselho do pai, sendo hoje possuidor de muitos bons habitos, evitando toda em entrar em discussdes sobre 0 Espi ritismo. Frederico Duarte ‘Manchester ABM), is grande romance de recente publicagto, dos problemas da sobrevivéncia da alma, sem qualquer espécie de partipris e com uma nobreza de exposigto que deve concitar-Ihe, pelo menos a nossa admi- ragdo incondicional e 0 nosso sincero aplauso. Raros sao, na verdade, os ficcionistas portugueses que, ao referirem-se ao espi- ritismo, nao cedem a tentacdo de o alfi- hetarem com a sua ironia, quando nao de o flagelarem com os seus vitupérios. Guedes de Amorim, para cujo exemplo meritério nos permitimos, do melhor agrado, chamar a atengto de todos os Ieitores do , almas limpas e bem forma- das, para que os espfritos maus out ainda por esclarecer ndo perturbem ou mal- tratem a pessoa que os encarne. Fran- cisco limitou-se a abrir a boca, mas ainda desta vez nada compreendeu. 'Aos pares ow isolados. entravam mais espiritas. A. cutiosidade de Francisco. registava tudo. Lé baixo, por detrdés do médium, um quadro representava o busto de Cristo. Os retardatarios atravessavam a porta em bicos de pés, baixavam a cabeca ao douirinador e ao médium, ¢, depois de verificarem que as primeiras filas jd estavam ocupadas, dirigiam-se 4s iiltimas que apresentavam ainda lugares devolutos. . — Mas que vem toda esta gente aqui fazer? —perguntow 0 operatio ao foté- graio. —Saber dos que partiram e prepa- rarse para a outra vida... — Como? Francisco ficou sem resposta, O-dou- tor Ferreira deu, num. gesto, ordem a um homem que estava de pé, a um canto, mandando-lhe fechar a porta, no que foi prontamente obedecido. —Vai comegar...— informou 0 fotd- grafo, Entao, o doutrinador citou um versi- culo da ‘Biblia, ¢, interpretando-o, fez uma breve preleccao sobre a curta’ vida terrena. Todos deviam ter bons pensa- mentos, praticar actos fraternais, dignos e desinteressados, preparando a sua vida futura num plano superior ao da Terra, E rematou: =O corpo é como um fato velho e initil, que, apds a nossa desen- carnagio, apodrece e se desfaz em po. $6 0. espirito continua a viver, numa viagem pelas esferas e sempre para mais alto, até chegar a Deus», Francisco, sem que houvesse com preendido Id muito bem o que o doutor Ferreira havia dito, sentia-se na rede de uma emocio indefinida. Agora, a velha que tinha chegado com a Alzirinha, e que estava sentada a seu lado, rezava uma prece, pedindo a proteccao dos bons guias para a sess4o. Quase todos 0s «irmdos» curvaram a cabeca, com os olhos cerrados e os MMbios murmurando a mesma oragto da. velha;. E, contagiado pelo ambiente, operario foi perdendo ALEM. de todo a serenidade. Sentado entre os amigos que ali o tinham levado, via-os, de olhos baixos, a murmutar a reza, também. Depois, tudo mergulhow em silencio, Alzirinha,'na_sua actividade, meditinica, cerroul as pélpebras, foi empalidecendo gradualmente e, caindo em transe, come- cou a deglutir com vagar ¢ dificuldade, como se se.esforcasse por fazer” passat qualquer coisa pela garganta. Por fim, sorridente, sempre de olhos fechados, falando numa voz de-homem, mas doce e carinhosa, abengoou os «irmaozinhos queridos », — Ela tem aquela voz? A esta pergunta do operdrio, respon- dew pronto o Feteira, que se havia im- posto a-obrigagao de esclarecer 0 lami- nador, trazendo-o para o rebanho dos Quem falou pela boca do médium foi S. Francisco Xavier, que é 0 guia do nosso centro. Mas ja Alzirinha, que, por um: ins- tante, tinha regressado ao estado normal, voltava a cerrar os olhos e a empalidecer, adquirindo 0 rosto e as maos uma livi dez matmérea. O doutrinador, atento, fitavara, seguindo as fases por que ia passando. © mesmo faziam os «irmaos» que formavam a corrente e, com maior ansiedade ainda, as. pessoas que ocupa: vam a sala. De sibito, saiu da boca da Alzirinha um vozeirto: —Pronto! C4 estou. rem? Um arrepio de susto trespassou Fran- cisco. Nao sendo embora homem. para medos, enorme espanto 0 calairiow ao escutar aquela voz grossa e exaliada. — Boas-noites, irmao — disse o doutor Ferreira, dirigindo-se ao espirito comuni- cado na Aizirinha.—Seja benvindo ao nosso convivio. — Quem € vocé? Quem sao estes? —Seus amigos, somos seus amigos, meu irmao. z —Boal Vocé é parvo? Eu nao tenho irmaos. — Engana-se. Hein? Voct ¢ que se engana!’ Ou nao saberei quem sou ea familia que tenho? ‘A mio do médium, porque aquele espirito estava zangado, descatregou um murro sobre a pequenina mesa que estava Que me que- ALEM na sua frente, . vozeirto tornow a inun- dar a sala: —Raio! Nao seja teimoso ¢ saiba que eu sou 6rfao e ndo tenho irmaos! Francisco estava surpreendidissimo, Aquela voz era rouca e volumosa, de modo nenhum poderia ser da Alzirinha. E 0 didlogo entre 0 espirito e 0 doutri- nador prosseguia: aquele barafustava, este mostrava-se conciliador. Entre a assisténcia, e por reaccdes diferentes, havia quem estivesse dominado de sur- presa e havia, também, quem mostrasse sorriso irdnico. Aquele espirito, era evi- dente, nao-sabia que tinha desencarnado e estava ainda mergulhado em trevas. Os frequentadores do centro de espiri- tismo, recordando outras sessdes, sabiam bem ‘que, quando um irmao deixa a Terra, demora-se quase sempre largo tempo numa obscuridade que o perturba antes de evoluir, Feteira e Jerdnimo, como a maior parte dos assistentes, tro- cayam em voz catttelosa, impressdes sobre a personalidade do espirito que tinha invadido 0 corpo da Alzirinha, Devia tratar-se de um aldezo, como bem se percebia pelo sotaque e pelas maneiras, —Quero it-me embora!—berrou o espirito. —Nao se sente bem aqui? —Claro que nao! —E para onde quer ir? — i doutor Ferreira, usando de artificio para descobrir a entidade daquele «irmao» durante a sua permanéncia na Terra. —Para a feira de Macao! —Como! Para a feira de Macio? —Sim, jf the disse, Ou nao saberd vocé qute ‘essa feira é das mais concorri- das do Alentejo. Abanando a cabeca, como bom enten- dido, 0 doutrinador trocou olhares com 0s «irmaos» da corrente, Sem que o dissessem, todos concordavam que aquele espirito desconhecia que havia perdido o corpo e ja se encontrava no astral. Coisa igual sucedia em quase todas as sessdes. Ansiava-se agora por saber quem ele era. O lampianista chegou a boca ao ouvido do fotdgrat = Quem sera? —Espere... O nervosismo de Francisco tinha vol- tado e, com ele, uma certa desconfianga © picava: «Nao estaré a Alzirinha a 157 Tepresenlar? Nao estaré ela a simular aquela voz trovejante?» Nao queria nem podia acreditar no que ouvia, Mas a palidez do médium, olhos sempre fecha- dos, boca torcida num esgar, e aquele teimoso vozeirao e as stias manciras pesadas davam-lhe que pensar. Voltado para a Alzirinha, o doutor Ferreira per- guntou ao espirito: —Pode dizer-me 0 seit nome? —Posso. Nao devo nada a ninguém, Sott o Justino Bouca. E depois? Repetit o doutrinador os acenos de cabeca de hf pouco. Acostumado havia muitos anos a falar com espfritos, levan- do-os a confessar 0 que haviam feito no plano Terra e, muitas vezes, até a reconhe- cet 0 sett verdadeiro estado noutros pla- nos, por onde deviam passar na enevité- vel’ evolticao, tinha ja estabelecido o método de obrigar a falar aquele que ali estava a_manifestar-se através da Alzi- rinha, E, entto, com intento determi- nado para aleancar o fim que se pro- punha, perguntou: —Sabe onde est4? © «irmao» respondeu prontamente: —Olha que pergunta! Claro que sei. Estou na venda do Zina, —Do Zéina? —Sim. Nao o vé ali ao balcao? Ainda uma vez mais a cabeca meio calva do doutor Ferreira abanou com- preensivamente. E, depois de sorrir para as primeitas filas ‘da assisténcia, conti- nutou: —Ah! Bem, bem, E que vai o amigo fazer & feira? —Vender galinhas. Nao as vé tam- bém, ali, dentro das canastras, no macho que tenho preso & porta? O doutrinador levou o indicador & face, correu-o para baixo e para cima, enquanto tirava, ld para consigo, conclu: sdes do que tinha ouvido. Era agora mais que evidente que o «irmao» que estava comunicado no médium nao sabia onde se encontrava. Francisco inguiriu do fotégrafo: —Na verdade, é uma alma do outro mundo que esté a falar pela boca daquela senhora? —E um espirito—corrigiu o Feteira. Preste muita atencao. © operario cravou de novo os olhos na Alzirinha, Tinha-a ouvido, ao cimo 158. ALEM NOTICIARIO Dr. Anténio Joaquim Freire Este Benemérito da nossa colectivi- dade, depois de uma prolongada doenca que 0 inutilizou mais de quatro. anos, passou no Porto, na sua viagem de con- valescenca, e conviveu conosco alguns dias em amena camaradagem, Fez uma conteréncia, na nossa sede, a qual nos referimos em devido lugar, que despertou muito interesse e assistin a eleicao dos Corpos Directivos da nossa colectividade para o proximo triénio. A seguir ao acto eleitoral, o Sr, Dr, Freire fez uma disser- tagdo doutrinaria a propdsito da visio panorimica ¢ da influéncia perturbante do Elemental dos Desejos apos a morte, da qual recolhemos algumas expressdes que noutro lugar reproduzimos, © Sr. Dr. Anténio Freire recomega, neste niimero, a sua distinta e aprecidvel colaboragdo que, pelo seu valor instrutivo, constituiraprecioso contributo na divul- gacdo do Espiritismo eciéncias correlativas. ‘A Diteccdo da Sociedade Portuense de Investigagées Psiquicas congratula-se pelo regresso 4 actividade espirita do seu amigo, colaborador e criador desta Asso- ciagdo, St. Dr, Antonio J. Freire, s6 agora restabelecido da sua longa doenga. A mesma Direcgao tem o prazer de participar aos seus Cons6cios, que a pedido dos respectivos Corpos Gerentes, este nosso. Confrade, viré, na proxima Primavera, fazer duas conieréncias na sede da S, P. IP, onde desenvolverd os temas seguintes: 1° Evolugdo e trajectéria da Alma Humana desde a morte do corpo carnal até d imediata reincarna- do terrestre; 2° Os Habitantes do Mundo Astral. Estas conferéncias sero anunciadas oportunamente nos didtios do Porto e, como habitualmente, a entrada sera livre. Esta Direccdo agradecetambém ao Sr. Dr. Ant6nio Joaquim Freire a cedéncia dos direitos de propriedade editorial, a S.P.1,P,, dos artigos publicados até agora e doutros trabalhos inéditos que consti- {uem as quatro monografias seguintes: da escada, antes de haver entrado na sala, ¢, nessa altura, a sua voz, fina e aveludada, parecera-Ihe igual a de muitas outras mulheres, «Mas & ela quem re- presenta ou nto?» Nao soube que res- ponder-se. Para mais, ainda ha minutos, no _comeco da sess4o, a0 comunicar-se S. Francisco Xavier, protector do centro, a Alzirinha falara numa voz débil e cari nhosa, diferente da que the tinha es- cutado ld fora e bem diferente, também, daquela que agora emitia, Tudo o in- quietaya, sem encontrar explicagdo que O satisfizesse. E, 4 medida que o doutor Ferreira prosseguia no interrogatério, ia ele sentindo-se sufocar. O Feteira, como 0 observasse, disse-Ihe com sorrisinho de troga: —Nao tenha medo. » * O romancista continua, até & pag. 249 —todo 0 capitulo xvi, praticamente, tem por tema a sesso de espiritismo—, a descrever os fendmenos sobrenaturais de que o protagonista do romance, 0 operario Francisco, é testemunha presen- ial e que levam A total identificagao da entidade comunicante. Ha ainda outra comunicagto transcendental, o médium patenteia as suas qualidades de vidéncia e 0 capitulo termina como termina a sesso: numa atmosfera de respeito pelo espiritismo. Tudo isto—repetimos —é motivo bas- tante para o nosso sincero louvor a Gite- des de Amorim, que, nao pretendendo mostrar-se s4bio no assunto, se mostra, inequivocamente, bem intencionado para com o espiritismo. Como 0 facto nao é frequente entre os escritores—e, também, entre os jornalistas, sobretudo entre estes —do Pais, aqui o registamos com o aprego a que tem jus, do melhor grado recomendando aos nossos leitores livro de Guedes de Amorim, digno da curiosi- dade, do interesse e da'simpatia de todos. ALEM 1.°—A Margem do Espiritismo; 2.°—A Alma Humana; 3.2—A Energia Mental e as Formas- -pensamento; 4,°—Animismo e Espiritismo. A monogtafia, «A Margem do Espi- ritismo», seri publicada num dos. proxi- mos meses. No prdximo niimero desta revista sera publicado um artigo da autoria do senhor Dt. Antonio J. Freire tendo por titulo: «Da Evolugaio e do Transformismo. (Leis basilares: Lei do Reincarnacionismo ou das Vidas sucessivas —Palingénese; Lei da causalidade moral ou das accdes e reaccdes psiquicas — Karma)». (De «© Comércio do Porto», de 9-12.917) Conferéncias 2) D. Filomena Lobo — Vila Real | | | Fernando P. Evangelista — Matosinhos | José de Sousa Figueira — Faro, Vitorino Platas Déria— Coimbra, | Joto Teixeira da Costa — V. do Castelo, Dr ABR —Lisboa. Floriano Augusto Rebelo — Meda Antonio Marques da Silva — Lisboa | Anénimo — For do Douro (Em mens de sua bondosa Mie)... Luis Carvathais Mergulhao —Nagosa | Ondem Esotérica Inicidtica — Lisboa 4GL,—Lisboa. . . MOG: Ulsbonics Sere. 2 Soma 20§00 Be 20300 Ba 40§00 -20$00 jas : 50800 5$00 a 20300 = 50$00 10300 20800 40800 20800 50300 20800 20800 + 6333550 LIVROS NOVOS NOVAS EDIGOES Titulo das obras 0 sous autores Boch, | Ena Titulo das obras o seus au Enead. A. Wylm (Or.) Qpomed Vie ts | 25850 oe rae - - yande Enlgma s+ + sss 20800 Oakes aR ere 2850 | Coisianiome eeephittimo, SL 18500 ‘Adolfo Bezerra de Meneses Gatecismo espiitas ss 2 ss 15850 Aloucura sob novo prima. 6+ + + 290 wiguet Tiingsnl (Bea Alfonse Bus © Caso «Flumberto de Campos... .|15500 © Magnetismo curador—1.* volume. 20s00}f - paut Boater Allan Kardec soo| magn POMIRGHSHENED 21300 OCéueolnteno. . . «se [15900] 22550 a eeecae : Paul Gibi Te cane ve PSO nnause das Coisss. . . - + + + «| 14800) 27850 ‘ltaringe Warns e Castro | area Arena O Martino doe Sniciaes 2 2 5 Sb 47300 || Luz no Caminto. . . . «+ + = ~ «/27850) 37850 Rels, Princes ¢ Imperadoves, 2 2S. 20800] wittam Barrett Anténlo Lobo Vilela (Or. Nos Umbrats do Além (edigfo «Est, Psiguicos~)| 25900 | 35800 © Destino Humano.- «. «| 15800 William Stainton Moses Bipoteses Metapsiquless (edigio da $, PL P «| 5500 apn ot GiPoder Mental (edigio da. P.1.P) =. =| 10500 pea singe pemsaltas a eis e ice 208m C vPicsnarohieas) coer sit nemacon de Landes —| 5 AVerdade Expinhistita ss. ss et 18850 ee Camille Flammarion OBRAS MEDIONICAS © Desconecido e os Problemas Psfguicos . | ee Narragdes do Infinito (LUMEN) . . . + | 20§00 Aquino (*) CI do Mamieet ar tea se 20800] A Barquetra do Jucar (novels). - ss 20800 Soa ete 2283011 Celestina Arruda Lanza (") Ese 77 eth te ei Rataaig 27S | Belo da morta (romance). . +. + 22850 eases mal assombradas.” LL. 1 22850||Danlel Suarez ArtazG (”) Carlos Imbassahy Marieta (stra de duas vides)... 25550 A Mediddsdele’s Tet Moar) oy + ol 25$50]] Fernando Lacerda (°) We ee | 228501! rca de Queliés, postumo. . ss 20500 Ernesto Bozzano (Prot. ppeiccrcan aide kan Animismo ou Fapintimo? . - - » - 25850 Metapsiguica Humana. . 1. s+ + | 2agoo | Carta da Netueza Goesia)y + + pee Batiemente \Veakales = Sears Tegs0 | GEMUNN es snidbed) 2 LLL a Francisco Lelte Bittencourt Sampaio! Dano pig rommen) | 2300 Oc EREe e ‘auso0|] Paulo e Estevdo (comancey. 2 pes 500} Brasil — oraqdo do Mundo, Péirla_do Evangelho 20§00 Gabriel Delanne Conleas de Além-Tdmuloy vee ws 22850 A Alma é mortal. « ees 28500 Novas Mensagens 2 20$00 Abvolugto Animes lS ek 28800|| Pamaso de Alem-Tiimulo (pocstaa) |. . 39850 AReineamagio. ss 6 6 + + 28500|| Frederico Pereira da Silva Janior (*) 4. Artur Findley Derledinvatsies Clare oko tea 17900 No Linder da oe i =, Eaten 20g00|] fesus perante « Cristandade |<... 18800 jee Do Celvario so Apocalipse 2 21 LS 22850 0s 4 Evangelhis (oleesfo de 4 volumes). .| __flogoo/] José Surifiech (*) José Amigé y Pellicer (0.) Lidia romance). vv 6 es + Ae Rome eo\Bvangeliac a2. canes afc 2000] W. Krljanowsky (*) a Herculanum (romance)... s+ Léon Denis 0 eoGomance) | 2 2 SY 45800 Q Problema do Set, do Destino € &4 Dor ago |e ens eee oe 2 : No levisivel. toa 39350 |) Zila Gama (%) Cralemeaiobievivencia doSee 2 1 1a$00|| Dor suprema (novels)... se es 36950 Depok Sine (aac ear aid 32850|| Ne'Sombraematuz 2.) 2 1 ot 25550 (*) Médiuns,

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