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2009
1
Editoração e revisão gráfica
Pedro Henrique Carnevalli Fernandes
Ricardo Luis Töws
Conselho Editorial
Prof. Dr. César Miranda Mendes
Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos
Profa Dra Maria Terezinha Serafim Gomes
Profa Ms. Yolanda Shizue Aoki
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Agradecimentos
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Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
[Excertos – Vilarejo/Marisa Monte]
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SUMÁRIO
Introdução ........................................................................................................ 09
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INTRODUÇÃO
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Obviamente, esta geografia não decorre do acaso. Está relacionada à
formação socioespacial da região que viabilizou, ainda que por apenas
algumas décadas (1930-1970), uma forma de produção no campo com
menor concentração fundiária que em outras áreas do Brasil, além do
uso intensivo do trabalho. A região contava, então, com uma alta
densidade demográfica, bem distribuída em seu interior. As pequenas
localidades, não obstante o exíguo território urbano e população,
funcionavam indubitavelmente como localidades centrais, fundamentais
para o funcionamento cotidiano da economia e da sociedade regional.
O mencionado declínio demográfico mostra que muito se
modificou. As transformações econômicas marcadas principalmente pela
crise da cafeicultura, sobretudo nos moldes em que ela se instalara na
região, trouxeram ampla mudança na composição da produção regional.
Houve concentração fundiária e o trabalho agora se realiza em grande
parte com a mecanização, absorvendo pequeno contingente de
trabalhadores. Isso alterou completamente o quadro regional assinalado
anteriormente e, por isso, parece premente a necessidade de repensar
que papéis representam na atualidade as pequenas localidades, tanto na
perspectiva econômica como na perspectiva social.
Tendo em vista esta problematização, aqui exposta de forma
muito breve, é que assinalamos que estudar as pequenas cidades não
corresponde a fazer apologias às mesmas. Trata-se de analisá-las
profundamente, focalizando tanto os processos que podem ser
verificados em âmbito regional e que nos fazem repensar os papéis
dessas localidades, quanto verificar na dinâmica local cotidiana,
expressões próprias do modo de produção capitalista. São, portanto,
dimensões do espaço que também revelam as contradições sociais. É
neste sentido que propomos a reflexão sobre as pequenas cidades.
Ainda assim, como o leitor pode perceber, nos valemos como
epígrafe desta publicação de excertos poéticos de Marisa Monte. A
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poesia pode se aproximar da apologia, contudo é possível reconhecer
nos versos apresentados atributos que permanecem nas pequenas
localidades e que trazem uma sociabilidade diferente. Elas preservam
dimensões mais humanas do tempo e do espaço. São estes ritmos e
espaços diferentes que nos ajudam a questionar as tendências e
expressões urbanas predominantes e a condição de vida que tem
representado.
Os dois primeiros textos: “Qual o papel dos pequenos municípios
na escala local do desenvolvimento?” (Rosa Moura) e “Redefinição dos
papéis das pequenas cidades na rede urbana do Norte do Paraná” (Tânia
Maria Fresca) são resultantes de exposições efetuadas na mesa
redonda: “Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana”.
São contribuições pensadas a partir de perspectivas diferentes no
sentido de caracterizar as pequenas localidades e como elas têm se
inserido e redefinido os seus papéis no âmbito de uma rede urbana cada
vez mais complexa.
Em seguida o texto “Pequenas localidades y vaciamento
demográfico: desafíos y oportunidades”, registra a conferência de
Marcela Benitez. Ela conta a experiência da criação de uma ONG
(Responde - Recuperación Social de Poblados Nacionales que
Desaparecen). A autora foi fundadora e atual diretora da instituição
que tem procurado diversas formas para apoiar pequenas localidades da
Argentina que correm risco de desaparecer devido ao processo de
perda populacional. Em tom de depoimento ela explica com detalhes a
formação da ONG, pensada a partir da elaboração de sua tese de
doutorado. O leitor encontrará no texto os desafios enfrentados, os
programas implementados, entre outros aspectos do trabalho
desenvolvido por Marcela Benitez e sua equipe na Argentina.
O texto “Desenvolvimento auto-gerido e trabalho” (Marcelo
Dornelis Carvalhal) resulta de exposição apresentada em sessão
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denominada: “Potencialidades e particularidades locais: um desafio de
desenvolvimento auto-gerido e auto-sustentado”. O autor traz
reflexões críticas sobre a questão do desenvolvimento pensada nos
marcos do capitalismo, principalmente tendo em consideração a recente
reestruturação deste modo de produção e as implicações que tal
processo tem representado para os trabalhadores.
Com os dois últimos textos, selecionados entre os trabalhos
apresentados no evento: “Pequeñas localidades. ¿camino hacia la
entropía?” (Juan Manuel Diez Tetamanti) e “Pequeñas localidades,
políticas públicas en la província de Buenos Aires” (Daniel Cárdenas e
Jorge Sutil) retornamos o olhar sobre a realidade Argentina.
Destacamos que, em comum com a realidade de diversas pequenas
localidades brasileiras, os trabalhos provenientes da Argentina expõem
a questão do intenso declínio demográfico que, conforme já mencionado,
igualmente tem se verificado nas pequenas localidades argentinas.
Estes dois últimos textos mostram outras análises e iniciativas no
sentido de atenuar esse processo de perda demográfica e abandono dos
“pueblos”, como é o caso da lei que procura amparar a promoção das
pequenas localidades da província de Buenos Aires, ancorada no
trabalho de uma instituição denominada “Uniendo Pueblo” como poderá
se verificar no último texto. Conhecer estas experiências representa
uma troca enriquecedora.
Esperamos deixar com essa publicação algumas contribuições e
idéias que possam iluminar tanto a continuidade dos estudos dos temas
expostos, bem como reflexões sobre possibilidades pragmáticas com
significativos alcances sociais que se revelam por meio de algumas ações
sinalizadas nos textos apresentados.
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QUAL O PAPEL DOS PEQUENOS MUNICÍPIOS NA ESCALA LOCAL DO
DESENVOLVIMENTO?
1
Rosa Moura
1
Geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES);
pesquisadora do Observatório das Metrópoles/Instituto do Milênio - CNPq.
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Essas questões servem de ponto de partida para a presente
reflexão. Reflexão que será organizada discutindo brevemente a noção
de cidade, a opção pela unidade municipal de análise e o corte de
tamanho do que se pode considerar pequeno. Feitas essas delimitações,
buscará traçar um também breve perfil dos pequenos municípios na
distribuição da população, dinâmica do crescimento e geração de riqueza.
Por último, focará a discussão sobre a escala local do desenvolvimento,
particularmente no que concerne à convincente retórica da capacidade
endógena.
Cidade ou município?
Em muitos países da Europa, pequenos centros urbanos oferecem
as funções necessárias para um cotidiano auto-suficiente, com as
vantagens da tranqüilidade que os centros maiores perderam. Em países
subdesenvolvidos, há que se recorrer às metrópoles até para funções
fundamentais. Nesses, a delimitação do urbano de muitos municípios é
apenas uma lei que identifica um núcleo em um território ainda preso à
base produtiva e ao modo de vida rural. Por vezes, a agricultura local
envolve o pequeno conjunto de edificações desses núcleos, como que
querendo fazer parte dele, ou reclamando por ter sido apropriada.
Seriam esses núcleos cidades?
O conceito de cidade está vinculado à materialidade do espaço
construído, ao concreto, onde vivem os cidadãos, ao conjunto de infra-
estruturas, de equipamentos, enfim, de toda a materialidade que
permite a vida coletiva de um conjunto cada vez maior de cidadãos
coabitando (SOUZA, 1999). Está, também, sempre relacionado à idéia de
civilização (IANNI, 1999).
A cidade, na visão histórica dominante na economia política,
resulta do aprofundamento e expressa a divisão socioespacial do
trabalho em uma comunidade, para salientar o domínio da cidade sobre
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o campo, a partir do controle político. A produção é centrada no campo,
e a cidade, espaço não-produtivo privilegiado do poder político e
ideológico, retira do excedente nele produzido as condições de
reprodução da classe dominante e de seus servidores diretos (MONTE-
MÓR, 2006). Política, civilização e cidadania são conceitos que derivam
da forma e organização da cidade.
Sposito (2005) observa que o termo cidade é concomitantemente
um conceito descritivo, que permite apreender uma realidade material
concreta, e um conceito interpretativo, pois evoca um conjunto de
diversas funções sociais. Remy e Voyé (1994) complementam que o
conceito parte da definição do laço existente entre um tipo de
apropriação do espaço e uma dinâmica coletiva. Assim, a cidade surge
como uma unidade social que desempenha um papel privilegiado nas
trocas – materiais ou não – e em todas as atividades de direção, de
gestão e no processo de inovação. Lugar onde os vários grupos
encontram entre si possibilidades múltiplas de coexistência e de
intercâmbios, mediante a partilha legítima de um mesmo território.
Pode-se dizer que mesmo pequenos núcleos organizam-se para a
vivência coletiva e, ao seu modo, para a política e para a cidadania.
Respeitadas as escalas, a densidade material ou a capacidade inovativa,
todos assumem um papel na divisão social do trabalho e têm uma
participação na teia da rede urbana. E são estruturadores da dinâmica
do território municipal como um todo e de suas relações com a região e
o Estado.
Distinguindo o espaço da cidade, mas reconhecendo sua
importância na dinâmica municipal, a opção pela análise foi o município,
posto que é sobre esta unidade que incide grande parte dos indicadores
selecionados para responder às questões às quais o tema remete. Como
parâmetro de distinção de "pequenos" no universo dos mais de 5 mil
municípios brasileiros, foram considerados aqueles com menos de 25 mil
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habitantes, última classe definida pelo IBGE para mapeamento relativo
à distribuição da população dos municípios do Brasil, em 2007. Sobre
essa classe foi procedido um segundo corte, dos municípios com menos
de 5 mil habitantes, dado que, além de ser significativo o número que se
inclui nessa classe de tamanho, atingindo no Brasil a ordem de 1.334,
esses municípios apresentam singularidades.
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Grande parcela da população brasileira se concentra nas classes
entre 100 e 500 mil habitantes (24,4%) e na superior (29,2%), com mais
de 500 mil habitantes (Gráfico 1). Nesta se distribui o maior
contingente populacional entre as classes definidas, o que demonstra
que seus 36 municípios seguem sendo os que mais concentram população
no País. Uma concentração que se manifesta em alta densidade e em
elevada geração de riqueza, como será abordado na seqüência.
50
40
30
20
10
0
500 100 a 50 a 25 a 5a 5 (mil
500 100 50 25 habitantes)
FONTE: IBGE
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TABELA 2 - NÚMERO DE MUNICÍPIOS, ÁREA E POPULAÇÃO, SEGUNDO
CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - PARANÁ - 2007
MUNICÍPIOS ÁREA POPULAÇÃO 2007
CLASSE (mil habitantes)
Número % % Total %
>=500 1 0,3 0,2 1.797.408 13,0
>=100 a <500 13 3,3 7,2 6.567.243 47,3
>=50 a <100 18 4,5 7,1 1.366.936 9,9
>=25 a <50 35 8,8 15,6 1.182.992 8,5
>=5 a <25 232 58,1 59,3 2.603.195 18,8
<5 100 25,1 10,6 356.587 2,6
TOTAL DO ESTADO 399 100,0 100,0 13.874.361 100,0
FONTE: IBGE
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ESTADO DO PARANÁ
mapa 1
POPULAÇÃO TOTAL SEGUNDO CLASSES
DE TAMANHO DOS MUNICÍPIOS - 2007
Mil habitantes
>= 250
>= 100 a < 250
>= 50 a < 100
>= 20 a < 50
>= 10 a < 20
< 10
21
Assim, no reverso da concentração, um amplo espaço organiza-se
sob a mesma lógica, polarizado por centros e aglomerações. Ao redor
desses centros, a produção rural obedece às mesmas leis que regem os
aspectos da produção econômica como um todo. Segundo Santos e
Silveira (2001), os efeitos dessa difusão técnica também se fazem
perceber no surgimento ou na ampliação, em regiões mais dinâmicas, de
um conjunto de atividades e ocupações não-agrícolas, que colocam esses
espaços em outro patamar de articulação, no qual o rural não mais pode
ser visto simplesmente como fornecedor de produtos primários para os
centros urbanos.
Conseqüentemente, esse mundo rural modernizado esvazia-se de
grandes contingentes populacionais e isola pedaços do território,
incapazes de cumprir as exigências de uma produção que se opera sob
racionalidades externas. Observa-se, tanto no meio rural quanto em
pequenos núcleos urbanos, uma parcela da população residente
totalmente integrada – por meio dos circuitos de produção,
comunicações e transportes – ao mais avançado padrão de produção e
consumo ofertado pelos grandes centros. Ao mesmo tempo, nos grandes
e médios municípios, existem significativos contingentes populacionais
marginalizados do processo de modernização e geração de renda. São
uma expressão do atual ciclo da acumulação, que produz, em qualquer
porção do território, uma face moderna, de alta renda e complexidade,
e outra com características opostas.
Os pequenos municípios têm uma dinâmica de crescimento
bastante reduzida. Entre os 332 com menos de 25 mil habitantes em
2007, apenas 86 tiveram crescimento positivo da população nos
períodos 1991-2000 e 2000-2007, e 38 perdiam população no primeiro
período e passaram a crescer no segundo (Tabela 3). Mesmo assim,
crescimentos ínfimos, próximo ou abaixo do vegetativo. Entre os que
cresceram nos dois períodos, grande parte situa-se próximo ou insere-
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se nas aglomerações urbanas e centros regionais. É o que se observa
entre os que estão crescendo entre 2000-2007 a taxas superiores ao
dobro da média do Estado – Tunas do Paraná (7,70% ao ano),
Itaipulândia (3,5% a.a.), Mauá da Serra (2,9% a.a.), Cafelândia (2,4%
a.a.), Mandirituba (2,3% a.a.) e Pontal do Paraná (2,2% a.a.) – exceto
Tunas do Paraná, os demais apresentaram crescimento superior ao
dobro da média do Estado também no intervalo 1991-2000. Esses
municípios estão localizados no entorno da aglomeração metropolitana
de Curitiba e no das aglomerações urbanas de Londrina, Cascavel e Foz
do Iguaçu. Além desses, cresceram mais que o dobro da média do
Estado entre 2000 e 2007 os municípios de Ventania (3,8% a.a.),
Teixeira Soares (2,7% a.a.) e Imbaú (2,5% a.a.), num comportamento
que pode estar ligado a atividades específicas, até conjunturais, que não
garantem sustentar o crescimento da população no intervalo seguinte.
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ESTADO DO PARANÁ
mapa 2
CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO
NOS PERÍODOS 1991/00 E 2000/07
Períodos
Cresce mais que a média do Estado
nos dois períodos
Cresce menos que a média no 1º e
mais que a média no 2º
Não cresce no 1º e cresce menos
que a média no 2º
Cresce mais que a média no 1º e
menos que a média no 2º
Cresce menos que a média nos
dois períodos
Cresce menos que a média no 1º e
não cresce no 2º ou não cresce em
nenhum período
FONTE: IBGE
BASE CARTOGRÁFICA: IAP (2004)
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encontram-se nessa faixa de população; e na de 1990, outros 76, sendo
74 com menos de 25 mil habitantes.
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Foi identificada, no Paraná, uma metrópole, conformada por
Curitiba e mais 13 municípios contíguos que compõem sua "área de
concentração de população"; quatro Capitais Regionais (Londrina,
Maringá e Cascavel, nível B, e Ponta Grossa, nível C); 14 Centros Sub-
regionais, sendo 10 de nível A e quatro de nível B; e 37 Centros de
Zona, sendo 15 de nível A e 22 de nível B. Além dessas classes, 318
municípios receberam a denominação de Centros Locais.
Comparando os tamanhos de população com as classes de centros,
observa-se que nenhum município com menos de 25 mil habitantes ocupa
as centralidades superiores da hierarquia. Passam a aparecer como
Centros de Zona A (Jandaia do Sul e Loanda) e Centros de Zona B
(Matinhos, Coronel Vivida, Andirá, Chopinzinho, Wenceslau Braz,
Siqueira Campos, Campina da Lagoa, Faxinal, Nova Londrina, Roncador,
São João do Ivaí, Paranacity e Barracão). Essa relação aponta a
presença de população como fator fundamental à dotação de funções
urbanas mais qualificadas, tornando os municípios menores dependentes
dos que apresentam maior nível de centralidade. Essa dependência
nominava uma das categorias da pesquisa similar realizada em 1978
(IBGE, 1987), que alocava o mais amplo conjunto de municípios na classe
dos "subordinados".
Vale lembrar que uma rede urbana hierarquizada espelha
justamente uma organização entre centros, na qual municípios
desempenham papéis específicos. Sistemas hierarquizados, na lógica,
não são excludentes, mas racionalizadores de funções e serviços. Isso
significa que estar em um nível de subordinação não corresponde a
estar à margem, mas, sim, estar integrado e beneficiado por tal ordem
hierárquica que pressupõe que as funções básicas permeiam todos os
integrantes da rede, enquanto as de maior complexidade, localizadas
nas centralidades principais, são acessáveis por todos.
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Resta saber se os pequenos municípios brasileiros efetivamente
respondem pelas funções básicas requeridas por sua população e se
viabilizam acesso a funções de maior complexidade ofertadas por
centros vizinhos. Enfim, se garantem condições para que se elevem os
patamares de urbanidade de seus moradores.
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Outra característica dos pequenos municípios quanto à
participação dos setores de atividade na composição do PIB está na
participação mais elevada dos serviços públicos na composição da renda
dos pequenos municípios (Gráfico 2). A participação desses serviços
decresce ao longo das classes de tamanho, mas torna-se outra vez
expressiva nos grandes, porém por motivo distinto: enquanto nos
pequenos municípios essa atividade se alimenta da presença da
"prefeitura" como grande ativador da economia, nos municípios das
classes superiores decorre da presença de empresas públicas,
autarquias, sede do governo, entre outras atividades que demarcam
funções que os caracterizam como centros de gestão do território.
5 a 25
25 a 50
50 a 100
100 a 500
500
FONTE: IBGE
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municípios e demarca seu nítido e expressivo papel na inserção do País
na divisão social do trabalho. Papel que é ainda mais saliente no Paraná,
onde essas classes de municípios somam 66,6% do PIB da agropecuária;
somam também 13,5% do PIB total e 11,3% do da Indústria.
O perfil de participação desse estado em relação ao do Brasil tem
pequenas diferenças a serem consideradas. O Brasil ainda registra a
presença da classe com mais de 500 mil habitantes participando da
composição do PIB da Agropecuária, em 1%, enquanto no Paraná a
mesma classe alcança apenas 0,12%. O Brasil também supera o Paraná
na participação das classes intermediárias, entre 25 e 100 mil
habitantes, mas é superado por ele nas classes entre 100 e 500 mil e na de
5 a 25 mil habitantes (Gráfico 3). A classe dos menores que 5 mil
habitantes praticamente se iguala em ambos.
PR Agropecuária
BR Agropecuária
PR Indústria
BR Indústria
FONTE: IBGE
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Ao mesmo tempo, o Paraná apresenta-se mais concentrador das
atividades produtivas urbanas nas classes de municípios com população
maior que 100 mil habitantes, que, com 60,3% da população, registram
mais de 70% do PIB total e do da Indústria no Estado. No caso da
concentração da atividade industrial em municípios com mais de 500 mil
habitantes, no Brasil há um relativo equilíbrio na participação dessa
classe e da entre 100 e 500 mil, com respectivamente 31,7% e 34,6%,
enquanto no Paraná, Curitiba, único município na classe superior,
responde por 12,5% do PIB da Indústria, e os municípios da classe
subseqüente por 61,9%.
Ao se voltar para a localização dos grandes estabelecimentos
industriais, constata-se que 42 dos 300 maiores estabelecimentos
industriais do Estado do Paraná, segundo faturamento em 2005, situam-
se em municípios com menos de 25 mil habitantes (Quadro 1). Grande
parte desses 42 estabelecimentos está em municípios situados em
aglomerações urbanas ou muito próximo a essas, sendo que nove estão
em pequenos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), dos
quais cinco em Quatro Barras – muito possivelmente como resultado de
sua posição estratégica junto à BR 116.
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QUADRO 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS 300 MAIORES ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS DO
ESTADO, SEGUNDO MUNICÍPIOS COM MENOS DE 25 MIL HABITANTES - PARANÁ - 2005
N.o MUNICÍPI N.o
MUNICÍPIO MUNICÍPIO N.o ESTAB.
ESTAB. O ESTAB.
Mauá da
Quatro Barras 5 Cidade Gaúcha 1 Serra 1
Coronel Domingos Moreira
Balsa Nova 2 Soares 1 Sales 1
Nova
Carambeí 2 Itaipulândia 1 Londrina 1
Jandaia do Sul 2 Itapejara d'Oeste 1 Paranacity 1
Rondon 2 Ivaté 1 Piên 1
São Carlos
Andirá 1 Jaguapitã 1 do Ivaí 1
São Pedro
Araruna 1 Joaquim Távora 1 do Ivaí 1
Astorga 1 Lobato 1 Sengés 1
Cafelândia 1 Mallet 1 Tapejara 1
Cambará 1 Mandirituba 1 Turvo 1
Capanema 1 Matelândia 1 Ventania 1
Céu Azul 1 TOTAL 42
FONTE: SEFA
31
ou municípios – pague "por isso um preço, tornando-se fragmentado,
incoerente, anárquico para todos os demais atores". (Op.cit, p.258).
Os pequenos municípios sofrem mais fortemente esses efeitos,
pela dificuldade de contrabalançar com outras atividades o poder
hegemônico dos grandes estabelecimentos, e mesmo de exercer sobre
eles o controle que faz parte de suas competências.
32
A doutrina que o neolocalismo apregoa não explicita que é
transferida para o governo local a atribuição de cumprir de maneira
vantajosa as tradicionais funções garantidoras da acumulação do
capital, antes nas mãos dos Estados-Nacionais. Em seu uso abusivo de
instrumentos que estruturam o planejamento estratégico, como o city
marketing, os projetos urbanos desarticulados das necessidades sociais
locais, a engenharia do consenso, dão força à produtivização, mercan-
tilização e empresariamento urbano. Instrumentos cuja adoção vem da
necessidade de estabelecer uma analogia entre empresas capitalistas,
concorrendo num mercado livre, e cidades e regiões, competindo num
mercado globalizado de localizações (BRANDÃO, 2007).
Um dos grandes equívocos das correntes que apregoam essa
doutrina está em exaltar as potencialidades de uma única escala espacial,
enquanto o desenvolvimento só se constrói em políticas que articulem suas
várias escalas. Ignoram que o comando de muitos processos,
determinações, instrumentos e políticas reside em outras escalas
espaciais que não a local, e que, nesta, o êxito pode se dar em áreas
restritas, engendrando soluções parciais, sem se difundir pelo
território; em "focos de prosperidade", como experiências
intransferíveis (BRANDÃO, 2007).
Com isso, negam as questões estruturais do processo de
desenvolvimento e sua complexidade escalar e incitam a guerra dos
lugares, reduzindo o território municipal a uma plataforma vantajosa a
investidores. A ação pública passa a subsidiar grandes
empreendimentos privados, direcionando a atração de investimentos,
muitas vezes passageiros, os escassos orçamentos públicos,
fundamentalmente compostos por transferências de recursos do Fundo
de Participação dos Municípios, deixando de realizar necessários gastos
sociais.
33
Clusters, sistemas de inovação, incubadoras, novos distritos
industriais, empreendedorismo, voluntarismo, microiniciativas, arranjos
produtivos locais (APLs) tornam-se palavras de ordem ao
desenvolvimento. No entanto, enquanto práticas isoladas, encontram
restrições em avançar sobre seu hinterland, principalmente em
municípios de regiões periféricas. Evidentemente que há exceções,
como no próprio Norte Central paranaense, entre outros casos
exemplares o APL moveleiro de Arapongas, que se disseminou por
municípios vizinhos, agregando um número crescente de empresas,
gerando milhares de empregos diretos e indiretos.
Mas, de modo geral, resultam na perda da visão de totalidade, na
fragmentação e esvaziamento da esfera pública, na gestão estratégica
em moldes empresariais como substituta do planejamento e da
formulação de políticas públicas. O Estado é transformado em mero
animador dos empreendedores, facilitador de suas vontades, relegando
o compromisso com a coletividade local (BRANDÃO, 2007).
Operam, de fato, a geração de consensos em substituição à ação
planejada do Estado. De modo contundente, fazem o "desenvolvimento
endógeno, integrado e sustentável" surgir como uma promessa, omitindo
sua essência como parte de um pacote ideológico, teórico, metodológico,
coerente e fechado.
Desafios
34
nenhuma hipótese tais segmentos e municípios estão dissociados dos
espaços economicamente relevantes, colocando-se em posições limites a
esses e, também, permeando-os, participando, em grande medida, de
sua dinâmica como periferias.
Os dados analisados demonstraram que os pequenos municípios
constituem uma parcela significativa do território nacional e estadual
voltada à produção agropecuária, que abrigam elevado contingente da
população, e que têm importante papel na inserção do País e do Estado
na divisão social do trabalho.
Como integrá-los, então, a dinâmicas mais geradoras de
externalidades, que reforcem suas qualidades urbanas de modo a que
sustentem suas populações residentes, assegurando-lhes padrões
socioculturais mais elevados? Como superar as dificuldades, de várias
naturezas, relacionadas à oferta de serviços públicos, à fragilidade
administrativa e à situação financeira debilitada de muitos dos pequenos
municípios? Como articulá-los ao processo de desenvolvimento, explorando
as possibilidades e diversidades latentes à escala local, e valorizando
seu papel na necessária ação transescalar?
O grande desafio é superar a prevalência da competição sobre a
cooperação entre municípios, tornando claras as regras e mecanismos
de regulação dos processos conflituosos entre entes da federação
(GALVÃO, 2005). Ou seja, desnaturalizar a guerra de lugares, que se
colocou no vácuo de políticas territoriais nas escalas federal e estadual,
e permitiu que se fortalecessem novas formas de articulação entre
capitais e forças políticas, aprofundando os processos de fragmentação
territorial.
Para superar a perversidade de seus resultados ao território,
tornam-se imprescindíveis medidas no âmbito do planejamento para o
desenvolvimento regional, assim como a valorização da escala supralocal,
35
complexa, porém necessária para suprir as disfunções de competências
limitadas e/ou superpostas.
Para Galvão (2005, p.41), as desigualdades sociais e regionais
submetem a unidade nacional, "provocando tensões e paralisias que
podem arrefecer o ímpeto do desenvolvimento e dissipar
solidariedades. Vistas em perspectiva dinâmica, as desigualdades
atestam uma fragilidade constitutiva do arranjo político-territorial,
reclamando mudanças nos sistemas políticos e estratégias
governamentais." Torna-se inequívoca a necessidade do pacto
federativo, no qual o Estado nacional se estruture de forma que
permita a convivência de um poder central forte e articulado com entes
federados dotados de autonomia, recursos e atribuições relevantes, e
que concilie essas múltiplas instâncias político-administrativas, segundo
cortes justapostos de abrangência jurisdicional territorial; um modelo de
difusão de poderes, no qual a União passe a conviver com o
contraditório, sem romper sua unidade.
É necessário também criar articulações intermunicipais: consórcios,
associações, agências, fóruns, redes, câmaras intermunicipais, que
auxiliem na solução de problemas comuns, e ter claras, na cooperação,
as responsabilidades, evitando a subordinação dos mais fracos pelos
mais fortes, pois a cooperação implica (re)definição do poder.
No âmbito estadual, a adoção de uma política de desconcentração
econômica emerge como importante medida, não somente para aliviar a
pressão por infra-estrutura e serviços públicos, tanto do setor
produtivo, quanto por parte da população, mas, principalmente, para
melhor aproveitar a potencialidade produtiva das demais porções do
Paraná. Aos pequenos municípios é fundamental o apoio e fortalecimento
das atividades existentes, como também o adensamento das cadeias
produtivas.
36
Em espacialidades socialmente críticas, conforme IPARDES
(2005), representativas do fato estrutural próprio da dinâmica seletiva
da expansão do capital, a defasagem no desenvolvimento é um processo
que, permanecendo o quadro atual, tende a se perpetuar, ampliando sua
desigualdade em relação a outras áreas do Estado. Demandam, como
medida emergencial, a convergência de programas em curso e de outros
em formulação, coordenados articuladamente, numa ação conjunta com
as organizações locais já existentes. Tal convergência deve priorizar
não só a redução da vulnerabilidade social da população, mas também o
fortalecimento e dinamização das economias locais.
Para conquistar esses desafios, outro, ainda mais importante,
amplamente discutido por Brandão (2007), deve ser perseguido: suprir
a ausência de um projeto nacional de desenvolvimento e resgatar o
território em sua totalidade. Nessa direção, é preciso reconstituir
espaços públicos e canais de participação; criar "arenas" diversas que
possam aglutinar e dar vazão à diversidade de reivindicações e
interesses; e, em vez de consensos, garantir transparência aos
conflitos, buscando coesão e solidariedade no sentido do
desenvolvimento.
Um projeto democrático, como propõe Vainer (2008), no qual as
opções sobre os destinos do território sejam passíveis de debates e
embates, nas múltiplas escalas. Ou seja, um projeto transescalar,
concebendo e implementando políticas, planos e práticas que combinem
e articulem múltiplas escalas, "local, regional, nacional, continental,
internacional; que promova a redistribuição territorial e social de
recursos – materiais, políticos e simbólicos; que combine redução das
desigualdades territoriais com a redução das desigualdades sociais".
Para alcançar esse desafio, é urgente resgatar a credibilidade na
função do Estado, esgarçada pelo projeto neoliberal – já ciente do
próprio erro –, e revalorizar o papel do poder público para incentivar e
37
possibilitar a discussão democrática, com transparência, presença,
fiscalização e monitoramento permanente, fortalecendo suas
atribuições quanto a impor e fazer cumprir sanções e benefícios.
E, como recomenda Santos (1999, 2000), é preciso romper as
fabulações que naturalizam práticas, discursos, pensamentos e teorias
que se colocam na direção contrária dos interesses coletivos. Isso exige
compreender os determinantes da lógica de acumulação do capital e
seus verdadeiros interesses; admitir que o sistema aperfeiçoa seus
instrumentos de ação, e mobiliza a diversidade social e material
exclusivamente em seu favor; e que a sociedade, na miríade de seus
segmentos, pode articular forças em contra-racionalidades e
racionalidades paralelas capazes de enfrentar as perversidades dos
interesses hegemônicos.
38
Referências
39
<http://www.ipardes.gov.br/pdf/publicacoes/varios_paranas.pdf>.
Acesso em: 04/2006.
MONTE-MÓR, R. L. de M. O que é o urbano no mundo contemporâneo.
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desigualdade. Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, v. 15/16, n.1/2, p. 13-32,
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___. Fragmentação e projeto nacional: desafios para o planejamento
territorial. Curitiba: Ambiens Cooperativa, 2008. Apresentado ao
Seminário Política e Planejamento: Economia, Sociedade e Território
(PPLA). Tema "Estado e Lutas Sociais: intervenções e disputas no
território".
40
REDEFINIÇÃO DOS PAPÉIS DAS PEQUENAS CIDADES NA REDE URBANA DO
NORTE DO PARANÁ
2
Tania Maria Fresca
Introdução
2
Professora do Departamento de Geociências - Universidade Estadual de Londrina.
tania_geografia@yahoo.com.br
41
mesmas tornarem-se lócus privilegiado da realização de uma parcela da
produção propriamente dita; que permitiram a inserção das mesmas em
interações espaciais de grande alcance; enfim a redescoberta destas
cidades como uma particularidade da urbanização brasileira.
O trabalho está dividido em três partes. Inicia com uma
discussão sobre redes urbanas, já que esta é uma das dimensões
espaciais para a análise das cidades pequenas; seguidamente discute-se
o conceito de cidades pequenas e por fim, discutem-se caminhos da re-
inserção de núcleos locais na rede urbana norte-paranaense.
42
dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução”
(CORRÊA, 1997, p. 93).
Ao mesmo tempo em que a rede urbana é uma dimensão sócio-
espacial da sociedade ou uma estrutura territorial, por intermédio
desta verificam-se processos de criação, apropriação e circulação do
excedente socialmente produzido, frequentemente alterados já que
interligados à divisão territorial do trabalho que também passa por
constantes mudanças. Com base em Corrêa (1989, p. 48) pode-se
entender que “[...]a rede urbana constitui-se simultaneamente em um
reflexo e uma condição para a divisão territorial do trabalho”. Isto
porque a rede traduz os arranjos distintos referenciados ao processo
de ocupação do território pela sociedade e pelas intensas e sucessivas
transformações que ocorrem. Simultaneamente é condição para a
divisão do trabalho, pois define os pontos focais da vida de relações e
as vias de tráfego por onde os fluxos diversos são estabelecidos e
possibilitam a criação e transformação constante e desigual de
atividades e cidades.
Por intermédio de funções articuladas como comércio atacadista
e varejista, bancos, indústrias, transportes, armazenagem, educação,
saúde, etc, as cidades da rede tornam-se uma condição para a divisão
territorial do trabalho. Isto porque as cidades que integram uma rede
urbana são articuladas por diversos sistemas de transportes,
comunicações e informações internas e externas que viabilizam as
condições necessárias para a produção, distribuição, circulação e
consumo.
A rede urbana possibilita reinvestimentos do excedente
acumulado em novas atividades produtivas quer sejam urbanas ou rurais
para que se amplie a reprodução do capital e novos excedentes sejam
gerados (CORRÊA, 1989). Reinvestimentos que pressupõe a existência
de fluxos diversos envolvendo pessoas, bens e serviços, idéias, ordens,
43
ideologias, etc, e a existência de vários pontos no território ou centros
urbanos de uma rede onde se verificam os processos de tomada de
decisões, armazenamento, vendas atacadistas, localizações industriais,
prestação de serviços diversos, dentre outros.
No entanto, segundo Fresca (2002) o excedente acumulado e a
correspondente possibilidade de re-inversão em esferas produtivas não
ocorrem de maneira homogênea, mas sim de forma desigual em uma
rede urbana posto que ela também é internamente diferenciada. A
desigualdade de investimentos privilegia alguns núcleos urbanos em
detrimento de outros, implicando em diferenciações cada vez mais
acentuadas. Alguns núcleos de uma rede tornam-se capazes de
apropriar, por processos, mecanismos e agentes diversos, de parcela do
valor excedente que circula e criar novos valores (CORRÊA, 1989).
Outros têm menores possibilidades de apropriação do valor excedente
face a localizações, oferta de infra-estrutura, mão-de-obra, dentre
outros, tornando-se lugares de intensa perda do mesmo, aí
permanecendo pequena parcela da mais-valia oriunda de uma força de
trabalho com baixos salários.
Enquanto uma dimensão sócio-espacial da sociedade, sua análise
pode ser realizada através das categorias estrutura, processo, função e
forma (SANTOS, 1985), como uma possibilidade de entendimento da
rede enquanto particularidade do espaço considerado em sua
totalidade. Por intermédio dessas categorias, é possível entender a
rede urbana como uma forma espacial, através da qual funções se
realizam, emanadas de processos sociais que assumem características
específicas na estrutura capitalista.
A rede urbana apresenta uma diversidade de centros urbanos que
vão desde aqueles com nível de centralidade muito fraco e cuja área de
influência é bastante reduzida com alguns municípios em seu entorno,
até aqueles com nível forte, muito forte ou máximo, dependendo da
44
escala de análise e da complexidade da rede urbana em estudo. Pode
ainda ser caracterizada por uma complexificação, vinculada a
intensificação dos processos de produção, circulação e consumo. Na
medida em que processos gerais foram incidindo na rede, emergiu uma
heterogeneidade que antes não estava presente e onde o que mais se
ressalta é a continuidade da diferenciação e redefinição dos lugares.
É necessário considerar a sua inserção na divisão territorial do
trabalho, articulando-se aos processos de modernização da agricultura
brasileira que ao atingir municípios de uma rede podem provocam uma
diversidade produtiva, tendo como uma de suas expressões a
implantação de complexos agroindustriais submetidos à lógica da
produção e reprodução do capital industrial.
Esta modernização que não foi extensiva a toda a rede brasileira,
deixando à margem áreas que não garantiam e garantem neste
momento, condições vantajosas para taxas de lucratividade mediante
inversões realizadas. Estas áreas estão à espera de terem suas
potencialidades valorizadas pela incidência de outros processos, que
gerarão outras singularidades.
Outro aspecto fundamental são as implicações que esta
modernização do campo trouxe para a dinâmica populacional, onde se
ressalta o esvaziamento demográfico do campo. Os fluxos populacionais
dirigem-se para as mais distintas áreas, mas vinculados em grande
parte à procura de emprego em cidades diversas, de níveis de
centralidade diferentes.
Do ponto de vista da produção propriamente dita, outras
emergiram ou foram ampliadas para as cidades da rede, como a
produção industrial. A intensificação do processo de industrialização
ocorreu em linhas gerais, a partir dos anos de 1970 quando da
aceleração das transformações do campo. Num quadro de completa
desestruturação de uma dada produção e de processos gerais atingindo
45
os mais distintos lugares, houve tendência a um início ou aceleração da
industrialização em cidades onde condições de múltiplas ordens o
permitiram.
Condições estas que se referem à noção de contingência,
entendida como a seleção de uma das múltiplas necessidades de
realização de processos gerais, levando-se em conta as heranças do
passado, e o envolvimento de agentes externos e internos ao lugar.
Neste encaminhamento há que ser referida a percepção e ação de
agentes locais em valorizar e dar maior importância a estes lugares,
tornando-se capazes de dar rumos diferentes às cidades. Isto é
importante, porque a industrialização instaurada em distintas cidades
da rede urbana nacional não foi resultado apenas da transferência de
setores paulistas, ou comandada pela indústria paulista, mas um
desenvolvimento próprio que para alguns setores acabou se tornando,
inclusive, competitivo com aquele similar metropolitano paulista.
Simultaneamente a esta densidade produtiva, ocorreu ainda a
melhoria geral da circulação, enquanto etapa necessária entre produção,
distribuição e consumo. No momento atual do desenvolvimento do
capitalismo pautado em uma maior concentração e centralização do
capital, para o qual são criados eficientes sistemas de transporte,
comunicação e informação. Estas estruturas passaram por avanços
permitindo maior fluidez e flexibilidade na circulação de pessoas,
mercadorias, capital, idéias, valores etc. Não somente sistemas técnicos
de outro momento histórico, como os mais recentes a exemplo das
redes de telecomunicações e informações que permitem aos processos
de múltiplas ordens, suas viabilizações.
O que ocorreu foi uma crescente complexidade funcional dos
centros urbanos traduzida agora em enormes diferenciações entre as
cidades, manifesta na emergência de cidades especializadas – tanto em
produção industrial como em serviços – na transformação de núcleos em
46
reservatórios de força de trabalho rural; em cidades que se colocaram
como reguladoras e controladoras de parte da produção agrícola, em
metrópoles, em cidades que gradativamente ganharam novas funções
vinculadas ao comércio e serviços. Outros centros perderam parte de
suas funções e potencialidades funcionais latentes emergiram ou foram
criadas. (CORRÊA, 1997).
47
Para tanto, parte-se da concepção de Santos (1982, p. 71) quando
nos fala da existência de uma dimensão mínima “[...] a partir da qual as
aglomerações de população deixam de servir às necessidades da
atividade primária para servir às necessidades inadiáveis da população
com verdadeiras especializações do espaço”. É preciso que se encontre
o fundamento, o limite mínimo de “[...] complexidade das atividades
urbanas capazes de [...] garantir ao mesmo tempo um crescimento auto-
sustentado e um domínio territorial” (SANTOS, 1982, p. 70). Assim, a
cidade local como sendo a de menor complexidade acaba por responder
“[...] às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas de toda uma
população, função esta que implica uma vida de relações” (SANTOS,
1982, p. 71). Caso contrário, Santos (1982, p. 71) nos coloca que
estaríamos trabalhando com pseudo-cidades.
Para Fresca (2001, p. 28) este posicionamento permite entender
a dimensão mínima a partir da qual é possível falar de uma verdadeira
cidade, mas isto remete à complexidade das condições e elementos para
considerar uma cidade como sendo pequena. A partir do nível mínimo de
atividades acima exposto, há uma diversidade significativa de cidades,
cuja complexidade de atividades urbanas extrapola o denominado nível
mínimo. Mas isto não gera elementos necessários para que as mesmas
possam ser consideradas cidades intermediárias ou metrópoles,
significando que mesmo tendo certa complexidade de atividades
urbanas acima do nível mínimo, continuam sendo pequenas comparativas
às anteriormente referidas. E aqui reside razão para o uso da
expressão cidade pequena ao invés de cidades locais.
Neste grupo de cidades pode-se encontrar desde aquelas com
limite mínimo de complexidade de atividades urbanas, até aquelas onde
funções urbanas são mais complexas, refletindo inclusive, diferenças do
ponto de vista populacional, manifestando realidades muito distintas
(FRESCA, 2001). Desta forma, a autora considera que para se
48
caracterizar uma cidade como sendo pequena, é necessário entender
sua inserção em uma dada rede urbana ou região. Precisa-se do “[...]
entendimento do contexto sócio-econômico de sua inserção como eixo
norteador de sua caracterização como forma de evitar equívocos, e
igualar cidades com populações similares, que em essência são distintas”
(FRESCA, 2001, p. 28). No momento atual as cidades pequenas e
metrópoles, enquanto lugares, são singulares e uma situação não é
semelhante a outra, e cada lugar combina de maneira particular
variáveis que podem ser comuns a vários lugares (SANTOS, 1988). De tal
modo que uma cidade pequena na rede urbana de Manaus pode
apresentar-se bastante distinta comparativa à uma na rede urbana
norte-paranaense, reiterando-se mais uma vez que é a inserção nas
redes ou região, que permite melhor caminho para considera-la como
pequena.
Por este caminho é possível ter melhores condições de entender
uma cidade como sendo pequena, evitando deste modo as armadilhas das
classificações populacionais, das recentes discussões de que o Brasil
não é tão urbano quanto se fala e de generalizar que as cidades
pequenas são apenas fornecedoras de bens e serviços básicos à
população de uma restrita área de influência.
49
combinação entre elementos essenciais à análise das redes urbanas
como a gênese, localização, tamanho, densidade e funções dos centros
urbanos, a natureza, a intensidade e o alcance das interações espaciais
mantidas por esses centros.
Em direção ao entendimento destas complexas re-inserções,
Corrêa (1999) ao discutir a globalização e as pequenas cidades mostra
duas possibilidades: a primeira envolve uma perda de centralidade, seja
ela absoluta ou relativa. A segunda envolve uma ampliação da
centralidade, começando pela introdução de novas funções realizadas
pela elite local ou externamente, criando especializações produtivas e
inserindo-as em interações espaciais bastante complexas.
Com relação a estas duas possibilidades, importa acrescentar
ainda que além de especializações produtivas, os pequenos núcleos
urbanos podem adicionalmente desenvolver outras atividades/funções
urbanas articuladas ou não a esta especialização produtiva. Verifica-se
ainda que a perda relativa ou absoluta da centralidade, envolve
situações em que não houve nem a introdução daquelas ligadas à
produção agropecuária. Estas são algumas das situações que discutidas
a seguir.
A cidade de Jaguapitã, localizada a noroeste de Londrina, foi um
centro urbano fortemente afetado pelas transformações gerais da
agropecuária brasileira e paranaense, que lhe possibilitou uma
reinserção bastante complexa na rede urbana. Inclusive pelo fato de
ter implantado uma especialização ligada à produção industrial de mesas
para bilhar e a implantação de agroindústrias avícolas a partir de
reinvestimentos da primeira atividade (VEIGA, 2007).
A autora evidencia que o início do processo industrial de mesas
para bilhar ocorreu no final da década de 1960, conhecida como
“milagre brasileiro” ocorrido entre 1968-1973. Foi o caso dos dois
precursores da atividade em Jaguapitã-PR, ambos de origem urbana que
50
trabalhavam como representantes comerciais de artigos para vestuário
no Norte do Paraná, e em 1967, ainda de forma modesta, iniciaram a
produção industrial de mesas para bilhar na cidade, a partir do
conhecimento da mesma na cidade de Ponta Grossa. Assim, ocorreu a
criação de duas indústrias no final dos anos de 1960; mais tres nos anos
de 1970; 10 nos anos de 1980; 9 na década de 1990 e três no início do
século XXI. Para Veiga (2007) a expansão das indústrias é explicada a
partir do contato próximo, ou seja, com o sucesso da primeira empresa
“[...] gerou-se a perspectiva da implantação de outras, sem que para tal,
tenha havido uma política ou ações coordenadas por parte de órgãos
públicos ou agentes privados como forma de fomentar a criação de
indústrias” (FRESCA, 2000, p. 361). A partir de então analisou a origem
das empresas em quatro processos: o primeiro é formado por
proprietários rurais que transferiram parcela das rendas para
investimento no ramo industrial, seja a renda acumulada, seja pela
venda das terras, etc. O segundo envolve filhos e/ou genros de
proprietários rurais que investiram rendas em uma atividade para os
mesmos. Os ex-funcionários e ex-sócios das indústrias de bilhar
compõem o terceiro, que em função da experiência prévia investiram na
instalação de unidades industriais próprias. O quarto é composto por
pessoas ligadas as atividades urbanas diversas, que a partir de
economias acumuladas em atividade anterior, implantaram suas
indústrias de mesas para bilhar.
Esta atividade atingiu importante posição no mercado nacional,
sendo a cidade de Jaguapitã, a que apresenta maior número de
indústrias deste ramo no país e é responsável pelo controle de cerca de
30% do mercado nacional. Isto é muito expressivo tendo em vista
tratar-se de um segmento muito disperso em termos de presença de
unidades produtivas. Segundo Veiga (2007), como se trata de uma
produção onde há baixa composição orgânica do capital, a maioria dos
51
estados brasileiros tem presença dessas unidades produtivas. Mediante
antecipação da presença dessas indústrias em Jaguapitã e mediante
capacitação técnica e de gestão das atividades, os industriais de desta
cidade conseguiram-se colocar como controladores deste segmento
produtivo. As estratégias passam pela forma de comercialização das
mesas, que não são vendidas, mas sim locadas para bares, restaurantes
e similares; pela estratégia de acompanhamento da qualidade das mesas
com consertos contínuos das mesas, reposição dos tacos, bolas, etc.;
com imposição do preço das fichas já que controlam a maioria das mesas
locadas na Região Sul e parte da Região Centro-Oeste brasileira e
interior do estado de São Paulo; pela qualidade das mesas produzidas,
dentre outras.
Gerando cerca de 500 empregos diretos já que o sistema
produtivo é bastante simples e que a produção é restrita pelo fato das
mesas serem locadas, a cidade de Jaguapitã tornou-se especializada
nesta produção pelo controle do mercado consumidor e por apresentar
o maior número de indústrias do segmento no país.
Esta atividade também gerou a implantação de outra produção na
cidade a partir dos reinvestimentos dos lucros obtidos por seus
proprietários. Foi o caso da implantação de agroindústria avícola, a
Avebom, cujos proprietários são também donos de indústrias de mesas
para bilhar. Mas há ainda a presença de outra agroindústria avícola, a
Jaguafrangos, cujos proprietários realizavam atividades comerciais de
compra e venda de frangos e com os recursos acumulados investiram em
agroindústria. A Avebom tem seu mercado consumidor concentrado na
Região Norte do Brasil, enquanto a segunda exportava cerca de 60% de
sua produção para o Japão, Hong Kong, Rússia, etc. As agroindústrias de
frango geravam cerca de 1100 empregos em 2006, e a produção que
envolvia frangos inteiros, cortes, congelados, temperados, miúdos, etc.
(VEIGA, 2007). Isto coloca Jaguapitã em uma posição muito complexa na
52
rede urbana norte-paranaense, pois além de ser uma cidade
especializada na produção de mesas para bilhar, também teve
implantação de outra atividade produtiva inserindo-a em interações
espaciais muito amplas. Trata-se de uma cidade local, com nível muito
fraco de centralidade, traduzido no fato de ofertar uma pequena gama
de atividades comerciais e prestadoras de serviços, cuja área de
influência é bastante restrita, concentrada em alguns municípios
adjacentemente localizados. Mas insere-se em uma lógica de produção,
circulação e consumo muito complexa.
A cidade de Loanda, localizada no extremo noroeste da rede
urbana do norte do Paraná, foi fortemente atingida pelas mudanças na
agropecuária após os anos de 1970, destacando-se a expansão das
pastagens e criação de gado de corte. Passou por mudanças, onde todo
um conjunto de atividades anteriormente exercidas perdeu sua
finalidade face à desestruturação de uma dada produção propriamente
dita, e uma série de funções desapareceu, sem que houvesse
substituição imediata por outras no contexto da nova atividade
produtiva.
Dados do IBGE (1960-2000) e do Ipardes (2006) demonstram
uma evolução negativa da população total entre 1960-2006, onde na
última data a população total (19.464 habitantes) era menor que aquela
presente em 1960 (20.612 habitantes); contínua redução da população
rural, atingindo em 2000, apenas 2.601 habitantes; aumento progressivo
da população urbana, atingindo cerca de 84% da população total.
Além dos já conhecidos processos de migração forçada via êxodo
rural, é importante acrescentar que ao longo dos anos de 1980, a
população urbana de Loanda foi bastante aumentada por migrantes
oriundos do Norte do Paraná e do interior de São Paulo. Eles foram
atraídos pela oferta de empregos no processo de construção da Usina
Hidrelétrica de Rosana, no extremo oeste do estado de São Paulo. Ao
53
findar as etapas construtivas que demandaram maior geração de
empregos, essa parcela da população migrante deslocou-se de Loanda,
em grande parte para o atual município de Rosana-SP, tendo esse
processo arrefecido maior redução da população total municipal.
Em meio a mudanças significativas com implicações drásticas do
ponto de vista das atividades realizadas na cidade, um agente local
iniciou atividades de produção de bombas para uso em poços
convencionais de água no meio rural. Este agente é de Dracena - SP,
tendo fixado residência em Loanda em 1965, e atuado desde então com
atividades comerciais de venda de móveis, carros, materiais para
construção. Foi no início dos anos de 1980 que Salvador Duarte Casado
iniciou a construção de bombas para poços de água. Na esteira desta
atividade, a cidade de Loanda estava sendo dotada de serviço de
saneamento básico no início dos anos de 1980 e Salvador iniciou
produção de torneiras de modo a atender demandas do saneamento
básico. A partir de então foi criada a primeira indústria de metais
sanitários da cidade: a Imperatriz Metais. Inicialmente sozinho, mas
depois de enfrentar crise gerencial e financeira, abriu a sociedade para
dois novos sócios: Roberto Villar (bancário e pecuarista) e Jair Longue
(bancário e pecuarista). No final dos anos de 1980 mediante
desentendimentos entre os três só sócios da Imperatriz Metais,
Salvador Casado decide montar outra indústria denominada Delta
Metais com recursos oriundos da venda de sua parte na indústria
pioneira. Essa indústria por sua vez foi adquirida pela Real Metais em
2004. Esta última teve sua fundação em 1988, como prestadora de
serviços para Delta Metais, produzindo e comercializando registros de
gaveta.
Criada com recursos oriundos da venda de uma empresa de
transporte composta por 06 carretas, o capital foi todo revertido para
a instalação da Real Metais. Estas informações são importantes, pois foi
54
a partir da implantação da Imperatriz Metais que ocorreu a criação
todas as demais presentes no município, seja pelo encerramento de
sociedades e conseqüente fundação de novas indústrias; seja pelo
aprendizado como funcionário e a partir daí a criação de uma indústria;
seja pela transferência de capital de atividades urbanas ou rurais para
implantação de uma indústria como forma de diversificação das
atividades, ou ainda para implantação para um membro da família.
Processo esse denominado por Fresca (2004) como contato próximo,
isto é, a partir do sucesso de uma atividade/empresa, visível
empiricamente pelo enriquecimento dos proprietários que em uma
pequena cidade é bastante nítido, outras pessoas passam a implantar
empresas do mesmo ramo por caminhos antes explicado.
O Quadro 1 dá uma idéia a respeito do processo de origem das
indústrias do setor metalúrgico da cidade tanto por ano quanto por
gênese. Observa-se que no final dos anos de 1980, teve-se as primeiras
implantações industriais após a Metais Imperatriz como decorrência de
rompimento de atividades e ingresso de novos empresários no ramo.
Ao longo dos anos de 1990, outras indústrias foram criadas,
vinculadas ainda à ação de Salvador Casado, que efetuou transferência
e venda de outra empresa à ex-funcionários; criação de empresas tanto
por ingresso de novos investidores em direção à diversificação de suas
atividades, adquirindo empresas com problemas financeiros e
administrativos ou por pequenos comerciantes que adentram no
segmento sem conhecimento da área de produção.
Ao longo dos anos de 1990, outras indústrias foram criadas,
vinculadas ainda à ação de Salvador Casado, que efetuou transferência
e venda de outra empresa à ex-funcionários; criação de empresas tanto
por ingresso de novos investidores em direção à diversificação de suas
atividades, adquirindo empresas com problemas financeiros e
55
administrativos ou por pequenos comerciantes que adentram no
segmento sem conhecimento da área de produção.
56
para São Paulo de forma a ter os primeiros contatos com produção de
torneiras.
O processo produtivo demanda uma série de cuidados e
conhecimentos específicos, especialmente nas etapas de fundição da
sucata e preparação dos moldes das torneiras realizadas a partir da
areia shell, onde o menor erro resulta na perda do processo produtivo.
Como a maioria das indústrias enfrentava problemas semelhantes,
estavam organizadas em torno da Associação das Indústrias Produtoras
de Metais Sanitários de Loanda e Região - Aimensalor - com fim
específico de vincularem-se aos Arranjos Produtivos Locais no âmbito
estadual, como forma de obterem recursos para organizarem melhor a
produção. Arranjo Produtivo - APL - é o termo utilizado para designar
uma aglomeração de empresas com a mesma especialização produtiva,
localizada em uma mesma cidade. Os arranjos produtivos locais
apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem entre si, contando também com apoio de governos
estaduais, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e
pesquisa como forma de conseguirem verbas para organizarem melhor a
produção. No caso de Loanda, este passo seria dado pela aquisição de
um programa de computador que permitiria organizar o “chão de
fábrica”.
Em outras palavras, visitas realizadas em algumas indústrias
permitiram verificar que na maioria delas não havia um sistema
produtivo organizacional que desse maior fluidez à produção. Não se
tratava de processo nem fordista nem toyotista, mas de um sistema
produtivo que não seguia nenhuma especificação ou racionalidade na
forma de produzir propriamente dita. O segundo grande problema para
este setor era a falta de mão-de-obra qualificada na cidade, mediante
ausência de cursos específicos para a capacitação da mesma, que eram
ministrados pelo Senai de Paranavaí e Sebrae de Maringá, impondo
57
deslocamentos acima de 60 km com aumento considerável dos custos. O
terceiro problema vinculava-se a questões administrativas tendo em
vista relativas dificuldades de seus proprietários e funcionários em
comandar as empresas do ponto de vista do controle da produção,
controle da qualidade, dentre outros. Outro problema estava
relacionado à busca de certificação por parte das empresas de forma a
torná-las aptas a participarem de licitações públicas - Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat PBQP-H – do
Ministério das Cidades que visa melhoria da qualidade do habitat e a
modernização produtiva. Tornando-se certificadas poderiam vender
torneiras e metais sanitários para construção de habitações populares.
Outro problema a ser solucionado estava vinculado às inovações – busca
de melhoria nos produtos em ABS, aço, melhoria nos produtos com
revestimentos em ouro, desenvolver torneiras com monocomando e de ¼
de volta, etc. - e ao design dos produtos, como forma de conquistar
novos mercados em direção a produtos mais sofisticados.
Outra questão relacionava-se ao meio ambiente pela utilização da
areia shell para preparação dos moldes das torneiras, que contém
presença de resina fenólica, considerada pelo Tecpar como de classe 1
(maior nível) de toxicidade. Esta advém da fundição dos metais onde há
muita impureza como chumbo, cádmio, níquel e manganês. Problema este
que começou a ser resolvido com a instalação de uma empresa
denominada Reciclagem Imperial em 2005, fruto de uma sociedade com
3 empresários locais e investimentos da ordem de 1 milhão de reais.
Esta empresa constitui-se em uma das três presentes no Brasil e é
responsável pela reciclagem de toda areia shell utilizada em Loanda e
municípios adjacentes.
Embora com dificuldades o setor tem prosperado e conta
atualmente com 23 indústrias produtoras de metais sanitários,
envolvendo torneiras, registros, kit para banheiros, filtros de água,
58
válvulas diversas, bóias, duchas higiênicas, chuveiros e duchas diversas
para banho, etc, distribuídas entre Loanda com 19 indústrias e 1522
trabalhadores formais no ano de 2008, Santa Cruz do Monte Castelo (1
e 127), Santa Isabel do Ivaí (2 e 310) e São Pedro do Paraná (1 e 84
trabalhadores). (www.aimesadr.com).
Evidente que os dados referem-se àquelas empresas que atuam na
formalidade, pois segundo informações obtidas em levantamento de
campo havia em 2006, uma série de empresas que não estavam
regulamentadas, isto é, não possuíam registros junto aos órgãos
administrativos. Isto ocorre tanto em Loanda como nos municípios
citados, adjacentemente localizados em relação à primeira. O número
de trabalhadores diretos em Loanda, corresponde a cerca de 7,8% de
toda a população urbana, mas se acrescentar-se os empregos indiretos
estimados em cerca de 3.000 (www.redeapl.pr.gov.br), a participação
deste setor na geração de empregos torna-se muito mais significativo.
Importa ainda frisar que este setor tem apresentando um forte
crescimento em sua produção, estando estimada em cerca de 15 milhões
de peças ano, o que significou um crescimento da ordem de 60,25%
entre 2005 e 2007.
O mercado consumidor deste setor tem sido bastante ampliado,
envolvendo praticamente todo o território nacional, estimando em cerca
de 40% do mercado interno, mas tendo maior concentração geográfica
no Centro-Sul do país - exceto o estado de São Paulo - seguido por
alguns estados da região Nordeste. O segmento de modo geral é
especializado em produtos de linha popular, não concorrendo com
grandes marcas como Deca (colocada como a maior controladora
individual do segmento no mercado interno e grande exportadora) e
Docol (controla cerca de 19% do mercado nacional -
www.fetiesc.org.br/indústria_sc.html). No entanto algumas empresas já
iniciaram linhas de produção de produtos mais sofisticados como
59
aqueles banhados a ouro, prata e ônix. A exportação ainda é reduzida,
mas algumas empresas já iniciaram o processo de vendas no âmbito do
Mercosul, especialmente para a Argentina e Paraguai.
(www.redeapl.pr.gov.br).
Outro aspecto fundamental do setor refere-se ao processo de
tendência à especialização do trabalho em determinadas partes da
produção associado à expansão do processo de subcontratação pelas
indústrias de metais sanitários de Loanda. Algumas etapas estão sendo
realizadas por outras empresas, sejam elas formais ou informais.
Situação típica deste processo é a Metais Leão, especializada e
única na cidade a produzir acessórios como ralos e grelhas, que são
vendidos para outras indústrias da Loanda, iniciou recentemente a
fabricação de torneiras para as quais terceiriza a etapa de fundição e
afinação, já que não compensa financeiramente incluir tais etapas em
sua linha de produção.
Outro aspecto vincula-se às dificuldades enfrentadas pelas
empresas para a obtenção de matérias-primas, especificamente a
sucata, pois a China tem se colocado no mercado como a maior
compradora da mesma, afetando tanto o preço e a quantidade a ser
adquirida. A China ainda tem afetado fortemente as estruturas de
produção dos metais sanitários da região já que se coloca como forte
concorrente neste mercado no Brasil, uma vez que consegue colocar no
mercado brasileiro, metais sanitários com preços oscilando entre 5% e
10% mais baratos que os fabricados no país e com melhor tecnologia.
Para este setor concorrer com os produtos chineses, precisa, no
mínimo, adquirir máquinas que fabriquem o mecanismo de cartucho de ¼
de volta, uma estrutura para torneiras de monocomando, de elevado
preço. Enquanto isto não ocorre, empresas como a Imperatriz Metais,
possuem em seu catálogo de vendas produtos adquiridos da China e
embalados com sua marca.
60
Esta produção industrial insere a cidade de Loanda em uma gama
muito variada de interações espaciais e de relações de produção e
consumo, muito complexas. É uma cidade local, com fraco nível de
centralidade expressando oferta de bens e serviços que atendem sua
população local e aquelas de municípios adjacentemente localizados. Mas
aqui importa explicitar que a centralidade exercida não é apenas de
ofertar bens e serviços fundamentais à população, mas de ofertar
produtos e serviços de maior alcance espacial. Isto decorre da
presença de estabelecimentos de redes nacionais e regionais de móveis
e eletrodomésticos, perfumes, calçados, de serviços de saúde, ensino,
jurídicos, dentre outros.
Situação muito distinta das apresentadas até aqui é cidade de
Cafeara, localizada a noroeste de Londrina, no vale do Paranapanema.
Este núcleo local foi criado nos anos de 1940 no contexto da expansão
das frentes pioneiras, como um ponto de apoio para o desenvolvimento
das atividades agropecuárias, ofertando bens e serviços fundamentais
para a população rural e urbana. As transformações gerais afetaram de
modo muito intenso este núcleo, a começar pela redução de sua
população total que de 7.709 habitantes em 1960, passou para 2.485
habitantes em 1991, cuja maioria encontra-se na área urbana. Do ponto
de vista das atividades agropecuárias, o município caracteriza-se por
ter cerca de 69% de suas terras ocupadas com pastagem, 12% com
produção de soja e 20% com produção de cana-de-açúcar (IBGE, 2008)
evidenciando que tais atividades pouco dependem da cidade como
supridora de necessidades, em outra palavras, uma cidade que não
controla do campo por intermédio de atividades diversas. A começar
pelo fato da mesma não apresentar serviços financeiros, exceto pela
Loteria que realiza vários serviços da Caixa Econômica Federal. Da
condição de núcleo ofertador de bens e serviços para o mercado
consumidor urbano e rural em termos de necessidades básicas,
61
atualmente Cafeara coloca-se como uma cidade de nível muito fraco de
centralidade. A reinserção ocorreu de modo que a cidade perdeu
atividades e funções, passando atualmente a abrigar uma parcela
significativa de trabalhadores rurais atuando no corte da cana-de-
açúcar.
Meireles (2007) evidenciou que a distribuição de dos
trabalhadores em Cafeara se dá em três principais atividades:
primeiramente pela prefeitura, gerando aproximadamente 8% de
empregos para o total de habitantes; o comércio local que emprega
aproximadamente 4% do total de habitantes urbanos; e por último as
três microempresas existentes na cidade, sendo uma de móveis
artesanais de bambu, e duas confeccionistas, que juntas empregam
cerca de 4% da população total; os demais atuam no corte da cana-de-
açúcar. Situação desta precariedade da geração de empregos está no
fato de que 250 famílias da cidade estão cadastradas no programa
federal da Bolsa Família. Se considerar quatro pessoas por família, ter-
se-á cerca de 40% da população urbana recebendo R$120 reais mensais
para complemento ou para a sobrevivência (MEIRELES, 2007). De acordo
com IBGE (2008), Cafeara apresenta um restrito conjunto de
estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, atendendo
apenas as necessidades mais vitais de sua população.
Trata-se, pois, de uma localidade central com nível muito fraco de
centralidade, entendendo-se que no bojo das transformações gerais não
ocorreu a implantação de atividades que demandassem da cidade a
oferta de bens e serviços diversos. A agropecuária de uma maneira
geral, realiza-se sem a regulação da cidade, sem que esta desempenhe
atividades de atendimento de sua demanda. Perda absoluta de funções,
de atividades, onde a cidade coloca-se como lócus de reprodução de
uma força de trabalho rural.
62
Considerações Finais: reinserções complexas das pequenas cidades
na rede urbana
64
sentido que assume a produção industrial em cidades pequenas, sejam
elas especializadas ou não, em termos de renda gerada pelo salário da
força de trabalho, de tributos aos cofres municipais, dentre outros.
Com isto pode-se ter melhores possibilidades de entendimento da
oferta de bens e serviços que uma localidade exerce. Diferente é a
cidade de Cafeara que representa uma situação de perda absoluta de
atividades e funções, podendo ser caracterizada como uma localidade
de abrigo de uma força de trabalho rural. Os elementos que geraram
esta perda absoluta de centralidade vinculam-se a elite local
representada inicialmente pelos proprietários fundiários, que em parte
migraram e não reinvestiram suas rendas na pequena localidade.
Migração esta que ocorreu com a venda do estabelecimento rural, ou
ainda com a mudança do domicílio do proprietário, implicando o não
reinvestimentos de suas rendas no lugar. Em segundo lugar há uma
questão de localização relativa vinculada principalmente ao fato de
estar fora dos principais eixos de circulação rodoferroviário. É relativa,
pois não significa que um núcleo que esteja fora dos principais eixos de
transportes obrigatoriamente não possa ampliar sua centralidade.
Trata-se de um conjunto de elementos de ordem econômica, social,
política que geraram as condições de perda absoluta de centralidade.
65
Referências
66
___. Transformações na rede urbana do Norte do Paraná: estudo
comparativo de três centros. 2000. Tese (Doutorado em Geografia) -
USP, São Paulo.
IBGE. Censo demográfico. Rio de Janeiro, 1940 a 2000.
IBGE. Cidades. Cafeara. Disponível em <www.ibge.gov.br/cidades>.
Acesso em ago. de 2008.
IBGE. Regiões de influência das cidades: rede de lugares centrais e
áreas de atuação das cidades brasileiras. Área de atuação de Curitiba.
Rio de Janeiro: IBGE, 1997. (disquete).
IMPORTÂNCIA SOCIECONÔMICA DO ARRANJO. Disponível em:
<www.aimesadr.com>. Acesso em 30 jun.2008.
IPARDES. Arranjo produtivo local de metais sanitários de Loanda e
região: estudo de caso. Curitiba, 2006. Disponível em:
<www.ipardes.gov.br>. Acesso em jun. 2006.
IPARDES. Identificação, caracterização, construção de tipologia e apoio
na formulação de políticas para os arranjos produtivos locais (apls) do
estado do Paraná - etapa 3: caracterização estrutural preliminar dos
APLs pré-selecionados e nota metodológica para os estudos de caso.
Curitiba, 2005. Disponível em: <www.ipardes.gov.br>. Acesso em abr.
2006.
IPARDES. Perfil dos municípios. Disponível em: <www.ipardes.gov.br>.
Acesso em 27 jun. 2008.
IPARDES. Perfil municipal de Loanda. Disponível em:
<http://www.ipardes.gov.br>. Acesso em: abr. 2006.
MEIRELES, M. A. Rede urbana norte paranaense e a re-inserção de
cidades pequenas: estudo de casos. Relatório de Pesquisa de Iniciação
científica. Londrina, 2007. Inédito.
SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis: Vozes, 1982.
___. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.
67
___. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1988.
VEIGA, L. A. Jaguapitã-PR: pequena cidade da rede urbana norte-
paranaense especializada na produção industrial de mesas para bilhar.
2007. Dissertação (Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e
Desenvolvimento) – UEL, Londrina.
68
PEQUEÑAS LOCALIDADES Y VACIAMIENTO DEMOGRÁFICO: DESAFÍOS Y
OPORTUNIDADES
3
Marcela Benítez
Introducción
3
Doutora em Geografia. Fundadora e directora ejecutiva da ONG-Responde, Buenos
Aires.
69
Así comencé como aprendiz de Geógrafa e investigadora, a
recorrer un centenar de pueblos en las distintas provincias del país. Los
testimonios recogidos durante mi trabajo de campo, ejemplificaban
esta situación:
70
Cada lugar que visitaba, era de difícil acceso. Caminos
polvorientos y solitarios, otros prácticamente intransitables por el
barro, conducían a pueblos de un aspecto similar: viviendas ruinosas e
increíblemente de pie, en manzanas donde ya el pastizal le ganaba al
ladrillo o al adobe. Carteles que a pesar del herrumbre o la falta de
algunas letras, todavía decían “Hotel” o “Biblioteca Popular”. Calles
desoladas e inquietantes donde se adivinaba detrás de algunas ruinosas
ventanas, ojos curiosos que escudriñaban al insólito visitante.
71
Cuando aquel viaje por el pasado de la mano de mi entrevistado se
teñía de angustia, todo se desvanecía. Estábamos solos y mis ojos no
descubrían un solo testimonio de aquel relato. Con el corazón apretado y
un afectuoso saludo, me despedía para siempre de aquel que como
tantos otros, soñaron con ver a su pueblo grande y próspero. Tanto, que
haría palidecer de envidia a la misma Buenos Aires.
Cada visita aumentaba en mi corazón de aprendiz, sentimientos de
diversa índole y taladraba em mi cabeza la misma pregunta. “¿Cómo
podía ser que esa gente estuviera abandonada a su suerte?”. Se tratara
de la pampa húmeda, la meseta patagónica, los cerros, los valles o los
bosques, la historia del olvido se repetía de idéntica manera.
La idea de que como ciudadanos merecían educarse, recibir
atención sanitaria, trasladarse, comunicarse, trabajar, progresar, tener
acceso a la información, sólo parecía tener cabida en el discurso político
de los candidatos de turno, cuyas promesas eran sistemáticamente
olvidadas a la hora de gobernar.
Nadie pensaba seriamente en invertir en cada pueblo generando
promoción humana y desarrollo local. Por el contrario, a la hora de las
sumas y restas resultaba demasiada la inversión para atender unos
miles de puñados de almas que significarían un magro número de votos
en La próxima campaña. No así si se invertía en cualquier barrio
marginal del Gran Buenos Aires donde proliferaba la miseria, donde la
incultura y la necesidad vendían su favor al mejor postor siempre
acechante.
Me daba cuenta que eran miles los condenados a la exclusión y
estaban en silencio. Un silencio que ya no encerraba gritos de rebeldía,
ira o dolor. Silencio que encerraba más silencio. Cuerpos de brazos
caídos. Mentes adormecidas por la ignorancia y el sopor de la rutina que
se repetía de igual modo hace cinco, diez, treinta años.
72
Me preguntaba: “¿será entonces que van a desaparecer?, ¿será
entonces que nadie hará nada por evitarlo?, ¿será entonces que
reencontraré a sus jóvenes y sus niños mendigando una moneda en las
esquinas ciudadanas?, ¿seré yo la única que se da cuenta de esto?. Por
Dios, ¿es que seré yo quién deba hacer algo por ellos?”
Tiempo de decisiones
El Problema
La investigación iniciada en 1991 acerca del problema del
despoblamiento de los pequeños núcleos rurales de la Argentina me
permitió descubrir, tomando como herramienta la fuente de
información que proporcionaba el Instituto Nacional de Estadística y
Censos (Indec), que eran 430 las localidades que podían ser
consideradas poblados en vías de desaparición, por presentar un
continuo decrecimiento en sus montos poblacionales.
La información censal produjo un acercamiento a la verdadera
dimensión de la problemática, ya que algunas diferencias en sus
criterios de definición en cuanto al término "localidad" en 1980 y 1991,
sembraban justificadas dudas acerca del fiel reflejo que estos datos
proporcionaban acerca del proceso de despoblamiento de esos núcleos.
Otro tipo de análisis realizado sobre estas nuevas localidades que
aparecían consignadas en el censo de 1991 y que en 1980 habían sido
consideradas como "población rural dispersa", revelaba que existía la
sospecha acerca de un mayor número de pueblos que engrosarían los
430 considerados "en vías de desaparición".
Estos resultados, demostraban, desde el punto de vista
demográfico, que el 32% del total de las localidades rurales del país
estaban perdiendo población. Desde el punto de vista geográfico
exponía una trama de asentamientos debilitada que estaba influyendo
73
en el crecimiento de áreas marginales alrededor de las ciudades y el
aumento de vacíos territoriales.
Desde el punto de vista económico, la llegada del migrante,
producía en las ciudades un impacto negativo ya que no lograba incluir
formalmente a este trabajador, el cual pasaba a engrosar las filas de
desocupados y marginales. Tampoco lograba satisfacer sus crecientes
demandas de infraestructura y servicios sometiendo al nuevo poblador
a condiciones de vida, en muchos casos, infrahumanas.
Este incesante llegar del campo a la ciudad sólo acarrea miseria a
unos y a otros. Miseria facilmente observable en miles de rostros
deambulantes sin rumbo ni futuro, en cualquier ciudad del país.
Desde el punto de vista sociológico, el problema de la emigración
de los habitantes de los pueblos, significaba la desintegración del tejido
comunitario del reducido núcleo de población que aún permanece y para
el que migra, el desarraigo y la pérdida de los lazos culturales a partir
de la siguiente generación.
El trabajo de campo y reconocimiento de la situación en que se
encontraban más de 100 de los 430 poblados en la Argentina, demandó
recorrer más de 50.000 Km e insumió siete años.
Durante ese trabajo visité y entrevisté a los personajes más
relevantes de la vida de cada pueblo.
La síntesis de este largo trabajo quedó plasmada en una tesis
doctoral “La Argentina que Desaparece” que defendí en diciembre de
1998 y donde pronosticaba la desaparición de la mayor parte de los
pueblos en la línea del tiempo.
Si este trabajo hubiera sólo permanecido en el ámbito de la
investigación pura, esa contribución al conocimiento científico no
hubiera aportado nada significativo a la resolución del problema en sí.
¿Podría existir otro camino para que aquella investigación
aportara alivio a la situación identificada?
74
¿Sería posible desde el rol de investigador en Ciencias Sociales
promover soluciones? ¿Seguia siendo esto investigación, o se convertía
en “otra cosa”, como sostenían y sostienen algunos férreos defensores
de la investigación pura como única manera de investigar?
Tiempo de RESPONDE
4
Site: www.responde.org.ar
75
limitada en sus posibilidades de pensar, organizar, hacer, elegir y
desarrollarse.
Las decenas de miles de personas que aún hoy habitan cientos de
pueblos tienen como único horizonte el acceder a un Plan de subsidio de
Gobierno de US$ 50.- como única tabla de salvación, aceptando acceder
a pagar el favor político que le permite sobrevivir.
Aquellos habitantes que no se resignan a una vida sin futuro
eligen partir. Sueñan con una vida mejor, emigran hacia las ciudades y
se detienen en los cordones marginales, por lo general, único destino al
que acceden debido a su situación económica y nula calificación laboral.
La gente que vive en estos pueblos es amable, cordial y solidaria
pero cuando emigra, muchas veces la pobreza y la marginalidad lo llevan
a él o sus descendientes, a sufrir desviaciones que lo llevan al crimen, la
violencia o la droga.
La falta de atención de los Gobiernos a esta problemática nos
lleva a ser testigos, no pasivos sino agredidos, de una población urbana
en aumento, cada vez más violenta, lista para arrasar con nuestras vidas
y la de nuestras familias, buscando arrebatar en un momento lo que en
dos o tres generaciones de miseria su familia no pudo darle.
Este proceso define que los pueblos desaparezcan, las raíces de
nuestra sociedad y el patrimonio cultural se pierda, las ciudades
crezcan desproporcionadamente y disminuya su oferta de servicios
básicos, crezcan los índices de criminalidad y violencia y la trama
demográfica territorial se debilite.
76
Region Províncias Pueblos en riesgo Población
involucrada
77
estructurales de la pobreza. En la Argentina, las ONG no sólo deben
enfrentar el desafío de combatir la pobreza de los pobres
estructurales, sino también la de los “nuevos pobres”. Aquellos que
perdieron su trabajo luego de la crisis económica de 2001.
Cuando hablamos de pobreza humana, nos referimos al
empobrecimiento del ser humano en sus múltiples dimensiones, como son
la privación de una vida larga y saludable, de conocimiento, de un nivel
decente de vida y de un grado considerable de participación.
Nominalmente, se define a la pobreza por la falta de una sola de estas
dimensiones, y generalmente, al hablarse de pobres suele entenderse,
erróneamente, que consiste en un ingreso insuficiente que habilita a la
privación humana.
El informe de las Naciones Unidas acerca del desarrollo del año
2000, asegura que la pobreza es “invasiva” y afecta a la cuarta parte de
la población en desarrollo. Las desigualdades aumentan no solo en
cuanto a los ingresos y la riqueza, sino y lo que es verdaderamente
grave, en el acceso a los servicios sociales y los recursos productivos.
Las ONGD se caracterizan por:
Tener una organización estable con un grado mínimo de
estructura: Poseen personalizad jurídica y capacidad legal acorde a las
normas vigentes.
No poseer ánimo de lucro. Los ingresos que perciben deben
beneficiar a la población objetivo de los programas de desarrollo que
implementan, o al funcionamiento de la propia organización.
Trabajar en el campo de la cooperación para el desarrollo en el
marco fijado por la IGJ
Poseer voluntad de cambio o de transformación social, a través
de una mejora de la sociedad en la que viven.
Tener respaldo y presencia social, en el sentido de gozar del
apoyo de la sociedad y uma presencia activa, manifestado a través de:
78
Apoyo económico recibido a través de donaciones para la
concreción de proyectos o del pago de cuotas sociales o membresías.
Capacidad para movilizar trabajo voluntario.
Participación activa en redes con presencia social y contacto
con otras organizaciones sociales.
Ser Independiente, manifestando autonomía institucional y
decisoria respecto de cualquier instancia gubernamental,
intergubernamental o cualquier otra ajena a la institución.
Poseer recursos humanos y económicos (trabajo voluntario,
donaciones privadas).
Ser transparente en sus políticas, prácticas y presupuestos, a
través de la publicación de documentación y del control externo de sus
actividades y recursos.
Estas organizaciones promueven el desarrollo como proceso de
cambio social, económico, político, cultural y tecnológico. Nuestra
Organización pertenece al campo de las ONGDs y trabaja con población
rural.
Según el INDEC, una localidad rural es aquella que está habitada
por menos de 2.000 habitantes, también conocida como "poblados".
La población urbana y rural ha variado en el siglo XX. Hubo, en el
último censo, un descenso en los valores de la población rural que no son
significativos como para hablar de un éxodo rural.
Los integrantes de esas comunidades toman la decisión de
emigrar por creer que no tienen más futuro en su pueblo, sabiendo que
el desplazamiento hacia grandes ciudades no les asegura una vida
próspera.
79
ONG RESPONDE
80
Programas de Recuperación, de Desarrollo de Recursos y
Administración.
La Comisión Directiva es ad honorem, las posiciones clave son
rentadas y el resto del equipo es voluntario. Actualmente Responde
está formada por 8 profesionales rentados, 12 voluntarios y 160
asociados. Los voluntarios son convocados en función del programa que
lo requiera.
Las actividades de Responde se dirigen hacia dos campos bien
diferenciados:
En poblados en riesgo de desaparición: implementando nuestros
programas de Promoción y Desarrollo.
En la Sociedad nacional e internacional: realizando distintos
tipos de eventos que ponen la problemática de los pueblos en la Agenda
Pública y en la Agenda Social. También participando en distintos foros.
Se sostiene principalmente con los aportes de:
Productos Propios: Tienda Virtual y Libro de Fotografías (e-
jacinta tienda virtual) (Figura 2);
81
Apoyos en Especies: Internet; pasajes en ómnibus o avión; piezas
gráficas; espacios en prensa; asesoramiento legal y contable.
Cuotas Sociales: aporte mensual de sus sócios.
Proyectos: Las empresas financian el desarrollo de los proyectos
y un porcentaje de ese apoyo sostiene la estructura de la organización.
Los gastos más importantes por su volumen son los relacionados
con los proyectos y se destacan: Obras, capacitaciones y dirección de
proyectos.
Los Ingresos se distribuyen aproximadamente del siguiente modo:
Un 12 % en Gastos de Infraestructura
Un 12 % en la Promoción y Difusión de Pueblos
Un 76 % en Desarrollo de Proyectos
El mayor desafío financiero actual es llevar adelante los
programas en la mayor cantidad de pueblos posibles, sin quebrar la
sustentabilidad de la estructura orgánica.
82
Aislamiento por el trazado de rutas pavimentadas alejadas de
los antiguos caminos de tierra.
Debilitamiento de su infraestructura de servicios por el
achicamiento del pueblo.
Falta de fuentes de trabajo.
Imposibilidad de acceder a la información y a las
oportunidades en general.
Trabajamos los tres primeros años (2000 -2003) sin apoyo
económico tratando de entender si el proceso de despoblamiento era o
no una situación irreversible.
La primera experiencia en un pueblo, fue terriblemente difícil.
Tanto que casi desisto. La comunidad desconfiada y desesperanzada no
dejaba resquicio para entrar en ella. Tantas situaciones frustrantes y
dolorosas, flagelaban mi entereza. Afortunadamente un día, ocurrió el
milagro y comenzamos a tejer un pequeño puente entre sus dudas y
temores y nuestros deseos y oportunidades.
Cuando advertimos que era posible, comenzamos a buscar apoyos.
Habíamos aprendido las primeras lecciones acerca de las condiciones
necesarias para dar sustentabilidad a nuestro accionar:
Que la comunidad estuviera dispuesta a trabajar por su futuro.
Que exista el compromiso de otros actores críticos que apoyen
nuestro trabajo.
Programas
83
Nuestras tres líneas de trabajo y respectivos proyectos son:
1) Trabajo y Producción: Pueblos Autosustentables, Turismo en
Pueblos Rurales, Revival.
2) Cultura y Educación: Alas, Enseñemos Nuestros Oficios,
Responde Educativa.
3) Desarrollo y Medioambiente: Pueblos Dorados.
Pueblos autosustentables
Propone el autoabastecimiento y la buena alimentación de las
pequeñas comunidades rurales a partir de los recursos naturales con los
que cuentan. Se basa en una plataforma digital que utiliza un Sistema
de Información Geográfica que facilita el despliegue de una información
inédita y de alto impacto para el beneficio del poblador rural y su
familia.
Este Programa se ha implementado en las provincias de la Región
Pampeana y comienza em Región Patagónica, provincia de Neuquén,
esperando lograr en un futuro nuevos apoyos que nos permitan
continuar en las restantes provincias del país.
84
Revival
Permite crear responsabilidad social empresaria, capital social y
fortalecer los proyectos de promoción y desarrollo para la recuperación
de pueblos en Argentina. Voluntarios internacionales provenientes de
empresas y/o universidades aplican su conocimiento y experiencia en los
pueblos durante su estadía.
Alas
Propone la creación de Centros de Extensión Socio – Económico –
Cultural, (Centros Responde), que permiten desarrollar actividades
sociales, culturales, recreativas, de capacitación y educación. Este
Centro cuenta con: Biblioteca; Museo; Aula Virtual, con acceso a
Internet que permite Educación y Capacitación; Salón de Actividades
culturales, sociales y económicas y Cafetería.
Responde educativa
Ofrece la posibilidad de realizar el Bachillerato para Adultos a
través de Internet a dos generaciones de adultos que viven en los
pueblos rurales de nuestro país que no han tenido la posibilidad de
educarse.
Iniciamos una experiencia piloto en diciembre de 2006 donde un
grupo de 22 adultos ya ha finalizado su primer año de Bachillerato.
85
Estudian en un contexto de dificultad y aislamiento, comprometidos con
su crecimiento personal.
Pueblos dorados
Promueve la desconcentración de las grandes ciudades
favoreciendo la reducción de la emisión de gases de efecto invernadero.
Busca atraer nuevas familias a los pequeños pueblos rurales
ofreciendo un nuevo estilo de vida, en un entorno natural y respetuoso
del medioambiente.
Consolida las raíces de su población al ofrecer una
infraestructura básica de servicios y la creación de nuevas
oportunidades sociales y económicamente sustentables.
86
La inversión para el proyecto cultural, educacional y turístico
es un monto de US$ 400 por habitante, por única vez.
La inversión en el Programa Pueblos Autosustentables para la
Región Pampeana demandó solamente US$ 0.42 por cada beneficiario
directo.
Un emigrante que recibe un Plan de Ayuda Familiar, un paquete
de alimentos y subsidio alimentario para los niños, genera un costo
mensual de US$ 39 por cada miembro de la familia. Y ese monto no
considera los costos de la familia en asistencia médica gratuita,
subsidios de alojamiento, subsidios escolares y otros servicios
5
gratuitos .
La pérdida generada por una persona que comete un crimen o
asalto, sin muerte de los afectados, es de US$ 4.000 En este monto no
se considera los efectos colaterales como terapia psicológica,
reparaciones, costo de reposición de los bienes robados y el costo
6
gubernamental para la búsqueda del criminal .
No existen políticas públicas que propongan invertir en desarrollo
local para estos pueblos, ya que suman pocos votos a la hora de las
elecciones partidarias.
Hasta hoy, sólo RESPONDE pone una luz de atención sobre las
comunidades rurales en crisis e implementa acciones que las ayude a
superarlas.
Creemos que es posible revertir la situación de riesgo de
desaparición de un poblado promoviendo proyectos económicos y
5
De acuerdo a datos oficiales a Enero 2008: Plan de Ayuda Familiar US$ 91.60, paquete
de alimentos US$ 100 y subsidio alimentario para cada niño u$s 16.60. Total costo
mensual para una familia de siete miembros US$ 274.60 equivalentes a US$ 39 por cada
miembro de la familia.
6
Fuente: familia Gorleri, robada en Septiembre 2005.
87
sociales creativos e innovadores, alentando a sus pobladores a
convertirse en protagonistas del cambio. Dado que conservan recursos
naturales y humanos que sólo esperan una nueva oportunidad de ser
desarrollados.
Desafíos políticos
Indiferencia del Estado Nacional por la suerte de pequeños
pueblos (escasos votantes). Estrategia: Comenzamos a difundir nuestro
trabajo haciendo que tomara estado público la situación de cientos de
pueblos rurales que se extinguían. Poco a poco “los pueblos” van siendo
parte de la agenda pública porque la sociedad ya los ha incorporado a la
suya.
Asistencialismo del Estado: promueve el clientelismo y desalienta
la cultura del trabajo. Nos agrega al escenario ya dificultoso un
elemento negativo a la hora de provocar actitudes proactivas.
Estrategia: contrastamos los “beneficios obtenidos” de su triste
presente contra la dignidad de un futuro posible. Los desafiamos a
conseguirlo.
Desafíos culturales
Desconfianza del poblador hacia “el de afuera”. Sumado a su
individualismo, conspiran a la hora de articular proyectos conjuntos.
Estrategia: promovemos el contacto con otros poblados para que
conozcan su experiencia. Esto genera mayor confianza hacia nosotros y
en ellos mismos.
88
Oportunidades que los programas de RESPONDE brindan a los
pobladores:
Cualitativos:
Se siente reconocido como ser humano.
Toma conciencia de su capacidad de hacer.
Se siente apoyado en sus proyectos e iniciativas.
Se convierte en protagonista de su futuro.
Toma conocimiento que el alcance de sus logros depende de él.
Reconoce que ya no es un habitante de un pueblo olvidado.
Cuantitativos:
Emprende una actividad económica, cultural, social o educativa.
Genera resultados económicos, culturales, sociales o
educativos.
Establece vinculaciones con otros actores externos a su pueblo.
Suma nuevas oportunidades personales a partir de esas
vinculaciones.
A modo de conclusión
90
Después de nueve años hay lecciones aprendidas, hay varios
pueblos con un antes y un después y un mito destruido: que su situación
es irreversible, que van a desaparecer. Hemos sumado actores críticos,
no todos los necesarios, pero sí una muestra representativa que
significa que es posible.
Ello ocurre cuando al menos un grupo de aquella comunidad
olvidada se anima a intentar cambiar su futuro. Advertimos que
necesitan al principio y por un tiempo, estímulo, guía y acompañamiento.
El involucramiento de sus referentes locales es importantísimo: su
maestra, la autoridad local, su guía espiritual. Cuando su autoridad
acompaña o al menos no dificulta la tarea, cuando alguna empresa
financia los pequeños proyectos ejerciendo la responsabilidad social
hacia aquella sociedad que la contiene, la balanza se inclina hacia la
recuperación del pueblo.
Sólo entonces es posible ese antes y después. Esa foto
instantánea que refleja dos momentos: el del inicio, donde las cabezas
están gachas y los rostros apesadumbrados; el del “después”, donde
están vestidos de gala por dentro y por fuera, preparándose a contar a
la sociedad que no sabía de ellos, que existen y que están dispuestos a
dar batalla para sumarse definitivamente a un mundo del que quieren
ser parte.
Las fotos del “después” tal vez perduren a través del tiempo. Son
seres humanos con características personales que los llevarán a
perseverar o a abandonar lo obtenido. Pero su corazón y su mente
quedarán marcados de manera indeleble y nosotros, nuestra sociedad y
muchos más, sabrán que lo han conseguido.
Hace poco tiempo escuché a un geógrafo alemán expresarse
acerca de cuál consideraba que era el rol del geógrafo. Decía: “El
Geógrafo es el médico de la Tierra”.
91
Cuando tomé la decisión de fundar Responde y aceptar el desafío
de intentar cambiar uma realidad aparentemente imposible de cambiar,
jamás imaginé la evolución que tendría la organización, la cantidad de
gente que se involucraría y la transformación del escenario social que
produciría.
Estos años me han dejado algunas enseñanzas personales:
Aprendí que no debo dejar de llevar adelante una Misión, por
imposible que parezca.
Que no debo subestimar nuestro potencial como ser humanos y
agentes de transformación de la realidad.
Que debo mantener la confianza en mí misma ya que el temor
nos pone límites previos a nuestra posibilidad de hacer.
Una invitación final: La tierra y nuestra sociedad necesita
doctores, aprovechemos nuestra vocación para remediarla.
92
DESENVOLVIMENTO AUTO-GERIDO E TRABALHO
7
Marcelo Dornelis Carvalhal
7
Professor de Geografia dos cursos de graduação e mestrado da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná-UNIOESTE, campus de Marechal Cândido Rondon, membro do Grupo
de Pesquisa de Geografia das lutas e conflitos sociais (GEOLUTAS) e do Centro de
Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT), e-mail: mdcarvalhal@hotmail.com
93
A problematização sobre o caráter linear do desenvolvimento é
marcada pela constatação de que países e regiões apresentam
diferentes níveis de desenvolvimento. A perspectiva relativamente
otimista do desenvolvimento capitalista ensejava que o atraso e/ou
subdesenvolvimento era uma fase necessária e transitória do processo
histórico desses países, que chegariam por fim ao nível alcançado pelos
países desenvolvidos, seguindo etapas sucessivas.
Isso justificou um conjunto de ações politicamente coordenadas
por agências internacionais de desenvolvimento, no contexto da leitura
geopolítica da guerra fria, em que o atraso relativo e a pobreza eram
caldos culturais importantes para a emergência dos radicalismos de
esquerda, que marcaram os movimentos de libertação na Ásia e África e
as lutas sociais na América Latina.
Assim implementaram-se ações para garantir o desenvolvimento
econômico e social, influenciados pelo pensamento keynesiano e mais
especificamente na América Latina com a influência da CEPAL
(Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), cujos marcos
teóricos foram consolidados nas teorias dualistas sobre a economia dos
países subdesenvolvidos, marcados pela industrialização e a manutenção
ou aumento da pobreza.
De forma bastante simplificada podemos afirmar que a teoria
dualista propõe uma leitura em que duas realidades distintas polarizam
a economia, apresentando-se em oposição.
94
A teoria dualista ainda exerce grande influência no pensamento
social, notadamente na América Latina, opondo duas realidades
distintas, uma articulada às formas contemporâneas de acumulação
capitalista, com emprego de novas tecnologias e inseridas no circuito
internacional, outra caracterizada pelo atraso tecnológico, relacionado
às camadas mais pobres da população.
Seguindo variadas proposições e alternativas para superação
desse dualismo foram ensejadas propostas que têm em comum a busca
pela modernização e o crescimento econômico como elemento central
dessa conquista (THEODORO, 2004).
Posteriormente, a crítica à teoria dualista permitiu o
revigoramento da teoria do desenvolvimento desigual e combinado do
capital, realizada desde Marx, mas que teve com Rosa Luxemburgo e
Leon Trotsky seus principais aprofundamentos.
Ao contrário do pregado pelas teorias desenvolvimentistas, o
desenvolvimento capitalista não é linear, com uma imanente propensão à
uniformidade na composição orgânica do capital nos diversos lugares do
planeta, as trocas mercantis não são necessariamente benéficas para
todas as partes, as trocas são desiguais, como puderam perceber Samir
Amin e Kostas Vergopoulos.
A desigualdade – longe de ser uma excrescência da evolução
capitalista - é a marca de seu processo histórico.
Nessa perspectiva as condições de “inserção” no circuito
mercantil através da renda são no mínimo parciais, pois não são
generalizáveis a todos os lugares, pelo contrário é na produção dessa
desigualdade que está um dos trunfos da acumulação capitalista. Isso
impõe um desafio teórico e prático: como é possível reverter e/ou
controlar o processo de produção da desigualdade sem contrariar os
princípios fundamentais da acumulação capitalista?
95
O trabalho no capitalismo é a expressão concreta dessa
“dualidade”, pois a condição de valorização e acumulação depende da
apropriação da mais-valia. Ela requer a exploração do trabalho vivo,
mesmo com os avanços tecnológicos engendrados pelo capital, então há
a convivência articulada entre as formas da mais valia absoluta e da
mais valia relativa, que em outros termos é a existência de formas
“arcaicas” de exploração do trabalho com as formas contemporâneas.
A própria jornada de trabalho é ampliada com o aumento da
produtividade, mostrando como os mecanismos técnicos estão a serviço
da reprodução ampliada de capital, mas os capitalistas não abrem mão
da utilização de formas da mais-valia absoluta, indicando o que
Mészáros (2005) afirma como a via mais fácil de acumulação.
Não podemos ignorar o papel da luta de classes nesse processo
como um dos elementos definidores do nível de exploração da mão-de-
obra. Assim, as conjunturas de desemprego massivo favorecem a
implantação de formas de superexploração do trabalho baseadas na
mais valia absoluta, quando ou onde a resistência coletiva dos
trabalhadores impõe restrições à utilização dessas formas o capital
terá que buscar a reorganização e incorporação de tecnologia para
extrair a mais valia necessária à sua acumulação.
A inovação tecnológica que expressa a materialidade dos
processos hodiernos do desenvolvimento capitalista não tem uma
existência autônoma de outros processos sociais, são também
parametrizadas pelas relações políticas, que definem aquilo que é
possível de ser utilizado, assim como as condições em que a tecnologia é
utilizada.
As transformações no capitalismo engendradas a partir da crise
de acumulação da década de 1970 são articuladas entre si: a
desregulamentação financeira, a reestruturação produtiva, o
neoliberalismo, a crise do endividamento e os mecanismos institucionais
96
de “abertura” dos mercados nacionais, enfim um conjunto bastante
amplo, que podemos afirmar como sendo a construção do bloco histórico
contemporâneo da burguesia internacional.
São também elementos fundamentais para o entendimento do
quadro estrutural do desenvolvimento capitalista, contexto no qual as
formas locais e auto-geridas de desenvolvimento devem por certo estar
cientes, para preparem-se contra as investidas do capital.
A conjuntura do mercado de trabalho é importante para
entendermos as potencialidades e limites do desenvolvimento local e
auto-gerido, pois a desestruturação ocorrida no Brasil durante a década
de 1990 forjou a necessidade premente da busca de alternativas fora
do padrão fordista da relação capital x trabalho, porém essa “exclusão”
merece ser entendida também como uma potência para a construção de
alternativa concreta às relações sociais capitalistas, já que incluir
conforme o padrão anterior significa ser explorado sob a forma do
assalariamento, seria esse o tipo de inserção social que desejamos? Ou
podemos almejar que na relação salarial a justiça social seja alcançada?
Para contribuir com essas questões farei antes uma
caracterização sobre o mercado de trabalho no Brasil e o processo de
precarização que marcou a década de 1990.
97
Durante o compromisso fordista o emprego assalariado foi o
fulcro do pacto entre trabalhadores organizados, Estado e empresas.
De alguma forma, isso assegurou aos países desenvolvidos um período
de estabilidade e crescimento econômico, com parcela do aumento da
produtividade redividido entre os trabalhadores.
Como o preço da força de trabalho no capitalismo é em grande
parte decorrente das leis mercantis, a recriação de oferta sobrante de
mão-de-obra é uma estratégia vital para o capitalista baratear o custo
trabalhista. Isso em parte é resolvido com o próprio aumento da
produtividade do trabalho ou através das recessões econômicas,
minando com isso a resistência sindical, isso quando os sindicatos e
movimentos sociais não são abertamente reprimidos.
O operariado fabril foi o sustentáculo das ações sindicais dos
países desenvolvidos (com exceção do Japão) e seu desmonte a partir
da década de 1970 atingiu em cheio os sindicatos e os partidos
trabalhistas.
Esse desmonte ocorre sob a reestruturação produtiva, que é a
resposta do capital ao poder acumulado pelas organizações de
trabalhadores, alterando a organização do trabalho e internalizando as
inovações tecnológicas, com o claro objetivo de diminuição do trabalho
vivo necessário à acumulação.
Isso tem importante impacto para o padrão de desenvolvimento
capitalista, pois rompe com o equilíbrio parcial entre crescimento
econômico e desenvolvimento social nos países desenvolvidos, e que
significa para os países subdesenvolvidos o “aborto” da estratégia
fordista de desenvolvimento.
98
O complexo de reestruturação produtiva impulsionou a
diminuição relativa da classe operária industrial, instalada
no núcleo central do complexo produtor de mercadorias. À
medida que ela diminuiu, incorporou novas qualificações,
integrando-se mais, sob a lógica do toyotismo, à
organização da produção capitalista (o que contrasta com
sua propagação precária pelas bordas do complexo
produtor de mercadorias). (ALVES, 2000, p. 66).
99
Necessidade de acumulação do capital leva a uma franca
expansão geográfica da sociedade capitalista, conduzida
pelo capital produtivo. A mobilidade do capital circulante
durante surtos de desvalorização rápida torna-se um meio
não para a equalização geográfica, mas uma diferenciação
sobre a qual a sobrevivência do capital é firmada (SMITH,
1988, p. 188).
101
O “desenvolvimento” da precarização do trabalho no Brasil
12
10
2
82
84
86
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92
94
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20
20
20
20
Observação: a partir de 2002 o IBGE adota nova metodologia, incorporando além do desemprego aberto o
desemprego oculto.
8
O desemprego oculto é composto pelo trabalho precário, em que estão incluídas as
pessoas que procuraram emprego mesmo estando ocupados em atividades inconstantes, e
pelo desemprego oculto por desalento, em que as pessoas apesar de não estarem
procurando emprego gostariam de exercer alguma atividade no mercado de trabalho.
102
pela desistência da procura por emprego, medidos pelas taxas de
desemprego oculto por empregos precários e pelo desalento.
Isto é, o desemprego embora seja um índice importante para
aferir a condição do mercado de trabalho, em termos da incapacidade
de atendimento à demanda dos trabalhadores por postos de emprego,
ele implica em um leque mais amplo de situações do trabalhador, que em
comparação com situações mais ou menos seguras do emprego
assalariado formal, encontram-se precarizados.
De uso corrente na literatura especializada, a precarização é
usada como indicativo da deterioração das relações de trabalho, tendo
como parâmetro as relações formais de assalariamento, que assegura a
inclusão do trabalhador na rede mínima de seguridade social instituída
pela CLT na década de 1930 e ampliada desde então pela pressão dos
movimentos organizados dos trabalhadores, por exemplo, com as
tímidas conquistas da Constituição de 1988.
Porém, já no início da década de 1990 há a internalização seletiva
do toyotismo como parâmetro de organização do trabalho, concomitante
à desestruturação das empresas pela concorrência internacional. Isso
provocou um aumento generalizado do desemprego, que mesmo em
períodos de recuperação econômica não teve seus índices reduzidos aos
patamares anteriores à abertura comercial.
Tal desestruturação do mercado de trabalho tornou menos
efetiva as conquistas sociais e trabalhistas da Constituição de 1988,
pois concomitante ao aumento do desemprego houve o aumento da
informalidade no mercado de trabalho, setor não regulamentado pela
legislação trabalhista.
Como uma espiral perversa para os trabalhadores, a recessão
econômica do início da década de 1990 favoreceu a adoção da
reestruturação produtiva pelas empresas, pela fragilidade relativa dos
103
sindicatos num quadro de desemprego generalizado, sem forças para
reagir às políticas organizacionais poupadoras de mão de obra.
Por sua vez engendrou-se uma hegemonia no Estado brasileiro
refratária às demandas trabalhistas, desregulamentando o mercado de
trabalho quando possível ou desmontando a própria estrutura
fiscalizadora do Estado, sem falar na investidura sindical do Estado que
na década de 1990 consolida-se com a criação da Força Sindical como
aporte ideológico na luta contra os setores combativos do sindicalismo
brasileiro, principalmente a CUT, finalmente “derrotada” com a adesão
incondicional ao governo Lula.
Essa hegemonia neoliberal e o desmonte do quase-Estado-do-
bem-estar-social produziram o efeito de que mesmo nos períodos de
retomada do crescimento econômico os índices de emprego não
acompanhavam esse crescimento, relação parcialmente revertida no
governo Lula.
O desemprego precisa, portanto, ser compreendido como algo que
não é exclusivamente determinado pela dimensão econômica. Para
Meneleu Neto (1996), as teses que relacionam diretamente o
desemprego como resultado “natural” da tecnologia estão baseadas num
determinismo tecnológico, em que o desemprego poderia ser
tecnicamente explicado como decorrência da mera aplicação de fatores
produtivos, forjando um consenso em torno de idéias reducionistas
sobre a tecnologia e a exploração do trabalho.
A conseqüência destas idéias, segundo o autor, seria a sugestão
da inevitabilidade do fim do operariado fabril, com todas as implicações
para a luta de classes, já que as inovações tecnológicas são inevitáveis e
desejáveis, dado que melhorariam a vida humana.
Invertendo essa lógica, o autor postula o papel que a reposição do
exército industrial de reserva tem sobre a redução da força da classe
trabalhadora, ou seja, a própria crise capitalista, resultado de suas
104
contradições intrínsecas, jogou os trabalhadores na defensiva ao
aumentar o desemprego e a precarização do trabalho, repondo as
margens de lucro para os capitalistas.
Desta forma, a adoção do toyotismo e da reestruturação
produtiva pelas empresas não foi pelo desenvolvimento natural das
forças produtivas, mas decorrente da correlação de forças negativas
para os trabalhadores organizados, que o fizeram “aceitar” a introdução
de métodos organizacionais e de tecnologias na produção, com
evidentes prejuízos para sua remuneração e condições de trabalho.
A crise do paradigma fordista recolocou o Exército Industrial de
Reserva como variável de ajuste baseado no mercado, pois o declínio da
capacidade de regulação do fordismo permitiu que a coordenação
política sob o crivo do neoliberalismo operasse a desmontagem do
emprego pleno, e com isso a estrutura social do sindicalismo europeu e
norte-americano, favorecendo ainda mais a ofensiva do capital sobre as
conquistas trabalhistas obtidas no pós-guerra.
105
de fornecedores de mão-de-obra e recursos naturais baratos para as
grandes corporações transnacionais.
Por isso, o desemprego não é uma variável tecnicamente neutra,
que não possa ser inferida pelos determinantes da luta de classes, pois,
a adoção seletiva dos paradigmas técnicos e organizacionais do
toyotismo atinge desigualmente os setores econômicos e lugares,
construindo a territorialidade do capital, que tem no deslocamento
escalar e temporal, trunfos que utiliza para exercer seu domínio sobre
a totalidade social.
É assim que podemos compreender os esforços empreendidos pelo
capital, para adaptar os sujeitos e lugares à exploração do padrão
flexível de acumulação, abrangendo um conjunto amplo de medidas,
como a desregulamentação do mercado de trabalho, a territorialização
de benfeitorias custeadas pelo Estado para facilitar a instalação e
operação destas empresas (portos, estradas, etc.) e a preparação da
mão-de-obra para essa exploração através da formação e qualificação
profissional.
Esse é o desafio de muitas comunidades locais que vêem seus
territórios como alvos dos interesses capitalistas e, portanto,
necessário para a acumulação capitalista, a “exclusão” que viviam não
pode se manter e a “inclusão” do território pode significar o fim dessas
comunidades.
A dinâmica territorial que o capital enseja traz justamente a
possibilidade de utilização da mobilidade planetária como estratégia de
domínio, pois através desta mobilidade e tendo em vista a destruição de
vias alternativas de sociabilidade, o capital pode empreender sua
chantagem sobre os países e regiões, aproveitando-se do caráter
fragmentário dos locais, base da representação política dos
trabalhadores, tanto em nível nacional, quanto em níveis sub-nacionais,
106
como no caso brasileiro, que tem no município a unidade territorial da
representação sindical.
A interescalaridade do capital é uma estratégia fundamental para
manter sua dinâmica territorial, pois age nessas diferentes escalas para
garantir uma acumulação sem maiores riscos, enfrentando os
movimentos sociais relativamente desarticulados territorialmente, o
quê confere à estratégia interescalar capitalista um obstáculo ao
desenvolvimento local auto-gerido.
Como corolário da desregulamentação do mercado de trabalho
temos a (re) emergência do setor informal na economia brasileira,
reforçando as concepções que o compreendem como elemento
indissociável do desenvolvimento capitalista.
No setor informal via de regra a remuneração é inferior aos
trabalhadores com carteira de trabalho assinada, conforme Gráfico 2,
evidenciando a dimensão da precarização que a informalidade significa,
pois a remuneração do trabalho é a principal fonte de renda, que
determina como é a inserção na esfera do consumo para milhões de
pessoas.
R$ 869,00
Com carteira assinada
R$ 1531,00
Militares e funcionários
públicos estatutários
0 1000 2000
107
Mesmo durante a primeira década desse Século XXI a
informalidade é mantida em patamares elevados (Gráfico 3),
evidenciando que mesmo o incremento do emprego formal dos últimos
anos ainda não foi suficiente para reverter os estragos da década de
1990.
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
109
O desafio que a desregulamentação e conseqüente aumento da
precarização do trabalho impõem pôde ser, de alguma forma,
antecipado nas discussões que fizemos anteriormente, mas merecem
ser revisados, ou seja, será possível a incorporação da massa de
trabalhadores precarizados ao núcleo de trabalhadores relativamente
seguros e bem pagos? Essa possibilidade não significa mais do que
modificar o modelo de gestão macroeconômica neoliberal?
Não podemos negar que parte importante do trabalho precário
exerce um papel fundamental na acumulação capitalista, utilizado
diretamente nas diferentes cadeias produtivas, outra parcela
igualmente significativa trabalha sob formas de subsistência, que
embora não diretamente vinculadas aos circuitos capitalistas funcionam
como reserva de mão-de-obra, que como vimos é uma estratégia para o
capitalista rebaixar o preço da força de trabalho.
A inserção desses trabalhadores à esfera de consumo capitalista
requer uma re-distribuição da riqueza socialmente gerada, se não for
pelo emprego – como no auge do fordismo –, será pelas políticas sociais,
mas em ambos os casos tratam-se de uma re-distribuição, mas de onde
viria essa parte da renda. No Brasil neoliberal retirou-se das camadas
de renda média para manter as políticas sociais focalizadas, não
alterando o caráter regressivo do sistema tributário.
De qualquer forma as mudanças na distribuição de riqueza só
acontecem por ação política, são possíveis e não se pode negar sua
importância imediata para os trabalhadores pauperizados, porém sua
conquista – nem sempre resultado de mobilizações desses
trabalhadores – é reversível. Sua manutenção requer a perenidade da
correlação de forças, possível com a conscientização e mobilização dos
trabalhadores.
Pois o enfraquecimento dos trabalhadores significa a reversão
das conquistas, como temos o exemplo recente das perdas do Estado do
110
bem estar social, sendo que a condição imanente da queda da taxa de
lucro repõe freqüentemente o conflito.
Essa reversibilidade está relacionada ao próprio desenvolvimento
desigual e combinado do capital, pois a desigualdade espacial é
articulada, o que permitiu que inclusive os países desenvolvidos
externalizassem suas contradições durante o pós-guerra. Porém, nas
últimas três décadas há uma contínua degradação do Estado do bem
estar social, demonstrando como essa condição do “pleno” emprego é
insustentável para o capitalismo, será que vale a pena insistir em
alternativas paliativas?
Essa é uma questão fundamental para os sujeitos que não se
conformam com os limites impostos pela lógica da acumulação de
capital, não se trata em hipótese alguma do pessimismo paralisante, que
na falta de alternativa claras e viáveis só lamenta, destruindo os
esboços de alternativas, mesmo que sabidamente parciais.
Vivemos num país que o reformismo social já é um grande avanço,
pois as condições materiais são urgentes para milhões de brasileiros. Se
esse reformismo social está associado a alguma forma de protagonismo
isso o torna mais relevante, a miséria não é apenas material, mas é
sobretudo da consciência, quando o conformismo generaliza-se entre os
trabalhadores, não podemos acreditar que há uma relação direta entre
a situação de penúria e a consciência por um mundo melhor e mais justo,
pois a imediaticidade da questão pode impelir a ações desastrosas, como
a história do fascismo demonstrou.
As intenções de solidariedade, equalização social, radicalização
da democracia, sustentabilidade ambiental, devem ser mantidas, são
condições inegociáveis de uma sociedade futura, sob o risco de, ao abrir
mão de alguma delas, progredirmos para a barbárie. Portanto não há
concessão nesses princípios. Creio que devemos envidar esforços para a
111
construção dos meios necessários a esse fim, sendo radicais na leitura
dos desafios, sem abrir mão do pragmatismo.
É fundamental levarmos em consideração as experiências dos
trabalhadores para nossas formulações teóricas, principalmente porque
para muitos trabalhadores tratam-se de questões urgentes, que não
podem esperar as condições ideais de ação. Isso quer dizer que
devemos fazer algo para a melhoria da vida de milhões de pessoas. Se
for possível fazer isso através do estímulo ao protagonismo desses
sujeitos, tanto melhor. A miséria não conduz necessariamente à maior
consciência e disposição para revolucionar os paradigmas da sociedade
capitalista.
A questão é não nos iludirmos com as conquistas parciais e
reversíveis. Elas são importantes e fundamentais, mas não bastam para
alcançarmos os princípios que indiquei acima, pois sendo parciais e
reversíveis podem servir para a acomodação e em momento posterior
atuam como um encantamento para os sujeitos sociais, que clamam pela
repetição das soluções, que nem sempre são possíveis pelo próprio
desenvolvimento capitalista. É o que podemos vislumbrar quanto ao
emprego na atualidade, com o desenvolvimento tecnológico e aumento da
produtividade, cabe pleitearmos a criação de mais empregos? Será que
isso é possível, ou não estamos nos iludindo?
O desenvolvimento local auto-gerido, pelo que entendo dele, é
também uma importante ação – pedagógica inclusive – que permite
alcançar objetivos materiais e ideológicos, mas que precisa ser pensado
em sua inter-relação com a totalidade social.
Isso quer dizer que o desenvolvimento local por si só não leva
necessariamente a uma melhoria generalizada para a sociedade, ela
pode significar, por exemplo, uma disputa entre lugares na atração de
capital, com condições desfavoráveis para o trabalho, como quando
112
ocorre a disputa baseada na diminuição dos custos salariais, fazendo
trabalhadores de diversos lugares concorrerem entre si.
É preciso lembrar que toda ação é local, mas não acontece
externa a uma totalidade/universalidade existente. O desenvolvimento
local auto-gerido precisa incorporar em seus princípios a perseguição
das metas de justiça social, democracia radical, equilíbrio social da
renda, relação saudável com o meio ambiente, que não podem ser
pensadas e normatizadas apenas nos termos locais, é um pacto geral,
porque senão a concorrência entre os lugares pode fazer cair as
condições gerais de vida, destruindo as possibilidades de
desenvolvimento.
Além disso, a auto-gestão desse desenvolvimento requer a
construção de relações políticas inovadoras, que signifiquem uma
efetiva democratização das decisões, com capacidade de conhecimento
e de intervenção de todos os sujeitos da comunidade. Dessa forma, a
construção das alternativas assume maior consistência, com a formação
dos trabalhadores para o desenvolvimento local auto-gerido, talvez no
caminho da emancipação social.
Pois os riscos da auto-gestão do trabalho, que podem servir de
exemplo para a auto-gestão do desenvolvimento, são a criação de uma
oligarquia gestora, travando o processo democrático, sem incorporar
efetivamente os trabalhadores nas decisões e no processo de
conhecimento da gestão. Trata-se de um risco que fragiliza o caráter
pedagógico do desenvolvimento auto-gerido, tolhendo a possibilidade de
construção dos sujeitos do desenvolvimento.
Esses riscos também podem ser pensados em termos do
desenvolvimento auto-gerido. Em que medida o desenvolvimento pode
ser pensado e construído por toda a sociedade, radicalizando a
democracia? Seria possível a construção de uma divisão técnica do
113
trabalho que não significasse divisão social do trabalho e,
principalmente, hierarquização social do trabalho?
Para concluir uma última questão que considero também
fundamental: o desenvolvimento local auto-gerido é uma experiência
local, quase comunitária, como torná-lo universalizável é um desafio que
não pode ser ignorado, obviamente que as experiências locais e suas
particularidades não podem ser reproduzidas em todos os locais, por
isso precisamos de uma construção teórica para definirmos o método de
aplicação, pois não se trata apenas da aplicação em outros locais, mas
como operar a auto-gestão nas escalas supra-locais, sob o risco de ao
não concretizarmos essa tarefa o localismo tornar-se o calcanhar de
Aquiles desses sujeitos e experiências.
De todo modo é necessário reafirmarmos a práxis como método
de transformação revolucionária, não há dualidade teoria/prática, ou
ambas são efetivadas ou não há possibilidade concreta de construção da
teoria e a prática fica inconsistente e politicamente fragilizada. A
hierarquização desse binômio é igualmente um risco. Num mundo
desigual e perverso como vivemos não podemos ignorar as experiências
de resistência dos trabalhadores/camponeses e se estamos
preocupados com a sustentabilidade social e ambiental desse planeta
devemos contribuir, pois a Geografia construiu um arcabouço teórico-
conceitual muito rico nas últimas décadas que podem ser úteis para a
construção das alternativas.
114
Referências
115
116
PEQUEÑAS LOCALIDADES. ¿CAMINO HACIA LA ENTROPÍA?
9
Juan Manuel Diez Tetamanti
Introducción:
9
Licenciado y Profesor en Geografía. Doctorando en Geografía. Becario CONICET. Ayte
1ra. Geografía Económica. Universidad Nacional de Mar del Plata Ayte de 1era Trabajo
Social I. Universidad Nacional de La Plata. Coordinador en subproyecto “Ientidades
locales y promocion social” de Programa Nacional de Voluntariado Universitario.
Argentina. jmdiezte@yahoo.com.ar
117
es geografía domada a carne viva. Buenos Aires, es una mezcla de
tradicionalismos con resistencias y particularidades microscópicas. Es
un amasijo hecho de almacenes viejos, casas abandonadas y calles de
tierra con mansiones, countries y autopistas. La provincia es el centro y
la periferia en al mismo tiempo y en el mismo lugar. Miles de kilómetros
de soja, girasol, trigo, opulencia y estanquidad se enfrentan a los límites
la vorágine del conurbano. Es la pampa un viejo campo minero que hoy
cambió su maquinaria, sus carriles y sus obreros. La pampa es una
diacronía perfecta, que se proyecta en el espacio con sellos teñidos de
tierra. Hay en la pampa un momento de silencio absoluto en el que todos
los tiempos acontecen en el presente. El sistema humano de
asentamientos esta casi intacto y las huellas, los sellos y la sangre se
suceden en simultáneo. Desde la autopista, en los márgenes, los caminos
se internan en la tierra sobre la misma tierra. El paisaje muta y a su vez
se superpone. Como a los fotogramas impresos en cinta de cine, la
pampa debe observarse y analizarse con la lentitud de las aguas que se
escurren. Con la paciente calma de su relieve. Con el silencio de su
infinitud y horizonte. Aquí queremos proyectar algunos de esos
fotogramas, casi cuadro por cuadro, y en tiempo real.
118
desaparecen. Están como testigos vivos de otras configuraciones (de
lentes o estéticas si se quiere...)
Pequeñas localidades al final de una recta. Allá va la pampa, allá
viene y se corre el horizonte como en la utopía de Eduardo Galeano.
Muchas pequeñas localidades: calles de tierra. Barro. Cementerios.
Cooperativas. Estaciones de tren. Vías. Óxido. Teatros. Viejos autos.
Viejos hombres. Viejos tiempos.
119
una envolvente y configurada como mosaico de áreas edificadas y no
edificadas” (VAPÑARSKI, 1998).
Estos datos, quizás nos sirvan a utilidades casi exclusivamente
cuantitativas o de tipos. Nuestro interés en el tema no descarta a estas
definiciones, sino que las incluye, pero a su vez busca en las pequeñas
localidades la cualidad de su situación geográfica, social y económica
que la hace partícipe de un ex sistema territorial o bien, de un sistema
territorial en crisis. Así, estas pequeñas localidades son las asentadas
en la distancia, en el margen de la frontera del desarrollo de obras
públicas y en el borde de la memoria geográfica.
Los problemas: algunas vivencian procesos de pérdida poblacional,
otras advierten crecimiento o bien transcursos cíclicos. La accesibilidad
y la integración territorial no ingresan dentro de sus características
destacables. Tangencial a esto, no olvidamos que todas forman parte de
un todo que, en el tiempo muta sus funciones, situaciones y
características tanto en aspectos productivos, como sociales,
organizacionales, económicos, vinculares y territoriales.
En definitiva, estas localidades en general poseen menos de 2.000
o 3.000 habitantes, pero por sobre todo se caracterizan por ser las
referentes de un sistema territorial en crisis. En ellas tanto desde el
Estado, como –por sobre todo- desde la población que las habita, se
intenta reincluirlas en un espacio de intercambio, interconexión,
servicios y accesibilidades. Para el viajero no será difícil entender de
cuales localidades hablamos, sus carteles viales atiborrados de óxido
entre los pastizales, indican el camino a seguir para llegar.
120
Mapa Provincia de Buenos Aires. Instituto Geográfico Militar. 2007.
121
El sistema, el tiempo
Sistemas
Maurice Godelier (1982) dice que el estudio del sistema, para el
investigador, tiene una doble tarea. Por un lado estudiar cuales son los
elementos de ese sistema y sus relaciones en un tiempo de evolución de
ese sistema. Por otro lado, estudiar como fueron formados y como
evolucionaron esos elementos y sus relaciones durante el tiempo de
duración de ese sistema.
Javier Arcil (1992) se pregunta antes de intentar analizar un
sistema: ¿Hasta dónde alcanza nuestro sistema?. O más sencillamente,
¿Qué está dentro de él?, ¿Qué está fuera? Aún teniendo claro cuál es
el sistema de nuestro interés, conviene aclarar cuáles son los límites de
nuestro sistema dinámico, cuáles de todos los elementos e interacciones
del sistema real van a ser incluídos, y cuales pasarán a formar parte del
medio.
122
Es decir, que de todo el sistema real bajo estudio, habremos de
hacer abstracciones para reducir la complejidad de la realidad y
capturar los elementos y sus interrelaciones”
En “Investigación Cualitativa” Juan Báez y Pérez de Tudela
(2007) hacen hincapié en que el concepto de sistema, supone para el
investigador un esfuerzo de abstracción considerable. Ya que ha de
encontrar lo común en entidades muy diferentes. Citando a Ludwing von
Bertalanffy (1901 – 1972), Báez resume a un sistema real como
“cualquier entidad material formada por partes organizadas que
interactúan entre sí como un todo. De tal manera que las propiedades
del conjunto (llamadas propiedades emergentes) no pueden deducirse
por completo de las propiedades de las partes”.
Rosana Cacivio (2000) interpreta a la teoría de sistemas como
dedicada a problemas de relaciones e interdependencia y no a los
atributos constantes de los objetos. Los sistemas organizacionales o
sociales dependen de sobremanera del ambiente externo y por ello han
de concebirse como sistemas abiertos.
Tiempo
En terminología musical, el tiempo, es la velocidad con que debe
ejecutarse una pieza de música. Pero qué sucede con el tiempo del
territorio. Para ello, Alfred North Whitehead en “El concepto de
naturaleza” (1994) dedica casi treinta páginas a discutir sobre el
Tiempo, a pensar en eso que nos dice –en palabras de Whitehead- que si
algo está pasando, hay una ocurrencia, un suceso a ser definido.
Whitehead dice que cada evento se extiende por sobre otros eventos, y
por cada evento se extienden otros eventos. Por lo tanto en el caso de
las duraciones cada duración es parte de otras duraciones; y cada
duración contiene a su vez otras duraciones que son parte de ella.
123
Por su parte en cuestión de periodizar, Milton Santos y Silveira
(2000) ponen énfasis en escoger variables clave que en cada segmento
de tiempo, comanden un sistema de variables. Sistema que los autores
denominan período.
10
Entrevistas y talleres grupales realizados en San Agustín, Mechongué, La Dulce, Mar
del Sud, Bavio, Patricios, La Niña, Espil. Entre 2004 y 2008.
124
pagos, incentivos sociales y culturales) como salientes (producción,
transformación y consumo). El resultado de la imagen es una localidad
en construcción, con dinamismo y por sobre todo viva. Vida como el
estado de actividad de los seres orgánicos. Pueblos, localidades, como
seres orgánicos.
Esta es la primera serie de fotogramas. Fotogramas en un tiempo
allegro molto vivace.
Pianissimo
11
Según R. Lapolla desde la “Ley Raggio [Ministro de Agricultura durante el gobierno del
presidente de facto Onganía] en 1967 hasta el 2001 se perdieron 260.000 productores.
Mientras tanto el sector terrateniente recuperó y amplió sus tierras: el 49.6% de la
tierra del país pertenece a 6900 propietarios.(cita al Censo Nacional Agropecuario 2002)
Si pensáramos en términos de una familia tipo -cosa no del todo cierta ya que 'nuestros'
125
la clausura de algunos ramales ferroviarios, la liberalización del
mercado granario (DIEZ TETAMANTI, 2006). Paralelamente la
industrialización de las grandes ciudades y el crecimiento de la
población urbana no cesan. Algunos habitantes de estas pequeñas
localidades optaron por ir a vivir a ciudades más grandes, con más
servicios, con escuela secundaria, con universidad, con empleos
industriales mejor remunerados, o bien convertirse en profesionales.
Otros, por la Ley Raggio fueron desalojados de los campos que
arrendaban. Allí están: las pequeñas localidades en el pianissimo. Una
lenta espera en el desalojo. Un desalojo muchas veces en el mismo lugar.
Sin trabajo, sin servicios, en el aislamiento y en medio de la infinita
pampa. En la espera, en la esperanza, en el letargo, en la resistencia.
Pianissimo ¿sempre?
12
La demanda social de intervención del Estado merece un capítulo aparte, debido a las
cuestiones históricas que enmarcan el rol estatal en la configuración del territorio
provincial. No obstante, cuando nos referimos a Estado, lo hacemos en triple sentido:
Nación, Provincia y Municipio. Estas demandas, casi exclusivamente se enmarcan en la
solicitud de apoyos y subsidios económicos. Nos quedan serias dudas sobre el consenso de
algunos sectores, en relación a la intervención estatal en la regulación de mercados de
comercialización y producción.
127
conjunto de los pueblos afectados. Como respuesta a veces
desordenada, es muy común advertir que en algunos pueblos se aplica un
microcrédito para la cría de cerdos, en otro se dicta un curso de
hotelería y en alguno más lejano se plantea la construcción de un centro
tradicionalista. Este fenómeno, nos deja la evidencia que las políticas o
acciones no se planifican o ejecutan con un criterio de sistema. Sistema
implica retroalimentación, diferenciación, transformación y
exportación. Las pequeñas localidades conforman un sistema abierto
sufren procesos entrópicos. A fin de detener la entropía, en algunas
localidades sus habitantes ejercen fuerzas de resistencia que intentan
redinamizar los flujos energéticos que entran y salen. Así, el
sostenimiento de las cooperativas, movimientos culturales como: “Por
Nosotros” en Bavio, o “Patricios Unido de Pié en Patricios”, son ejemplos
de resistencias a la entropía.
Las pequeñas localidades son parte de un sistema. Un sistema que
a paso más lento, fue infartando los territorios que ofertaban menos
rentabilidad y menor productividad. Si bien estos pueblos son islas en
un mar millonario de tierras fértiles, oleaginosas y granos, en sus plazas
y sus paredes es difícil advertir la riqueza. Pianissimo, inmortalizan en
sus memorias tiempos en los que sus instalaciones eran necesarias y
funcionales. Camiones, grandes silos, bancos, contratistas, pooles,
potentes maquinarias y especuladores no demandan los viejos galpones
de almacenaje, ni la peonada y su familia, ni sus simples viviendas, ni al
telégrafo desactivado, ni sus bares.
Integrar a las pequeñas localidades a los beneficios que posee la
ciudad no es tarea compleja desde el pensamiento y el análisis; pero tal
vez sí lo sea desde la práctica. Distribuir la población y terminar con el
hacinamiento requiere de invertir la dotación de los servicios que
faltan, en hacer dinámico el trasporte de pasajeros acortando tiempos
o igualándolos a los que son comunes en las ciudades. Integrar hacer
128
honor al derecho de no migrar. Integrar es fortalecer el territorio con
criterio de sistema, sin por ello renegar del avance tecnológico, sino
todo lo contrario, adaptándolo y utilizándolo. Y para ello, el Estado
tendría un rol: el de rehacer un sistema, el de acercar beneficios y
servicios afianzando la soberanía, hoy gobernada casi exclusivamente
por la soja, maquinarias agrícolas, los fondos de inversión. Y quizás
también un rol con mayor intervención tanto en el apoyo, subsidios
cruzados y distributivos, como en el control de beneficios, rentas y
manejo de tierra y territorios.
Guillermo Rawson –en el último cuarto del siglo XIX- enfatizaba:
“En la República Argentina hay grandes lores, grandes propietarios de
tierra; a la República Argentina llegan millares de extranjeros pobres,
buscando un pedazo de tierra para poblarla, para hacerla producir,
regándola con le sudor de su rostro, para arrancar de su seno lo que
necesita, para su sustento y el de su familia. ¿Y que hace el gran
propietario? La retiene en su poder, entregada a los potros, a las vacas
y a las ovejas”.
129
Referencias
130
http://www.buenasiembra.com.ar/ecologia/articulos/biotecnologia_soja
lizacion1.htm Acceso en 21 de agosto de 2005.
MANTOBANI, J. M. Territorio, población y localidad. En: Nuestra
geografía local. Velázquez, G; Lucero P y Mantobani J. Editores. Ed. El
Faro: Mar del Plata. 2004. 347p.
RATIER, H. Poblados Bonaerenses, vida y milagros. Ed. La Colmena.
Buenos Aires. 2004. 130p.
RAWSON, G. Polémicas con Sarmiento discursos y escritos politicos.
Ed. W. M. Jackson, Buenos Aires. 1944. 260p.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início
do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. 471 p.
SILI, M. Los Espacios de la Crisis Rural, Geografía una Pampa Olvidada.
Ed. UNS. Bahía Blanca. 2000. 179p.
VAPÑARSKY, C. El concepto de localidad: definición, estudios de caso y
fundamentos teóricos – metodológicos. Serie D Nº 4, INDEC, Buenos
Aires.1998. 96p.
WHITEHEAD, A. N. O conceito de natureza. Martins Fontes. 1994.
240p.
131
132
PEQUEÑAS LOCALIDADES, POLÍTICAS PÚBLICAS EN LA PROVÍNCIA DE
BUENOS AIRES
13
Daniel Cárdenas
14
Jorge Sutil
13
Daniel Cárdenas, vicepresidente “Uniendo Pueblo” . E-mail: cedcardenas@yahoo.com.ar.
14
Jorge Sutil, secretario “Uniendo Pueblo”. E-mail: jorgesutil@gmail.com.
Página web: www.uniendopueblo.com.ar.
133
El baricentro de la movilidad espacial de la población en la
provincia de Buenos Aires fue variando desde 1960 hasta la actualidad,
teniendo como punto de referencia el índice de población urbana
nacional, que se elevó de un 72% en 1960 a un 93% en 2001.
Los datos de la provincia de Buenos Aires, tal vez sean más
relevantes para nuestro objeto de estudio que los del total nacional. La
población urbana en la provincia de Buenos Aires, supera por más de 2
puntos al indicador de población urbana nacional, situándose la de
nuestra provincia en 96,23% en 2001.
La característica de la población rural (se clasifica como rural a la
población en localidades de menos de 2.000 habitantes o en campo
abierto [INDEC, 1991]), es de interesante análisis para nuestro
propósito.
Para el censo 1991, la población rural en la provincia de Buenos
Aires, representaba al 4,83% de la población total; mientras que en el
censo 2001, se registra un descenso que fija a la población rural en el
3,77% con respecto al total provincial. Esta disminución porcentual
rural de 1,06 puntos; en términos absolutos se traduce en 87.117
habitantes menos en el espacio rural.
Para acotar más aún el campo de análisis, analizamos los cambios
en los últimos dos censos, dentro del espacio rural, pero desagregando
los datos en población del espacio rural-dispersa (campo abierto
[INDEC: 1991]) y rural-agrupada (localidades de menos de 2000
habitantes [INDEC, 1991]).
En lo referente a la población rural-dispersa se registra una
disminución del 32,53% entre 1991 y 2001. Para 1991, la población rural-
dispersa alcanzaba al 3,39% del total, mientras que para 2001 el
porcentaje disminuyó al 2.29%. Paralelamente la población rural-
agrupada, -en donde se encuentran por ejemplo Mechongué y San
Agustín- (localidades con menos de 2000 habitantes) entre 1991 y 2001
134
registra un leve aumento del 3,12%. Para el censo 1991, esta porción
poblacional representaba al 1,44% del total, mientras que ya en 2001,
un incremento casi imperceptible hasta para la estadística, indica que la
porción rural-agrupada representa al 1,48% del total provincial.
Los siguientes gráficos ilustran el comportamiento descrito.
0,1
0,05
0
1.991 2.001 Variación 1991-
-0,05 2001
-0,1
%
-0,15
-0,2
-0,25
-0,3
-0,35
Población rural Agrupada Dispersa
135
Gráfico 2 – Provincia de Buenos Aires, Población rural absoluta, disgregada y dispersa,
1991-2001.
700
600
en miles de habitantes
500
400
300
200
100
0
1991 2001
136
aislamiento, la marginación y, los modos de resistencia social a cambios,
o bien las nuevas formas de representación del problema.
Dentro de la estructura de las localidades hay elementos como
signos constitutivos de un sistema que interesan desde su interacción o
bien dentro del esquema funcional. La interacción entre estos
elementos es, en definitiva, lo que le otorga su propia razón de ser
(RANDLE, 1992). Los elementos pueden también darnos idea de la
magnitud de la localidad y hablarnos sobre su comportamiento social,
económico, histórico y territorial. Consideramos que la propia
reproducción de la edificación, el estado de abandono o cuidado de sus
estructuras físicas, las empresas actuantes, la relación con el espacio
agrario y las ciudades próximas o lejanas, la circulación de personas y
mercaderías, de información; y otros elementos hacen a la
internacionalidad, la funcionalidad y la vida misma de la localidad. Son
estos elementos los que en interacción permiten (en realidad vamos a
decir más adelante que vertebran) una funcionalidad del territorio.
Siguiendo a Giddens podemos vincular la idea de vertebrar con la
de estructura, donde las “partes” (elementos) de un sistema sólo son en
virtud de las características que componen el “todo” (sistema). De esta
forma, las “partes” no pueden funcionar sin estar en relación entre sí.
(GIDDENS, 1990) Es el “todo” quien les otorga funcionalidad, pero
integrado por sus “partes”. Pensamos que desde el análisis geográfico,
existen en el territorio comportamientos sociales, culturales y
económicos que funcionan como partes de la estructura. Esas partes
hacen a la vez de sostén y dinamizador del territorio. El territorio es
mutante, móvil, es una estructura de constantes construcciones y
deconstrucciones. El territorio es atravesado por flujos simbólicos y
concretos, (información, coyuntura económica política y social, rutas,
ferrocarriles, mercaderías, etc.), estos flujos actuarían como
vertebradores, sostenes de una estructura mutante infinita que puede
137
observarse desde sucesos y mapas fotogramáticos (DIEZ TETAMANTI,
2007)
En el sentido territorial además de las condiciones
vertebradoras, incluimos a las articuladoras. La articulación del
territorio esta relacionada con la capacidad de mantener un rol en el
sistema en el sentido del vertebramiento del territorio. La
desarticulación aparece al perderse todo o parte del rol funcional local
en cuanto a su interacción, lo que luego se traduce en la falta de
respuestas a los requerimientos sociales globales e incluso locales
(RANDLE, 1992).
138
estadística como desde la memoria, el inicio del estancamiento
demográfico.
Ya en 1976 se advierten quiebres fuertes tanto en lo social como
en lo territorial. El modelo económico de ajuste, sumado a una política
aperturista intensificada, impacta en las localidades rurales con el
cierre o clausura de servicios de transporte y una disminución de la
inversión en obras públicas. Desde algunos municipios o cooperativas,
con la participación de la población se encargan, de ejecutar o mantener
servicios y obras públicas.
La década de 1990 es un periodo de intensificación del ajuste
económico y de la exclusión socio-territorial. El proceso de
agriculturacion intensiva que se manifiesta desde fines de los ‟70 en
todo el país, llega a la región e impacta desplazando a pequeños
productores, básicamente hoy de la mano de la sojizacion, acompañados
de los cultivos tradicionales del trigo, girasol, maíz, etc. Sumado esto a
la creciente tecnificación del agro, se incrementa la baja en la demanda
de mano de obra.
Por otra parte, la Ley de Reforma del Estado 23.696 y sus
reglamentaciones de ajustes, privatización y concesión de los servicios
públicos, cierre de instituciones subsidiarias a la actividad agraria,
desplazan al margen de la economía, a los espacios sociales de estas
localidades. Se paraliza la obra pública, cesa el crédito y el
financiamiento y se ejecutan solamente políticas sociales de retén
social. La acción de los municipios y de las cooperativas, pasa a ser
fundamental para el sostenimiento de los servicios sociales y
económicos como salud, educación, agua, teléfono, electricidad.
La década de 1990 impone una gestión casi autónoma para la
conservación de servicios, empleo, instituciones y patrimonio. La falta
de financiamiento y el sentido de lucro de las empresas privatizadas,
hacen que se disminuyan las frecuencias de servicios de transporte, que
139
no exista inversión u obra por parte del Estado o las “privatizadas”,
generando la necesidad y el impulso de apropiación del sistema de
servicios y de parte del patrimonio. Así, las cooperativas se sitúan con
un rol fundamental de fomento, y las acciones sociales endógenas
organizadas mantienen o reconfiguran viejas estructuras
pertenecientes a la antigua lógica de Estado, esto en el sentido de la
reorganización, reterritorialización y resistencia. De esta forma,
muchas de las cooperativas conservan los servicios públicos y, a través
de organizaciones sociales locales se obtiene financiamiento para
ayudas mutuas, construcción de centros culturales, reparación de
instalaciones, reactivación de espacios públicos (DIEZ TETAMANTI,
2007).
140
Así, y ante los períodos cíclicos de la economía nacional, vinculado
a procesos de territorialización, a partir de 2001 se inicia una nueva
fase de intervención del Estado, pero renovada, con más dinamismo y
proyección. La acción local para el desarrollo, que en los 90‟ se
enarbolaba como salida única y de casi absoluto autofinanciamiento y
autogestión, a partir de 2001 se acopla con la cooperación y el
compromiso del Estado. La diferencia está marcada por un Estado que
toma de la autogestión y de la innovación local, la pauta para encauzar el
financiamiento ante necesidades o demandas concretas.
141
mediante la articulación de políticas públicas nacionales, provinciales y
municipales.
La Ley, persigue definir y articular acciones interjurisdiccionales
en las áreas de desarrollo humano, empleo, educación, cultura,
infraestructura, vivienda, producción, asuntos agrarios y turismo;
destinadas al desarrollo socioeconómico de localidades de hasta 2.000
habitantes, mejorando la accesibilidad de las pequeñas localidades a la
salud, educación, vivienda, bienes culturales, infraestructura,
producción, trabajo y desarrollo sustentable.
Asimismo, la iniciativa persigue la generación de planes
estratégicos de desarrollo local con perspectiva regional y provincial,
que deberán abordar el desarrollo económico, cultural, demográfico,
social y ambiental, procurando una proyección sustentable que, evaluado
por la autoridad de aplicación nacional, permitirá la obtención de
recursos necesarios para su implementación.
La provincia de Buenos Aires posee una distribución desigual de la
población dentro de su territorio. Esto genera dificultades de diversa
índole que se fueron haciendo cada vez más complejas década tras
década. Así, la distribución desigual en tanto desproporcionada, es
causa y efecto de la existencia de grandes aglomeraciones urbanas,
donde el acceso a los servicios básicos y la calidad de vida se ven
deteriorada en la actualidad; pero aún ofrecen cierta perspectiva de
sobrevivencia, sosteniéndose la vida cotidiana en condiciones de gran
precariedad.
La instalación de esta problemática afecta una población estimada
que va de 500 mil a 2 millones de personas. Es decir que la situación de
las pequeñas localidades bonaerenses es sumamente compleja y se
pierde en miradas que sólo suelen ponerse en los grandes aglomerados
urbanos o que intentan dar respuesta sólo desde lo productivo, dejando
de lado las cuestiones locales, en tanto cultura, identidad, educación,
142
potencialidades y especialmente la necesidad imperiosa de mejorar la
calidad de vida y facilitar las formas solidarias y autogestivas locales.
En este aspecto el Estado pasaría a tener un papel central como
promotor, dinamizador, ordenador y planificador, y la presente ley
apunta a facilitar el papel del Estado provincial, la autogestión en el
ámbito comunitario y el desarrollo local.
Es conocida la necesidad de mejorar la capacidad del desarrollo
local atendiendo la particularidad de las diferentes regiones y
municipios de nuestra Provincia. Desde la ley se fortalecerán esas
facetas poniendo énfasis en las potencialidades de las pequeñas
localidades bonaerenses teniendo en cuenta su singularidad y
perspectivas de desarrollo.
Así, el desarrollo local integrado a una política poblacional,
permitirá fortalecer los aspectos socioproductivos de las pequeñas
localidades bonaerenses.
Por ello, la Ley establece un régimen de promoción de pequeñas
localidades bonaerenses, en la perspectiva de impulsar acciones
dirigidas a la concreción de planes estratégicos de tipo local, articulado
desde los municipios, promoviendo políticas públicas en las áreas de
vivienda, acción social, educación, salud, cultura, entre otras, con los
diferentes estamentos del gobierno provincial y nacional.
143
Buenos Aires, para la gestación de procesos sostenidos de organización
y planificación participativa comunitaria para el desarrollo local"; a
través de la implementación del primer Programa de Capacitación y
Asistencia Técnica.
Esta propuesta tiende a fortalecer la organización comunitaria en
las pequeñas localidades, a través de procesos sostenidos de
planificación participativa y financiamiento de Proyectos socio-
productivos para el desarrollo local en el marco de la Ley de Promoción
de Pequeñas Localidades sancionada en la Provincia de Buenos Aires
(Ley 13.251) y lo establecido por Resoluciones MDS 1.375/2004 y
SPSyDH 360/2004.
El objetivo general del Plan presentado al M.D.S. apunta a:
"Promover la organización comunitaria e institucional en las pequeñas
localidades de la Provincia de Buenos Aires, para la gestación de
procesos sostenidos de organización y planificación participativa
comunitaria para el desarrollo local".
Para el logro de este objetivo general se plantea un primer
Programa de promoción de 24 pequeñas localidades bonaerenses, como
sectores estratégicos del desarrollo de sus pobladores rurales, cuyos
objetivos específicos son:
a) Celebrar acuerdos cogestivos con los gobiernos locales
distritales para la implementación del Programa de promoción de
Pequeñas Localidades.
Metas: 24 acuerdos de cogestión firmados con 24 gobiernos
distritales para la implementación del Programa.
b) Generar capacidad instalada en los distritos seleccionados
para la promoción del desarrollo rural comunitario a través de la
conformación de los Consejos de Apoyo Locales como espacios de
planificación y gestión del mismo.
144
Meta 1
- Conformar 24 Equipos de 3 integrantes cada uno para la
promoción del desarrollo comunitario rural y la formación de Consejos
de Apoyo Local.
Meta 2
- Constituir 24 Consejos de Apoyo Local.
c) Fortalecer las capacidades de los Consejos de Apoyo Local para
propiciar la gestión de una propuesta local de desarrollo con equidad,
sostenible y sustentable para cada localidad.
Meta 1
- 24 diagnósticos participativos realizados.
Meta 2
- Líneas estratégicas para el desarrollo identificadas en cada uno
de los 24 Consejos de Apoyo Local.
Meta 3:
- 10 planes estratégicos participativos para el desarrollo
comunitario formulados y puestos en marcha.
d) Difundir, articular y aplicar planes, programas y proyectos
sociales específicos, de nivel internacional, nacional, provincial o
municipal, que permitan fortalecer los planes, líneas o acciones
estratégicas impulsadas por cada localidad.
Meta 1:
- 24 Consejos de Apoyo Locales conociendo los diferentes
programas sociales disponibles.
Meta 2:
- 24 Consejos de Apoyo con capacidad de gestionar recursos
provenientes de planes, programas y/o proyectos sociales
e) Fortalecer económicamente y de asistir técnicamente
proyectos productivos o de servicios a la producción, enmarcados en las
145
líneas estratégicas de desarrollo de las localidades para el desarrollo
local.
Meta 1
- 20 proyectos productivos o de servicios puestos en marcha con
financiamiento del Programa para priorizar el fortalecimiento de las
cadenas de producción de la región.
Meta 2:
- 20 proyectos de capacitación o a. técnica implementados en el
marco del Programa.
Listado de Municipios que integraron el Programa y las localidades
elegidas: Municipio de San Andrés de Giles, localidad Heavy; Municipio
de Mercedes, localidad Franklin; Municipio de Rojas, localidad Roberto
Cano; Municipio de Baradero, localidad Santa Coloma; Municipio de
General Viamonte, localidad La Tribu; Municipio de General Belgrano,
localidad Newton; Municipio de Rauch, localidad Colman; Municipio de
Lobos, localidad Zapiola; Municipio de Brandsen, localidad Altamirano;
Municipio de Gral. Alvarado, localidad Mar del Sur; Municipio de
Balcarce, localidad San Agustín; Municipio de Tres Lomas, localidad Ing.
Thompson; Municipio de Magadalena, localidad Vieytes; Municipio de
Carlos Tejedor, localidad Colonia Seré; Municipio de Carlos Casares,
localidad Ordoqui; Municipio de Pehuajó, localidad Francisco Madero;
Municipio de 9 de Julio, localidad Dennehy / French; Municipio de
Lincoln, localidad Bayauca; Municipio de Pringles, localidad Divisorio;
Municipio de Guamini, localidad Arroyo Venado; Municipio de General La
Madrid, localidad Las Martinetas; Municipio de Olavarria, localidad
Espigas; Municipio de Torquinst, localidad Tres Picos; Municipio
Gonzalez Chavez, localidad Juan E. Barra
146
Referências
147