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<= Prefécio de Moacir Gadotti ...........02..00 ‘A Educagio e 0 Processo de Mudanca Social ..... a © Papel do Trabalhador Social no Processo de i RMT Gebiesoseac socao0saos0009s¢000 43 Alfabetizagio de Adultos e Conscientizagio ...... 6 Prefacio por Moacir Gadotti EDUCAGAO E ORDEM CLASSISTA © Iancamento desta obra de Paulo Freire em por- tugués se di no momento em que 0 educador brasileiro E-me, portanto, impossivel apresentar hoje esta obra sem mencionar sua volta do exilio. O exilio ng mar- tendo ao lado daqueles que G0 0s portadores r dade, 0s oprimidos. Paulo Freire nfo é um intelectual g de conhecimento ¢ de conscientizagio ¢ que, a no leva-uma-sociedade a se liberta # dentro desse quadro que pouco com ele, caminhar com ¢l ‘por isso — e nio porque tenha seguido uma doutris losofica ou um idedrio politico — que sua teot tes, 40 mesmo tempo, roblematizar © seu discurso central, isto é, a possibili- dade de uma educagio libertadora, ‘transformadora. pedo radical € a libertacio dos oprimidos, o r 5 profundo da sua obra é ser a “expressio” eigele Fic certamente um_profssonal compro a ietadora porta metido, cujo pensamento, que pensa a vida, as relagdes bedore, sowlicionsia Ei aoean fade hhumanas, encerra um grande potencial de direcio na fata badora, revoluciondria. Ela exprime a realidade e a es- ee a ran ¥ a foi tratégia do oprimido. Foi por essa razio que néo foi ‘Neste sentido, ele tem o mse. == tolerada-apte-o,goipe miler do 1964: por.ser.o Speda- Tito no apenas de denunciar uma educagio supostamen- ‘gogo speimidos”. te neutra, como o de distinguir claramente a pedagogia Feitas estas observagées ini das classes dominantes da pedagogia das classes oprimi- Inicialmente quero dizer que, a0 lado da conscien- tizagao, a mudanca é um “tema gerador” da pritica teb- rica de Paulo Freire. Como 0 tema da consciéncia, 0 tema da mudanca acompanha todas as suas obras. A de Roger Garaudy. “Muitas questdes, porém, pode ainda nos suscitar o seu pensamento, sempre em evolugio, como todo pensamento concreto. Nao me preocupa saber se Paulo é ou néo é marx Paulo j € ow nao € cristio. Ele sempre iem rejeitado etiquetas daqueles que tentam sinpliffear- 6 pensamento-e a vida, ar i W6gicas muito rigidas o consideram um “eade~ Paulo Freire combate a concep¢io ingénua da pe- moniado contraditrio", on ele mesmo afirma. Na dagogia que se cré motor ou alavanca da transformagio veFdade, 0 que me interessa discutir concretamente é a social ¢ politica. Combate igualmente a concepgio opos- i a : as : a questo da mudanga ¢ o cardter de dependéncia da edu. ta, 0 pessimismo sociol6gico que consiste em dizer que | Gago em relaglo 4 sociedade, a educacio reproduz mecanicamente a sociedade. Nes- e politicamente, a perceber as pos: cial e cultural na luta © 0 politico da sducagdo & essen: classificada de “‘ndo-pedagégic al. A. conscientizacso ro da escola, dentro da passagem, do Transito, € mais a organizagdo do con- flito, d to do que a aco dislégica, B2% volucionérios” permanecerem dentro da escola, cada vez: mais isolada dos fo esta_estratégia, o_professorado brasileiro in- vade.hoje.as.ruas, sai da escola, Iutando por melhores condigSes de ensino ¢ de salério, certo de que, assim = -fazendo,esté também fortalecendo a categoria ¢ trans- formando: a sociedade civil numa sociedade mais resis- ito os “grandes debates”, os “‘semindrios S| It Vt. [ .) ihe Vilow vor pronein urdviuon Jy B dentro desse quadro que vejo a leitura desta obra, publicada jé hé alguns anos em espanhol, como um sub- sidio valioso para a compreensdo da realidade educacio- nal latino-americana, dentro de uma “sociedade fechada”, ‘a compreensio do papel do trabalhador social, do pro- fissional engajado, compromissado com um projeto de uma sociedade diferente, isto é, uma “sociedade aberta”. Depois de Paulo Freire ninguém mais pode ignorar ~tentamargumentar em io, 5 que-0-edu- cador nio pode “fazer politica”, estio defendendo uma ceerta politica, a politica da despolitizagio. Pelo contré- Tio, se i damente a brasileira, sempre fa sempre Tol po- classes dominan- principio de que parte Paulo Freire, prin- wente a cada pagina do que aqui escreveu. blemas educacionais brasileiros, debate este sufocado no, Periodo de obscurantismo imposto pela oligarquia gover- namental néo menos obscurantista e tecnocritica. Com vedo, ‘Lourengo Filho,’ Anisio Te sileira ganha um novo alento, a ior Iucidez, faz-| nos lembrar que o Brasil tem uma hist6ria educacional importante. Campinas, 7 de agosto de 1979. que a educagio € sempre um ato politico. —Aqueles-que—— Ww O Compromisso do Profissional com a Sociedade = —A-questiio do compromisso do profissional com a sociedade nos coloca alguns pontos que devent ser ana- lisados. Algumas reflexes das quais nio podemos fugir, necessérias para o esclarecimento do tema. Em primeiro lugar, a expressiio “o compromisso do profissional com a sociedade” nos apresenta 0 conceito do compromisso definido pelo complemento “do profis- sional”, ao qual segue o termo ‘com a sociedade”. So- mente @ presenca do complemento na frase indica que mo se trata do compromisso de qualquer um, mas do profissional. A expresso final, por sua vez, define © pélo para o qual o compromisso se orienta e ‘no qual © ato comprometido sé aparentemente terminaria, pois na verdade nao termine, como trataremos de ver mais adiante. As palavras que constituem a frase a ser analisada ‘no esto ali simplesmente jogadas, postas riamen- te. Dirfamos que se encontram, inclusive, “comprome- tidas” entre si e implicam, na estrutura de suas relagées, uma determinada posicio, ¢ de quem as expressou. der aquilo que faz com que um ato se constitua em compromisso. Mas, no momento em que esta necessidade nos é imposta, cada vez mais claramente, como uma exigéncia prévia andlise do. compromisso detinido — o fissional com a sociedade —, uma reflexio antetior se faz necessiria. Ea que se concentra em tomo da per- gunta: quem pode _comprometer-sc? Contudo, como pode parecer, esta pergunta nfio se formula no sentido da identificagzo de quem, entre al- guns sujeitos hipotéticos — A, B ou C —, é 0 protago- ~~nista de-um ato de compromisso, numa situagdo dada. E uma pergunta que se antecipa a qualquer situacdo de compromisso. Indaga sobre a ontologia do ser sujeito De fato, a0 nos aproximarmos da natureza do ser que € capaz'de se comprometer, estaremos nos aproxi- mando da esséncia do ato comprometido._ ‘A primeira condicfo para que um ser possa assumir um ato comprometido esté em ser capaz de agir e refletir. E preciso. que seja capaz de, estando no mundo, Saber que, se a forma pela qual esté no a sua consciéncia deste estar, € capaz, msciéncia desta consciéncia condi- capaz de intencionar sua cons ciéncia para a propria forma de estar sendo, que condi- ciona sua consciéncia de estar. saber-se nele. ulta que este £ um ser imerso no Achist6rico, um ser como este no pode comprometer-se; em iugar de relaci i Além disso, somente este ser 6 jé em si um com- promisso. Este ser é 0 homem. st €-0 homem que, além de poder ‘um compromisso, ‘0 que ¢ 0 com- ‘Uma vez mais teremos de voltar a0 proprio homem, fem busca de uma resposta. Porém, nfo a um homem abstrato, mas ao homem concreto, que éxiste numa si- tuagdo concreta. Afirmamos anteriormente que a primeira condicio para que um ser pudesse exercer um ato comprometido era a sua capacidade de atuar ¢ refletir. 2 exatamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a reali- dade de acordo com finalidades propostas pelo homem, & qual esté associada sua capacidade de refletiz, que o faz um ser da praxis. fe aco e reflexio, como constituintes insepariveis da praxis, fra humana:de existir, isto néo sig- nifica, contudo, que no estio condicionadas, como se fossem absolutas, pela realidade-em que esto homemt. Assim, como no hé homem sem mundo, nem mun- do sem homem, nao pode haver reflexio e a¢do fora da relagéo homem—realidade. Esta relagio homem—rea~ lidade, homem—mundo, a0 contrério do contato animal com 0 mundo, como jé afirmamos, implica a transfor- magio do mundo, cujo produto, por sua vez, condiciona ambas, ago ¢ reflexio. 1, portanto, através de sua 17 ver E, Fromm, sobretudo 0 corapao do ‘po qual ele discute claramente a fuse ‘tragio do nfo-atuar e suas conseqiléncias. 1. Neste sentido, homem, excelente livro, © verdadeiro compromisso 6 1 solidariedade com os que negam o compromisso soli- Gério, mas com aqueles que, na situagSo concreta, se en- contram convertidos em “coisas”. os quais alguém se com} abragando a todos num w pode estar fora de um con- ‘em cujas inter-relagdes constréi seu iticamente comprometido, falsamente 19 “comprometido” ou impedido de se comprometer verda- deiramente.* No caso do profissional, & necessério juntar a0 com- promisso genérico, sem dvida concreto, que The € pré- prio como homem, o seu compromisso de profissional. . Se de seu compromisso como hémem, como jé vi+ mos, nfo pode fugir, fora deste compromisso verdadei ‘com o mundo e com'os homens, que ¢ solidariedade cot eles para a incessante procura da humanizacio, seu com) promisso-como profissional, além de tudo isto, € uma dé vida-que assumiut a0 fazer-se profissional. como rotusonel, ‘quanto mais sistematizo minhas expe- rigngias, quanto mais me utiizo do patriménio cultural, que 6 patriménio de todos ¢ 20 qual todos devem servir, mais aumenta minha responsabilidade com os homens. radas pelos homens, sfo suas escravas ¢ no suas se- horas. Nao devo julgar-me, como profissional, “habitante” de um mundo estranho; mundo de técnicos e especialistas adores dos demais, donos da verdade, proprietérios tica a visio ingénua da realidade, deformada pelos espe- cialismos estreitos. _ Néo é possfvel um compromisso verdadeiro com a Um profissional, por exemplo, para quem a Refor- ma Agréria 6 apenas um instrumento juridico que nor- maliza uma sociedade em transformacio, sem conseguir apreendé-la em sua complexidade, em sua globalidade, 21 (0 compromisso, portanto, de um profissional da Re- forma Agritia que a.veja s0b esta visio criicada, no pode ser verdadero, nfo pode ser o compromisso d0 pro- Essional, em cuja ago de cardter tGenico se esquece com as quais me vou instrumentando para melhor lutar por-esta-causa-— Por isso também no posso reduzir o homem a simples objeto da técnica, a um autémato manipuldvel. entanto, a0 desconhecer que tanto sua técnica como os procedimentos empiricos dos camponeses sio | © manifestag6es culturais e, deste ponto de vista, ambas vé- : lidas, cada qual em sua medida, ¢ que, por isso, nio_po- dem ser mecanicamente substituidos, enganam-se ¢ jé nfo s. nde esté seu com- ‘prominco verdadeizo como homem, com sua homanize= ur" Todavia em nossos paises hé sem davida uma som- “4. De algum tempo para c4, as sociedades Iatino-america- nas comesam a pérse A prova, historicamente, Algumas mais 23 ri cia humana é isco) € teriza a coragem'do compromisso, a_alienacdo estimula g formats, que fnsona como unk pede de cto e seguranca. "Daf o homem alienado, inseguro e frustrado, ficar mais na forma que no contedido; ver #s coisas mais na superficie que em seu interior. Desta forma, como comprometer-s¢? Entretanto, no momento em que a sociedade se volta sobre si mesma e se inscreve na dificil busca de sua ‘autenticidade, comeca a dar evidentes sinais de preocupa- ‘Glo pelo seu projeto histérico. ‘Quanto mais cresce esta preocupacio, mais desfavo- rivel se torna o clima para o compromisso. joe outras. Comesam a teotar uma volta sobre si mesmas, 0 . Re Ge eva a ae” aute-objetivarem, ', assim, descobrirem-4e mente, ¢ da qual resulte sua insercao nela. Insergo esta ‘Moan "Se ex coer no sein’ sid 4 dealnndo ue, sendo critica, € compromisso verdadeiro. Compro- alates enc fen an hate peel ne mnisso com 0s destinos do pais. Compromisso com seu eae detecolenielel peer ee povo. Como homem conereto. Compromisso com 0 Se, numa sociedade preponderantemente alienada, 0 profissional, pela natureza mesma da sociedade estrutu- Tada hierarquicamente, é um privilegiado, numa sociedade que se est4 abrindo o profissional € um comprometido ou deve sé-lo. Fugir da concretizagio deste compromisso & nfo 6 Trustraios ou reforgam 0 nfimero’ dos tansplanes, de experién- clas de outro espaco e de outro tempo histérico. So-mais com- negar-se a si mesmo como negar 0 projeto nacional. A Educacio e o Processo de Mudanga Social |. INTRODUGAO Nio 6 possivel fazer uma reflexo sobre 0 que é educagio sein refletir sobre 0 proprio homem. Por isso, & preciso fazer um estudo filos6fico-antro- polégico. Comecemos por pensar sobre n6s mesmos' Petemos de encontrar, na natureza do homem, algo que possa constituir 0 nécieo fundamental onde se sustente 0 processo de educagio. ‘Qual seria este nticleo captivel a partir de nossa propria experiéncia existencial? Este ndcleo seria o inacabamento ou a inconclusio do homem. (0 Gio’ a fvore também sfo inacabados, mas 0 & ‘A educagio € uma resposta da finitude da infini- tude, A educagio & possivel para o homem, porque este

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