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E extremamente gratificante apresentar este trabalho editorial - uma colegao a ser distribuida gratuitamente as escolas de Belo Horizonte, contando a histéria dos bairros de nossa capital Nao se trata, simplesmente, de publi- car mais um material sobre a cidade. Temos, aqui, 0 coroamento e a sintese de um longo percurso de um projeto do Arquivo Publico da Cidade de Belo Horizonte, realizado e aprovado ha ja sete anos, que pe & dispo- sigdo sobretudo da populacao estudantil a mais completa documentagao da historia de Belo Horizonte, de seus bairros e regides. Afinal, para amar e lutar por nosso terri- t6rio, é fundamental conhecé-lo, © Arquivo Publico da Cidade de Belo Horizonte e os patrocinadores, assim como a populagao da cidade, estdo de parabéns. Maria Antonieta Antunes Cunha Presidente Fundago Municipal de Cultura A Associagao Cultural do Arquivo Pabli- co da Cidade de Belo Horizonte (ACAP-BH) foi criada, em 1999, para incentivar a pesqui- sa, estimular a preservagdo e a divulgagao do patriménio documental da cidade. Desde sua criacdo, a ACAP-BH apéia os projetos e as agées do Arquivo Publico da Cidade de Belo Horizonte (APCBH). Também em 1999, a equipe do APCBH ini- ciou 0 projeto “Histéria dos Bairros de Belo Ho- rizonte", criado para atender a uma necessida- de dos consulentes do Arquivo, principalmente estudantes, que buscavam informacdes sobre o passado de seus bairros. A partir dos dados levantados por esse trabalho, a ACAP-BH propés 0 projeto de realizagao de uma colegio didatica sobre o tema, cujo produto final ora apresentamos. Com a publicaco dos cadernos “Histérias de Bairros de Belo Horizonte”, realizada com © patrocinio da Redecard e com os benefi- cios da Lei Municipal de Incentivo & Cultura, a ACAP-BH acredita contribuir para a divulga- 40, entre o piblico escolar, de informacdes valiosas para sua formacao. E com prazer que apresentamos esta colecao, importante ndo apenas para a meméria dos bairros, mas para a histéria de toda a nossa cidade Maria Marta Martins de Araojo Presidente da Associaglo Cultural do Arquivo Pilblico da Cidade de Belo Horizonte - ACAP-BH PREFEITURA MUNICIPAL, DE BELO HORIZONTE Fernando Damata Piment FUNDAGKO MUNICIPAL DE CULTURA Maria Antonieta Antunes Cunba ARQUIVO PIIBLICO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE - APCBI Maria do Carino Andrade Gomes ASSOCINGO CULTURAL DO ARQUIVO PGBLICO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE: ~ACAP-BH Maria Marta Martins de Arai Histérias de bairros [de] Belo Horizonte : Regional Nordeste / coordenadores, Cintia Aparecida Chagas Arreguy, Raphael Rajao Ribeiro. ~ Belo Horizonte: APCBH ACAP-BH, 2008 62. il. ;21 om. [+ linha do tempo + mapas} Produzido pelo Arquivo Publico da Cidade de Belo Horizonte 1. Belo Horizonte (MG) - Bairros - Histéria. 2. Nordeste, regional (Belo Horizonte, MG) - Bairros. |, Arreguy, Cintia Aparecida Chagas (coord). Il Ribeiro, Raphael Rajéo (coord). II. Arquivo Publico da Cidade de Belo Horizonte. SUMARIO > 0 QUE £4 COLEGXO HISTORIAS DE BAIRROS? > OS BAIRROS NA CIDADE # © que 6 viver na cidade » Uma breve histria de BH: ponto de partida para outras historias. ® Vivéncia urbana ¢ administracio municipal: regionats e bairros ae &o baler Como surieam 08 baleeos cin Nelo Horizon * Os baieros da Regional Nordeste de BIL Priniea sta baieos que suriram a0 rer de india Ai *= Os bairros da Regional Nordeste: breves informagies > HIISTORIAS DE BAIRROS NO APCBH: ATIVIDADES, #0 que é-0 Arquivo Piblico da Cidade de Belo Horizonte Mtvidade OF Manifestagdes da cultura afro-brasileira Mividade 02 ~ Ao soin do apito das fabricas » Atividade 03 ~ Entre 08 “caminhos da roca” e as avenidas da modernidade Atividadle 04 — Caca-Patavras, > INDICE DE FIGURAS. > REFERENCIAS DE PESQUISA > MINHA DO TEMPO: BELO HORIZONTE E REGIONAL NORDESTE > MAPAS: BELO HORIZONTE E REGIONAL NORDESTE He Zz | 7 Esta colegao é o resultado do pro- jeto “Histdrias de Bairros de Belo Hori- zonte”, que vem sendo realizado pelo Arquivo Publico da Cidade de Belo Horizonte desde 1999. Nessa época, quando vocé ainda era bem peque- no, a equipe do APCBH percebeu que muitos alunos vinham aqui para conhecer mais sobre 0 passado da re- gido onde moram. Pensando, entao, em facilitar as pesquisas, procuramos, em nosso acervo e em outros locais, informagées que ajudam a contar as historias dos bairros da cidade. Depois desse grande levantamen- to, finalmente, em 2008, conseguimos transformar essas informagdes em ca- dernos didaticos, organizados a partir das regionais da cidade. Esperamos, assim, fazer com que um pouco das historias dos bairros chegue até vocé, na sua escola. Através de nossa leitura de varias fontes hist6ricas, como documentos es- critos, fotografias, plantas, mapas etc., produzimos algumas historias que con- tamos aqui. Como vocé ja estudou, ou- tras historias podem ser narradas com o uso desses mesmos documentos, pois muitas so as interpretagdes possiveis. Além de apresentarmos textos so- bre os bairros, selecionamos fontes historicas para que vocé possa apren- der um pouco mais a interpretar e a narrar outras histérias, a partir de seu préprio ponto de vista. Como o acervo do APCBH é muito grande, pudemos mostrar apenas uma pequena parte dele. Muito mais poderd ser visto aqui no Arquivo. E cada vez que vocé ler um documento encontrara novidades. Fica, entéo, o convite para conhecer mais, em nossa sede. Adoraremos re- ceber sua visita! Belo Horizonte 6 a cidade onde moramos e vivenciamos nosso dia-a-dia. Nés e mais de dois milhdes de habitantes! No vaivém didrio, nem pensamos sobre o espago onde vivernos. Vocé jé se perguntou como sao criados os lugares que chamamos de cidade? Seré que a cidade em que vocé vive sempre foi assim? Como ela era antes? Como ficou desse jeito? Ser que todos os seus habitantes a véem da mesma forma que viam ha alguns anos? Toda cidade tem sua hist6ria. E histéria ¢ também transformagdo: nossa cidade nao foi sempre da forma como a conhecemos. Ela é o resultado da acao dos seres humanos sobre a natureza, E isso acontece nao apenas quan- do eles realizam construgées, mas também quando se serve das aguas, do solo, da ve- getacao e dos recursos minerais. So diversas as razdes que levam ao nas- cimento de uma cidade. Elas podem surgir 2 partir de uma igreja ou podem ser plane- jadas antes mesmo de haver ruas ou edifica~ |? cdes. Normalmente nao sdo feitas de uma vez s6. Elas sao construidas e reconstruidas a0 longo de sua existéncia As pessoas que moram em uma cidade convivem de diferentes formas. Durante todo © tempo, elas lutam pelo que pensam ser o melhor. A cidade esta sempre em movimen- to, sendo alterada. Por meio da pintura de um. muro, da mobilizagao para que uma casa an- tiga ou uma érvore no seja derrubada... ela & sempre palco de disputas e negociacées. Diferentes agdes criam as mudangas do espago que habitamos. Os governos, muitas vezes, tentam planejar o desenvolvimento das cidades, para que as coisas sigam um de- terminado caminho. Mas, as vezes, as pesso- as ou os governantes preferem manter algu- mas coisas como eram no passado ~ nem s6 de transformagées vive a cidade; ali as coisas também permanecem E a nossa cidade, Belo Horizonte, como ela surgiu? Como se transfor mou? Que cami- nhos seguiu? O que se manteve? O que mu- dou? Conhegamos um pouco dessa histéria! Ha pouco mais de cem anos, Ouro Pre to deixava de ser a capital de Minas Gerais. Nascia entao uma nova cidade, inteiramente planejada e construida para ser a capital do estado. Era Belo Horizonte. No local onde a cidade foi edificada, existia um pequeno arraial, o GurralNEelREH que foi quase total- mente demolido. O plano da nova capital, elaborado por uma equipe de engenheiros, arquitetos e outros técnicos, previa uma cida- de dividida em trés areas: uma érea central, denominada urbana; em torno desta, uma outra denominada suburbana; e uma terceira area, chamada rural. A nova capital foi inaugurada em 12 de dezembro de 1897, mesmo estando ainda em obras, e com seu plano apenas parcial- mente implementado. Hoje, muitos dos espacos planejados e edificios construidos na época da origem da cidade ainda estdo preservados. A Praca da Liberdade com suas secretarias o palcio, ca da Estacdo so alguns exemplos, Pelo plano da nova cidade, © Parque Municipal e a a Avenida Afonso Pena seria a via mais im- portante da cidade, como, de fato, se tornou. rey sae Pee 01. Antigo Cural del Rei, 1896 02, Préio da EstogS0 Cental, décado de 1980, ESTADODE MINAS GERAES — fscalou1:35700 E a avenida que contomava toda a r@alUrba® \falplanejada, chamada por isso de Avenida do Contorno, também permanece até hoje. A pai- sagem desses lugares mudou, mas eles ainda rem na cidade, com grande importéncia, Nos seus primeiros anos, a cidade era cortada por algumas linhas de bondes e pe- los cérregos naturais. Os bondes jé nao exis- tem e a maioria dos cérregos nao esté mais. visivel, pois eles foram canalizados. A ligagdo de BH com outras cidades e outros estados se fazia pela estrada de ferro — que, hoje, no 6 via de acesso mais comum. A populagao de Belo Horizonte era formada pelos antigos habitantes do arraial, por funcionarios publi- cos que vieram de Ouro Preto e por traba- lhadores e imigrantes estrangeiros que foram empregados na construgao da cidade, no co- mércio, ou nas colénias agricolas que foram criadas em torno da érea urbana A cidade de Belo Horizonte cresceu, e seu crescimento foi marcado pelo planejamento ini- cial. Aéreaurbana, dentrodos|imites da Avenida do Gontormo, recebeu ao longo do tempo mais infra-estrutura, como, por exemplo, nos trans- portes coletivos e no fornecimento de servigos como Agua, luz e esgotos. Ali se concentrou a maior parte dos servicos e das atividades como. comércio, hospitais e escolas. Jé a érea fora dos ites da Avenida do Contomo cresceu de forma mais desorganizada, nao recebendo a mesma infra-estrutura. Os bairros surgiam mes- mo sem esses servicos. A desigualdade social fez aparecer Vilage favelas nos arredores desses bairros, mas também préximas aos bairros den- tro da area central 04. Favela PinduraSaia, década de 1960. Hoje ainda 6 possivel enxergar diferen- as entre a parte da cidade que foi planejada e aquela que cresceu de forma mais espon- tanea e desorganizada, Um exemplo ¢ a dis- posig&o das ruas. Dentro da Avenida do Con- torno, se observarmos em um mapa, as ruas. formam um desenho quadriculado e exato. AAs avenidas so mais largas e muitos cruza- mentos formam pragas, como a PragalSete e a Praga RaullSoares. Fora da Contorno, elas formam um desenho bem menos organiza~ do, com ruas mais estreitas e cheias de cur- vas, acompanhando o relevo natural. i 12 07. Lagoa da Pompuiha, 1948, A partir das décadas de 1940 e 1950, 0 crescimento de Belo Horizonte teve um im- pulso cada vez maior, devido expanséo das industrias. A érea central da cidade continua- va concentrando os principais servigos, como comércio e bancos. Como ela jé estava quase toda ocupada e nao havia mais terrenos livres para a construcao, teve inicio a expansao “para cima". Surgiam os primeitos arranha-céus. Onibus @ automéveis tornaram-se os meios de transporte mais comuns. Eles trafegavam também em direcdo aos novos bairros, pelas avenidas Anténio Carlos, Pedro Il e Amazonas, construidas nesse periodo. A construgao da la- goa e dos ediificios modemistas da|Pampulhia 6 um marco daquelas décadas. Nas décadas de 1960 e 1970, a cidade continuou seu crescimento, com o surgimen- to de muitos bairros. O centro jé estava re- pleto de grandes edificios, que passaram a surgir também nos bairros vizinhos. No en- tanto, permanecia a diferenca social entre 2 érea central, com mais infra-estrutura, € a rede de bairros que se expandia na periferia, com poucos ou nenhum servico urbano. Com a expansdo urbana, dreas mais afas- tadas do centro de Belo Horizonte se transfor- maram. Barreiro e Venda Nova sao exemplos de regides que tinham um ritmo lento de cres- cimento e que passaram a ter uma vide mais dinamica com 0 avango da metrépole. Essa crescente ampliagao dos espagos ocupados atingiu também municipios vizinhos a Belo Horizonte, ultrapassando e desmanchando as divisas, especialmente nas direcdes norte € oeste, como aconteceu com Betim, Conta gem e Santa Luzia A partir daquelas décadas e nos anos se guintes, as diferentes regides da cidade, cada vez mais distantes do centro, tomaram-se me- nos dependentes da rea central. Surgiram nicleos de comércio e de convivéncia nos bairros, desde a Savassi até o Barreiro e Venda Nova. Muitos outros centros regionais surgi- ram em torno das grandes ruas e avenidas ou no interior dos bairros, e continuam surgindo até hoje. Mas sera que esses “centros” regio- nais sdo auto-suficientes? Eles esto ligados com as outras areas do municipio? O transpor- te coletivo é suficiente para a circulacdo das pessoas entre todas as regides da cidade? Outras questées surgem, também, a partir dessa histéria de crescimento da ci- dade: seré que 0 centro de Belo Horizonte permanece como espaco de identidade en: tre os bairros e regides? A vida nos bairros 6 a mesma que era hd cem anos? Como se administra, nos bairros, o problema das de- sigualdades sociais? Os bairros de uma mes- ma regional tém uma identidade? Pensando nessas perguntas é que procuramos estudar a hist6ria dos bairros de Belo Horizonte ©) 0 QUE £0 BAIRRO? E muito bom falar e ouvir falar do bair- ro em que moramos ou em que nascemos Nesse lugar, construimos as relagdes do nos- so dia-a-dia: andando pelas ruas do bairro, é comum reconhecermos as pessoas que por ali circulam. Perto de casa, cumprimentamos 08 vizinhos. Na padaria da esquina, conhe- cemos os produtos. Sabemos os nomes das ruas € © que iremos encontrar nelas. coisas nos fazem “sentir em casa”! Se vive- mos muito tempo em um bairro, temos a sensacao de dominar aquele espaco como a nossa prépria casa, Mas 0 bairro é também uma divisao ofi- cial da cidade para facilitar a comunicacao de seus habitantes e a prestagao de servicos para eles. E um meio de identificar onde as pessoas vivem Essas Entdo, 0 bairro é tanto o lugar de vivén- cla de seus moradores quanto uma diviséo administrativa da cidade. 14 COMO SURGIRAM OS BAIRROS EM BELO HORIZONTE? Belo Horizonte foi inaugurada em 1897 Tem essa caracteristica especial: € uma cidade que nao surgiu de ocupacao espontnea de um ‘espaco por um grupo de pessoas. Foi projeta- da para existir de uma determinada maneira e ser construida segundo um tracado. Serd que a cocupagao da cidade seguiu esse planejamento, tal como fo’ feito pelo poder publico? Acidade nao surgiu de uma sé vez. ABelo Horizonte que conhecemos hoje tem muito pouco a ver com aquela que foi projetada e construida hé mais de 110 anos. Pelo projeto original, Belo Horizonte possuia segées urba- nas e suburbanas, como se pode ver através da Planta Geral da Cidade de Minas. Depois vieram as colénias agricolas, outra forma de ocupar a cidade pensada pelo governo, que deveriam ficar nas segdes suburbanas. A partir da ocupagao dessas colénias e seces pela populagdo, surgiram, entdo, os bairros que conhecemos hoje. Muitos desses ainda possuem, como nome oficial, o nome da co- lnia ou da seco urbana de origem. ©) como os BairRos RECEBEM OS SEUS NOMES? A histéria dos bairros, assim como a da cidade e a das pessoas que nela vivem, vai se transformando com 0 tempo e os seus no- mes refletem isso. Para os bairros de nossa ci- dade, por exemplo, dois tipos de nomes so usados hoje: os oficiais e os populares. Os nomes oficiais, para alguns bairros, 0 os que foram dados no projeto original da cidade. Para outros, que surgiram de- pois do planejamento inicial, o nome oficial 6 0 da época da aprovacao do loteamento do bairro: Fernao Dias, Belmonte etc. Para outros, ainda, 0 nome oficial foi dado por lei, depois que aquela regido ja estava ocu- pada, como é 0 caso do bairro Eymard. Os nomes populares sio aqueles pe- los quais conhecemos nossos bairros. Sua origem esta ligada a alguma caracteristica fisica ou cultural do lugar. Pode vir de uma igreja ou de um santo de devogao, de uma fazenda, de um estabelecimento, do nome de um antigo morador. © 18H es 9 nome que tem a Yara” do eira, Bairro da Graca... bairro: Silve Nos diversos usos que cidade faz dos bair- Fos, esses nomes se misturam. Para os cartérios, © bairro é Vila Maura; para 0 dia-a-dia, é Ipt ranga. © Renascenga é um nome popular. Seu nome oficial é Vila Industrial Melo Viana, Em alguns bairros, o nome oficial e o nome popular s30 0 mesmo ou houve poucas varia- ‘Ges, como o Jardim Vitéria, Ha ainda os nomes que nao existem mais Campos Eliseos € un nome que no esté: mais © cinuso, s6 existe na meméria dos antigos habi- tantes da cidade, Isso nos mostra que a cidade muda no tempo. E a administracao municipal procura acompanhar as mudangas para atender as novas necessidades. Neste caderno, quando tratarmos de bairros, utilizaremos o nome popular, que & ‘© mais conhecido. Como a confusao é gran- de, optamos por seguir um critério Unico: usamos 0s nomes que constam do mapa —_____gerado pela PRODABEL em junho de 2004... ©) 4 REGIONAL F OS BATRROS Belo Horizonte possui uma area de 330,90km2, Administrar uma cidade tio grande € muito complicado. Para facilitar esse processo, a Prefeitura criou, em 1983, unidades administrativas que ficaram co- nhecidas como regionais. Suas éreas foram definidas em lei no ano de 1985. Duas re- gionais, porém, ja existiam antes dessas leis: Barreiro e Venda Nova. Atualmente existem nove regionais na cidade: Barreiro, Centro- Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oes- te, Pampulha e Venda Nova. Existe uma pro- posta de chamar oficialmente as regionais. de distritos, mas isso ja é outra histéria. Como a regional é uma “unidade adminis- trativa”, os bairros que a compéem se local zam em uma mesma regio. Assim, eles t8m aspectos em comum: alguns foram ocupados ‘em um mesmo periodo que outros. Eles tm certa identidade, mas ndo so iguais. Para fazer esta publicago, organizamos cadernos sobre os bairros, agrupando-os por regional. Do mesmo modo que a Prefeitura dividiu a cidade em regionais, para facilitar a administragao, nés dividimos a publicagio ‘em regionais, para facilitar a organizacao das informacées. Neste caderno, trataremos dos bairros da Regional Nordeste. A intengao no é contar a historia de to- dos os bairros, até porque isso nao seria pos- sivel. Muitas so as historias, muitos s0 os documentos... que queremos é dar referén- clas para vocé, refer€ncias para compreender a trajetéria de seu bairro e aprender a lidar com os documentos do APCBH para continu- ar pesquisando as histérias de nossa cidade. Para falar das histérias dos bairros que fa- zem parte da Regional Nordeste, vamos voltar numa época em que Belo Horizonte era rode- ‘ada por fazendas. Elas eram propriedades de familias que viviam na regido desde a época do Curral del Rei. Quando Belo Horizonte es- tava sendo criada, a comissao responsével pela construgao da cidade fezintimeras desapropria- Ges para que em lugar dessas antigas fazen- das e dos lugarejos do arraial fossem abertas as modernas ruas e avenidas da nova capital. Entretanto, aquelas fazendas mais afastadas da érea central permaneceram ativas e foram mui- to Uteis nos primeiros anos da construgdo da cidade, ja que dai sairam varios materiais utili zados nas obras, como madeira, lenha e tjolos, € também alimentos, como leite e que. Com 0 desenvolvimento de Belo Horizon- te, muitas areas rurais deram lugar@limiportantes [FABFERET a partir da década de 1930. Os traba- thadores das fabricas e suas familias tinham que morar mais perto do local de trabalho, em vilas operérias. O primeiro passo da nossa caminhada pela histéria dos bairros da Regional Nordeste serd em dirego a essas vilas, que deram origem ‘a bairros com caracteristicas muito préprias, marcados pelo ritmo do apito das fabricas e pe- los lagos de amizade e de solidariedade entre os trabalhadores. E 0 caso dos bairros Renascenga, Concérdia, Cachoeirinha ¢ parte dos bairros Nova Floresta e Sao Paulo. (08. Companhia Renascenca Industial em construgso, 1937, I? 18 Entretanto, foi quando a expansao urbana comecou a aleangar-os limites daquelas fazen- das, a partir da década de 1960, que muitos baitros da Regional Nordeste de Belo Horizonte surgita. A érea urbana do municipio cresceu e acabou tomando as éreas rurais, As fazendas fo- ram loteadas, seus terrenos, vendidos a quem tivesse condicdes de adquir-los, Foi o que acon- teceu com a Fazenda Sao Joao Batista e o RES) tiro do Sagrado Coragao de Jesus. Verernos no segundo passo da nossa caminhada que nas terras dessas fazendas surgiram os bairros Santa Cruz, Ipiranga, Cidade Nova, Bairro da Graca, Silveira, Palmares, Unido, Vila Maria Virginia, ‘Sao Jodo Batista, Dom Joaquim e parte do Nova Floresta. Da Fazenda Capitao Eduar- do surgiram os bairros Capito Eduardo, Fa- zenda Capitao Eduardo, Beija-Flor, Ribeiro de Abreu e Paulo VI. Outros bairros, embora também tenham surgido a partir do loteamento de dreas rurais, apresentam uma histéria diferente. Vamos conhecé-la no terceiro passo da nossa cami- nhada. Essas reas pertenciam a pequenos proprietérios que nao tinham muitos incenti- vos para investir na produgao. O povoado do (Onca, onde hoje esto os bairros Dom Silvé- raja, Eymard, Sao Gabriel, Maria Go- retti, Belmonte, Ouro Minas, Vista do Sol e Nazaré, e 0 povoado de Gorduras, onde se localizam os bairros Goidnia, S40 Marcos, Ip@, Ferndo Dias, Pousada Santo Anténio, Sao José e Jardim Vitéria, so um exemplo dessa situago. Com o crescimento da cida- de, esses povoados foram progressivamente se transformando em suburbios da capital ‘Mas suas paisagens permaneceram por muito tempo rurais: plantagSes, criagao de animais, construcées afastadas umas das outras. Com © tempo, a Prefeitura acabou adquirindo uma parte dessas terras e investindo na construcao de conjuntos habitacionais para abrigar a po- pulagao de baixa renda. Foi quando a maioria desses bairros surgiu Portanto, é por entre fazendas, indiistrias e fabricas, vilas e conjuntos populares que come- aa nossa caminhada pela historia desses bait ros. Convidamos vocés a participarem desse passeio pelo passado da Regional Nordeste. (09, Sace da Fazenda Retiro Sagrado Coragso de Jesus, 1947, ) PRIMEIRA VISITA: BAIRR( ’ QUE SURGIRAM AO REDOR DE INDUSTRIAS E FABRICAS, Todos os dias a vida comegava igual: a menina Clara Francisca Gongalves acordava ainda de madrugada, vestia seu uniforme e caminhava até a fabrica da Companhia Re- nascenga Industrial. Era la que ela trabalha- va como tecela no final da década de 1950. Batia seu cartéo e comecava o trabalho nas maquinas e teares da fébrica de tecido, que era uma das mais importantes indistrias t€xteis do Brasil. Apés uma hora de almogo, retornava & sua se¢3o e continuava o tra- balho. S6 ia embora a tardinha, quando o dia ja tinha perdido a sua luz e tudo parecia meio cinza... A sua vida e a dos outros ope- rarios ganhavam novas cores nos finais de semana: 6 que a fabrica tinha um campo de futebol e um clube para festas e bailes. Cla- ra gostava de participar dos concursos que a fabrica organizava para escolher a “voz de ouro”. Seu sonho era ser cantora, Nao demorou muito para que seu talento fosse descoberto e ela se transformasse numa das maiores cantoras do Brasil, conhecida por todos como Clara Nunes 20 A histéria dessa operéria que virou can- tora na década de 1960 é uma das marcas do bairro Renascenca, que se orgulha de ter visto surgir em suas ruas uma artista nacional- mente conhecida. A sua rotina operéria antes da fama era a de muitos trabalhadores, nao s6 dos bairros Renascenga e Nova Floresta, onde a fabrica se localizava, mas de outros como Coneérdia, Cachoeirinha e Séo Paulo. Todos esses bairros surgiram a partir das ¥ill3] (Operatias que foram construidas proximas as fabricas nas décadas de 1920 e 1930. Nessa época, os bairros populares e as vilas operé- rias aumentaram muito na capital. A maioria da populacao vivia fora da zona urbana da ci- dade. Mas por que os trabalhadores foram in- centivados a morarlonge do centro da cidade € proximos ao seu local de trabalho? 10. Vila Renascenga, 1936. Em Belo Horizonte, assim comonas princi- pais cidades brasileiras, as primeiras industrias fizeram um grande esforco para reorganizar 0 trabalho e, principalmente, controlar os traba- Ihadores em seu cotidiano. As vilas operdrias eram criadas para que os funcionérios das fabricas tivessem um dia-a-dia disciplinado, parecido com a rotina da menina Clara. Com hordrios fixes, regras de comportamento e convivéncia, espacos de lazer definidos, espe- rava-se criar um ambiente que levasse a valo- rizago do trabalho, bem como a uma maior produtividade do trabalhador no desempe- nho de suas funcdes. Como uma maquina, ele deveria estar sempre pronto para o servico. A “desordem’ ea “vadiagem” nao eram tolera- das. Além disso, havia o interesse da prefeitura em afastar os trabalhadores pobres do espaco urbano, contribuindo para a sua acomodacao na rea suburbana da cidade. Aos poucos, 0 espago operério foi se transformando em ini- meros bairros. Ao redor da fabrica de tecidos Companhia Renascenca Industrial, por exem- plo, surgiram os bairros Renascenga e parte do Nova Floresta. Também o bairro Coneér- dia abrigou inimeros trabalhadores urbanos © operdrios de diferentes industrias. A Vila Coneérdia, que deu origem ao bairro, é con- siderada a primeira vila operéria da capital. J © bairro Cachoeirinha, nasceu nos terrenos da Companhia Mineira de Fiagao e Tecelagem, também conhecida como ‘(FipnaIE da vila operaria do surgiu uma parte do bairro Sao Paulo. A Vila Concérdia € considerada a pri- meira vila operaria de Belo Horizonte, tendo sido aprovada em 1928 e originado o bairro. de mesmo nome. O baitro Coneérdia é um dos mais antigos de Belo Horizonte. Ele co- megou a ser efetivamente ocupado a partir da década de 1920 por algumas familias de trabalhadores pobres que tiveram de sair da Ultima favela existente na zona urbana da ca- pital - a Barroca —e se transferir para os lotes oferecidos pela Prefeitura na Vila Concérdia, denominada, na época, Vila Caiaux. Cada lote da vila, que era vendido aos operarios a prego de custo, tinha em torno de 600m? eas habitagdes construidas eram modestas, nem havia muros separando as casas. Todos viviam préximos e isso contribuiu para que 08 trabalhadores se ajudassem mutuamen- te. Como no havia sistema de esgoto nem Agua potével ou encanada, os moradores tinham que buscé-la nos chafarizes e cister- nas espalhados pela regido. As ruas também eram precérias, pois nao tinham calcamento e, quando chovia, tudo se transformava em pura lama! Era por isso que quem morava na regio era apelidado de “pé vermelho”. Nao havia calga ou vestido branco que permane- cesse desta cor apés um passeio pelo bairro 12, Matadouro Modelo, s/ nessa época... As melhorias feitas no bairro se devem & unio dos trabalhadores através. da associagao do bairro. Posto de satide, escolas e areas de lazer foram algumas con- quistas da populagao. Hoje, ainda restam al- gumas casas antigas que nos fazem lembrar do pasado cheio de dificuldades vivido pe- los moradores do bairro. Foi por volta de 1937 que muitas familias de operarios (a maioria vindos do interior do Estado) se instalaram nas proximidades da ‘Fabrica de Tecidos Finos da Companhia Re- Jnascenga Industrial, no lugar conhecido como Vila Renascenga, e deram origem ao bairro de mesmo nome. A companhia foi responsével por todo o investimento realizado nele. Cons- truida para abrigar 600 teares e cerca de 1.000 funcionérios, a empresa foi obrigada pela Pre- feitura a construir a [iftHe|dSBORdES que aten- deria & regido ainda em 1935. A construéo- das casas para os operérios tarnbém jé estava prevista. Elas eram todas iguais, apenas o nu- mero de quartos variava. Seus moradores ten- tavam-manter os mesmos habitos e costumes: ué tinham quando moravam nas cidades do “interior do estado, por isso quase todas as ca- 22 as possuiam horta e pomar, Uma praca de es- portes, JRRIEIUBE] um armazém, um jardim de infanciae até mesmo um time de futebol para (08 funciondrios foram criados com o apoio da empresa. As fabricas nao s6 geravam empre- 13. Fabrica da Renascenga, década de 1930, 14, Ponto final da linha de bonde no baie Renascengs, 1937 15. Centro Social da Renascenga, sf gos, mas proporcionavam para a maioria dos trabalhadores as Unicas opgées de la- zer existentes. A abertura de novas vias de acesso, como a Avenida Silviano Brando, 0 desenvolvimento do comércio sofreram a influéncia direta da presenga da fabrica na regio. Nao é sem razao que a vida no bairro Renascenga e vizinhanca girava em torno da companhia. Quando, em 1996, a Companhia Renas- cenga Industrial encerrou suas atividades, gerou um grande numero de desemprega- dos na regio. A partir de entao, a vida no bairro comegou a mudar. Junto com os pos- tos de trabalho, desapareceram também a rotina tranqiiila do bairro, com jeito de ci- dade do interior, e os momentos de lazer proporcionados pela fabrica. As relacdes préximas da vizinhanga foram se perdendo € 0s lacos de amizade e de companheirismo dos moradores, se afrouxando. No local da fabrica se encontra hoje uma universidade particular. Aquele intenso comércio de pro- dutos e servicos proporcionado pela pre- senca da fabrica desapareceu, comprome- tendo o desenvolvimento da regiao. Hoje, 0 bairro encontra-se em fase de recuperagao € possui um importante ponto comercial, a Avenida Clara Nunes (antiga Avenida Me- xiana), onde é possivel encontrar uma gran- de variedade de estabelecimentos comer- clais e relembrar, na figura de sua moradora mais ilustre, aquela rotina operéria que um dia fez parte da histéria do bairro S 24 SEGUNDA VISITA: QUANDO AS ANTIGAS FAZENDAS VIRARAM BAIRROS DA CIDADE ‘Quem vé hoje o movimento das ruas e ave- rridas dos bairros da Regional Nordeste, bem como seus edificios e seu comércio desenvolvi- do, custa a acreditar que boa parte desta area era formada por fazendas tranqiillas, grandes reas verdes com 0 gado pastando a vontade @ pessoas que comiam frutas apanhadas direto do pé... Bairros como Santa Cruz, Ipiranga, C- dade Nova, Graca, Silveira, Palmares, Unido, Vila Maria Virginia, Sa0 Jodo Batista, Dom Jo- aquim ¢ parte do Nova Floresta, surgiram das terras de uma antiga fazenda chamada So Joao Batista, cuja sede se localizava onde hoje se en- contra um importante shopping da regio. Antes disso, a Fazenda So Joao Batista foi dividida e uma parte destas terras se transfor mou na Fazenda do Retiro Sagrado Coragao de Jesus, de propriedade da familia Silveira (0 pa- triarca-desta familia d4 nome a uma importante avenida da regido, a Avenida José Candido da Siiveira). Muitas pessoas mais velhas afirmam que essa fazenda era auto-suficiente, pois nela se produzia tudo 0 que era necessario a sobre- Vivencia das pessoas. Apenas o sal precisava ser comprado de outros lugares. Criavan-se suinos ebovinos, plantavam-se café, arroz, feijéo, man- dioca e outros produtos. Havia moinho, paiol, pedreira, cérrego e até uma olaria! Mas a fazen- da era principalmente conhecida pelas muitas vores frutiferas que possuia e pela produao de leite, que era distribuida para toda a capital. De outras fazendas préximas também sur- giram novos bairros. Nas terras da Fazenda Ca- pitdo Eduardo, nasceram os bairros Belmonte, Fazenda Capitéo Eduardo, Capitéo Eduar- do, Paulo VI, Beija-Flor e parte do Ribeiro de ‘Abreu. Mas por que fazendas que eram to produtivas acabaram sendo loteadas, urbani- zadas e transformadas em bairros da cidade a partir da década de 1960? Desde os anos 1950, a cidade de Belo Ho- rizonte estava crescendo muito devido & indus- trializagao. Varias pessoas de outras cidades chegaram aqui em busca de oportunidades de trabalho. A populago da capital aumentou muito e era preciso encontrar novos espagos para abrigar toda essa gente. Onde esses no- vos moradores iriam se estabelecer? Para onde a cidade cresceria? As fazendas foram loteadas € 08 bairros foram criados para que a cidade pudesse comportar todos os seus habitantes. E claro que essas transformagées nao aconteceram de repente. Os primeiros gran- des loteamentos da Fazenda do Retiro come- garam na década de 1960, Embora a Prefei- tura estivesse muito interessada em acelerar © povoamento da regio, a venda inicial dos et 16. Centro Social da Vila Americana, no boiro Unis sd lotes ndo foi cil, pois 0 acesso a essa area era muito precério. No bairro Cidade Nova, por exemplo, somente quando houve um investi- mento na construg3o e recuperac3o das ruas € estradas (principalmente apés a construg3o do Tinel Lagoinha-Concérdia, em 1971) 6 que © povoamento aumentou. Portanto, foi sé com © segundo pareelamento da fazenda, realizado em 1977, que a populagao cresceu e a regio comesou a attair os primeiros comerciantes. Um dos bairros que hoje ocupam uma area que era a Fazenda do Retiro Sagrado Coracao de Jesus 0 Unio. O bairro foi criado a partir ia unio de cinco vilas vizinhas: Laginha, Ame (GSA, Marilia, Vilma e Severa, dai a origem do seu nome. Com o tempo, essas vilas cresceram @ acabaram se misturando umas com as outras. ‘Todo mundo passou a conhecer 0 local com o nome de Vilas Reunidas. Nessas vilas moravam pessoas humildes e foram 0s préprios mora- dores que construiram suas casas. Muitas nem tinham acesso aos servigos bisicos de agua, luz e esgoto. Para pegar énibus, era preciso ir a outros bairros préximos, como 0 Ipiranga ou © Santa Inés. Mas a criangada podia brincar de pegador, rouba-bandeira e bola de gude tran- quilamente pelas ruas, pois a violéncia urbana ainda nao fazia parte da sua realidade. Quando as pessoas com uma renda mais elevada comegaram a se mudar para a regio, atraidas principalmente pelo loteamento de pa- dro elevado do Cidade Nova, etambém coma construgaio do Minas Shopping, do Hotel Ouro Minas e a extensao do metré, os terrenos do bairro Unio foram valorizados. Foi entéo que as Vilas Reunidas ganharam o nome oficial de Unio. Muita gente acabou vendendo suas ca- sas e indo morar em bairros mais afastados. Hoje em dia, os moradores reclamam do esgoto a céu aberto ainda existente em alguns pontos e da falta de uma drea de lazer. O Par- ue Municipal de Reserva Ecolégica, conhecido como Matinha, com 13.086m? de area verde, 6 uma das poucas opgdes de quem mora na re- ido. Aquela vida de quem morava na rea rural da cidade j4 nao existe na maioria dos bairros da Regional Nordeste, mas a luta por melhores condigdes de vida continua fazendo parte do dia-a-dia da sua populacao. 25, TERCEIRA VISITA: BAIRROS QUE SURGIRAM DE VILAS POPULARES. E DE CONJUNTOS HABITACIONAIS Habitagées precérias, sem infra-estrutu- ra e em reas de isco sao alguns dos pro- blemas mais sérios da vida nas grandes ci- dades. Em Belo Horizonte, o problema da moradia nasceu junto com a cidade, pois a necessidade de encontrar novos espacos para abrigar a populacao de baixa renda surgiu ainda na fase de sua construcao. Os loteamentos realizados nos lugares mais afastados da area central ndo foram suficien- tes para abrigar todos os habitantes. Muitas familias acabaram ocupando outros espa¢os de forma desordenada, em éreas impréprias para a habitacao (encostas, areas ingremes @ margens de cérregos), constituindo vilas populares, antes chamadas de favelas. Em varios locais da Regional Nordeste, 0 poder piblico tentou impedir 0 aumento de moradias nas éreas de risco com a aprovacao de loteamentos clandestinos (vilas populares) @ a construcao de conjuntos habitacionais. A maioria desses conjuntos foi feita em terras piblicas, adquiridas pelo governo onde antes havia apenas pequenos povoados rurais da ci- dade. O Conjunto Habitacional So Gabriel e ‘© Conjunto Habitacional Gorduras, hoje cha- mado de Vila Maria, foram os primeiros exem- plos desse empreendimento. Gorduras era 0 nome do povoado no qual hoje se encontram 08 bairros Goinia, S40 Marcos, Ipé, Ferndo Pousada Santo Anténio, Sao José & Jardim Vitéria. J os bairros Dom Silvério, Pirajé, Eymard, So Gabriel, Maria Goret- ti, Belmonte, Ouro Minas, Vista do Sol Nazaré ocupam a area onde antes ficava 0 povoado do Onca. A implantagdo do Matadouro Modelo, em 1937, no bairro Sao Paulo, repercutiu na regiao. A partir da década de 1940, alguns loteamentos comegaram a ser feitos, como © bairro So Marcos. E verdade que esses. loteamentos ndo foram ocupados de imedia- to, mas ja indicavam as transformacdes que aconteceriam nas décadas seguintes. As mis- sas de domingo na igreja do bairro Sao Paulo

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