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Extraido de: VARELLA, Marcélo. Direito Internacional Piiblico. 5. ed. Sao Paulo: Saraiva, 2014. p. 37-47; p. 128-145; Capitulo CT Direito dos Tratados ‘Tratado é um acordo internacional concluido por escrito entre Estados ou entre Estados e Organizagoes Internacionais, regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento tinico, quer de dois ou mais instrumentos co- nexos, qualquer que seja sua denominacao especifica'". Trata-se da principal fonte de direito internacional porque representa a vontade dos Estados ou das Organizagdes Internacionais,em um determinado momento, queaceitam regular uma relagdo juridica por meio de uma norma comum entre si. E a fonte mais democratica, pois a priori sua vigéncia incide apenas sobre os sujeitos de direito que desejam submeter-se ao mesmo, O direito internacional é construido sobre a nogao fundamental do consenti- mento dos Estados, Os Estados ou Organizacées Internacionais nao sao obrigados a assinar ou ratificar os tratados. Eles o fazem como manifestagin de sen poder soberano. Da mesma forma, podem denunciar tratados ja firmados, a partir do momento em que a vigéncia dos tratados nao mais incidird sobre os mesmos. Em fungio do processo de internacionalizacéo do direito, da interdependéncia poli- tico-econémica entre as nagées, da expansio de valores comuns, essa margem de liberdade discricionaria dos Estados sofre uma reducao importante. Portanto, conhecer o direito dos tratados € essencial para entender o direito internacional publico. Neste capitulo, vamos analisar 0 percurso dos tratados desde sua negociacao até sua extingao. Para tanto, vamos comegar com 0 proces- so de criagao de compromissos internacionais ¢ as diversas formas de engajamento ' Convengao de Viena, Art. 2°, adaptado. A Convengao de Viena sobre 0 Dircito dos Tratados, de 1969, entrou cm vigor em 27.01.1980. Suas normas guiam a interpretacao predominante sobre direito dos tratados, no ambito nacional e internacional. (CII. Contencioso entre a Hungria e a Esloviquia sobre 0 projeto Gabcikovo-Nagymaros, de 25.09.97.) A partir deste ponto, utilizaremos o acronimo CV para fazer referéncia & Convengao de Viena. 37 dos Estados para, em seguida, estudar as condigoes de validade e exigibilidade dos tratados, as formas de interpretagao e controle de normas até sua extingao. BOCAES MERA Existem diversas fontes de normas juridicas internacionais: Estados agindo bilateralmente, multilateralmente, Organiza¢ées Internacionais universais, como a ONU, ou regionais, como 0 Mercosul, e diversos outros foros, além das normas privadas fixadas entre empresas que, embora possam ter efetividade na regulagao de determinados temas, nao sao tratados. No direito internacional contempora- neo vive-se um processo de descentralizacao das fontes, ou seja, a quantidade de instancias produtoras de normas internacionais aumenta gradualmente. A descentralizagao de fontes origina-se na atribuigao progressiva de compe- téncias e de capacidades dos Estados as Organizag6es Internacionais e supranacio- nais, permitindo inspirar, produzir, implantar e controlar o direito. O conjunto das normas ¢ principios resultantes dessas atribuigdes nao é sempre coerente. O espi- rito que preside a extensdo do direito internacional a assuntos até entio internos deriva do crescimento da cooperacao entre os Estados, fundada na vontade de atuar em comum, na escala internacional, para a resolugao de alguns assuntos de interesse regional ou global. Claro, nenhum Estado € forgado a adotar uma norma internacional ow a participar de um processo de expansao do direito internacional, cedendo seus espagos de competéncia interna. ‘Todavia, os Estados esto constan- temente submetidos a um conjunto de escolhas, a respeito das quais, para poder obter alguns beneficios juridicos, politicos, econémicos, ambientais ou outros, precisam ceder, cooperar, participar de uma regulacao juridica politica progres- sivamente mais internacionalizada. Devem praticar uma constante andlise do conjunto das opgdes negociaveis, das vantagens e desvantagens que apresentam a adogao ou nao adogao do conjunto das regras benéficas ou maléficas que caracte- rizam as negociagées realizadas para a formacao do sistema juridico internacional. O processo de globalizagao econémica é um dos grandes propulsores do aumento da internacionalizagao do direito, Para adaptar-se a intensifica- Gao das exportagies, & diversidade de mercados compradores e vendedo- res de produtos, houve a reducao de tributos, a uniformizacao de regras sobre seguranca sanitéria e ambiental, além da aproximagao de normas técnicas, como formato de embalagens, informagées obrigatérias nos rétulos, testes de seguranga, entre outros, conhecidos em direito interna~ cional como questées alfandegérias (tributos) e nao alfandegérias (sani- tarias, ambientais e técnicas). Tais temas, antes da competéncia interna de cada Estado, passam a ser da competéncia internacional, ndo apenas de uma tinica Organizagao Internacional, mas de diferentes foros. Em outras palavras, diferentes fontes internacionais produzem normas ut zadas pela maioria dos Estados. © mesmo ocorre em outros ramos do dircito internacional, como em direitos humanos, ambiental, contratual. 38 Esta passagem do nacional para o internacional opera-se por meio dos atos ou das abstengdes. Entre os atos, podemos situar os instrumentos juridicos interna- cionais, tais como 0s tratados. Um exemplo de abstencao € 0 siléncio de um Esta- do frente a interferéncia da comunidade internacional, num assunto que antes era tipicamente interno. A evolucao do direito internacional ocorre em diversas dreas. O proceso é favorecido, sobretudo, pelos avancos tecnolégicos, expansio do comércio inter- nacional, maiores facilidades de transporte, constituigao de empresas globais, rapidez com a qual a sociedade civil local ¢ internacional se organiza, constituigéo dos valores mundiais ¢ crescimento do processo de globalizacao financeira. Todas essas transformagées precisam de um quadro juridico mais homogéneo ou do desaparecimento de regulamenta¢ées nacionais heterogéneas ou restritivas demais. A incerteza juridica e a instabilidade politica e econdmica devem desaparecer ou, pelo menos, diminuir para que os valores emergentes possam consolidar-se. O sistema juridico necessita, num mundo globalizado, de um tratamento interna- cional para desenvolver-se. Todo esse processo de expansao do direito internacional implica uma atri- buigao progressiva das competéncias e das capacidades em fazer, implantar e controlar © direito. A atribuicao das ‘apacidades € um dos poderes inerentes a soberania. A soberania absoluta, como Grotius e Hobbes tinham previsto, nao existe mais, caso tenha existido. A soberania nacional vé seu dominio de aplicagao atual restringir-se 4 medida que os assuntos tratados anteriormente pelo direito nacional sao resolvidos pelo direito internacional e sao criadas novas fontes de direito e novos érgaos de execugao e de controle desse direito. O direito internacional avanca e recua no tempo, de acordo com a vontade, 0 jogo de forcas ede interesses entre os Estados ¢ os outros atores nao estatais. competéncias ¢ das Nem sempre se trata de um processo de autolimitagao voluntaria, como bem demonstrou Georg Jellinek, mas de um processo ligado ao jogo de forsas ¢ a im- posicao de regras pelas principais poténcias mundiais, atuando numa relagao de interdependéncia, Juridicamente, peto menos, os Estados continuam sendo iguais, apesar da defasagem entre instrumentos juridicos ¢ realidade politica. Portanto, € nessa 6tica juridica que vamos analisar o proceso de fortalecimento do direito internacional, apresentado mais como um ato voluntario de cooperagao, sabendo que as opgdes feitas pelos Estados sempre resultam da anidlise constante entre as opgoes possiveis ¢ desejavei aquele guiado pelos principios consolidados, mas ainda nao chegamos 4 identifi- cagao do novo”. Vivemos claramente em um momento de transicao. . O certo é que vivemos num periodo que jé nao é ‘° DELMAS-MARTY. Les forces imaginantes dit droit (Ill). La refondation des pouvoirs, op. cit, p.27. 39 1.1, Caracteristicas gerais Podemos identificar trés grandes principios gerais do direito dos tratado a) Consensualismo: fundamenta-se sobre a autonomia da vontade dos sujei- tos de direito internacional. Um tratado precisa de, ao menos, dois sujeitos de di- reito internacional (Estados ou Organizagées Internacionais) para existir. Os proprios sujeitos definem as caracteristicas do futuro tratado. Entre os elementos que devem sempre ser decididos, encontramos, por exemplo: que tema a ser abor- dado e a extensao do tratamento que se pretende dar a regulagao desse tema, no Ambito internacional; que Estados podem participar do futuro tratado; se havera a possibilidade de condicionar ou limitar 0 engajamento dos Estados, por meio de reservas ou declaragées interpretativas. b) Auséncia de hierarquia: nao ha hierarquia entre tratados. Cada fonte normativa, como 0s sistemas regionais de integracaio (Mercosul, Unido Europeia e quase outros duzentos sistemas regionais em todo 0 mundo), Organizagdes Internacionais ou diferentes conjuntos de Estados sem qualquer ligacao institu- cional preestabelecida, cria normas préprias que nao tém relacao hierarquica com outras normas existentes. A excegao a regra € 0 jus cogens, considerado uma espé- cie de norma obrigatéria a todos os Estados e que, portanto, se coloca acima dos demais tratados, por exemplo, a Carta da ONU. Contudo, vale ressaltar que a existéncia de regras de jus cogens ¢ questionada por diversos juristas, o que estu- daremos com maiores detalhes ao longo do livro. A Carta da ONU é taxativa sobre sua preponderdncia sobre os demais tratados: Art, 103. No caso de conilito entre as obrigagdes dos membros das Nacoes Unidas, em razao da presente Carta e as obrigacdes resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerdo as obrigagdes assumidas em virtude da presente Carta. c) Auséncia de formalismo: os tratados devem ser realizados por escrito. No entanto, nao existem procedimentos especificos, rigidos para a redagio dos tratados. Mesmo no sendo obrigat6rio, na maioria das vezes, o processo de elaboracdo dos tratados segue uma légica prépria, construida costumeiramente. O proprio tra- tado geral sobre o tema, a Convengao de Viena sobre 0 Direito dos Tratados, é uma consolidagao das normas costumeiras adotadas pelos Estados. Também nao ha uniformidade na nomenclatura dos tratados, como ex interno, por exemplo, onde a denominagao da norma (lei, decreto, portaria, reso- lucio etc.) implica o conhecimento prévio das instituigoes competentes para sua elaboragao, 0 quorum de aprovagao c sua hierarquia em relacao as demais normas, No direito internacional, a denominagao do tratado (convencao, protocolo, acor- do etc.) nao implica necessariamente saber sua origem, importancia ou quorum de aprovacao. iste nas normas do direito 40 © Centro Internacional de Solugao de Disputas sobre Investimentos, do Banco Mundial, no contencioso Construttoria $.p.A. v. Jordénia, definiu que mesmo acordos verbais podem ser considerados tratados, quando se consegue demonstrar que ha a intengao de impor regras juridicas entre as partes”, 1.2. Categorias e definicdes importantes O direito dos tratados tem uma série de conceitos operacionais com detiniges préprias que precisam ser apresentadas antes de entrarmos no tema propriamen- te dito. O dominio desses conceitos operacionais ird facilitar a compreensio de todos os pontos relativos a este capitulo. A primeira categoria importante € 0 tratado. £ comum encontrarmos a ex- pressdo tratados internacionais. A propria Constituigdo Federal usa a expressao repetidas vezes (art. 52, § 22; art. 109). A expressilo nao é incorreta, mas inapro- priada. Todo tratado € internacional. Tratado internacional é a priori um pleonas- mo. E mais apropriado usar apenas o termo tratado. Um Estado é parte em um tratado e nao parte de um tratado ou membro de um tratado, Utiliza-sea expresso membro para os Estados que participam de uma Organizacao Internacional, por exemplo. © Brasil é membro da Organizagao das ages Unidas, do Mercosul ¢ nao parte nas Nagées Unidas ou no Mercosul. O Brasil é parte na Convengao sobre a Diversidade Biolégica ¢ nao membro dessa convengao. 1.2.1. Definigdes comumente utilizadas A categoria tratado tem um conceito amplo. £ um género que aceita diversas espécies. As espécies mais comuns sio convengoes, acordos, convénios ou proto- colos, por exemplo, mas o direito internacional faz uso de diversas outras catego- rias diferentes, cada qual com um significado mais conhecido. De qualquer forma, percebe-se que nao se trata de uma classificacao rigida e, na pratica, écomum encontrar uma categoria com o sentido de outra. Vejamos os usos mais correntes para cada categoria de tratado"'; © Tratado: como espécie, é utilizado para tratados solenes, como nos tratados de paz, celebrados entre Estados. Exemplos: 0 Tratado de Paz de Versalhes, de 1919, que encerrou a Primeira Guerra Mundial; 0 Tra- tado de Paz entre a Jordania e Israel. * DAILIER, Ps FORTEAU, M.; PELLET. Droit international public. 8. ed. LGD], p. 135. °! MELLO, C. D. A. Curso de direito internacional ptiblico. 13. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 200-202. 4 © — Declaragao: é um tratado que cria principios gerais, mas nao gera com- promissos para 08 sujeitos de direito internacional. Exemplo: Declaragao do Rio de Janeiro sobre Florestas. * — Ato:é um tratado que cria regras de direito; nao produzem efeitos juri- dicos obrigatérios, mas apenas morais. © — Carta ou Pacto: pode ser tanto um tratado solene, que cria uma Orga- nizagao Internacional e define seus atributos, composicao, objetivos, como o faz a Carta da Organizacao das Nacées Unidas ou o Pacto das NacOes, que criou a Liga das NacGes, apés a Primeira Guerra Mundial, ou outros tratados importantes que estabelecem direitos e deveres para as partes, a exemplo da Carta Social Furopeia. © — Estatuto: também define os tratados que criam uma Organizagao In- ternacional, estabelecem suas normas gerais, os critérios de funciona- mento, similar aos estatutos que normatizam pessoas juridicas em di- reito interno, de onde se tira a origem do nome, Exemplo: Estatuto da Corte Internacional de Justiga. * — Acordo: muitas vezes, utiliza-se a expresso de forma genérica (acordo entre Estados), mas 0 uso mais comum em direito internacional é para tratados de cunho econémico, financeiro, comercial ou cultural. Exempk ‘osacordos constitutivos da Organizacio Mundial do Comércio, os Acordos de Renegociagao da Divida Externa com o Fundo Monetério Internacional. © — Concordata: tratados de cunho religioso, entre Estados ou mesmo entre Estados ea Santa Sé, cujos poderes de celebrar tratados sao mais restri- tos do que nos demais casos. * — Compromisso: tratado pelo qual os sujeitos de direito internacional aceitam submeter-se a uma arbitragem, © — Convénio: tratado em matéria cultural ou de transporte. © Contrato: tratado entre Estados, pelo qual um Estado se submete a lei de outro em determinado assunto. Estas mesmas categorias sao comumente encontradas no direito interno dos Estados, por exemplo,em dircito contratual, administrativo ou constitucional. No entanto, sao categorias com definigées distintas e ndo merecem ser confundidas. Contrato € acordo, por exemplo, sao categorias de direito privado, que nao guar- dam relacdo com as definigdes das mesmas categorias em direito internacional. No direito interno, um contrato é feito entre pessoas fisicas ou empresas, por exemplo. No direito internacional, é realizado entre sujeitos de direito internacio- nal, ou seja, entre Estados e Organizacoes Internacionais. ‘Também nao é apropriado falar em “tratados e convengGes internacionais” (CE, art. 5%, § 3%, e art. 84, VIII), “tratados, acordos” (CF, art. 49, I), porque con- vengoes e acordos internacionais so espécies de tratados, logo, jd estao subenten- didos no termo genérico tratado. 42 1.2.2, Categorias mais utilizadas: convengoes, protocolos e troca de notas e suas diferentes acepgées Alguns termos sao mais comumente encontrados no direito internacional, como convengées, protacolos ¢ trocas de notas, mas com diferentes acepgdes. a) Convengao ‘Tem carater mais amplo, cria normas gerais, Hé ainda a expresso conven¢ao- -quadro, que significa um tratado “guarda-chuva’, ainda mais geral, que depois ser regulamentado por outras convengdes um pouco menos gerais. As Convengoes sao reguladas por outros tratados mais especificos, como 0s protocolos, que real mente criam obrigagoes concretas para as partes. As convengdes nem sempre si0 obrigatérias, mas refletem um primeiro passo no processo de negociagao. Assim, a Agenda 21 € uma Convengao-Quadro, que prevé outras convengdes, Entre as Convengoes que regulamentam a Agenda 21, encontramos a Convengao sobre a Diversidade Biol6gica e a Convengao das Nagdes Unidas sobre Mudancas Climé- ticas, ambas adotadas no Rio de Janeiro, em 1992. A Convengao sobre a Diversi- dade Biolégica gerou obrigagdes mais concretas com 0 Protocolo de Cartagena, sobre 0 Comércio de Organismos Vivos Modificados (popularmente conhecidos por organismos transgénicos). A Convengio sobre as Mudancas Climéticas foi regulamentada pelo Protocolo de Kyoto. b) Protocolo E um tratado que regula outro tratado mais geral, como uma conyengao, ou que altera determinado ponto de um tratado anterior. De forma didatica, pode ser comparado a um decreto que regula uma lei, por exemplo. Neste sentido, apenas pode ratificar umn protocol quem ratificou o tratado mais genérico. Exem- plo: Protocolo de Cartagena sobre o Comércio de Organismos Vivos Modificados, que regulamenta a Convencao sobre a Diversidade Biolégica. A categoria protocolo é principalmente encontrada em uma das quatro situ- agoes: * Protocolo de assinatura: esclarece a interpretacdo das partes sobre termos do préprio tratado e cuja ratificagia ¢ operada junto com o tratado principal. © Protocolo opcional a um tratado: estabelece direitos adicionais, que podem estar vinculados a outras obrigacGes. Neste caso, cada parte ira avaliar se deseja comprometer-se, além do tratado principal. O docu- mento pode ser formulado concomitantemente ao tratado principal, mas sua ratificagao € independente. Ex: Protocolo Opcional ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Politicos, de 1966. * — Protocolo no contexto de uma Conven¢ao-Quadro: regulamenta as normas de uma convencao, com o objetivo de criar obrigagdes especi ficas. Ex.: enquanto a Convencao das Nagoes Unidas sobre as Mudancas 43 Climaticas indica a necessidade de encontrar mecanismos para reduzir © problema do aquecimento global, o Protocolo de Kyoto regula o me- canismo de desenvolvimento limpo. © Protocolo de emenda: altera determinados pontos do tratado principal, mas nao sua esséncia, Em portugués, a expressao mais correta seria Pro- tocolo que emendao tratado, masa tradicao juridica preferiu a traducao inapropriada. Ex. Protocolo de emenda ao Acordo TRIPS da OMC, sobre acesso a medicamentos em casos de doengas graves. ¢) Troca de notas As expresses troca de notas ou troca de cartas também guardam pluralida- de de usos. Em geral, sao tratados de natureza administrativa, que cuidam de procedimentos burocriticos adotados entre os dois Estados, normalmente inseri- dos no quadro de cooperagao internacional mais ampla. Além de denominar tratados administrativos, a categoria é comumente uti- lizada para identificar os instrumentos que marcam o processo de negociacao dos tratados bilaterais, tanto dos documentos intermediarios entre os Estados como da troca dos instrumentos de ratificagao. O termo ainda € bastante utilizado para referir-se a troca de correspondéncias entre embaixadas ou consulados, devida- mente assinadas e com 0 selo da representagao diplomatica. 12.3. “Gentlemen's agreement” e “modus vivendi" Outras duas categorias sao comumente encontradas nas negociagoes inter- nacionais, mas nao representam tratados propriamente ditos: gentlemen's agreement e modus vivenli, A primeira categoria, gentlemen's agreement (em inglés) ou arrangements (em francés), refere-se a acordos selados entre chefes de Estado ou entre outras pesso- as que ocupam cargos importantes no governo do Estado sobre determinado as- sunto. Nao consiste em um tratado propriamente dito, porque nao ¢ firmado pelo Estado em si, dado que internamente nao cumpre o rito previsto na Constituicgao, mas apenas foi firmado por alguém de relevancia politica interna, o suficiente para comprometer moralmente o Estado. F. Rezek distingue-o do tratado, em fungao de seus signatarios. Vejamos seu exemplo: Bem ilustra a Carta do Atlantico. As palavras iniciais sao as de um tratado. internacional tipico, na descrigao das partes: “O Presidente dos Estados Unidos ¢ 0 Primeiro Ministro Sr. Churchill, representando 0 Governo de Sua Majestade do Reino Unido, havendo-se reunido no mat De modo que a qualificagio da carta como gentlemen's agreement e, pois, como tm nao tratado, s6 € possivel depois da leitura integral do texto, ante a percepgao de que aquele acordo formal, lavrado por pessoas indis- cutivelmente representativas de suas personalidades de direito interna- cional piblico, nao se destinou a produzir efeitos juridicos, a estabelecer normas concretas ¢ cogentes para as partes, mas apenas a “dar a conhecer alguns dos principios comuns as politicas nacionais de seus paises, nos quais se baseiam as suas esperangas de um futuro melhor para.o mundo A segunda categoria, modus vivendi, representa um acordo temporario entre os Estados, com 0 objetivo de regular uma situagao especifica enquanto um tra- tado estd sendo negociado, evitando, assim, um potencial conflito. Trata-se, pois, de uma situagdo provis6ria para resolver um problema especifico, de forma tem- pordria, Nao ¢ ratificado pelo Estado, mas apenas estubelecidy até que um tratado real seja formulado, o qual passara pelos devidos processos legais de engajamento formal pelos 6rgios competentes. 1.3. Classificagao dos tratados As classificagdes mais titeis de ordem formal (forma do tratado) sao: ¢ em funcao do ntimero de partes: bilaterais (dois Estados) ou multilate- rais (mais de dois Estados); * a qualidade das partes: entre Estados ou entre Estados e Organizagées Internacionais; © ao procedimento de assungao do compromisso pelos Estados: exigibi- lidade ou nao de ratificagao para o engajamento definitivo dos Estados, ou seja, se 0 ato € suficiente para o comprometimento definitivo, Em relagao a sua natureza material (contetido do tratado), temos duas clas- sificagoes importantes, que geram efeitos concretos no direito nacional: * em funcao da natureza do tratado: contrato ou norma; + em fungao da matéria: direitos humanos ou tratados em geral. As classificagdes de ordem formal sio autoexplicativas. As classificagdes de ordem material, no entanto, carecem de melhor explicagao, porque geram efeitos ainda nao pacificos no direito brasileiro. Vejamos primeiro as repercussdes da caracterizagao de um tratado como contrato ou norma para, em seguida, discutir os efeitos em fungao da materia regulada. a) Tratados-norma e tratados-contrato ‘Tratados-norma criam regras de direito, em geral comuns as partes, sem uma contraprestagio especifica pelos Estados. Nao ha uma relagao de troca, mas a criagao de normas comuns, Em yeral, so Uelebrados entre diversos Estados. REZEK, Direito internacional puiblico. Sao Paulo: 45 ‘Tratados-contrato criam beneficios reciprocos, em geral de cunho econémi- coon financeiro. Seriam as regras negociadas entre Estados para a redugao recipro- ca de tributos ou a suspensio de barreiras nao alfandegirias em proporgdes equita- tivas, por exemplo. A classificago ganhou importancia no Brasil, a partir de uma decisdo do Supremo ‘Tribunal Federal, diferenciando os tratados-contrato dos tra- tados-norma. Apenas os tratados-contrato tinham 0 poder de revogar normas na~ cionais de natureza tributaria, pois se considerava a existéncia de hierarquia entre leis complementares e leis ordindrias, e apenas os tratados-contrato seriam suficien- tes para revogar leis complementares. A existéncia dessa classificagio justifica-se pela época em que foi criada, no inicio do século XIX, porque naquele periodo 0 direito internacional precisava consolidar-se. Havia a necessidade de demonstrar a possi- bilidade da criagao de normas juridicas obrigatorias fora das fronteiras do Estado. Coma consolidagio do direito internacional, a classificacao foi aos poucos perden- do sua importancia”. Essa classificagao caiu em desuso. Atualmente, se 0 tratado for internalizado, ainda que tratado-norma, ird revogar a norma tributéria que disponha de forma contréria, A classificag4o entre tratados-contrato ¢ tratados-norma nao conserva um significado relevante no direito contemporaneo. b) Tratados de direitos humanos c tratados em geral Outra classificagao que ganha mais destaque recentemente separa os tratados de direitos humanos dos demais. Muitos Estados consideram os tratados de direi- tos humanos como de importincia diferenciada, por vezes de hierarquia superior. © fundamento do destaque seria © sentido da norma, © tratado nao seria uma obrigacao em relagéo aos demais Estados, mas uma obrigagéo em relagao aos individuos de cada Estado, Diversas Cortes tém-se manifestado neste sentido (CEDH, CI). O Pare- cer consultivo da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) é exemplar: A Corte deve enfatizar, contudo, que os tratados modernos sobre direitos humanos, de modo geral e,em particular,a Convengao Americana, no so tratados multilaterais de formato tradicional, concluidos em fungdo de um intercimbio recfproco de direitos, para o beneficio muituo dos Estados contratantes. Seu objeto e seu fim sao a protecdo dos direitos fundamentais dos seres humanos, independentemente de sua nacionalidade, tanto diar te de seu proprio Estado como diante de outros Estados contratantes. Ao aprovar esses tratados sobre direitos humanos, os Estados submetem-se a uma ordem legal dentro da qual ek obrigagdes, no em rclagao com outros Estados, mas com individuos sob sua jurisdigio (CEDH, Parecer consultivo OC-2/82, de 24.09.1982). 5 pelo bem comum, assumem varias ® ” DINH; PELLET; DAILLER. Droit international public. Paris: LGDJ, 1999, p. 121-122. 46 Ha uma repercussao concreta no direito brasileiro, sobretudo apos a Emen- da Constitucional n. 45, de 2004, que incluiu o § 3° ao art. 5°, Prevé-se que, se um tratado for considerado de direitos humanos, ele pode ser submetido a procedi mento de aprovacdo similar a0 de emenda constitucional. Se aprovado com 0 quorum de emenda constitucional, tera forca de norma constitucional. Se nao for aprovado com esse quorum, ter forga de norma infraconstitucional. Assim, temos tratados de direitos humanos com forcga de norma constitucional e tratados de direitos humanos com forga de norma infraconstitucional. O valor normativo dos tratados de direitos humanos sera discutido no ponto especifico, a seguir. 47 HERMENEUTICA DE TRATADOS Os métodos de interpretacao de tratados sdo similares aos aplicados ao di- reito nacional. Uma diferenga importante refere-se as dificuldades de fazer incidir sobre 0 sentido do texto a evolucao cultural dos povos. As partes num tratado comprometem-se com 0 sentido dado as palavras em um determinado momento, sob determinado contexto semantico e cultural. Vejamos as modalidades de interpretagao de tratados, para depois estudar as, regras basicas validas para qualquer forma de interpreta 5.1. Modalidades de interpretacdo A interpretagao pode ser: a) auténtica: quando realizada pelos proprios Estados na divida ou com base na percepgao da vontade dos Estados a época da negociagao do tratado (principio da contemporaneidade); b) nao auténtica: quando operadas pelos tribunais. No direito internacional, a interpretagao auténtica ¢ importante, pois € operada de acordo com a vontade das partes 4 época da formulagao dos tratados ou ent4o manifestada pelos proprios Estados, em momento posterior. A vontade das partes a época da negociagao pode ser verificada pelos documentos de nego- ciagao, em suas declaragées durante a discussao e nas vers6es provisérias. O con- junto desses documentos é conhecido por travaux préparatoires (expressio fran- cesa para trabalhos preparatérios) e legitimam a interpretagao auténtica. A interpretagao de um tratado por uma Organizagio Internacional, em face de uma ctivida entre os Estados, pode exigir a aprovacao de um nt mero minimo de Estados-membros. Mesmo na Organizagao Mundial do Comércio, onde ha preponderancia do Organismo de Solugao de Contro- vérsias, as decisées sobre o GATT de 1994 apenas podem ser tomadas pela Conferéncia das partes, Nas palavras do Acordo Constitutive da OMC: Art. IX, 2. Incumbe exclusivamente 4 Conferéncia Ministerial e ao Con- selho Geral a adogio de interpretagdes do presente Acordo e dos acordos comerciais multilaterais. No caso da interpretagdo de um acordo comer cial multilateral que figure no Anexo I, essa competéncia seré exercida com base numa recomendagao do Conselho que supervisiona o funcio- namento desse acordo. A decisdo de adotar uma interpretagao sera toma- da por maioria de trés quartos dos Membros. A interpretagao nao auténtica é feita pelos juizes ou arbitros internacionais. (Os diversos rgaos de solucao de controvérsias existentes sav formas de inter pretayao nao auténtica do direito. A Corte Internacional de Justica, por exemplo, dispde em seu Estatuto sobre o direito de interpretar as fontes de direito internacional. Quando o texto do tratado é evidente, a Corte pode ignorar a interpretacao auténtica evocada 128 por uma das partes'®' e, na maioria dos casos, utiliza os travaux préparatoires apenas para confirmar uma interpretacao a que chegou pelos demais meios de interpretacao"””. Artigo 36 1. A competéncia da Corte estende-se a todos os litigios a que as partes a submetam e a todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nagdes Unidas ou nos tratados e convengoes vigentes. 2. Os Estados-partes neste presente Estatuto que aceitem a mesma obri- gagao, a jurisdicao da Corte em todas que tratem sobre: controvérsias de ordem juridica a) a interpretagao de um tratado; b) quatquer questao de diseity internacional ( Com a expansio do processo de institucionalizacao do direito internacional ea proliferacao de tribunais e de tratados, a interpretacao auténtica cede espaco a interpretacao nao auténtica na solugao de conflitos. Em outras palavras, as de- cisdes dos tribunais sao cada vez mais fundamentadas na interpretagao literal do texto do trarado em si, com seus usos mais correntes, nas praticas dos Estados e das Organizagdes Internacionais, mais do que em seus documentos preparatérios ou na propria manifestagao dos Estados envolvidos no conflito. 5.2. Regras basicas de interpretacao O processo de interpretagao de tratados segue algumas regras basicas, por exemplo: a) Deve-se observar o texto do tratado, mas interpretando-o de forma a che- gara um resultado que represente a vontade dos Estados em cumpri-lo de boa-fé. O exercicio de boa-fé depende de um juizo de razoabilidade. Considera-se razoavel o dircito decorrente de um tratado ou costume ou outra fonte de direito internacional, quando seu exercicio é apropriado ¢ necessario para se atingir a satisfagao dos interesses que o direito pretende proteger. Deve ser ao mesmo tem- po justo e equitativo para todas as partes ¢ nao pode ser interpretado de forma a garantir a uma das partes apenas uma vantagem injusta em relacao as obrigagdes assumidas. O exercicio nao razoavel de um direito deve ser considerado como incompativel ao principio da boa-fé e, portanto, como uma violagao ao tratado que gera o direito'*, *" CI]. Parecer consultivo sobre a competéncia da Assembleia Geral para a admissio de um Estado nas Nagdes Unidas. Decisdo de 03.03.1950. “© BROWNLIE, |. Principles of public international law, Oxford e NY: OUP, 2003, p. 636-637. "CHENG, B. General Principles of Law as applied by International Courts and Tribunals. Cambridge: CUP, 1994, p. 425. 199, b) Todas as palavras devem ser consideradas e ter um significado, assim como todas as frases'™. ‘As palavras devem ser compreendidas com o sentido que tinham na ocasiao da celebracao do tratado. O sentido das palavras, na ocasido da celebragao do tratado, é verificado a partir da andlise dos travaux préparatoires. c) O texto deve ser apreciado a luz do contexto e trazer beneficios para todas as partes. Na busca da melhor interpretagao, o tratado deve ser entendido de acordo com as expectativas legitimas das partes, de forma a pressupor-se que o tratado traz beneficios para todas elas, de forma equitativa. Ha uma forte relagao com 0 principio da boa-fé. As intengdes comuns nao podem ser deduzidas das expecta- tivas unilaterais de uma parte em relacao ao tratado. A interpretagao deve buscar um resultado benéfico para todas as partes no tratado'. Neste sentido, pode-se dizer que os tratados tém efeitos relativos, ou seja, quando as partes consideram que uma interpretagao do texto nao é mais adequa- da, podem decidir por dar uma nova interpretagao ao texto, d) Os tratados devem ser interpretados de forma a produzir um efeito util (ut res magis valeat quam pereat). Nao devem existir letras mortas em seu texto. Se uma parte do texto, de acordo com uma determinada ldgica de interpretacao, tornar-se sem efeito, de- ve-se mudar a légica de interpretagao para encontrar seu efeito util. No direito internacional econdmico, essa regra foi consolidada a partir de um contencioso emblematico, entre o Brasil e a Venezuela, contra os Estados Unides, No contencioso, discutia-se as restrigoes norte-ameri¢a~ nas a importagio de gasolina do Brasil ¢ da Venezuela, em fungao da quantidade de chumbo existente na gasolina. © fundamento juridico era a defesa ambiental. Um dos pontos juridicos centrais do problema era saber se a medida era necessiria para a protegdo dos recursos naturais esgotaveis. A regra geral de interpretagao de tratados indica que se deve primeiro verificar a validade do caput, para depois verificar a validade das alineas de um artigo. No caso concreto, a possibilidade de restrigao co- mercial para a defesa dos recursos naturais esgotaveis est na alinea g do art. XX, enquanto a obrigagao de ser uma medida necessdria esta no caput '% QSCIOMC. Contencioso entre a Guatemala e 0 México sobre a investigagao antidum- ping do cimento portland proveniente do México. Decisio de 02.11.1998 (WT/DS60/ ABIR). 1 QSC/OMC. Contencioso entre as Comunidades Europeias ¢ 05 Estados Unidos. Deci- so de 05.06.1998 (WT/DS/62/67/68/AB/R) © CPJI. Contencioso entre a Franga ¢ a Suica sobre as Zonas Francas da Haute-Savoie e do Pays de Gex. Decisao de 19.08.1929. 120 do mesmo artigo. Os Estados Unidos alegavam que a leitura do caput do art, XX do GATT antes das alineas significaria a anulacao da protecao ambiental, porque nao era possivel saber sea medida era necesséria, antes de saber se ela servia para proteger os recursos naturais esgotaveis. Com © objetivo de dar completo significado ¢ efeito no Ambito do tratado, 0 Orgao de Apelagao da OMC invertew a logica de interpretagdo tradicional em relagdo a esse artigo. Decidiu que, em controvérsias sobre excegaes a0 livre comércio, primeiro deve ser apreciado se as medidas aplicadas real- mente servem aos objetivos # que se propdem (ou seia, verificar as aline- as do artigo), para depois verificar se so ou nao barreiras disfargadas ao ‘comércio internacional (caput)! ) Deve-se presumir como um todo, cujas partes se completam, umas ligadas as outras de forma harménica, e nao como trechos sem conexao, independentes. O intérprete nao ¢ livre para realizar uma leitura que torne o conjunto das. clausulas ou pardgrafos de um tratado algo redundante ou iniitil. As cléusulas, os artigos eas partes devem ser lidos como wm conjunto, de forma a constituir um todo efetivo"™, como um conjunto inseparavel de direitos e obrigages"™. f) Regras especiais vigoram sobre regras gerais. Neste sentido, em conjuntos normatiyos amplos, como no ambito de uma Organizacéo Internacional, 08 acordos especiais prevalecem sobre os acordos gerais, em caso de eventuais conflitos. ) Em caso de diividas entre regras ambiguas (contra proferentem) em obri- gacdes contratuais, opta-se pela menos favoravel ao pais que redigiu a clausula, porque ele tinha a opgao de fazer de modo claro (principio do in dubio mitius). Em um contencioso entre os Estados Unidos ¢ a Unido Europeia, decidido pelo Orgao de Apelacdo da OMG, discutia-se a interpretagao de uma ex- pressiio do Acordo sobre Medidas Sanitarias e Fitossanitarias da OMC. A discusséo parecia simples, mas tinha consequéncias importantes para a solugio de um contencioso complexo. “medida com base em um acordo” significava que a medida era conforme ira necessario saber se a expressio OSC/OMC. Contencioso entre a Venezuela ¢ 0 Brasil contra os Estados Unidos. Deci- séo de 29.04.1996 (WT/DS2/AB/R). 1° CPJI. Parecer consultivo sobre a competéncia da OIT para decidir sobre a regulagao do trabalho agricola. Decisao de 12.05.1922, retomada por diversas outras decisdes como OSC/OMC. Contencioso entre a Coreia cas Comunidades Europeias sobre as medidas definitivas de salvaguarda sobre a importagdo de certos produtos Kécteos. Decisto do ‘Orgao de Apelagao, de 14.12.1999 (WT/DS98/AB/R)}. ‘* OSC/OMC. Contencioso entre a Argentina e as Comunidades Europeias sobre medi- das de salvaguarda sobre a importagao de calgados. Decisto do Orgio de Apelagao de 14.12.1999 (WT/DS121/AB/R). 131 © acordo (se 0 respeitava) ou simplesmente significava que era “fundada no acordo” (nao necessariamente concordando com o mesmo). A leitura sobre o principio in dubio mitius pelo Orgio de Apelagao ¢ interessante: O principio de interpretacao in dubio mitiusé um instrumento suplemen- tar de interpretacdo “amplamente reconhecido no direito internacional’, E € definido da seguinte maneira: “o principio in dubio mitius € aplicado na interpretacio de tratados, em deferéncia & soberania dos Estados. Se o significado do termo é ambiguo, é preciso privilegiar o sentido que for menos oneroso para a parte que assume uma obrigagaio ou que menos interfere na supremacia territorial ou pessoal da parte ou que imponha & parte menos restrigoes”"”. h) Nao é necessario interpretar o que nao precisa ser interpretado. Nao se pode afastar de um texto claro sob o pretexto de interpreté-lo. £ certo que com a proliferacao dos tribunais internacionais pode ocorrer divergéncia de interpretagdes sobre um mesmo tratado. Cada sistema de solugao de controvérsia de uma Organizagao Internacional ou sistema regional de inte- gracdo ird decidir 0 caso com base em sua prépria légica ou dando maior valor aos tratados do ambito daquela organizacao do que as demais normas internacio- nais, A expansio das fontes de direito internacional, assim como 0 aumento da complexidade do conjunto de normas e dos sistemas de solugao de controvérsias serao estudados no capitulo 9. ‘A Organizagio Mundial do Comercio tem sido criticada por ser excessi- vamente hermética aos tratados constituidos pelos membros fora de seu contexto, Chega-se a falar em uma hierarquia de fato entre as normas juridicas, em fungio do poder de sancao de cada sistema. Em outras pa- lavras, a OMC é considerada uma Organizagao Internacional mais forte do queas demais, em fungao de seu poder de autorizar retaliagdes comer- ciais. A critica fundamenta-se no fato da OMC apenas levar em conside- ragiio 0s tratados dos demais subsistemas juridicos internacionais sob sua prépria 6tica e ignorar os dispositivos que lhe sejam contrarios, ainda que is recentes, Portanto, se existir um conflito entre um dispositive jurt- dico da OMCe um de outro conjunto de tratados ou de outra Organiza- 40 Internacional, prevalece 0 da OMC. m: i) Se houver diversos tratados, com obrigagées diferentes, deve-se buscar a interpretacao que gere menos conflitos entre estes, conforme o principio da presungao de nao conflito'”’. OSC/OMG. Contencioso entre os Estados Unidos e as Comunidades Europeias. Deci- sao de 16.01.1998, pargrafos 165 a 168, em especial a nota 154 (WT/DS26/AB/R). "1 QSC/OMC. Contencioso entre as Comunidades Europeias ¢ diversos outros Estados 132 Deve-se tentar encontrar uma interpretagao que pressuponha a coeréncia do conjunto normativo. j) As limitagGes aos poderes soberanos devem ser interpretadas de forma restritiva, Mesmo que o principio da soberania absoluta dos Estados tenha sido mit ilido, sobretudo em questées gado recentemente por diversos tribunais, ainda é vé de fixagao de limites territoriais'”. k) Deve-se interpretar os tratados a favor dos paises em desenvolvimento. Em certos sistemas normativos, hé ainda a possibilidade de interpretagao dos tratados de forma a ajudar as paises em desenvolvimento ou de menor desenvol- vimento relativo. Diversos tratados em direito internacional econémico, como aqueles no contexto da Organizacao Mundial do Comercio fazem referéncia ex- pressa a uma interpretacao de duividas entre tratados de forma a escolher a mais fayoravel aos menos favorecidos, Em um contencioso entre a India ¢ os Estados Unidos, discutia-se se 0 tratado antidumping deveria ser interpretado com “um olhar especial” a favor da India, pelo fato de ser um pafs em desenvolvimento. A expressio “olhar especial” esta inclusive presente no texto do acordo antidumping. Tal forma de interpretagao favordvel aos paises em desenvolvimento foi levada em consideracéo quando da avaliagao da conformidade de medidas antidumping, no ambito do acordo antidumping, mas apenas restritiva a0 mesmo, nao sendo considerado ainda um principio geral da OMC"”. 1) Quando 0 texto é produzido em diversos idiomas, pode-se considerar: * — aversdo em um tinico idioma ou em certos idiomas como a auténtica; © todas as versoes auténticas e de igual valor; © todas as versdes auténticas, mas uma delas com privilégio para efeito de interpretagao. A Cotte Internacional de Justiga enfrentou recentemente o problema de decidir se o Estatuto da CI} deveria ser interpretado em sua versio em inglés ou em francés. Tratava-se de um contencioso entre os Estados Unidos e a Alemanha. © problema surgiu em funcao da tradu¢ao inglesa usar express6es que davam a entender a ndo obrigatoriedade das decisées da CI}. Em francés, as expressoes utilizadas eram mais fortes. Na teoria, sobre o regime de importacao de bananas — Bananas IIT. Decisio de 09.09.1997. (WT DS27/AB/R). "© BROWNLIE, op. cit, p. 636. 48 OSCIOMC. Contencioso entre 05 Estados Unidos e a India sobre medidas antidumping € medidas compensatérias sobre ago da India (WT/D$206/R). Decisdo de 28.06.2002, 133 68 dois idiomas eram auténticos e de igual valor, mas era necessério es- colher um deles para fundamentar a decisao. A Cl) finalmente decidiv. que a versio em francés deveria ser adotada, porque era anterior e refletia a vontade dos Estados quando elaboraram o texto", Ressalte-se que as traducées posteriores do tratado, reconhecidas pelos Esta- dos, sao chamadas de tradugées oficiais. Diferem das versdes auténticas, que sao 0s textos produzidos nos idiomas reconhecidos como tais pelos préprios negocia~ dores ¢ expressos no texto do tratado. Em solugoes de controvérsias, a interpreta- cdo usa como suporte a versdo auténtica ¢ ndo a versio oficial. O juiz ou érbitro internacional nao tem o poder de criar regras. Deve ape- nas interpretar as regras existentes. A Iégica predominante é um misto de direito continental com direito costumeiro (common law). No direito internacional, talvez com maior frequéncia do que no direito brasileiro, as interpretagdes das normas pelos instrumentos de solugao de controvérsias tsm um valor importante para a construgao do direito. Criam precedentes, que nao sio necessariamente imponiveis nos casos posteriores, como no direito anglo-saxao, mas os mecanismos de solugao de controvérsias respeitam com grande frequéncia as interpretagoes anteriores, sobretudo aquelas emanadas da mesma Organizagio Internacional. Mesmo se os precedentes sao frequentemente respeitados, percebe-se em alguns temas, como na protecao internacional dos direitos humanos, uma inter- pretacao evolutiva dos conceitos juridicos, conforme a evolugao social, algo cons- tante na jurisprudéncia da Corte Europeia de Direitos Humanos, por exemplo. esses tribunais, considera-se que os juizes internacionais tém o poder de adaptar ‘os termos genéricos dos tratados a evolugdo cultural dos povos. Na pratica, nota- -se uma tensao entre a expansio de valores liberais individualistas de um lado e valores religiosos ou coletivistas de outro. ATIRIIDADE EM TRE TRATADO: Dois tratados sao incompativeis quando tém dispositivos contrarios, vali- dos entre as mesmas partes, ao mesmo tempo. No direito interno, nao ha dificul- dades, Basta aplicar a piramide kelseniana, ou seja, as normas de hierarquia supe- rior prevalecem sobre as normas de hierarquia inferior; quando na mesma hierar- quia, prevalece a norma mais recente, € as normas mais especificas prevalecem sobre as normas mais genéricas. No direito internacional, utilizam-se regras se- melhantes, mas por vezes chegamos a situagdes em que simplesmente nao ha como escolher a norma valida, sendo que contextos politicos e nao juridicos irao deter- minar a sua aplicabilidade. De fato, 0 direito internacional tem limitagées logicas, 1 CI], Contencioso entre os Estados Unidos e a Alemanha sobre 0 caso LaGrand. Deci- sho de 27.06.2001. 134 em fungao de suas peculiaridades, como a auséncia de um érgio central suprana- cional. Vejamos em primeiro lugar a aplicagio tradicional da solugao de incom- patibilidades normativas no direito internacional para depois avaliar as situagoes sem solugao juridica. 6.1, Solugées encontradas para a incompat idade de tratados Rien est plus simple! Deve-se identificar primeiramente quais sujeitos de di reito internacional se comprometeram em virtude dos tratados, porque apenas aqueles que se engajaram definitivamente podem ser a cles submetidos. Imagine- mos os Estados India e China, em virtude de dois tratados incompativeis X e Y: a) sea India somente ratificou o tratada X ea China ratificou somente 0 tratado Y, nao ha incompatibilidades, porque sequer existe compromisso comum. entre os Estados India e China; b) se China e India ratificaram o tratado X, mas apenas um deles ratificou o tratado Y, nao ha incompatibilidade, porque o tnico tratado em comum é X. 0 tratada Y nao é imponivel ao outro Estado que nao o ratificou; c) se China e India ratificaram os dois tratados, entio havera incompatibili- dade, porque cada um dos tratados ser4 imponivel aos dois Estados. © problema ¢ resolvido com duas anilises: a primeira refere-se aos tratados de jus cogens. A segunda, & aplicagéo do tratado mais recente. Se o tratado é de jus cogens (¢ 0s Estados aceitam a existéncia de jus cogens), considera-se que prepondera sobre o outro tratado, ainda que este seja mais recente, Os tratados podem inclusive trazer dispositivos especificos, explicitando a nao aplicagao de outros tratados posteriores como, por exemplo, faz.a Carta da ONU. Podem também trazer a obrigatoriedade de interpretagao de qualquer tratado posterior conforme seu texto, a exemplo do Pacto da Sociedade das Nagées {art. 21), que consolidava a doutrina Monroe. A doutrina defendida pelo Presidente dos Estados Unidos James Monroe pregava que ndo se deveria mais criar colénias na América Latina e que se deveria respeitar o principio da nao ingeréncia nos assuntos internos dos Estados, principio que foi consolidado pelo Pacto das Nacdes. © objetivo era afastar a interferéncia europeia da evolugao politica latino-americana, © que contribuiu para o aumento da propria influéncia norte- -americana sobre o continente. Se nao for um tratado de jus cogens, nao ha hierarquia. Nao importa se é um tratado especifico em relagao a um tratado geral, como um protocolo que pode contrariar uma convencao-quadro, no qual est4 inserido. O que importa é 0 ulti- mo compromisso formal, assumido pelos Estados (art. 30 da Convencao de Viena). A Comissio de Direito Internacional considera que tratados multilaterais, sobretudo aqueles amplamente aceitos, com dezenas de partes, so superiores aos tratados bilaterais. Nao ¢ tao Gbvio assim. Um tratado multilateral pode ter vinte 135 ou duzentas partes e nao trazer dispositivos cogentes, porque ¢ mais comum en- contrarmos soft norms multilaterais do que tratados contendo obrigagoes solidas com a mesma quantidade de partes. Nao ha indicios na pratica ou jurisprudéncia que indiquem que o mimero de partes a um tratado seja suficiente para resolver eventuais problemas de incompatibilidades. 6.2. Solugées nao encontradas pelo direito internacional O direito internacional caminha por um processo de expansio muito forte. Alguns autores identificam um actimulo de légicas distintas, ou seja, em lugar de resolver determinados problemas de falta de cocréncia sistémica, agrava esses problemas com conjuntos normativos autonomos, que se expandes cou logicas proprias, contrérias a outros conjuntos normativos auténomos. Isso ocorre prin- cipalmente entre alguns ramos do dieito internacional, como o direito interna- cional econémico eo direito internacional ambiental, por exemplo, ou entre estes © o diteito internacional humanitario. Nesse contexto, percebe-se que os mesmos Estados continuam a produzir tratados multilaterais, que ndo sao de jus cogens, mas cujos contetidos so incompativeis entre si. Outros consideram que nao ha incoeréncias importantes e que as diferen ga: parte de um processo de construgdo de um direito comum, que caminha de forma independente nos diferentes ramos do direito, com diferentes velocidades, e tais in- coeréncias serao naturalmente resolvidas com 0 amadurecimento do conjunto. Isso decorre da expansao dos ramos do direito internacional de forma auténoma em relagao aos demais. Entre as Organizagoes Internacionais existe certamente 0 sentimento da necessidade de estahelecer coeréncia entre os diferentes tratados, buscando interpretagdes consensuais, mais isso nem sempre é possivel. Ao contré- rio do direito interno, o direito internacional nao é nico, mas plural, fragmentado. Entretanto, o direito aplicado em um 6rgio de solugao de controvérsias pode set diferente daquele aplicado em outro. Nesse caso seria possivel, por exemplo, que, em fungio de um contencioso especifico, um Estado ingressasse em uma determinada Corte vinculada a uma Organizagao Internacional, sabendo que o direito nesse contexto normativo lhe serd favordvel, enquanto 0 outro Estado re- correria a outro tribunal, em outro sistema normativo, procurando uma decisio distinta, que lhe fosse favordvel. A solugio para este conflito hipotético, como veremos, tem sido mais politica do que juridica. A falta de coeréncia entre os di- versos conjuntos normativos fere a propria nogdo de sistema juridico internacio- nal. Na pratica caminhamos njo para um sistema, mas para varios subsistemas juridicos internacionais com grande autonomia. Uma situacao concreta ¢ representada pelo conflito entre o Chileea Uniao Europeia, em relagao & pesca do peixe-espada, a respeito da qual a Unido Europeia pediu, em abril de 2000, a abertura de um painel contra o Chi- 136 le perante o Orgao de Solugo de Controvérsias da OMC'" ¢, em dezem- bro do mesmo ano, o Chile pediu também a solugdo do mesmo contflito diante do Tribunal Internacional do Direito do Mar (ITLOS)*, A apre+ sentagao do conflito diante do ITLOS demonstra que a incoeréncia do direito internacional pode ser usada pelas partes, em funcao de seus in- teresses particulares. Os dois processos progrediram em paralelo, mas em marco de 2001, as partes firmaram um acordo e pediram o fim dos pro- cessos a0 ITLOS ¢ a0 OSC. Embora esses casos nao tenham resultado numa solucao elaborada pelos juizes, os dois pareceres poderiam estar em contradigaa, em razao das diferencas de prioridade dadas as normas do direito do mar ¢ do dircito internacional econémico, por parte do Tribu- nal do Direito do Mar e do OSC. 7. MODIFICACAO DOS TRATADOS Os tratados sao modificados por vontade das partes. A manifestacao da vontade pode ser expressa ou tacita. Serd expressa quando as partes redigirem outro tratado, contrario ao anterior, revogando-o de forma clara, afirmando que, a partir da entrada em vigor do novo tratado, os dispositives do tratado anterior nao sio mais aplicaveis. Exige a manifestacao favoravel de um ntimero suficiente de Estados ou Organizagées Internacionais. Quando for 0 caso, sera determinada acada tratado e, portanto, nao pode ser feita unilateralmente. A modificagéo tici- ta ocorre pela produgao de um tratado ou costume contrario ao tratado anterior. 7.1. Modi A modificagao expressa do tratado pode ser feita por meio de um novo tra- tado, que altera completamente o anterior (revisio do tratado) ou por um trata- do que apenas altera uma parte do texto antes consensual (emenda ao tratado), Em qualquer caso, ha um novo tratado. Esse novo tratado nao precisa seguir os mesmos tramites do primeiro. Pode-se adotar um procedimento simplificado, ao menos no plano internacional, No plano nacional, cada Estado ira decidir se ¢ ou nao necessrio um tramite similar ao do tratado antigo como, por exemplo, se é ou nao necessria a aprovacao do Parlamento. O Protocole de emenda é 0 meca- nismo utilizado para alterar pontos especificos do tratado anterior. agéio expressa Outra hipotese que merece ser lembrada é a formulagao de uma declaragio, documento internacional que apenas explica o significado de um tratado ou de parte de um tratado anterior. "8 OSC/OMC. Contencioso entre o Chile ¢ as Comunidades Europeias sobre as medidas relativas ao transporte em Lrdnsito e a importagao de peixes-espada (WT/DS193). | PTLOS, Contencioso entre o Chile as Comunidades Europeias sobre a conservagao € a exploracio sustentavel dos estoques de peixe-espada, no Sudeste do Oceano Pacifico. Neste sentido, a decisao 2001/1 do Tribunal ¢ interessante. 137 O Acordo TRIPS da OMC trouxe discussdes sobre a possibilidade de atuagio dos Estados sobre dircitos de propriedade intelectual, em caso de urgéncia, na érea da satide piblica. 1. Havia diivida sobre a possibilidade de cone sbrias nessas situagGes. Os Estados adaptadores de tecnologia desejavam. poder conceder licengas compulsérias. Os Estados inovadores pretendiam proteger os interesses de suas empresas farmacéuticas, limitando as pos- sibilidades das licengas compulsérias. o de licengas compul- 2. Havia uma certeza sobre a impossibilidade de exportagao de produtos que tinham sido objeto de licengas compuls6rias para outros Estados que também tivessem concedido essa licenga. Os Estados mais pobres, sobre- tudo os africanos, devastados pela AIDS, desejavam poder importar medicamentos de outros Estados onde estes eram produzidos a pregos mais acessiveis. Para solucionar o primeiro problema, foi aprovada na Conferéncia Inter- ministerial de Doha uma Declaragao que reconhece o direito dos Estados de outorgar licencas compulsérias, Para o segundo, foi adotado um Pro- tocolo que Emenda o Acordo TRIPS, criando o dircito de exportar me- dicamentos licenciados a outros Estados. Uma vez consolidado 0 direito do Estado, o Brasil decretou a licenga compulséria do medicamento Efavirenz, contra a AIDS. 7.2. Modificagdo tacita A modificagao tacita ocorre em duas situagdes: © quando as partes fazem um novo tratado, contrério ao anterior, mas sem referéncia expressa a estes © — quando a pratica continua dos sujeitos de direito internacional em de- sencontro ao texto acordado gera um costume internacional. No direito internacional, os costumes podem revogar normas. O mesmo ocorre de forma menos evidente no direito doméstico. Os costumes sero estuda- dos no prdximo capitulo. Jean Combacau e Serge Sur fazem uma distingao entre o costume inter- nacional (uma fonte de direito) e a pritica da comunidade internacional como um todo em accitar determinada situagao que modifica um tratado. ‘Adiferenga estaria no tempo necessério ena natureza da aceitagao. Assim, a sucessdo da URSS pela Rtissia no Conselho de Seguranga da ONU nao foi questiomada por Estado algum, o suficiente para a alteragdo da Carta daONU'’, COMBACAU e SUR, op. cit., p. 140-141. 138 Nos tratados multilaterais, é comum encontrar procedimentos predeterminados para sua alteragao, O principal ponto debatido sobre a questao trata do quorum necessario para aprovagao da modificacao e, uma vez alterado 0 texto, como ficam as partes contrarias a essa aprovagao. Em relagdo ao quorum para aprovacao, nao ha uma regra geral. Certos trata- dos, cada vez mais raros, exigem 0 consenso entre as partes. A regra mais comum, no entanto, é a exigéncia de quorum de dois tercos do total das partes para alterar 0 tratado, Ha ainda casos nos quais, além de uma maioria simples ou qualificada, éimportante ter os votos favoraveis de determinados Estados mais relevantes para aquele tema, como na ONU, em que Estados Unidos, Reino Unido, Franga, China e Ruissia, membros permanentes do Conselho de Seguranga, tém o poder de veto sobre qualquer decisio. ‘A Convengao contra a pratica da tortura, de 1984, por exemplo, exige apenas a maioria simples para sua alteracao. A Carta da ONU, em seus artigos 108 ¢ 109, também exige a maioria simples, desde que nessa maio- ria estejam os votos dos membros permanentes do Conselho de Seguran- ¢a. A Convengao de Montego Bay sobre o Direito do Mar exige 0 consen- so entre as partes. Em outros tratados, certos Estados detém um status privilegiado e podem alterar 0 tratado sem o consentimento de todos os Estados ou mesmo da maioria qualificada. No tratado da Antértica, por exemplo, os doze Esta~ dos fundadores do tratado, ou seja, Reino Unido, Africa do Sul, Bélgica, Japao, Estados Unidos, Noruega, Franca, Nova Zelindia, Russia, Argenti- na, Austrélia, Chile podem modificar seu texto por unanimidade. Os demais Estados devem concordar com o novo tratado ou retirar-se dele. Alguns tratados sao criados com textos provisérios, como etapa de um pro- cesso continuo de negociagoes. As diferentes vers6es do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) sao um bom exemplo. Quando a Organizagdo Internacional do Comércio nao prosperou, os Estados resolveram criar foruns consecutivos de negociagdes comerciais para a reducao dos obsticulos ao comércio internacional. O objetivo era aumentar © comércio para assim criar maior interdependéncia entre as nacGes € promover a paz. Seguia-se de certo modo o espirito da obra “paz perpétua”, escrita por Kant, onde a paz seria atingida, entre outros fatores, quando destruir o outro significasse destruir a si proprio. O GATT foi construido em di- ferentes rodadas de negociagaio, que marcam 0 proceso de liberalizacdo gradual do comércio internacional. A cada rodada de negociaoes, os Estados avangam em concessdes comerciais mutuas sobre diferentes temas. O acordo jé é realizado com 0 intuito de possibilitar concessdes futuras na rodada seguinte. Logo, a alteragao posterior do tratado ¢ inclusive esperada pelos Estados como parte da evolugao do regime internacional de negociagées. 139 8. EXTINCAO DOS TRATADOS Podemos identificar diferentes situagdes que levam a extingao dos tratados: © execugio integral; © consentimento miituo; © terme final; © — superveniéncia de condicao resolutéria; ¢ — renuncia do beneficiario; © — caducidade ou desuso; © — conflitos armados; © — fato de terceiro; ¢ — impossibilidade de execugao; © ruptura das relacdes diplomaticas ¢ consulares; * inexecugao por uma das partes; © deniincia unilateral; * — mudanga substancial de circunstancias; © norma superior de jus cogens. Execugao integral: o tratado prevé a realizacao de um determinado ato, que éatendido pelos Estados. O tratado chega a seu fim com sucesso. Ex.: um tratado para a construgéo de uma barragem entre os Estados, sendo a obra finalizada conforme o previsto. Consentimento mutuo: os Estados acordam um novo tratado, reconhecen- do o fim do anterior ou dispondo de forma distinta sobre todos os pontos regu- lados pelo tratado anterior (arts. 54 ¢ 57 da CV). ‘Termo final: 0 tratado tem um prazo de vigéncia predeterminado, que expi- ra, Ex.: 0 tratado entre a China ¢ 0 Reino Unido sobre a administragéo de Hong Kong ou entre a China e Portugal sobre Macau. Superveniéncia de condicao resolutéria: o tratado prevé sua extingdo com a ocorréncia de determinado evento, ¢ este finalmente ocorre. Renuncia do beneficiario: o tratado é realizado para beneficiar um determi- nado Estado, que nao mais deseja receber o beneficio. Caducidade ou desuso: a pratica determinada pelo tratado é abandonada pelas partes. Conflitos armados: os tratados em vigor entre si deixam de ser exigiveis, conforme o principio inter arma silent leges, quando as partes de um tratado entram em conflito armado. Suas obrigacées em tratados multilaterais s4o suspensas. E claro que os Estados precisam estar em guerra um contra 0 outro; os tratados firmados por Estados aliados continuam em vigor. Os tratados de protecao aos direitos humanos na guerra e na paz, como a propria Carta da ONU, permanecem em pleno vigor (art. 63 CV). 140 Em 1856, a Franca, a Gra-Bretanha ¢ a Russia firmaram um tratado esti- pulando que as [Ihas de Aland estariam sob 0 dominio russo, mas seria uma regido desmilitarizada, Durante a Primeira Guerra Mundial, enquan- to estiveram no conflito, os russos construiram fortificagoes na ilha. Quando 0 conflito acabou, a Finkindia foi reconhecida como Estado, incorporando as Ithas de Aland, mas a Suécia solicitou a destruigao das instalagdes militares. O problema foi objeto de uma Comissio Arbitral ‘ados. Finalmente, reconheceu-se que 0 tratado de 1856 nunca deixou de estar em vigor, porque os Estados-partes eram aliados na guerra. Como a Finlandia era um Estado novo, seu reconhecimento ficou condicionado ao cumprimento dos tratados anteriores, entre os quais aquele que pre lade das has de Aland. entre os dois Fato de terceiro: suficiente para extinguir um tratado quando torna impos- sivel a sua continuidade. No entanto, a impossibilidade nao decorre de um fato natural, mas por culpa de um outro Estado. Impossibilidade de execugao: ocorre de forma similar em casos de forg maior, como a destruigdo ou desaparecimento do objeto do tratado, a exemplo do tratado que tinha como objeto manter uma ponte que ligava dois Estados ¢ a ponte foi destruida, ou regular a navegacao de um rio transfronteirigo ¢ 0 rio secou (art. 61 CV). Ruptura de relacées diplomaticas e consulares: também pode dar origem a ruptura dos tratados em vigor, mas apenas quando sejam imprescindiveis para a realizagao do tratado. Um tratado que preveja a protesao aos diplomatas de outro Estado nao deve ser considerado revogado quando ha ruptura das relacées diplo- maticas, mesmo porque é justamente quando isso ocorre que o respeito aos di- plomatas se faz mais necessario, para impedir que sejam agredidos quando estao retirando-se do territério'”. Inexecugao por uma das partes: ocorre em tratados comutativos, em que 0 nao cumprimento de uma das partes gera desproporgao entre os compromissos assumnidos, desobrigandoa outra parte a realizar sua parte do tratado. Equipara-se a clausula exceptio non adimplenti contractus e nao pode ser invocada em tratados com 0 objetivo de assegurar a protecao internacional da pessoa humana (art. 60 CV). Havendo faltas reciprocas, uma parte justificando a auséncia da outra, ndo se deve pressupor a extineao do tratado. tema foi apreciado com cuidado pela Corte Internacional de Justiga no contencioso entre a Hungria e a Esloviquia sobre a obrigagao de terminar "8 Comissao de juristas da Sociedade das Nades. Contencioso entre a Suécia e a Finlan- dia sobre as Ihas de Aland. Decisao de 05.09.1920. ‘© CIJ. Contencioso entre os Estados Unidos ¢ o Ira sobre o pessoal diplomatico ¢ consu- ar dos Estados Unidos em Tera. Decisao de 24.05.1980. 141 a construgao de um conjunto de barragens no Dantibio, estabelecida por um tratado. Mesmo se os dois Estados houvessem praticado diversos atos contrarios a boa execugao do tratado, como a falta era reciproca, 2 Corte decidiu que: “os comportamentos ilicitos reciprocos das partes no extin- guiram o tratado nem justificam que ele seja extinto. A Corte estabeleceria uum precedente 20s efeitos perturbadores para as relages convencionais e a integridade da regra pacta sunt servanda se concluisse que um tratado em vigor entre Estados pode ser extinto, em fungao de faltas reciprocas?™" Dentincia unilateral: ocorre quando uma das partes sai do tratado, que ndo mais sobrevive com a(s) parte(s) restante(s). A deniincia pode ser expressa, com a manifestacao de vontade da parte, ou tacita, com a assinatura de um tratado posterior, contrario ao texto do tratado em vigor (arts. 54, b, ¢ 59, 2 CV). A pos- sibilidade de denuincia ao tratado é em geral expressa neste. Quando nao esta expressa, pode-se deduzi-la da linguagem utilizada, mas nesse caso deve-se fazer a deniincia com um prazo razoavel, dando as demais partes tempo para se adap- tarem a nova situagao. De qualquer modo, em caso de diivida, presume-se que 0 tratado nao é denuncidvel. Certos tratados nao admitem deniincia, por exemplo, tratados de estabelecimento de limites territoriais entre Estados, tratados de paz, tratados multilaterais obrigatérios (jus cogens), como a Convengao Internacional sobre 0 Direito do Mar ou de protecao aos direitos humanos. A demincia unilateral pode ser feita quando a parte assim o prevé ou no si- Iéncio do tratado, quando aquela pode ser deduzida da intengio das partes (art. 56 da CV). Exige-se um preaviso de pelo menos doze meses, exceto se 0 tratado dispuser de forma diferente. Deve-se ressaltar, no entanto, que o tratado é funda- do sobre o principio do pacta sunt servanda e que a retirada unilateral de um Es- tado pode causar danos ao outro, gerando responsabilidade internacional. Diversos tratados preveem a dentincia das partes, Os exemplos sao muitos: em 1979, o [ra denunciou o tratado bilateral de 1955 com os EUA; em 1979, o Iraque denunciou um tratado de 1975 com o Ira. A Hungria de- nunciou o tratado com a Eslovaquia, a propésito da constragao de um complexo de barragens no Damtibio, que deu origem a um contencioso perante a Corte Internacional de Justiga. A Hungria alegava o estado de necessidade, em virtude de diversos elementos, inclusive o principio da precaugdo, que ndo foi aceito pela CI como vilido para romper um iratado, gerando a responsabilidade da Hungria pela falta de motivos validos para a dentincia unilateral! 82 CH, Contencioso entre a Hungria e a Eslovaquia sobre o Projeto Gabcikovo-Nagyma- ros. Decisao de 03.02.1994. "= CI]. Parecer consultivo sobre a Interpretagao de tratados de paz concluidos com a Bul- garia, Hungria e Roménia, segunda fase, Decisdo de 30.03.1950. 142 A dentincia unilateral segue 0 mesmo procedimento dos vicios do consenti- mento, ou seja, a parte que se retira do tratado notifica todos os demais sobre suas intengdes € seus motivos. Os demais Estados tém um prazo de trés meses para manifestar-se, a partir do qual o vinculo juridico entre o Estado notificante e os demais em relacao ao tratado denunciado considera-se rompido definitivamente. No Brasil, a dentincia pode ser feita pelo Executivo, sem a participagao do Le- gislativo ou vice-versa, Trata-se de um tema que gera discussdes desde o inicio do século passado, em virtude do proprio texto constitucional, Na Constituicao, encontramos a competéncia privativa do Poder Legislativo de “decidir definitiva- mente sobre tratados”. Logo, teria a competéncia tanto de ratificar os tratados quanto de denuncia-los. No entanto, concordamos com Rezek que 0 compromisso com um tratado pode ser desfeito por qualquer um dos poderes competentes para estabelecé-lo. O comprometimento do Estado em relagao a um tratado € feito por ato complexo, que envolve a participacao do Executivo e do Legislativo e apenas se mantém em vigor pelo interesse de ambos. O comprometimento do Estado pode ser desfei- to por quem tem competéncia em fazé-lo. Tanto 0 Executivo quanto o Legisla- tivo podem denunciar um tratado, independentemente do outro Poder. A te- oria majoritéria considera que o Legislativo apenas pode denunciar um tratado com a concordancia do Executivo. Contudo, nada impede que 0 Congreso Nacional promulgue outro decreto legislativo, revogando o anterior, o que tem como consequéncia a propria demtincia ao tratado. Nada impede também que se proponha uma lei ordindria que revogue o tratado ¢ derrube o eventual veto presidencial, havendo discordancia do Executivo. Nessa légica de raciocinio, 0 tratado poderia ser denunciado: a) por uma lei posterior que faca remissao expressa ao tratado, com a parti- cipacao dos dois poderes, um para aprova-la ¢ outro para sancioné-la; b) por lei posterior, que faga remissdo expressa ao tratado, aprovada pelo Le- gislativo, vetada pelo Executivo, mas com 0 veto derrubado no Congreso Nacional; ©) por um decreto legislativo, revogando o ato que autorizou a ratificagao do tratado; d) por um decreto do Poder Executivo, revogando 0 tratado (situa¢gdo mais comum). Poderiamos questionar ainda a possibilidade de demuncia pelo Poder Legis- lativo de um acordo executivo, ou seja, um tratado no qual ndo teve participagao. Mesmo os acordos executives podem ser denunciados pelo Legislative por sua propria natureza de tratado simplificado, que apenas nao passam pela aprovacao do Legislativo para dar celeridade ao proceso, Uma vez que pode denunciar tra~ tados mais complexos, nada o impede de denunciar tratados simplificados. Mudanga substancial de circunstancias, pela aplicagao da clausula rebus sic stantibus. Com a mudanga do contexto internacional, o Estado alega a 143 impossibilidade de dar continuidade a um tratado, por considerd-lo nao mais equitativo entre as partes. A mudanga substancial das circunstancias exige a superveniéncia de fatos imprevistos, que mudem elementos substanciais rela~ cionados ao cumprimente do tratado, diferentes daqueles existentes a época do engajamento dos Estados. Nao pode ser alegada quando o tratado regula os limites territoriais entre os Estados ou quando a mudanga fundamental de cir- cunstincias acorre em violacao pela parte que a invoca, seja de um tratado, seja de qualquer outra obrigacao internacional, ‘A Franga alegou esse motivo, em 1966, para retirar-se da OTAN3 a Ruissia também o fez quando desejou renegociar o status juridico de Berlim, entre 1959-1961 (art. 62 CV). De forma analégica,a mudanga substancial de circunstancias pode ser também causa de suspensio das obrigagées derivadas de um tratado, Em direito interna- cional econémico, por exemplo, quando ha um aumento subito das importagoes de um produto, provenientes de um Estado com o qual se mantém um acordo bilateral de comércio, de forma a prejudicar gravemente as indtistrias nacionai podem ser suspensos os efeitos do tratado durante um periodo de tempo deter- minado com medidas de salvaguarda. Estas, em geral, constituem maiores impos- tos de importa ganhem competitividade. Neste caso, é preciso prever compensa: acordo com os Estados atingidos; em geral, melhores condigdes de comércio para e buscam garantir um tempo para que as indiistrias nacionais es em comum, outros produtos. Norma superior de jus cogens: sua violagdo ou superveniéncia também podem dar origem a extingio do compromisso. A adogao de um tratado posterior pela grande maioria da comunidade internacional, de carater obrigatério, ¢ con trario ao texto do tratado em vigor é suticiente para torné-lo sem efeito, quando se reconhece a existéncia de normas de jus cogens (art. 64 CV). Por analogia, uma norma de jus cogens nao pode ser revogada pelos Estados. O tema foi desenvolvido pelo ‘Tribunal Penal Internacional sobre a Ex- -lugoslavia, onde a existéncia de um conjunto normativo de jus cogers & bastante aceito, sendo o fundamento juridico de muitas condenagées efetuadas. Discutia-se se 0s Estados envolvidos na guerra estavam vincu- lados aos tratados sobre a proibigao da tortura e do genocidio. O tribunal estipulou que tais tratados, aceitos pela grande maioria dos Estados, eam normas obrigatérias, as quais nenhum Estado, novo ou consolidado, poderia deixar de observar™”. "2 'PPI-Ex. Procurador contra Delalic e outro. Decisao da Camara de primeira instancia, de 16.11.1998, 144 Segue um resumo de visualizagao répida, que somente tem utilidade apés 0 estudo atento do capitulo. Selecionamos os pontos principais: ‘+ Tratado é um acordo internacional conelufo por escrito entre Estados ou entre. Estados ¢ Organizagdes Intertiaciontis, regido pelo Direito Internacional, quer conste de uum instrumento tnic6,: de dois 6u mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denomibniagdo espectfica. Q tratado fundamenta-se ho comsentimento das partes, Podem ser Estados ¢ Organizacoes Internacionais. O consentimente definitive ocorre com a ratificagao. Carta de plenos poderes ¢ 0 documento pelo qual o Estado ou a Organiizagio ~ Internacional concede poderes de representacio ao chefe da miso diplomatica paradeierminada negociagao. O tratado tem, via de regra, trés partes: preambulo, dispositive e anexos. Ao-con- tratio do dispositive e dos anexos, o preambulo nao gera compromissos as partes, A assinatura do tratado ¢ 0 ato emanado do representante do Estado, concordan- do com seu contetido. As consequéncias da assinatura sao; auténticar o texto do tratado, que se torsia imutdvel a partir de entao; reafirmar que-os negociadores estao de acordo' tom 6 texto do tratado; iniciar a contagem dos prazos para a troca ou depésito dos insttumentos de ratificasao; gerar a obrigacdo de ndo fazer. atos que afetem substanciainiente o valor do instrumento assinad’ou frustrem sua aplicaco; produzir.um ato politico; que indica que o Estado estaré engajando- -se em determinado tema, que aceita 2s normas costumeifas presentes no docu- mento. A tatificagao €-0 ato formal do Estado pelo qual indica seul ‘epctitinento em submetér-se a détermitiado tratado. O Poder Legislative autoriza'a ratificagao por meio do Decreto Legislative. O Poder Executivo ratifica o tiatado, porque é 0 tthico com competéncia constitucional para representar o Estado interniacional- mente, . . A adesio ocorre quando 6 tratado jé foi negociado e assinado e suas partes per- item que outros sujeitos o ratifiquem diretamente, No Brasil, os tratados de direitos humanos, aps a Emenda Constitucional n, 45, de 2004, podem ter forga de norma constitucional, No entanto, se nao foren aprovados com o procedimento de emenda constitucional, tém forga de norma infraconstitu- cional. Nas Organizagées Internacionais a assinatura é suficiente para o engajamento definitivo. A reserva € uma declaracao unilateral, feita por um sujeito de direito internacio- nal ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado ou a ele adetir, com 0 ob- jetivo de excluir ou modificar 9 cfcito juridieo, de certas dispasigges do tratado em sua aplicacdo nesse Estado-ou Organizacao Internacional, * Os sujeitos de direito internacional contrdrius 4 reserva podem formular seu dissentimento por uma objecio, alegando uma:das situagdes acima descritas. 145 sail af 146

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