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COGNIGAO SOCIAL: FUNDAMENTOS, FORMULACOES ACTUAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS! Margarida Vaz Garrido? Catarina Azevedo? Tomés Palme? Resuma: A Cognigiio Social emergi em meados dos anos 70 como uma aborda- ‘gem conceptual gensrica com o objectivo de compreender ¢ explicar como é que 1s pessoas se percebem a si préprias @ aos outros, e como & que essas percepgdes permitem explicet, prover ¢ orientar o comportamento social, Esta nova aborda- ‘gem constituiu-se com base na vasta tradigfo te6rica e de investigagto da Psicolo- ain Social, ¢ integra ideias e metodologias da Psicologia Cognitiva na exploragto dos. fundamentos cognitivos dos fenémenos sociais. Inicialmente, apoiada no paradigma do processamento da informagto, a abordagem sécio-cognitiva procu- rou explorar as estruturas & os processos cognitivos subjacentes & percepgto © comportamento social. Mais recentemente, a disciptina fem vindo a integrar novos ‘contributes, que enfatizam os constrangimentos emocionais, motivacionais, corpo- is € 08 efeitos situacionais na cognigao comportamento humanos, ¢ a beneficiar dos desenvolvimentos tedricos e tecnolégicas das neurociéncias sé Da revistio de literatura realizada constata-se ainda um interessante paradoxo que resulta da opasigao entre o esforgo de integragao da cognigao social situada e a natureza simplificadora das abordagens mais cognitivas e das neurociéncias Palayras-chave: Cognigio Social; Cognigio Situada; Neurociéncia Sécio~ -Cognitiva Social cogaltion: Foundations, current formulations and future perspectives (Ab- straet): Social Cognition emerged in the mid 70s as a generic conceptual ap- proach to understand and explain how people make sense of themselves and of ‘others and how such perceptions explain, predict and shape their social behavior, "A preparagdo deste atgo foi pacilmenteapoiada por ume botsa da Pundagio para a Cidnela¢ Tecnologia PTDCIPSUPSO/099346.2008, atibuda ao primeit eterevto auto- 2 CISASCTY:~ losiuto Universita de Lisbon 5 Endecego para sorresponéncin: Margarida Vaz Garrido, ISCTR, nstituto Universita de ishoa, Departamento de Psicologia Soca c das Organizagbes, Av, das Forgas Armas, 1649-026 Lisoa, Portugal. Ena: marguridagariocaisctest PSICOLOGIA, Vol. XY (1), 2011, Edigdes Cols, Lisbon, pp. 113-157 “We na Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo ¢ Tomés Palma ‘This new approach was based on a well-established theoretical research tradition Social Psychology and integrates ideas and methods from Cognitive Psychology to elucidate the cognitive determinants of social phenomena, Adopting a social information-processing paradigm, socio cognitive approaches explored the cogs tive structures and processes that underlie social perception and social behavior More recently, this discipline has integrated new contributions which emphasize the emotional, motivational, bodily and situational constrains to cognition and behavior and has benefited from theoretical and technological developments in social cognitive neuroscience. ‘The literature reviewed here also highlights an interesting paradox that results from the integrative efforts of socially situated cognition and the simplifying nature of the neurosciences. Keywords; Social Cognition, Situated Cognition, Social Cognitive Neuroscience Introdugio How do we make sense of other people and of ourselves? What do we know about the people that we encounter in our daily lives and about the jons in which we encounter them, and how do we make sense of this Knowledge when we attempt to understand, predict or recall their behavior? Aro our soeial judgments fully determined by our social knowledge, or are they influenced by our feelings and desires (Kunda, 1999, p. 1) Estas sfio as questées centrais que orientaram a emergéncia de uma abordagem relativamente recente ~ a Cognigao Social. Assente na vasta tra- digdo te6rica e de investigarao dla psicologia social, ¢ revigorada pela inte- ‘gragiio de ideias © metodologias da psicologia cognitiva, a abordagem da ‘cognigo social introduziu valiosos contributos para a compreensto de mui- tas das questées € problemas clissicos da psicologia social, empenhando-se igualmente em areas ainda no exploradas de investigagao. Esta perspectiva tem sido palco de varios desenvolvimentos te6ricos que, inicialmente parti- Iharam 0 pressuposto bésico dle que, para compreender e explicar 0 compor- tamento social, & preciso considerar as estruturas € os processos cognitivos que medeiam a relagio entre um estimulo externo ¢ as respostas comporta- meniais observaveis (@.g., Hamilton, Devine, & Ostrom, 1994), Mais recen- temente, a disciplina tem vindo a integrar novos contributos, nomeadamente aqueles que enfatizam os constrangimentos emocionais, motivacionais, cor porais ¢ os efeitos situacionais na cognigfo, que sfo considerados como roguladores fundamentais da cognigAo e nao, apenas, informagio adicional a ser processada (Smith & Semin, 2004), Paralelamente, a disciplina tem vin- do a beneficiar dos desenvolvimentos te6ricos ¢ tecnolégicos das ncurocién- Cognigao Social us cias, que actuam enquanto ferramenta conjunta nia compreenstio dos proces- sos psicolégicos e neuropsicolégicos subjacentes (Lieberman, 2010), Embora o principal objectivo do presente artigo soja apresentar uma breve revisio histérica dos fndamentos tedricos da cognigto social, earacte- rizar 0 estado da arte ¢ especular sobre as possiveis direcgoes Tuturas desta abordagem, 2 uma reflexto critica e integeadora sobre a literatura nfio escapa im interessante paradoxo. Este paradoxo que tem catacterizado a disciplina desde os scus anteccdentes filoséficos € histéricos até aos actuais debates epistemol6gicos, resulta em parte do nivel de andlise a utilizar na abordagem 4 cognigto © comportamento humanos (e.g, Doise, 1982; ver também Semin, Garrido, & Palma, 2011) Por um lado, ¢ fruto de tradigdes filoséficas elementaristas ¢, sobretu do, das teorias cognitivas do processamiento da informagao, o estudo da eog- nigio humana em geral, e da cognigdo social em particular, tem adoptado uma abordagem mais microscdpica, elementar, individual © simbélica da ‘cognigao tentando isolar os seus componentes mais basicos de forma a com- preender processos cognitivos mais complexos. Mais recentemente, a natu- reza algo simplificadora e localizacionista ca abordagem das neurociéneias cognitivas parece contribuir novamente para este elementarismo clescontex- tualizado, Por outro lado, abordagens recentes defendem que 0 fluxo de informagio entre a mente ¢ o mundo é to denso ¢ continua que no estudo da natureza da actividade cognitiva a mente no constitu, por si s6, uma unida- de de anilise com significado, Por esse motivo, o estudo da cognigao exige um nivel macrascdpico de anélise, na medida em que os processos cogniti- ‘vos emergentes possem uma natureza diferente dos processos cognitivos ais clementares (ou da sua combinagio) que alegadamente hes do ori- ‘gem. Assim, a cognigto s6 poder ser compreenclid: como um fenémeno emergente das interacgées do individuo com 0 seu meio fisico ¢ social envolvonte, que constrange e/ou expande os seus processos cognitivos. No fentanto, € como veremos mais a frente, esta emergéncia a partir de contextos infinitamente varidveis poderd limitar o poder preditivo das teotias “situa- das” da cognigto. Neste contexto, © paradoxo que resulta da oposigfo entre 0 esforgo de intogragdo da cognigio social situada e « natureza simplificadora das abor~ dagens mais cognitives ¢ das neurociéncias configuram um cenivio que parece aproximar-se de uma dicotomia tedrica. No entanto, as dicotomias tedticas, embora titeis & investigegtio psicolbgica, tendem a fundamentar-se nia explicagao e classificaglo de fenémenos isolados, sao dificilmente refi ois ¢ limitam muitas vezes 0 progresso cientifico (ver Garcia-Marqu & Ferreira, 2011). Neste sentido, ao longo do presente artigo ¢ sempre que jentificar em que medida determinades pressupos- pertinente, procuramos 16 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo o Toms Pala tos filoséficos, modelos tedricos, ou abordagens metodolégicas fundamen- tam ou reflectem o paradoxo anteriormente enunciado. Fundam vein tos da Cogn A cognig&o social emergiu em meados dos anos 70 e representa uma abordagem conceptual e empfrica genérica (¢ no apenas uma sub-disciplina da ciéncia psicolégica) que procura compreender e explicar como ¢ que as pessoas se pereehem a si priprias © aos outros, e como é que essas pereep- Ges permitem explicar, prever ¢ orientar 0 comportamento social, Um dos aspectos mais idiossineriticos desta abordagem ¢ 0 facto do estudo dos fenémenos sociais ser realizado através da investigago das estruturas ¢ pro- cessos cognitivos pelos quais operam (c.g, Hamilton et al., 1994; Sherman, Judd, & Park, 1989). Decorrente da estreita relagio que mantém com a cha- mada “revolugio cognitiva”, esta abordagem ficou conhecida como cogi- ‘edo social (McGuire, 1986), perspectiva cognitiva (Markus & Zajone, 1985) ‘ou paradigma do processamento de informagio (Duveen, 2000), sendo este, icialmente, 0 modelo de processamento que otientou a abordagem dos fundamentos cognitivos dos fenémenos sociais (Hamilton et al., 1994). Historieamente, ¢ no aimbito da psicologia, a compreensio que as pes- soas tém do mundo social foi estudada, em primeiro lugar, sob uma perspec~ tiva fenomenoligica (Heider, 1958), preocupada em descrever de forma sistemética 0 modo como a generalidade das pessoas afirmam experienciar 0 seu mundo, Paralelamente, surgi também a preocupagiio com as teorias do senso comum, ot seja, com as teorias que as pessoas tém acerca umas das outras. As abordagens scio-cognitivas actuais incorporaram estas problems- ticas mas foram mais além na sua exploragao. O reconhecimento da impor tncia de estudar os processos cognitivos para explicar 0 comportamento social levou muitos autores a tentar integrar os pressupostos testicos e meto- dolégicos da psicologia cognitiva relativos & percepeiio, meméria & pensa- mento, procurando adapti-los as probleméticas da psicologia social (Fiske & ‘Taylor, 1991), nomeadamente a formagiio de impressbes (ver Garcia- -Marques & Garcia-Marques, 2004; Garrido, 2006; Hastie et al., 1980) ¢ os esteredtipos (ver Garcia-Marques & Garcia-Marques, 2003; Hamilton, 1981) € ainda a questées de personalidade (Cantor & Kihlstrom, 1981; Devine, Hamilton, & Ostrom, 1994), atribuigao social, comunicagao, afecto, proces- sos ce julgamento e 0 self (Higgins, Herman, & Zana, 1981; Wyer & Srull, 1984). © poder explicativo dos modelos cognitivos adoptados em cognigtio social prende-se, principalmente, com a sua capacidade em descrever de forma precisa os mecanismos gerais da aprendizagem ¢ do pensamento, sub- Cognigtto Social uw jacentes a uma variedade de areas. Os primeiros desenvolvimentos da cogni- Go social ficaram assim marcados pola investigagdo dos fundamentos cogni- fivos dos Fendmenos sociais através do modelo do processamento da inte mag&o, assumindo que o individuo no contexto social & alguém que se eneontra virtualmente embrenhado nalguma forma de processamento de for F a pessoa esteja a formar uma impressio, a dirigir uma reunifo, a pensar na sua escola priméria, a lidar com wma doenga ‘ou a decidir que marca de desodorizante comprar. Em qualquer uma destas circunstancias a pessoa dé atengto ¢ codifica informagiio do contexto social, interpreta e elabora essa informagao através de processos avaliativos, infe- renciais © atribucionais ¢ representa esse conhecimento em meméria para ‘que mais tarde possa ser recuperado e, subsequentemente utilizado, em pro- ‘cossos de pensamento ¢ jutlgamento, e para guiar 0 comportamento (Hamil- ton et al, 1994). Para melhor compreender esta abordagem ¢ os pressupostos em que assenta é importante pereeber os antecedentes filoséficos € histéricos que a sustentam © as concepgies do percepiente social que preconizam. Estes aspectos fundamentam ainda hoje perspectivas emergentes no Ambito da abordagem sécio-cognitiva, Antecedentes filoséficos Os fundamentos filoséficos que marearam a emergéncia da aborda- gem da cognigo social so manifestos em duas grandes perspectivas: a cle- mentarista ¢ a holistica (Fiske & Taylor, 1991). A compressio destas duas abordagens torna-se relevante na medida em que os seus pressupostos bési- cos fundamentam orientagdes tedricas € metodolégicas distintas cujos ele- ‘mentos centrais se podem facilmente distinguir nos varios desenvolvimentos teéricos ¢ metodoldgicos que a abordagem sécio-cognitiva tem vindo a apre- sentar, A perspectiva elementarista, que remonta aos filosofos briténices dos séculos XVII ¢ XVII (Hume, 1739/1978; Locke, 1690/1979), caracteriza-se pela segmentagio e anilise dos problemas cientificos nos seus varios eom- ponentes, que s6 posteriormente serio combinados. Segundo esta abordagem da mente, as idcias surge da sensago ¢ percepgio ¢ constituem elementos {que podem ser associados entre si, A demareagao da psicologia como eiéneia auténoma da filosofia, eliada As preocupagdes de cientificidade ¢ a gener zagio dos estudos laboratoriais, conduziram as primeiras tentatives de teste empitico das concepgdes clementaristas. E neste contexto que surgem os esforgos pionciros de psiedlogos como Wundt (1897/1907) e Ebbinghaus (1885/1913) de observar os setis prprios processos de pensamento ¢ memé- ria através da introspecgo controlada. Fortemente influenciados pela abor- 118 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomas Palma dagem elementarista, estes © outtos investigadores procuravam analisar a experigneia nos seus varios elementos, determinar como estes se ligam, identificar as leis que presidem a tais associagdes. Curiosamente, estas con- ccepgdes elementaristas continuam bem presentes na abortlagem mais tradi- ional da cognigto socisl onde se procura isolar e explorar os elementos estruturais © as regras subjacentes aos processos cognitivos. No entanto, a ideia de que o isolamento dos elementos constituintes de um fendmeno e do ‘modo como estes elementos se combinam, assegura a sua adequada com- prensio nao se encontra isenta de criticas como veremos mais a frente. Contrastando com a perspective elementarisia, a abordagem Holistica caracteriza-se pela andlise dos fendmenos no seu contexto, incidindo sobre- tudo na configurago global de relagées entre eles. Esta abordagem da mente tem origem nas teorias do filésofo alemiio Emanuel Kant (1781/1969) que, numa eritica &s posigies filos6ficas vigentes, defende que os fenémenos mentais sto inerentemente subjectivos e sugere que a mente consttéi activa mente a realidade, indo além do estimulo original, Kant atribui, assim, um papel mais activo ¢ construtivo ao percepiente social na percepgiio e inter~ protaeiio dos objectos experienciados. nestes pressupostos que vai assentar a teoria da gestalt (Kofika, 1935, Kohler, 1976) que, contrastando com as andlises elementaristas, se foca na experiéncia imediata da percepgio e, adoptando uma aborcagem fenomenolégica, procura descrever de forma sistemética as experiéncias perceptivas e o pensamento, Kurt Lewin (1951) importa as ideias da psicologia da gestalt pare a psicologia social e, em dit ‘ma andlise, para a cognigao social. Lewin centra-se nas interpretages sub- Jectivas que os individuos fazem do sew mundo social. Segundo 0 autor, seria necessitio considerar o equilibrio dinamico da pessoa (com as suas necessidades, crengas, capacidades perceptivas) ¢ da situaclo, para perceber como este conjunto de factores actua na construgao da realidade social. Para além disso, havia que considerar a cognigdo, ou seja, a interpretagiio que 0 percepiente faz do mundo, e « motivagaa, que constitiiria o motor do sew comportamento. Como veremos mais 4 frente estas ideias convergem com concepsdes mais situadas da cognigao, isto é, com a ideia de que a cogniggo emerge da interacgio entre o individuo e o seu mundo fisico e social, Contudo, a abordagem da cogni jal nfo se fundamenta apenas em pressupostos filoséficos gerais tendo integrado também, ao longo do sew desenvolvimento, contributos mais especificos de diversas disciplinas cientt- ficas, que se sistematizam na secgo seguinte. Contributos de outras disciplinas ciemifieas ‘A Cognigdo Social ¢ uma abordagem relativamente recente mas que foi rapidamente incorporada, quer tedriea, quer metodologicamente, em Cognigto Social hig varios dominios da psicologia. No entanto, as suas formulagées remontam ‘a0s primérdios da psicologia, ¢ a diversidade que actualmente a caracteriza decorre de varios contributos que tem vindo a absorver a0 longo do seu desenvolvimento, De uma forma integradora, Barone, Maddux ¢ Snyder (1997) sugerem que a cognigo social actual evoluits a partir de quatro gran- des tradigoes em psicologia: a tradigao gestaltista, a teoria social da aprendi- zagem, 0 construtivismo ¢ a teoria do processamento de informagdo, A and- lise dos fundamentos tedricos forneeicos por esta vasta heranga poderd aju- dar-nos a compreender as actuais formulagdes sécio-cognitivas ‘A tradigdo gestaltista, fortemente enraizada na Alemanha, foi uma das linhas de desenvolvimento que conduziram a actual teoria va, nomeadamente devido aos esforgos desenvol como Lewin (1951), Asch (1946) ¢ Heider (1958) em aplicar a teoria percep- tiva da gestalt ao estudo de processos cognitivos num contexto social. Com- binando o interesse da gestalt na percepgao, com um interesse psicanalitico na motivagiio, Lewin (1951) efectua pesquisas ao nivel do desenvolvimento da personalidade, conflito, nivel de aspiragao ¢ interesse intrinseco, formu- lando a teoria de campo que coloca a construgao do selfe do seu ambiente como fendmeno psicoldgico central, Contudo, esta ideia de que © mundo social percebido pelo individuo ndo é independente das suas earacteristicas, conhecimentos, atitudes ¢ motivagdes nfo foi imediatamente incorporada 1nos primeiros esforgos da abordagem sécio-cognitiva, No entanto, a conside- ragto destas varidveis constitui, actualmente, um dos presspostos funda- mentais da teoria e investigagto em cognig&o social. Paralelamente, Asch aplica a teoria da gestalt ao estudo da percepedo interpessoal, explicando & formagio de impressées como um proceso de construgiio de todos anifica- dos, As suas investigagdes, demonstrando que determinados aspectos cen- trais da informag&o organizam a impresstio em todos globais, aliadas aos contributos de Kelley (1950) sobre a influéneia das pré-coneepgdes na inte- raegio social, constituem, ainda hoje, leituras obrigatérias na investigagto ‘em cognigio social, Finalmente, as contribuigdes de Heider (1958), designa- damente a sua concepgao do cientista ingénuo, reforgam a ideia de que as pessoas no sio receptores passivos, mas que interpretam sctivamente a informagao. Efectivamente, as propostas deste autor sugerindo que a pre' sfio € 0 controlo se obtém atribuindo os eventos a propriedades estaveis das pessoas e dos contextos, constituem os alicerces da teoria da atribuigo que assumiu um papel proeminente na investigagao inicial em cognigao social. ‘A aprendizagem social constitui, igualmente, uma linha de desenvol- vimento onde se podem encontrar algumas raizes da abordagom sécio- -cognitiva. Esta proposta tedriea combina a aptendizagem animal com for- mulagdes elinicas acerca da personalidade © psicoterapia, especialmente da psicandlise. Ao sugerir que a aprendizagem tem lugar durante 0 desenvolvi- 120 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomés Palma mento da personalidade, e que € mediada por processos cognitivos e alec vos (e.g,, Dollard, Doob, Miller, Mower, & Seats, 1939), esta proposta con- traria tcorias mais reducionistas da aprendizagem (e.g,, Skinner, 1953; Wat- son, 1913). Adicionalmente, integrando a teoria da aprendizagem e da ges- talt na teoria da aprendizagem social, Rotter (1966) propde que 0 comporta- mento € mediado por expectativas e valores, ¢ pelo reforgo das atribuigées acerea do locus de controlo, sugerindo uma formulagiio cognitivo-comporta- mental mais completa do que a formulagio puramente comportamenta na previstio do comportamento. Estas duas teorias ofereceram alternativas & fenomenologia e ao com portamentalismo, contribuindo pata o enriquecimento de uma cigncia psico- légica durante muito tempo dominada por prescrigSes abjectivas, clementa- ristas, mecanicistas © reducionistes. A cognigdo social actual combina as ‘radigdes cognitivas mais recentes com estas duas perspectivas mais tradi- cionais: a sua vertente da psicologia social, influenciada pela gestalt social, © a sua dea dla personalidade pela aprendizagem social (Barone et al., 1997). A tradigdo construtivista assumiu, igualmente, um papel importante no desenvolvimento de algumas formulagdes da cognigio social, Esta tradi- ‘io assenta nos trabalhos de Piaget (1952) sobre o desenvolvimento cogniti- ‘vo, mostrando que as criangas ndo sto percepientes passivos mas que cons- troem activamente © sett conhecimento com base na experiéneia sensorial © motora quotidiana, A epistemologia genética Piagetiana combina, assim, o construtivismo e a teoria do desenvolvimento, colocando os esquemas num lugar central ao conhecimento e ao desenvolvimento. Os esquemas seriam, entfo, construgdes simbélicas que representam eventos que orientam o fun= jonamento psicoldgico, que mudam em resposta & experiéneia. Paralela- mente, a teoria cognitiva da personalidade de Kelly (1955) reconstrui a personalidade como cognigio social, sugerindo a existéncia de um sistema de construtos pessoais que diferem de pessoa para pessoa, € a0 longo do tompo no individuo, que sfo utilizados pelas pessoas para interpretar a sua experiéncia, Silo varias as investigagdes que apoiam esta ideia de que o mundo nfo é encontrado mas construido. Este pressuposto esta bem patente nos trabalhos do new Zook em pereepgio (Bruner & Goodman, 1947; Bruner & Postman, 1949) ¢ nas investigagdes de Hastorf e Cantril (1954) sobre as pereepgdes divergentes que individuos diferentes podem ter sobre a mesma realidade. A teoria construtivista encontra ainda suporte na teoria esquemiti- cca da recordagto de Bartlett (1932), que sugere a existéncia de esquemas de construgo de dados que sito codificados ¢ depois reconstruidos © actualiza- dos em cada acto de recordagao. Apoio adicional a esta teoria pode ainda ser encontrado nos trabalhos de Bruner (1982) quie, tal como Piaget, salienta o envolvimento de categorias ou esquemas na percepgao e, tal como Vygotsky (1962, 1978), o envolvimento de outras pessoas na aquisigfio da linguagem, Cognigto Social 12 inalmente, investigagdes na aren da linguagem e da aprendizagem (c.., Luria, 1976; Vygotsky, [962, 1978) apontam para uma nogto de inteligéncia como uma consirusio social resultante de ferramentas culturais, e 0 conke- cimento como a negociagiio de uma realidade virtual. As ideias dla teoria construtivista, e @ sia Gnfase na concepgao de esquemas como representagdes simbélicas da experiéncia passada que orien- tam o funcionamento cognitivo, surgem assim como um dos pilates da cog nigdo social actual, Todavia, quer a investigaedo da gestalt social em forma- ‘Go de impressées, quer as teorias consirutivistas que sugerem que os indivi duos vio além da informagiio dada, foram inicialmente negligenciadas por esta abordagem. A teoria do processamento de informacdo, associada & revolugio cog: nitiva na psicologia, recorre 4 ulilizago do computador como metifora te6~ rica ¢ ferramenta metodolégica para simular processos cognitives. A inteli- ‘géncia artificial 6 simulada em programas de computador que reproduzem as diferentes fases de processamento da informago, desde o estimulo inicial que € codificado, ao modo como & representado ¢ posteriormente recupera- do, Note-se ainda que estas simutagdes exploram 0 modo como a informagio & processada nao s6 através da aplicagio das regras formais da logica ¢ da matemitica, mas também pela aplicagao de estratégias heuristicas (Newell & Simon, 1961). & neste contexto que Simon (1997) desenvolve a teoria da racionalidade limitada, chamando a alengo para as limitagées dos processa- dores hnumanos de informagio € dos constrangimentos que @ quantidade diversidade da informagiio e as capacidades de computagao limitedas impdem & tomeda de decisto, Note-se que esta proposta veio estabelecer determinados limites as eoncepgées sécio-cognitivas sobre os processadores humanos de informagto, supostamente dotados de racionalidade e de infini- tas enpacidades de processamento, Independentemente da relevancia da influéncia que as tradigées da gestalt social, da aprendizagem social ¢ do coustrutivismo possam ter tido, enquanto heranga tedrica na cognigto social, foi sem clivida a teoria de pro- cessamento de informagdo que, de forma mais evidente, marco quer em termos de modelos tedricos, quer metodoldgicos a emergéncia da cognigo oeial, Foi também esta filtima abordagem teérica que durante algum tempo pulsionou 0 estudo da cognigio e dos processos cognitivos como repre- sentagdes e operagdes simbélicas isoladas no eérebro humano. Todavia, € como veremos mais a frente, ideias decorrentes da abordagem gestditica ma furdamentar o pressuposto de que os processos psicolégicos consti- tuem unidades de andlise qualitativamente diferentes da mera associagtio dos seus elementos. Também alguns contributos decorrentes da feoria da apren- izagem social, nomeadamente os que colocam os processos afectivos ‘como mediadores da cognigfo, estarfo na origem de uma 122 Margarida Vaz. Garrido, Catarina Azevedo e Tomés Palina reformulago da abordagem as estruturas ce conhecimento, que deixam de ser vistas como estiticas ¢ imutaveis mas como flexiveis e responsivas aos objectivos do percepiente numa dada situagao. Finalmente, também alguns dos pressupostos da teoria construtivista nomeadamente os que sublinham a importincia dos processos sensério-motores na cognig&o ¢ a relevancia de outros agentes sociais nas aquisi¢Ges cognitivas, inspiraram abordagens que suigerem que a cognig&o humana emerge da interacgo do individuo (e do seu préprio corpo) com o meio fisieo e social que 0 rodeie. Concepebes do Percepiente Social Quer os antecedentes filoséficos em que se apoia, quer os contributos das varias disciplinas que a cognigo social tem vindo a integrar, tém vindo a reflectirsse nas propostas explicativas do modo como as pessoas chegam a sua propria construg#o do mundo social (Bless, Fiedler, & Strack, 2004; Devine, ot al,, 1994; Moskowitz, 2005). Conseqtientemente, as concepgoes do individuo como percepiente, pensador e agente social tém vindo a evoluit ea modificar-se ao longo dos anos e, segundo Leyens ¢ Dardenne (1996), podem ser sistematizadas em cinco grandes perspectives Nama primeira abordagem, o percepiente social foi encarado como uum ser racional e consistente, ou seja, alguém que se apoiava na racionali- ‘zagio e na procura de consisténcia para reduzir 0 estado de desconforto psi coldgico provocado pela inconsisténcia entre as suas cognigdes. Esta ideia foi alvo de varias conceptualizagdes tedricas, estando bem evidente na teo do equilibrio cognitive (Heider, 1958) ¢ na teoria da dissondncia cognitiva (Festinger, 1957). Os traballios de Asch (1946) sobre a formagio de impresses © a cons- tatagfio de quie, mesmo com base em pouca informagao, os individuos conse- guem formar uma impressao global sobre os outros, sugeriram que as pes- soas tém ao seu dispor um conjunto de teorias acerca dos dados, formulam hipéteses © possuem teorias implicitas da personalidade (e.g., Bruner & ‘Tagiuri, 1954) que vao determinar a forma como processam a informagio do sett mundo social. Embora admitindo que 0 percepiente social nfo é total- mente insensivel aos dados, esta concepgao apoia-se sobretuco num proces- samento holistico da informagao ¢ corresponde & metéfora do cientista ingé- aio, segundo a qual as pessoas processam informagio, recorrendo sobreticlo 4s suas teorias e nfo a um processamento mais elementar que exige o exame detalhado e objectivo da informagio. Contestando esta abordagem, Anderson (1981) defende a primazia dos dados sobre as teorias, conceptualizando o percepiente social como um pro- cessador de dados que aborda os factos de forma objectiva na auséncia de preconcepgées. De acordo com Anderson, a avaliagdo da personalidade de Cognito Social 123 um alvo resulta ndo de uma impressio geral ou de um teoria implfcita da personalidade mas de uma integeagio algébrica das avaliagdes atribuidas a cada trago de personalidade, No decorrer das duas iltimas décadas, a percepedo social foi muitas vezes coneebida como uma tarefe de resolugio de problemas que 0 perec- piente social consegue desempenhar com 0 minimo esforgo cognitive possi- vel. Neste fmbito ficou conhecida a metéfora do “cognitive miser” aludindo lutincia com que as pessoas utiliza as suas capacidades pata perceber (0s outros de forma precisa, Esta perspectiva encerra uma visio algo negativa do pereepiente social ao centrarse sobretudo tas limitagées, erros ¢ envie- samentos em que este incorre na resolugdo dessas tarefas, Neste eontexto, vias investigagdes salientaram a importineia da economia cognitiva (Nis- bett & Ross, 1980), presente na utilizagao de heurfsticas ~ que embora répi- das ¢ econdmicas conduzem a erros frequentes, no processamento do infor magfo saliente (Taylor & Fiske, 1978), na relutancia em reconsiderar factos (Anderson, Lepper, & Ross, 1980) e na confianga e utilizagao de crengas, ‘oxpectativas e teorias no processamento de informai ‘Actuaimente parece ser consensual que embora aparentemente i lentes ¢ erédulas, as pessoas quando motivadas podem ser pensadores so cficazes, Esta ideia traduz-se na metafora do percepiente como um esiralega social motivado que dispde de vérias formas de pensar que selecciona e uli- liza com base nos seus abjectivos, motivos e necessidades (Fiske & Taylor, 1991). Neste sentido, e salvo as devidas excepgdes, 0 percepiente social nto procura a verdade absoluta mas sim a verdade suficiente para gerir as sas interaegées. De acordo com esta perspectiva sigere-se que os agentes sociais sto percepientes “suficientemente bons” (Fiske, 1992; Funder, 1987; Swann, 1984), Saliente-se uma vez mais que enearar o percepiente como um ser raeional que procura consisténcia cognitiva ou como um processador simbé- lico de dados humanos, implica isolar a cognigfo a finitude do eérebro humano. Em contraste, quando se considera o conhecimento anterior, os objectivos e motivapdes do percepiente num determinado contexto fisico ou social, abre-se caminho a uma abordagem da cognigio como fendmeno ceinergente desta interaecdo entre 0 individuo e a situagao, Formulagées Actuais da Cognigtio Social: uma histéria recente Os eventos cognitivos subjacentes & pereepgdo, julgamento e tomada de decisao receberam pouca atengao até aos anos 60. Durante cerea de meta- de do século XX, a psicologia experimental foi dominada pela abordagem ‘comportamentalista e pela convicgio de que a cigncia deveria lidar apenas 14 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomas Palma com variaveis observaveis ¢ fisicamente mensuriveis como os estimulos ¢ as respostas (Skinner, 1963; Thorndike, 1940; Watson, 1930). Neste sentido, 0 objectivo da pesquisa psicolégica seria o de identificar as leis que orienta o modo como o comportamento é influenciado pelos eventos do ambiente, em particular, eventos que fimcionam como reforgos © punigdes. Segundo as igorias ca aprendizagem, estes reforgos e punigdes levariam, respectivamen- te, © organismo a repetir ota evitar determinado comportamento. Durante este periodo, a investigagao sobre sensagao e percep apoiou-se sobretudo na psicofisica ¢ o estuco da aprendizagem fundamentou-se frequentemente, ‘em paradigmas sem significado afectivo ou experiencial para os participan- tes Gilbert, 1998). Durante este periodo, 0 medo do mentalismo foi wma constante © 0s eventos mentais que intervinham entre o estimulo pereebido no ambiente e « resposta a que davam origem eram considerados irrelevantes —a mente era tratada como uma “eaixa negra” que os psicélogos nao pode- riam nem deveriam investigar (Skinner, 1963). A psicologia da gestalt era, na altura, a mais permeavel e receptiva a conceitos mais mentalistas ou cognitivos. No entanto, os processos cogniti= vos inicialmente investigados centrayam-se, sobretudo, nas leis do processo percoptivo, considerado isomorfo as propriedades dos estimulos, ‘Tal como referido anteriormente, com excepgao de Lewin, Asch e Heider, que elabora- ram os prineipios da psicologia da gestalt de forma consistente com a psico- logia social, 0 quadro tradicional bem estabelecido do comportament psicofisica ¢ gestaltismo cléssico constituiram um forte travao a emergéncia de uma abordagem cognitiva dos fendmenos sociais, ‘Todavia, o estuclo da cognigao teve um passado na psicologia, nomea- damente nos primeitos trabalhios empiricos que, com objectivos claramente cognitivos, recorriam a introspecgio como forma de compreender o pensa- menio humano. O interesse na cognigao foi, contudo, adiado e a introspec- ¢fo abandonada como metodologia, na medida cm que o estudo de processos intemos nao se coadunava com os padres cientificos de objectividede © rigor, emergentes numa psicologia ainda preocupada em demarcar-se como disciplina cientifica Oestudo dos provessos cognitives Nos finais dos anos 50 ¢ no inicio dos anos 60 com o estabelecimento do paradigma cognitivo assistiv-se a uma reformulagio radical na forma de definir e abordar 0 objecto da psicologia, da sua epistemologia ¢ métodos e a uum nove posicionamento no quadro geral das ciéncias. A importancia da cognigéo foi novamente reconsiderada propondo-se que a explicagio do comportamento humano exigia a identifieagdo do conteiido © formato das representagdes mentais € dos respectivos processos cognitivos subjacentes. Cognigto Social las Este movimento foi impulsionado pelas critieas da psicolinguistica aos sforgos dos comportamentalistas para explicar a linguagem, eos comple: x08 aspectos simbélicos nao poderiam ser facilmente ehicidados pelas abor- ‘dagens comportamentais (Chomsky, 1959). Um segundo aspecto, que levou a importincia renovada colocada na cognig4o em psicologia, foi o descnvol- vimento do campo do processamento de informagio, que permitiv segmentar as operagdes mentais em estidios sequenciais, especificando os processos internos que, presumivelmente, intervinham entre a apresentagao do estimu- Io e a resposta observada (Fiske & Taylor, 1991). O computador tornow-so, assim, numa ferramenta metodolégica que permitia simular os processos cognitivos (Anderson, 1976; Newell & Simon 1972; Schank & Abelson, 1977), nomeadamente 20 nivel da formagio de impressées ¢ da meméria social (e.g., Hastie, 1988; Linville, Ficher, & Salovey, 1989; Smith, 1988) e, simultaneamente, numa metéfora para descrever esses processos, falando-se de input ¢ output, armazenamento, processamento e recuperagto da informa- gio na cognigao humana, ‘A ideia de que a mente poderia ser entendida ¢ discutida de forma aniloga a um computador processador de informago levou & explosao de teorias e investigagao com 0 objectivo de explorar as estruturas € processos mentais utilizados pelos processadores de informagio humanos. O recurso @ metifora do computador minimizou, contudo, ¢ numa fase inicial, 0 papel do contexto social, da motivagao ¢ do afecto, que dificilmente seriam passiveis, de simular, 0 que durante alguns anos conferiw psicologia cognitiva, e mais, tarde & cognigao social, aquilo que muitos consideraram uma natureza meca- nicista ¢ redutora, Psicologia Social e Cognictio A psicologia social foi répida a reconhecer a relevaincia das aborda- gens cognitivas para explorar as stias preocupagdes tradicionais. Por um lado, a psicologia social sempre teve subjaconte uma énfase na cognigao (ca, Berkowitz & Devine, 1995; Markus & Zajone, 1985). A propria defi- nigdo oléssica de Allport (1954) que descreve o objectivo da psicologia social como “uma tentativa de compreender ¢ explicar como os pensamen- tos, 08 sentimentos ¢ os comportamentos dos individuos sto influenciados pele presenga, real, imaginada ou implicita de outros seres humanos” encerra ‘um cunho cognitive que nfo contempla apenas a realidade social mas tam- bém esta realidade enquanto representagéo mental, A perspectiva cognitive na psicologia social pode, assim, ser vista como uma explicagto do compor tamento humano baseada na compreensto da natureza das representagée: ‘mentais subjacentes a esse comporiamento (Garcia-Marques, 2001). Adicio- nalmente, muitas das questdes com que a psicologia social se vinha preocu- 126 Margarida Vaz. Garrido, Catarina Azevedo e Tomas Palma pando descle o infeio ~ como formamos impresses acerca dos outros; como explicamos 0 set comportamento; como é que as nossas atitudes se relacio- ‘nam com as nossas acgdes; como resolvemos conflitos entre crengas; como que as nossas reacgdes podem ser manchadas pelo preconceito — Fock -se no estudo de elementos cognitivos, como crengas e inferéncias. Parale- lamente, a propria linguagem da psicologia social sempre incluiu conceitos referentes a estruturas cognitivas (c.g, atitudes, crengas, esterestipos) e pro- cessos cognitivos (e.g, mudanga de atitudes, formagao de impresses, com paragio social, atribuiglo, tomada de decisto; Devine et al., 1994), Embora durante algum tempo estes conceitos tenham sido utilizados como variaveis, mediadoras que ajudavam a explicar os julgamentos, sentimentos e compor- tamentos, gradualmente estas estruturas e processos se foram constituindo como 0 ceme da investigago. Por exemplo, 0 estudo da formagio de impresses nao se limita a avaliar se um individuo gosta ou nao de uma pes- soa alvo, mas investiga como & que a sua impressio se encontra mentalmente representada e que aspectos dessa impressfo sto utilizados para fazer deter~ minado julgamento avaliativo, © mesmo tipo de racioeinio pode ser vélido para outras reas (Devine et al, 1994). Efectivamente, a conclusto a que vérios investigadores chegaram foi que ao excluir as representagdes e os processos cognitivos da investigagao em psicologia social, se estaria a adoptar uma perspectiva bastante redutora e empobrecida do comportamento humano (Fiedler, 1996). Embora o pleno desenvolvimento da abordagem cognitiva da psicologia social fosse travado pelas tradigdes conservadoras do comportamentalismo e do reducionismo fisiologico, as preocupagdes da psicologia social requeriam inevitavelmente ‘um conjunto de pressupostos acerca da estrutura e dos processos cognitivos Pressupostos herdados da gestalt social, do construtivismo, da teoria da aprendizagem social, e do processamiento de informagdo comegaram a ser infegrados, convergindo na ideia de que os acontecimentos no sao recebidos passivamente por registos perceptivos, mas sfo sim organizados em catego- rias, interpretados em termos de estruturas internas de processamento de informagao, e moldados em fungao de experigneia individual e cultural, adquirindo significado através de um processo activo e construtivo de lidar com a realidade, Assim, na déeada de 60, com o ressurgir do interesse pelo estudo dos processos mentais, a psicologia cognitiva transborda para a psicologia social 4 virios niveis. A partir da psicologia cognitiva a psicologia social formula novos problemas, abraga novos métodos e constrdi novas teorias, adoptando 6 interesse por modelos de processo, procurando especificar a organizagio mental ¢ identificar as tapas exactas dos processos cogt jacentes a fendmenos psicossociais, Deste modo, embora a psicologia social ji encerrasse um caricter eminentemente cognitivo, a sistematizagio desse Cognigito Social a7 pendor cognitivo permitiria um maior desenvolvimento tedrico (Hamilton, et al, 1994). Todavia, a permeabilidade da psicologia social a uma abordagem sécio-cognitiva tornou por vezes a fronteira entre as duas abordagens um poco ténue (Higgins, 2000). Uma possivel soluedo para demarear estas perspectivas foi fazer corresponder 2 cognigao social a um determinado con- tetido particular da psicologia social. De facto, a cognigio social foi durante algum tempo equiparada & area da percepgao de pessoas, preocupada com as impress6es, julgamentos, explicagdes e previstes acerca da personalidade do comportamento dos outros. Esta constitu uma solugo historieamente popular frequentemente adoptada nos manuiais de psicologia social. No ntanto, esta solugio nao satisfer. os psicdlogos sociais dos finais dos anos 70, entusiasmados com a importineia da cognigto social para as mais varia das reas da psicotogia social, tais como a mudanga de atitudes, a comunica- ‘go interpessoal, a tomada de deciséo cm grupo, entre outros (ver Fiske, Gilbert, & Lindzey, 2010; Higgins & Kruglanski, 1996; Markus & Zajonc, 1985), Deste modo, nfo se pode distinguir a cognigto social da psicologia social fazendo da primeira apenas uma drea de contetido da iitima. Uma solugiio alternativa seria reconhecer que a cognigao social entati- za 0 nivel de andlise cognitivo na psicologia social. Contudo, nem toda a psicologia social & cognigio social porque nem toda a psicologia social enfa- tiza o nivel de andlise cognitivo. A cognigao social ¢ social porque enfatiza o carter interpessoal, inter-subjectivo e reflexivo da cogni¢Ao, © cognitiva porque enfatiza o nivel de andlise cognitivo na psicologia social, Por outro lado, a adopgio da perspectiva cognitiva por pate da psico- logia social no se traduziu de forma linear em avangos significativos tanto 120 nivel do conhecimento dos fundamentos sociais dos processos cognitivos como dos fundamentos cognitivos do comportamento social. Segundo Gat= cia-Marques (2001), grande parte das teorias do comportamento social foram desenvolvidas na auséneia de pressupostos relativos & arquitectura cognitiva subjacente a esse comportamento, e sem preocupagdes relativas & plausibili- dade cognitiva dos mecanismos propostos. Segundo 0 mesmo auitor, esta negligéncia levou a um excessive proliferar de mecanismos psicoldgicos avangados para explicar dominios comportamentais espeeiticos, ao invés de, ‘com base nos mesmos processos psicoldgicos biisicas, se explicarem diver sas fungdes cognitivas (Abelson & Black, 1986). Por Gltimo, a psicologia social nem sempre adoptou metodologias de investigagao orientadas para 0 estudo dos processos cognitivos, porsistindo na utilizagio de paradigmas ¢ instrumentos que visavam a compreensto dos seus produtos finais (eg., cescalas de atitudes, listas de tragos; Fiske & Taylor, 1991; Ostrom, 1984), Neste sentido, 2 cogniggo social demarea-se da psicologia social cons- tituindo-se como uma abordagem conceptual ¢ empirica genérica ¢ no ape- Le Margarida Vaz. Garrido, Catarina Azevedo e ‘Tomas Palma nas uma sub-disciplina da ciéncia psicolégica. Esta abordagem permite assim abrir novas perspectivas no estudo dos problemas elissicos da psico- logia social, mas também no estuo de outras reas de investigagao ainda por explor Cognigéio Social exponencial desenvolvimento da cognigéo social resultou de uma reaego ao anterior clomfnio do comportamentalismo, e a0 pressuposto de que as representagies e os processos internos nfo observiveis nao se pode~ riam constituir como objecto de investigago cientifica. Os investigadores em cognigao social foram capazes de aproveitar os novos modelos teéricos & as novas ferramentas metodoldgicas desenvolvidas na psicologia cognitiva, © utilizé-los para abordar problemas e quest6es clissicas da psicologia social a partir de uma nova perspectiva © com novas estratégias experimentais (Devine et al., 1994). A adopedo desta abordagem obrigou a um conjunto de musangas na metodologia de investigagdo © ao estabelecimento de medidas desenhadas para lidar com os processos psicolégicos, inferindo-os e demons- trando-os através de protocolos de recordagio, medidas de tempos de reac ‘fo, julgamento, entre outros Teorias e métodos desenvolvidos para examinar como é que conceitos como “passaro” ou “maga” se encontram representados, poderiam ser util zados para estudar a representagao de conceitos sociais como “extrovertido” ou “bibliotecdrio”. Metodologias experimentais, revelando que a exposigfo a uma palavra como “banco” automaticamente trazia & meméria palavras rela- cionadas como “dinheiro”, podetiam ser utilizadas para compreender como é que a exposig@o a um memibro cle um grupo estereotipado activa automat camente tragos associadlos com o esterestipo desse grupo. A investigayao sobre as regras inferenciais que as pessoas usam para fazer julgamentos acerca de eventos incertos (e.g., arremesso de moedas) poderia ser aplicada 403 jullgamentos acerca de eventos sociais incertos, como a probabilidade de outro individuo exibir determinaco comportamento (Kunda, 1999), Neste contexto a cogni¢ao social constitui-se como uma abordagem prépria que, em meados dos anos 70, se encontrava em pleno desenvolvi- mento, Durante esta década e nas seguintes assistiu-se ao ressurgir da explo- ragio detalhada do papel dos processos cognitivos na compreensio de fend- menos fio diversos como as atitudes, as atribuigdes, ¢ os processos intergru- pais © ainda a meméria de pessoas, o desenvolvimento de esquemas, ¢ 0 papel da cognigio na persuasio e na inferéncia social (Hogg & Cooper, 2003). A perspectiva da cognigfo social atingin o seu auge em 1984 com a publicagiio do livro Social Cognition de Susan Fiske ¢ Shelley Taylor. Defi nindo a cognig20 social como o “estudo da forma como as pessoas se com- Cognigdo Social 9 preendem mas as outras ¢ & si préprias” este livro, reeditado em 1991 ¢ novamente em 2008, espelha o desenvolvimento de todo o dominio de inves- tigagdo em cognicao social. Contributos e Criticas & Abordagem Sécio-Cognitiva A cogni¢io social tornou-se numa abordagem geral aplicavel a quese todos os dominios da psieologia social, cuja receptividade e produgiio tedrica € metodolégica se encontra bem visivel na quantidade de investigagio © literatura produzida ao longo das iltimas quatro décadas. A adopeo de uma abordagem cognitiva permitiu um bom enquadramento pata vitios assuntos, incluindo alguns dos mais proeminentes na psicologia social, nomeadamente a atribuigio (e.g, Gilbert, Pelham, & Krull 1988), as atitudes (¢.g., Fagly & Chaiken, 1993), os esteredtipos (c.g, Hamilton, 1981), as relagées interpes- soais (c.g, Fletcher & Fincham, 1991), os grupos (e.g., Hins7, Tindale, & Vollrath, 1997), a meméria para informagiio social (e.g, Wyer & Srull, 1986), entre outros, Contudo, ¢ embora a heranga cognitiva tenha permitido aos investiga dores da abordagem séefo-cognitiva fazer uso efectivo das teorias ¢ técnicas da psicologia cognitiva para explorar estruturas mentais © eriar modelos de proceso, o compromisso com o paradigma do processamento de informagao levou, na opinifio de muitos autores, a que se tenham perdido de vista os fendmenos do mundo real que, provavelmente, motivaram Imente a investigagiio (c.g, Neisser, 1980, 1982; Forgas, 1983; Graumann & Som- mer, 1994}, removendo muito do que era social na investigagdo gerada ¢ isolando o individuo na sua actividade cognitiva, Os modelos de processamento de informagao centrais & cognigfio social foram assim criticados por estudarem processos cognitivos desprovi- dos do seu contetido e do seu contexto. Especificaente, estas eriticas foram dirigidas & perspectiva individualista que orientou a teoria ¢ a investigagio, ¢ ‘2 modo como negligenciaram 0 facto dos contedidos da cognigao terem ‘origem num contexto fisico ¢ social de interacgo © comunicagdo humanas. Efectivamente, o facto de a cognigao social ter como unidade de anilise © individuo que percebe, deixando de parte & importincia do “outro” e do con- texto nos processos cognitives, aeabou por incentivar a “individualizagao do social” © a “dessocializagio do individuo” (Graumann, 1986). Assim, uma das principais criticas apontadas & cognido social mais tradicional é que esta porpetua a divisto ontoldgica cartesiana entre sujeito € objecto e assenta em ‘concepgdes individualistas do conhecimento (Fatr, 1996). Por outro lado, a domocratizagio da experimentago que através de sofisticadas manipulagses procurou demonstrar as mais recentes criagdes tedricas, controlando delibe- rada e propositadamente poteneiais “variéveis contaminadoras” do mundo 10 Margarida Var, Garrido, Catatina Azevedo e Tomas Palma real, fizeram questionar em que medida este ambiente idealizado poderia permitir reais progressos na tarefa de construir um corpo de conhecimento que de alguma forma se aproximasse da experiéneia social humana (Augous- tinos & Walker, 1995). Estas e outras questdes levaram a que se discutisse até que ponto “social” seria um termo proprio para definir a disciplina uma vez que, na perspectiva de alguns ctiticos, o ‘inico aspecto social da cogni- gio social scriam os préprios objectos sociais — pessoas, grupos, aconteci- mentos. Convém contudo salientar que esta individualizagio tem um contexto histrico onde se situam, simultaneamente, as forgas da experimentagao e do positivismo que integraram a disciplina e a dotaram de respeitabitidade cien- tifica, Como resposta a algumas destas eriticas, alguns autores (¢.g., Bode- rnhausen & Wyer, 1988) recuperaram os pressupostos bisicos, sumariados por Wyer (1980), que orientaram a teoria e investigagaio em cognigto social no fini dos anos'70, O resultado destas reflexdes sugere que os prineipios tedricos suportados pela investigagdo de laboratério acerca dos processos sécio-cognitivos fazem também importantes previsdes acerca dos fendmenos do mundo real. Ainda como resposta 20 alegado esvaziamento social das investigagdes conduzidas em cognigao social, Devine e colaboradores (1994) revéem teoricamente as varias éreas da abordagem séci ficam © modo como os principais dominios e preocupagdes da psicologia social tém sido abordados, pela cognigao social, #0 fongo das tiltimas déca- das. Também Leyens e Dardenne (1996) defendem que a investigagaio em cognigaio social é mais co que ma aplicagao particular da psicologia cogni tiva a objectos soviais, nomeadamente porque tem um objecto social, tem uma origem social que & criada e reforgada através da interacgo social, e porque € socialmente partihada, sendo comum a diferentes membros de uma sociedade ou grupo. Pata além disso, Forgas em 1981, acentua explicitamen- te 0s aspectas sociais da cognigao, sugerindo que a cognigao é mais do que processamento da informagao, na medida em que é socialmente estruturada e socialmente transmitida, ¢ € moldada por valores, motivagdes © normas sociais. Finalmente, ¢ numa recente reflextio sobre a cogni¢%o social, tam- ‘bém Higgins (2000) defende a sua natureza social na medida em que aguilo que se aprende & relativo ao mundo social e © mundo social & onde esta aprendizagem tem lugar. A cognigao social é por isso diferente da cognigao nifo-social no modo como revels & nalureza interpessoal essencial da cogni- fio. Com base nestas reflexdes saliente-se ainda que a cognigao social difere dos prineipios gorais da cognigio em alguns aspectos: comparativa- mente aos objectos, as pessoas sto agentes causais que percepcionam e sto percepcionadas. As pessoas, 20 contrario dos objectos, possuem crengas, desejos, emogbes e tragos de personalidade e a nossa pereepgio dos outros Cognigto Social it pode afectar o seu comportamento, As pessoas sto alvos dificeis de cognigito porque se ajustam ao facto de serem percebidas, sendo que muitos dos seus atributos tém que ser inferidos ¢ podem inclusivamente mudar (Ostrom, 1984), Efectivamente, se até finat dos anos 80 a maior parte da teoria & investigagao em cognigao social focou-se em cognigées relativamente “frias”, envolvidas na representagao de conceitos sociais e no retirar de infe- réncias a partir delas, no final desta década ¢ embora mantendo o interesse ‘em elementos cognitives, 0 campo comesot a otientar a sua atengio para outras dimensées fazendo ressurgir um interesse histérico em dois outros sistemas ~ motivagiio ¢ afecto (Cook, Fine, & House, 1995). A nogio de que 0s nossos motives podem influenciar as nossas crengas assenta numa das mais importantes teorias da psicologia social, a teoria da dissonéncia cogni- tiva, que se baseia no pressuposto de que a motivagiio para reduzir a tensto desconfortével entre crengas em conflito pode provocar tentativas de modifi- cago de uma das crengas discordantes (Festinger, 1957). Uma outta linka de investigagiio importante em psicologia social, a investigagao das atitudes e 0 seu impacto no comportamento, posicionou, igualmente, 0 afecto como cen- tral x0 conceito de atituces (Eagly & Chaiken, 193). Mais recentemente, a investigagio especificamente direccionada as éreas afectivas da cognigéio levou a esforgos teérivos renovados para integrar a cognigao, a motivagdo © © afecto (Kunda, 1999), Mais coneretamente, comegou a ser accite que os “organismos actuam no sentido da satisfagdo das suas necessidades de sobre- vivencia (Fiske, 1992; Simpson & Kenrick, 1997) ¢, como tal, a motivagio © a cognigao estabelecem uma relagto biditeccional de miitua influéncia (Kru- glanski, 1996). Paralelamente, a estreita ligagio entre a cmogao © a cognisto & ainda ilustrada, por exemplo, em estudos que demonstram que quando a emogio 6 afectada se regista um dectéscimo dristico na tomada de decistio racional (Damésio, 1994). Actualiente, a teoria ¢ a investigagiio convergem assim no reconhecimento de que os processos cognitivos, motivacionais & ‘emocionais estabelecem uma relagiio de interdependéncia, cm que os iltimos regulam o primeiro (Singer & Salovey, 1988) e que todos sto partes indisso- civeis © fundamentais de um sistema auto-regulador que apoia a acco adaptativa (Smith & Semin, 2004). Este interesse renovado nas cognigdes “quentes” levou exploragiio da forma como os nossos objectives, desejos ¢ sentimentos influenciam o modo como ntos comportamos € dames sentido a0 mundo social (Kunda, 1999) ¢ a estudar 0 modo como préprio corpo, 0 contexto fisica ¢ a situagio social influenciam a cognigio e, consequente- mente 0 comportamento, de organismos que procuram a melhor adaptaglio possivel ao ambiente que os rodeia (Smith & Semin, 2004), 132 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomés Palma Cognigio Social: Desenvolvimentos ¢ Perspectivas Futuras Decosrente das criticas anteriormente mencionadas e de umn esforgo de integragao teérica e metodolégica dos desenvolvimentos de dreas adjacentes, 0s psicdlogos sociais ¢ sécio-cognitivos comegaram a alargar 0 sett foco de aiengio para além dos processos cognitivos simbélicos © individuais. Actualmente sto cada vex mais aqueles que orientam os seus esforgos de investigagaio de modo a incluir 0 estudo da motivaglo € afecto, relagdes p soais, pertenga grupal, contexto fisico ¢ social ¢ diferengas culturais. Patale- Jamente a estes desenvolvimentos, sreas como a psicologia cognitiva (Barsa- Jou, 1999), a robética (Brooks, 1999), a antropologia cognitiva (Hutchins, 1995) e a psicologia do desenvolvimento (Thelen & Smith, 1994), contribut- ram de forma decisiva para a emergéncia de uma nova abordagem — a Cog- nigdo Social Situada, Por outro lado, a constante preocupagiio em identificar os mecanismos intemos inerentes & cognigao e ao comportamento conduziu « um redobrado interesse na ulifizagaio de medidas complementares ds medidas comporta- mentais tradicionais da cognigdo social. Referimo-nos especificamente a um conjunto de metodologias que permitem localizar e empreender uma avalia- ¢io compreensiva dos processos cerebrais subjacentes cognigfio e compor- tamento social ¢ que fundamentaram uma nova drea de estudo — as Neuro- ciéncias Sécio-Cognitivas A Cognietio Social Situada A perspectiva da cognigio social situada questiona as concepgdes individualistas da cognigao social, defendendo o cavécter situado dla cogni- ‘iio e, consequentemente, da acgio (Smith & Semin, 2004, 2007; para uma revisio ver Semin et al, 2011). Bsta perspectiva sustenta assim que os pro- cessos sécio-cognitivos sto permedveis aos objectivos do percepiente social (Sinclair & Kunda, 1999), ao seu estado emocional na situago (DeSteno, Dasgupta, Bartlett, & Cajadric, 2004), ao contexto comunicativo (Norenzayan & Schivarz, 1999), e aos constrangimentos do proprio corpo (e.g., Barsalou, 1998). Contrariando a divisto cartesiana assumida pela perspectiva mais tradicional em cognigao social, que separa sujeito ¢ objecto (Farr, 1996), todos estes aspectos contextuais so equacionados como reguladores funda- ‘mentais da cognig8o e nflo, apenss, como informagtio adicional a ser proces- sada (Smith & Semin, 2004). Esta proposta implica, assim, uma alteragio paradigmatica dos pressupostos inerentes & relag&o estabelecida entre a cog nigo a acgio, assumindo um papel fundamental na mudanga da metéfora computacional cognitivista para a metéfora biolégica que sustenta que a cognigao e a acgio constituem um processo regulador adaptative que serve, Cognigio Social 133 em tiltima instincia, necessidades de sobrevivéncia (Fiske, 1992; Simpson & Kenrick, 1997). Assim, por questées de sucesso adaptativo (e.g., evitar pro- dadores ou cagar), « cogni¢fo humana tem raizes no processamento sensé- rio-motor e 6 orientada para agir de acordo com a especificidade do contexto (para uma discussfo, ver Wilson, 2002). Ao assumir que a cognigfo actua enquanto agente regulador adaptativo, a cogni¢go social situada questiona que as representagdes mentais sejam simbélicas, abstiactas e estaveis e que sejam activadas e aplicadas por processos relativamente autométicos e inde pendentes do contexto, tal como geralmente postulado pelas ciéncias cogni- tivas (Smith & Semin, 2007). Passa, entfo, a ser considerada a natureza modal da cognigio humana, que é flexivel ¢ baseada em processos percepti- vos e sensoriais (¢.g., Barsalou, 1999; Clark, 1997; Smith & Semin, 2004), ‘A cognigdo social situada encarna, deste modo, um projecto de mudanga epistemoldgica da propria construgao € definigtio do conhecimento que, a0 retomar € adequar ideias passadas da psicologia social, promove @ redefinigao ¢ reenquadramento da investigagio © anilise da cognigio ¢ da ‘acgio humana, Desia nova concepeiio emergem os seguintes pressupostos: 1) a cognigiio & para a acgilo; 2) a cognigao € socialmente situada; 3) a cog- igo & distribuida; 4) a cognigio & corporalizada (entbodied) (Semin & Smith, 2002; para uma revisito ver Smith & Semin, 2004), © primeiro pressuposto sugere que a cognig&o nfo é um fim em si mesmo, mas um processo regulador adaptative que & mokdado pelos abjec- tivos sociais ¢ pelos requisitos da acg#o (Smith & Semin, 2004). Assim, a inteligéncia é percebida enquanto interacgdes adaptativas com outros agentes © com 0 contexto ¢ as estruturas cognitivas sto consideradas no s6 como receptores passivos mas também como operadores nto mundo. Por exemplo, as atitudes sfio automaticamente activadas e influenciam os julgamentos © comportamentos em torno do objecto (Fazio, Sanbonmatsu, Powell, & Kar- des, 1986), © as impressdes, que integram informagio dos sistemas visual, verbal, afectivo ¢ de acgao (Carlston, 1994), ditam um comportamento adap- tado ¢ moldado as caracteristicas da pessoa percebida, Qutro dos pontos de andlise da cognigto situada é a su natureza sociaimente sinada (Semin & Smith, 2002; Smith & Semin, 2004). Se con- siderarmos que os processos cognitivos nao so construfdos nem constrangi- dos pola situagéo, como a perspectiva mentalista precontiza, entéo, 0 agente lida com um mundo anilogo ao inscrito na sua cabega € 0 conhecimento & remetido para um conjunto de descrigées de como o mundo aparenta sor ¢ de comportamentos adequados a certas situagdes (Clancey, 1997). Como con- traponto, a cognigio situada defende o “poder da situagao”, ou seja, & influéneia de um ambiente significativo cujas caracteristicas sto recursos ou cconstrangimentos & cognigio (Gibson, 1966) c is interacges entre os indivi- duos (Semin & Smith, 2002). Estas ideias sfo sustentadas por evidéneias que BH Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomés Palma demonstram que as atribuigdes (Norenzayan & Schwarz, 1999), as auto- -atribuigées (Rhodewalt & Augustsdottir, 1986), a auto-estima (Crocker, 1999), 0 auto-conceito (MeGuire & McGuire, 1988) e os esteredtipos sociais (Schaller & Convey, 1999; Gareia-Marques, Santos, & Mackie, 2006), pro- ‘cessos cognitives normalmente considerados autométicos © estiveis, so afinal influenciados por pistas derivadas da situagao social imediata. Adicio nalmente, existe uma resposta adaptativa dos processos comunicativos, cog- nitivos e avaliativos as propriedades situadas da comunicagao (Higgins & Semin, 2001); 0 conhecimento conceptual nfo ¢ representado de forma abs- tracta mas sim organizado por situagdes especificas (Barsalou, 2000; Yeh & Barsalou, 2006); e, uma vez. que o ambiente faz. parte dos nossos processos cognitivos, aprendemos a geri-lo para aceder de forma mais répida ¢ fica & meméria (Clark, 2008; Kirsh, 1995). O terceito pressuposto da cognigao situada refere que a cognigio & disiribuida espacial e temporalmente pelo ambiente, pessoas e grupos (¢.g., Gareia-Marques, Garrido, Hamilton, & Ferreira, 2011; Garrido, Gareia- -Marques, & Hamilton, 2011; Levine, Resnick, & Higgins, 1993; Wegner, 1986; Weldon & Bellinger, 1997; para uma revisdo ver Rajaram & Pereita- -Pasarin, 2010). A evolugio da sociedade humana em geral € o funciona mento individual em sociedade néo podem ser percebidos sem uma com- preensao do conhecimento como um proceso cumulative que é distribuido & preservado através de ferramentas (e.g., compassos, calculadoras, computa dores), da estruturagio do meio ambiente (e.g., sinais de trénsito, correios) € da distribuigdio do conhecimento por pessoas € grupos (mecfnicos, navega- dores, programadores, ver Hutchins, 1995). Os agentes devem conseguir aceder, coordenar ¢ sincronizar este conhecimento distriburido para resolver problemas especificos e utilizar ferramentas (¢.g., linguagem) que permitam ‘a “ligagaio social” (Semin, 2000). A diltima consideragao da cognigao situada sustenta que a cognigio & corporalizada, Os sistemas nervosos desenvolveram-se para controlar 0s corpos, para que os organismos adaptem o seu comportamento a am ambien- te de répida mudanga, Neste sentido, as arquitecturas envolvidas no nosso corpo ¢ oérebro constituem fontes de regularidade ow de constrangimento a cognigio, afecto, motivagio © comportamento (Smith & Semin, 2004). No que diz respeito a corporalizagiio dos processos cognitivos, estudos recentes ilustram por exemplo que os estados emocionais e os julgamentos avaliati- vos podem ser induzidos por actividades corporais. Por exemplo, foi de- monstrado que a execugao de movimentos verticais com a cabega enquanto se escuta uma mensagem persuasive, promove avaliagdes mais positivas dessa mensagem, clo que quando o movimento da cabega & horizontal (Wells & Petty, 1980), No dmbito da formagao de impressdes, verificou-se também que @ congruéncia entre a valencia dos comportamentos de um alvo social Cognigao Social 1B (c.g, positiva) ¢ a locatizagto espacial onde estes siio apresentadlos (@.g., em cima) facilita 0 proceso de formagio de impresses ¢ @ stia posterior recu- peragdo (Palma, Garrido, & Semin, 2011), Outros estudos mostram ainda que a adopgto de expressdes facinis correspondentes a estados emotivos (induzidas lingutstica ou mecanicamente) promove a emogo correspondente (eg, Duclos ef al., 1989; Laird, 1974) o influenciam tarefas de julgamento avaliativo (c.g, Foroni & Semin, 2009; Strack, Martin, & Stepper, 1998; para uma revisio ver Niedenthal, 2007). Esta ligagao dos programas afecti- vo-motores é imediata, automatica, impulsiva e nao deliberada (e.g., New- mann & Strack, 2000). A corporalizagio da cognigto é igualmente demons- trada pela ligasio entre a percepetio © o comportamento, ja reconhecida por William James (1890/1950). Por exemplo, estudos experimentais mostram que a activagao do conceito “bem-edueado” promove comportamentos de boa educagio (Bargh, Chen, & Burrows, 1996; Chartrand & Bargh, 1999) ¢ a activagio do esteredtipo “idoso”, leva a que os participantes andem mais devagar (Bargh et al., 1996), Estes © outros estudos sugerem que o c estabelece uma relagiio estreita com o processamento de informagio soci ‘emocional, No entanto, s6 as recentes teorias da cognigao corporalizada, que interpretam a aquisig&o ¢ utilizagio do conhecimento como processos fun- damentados nos sistemas de modalidades especificas do cérebro, conseguem explicar tais evid&neias ou, pelo menos, predizer 0s efeitos oxplicitos ¢ « priori (Barsalou, Niedenthal, Barbey, & Ruppert, 2003; Smith & Semin, 2004). Coniributos e Criticas ¢ abordagem da Cogni¢do Social Situada Apesar da cognigdo social situada fer vindo a granjear um amplo e crescente apoio, em parte decorrente das eriticas que aludem a descontextua- lizagdo da anélise dos processos cognitivos por parte da cognigao social mais tradicional, as propostas desta abordagem sfo também caracterizadas pela controvérsia que suseitam, Alguns autores (e.g., Wilson, 2002) defendem por exemplo, que sugerir que toda a cognigdo é situada implica excluir uma grande parte do processamento cognitive humano nomeadamente, # ac dade cognitive realizada offtine. Como exemplo salientam-se actividades como planear, recordar ou sonhar acordado que poderiio ocorrer em contex- tos niio directamente relevantes para 0 conterido dessas actividades, Ou seja, segundo Wilson, um dos aspectos mais caracteristicos cla cognigdo humana & precisamente 0 facto de que pode ocorrer dissociada de qualquer interacgao com o ambiente fisico ¢ social No entanto, se a interacg%o com 0 contexto influencia as actividades supracitadas, tomando a cognigfo situada, entZo a inexisténcia dessa interac- wualmente situada, na medida em que a presenga ou auséncia de 136 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomés Palma determinados contetidos, facilita ou constrange a actividade cognitiva, Este argumento encontra apoio nas propostas das “grounded theories” (e.g, Bar- salou, 1999; para revistio ver Barsalou, 2008) que sugerem que mesmo quando a cognigao € realizada offline, sio reactivadas as respectivas modal dades activadas na cognigio online, levando o individuo a simular a expe rigneia como na presenga da situago ou evento. Este argumento dificilmente deixa espago para a nogao de existéncia de uma cognigaio néo situada, Por outro lado, a ideia de que a actividade cognitiva ndo se restringe fap que se passa na cabega dos individuos mas que é distribualda por outros agentes sociais e situagdes com as quais o individuo interage também nfo fica isenta de eriticas. Segundo Wilson o estudo do individuo na situagiio ‘como um sistema unificado no se justifica, Para esta autora, a definigao das fronteiras de um sistema constitu uma questo de julgamento e depende d objectivos particulates da anilise realizada. Neste sentido, é preciso deci ‘que sistema serd mais natural e mais cientificamente produtivo: a mente, ou a mente, 0 corpo ¢ certos aspectos da situagao. Recordando como objective da ciéncia o estabelecimento de principios e regularidades e nfo a explicagito de acontecimentos especificos, entio a natureza facultativa da cogni&o dis- tribuida torna-se um problema. Em resumo, a transigiio de uma abordagem elementar, simbética ¢ descontextualizada da cognigfo para uma abordagem marcadamente contex- tual, dindmica, e sistémica tem os seus perigos. Tal como reconhece Clancey (2009), uma das dificuldades em articular uma visio situada ta cognigaio tem sido ¢ continua a ser 0 facto de, para algumas pessoas, esta abordagem suge- rir um certo relativismo cultural da ciéncia (Slezak, 1989; Bruner, 1990). Estas objecgdes & cognigto situada decorrem assim da preocupagto de que sistemas abertos possam ser arbitrérios © da necessidade de impor um con- trolo “externo” para manter os sistemas complexos organizados (Lakoff, 2002). Por outto lado, uma visio da cogni¢ao como infinitamente flexivel, distribuida e responsiva ao contexto fisico e social carece de poder preditivo. ‘Toma-se assim dificil prever exactamente como & que um contexto infinita- mente varidvel afecta 0 nosso pensamento e comportamento, Para contornar esta limitagao serd necessério um actescido esforgo tedrico e empfrico, no sentido de explorar as caracteristicas do contexto que sio mais importantes na determinagao da cognigao (Smith & Conrey, 2009), Nao sendo uma teoria unificada, nem constituindo uma ruptura com as tematicas historicamente estudadas tia cogni¢ao social, a cognigao social situada pode ser perspectivada como una contintagao das trajectbrias tradi- cionais, com novas metodologias, novas ferramentas conceptuais, e, por vyezes novos objectivos, chamando a atengao para a importincia de se desen- volverem abordagens tedricas que coloquem a interdependéncia entre o ser social e 0 contexto em primeiro plano, e que especifiquem nao s6 os proces- Cogni¢o Social 37 sos psicol6gicos envolvidos mas também as suas fronteiras (Smith & Semin, 2004; Wilson, 2002). A Abordagem das Neurociéneias Sécio-Cognitivas: O que se fea de novo en Cognigdo Social [As nourociéneias sécio-cognitivas (NSC), tal como a sua designagiio deixa antever, constituem uma area interdispficinar que combina métodos da neurociéneia cognitiva com teorias da cognigao social, economia, ciéncias politicas, antropologia, entre outras, de forma ¢ estudat os meeanismos men- tais que criam, enquadram, regulam e respondem A nossa experiéncia no mundo social (Lieberman, 2010). Para tal, recorrem 4 medida de correlatos neurolégicos, que expressam uma relagéo entre um estimulo ¢ uma resposta specifica, suficientemente estiveis pare serem psicologicamente interpreta- dos, constituindo, por isso, uma ferramenta potencialmente til de investiga- go em psicotogia ‘A receptividade da cognigto social as neurocigncias cognitivas deveu- -se sobretudo ao potencial desta abordagem para colmatar algumas limita- ‘g6es tedricas mas sobretudo metodoligicas, nomeadamente no que diz res- peito & identificacto das estruturas e processos cognitivos. Tal como referido anteriormente, muitos dos parodigmas que permitiram retirar inferéneias ‘quanto A influéneia dos processos cognitivos nas respostas compartamentais “observaveis bascaram-se em medidas dependentes como a laténcia da res- posta, a taxa de erros ¢ em avaliagdes da meméria dos individuos (¢.g., recordagio). Apesar de estas medidas comportamentais contribuirem indis- cutivelmente para o desenvolvimento de paradigmas ¢ teorias em cognigfo social, nfo deixam de ser limitadas quanto as inferéncias que podem ser extraidas, Por exemplo, as medidas comportamentais exprossam 0 resultado da combinagio de processos cognitivos, afectivos e motores (Coles, Smict, Sohefters, & Otten, 1995), nflo sendo todos de interesse fedrico para as ques- tes em estudo, Mais especificamente, as medidas comportamentais repre- sentam um conjunto de processos cumulativos relativos ao estimulo de inte- resse, mas no conslituem em si mesmas medidas ditectas desses processos. ‘una ver que dificilmente conseguem separar a influéncia dos virios componentes do sistema de processamento de informagio, nfo localizam os processos psicolégicos no eérebro (o que nio permite diferenciar mecanismos psicol6- ‘gicos, aparentemente semelhantes, que sto afinal diferentes e identificar Assim, devem ser ponderadas as inferéncias extrafdas destas medidas 4 Tendo em conta 6 propésito deste artigo debrugamo-nos apenas sobre as ncurociéncias sécio-cognitivas (para revisto ver Lieberman, 2007), e sobre os seus contibatos¢ limita Ges para 0 desenvolvimento da investigagdo em cognigto social. 1a Azevedo e Tomas Palma 138 Margarida Vaz Garrido, Cat processos que afinal ocorrem nas mesmas regiGes cerebrais), nao avaliamn 0s processos psicolégicos em tempo real, ¢ apresentam limitagdes em revelar especificamente a estrutura da cognig&o social (e.g., Bartholow, 2010). A-NSC procuta, deste modo, estudar os mecanismos neuronais que esto subjacentes aos processos sécio-cognitivos (e.g., Blakemore, Winston, & Frith, 2004) através da combinago de trés niveis de anélise: 0 nivel social, relative aos factores sociais e motivacionais que influenciam 0 com- portamento e experiéncia; o nivel cognitive, que diz respeito aos mecanis- mos do processamento de informagao que levam aos fenémenos de nivel social; ¢ 0 nivel neuronal, centrado nos mecanismos cerebrais que lovam aos processos de nivel cognitivo (Ochsner & Lieberman, 2001). Assim, esta abordagem pretende estudar os mecanismios neurocognitivos implicitos que suportam & cognigao social, em ver. de focar a atengo nos efeitos psicofisio~ logicos posteriores resultantes da cognigao social (Lieberman, 2005), Note-se contudo que nem sempre foi este 0 caso. Até ha bem pouico tempo, os estudos nesta frea centravam-se sobretudo na utilizagio de técni- cas farmacolégicas ¢ psicofisiolbgicas para telacionar variéveis sécio- -cognitivas com padrées de resposta imune tais como niveis hormonais, batimento cardiaco, respiragao ou outras medidas fisiolégicas periférieas (e4g,, Cacioppo et al., 1998; Cacioppo, Tassinary, & Berntson, 2000; Toma- ka, Blascovich, Kelsey, & Leitten, 1993). No entanto, estas medidas s6 reflectem indirectamente as operagdes do sistema cerebral, ndo se podendo retirar inferéncias directas sobre o sistema neurocognitivo, Nos iiltimos anos, © aumento e methoria das populagdes neuropsicoldgicas e das técnicas de neuroimagem permitiram relacionar directamente as fngGes sociais afec~ tivas com os sistemas neurocognitivos e testar novas hipdteses quanto & natureza da cognigao social (ver Ochsner & Lieberman, 2001). ASC conheceu um exponencial desenvolvimento na década de 90, a partir de um conjunto de estudos que, recorrendo a sofisticadas metodolo- gias, procuraram estudar o eérebro para testar questes sobre o tipo de pro- cossos envolvidos na cognigo social “normal”, em vez de se focarem em descrever 0 que esti danificado no cérebro dos pacientes com lesdes (Lie- berman, 2007a). Por exemplo, a utilizagio dos ERPS (Event Related Poten- tials) petmitiu identificar as regiées do cértex que estéo diferencialmente cenvolvidas em crengas avalintivas e nao avaliativas, sugerindo que diferentes 3 Os ERP sto respostas eléctricas neuronaisassocizdas a eventos sensorinis, cognitivas ¢ rmatores especificose signifieativos que podem ser extraidasatraves de um Electrocncefi- logiafo (BEG). Mais especifieamente, os ERP sto a classe geral de potenciais que estabe- lece relag8es estfveis no tempo com um evento de referencia definivel, fezendo-se, por Jsso, a média das respostas assocladas no tempo a um certo estimulo, através de varios enstios (Luck, 2005). Cognigto Social 39 tipos de cognigto apoiam estes dois tipos de atitudes (e.g., Cacioppe, Crites, & Gardner, 1996). De facto, actualmente reconhece-se que os ERP sfo bas tante tteis para determinar em que medida cada condigao dos estimulos influencia diferentes aspectos do processamento de informagao, separando a influéneia dos varios componentes do sistema de processamento de informa 40; a ordem temporal relativa desses processos cm tempo real; e como ¢ que esses processos do origem as respostas comportamentais observaveis, indexando directamente as respostas neuronais inerentes a processos cogni tiyos ¢ afeetivo-motivacionais de interesse (ver Bartholow, 2010; Bartholow & Amodio, 2009; Bartholow & Dickter, 2007, pata revisfo). No entanto, foi a introdugo da fMRI® (Functional Magnetic Reso nance Imaging), enquaato téenica das neurociéncias aplicada & cognigtio social, que caialisou a NSC, conferindo-Ihe a coeréncia necesséria enquanto rca de estuclo (Lieberman, 2005). Os primeiros estudos a utilizar esta técni- ca abordaram temas como os esterestipos, verificando, por exemplo, uma maior activagio da amigdala perante a apresentagto de faces de pessoas pertencentes @ um oxigronp (Hart et al., 2000; Phelps et al., 2000); 0 auto- -conhecimento, ao propor que recordamos melhor informagaio sobre nés préprios do que outro tipo de informagao semantica, porque 0 processamento relative ao self ocorre numa zona do eértex funcionalmente diferente da de outro tipo de processamento (Kelley et al, 2002), ea teoria da mente, ou seja, a capacidade da monte pensar sobre a mente, no ambito da qual foram rovelados os varios substratos corebrais envolvidos neste tipo de processa- mento (Baron-Cohen, Ring, Moriarty, Shmitz, & Costa, 1994; Frith & Prith, 1999), Estudos mais recentes abordam varios dominios da psicologia social como a auto-consciéneia (Gustiard, Akbudak, Shulman, & Raichle, 2001; Keenan, Nelson, O’Connor, & Pascual-Leone 2001); julgamentos ¢ tomada de decisio (De Quervain et al., 2004; Sanfey, Rilling, Aronson, Nystrom, & Cohen, 2003); « cooperagiio (Kosfeld, Heintichs, Zak, Fischbacker, & Pehr, 2005; Rilling, Sanfey, Aronson, Nystrom, & Cohen, 2004); 08 auto- -esquemas (Lieberman et al., 2004); a exclusto social (Bisenberger, Lieber- man, & Williams, 2003); a avaliagdo atitudinal (Cunningham, Johnson, Gatenby, Gore, & Banaji, 2003; Wood, Romero, Knutson, & Grafiman, 2005); a regulagao dos esterestipos (Amodio, Harmon-Jones, & Devine, 2003; Lieberman, Hariri, Jarcho, Bisenberger, & Bookheimer, 2005; Riche- son et al,, 2003); os efeitos das expectativas (Petrovic, Kalso, Petersson, & Ingvar, 2002; Wager et al., 2004}; a cognigdo relacional (c.g., Avon ct al., © A uillizagao da OMRI pressupde que quando o sangue fui para wma regio aetiva é mais Dwigenado do que qualquer out tipo de sangue, O sangue oxigenado tem propriedades rmagnéticns diferentes do sangue nto oxigenad, que sto detectadas pela INRI, permitindo Tocaliar espacialmente para onde & que 0 sangue esta flu (Lieberman, 2010). 140 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomés Palma 2005; lacoboni et al., 2004); a empatia (Carr, lacoboni, Dubeau, Mazziotta, & Lenzi, 2003; Singer et al., 2004), entre outros. O contributo para a cognigio social dos estudos que recorrem a {MRI pode ser apreciado @ trés niveis. Por um lado, permitem clarificar situagdes fem que ocorrem dois processos psicolégicos que experiencialmente se sent= tem de forma idéntica © produzem resultados comportamentais semelhantes, mas que na verdade dependem de diferentes mecanismos subjacentes. Por outro lado, permitem observar processos que, ao contrério do que se pens dependem dos mesmos mecanismos. Em ambas as situagdes esses mecanis- ‘mos podem ser reconhecidos ao ser identificada a sua localizagaio no cére- bro. Por fim, & medida que se vai sabendo mais sobre as fungdes de diferen- tes regides do eérebro, comega a tornar-se posstvel inferir alguns processos mentais, apenas através da observacio da actividade cerebral (Lieberman, 20078) Em resumo, na sequéncia de importantes desenvolvimentos tecnol6gi- cos, as ferramentas utilizadas em neurociéneias foram importadas € desen- volvidas para estudar a cognigao social. Entre estas destacamos as técnicas de neuroimagem como a ressondncia magnética funeional ((MRI), a tomo- grafia de emissdo de positrdes (PET), os potenciais evocados (ERP), a esti- mulagdo magnética transcranial (TMS), ¢ as técnicas neuropsicolégicas do estudo de lesdes cerebrais (¢.g., Lieberman, 20072; Lieberman, 2010). Como varios autores referem (e.g, Ochsner & Lieberman, 2001), 0 importante é perceber estas téenicas como ferramentas adicionais e complementares as medidas tradicionais de investigagaio em cognigao social, ¢ no como um fim em si mesmo, que retire a énfase da compreensio dos processos afectivo- -sociais ¢ 0 coloque na sta localizagio. Contributos e Criticas as Neurociéncias Sécio-Cognitivas Mas quais sfo entéo as consequéncias para a cognigdo social desta aparente explosio das neurociéncias? Qual © papel da neurociéneia sécio- -cognitiva no desenvolvimento de modelos e teorias psicoldgicas? Num bre- ve olhar pela literatura podem encontrar-se pelo menos trés perspectivas distintas sobre estas questées. 7 A PEE & a primeira form de nevroimagem funciona, psteriormente subsite em importncia pela AMI, Os sujitos sta Sajectados 0 Inam mareadaresradiosctivos que vido fisarse a moldeuls biologieameate actives. Os raios Gamma estes mareadores podem, eno, see detectados cam « PET, penmitindoitentiiear por onde os mareadores do a viajar no eérebro durante diferentes fipos de atvidede mental (Lieberman, 2010) € uma tSenica nto-invasva que uiliza campos dade cerebral em teas espeifices ou na ttl cmi, 2005), 8A estimvlagdo mognétien tansera ‘magnéticos para estimular ou aasar act dade do cérebro (e.g, Pulvermller, leuk, Nikulin, & Iino Cognigto Social Mi De um lado do extremo situam-se aqueles que afirmam que a investi- gagio em neurociéneia cognitiva ainda n&o possui dados que possam ser Utilizados para testar e distinguir entre teotias que concorrem pela explicagio do mesmo fenémeno psicoldgico (e.g., Coltheart, 2006; Henson, 2005). ‘Com uma posigio mais moderada encontram-se aqueles que, reconhe- ccem as neurociéncias como uma area importante, ¢ que apesar de recente presenta jd um desenvolvimento considerdvel. Especificamente, admitem {que 0 mapeamento das Areas cerebrais de alguns processos cognitivos sim- ples permitido pelas neurociéneias poderd ser itil para informar e diferenciar entre modelos psicolégicos. No entanto, reconhecem também o limitado potencial de aplicagiio dos dados obtidos na investigagtio em neurociéncia aos modelos actualmente existentes em cognigiio social, Estas limitagdes decorrem da complexidace dos proprios processos psicossociais que difiel- mente permitem uma exacta localizagéo (c.g., Licberman, 20074; Mitchell, 2008; Willingham & Dunn, 2003). De facto, a complexidade da mente fumana coloca problemas & neurociéncia cognitiva?. A mente humana possti tum cardeter hierérquico com diferentes niveis de complexidade e de integri- dade tedrica, Na base desta hicrarquia esto as representagdes ¢ 08 processos cognitivos. No nivel seguinte encontram-se os eonstrutos de primeira ordem (e.g., percepgio, atengo, meméria), constituldes por representagGes e pro- cossos. Seguem-se os construtos de segunda ordem (¢g., esterestipos, for- mago de impressées, conformidade), construidos a partir de construtos de primeira ordem mas que podem também incluir representagdes @ processos, Enquanto que a psicologis eognitiva tende a centrar-se nos construtos de primeira ordem, a cognigio social ¢, por definigéo, uma diseiplina cujo nivel de andlise incide nos niveis mais elevados da hierarquia, o que coloca desde logo 0 problema da sua localizagio no cérebro, Eno entanto possivel argu- mentar que muitos dos modelos contempordineos da cognigio social sio ‘compostos por construtos de segunda orclem que apesar de no serem passi- yeis de localizagao cerebral directa podem ser decompostos em construtos mais basicos que sio eventualmente localizéveis (Willingham & Dunn, 2003), Contudo, seré que, por exemplo, o processo de categorizagao inicial, ‘comum em muitos dos actuals modelos de formagto de impressées (0.8. Brewer, 1988; Fiske & Neuberg, 1990), néo é ele proprio composto por ‘varios sub-processos recrutados consoante 0 tipo de categorizagio a efectuar (e.g, raga, sexo)? Qual é assim a pertingneia deste nivel de detalhe para os actuais modelos de formagio de impressGes? Seré que estes modelos ganham poder explicativo se incorporarem em si este nivel de preciso? Estas questdes levam, precisamente, a outta erltica feita & introdugiio das * Para ume discussto detalhada sobre as limitagdes da NSC, ver Willingham e Dunn (2003). 2 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e Tomas Palma medidas das neurociéncias cognitivas na cognigo social. Até que ponto & que 0s contributos feitos por ambas as areas (NSC e cogni¢ao social) resul- tam em beneficios mituos ¢ contribuem para um desenvolvimento recipto- co? Segundo Lieberman (2005) pode considerar-se que a NSC retira muito mais da investigago em cognigo social do que aquilo que dé em troca, na medida em que 0s conceitos ¢ teorias em cognig2o social sito usados para identificar a fungiio sécio-cognitiva de determinadas regides no eérebro, nao sendo claro até que ponto a compreenstio destas relagdes & de facto um con- tributo para a cognigdio social. Akém disso, algumas das metocologias utili- zadas em NSC impedem os participantes de falar, de se mexerem, de intera- girem e, muitas vezes € necessitia a sucessiva repeti¢ao de ensaios para extrair sinais detectéveis do ruido, Assim, ao suprimir a importineta do con- texto, dos agentes e das suas interacgées, poderd questionar-se até que ponto esta visio nfo se toma redutora, e om que medida enfatizar a localizagiio dos processes psicolégicos, paderd contribuit para a compreenstio dos fendme- nos sociais ¢ afectivos que consideram o individuo inserido num contexto social, Efectivamente, a complexidade dos individuos © dos proprios fend= ‘menos sociais esta presente em qualquer tipo de investigagio em cognigao social. Acrescentar qualquer contribuigao A cognigao social usando qualquer metodologia & dificil, uma vez que os nossos participantes sfio alvos em movimento que fentam pereeber 0 propésito das nossas experiéncias © as nossas oxperiéneias devem ser ecologicamente vilidas dentro de limites éticos aceitaveis, © ainda assim avaliarem as varidveis dependentes adequa- das (Lieberman, 2010). Por iiltimo, do outro lado do extremo, temos aqueles que defendem que a NSC é uma area vibrante que tem contribuico grandemente para 0 conhecimento sobre o ser humano social com novas descobertas e ideias que desafiam muitas teorias existentes em cognigo social (e.g, Lieberman, 2007@; Mitchell, 2008; Ochsner & Lieberman, 2001). Segundo esta perspec tiva, sendo a cognig#o social uma disciplina que coloca o seu énfase nos processos cognitivos envolvidos tios feriomenos psicossociais, a localizagao das areas cerebrais onde esses processos ocorrem poderd ser potencialmente interessante, Para além disso, “uma vex. que os processos cognitivos sto inplementados pelo eérebto, parece fazer sentido explorar a possibilidade de que as medidas da actividade cerebral possam fornecer insights sobre a sua natureza” (Rugg & Coles, 1995, p. 27). Neste sentido, as recentes téenicas de neuroimagem e os desenvolvimentos da NSC podero constituir contributos importantes para a compreeiisto do funcionaniento cognitive. No entanto, 0 facto de muitos investigadores consideram que saber “onde” os processos cognitivos ocorrem & 0 mesmo que saber ‘como ocorrem”, levou a que as contribuigdes dos estudos de neuroanatomia funcional para a cognigao social fossem precedidos por uma mé reputaedio. Contudo, e apesar de o “onde” por Cognigto Social M3 si s6 deixar em aberto muitas questdes, por vezes, estes estuudos de mapea- mento cerebral levam a outros estudos que contribuem realmente para o desenvolvimento de teorias em cognigao social (Lieberman, 2010). Deste ponto de vista, a utilidade da investigagio em NSC emerge quando a questo “onde” (no eérebro) € apenas um prelidio para as questdes “quando”, “por- qué” e “como”. Ha muito mai ncia cognitiva para akém da neu- roanatomia funcional, da localizagio dos processos psicol6gicos, da resposta i pergunta “onde”. O facto de se saber onde certos fenémenos ocorrem leva ‘a que, por vezes, se saiba como ocorrem, quando ocorrem e porque ocorrem. Assim, se a resposta & pergunta “onde” nao for interpretada cnquanto um fim ‘em si mesmo, pocemos considerar que as medidas da NSC podem contribuir para desvendar as estruturas © os processos inerentes aos fendmenos sociais (Lieberman, 20078). Neste sentido, um dos beneficios da abordagem NSC é a melhor pre- cistio na caracterizagio do fenémeno sécio-emocional (Ochsner & Lieber man, 2001). Ao estudarsse as estruturas neurocognitivas subjacentes podem ser capturadas contunalidades existentes entre fenémenos sociais aparente- mente heterogéneos. A NSC pode ainda esclarecer algumas destas telagées ‘20 mapear as bases neuronais das diferentes formas de cogni¢ao social. Se as mesmas freas cerebrais forem activadas para diferentes formas de cognigio social, sera razodvel concluir que as mesmas ércas esto a ser reerutadas para diferentes processos (Lieberman, 2000). Para além disso, a informagao rela- tiva a0 funcionamento do eérebro pode se utilizada pata diferenciar fendme- ‘nos aparentemente semelhantes ¢ dissecar fendmenos complexos nos seus componentes mais simples, 0 que nio poderia ser feito recorrendo as medi- das comportamentais tradicionais (Ochsner & Lieberman, 2001). Um bom exemplo disto 6 a investigagdo em meméria, que indagava se diversos tipos de meméria eram fruto de um éinico sistema de memétia a operar de diferen- tes formas, ou de sistemas de meméria distintos a operarem de forma concer tada, Esta questio foi recentemente ultrapassada recorrendo a dados neurop- sicolégicos © provenientes da neuroimagem que apontam para a existéncia de miitiplos sistemas de meméria (e.g., Schacter & Tulving, 1994; Squire, 1992), Por tiltimo, a neuroimagem permite também a avaliagao das contri- buigdes independentes de processos que ocorrem simultaneamente como, por exemplo, os componentes autométicos € controlados de um dado proces so (Ochsner & Lieberman, 2001). No entanto, & de notar que é a jungao de miiltiplas reas do conheci- mento e de varios métodos e técnicas que constitu um real contributo para o desenvolvimento das teorias em cognig&o social, Enquanto que os neuro- ccientistas cognitivos usaram, historicamente, metodologias minimalistas para cstudar fenémenos elementares, compreendendo o fendmeno social segundo uma perspectiva Bottom-up, 08 ps era mais interessa- va Margarida Vaz. Garrido, Catarina Azevedo ¢ Tomas Palma sto conjunto de fendmenos sociais complexos € socialmente relevantes, integrando uma perspectiva fop-down. Nos iitimos anos, comegou a considerar-se, cada vez mais, que ambas as perspectivas ‘io podem ser investigadas independentemente e, como tal, ambas tém a ganhar com os contributos reeiprocos (Ochsner & Lieberman, 2001). Bfecti- vamente, uma das premissas desta abordagem respeita ao facto de as diferen- tes questdes impostas pelos psiedlogos sociais e pelos neuracientistas cogni- tivos no serem independentes ou mutuamente exchisivas, mas podem sim servir e enriquecer ambas as dreas (e.g., Miller & Keller, 2000; Ochsner & Lieberman, 2001), Por um lado, os psicdlogos sociais podem usar os dados das neurociéncias para desambiguar ¢ testar teorias concorrentes relativas ‘os processos psicoldgicos subjacentes a varios tipos de fendmenos. Para desempenharem tais testes, 05 psicélogos sociais poem fazer uso do conhe- cimento relativo aos sistemas do cérebro que estéo inerentes & meméria, linguagem, emogao e outros processos, o que permitiria testar hipéteses que no poderiam ser testadas usando somente medidas comportamentais. Por outro lado, ao investigarem fenémenos sociais, os neurocientistas cognitivos podem informar os seus estudos com conhiecimento proveniente da psicolo- zis social sobre os factores quie determinam porque e como & que os seres humanos percebem os outros e a si mesmos, tomam decisdes, entre outros, partindo do prinefpio que os estimulos sociais © nao sociais sao processados de forma diferente. Esta perspectiva assume que a NSC fem muitos objecti- os em comum com a psicologia social em geral, e com a cognigio social, em particular, conferindo e acrescentando um novo conjunto de ferramentas para suportar ¢ empreender esses objectivos (Lieberman, 2007a; Ochsner & Lieberman, 2001). Em sintese, a ideia de que o entendimento dos processos cognitivos & importante para a compreensfo dos fendmenos sociais nfo é, tal como refe- rido, nova em cognigo social. Indiscutfvel é também, o contributo dos avangos metodolégicos das neurociéneias que, em conjunto com teorias © medidas da cogniig&o social, permitem responder a algumas questdes e levan- tar outras tants. No entanto, ainde ha um longo caminho @ percorrer & enquanto nao houyer um conhecimento compreensivo quanto aos sistemas reuronais subjacentes a determinados fenémenos comportamentais e cogni- tivos, estes passos iniciais em NSC servem mais para identificar os cortela- tos cerebrais desses fendmenos do que para testar teorias sobre 0 como € 0 porgué da sua ocorréncia (Ochsner & Lieberman, 2001). Assim, ¢ face 20 Panorama que as neurociéncias nos oferecem actualmente, talvez seja mais pertinente para a cognigo social a manutengio do nivel de desenvolvimento lerico atingido até ao momento ao invés de um esforgo em dirigir (e limitar) ‘5 scus programas de investigagio exclusivamente a problemas que sio loca- lizdveis, Nao obstante, a informagio que advém do mapeamento cerebral dos em analisar um v: Cognigto Social Ms pode ser bastante titil para a melhor compreenstio dos problemas colocados, pela cognigao social, reconhecendo a existéncia de fendmenos que nto sio passiveis deste mapeamento devido ao seu grau de complexidade, Contudo, fa nossa expectativa é a de que o desenvolvimento das ditas Areas continue & {que @ comunicagto entre ambas acontega, combinando as recentes medidas das neurociéncias com as medidas comportamentais tradicionais, de modo a ‘actuarem enquanto ferramenta conjunta para compreender os processos psi- coldgicos inerentes as respostas comportamentais, limitando os mecanismos que sio referidos como subjacentes ao comportamento observével ¢ contri- buindo para o desenvolvimento ¢ delimitagtio de varios paradigmas ¢ teorias ‘em cognigdo social. Conelusio ‘A abordagem sécio-cognitiva esté presente em diferentes dominios da psicologia. Embora inicialmente a sua proximidade seja mais evidente com a psicologia cognitiva, reflectindo 0 pressuposto de que os mesmos prinelpios de processamento de informagao se aplicam quer a dominios sociais quer no sosiais, a cognigto social niio é apenas a aplicagio da psicologia eogn tiva a t6picos da psicologia social. De uma maneira geral, a abordagem cog- nitiva dos fenémenos sociais nao os reduz.a uma racionalidade fria e descon- textualizada. Os defensores da abordagem da cognigao social ngo se limitam ao estudo de processos puramente intelectuais de pensamento, julgamento © recordago, na medida em que acentuam a natureza social do processamento de informagao, considerando na sua abordagem quais os factores (e.g. relevncia pessoal, os estados afectivos ¢ motivacionais) bem como as varid- veis contextuais que influenciam a forma como percebemos, sentimos ¢ agimos sobre o mundo, Curiosamente, os desenvolvimentos actuais da cognigtio social pare- ccem apontar caminhos opostos: se, por um lado, @ abordagem situada da cognigao procura infegrar a interacgio do organismo com 0 ambiente ¢ os actores sociais na emergéncia © na utilizagao do conhecimento, por outro lado, a popularidade das neurociéncias ¢ a receptividade que determi abordagens localizacionistas obtiveram neste dominio _parecem apontar novamente para um elementarismo descontextualizado. Ou seja, mais uma ver se parece perpeluar um cenirio quie se configura préximo de uma dico- tomia tedrica, Mas se as dicotomias tedricas, tais como a natureza modal ou amodal das representagdes cognitivas, discutidas por Garcia-Marques e Perreita 2011), podem ser recebidas com cepticismo, o mesmo podera aplicarse as solugées que sugerem o pluralismo representacional (i.c., @ existéncia dos 146 Margarida Vaz Garrido, Catarina Azevedo e ‘Tomiés Palma dois tipos de representagées) para a resolugio de determinadas questées cientificas (Doye, 2009). Se por um lado esta diltima proposta de compromis- So se afigura como uma solugao eficaz, as teorias pluralistas tendem a ser demasiado flexiveis e dificeis de refutar (e.g., Dove, 2009) niio constituindo, por isso, uma boa estratégia de investigagzo. Face a estes constrangimentos, uma abordagem pluralista do funcio- namento eognitivo s6 deverd ser adoplada na presenga de fortes argumentos que a justifiquem. Em nosso entender, a complexidade e flexibilidade da cogniso humana constituem tais argumentos. Acreditamos assim, que a reconciliacao ¢ integracdo de explicagdes individuais, situacionais ¢ sociais possam operar simultaneamente © eventualmente co-existir de uma forma dialéctica, promovendo uma compreensto mais reflexiva e dindmica da experiéncia humana Referéneias Abelson, R. P., & Black, J. B. (1986). A finctional-context approach to cognitive selence. In J. Galambos, R. Abelson, & J, Black, (Eds.), Knowledge structures (pp. 1-18), Hillsdale, NJ; Erlbaum, Allport, G. W. (1954). The nature of prejudice. Reading, MA: Addison-Wesley. Amodio, D. M., Hanmon-Jones, E., & Devine, P. G. (2003), Individual differences in the activation and control of affective race bias as assessed by startle eye blink response and self-report, Journal of Personality and Social Psychology, 84, 738-753. Anderson, C. A., Lepper, M. R., & Ross, L, (1980). 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