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Maria Sernadete Marques Abaure =1ll Moderna Editora executive: Aurea Rogins Kenaehiro Editor: Rogéria de Aratio Ramas ‘Assistnela editorial: Resiane de Césea Taira, José Henviue Pili Flix, Maro Camargo : Preparagio de texto: lauder de Andras ‘Coordensgo de des e projatos vila: Sendra Bottho ds Carvalho Homma Projet gree: Sancre Botha da Carvalho Homa ‘Capa: Mércia Signore Imagorn da caps: Tamers oe8, ce Helo Oita, © Cortsi Projeto Otcice Coorenaeéo de produto grfic: André Montsra, Mavs ds Lourdes Reciques| Coordenagio de revisto: Esteviira L4do.Jilor Fevisto: Actiana C. Beira, AraC. Tavares, Ain Cortazzo,Darisla Boss Puccini, Ezine Cistn del Nero, Estevam Vere Le Jr, Fernanda Marcelino, Lucois Marins 5. Moraes, Mgnia Rodques de Lima Ealgbo de arte: Recoipno ce Sousa Assisténela de produgio: Marie Luce F Couto Ealtoragso elatrénies: APIS design intgrodo lustre: Eon Guazel Coordenacéo de pesquisa leonogrifie: Ana Lucia Soares Pesaqisaieonogrfea: Luciana Baneza Gabarran, Angalta Cardoso, Evalyn Torecila, Lourdes Gumertes As imagens identicades com a sigla CID foram fornecides pale Cento de informayso ' Docurnentacdo da Ectora Moen CCoordenagte de bureeu: América Jasus “Tratamento de imagens: vaio de Almeida, Fabio N, Pracendo, bens M. Rodgues Pré-impressBo: Heo Pde Souza Fiho, Viria Hidayukl Koto Coordenagio de produgto industrial: ison Aparecito roque Impressio e acabamento: Po! Eaitore Grtica Dados Intemacionals de Catslogagio na Publleago (CIP) (Camara Brasileira do Lino, SR Brae) | baure, Maria Luiza ; Producda de texto: interocugto e géneros / Mara Luiza Abaure, Maria Bernadete Marques ‘Roaute,—~ Sio Paulo: Meera, 2007, Biblograi 1. Linguagem o nguas Ensino malo) 2, Potaquts ~ Radasdo [Ensino mci) 3. Textos (Ensine Mécio} | Absurte, Mara Berradete M..* Thu, o7a276 cop-4e9.8 Indices para catélogo sletemético: ‘.Textos :Poruguts :Produedo Linguistica apeace 489.8 | 976-95-16-05668-0 (LA) "SBN 878-35-16.05606-7 (LP) Pesedut pois At 8 Cig Pale Lei 8070 19 evra de 1868. Teas ou dros ean EDITORA MODERNA LTDA, PusPear Acting 750 Blraca StoPauon se ael- Ce O00 S04 vende AtderoaTe _ 26028610 Fanta, ) 2700891 ‘sae cn inaeso 0 Bat Fp peice 18 do hos faa 9510. a 8, CoesGo e coeréncia: a articulacao textual CAPITULO 20 A gramdtica, a mesma drida gramdtica, transforma-se em algo parecido a uma feitigaria evocatéria: as palavras ressuscitam revestidas de carne e osso, 0 substantivo, em sua majestade substancial, o adjetivo, roupa transparente que o veste e colore como um verniz, e o verbo, anjo do movimento que dé impulso a frase. Charles Baudelaire (poeta francés, 1821-1867). BARELLI, Ettore; PENACCHIETTI, Sergio, Diiondri das citaées. Trad, de Katina Jannini. So Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 314 Escrever um bom texto exige de nds a capacidade de estabelecer relacoes laras entre as varias ideias a serem apresentadas. O desafio a ser enfrentado € descobrir a melhor maneird de construir essas relacdes com os recursos que 2 lingua nos oferece Pense, por exemplo, na construcio de uma casa. As paredes séo essenciais, para a sua sustentac3o. No texto, as ideias, informacOes e argumentos equi- valem aos tijolos que, dispostos lado a lado, permitem que as paredes de uma casa sejam erguidas. Mas, assim como os tijolos precisam de argamassa para mante-los unidos, © texto precisa de elementos que estabelecam uma ligacdo entre ideias, infor- maces e arguments. A “argamassa” textual se define em dois niveis diferentes. O primeiro deles é 0 aspecto formal, linguistico, alcancadio pela escolha de palavras (elementos linguls- ticos especficos) cuja funcao € justamente a de estabelecer referencias e relacbes, ariculando entre si as varias partes do texto. A isso chamnamos de coesdo textual © segundo nivel da “argamassa” textual 60 da significaco, Somente a selec3o ea articulacao de ideias, informacbes, argumentos e conceitos compativeis entre si produziréo como resultado um texto claro. Nese cas0, como 2 articulacéo textual ppromove a construcéo do sentido, ela é chamada de coeréncia textual. Coeréncia: a construgdo do sentido A falta de coeréncia fica clara quando © leitor nao é capaz de perceber de que modo as informacdes apresentadas em um texto se articulam. Observe a tira, Equus, roa nore xe has Se eet seu céo ESTA? SCHULZ, Charles. Minduim. Jornal da Tard, Sio Paulo, 4 st. 2008, Depois de receber uma preocupante informacao sobre seu cachorro e ser indagado sobre o que pretende fazer a respeito, Charlie Brown, sem saber © que dizer, da uma resposta absurda: "Nao estou ouvindo... esta muito escuro la foral” oe ee rere 0 nnn ncn ill ieee cesses Para oleitor da tra, fica evidente que Charlie pretende estabelecer uma relacdo causal entre "no ouvir” e “estar escuro”. O problema é que tal relagdo nao faz sentido, & incoerente. No contexto da tira, porém, essa fala adquire sentido porque traduz a inca pacidade do menino para responder satistatoriamente & pergunta que the foi feita Quando avaliamos a coeréncia de um texto, o que fazemos & investigar se 95 nexos de sentido estabelecidos entre as informacoes, dados, arqumentos corespondem, de fato, a relacdes possiveis entre as idelas apresentadas, Para construit um texto coerente, portanto, precisamos garantir que a articulacdo entre as ideias seja estabelecida de modo adequado. ‘A seguir, veremos como diferentes mecanismos coesivos contribuem para garan- tira articulagéo das ideias e, portanto, a construcao do sentido de um texto. Mecanismos coesivos Alingua cispde de uma série de mecanismos que criam vinculos entre as palavras, entre as oragGes e entre diferentes partes de um mesmo texto. Esses mecanismos oder estabelecer dois tipos de coesao textual: a referencial e a sequencial. Coesdo referencial ¢ aquela que cria, no interior do texto, um sistema de relacao entre palavras e expresses, permitinda que o leitor identifique os referentes sobre os quais se fala no texto. Coesdo sequencial ¢ aquela que cria, no interior do texto, condigées para gue o discurso avance, As diferentes flexdes verbais de tempo e modo e as onjunc6es s2o os principais elementos linguisticos responsaveis pelo estabe- lecimento e manutencao da coesao sequencial no interior do texto, A relacéo entre coesao e coeréncia é muito forte. Na verdade, os mecanismos de coeséo sequencial, ou seja, os elementos utilizados para garantir a articulagao ‘formal das partes do texto sdo essenciais para estabelecer a relacso entre as ideias, que esta na base da coeréncia textual. Por esse motivo, um bom controle dos Mecanismos coesivos ajuda a garantir a progressao tematica e a promover uma boa articulacao das ideias, informag6es e argumentos no interior do texto. Coesao referencial Da mesma maneira que determinads placas de trnsito nos orientam a seguir em frente, virar & direita ou & esquerda, podemos utilizar palavras cuja funcdo & orientar 0 leitores de um texto, indicando se dever voltar atrés para recuperar algo que foi dito ou se devem procurar a informacéo que desejam mais adiante. Se forem usadas de maneira equivocada, o leitor ficaré confuso e desorientado. Vamos, agora, conhecer alguns mecanismos responsaveis pelo estabeleci- mento da coesio referencial Anéfora Observe 0 didlogo na tira abaixo. fet iomcema o eato) PLOMENAE Ziaho. [FRO waRo aie, RESO GUANO] NO EAA NAD, A SENTE Povuroia AS BuRicES GUE ELE & MUMTO BRRO.. CIGA. Pagano o pata. Porto Alegre: L&PM, 2006, p. 45. Tetto clssertativorqumentativo | 285 Observe como os pronomes tém um papel muito importante na associagéo entre as partes desse texto. Eles sempre apantam, no didlogo, para algo que foi dito anteriormente. Cobra: Vocé namoraria o g Mais uma vez, 0 pronome IE | Seca O penume eatvos® | llomena: Téo burro que, mesmo gijando nfo fala nada, agente | Gurnee ferreb con auvindra au artoesl ie cle es eer, ue a ovécde seguinte er | signiique “0 ganso deve : enrerncenrics Cobra: .. vigel Se morder a lingua.. © pronome pessoa! ele i ae a | retora,anaforicamente, |__ Filomena: Fu no..._ ele é muito burro. Sainoreue | O referent (0 oars) pe: |e aanso) presente pa | tent aaa ca cobra A | nds cobra | ee ere Cobra: E mesmo? | Repare quantos vinculos textuais foram criados em um pegueno didlogo. Se as referéncias criadas pelos varios pronomes utilizados no texto nao forem "decodificadas”, nao ha condicoes de compreender o que as personagens estao dizendo, i Todas as referéncias textuais estabelecidas, nesse caso, retomam elemen- tos expressos anteriormente no texto. Esse mecanismo coesivo chama-se anafora, i : i Catéfora i A revista Top Magazine, desde o seu lancamento, tornou-se conhecida pot & apresentar uma capa ser manchete. No entanto, por razées de mercado, essa = caracteristica precisou ser alterada. No trecho abaixo, 0 editor da Top comunica a mudanga aos leitores. Observe Elas se foram... E com pesar que, na edicao passada, nos despedimos das nossas queridas capas sem manchetes. Elas nasceram ha trés anos, foram felizes, se repro- duziram, cansaram e envelheceram Morreram, coitadas. Ou melhor, nés as ‘matamos, Ha quem diga que elas se sui- cidaram, estavam cansadas de viver nesse mundo cheio de outras revistas com suas manchetes enormes, chamativas, ‘exuberantes. Nao tivemos outra opcao sendo acabar com este sofrimento. [...] As falecidas estavam definitivamente ultrapassadas, nao resistiram a presto daidade, estavam gagas, caducas. Espero que voces compartilhem com a gente a felicidade de ver uma nova capa nascer. ‘Vida longa as capas com manchetes! ‘Top Mogosing, ano 4, n. 42, 208 Top Magasin Sao Paulo: Duetto, ‘ano Bn, 63, 2004, ‘Top Magazine, S80 Paulo: Duetio, ‘ano 9,n. 108, 2007 O texto comeca com um pronome cujo referente sd sera identificado segundo pardgrato Hans foram, oer oa { Ecom pesar que, na edicdo passada, nos despedimos \_ das nossas queridas capas sem manchetes. Ao contrario da anéfora, neste mecanismo o referente aparece depois item coesivo. Trata-se entao de uma catafora Substituigao ‘Observe as palavras destacadas absixo. Qual é 0 ar mais puro do mundo? Eoda Tasménia, onde até um pequeno e irvitadico marsupial contribui para tomar esta iia australiana um exemplo de preservagdo ambiental. i i \Winealass Bay, na Tasménia; 0 nome da bala faz referéncla a seu formato, parecido com o de: ‘uma taga de vinho, Eis uma das belas vantagens de se viver longe de tudo. A Tasmania é 0 Estado mais meridional da Aus- tralia, separado da terra dos cangurus por um estreito de 240 quilémetros de largura. Ao sul desta pequena itha da borda do mundo, nada além do yasto e gelado oceano que a separa da Antértica. O isolamento geo- grafico poderia ser um tremendo problema para os seus 490 mil habitantes, mas eles preferem vé-lo como uma bencio. [...] BARTABURU, Xavier: Extremos. Tor, Sio Paulo: Ed Peixes, ano 14, 1.196, p. 26, dez. 2006, (Fragmento). Texto dissertativo-araumentativo} 287.4 No texto, o substantivo Tasmania é retomado pelos termos: ilha aus traliana, pequena ilha. Esses termos s80 utilizados como forma de evita uma repeticao do substantivo. 0 texto apresenta outro exemplo do mesmi procedimento coesivo. O nome proprio Australia foi substituido por terr: dos cangurus. © uso de um termo com valor coesivo no lugar de outro(s) elemento(s) d texto, ou até mesmo de uma oracdo inteira, chamna-se substituigao. Repetigdo ou reiteragao A repeticao pode funcionar como um mecanismo coesivo, quando é uti lizada para construir e manter presente o sistema de referéncias no interio do texto. + Deus énaja Tenho um amigo, cujo nome, por muitas razées, néo posso dizer, conhecido como o mais dark, Darkno visual, dark nas emocées, dark nas palavras: darkésimo, Nao nos conhecemos hé muito tempo, mas imagino que, quando ainda nao havia darks, ele j4 era dark, Do alto de sua dar- FEN ete crn en kice futurista, devia olhar com soberano desprezo para ttliado no texto, fa referéncia a um aquela extensa legiao de paz e amor, trocando flores, "movimento pés fuk que srg no final vestida de branco e cheia de esperanca. da década de 1970. Os deri repudiarar a superfcialidade da socedade da época ABREU, Caio Femando, Deus é naja. SANTOS, Joaquim Ferreira dos. « manifesavam seu descontentamento (org). As cem melhores eénicas brasleiras, 1 wo de roupas excur, Rio de Janciro: Objetiva, 2007. p. 242. Fragmento} Nesse caso, uma mesma palavra (dark), varias vezes repetida, garante que c leitor mantenha presente o referente do qual fala o texto. Dois neologismos, darkésimo e darkice, somnam-se a cadeia de repeticbes, reforcando o seu valor cossivo. Uma outra forma de repeticao ¢ feita pelo uso de sincnimos, hipénimos @ hiper6nimos. Grupo de orcas na costa do Alasca 288 __capiTuio20 Temporada de orcas voadoras Pobres orcas, Além de serem vitimas dos arpdes de cacadores, recebem 0 desonroso apelido de baleias assassinas. A alcunha niio se deve a uma (inexistente) fiiria do mamifero contra ba- nhistas de sunga, mas ao simples ¢ natural habito de se alimentar de cetaceos mais jovens. E, para ser exato, as orcas nem baleias so — pertencem & familia dos golfinhos (Deliphinidad) FORONE, Priscila, Femporada de orcas voadoras, Tera, Sho Paulo: Ed Peixes, ano 14, n. 180, p. 20, abr: 2007, (Fragmento) No texto, 0 hipdnimo orcas ¢ retomado por meio de dois hiperénimos: baleias e mamifero. Um deles — baleias —, 6 equivocadamente utilzado para fazer referéncia as orcas, que, como informa o texto, pertencem a familia dos golfinhos. : Outro recurso utilizado para reiterar um referente é a sua substituicao por lum termo sinonimo. No texto, esse procedimento é exemplificado pelo uso dos termos apelido e alcunha Contiguidade © uso de termos pertencentes a um mesmo campo semantico resulta em um mecanismo coesivo chamado contiguidade Muito mais que um rafting A medida que a'rio se afunila entre os paredées cada vez mais verticais,a comenteza vai ganhando velocidade e a companhia de uma espuma bran. a, originada pelo choque violento das aguas contra as pedras, O bote respande de imediato a0 twrbilltao, chacoalhando sem intervalos. O corpo esquenta, 0 coracio bate mais forte. Uns 30 metrosacinna de nossas cabecas, onde termina © canon, a selva toma conta, MEDAGLIA. Thiago. Muito mais que um rafting. Tara. Sio Paulo: Ee. Peixes, ano 14,177, jan, 2007. p82, (agent) Os substantivos destacados criam, no texto, um campo semantico relacio- nado a rio. A medida que cada um deles é utiizado, retoma o tema central ¢ faz com que ele progrida no texto. Como vocé viu, para a elaboragao de um bom texto, é preciso que o autor domine os recursos textuais necessarios para estabelecer as relacdes de sentido entre as ideias que pretende expor. Todos os mecanismos coesivos {que apresentamos sao utilizados naturalmente pelos falantes de uma lingua, Agora que vocé tamou conhecimento de varios deles, pode utilizé-los de modo consciente ao escrever e, assim, garantir a coesdo @ a coeréncia de ‘seus textos, Tet dissertativo-sraumentativo/ 289. Bt

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