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Treen Conselha editorial setHawik SAMPAIO CORREIA MARIANI, MAGDA VENTURA, MARIANGELA RIOS DE OLIVEIRA, PAULA CALEFTY, ROBERTO PAES DE CARVALHO RAMOS, ROSAURA DE BARROS BARD Organizador do livro ROBERTO PAES DE CARVALHO RAMOS Autores dos originals EouARoo KENEDY NUNES AREAS (CAPITULO 1), WO OA COSTA ROSARIO (CAPITULO 2), MARIANGELA RIOS DE OLIVEIRA E ANA BEATRIZ ARENA (CAPITULO 2) BETHANIA SAMPAIO CORREIA MARIANI E ‘A MARIA SOUSA ROMO (cABITULO 4), 105 € SILMARA CRISTINA OELA DA SiLvA (CaPMTULOS 5 € 6) Projeto graficn © desenho didético PAULO VITOR FERNANDES aASTOS Redagie final e desenho dldético ROBERTO PAES DE CARVALHO RAMOS Revisdo linguistica Dexa. roRREs aszeRRAa Com a colaboregéo de OANICLA FERREIRA REIS FLAVIA CLIVEIRA TEOPILO DA SILVA, YARCELEN THAIS TEXKEIRA RIBEIRO Site de apoio a0 projato editorial aNORE RENATO FERNANDES LAGE, DANIELLE VILAR GOULART DOS SANTOS, RAFAEL DE FREITAS ALVAREZ JOURDAN, TAINARA OLIVEIRA DA ROCHA THIAGO LOF Todas 0s dititos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproducida ou ‘tansmitida por cualequer melos (eletrGnico ou mecénice, incluindofotocépia © j12v¢d0) ou arauivada em qualquer sistema ou bance de dados sem aermissé0 escrta da Editora, Copyright seses, 20% Se | Datios intornacionais de Catalegagto na Publicasao (cr) |) res tm wo occas: nti» erred | Roberta Paes lorganizador, ~ Rio de Jenciro: Ediora Universidade Estécio de $4, 2013 ep | | | | ISBN: 978-85-60923-05-2 +. Lingua portuguesa, estudo e ensino 2, Linguagem 3, Texto 4, Discurso 6, Comunicagéo escrta | Titulo, con 48909 Diretoria de Ensino ~ Fabrica de Conhacimento ua do Bispo, 83, bloco F, Campus Jodo Uchda Rio Comprido ~ Rié de Janeiro ~ eu ~ ceP 2026-063 GP CURIOSIDADE Neste capitulo, vamos apresentar algumas nogGes importantes para Texto: aconceituacao de texto, ‘Também, iremos apresentar os elementos que contribuem na or- Sebuscarmos a-timologia dapalawra _ganizagdo textual a fim de proporeionar legibilidade ao que escreve- texo" no diciondro Housiss (acc, ‘mos.Nosso objetivo ¢ fazer com que vocé compreenda o modo de or- par a), veremos que, em atm, quer ganizacdo textual para assim poder escrever seus textos académicos dizer tanto entrelagar e construir,como com maior clareza e eficiéncia, também quer dizer;narrative, expo~ pine nanlniaaa © A (esti de organizacéo, Um texto, seja oral ov escrito, seja na forma de uma narrativa, de uma descrigao ou de uma dissertagdo, 6 uma construgdo lingulstica que precisa seguir determi- nadas estratégias a fim de garantir sua organizagéo interna, Segundo os linguistas Halliday e Hasan (1976, p. 1), “um texto é uma unidade da lingua em uso”. Essa definigo de texto é bastan- te ampla e apresenta duas caracteristicas importantes: a unidade 0 uso. Porém, quais so os elementos linguisticos que organizam a unidade textual? Como a unidade de um texto esté relacionadaa seu uso? Vamos responder a essas questoes, inicialmente, com o auxilio de dois renomados autores da érea: Alci Pécora,em seu cssicolvro Prablemas de redagéo (1983), diz que "um texto nd é o produto de uma justaposic de elementos linguisticas sem referéncia entre si: nd ee trata, por exemplo, cde uma soma de oragdes fechadas au completas em si mesmas, ocupanda um espaco vizinho no pagel ou na enunciagao oral Pelo contrério, quando se reconhece uma determinada maniestacao verbal como sendo constitutiva de um texto, esta implicita a ideia de que existem nexos, nés, Jigas (ties) entre seus componentes ¢ que, dessa forma, conferem-lhes uma miitua depan= déncia de significagao”, (PECORA, 1983, p: 49, grifo nosso) Ampliando 2 definigao de Pécora, ao incorporer os fatores relativos ao uso, Ingedore Koch (1289) atirma:'Poder-se-a, assim, conceltuar texto como uma manifestagdo verbal constituida de ele- rmentos linguist 15 selecionados e ordenados pelos falantes durante a atiidade verbal, de modo a permitir-20s parceiras, na interagéo, nfo apenas a depraensio de conteddos smanticos, em decor- éncia da aiivagao de pracessos e esitatégias de ordem cognitiva, como também a interagdo (ou atuagdo) de ecordo com préticas socioculturals". (KOCH, 1989, p. 22, grifo nosso) A partir das duas definicdes vistas anteriormente, pode- mos chegar a ideia de textualidade, ou seja, uma qualidade que podemos atribuir a qualquer manifestagao verbal que seja compreensivel, legivel. Logo, um texto supéeo manuseio de estratégias linguis- SUPECPOSIG ticas e algum compartilhamento sociale cultural da parte de frases. de falante/ouvinte ou autor/leitor. Vejamos, abaixo, uma pequena e verfdica histéria, Em uma soda de leitura, @ professora anunciou para seus pequenos owintes de seis anos que ira contar uma histéria:'O sttio do Picapau Amareio’. Com olhares atantas e respiracio suspen- $a, a8 crlangas ouviram as aventuras de Pedrinho, de Narzinh, do Viseonde de Sebugosa, de Emfla, alguns dos personagens do munda encantado de Monteira Lekte. Ao final da narratva, a professora perguntou se haviam gostado da histdria, Apasar do cim’ coletivo, uma delas ba- lancou negativamente a cabeca e cisse, para espanto da professora:'Nao gostal Voce diese que ‘ra sobre o sitio do picapau amarelo, mas no apareceu nenhum pieanau amarelo na historia. Essa inusitada reclamag&o infantil incide sobre uma importante caracteristica das \inguas humanas: as palavras de uma lingua, qualquer que seja essa lingua, esto vol- tadas para 0 mundo exterior e dizem respeito a um objeto desse exterior, ao mesmo tempo em que constituem esses objetos. Vejamos uma andlise: (ox lisce ani srees ey asec Ciera: ley stone si O item lexical ‘sic’, tomado isoladamente, consttui uma referéncia exoférica, cu seja, emete para indicagSes no mundo, ¢ o referente est situado fora do texto. “Stio"na histéra, trata de algum sitio possivel. + Remete para uma possivel existéncia de algum picapau amarelo no mundo. + Relaciona-se a sto" - plcapau amarelo que asté no sito. + Determina/nomeia tio Como o picapau nao aparece ns histéria, a crianga eponta o paradoxo da comunicacdo linguts tica: como € possivel que uma mesma histéria constitua um objeto © no fale dele? Ou seja a crianga nao reconheceu que ‘picapau amarelo' determina/nomeia "sto" Referéncia e referenciagdo Chama-se referéneia a caracterfstica das linguas naturais de necessariamente estabele- cer uma orientagao, uma indicago para o mundo exterior, Chama-se referente 0 abje- to que, na lingua, é nomeado, descrito, indicado, enfim, constituido discursivamente, instituido em palavras. cartruo§ « 9] EY cOMENTARIO Oswald Ducrot afirma: ‘Desde que haja um ato de fala, um clzer, hé ums orientagéo necesséria para aquilo que no 6 0 dizer. E @ esta orientago que pademos chamar ‘efertncia, chamando ‘referents’ ‘20 mundo ov objeto que ela pretende descrever. (0 referente de um discurso nie é, assim, como por vezes se diz, @ reslidede mas sim sua r Aitui como realidade)”. (OUCROT, 1984, p 49, grfo nosso) lidade, isto &, 0 que 0 discurso escolhe ou Ins- ‘Vejamos, agora, esse outro fragmento de texto, no qual se percebe um tecido de re- missbes entre as duas frases presentes: Suco de larenja faz bem para sua satide ~ essa histéria ¢ velha. A nova & que em breve ele deve se tomar ainda melhor para nosso corpo. (evista Galley, fevereiro 2013, nmexe 259, .20) oN foi subsftuiéo por. —| SUISUN SRL foi substituido por. —j “FAZ BEN PARA SUA SAUDE” oi substitutdo por. Bed beg Ue aac Wield lees Esse jogo de remissdes internas ao texto constitui um conjunto de referéncias endoféricas, ou seja, formas de organizagilo dos sentidos a partir do conjunto de remissdes referenciais internas ao texto, com outros elementos linguisticos da superficie textual, Como vimos no exemplo, a referéncia pode ser estabelecida por substantivos, sintagmas nominais, fragmentos de oragdo ou até mesmo por enunciados completos 2 cuniosioane Quando o referente € um substantive, ou um sintagma nominal, o sistema de remiss6es endoféricas {que val sende construldo ao longo do texto iré agregar e produzir modificagdes na significagdo inci. to 6 0 raferente 6 algo que se (relconsttéi textualmente’, (KOCH, op. cit, p. 31, gvifo nosso) ‘Vejamos nesse pequeno texto, que tem como titulo Cidade-desejo, 0 tecido de remis~ ses endoféricas que agrega sentidos. Cidade-desejo no sé continua Rio de Jan jo como esté mais badalado do que nunca. Sede da final da Copa do Mundo de 2014 ¢ cidade anfitrié das Olimpiadas de 2016, tem recebido muitas atengées e lojas de marcas gringas. (revista Claucla,janelia de 20%3, pg. 120) 99» cariruto 5 G¥ concer um titulo eyo Sentido conetruo pelos sintagmas nominals que 6 substituem eer Gees Diremos que um texto Parse co meas . ; tituigdes referenciais estabele- Secpemen deat d0.0 JOGO leanne engine de referéncias esta voe€ acabou de ver organizam bem organizado no um tecido textual de dependén- nivel intratextual. Se aCe tornando o texto coeso, Da referéncia para a coesdo A coesto faz com que um texto tenha sentido, seja compreensivel. Antes de prosseguir, porém, vamos pensar na diferenga entre coesto © coeréncia, Nao se trata de uma distingfo simples, mas, de modo geral, conforme Travaglia e Koch (1990), a coeréncia é global: Pa RESUMO ‘{a.coeréncia) esta ciretamente ligada & possibilidade de se estabelecer um sen- ‘ido para o texto, ou seja, ela é 0 que faz com que o texto faga sentido para os usuarios, devendo, portanto, ser entendida’ como um princfpio de interpretabi- lidade, ligada a inteligibiidade do texto em uma situagdo de comunicacdo @ & capacidade que o receptor tem pare calcular o sentido deste texto. TRAVAGLIA. & KOCH, 1990 p, 21) Imagine a seguinte cena: vocé encontra uma lista de nomes em cima de sua mesa de trabalho. Voce pega a lista e a guarda na sua pasta, Na véspera, vocé havia pedido a um funciondrio os nomes de alguns candidatos a uma vaga de trabalho para avaliar. 0 que dé coeréncig dquela lista ¢ exatamente seu pedido no dia anterior. A lista sozinha com nomes, fora de “contexto”, ndo significa, ou me- Ihor, n&o produz.sentido. Como voce pode perceber, a coeréncia néo é uma caracteristica do texto, mas reside no processos de interagdo com o texto, Jé por coesio, entende-se “as ligagdes entre os elementos da superti tual” (TRAVAGLIA, 1994, p. 72). Voltemos, agora, ao estudo dos me- canismos de coesto. tex Coeréncia: Os fatores para uma coerénela sé0 \érios, por exemplo, o conhacimento da situagio, os fatores da contextu- alizagdo, as inferéncias posstveis, a relevancia, entre outros, castruto § # 93 GY concer Endoféricos: (Como ja vimos, a referéncia € situ ral (excférica) e textual endoférica. Qi) = cariruvo 5 GY arencio Ha distintas maneiras de estabelecer a coeso de um te So dois os princ pals procedimentos lingufsticos que consiroem textualmente essa totalidade se mantica: ‘a coesBo referencial(referenclagéo, remis (Gequenciagio)’ (KOCH, op.cit, p. 27) so sequencial A fim de apreender melhor a coesdo referencial, vamos ler, agora, © fragmento do conto intitulado A primeira noite, da autora francesa Marguerite Yourcenar: A primeira n Era uma viagem de ndpclas. 0 trem seguia para a Suiga trivial: sen- tados no compartimento reservado, eles se davam as maos. Um siléncio pesava entre'os dois. (YOURCENAR, 1995, 2.51) Nesse fragmento, titulo e primeira frase do texte ncionam como elementos linguisticos que estabelecem uma referéncia exofirica, ou seja, remetem & situagio que esta sendo narrrada, Essa situagao constitui o contexto, (SY comentario Observemos que ‘fulo e a primeira frase relerem-se mutuamente, estabele- cendo correferéncia, ou seja, estabelecem uma identidade de referncia e uma proximidade semantic Em seguida, o substantivo “trem”, o particfpio passado flexio nado “sentados”, o pronome pessoal “eles” ¢ 0 numeral “dois” so elementos referenciais endoféricos jé cireunscritos a esse contex- to, constituido inicialmente pelo titulo e pela primeira frase, Es- ses itens lexicais estdo concatenados entre sia partir de uma orga- nizada rede de procedimentos linguisticos, produzindo um efeito de totalidade. BP atencAo Quando falamos ou escrevemos, esse jogo referencial precisa ser estabelecido e partihado com nossos interlocutores a.fim de evitar as ambiguidades, as frases ‘runcadas e sem continuidade, No Ambito da modalidade escrita da lingua, portanto, é funda- mental saber usar os procedimentos linguisticas que estabelecem @ referencia, ou seja, é necessario saber manejar os nexos coesivos da produgao textual escrita g De inicio, precisamos plangjar o que vamos escrever, o que significa que devemos ter em mente o tipo de texto que pretendemos e qual nosso objetivo ao escrevé-lo> Lembremos que nosso interlocutor nao estard na nossa frente para fazer perguntas ou tirar dividas, Por isso precisamos conectar as ideias que queremos transmitit em um todo eoeso e coerente; afinal, um texto ndo é uma mera sequéncia de frases. Coesao referencial endoférica Para haver interpretagio semantica, como vimos, é necessaio que os elementos do texto sejam remetidos entre si de modo sistemético. Vamos, agora, ampliar nosso conhecimento sobre a construgio dos procedimentos linguisticos necessérios para a coesioreferencial endoférica, HY atencao |ss0 pode ser foito de duas formas. Quando ocorre a retomada de um xicaljé colocado no texto, femos uma anéfora; quando, 20 conirdri, ocorre a antecipacdo, temos uma catifora, Vejamos um texto eujos termos estabelecem entre si dois diferentes procedimentos linguisticos de remissfo textual: Cidades histéricas ¢ turisticas, Angra dos Reis e Paraty convivem, desde 0 inicio o ano, com um problema diério de 270 toneladas. Ambos os municipios estéo despelando seus residues em locals inapropriados, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (inzA). (Jornal © Globo, 24/01/2013, pd. 13) Fragniento 1: “Cidades historicas ¢ turisticas” A interpretagdo semntica dey de do que ver Reise Paraty’ 1a seguirno texto, respectivamente, ‘Angra O sintagma que inci o numeral *amlpos', em ‘ambos 08 municipios" retoma ite lexcais que apareceram anteriormente. A substituigaéo ocorre quando colocamos uma palavra no lugar de outra para evitar uma repetigao. ‘De uma maneira geral, a coesio referencial resulta do funcionamento de virios mecanis- mos linguisticos: a substituicdo, a elipse e a sequeneiagio, A substituicdo pode se realizar de diferentes maneiras. Porém, quando substituimos uma palavra por outra, precisamos ficar atentos ao contexto semintico a fim de gavantir sua continuidade. Vejamos o seguinte trecho: © maior poeta vivo brasileiro da atualidade; Manoel de Barros, ou, como seus leitores tocados pela magia de seus versos 0 definem, *o poeta do pantanal’, “o Guimardes Rosa da poesia”, *o grande poeta des pequenas coisas.” (HENRIQUES, 20:2; p. 58) capiTuLo § « 9B Temos, aqui um conjunte de substituigSes que estabelecem equivalénclas semAnticas em torno 4o sintagma nominal "o maior poeta vivo brasileiro da atualdade™ maior poeta vivo-brasileiro da atualidade' “o.grande poeta das pequenas coisas* “o poeta do pantanal “o Guimaries Rose da poesia’ Se v6e8 voltar ao texto, verd inda que o proname possessivo "seus", em "seus varsos", também 6 um elemento substitutve:*magia dos seus versos [do Mancel de Bars!’ De acordo com Févero € Koch (1983, p. 40), a substituigio pode ser: a) nominal, feita por meio de pronomes, numerais, indefinidos; b) por nomes genéricos (hipe- ronimos), como “coisa, gente, pessoa”; c) por substitutos, como “respectivamente, 0 mesmo, também, sim, ndo”. coMENTARIO Ponto importante a observar:a substituiglo referencial deve considerar o género e a flexso de nimero do termo que serd substitufdo, Coes&o por elipse A clipse, por sua vez, marea uma omissdo que é recuperdvel no préprio texto, evitando uma repetigio desnecesséria. No trecho seguir, a coesdo ¢ realizada de outra maneira: Manoel de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira do rio Culaba, em 1916. (@)Mudou- se pare Corumbs, onde se fixou de tal forma que chegow a ser considerado corumba- ense. Atualmente (@)mora em Campo Grande, E advogado, fazendeiro e poeta. (site da. uncagao Manos! de Baros - winémborgiar~ acese0 em 20/01/2013) Neste pequenc[eeenettmernvanertyate inreatataipatar catererene tie most auséncia (representada pelo simbolo @) de repeti¢o do nome prdprio “Manoel de Bar- -0s", O verbo “nascer” na 34 pessoa do singular refere-se a Manoel de Barzos, sujeito do verbo. A partir dessa relacdo (sujeito-verbo), todos os outros verbos (‘mudar-se”, “fixar- se" e “morar") também se referem a Manoel de Barros, 9B « cariruto 5 ®@ curiosinave ara nés, falantes do portuguds, ndo é necessétio que um nome seja repetido, como vimos no exemplo, ois podemas infer que estio todos relacionados entre s, Coesao sequencial Mencionamos a importancia da continuidade na construgiio de um texto. Em outras palavras, a continuidade (ou progressiio) depende da selegao lexical e, também, do uso dos elementos de sequenciagiio. GY conceiro Os elementos de sequenciacdo so aqueles que estabelecem nexos coasivos entre as oragdes, entre as oracdes de um mesmo parégrafo @ entre 03 pardgra- {0s de um text (FAVERO e KOCH, 1983) Vamos ler, agora, um fragmento do poema A pesca, de Affonso Romano de Sant'anna, O anil /o anzol /o azul silencio / 0 tempo/ 0 pelxe a agulha / vertical / merguiha a agua / a linha / @ espuma. G tempo / 0 peixe'/ 0 siléncio a garganla / a ancore/o pele o) 0 titulo do poema, associado a selecdo lexical que compde os versos, nfo deixa diividas: trata-se da descrigaéo de uma pescaria. Observemos que, no fragmento transcrito, o poeta se utilizou de va- rios substantivos € um tinico verbo. V7 REsuMO Em seu conjunto e na maneira em que ido organizados, 0s itens lexicals for mam, de modo adequado, coerente e progressivo, a descri¢go de uma pescaria, ‘Vejamos agora outras maneiras de construir a sequenciagio tex- tual, esse importante mecanismo responsével pelos encadeamentos seménticos, Os elementos linguisticos que estabelecem encadeamentos, ou seja, uma rede de conexées internas em um texto, so chamados nexos ou operadores coesivos, Consideremos a seguinte frase: EY autor ja" Affonso Romano Pde Santanns ‘Affonso Romano do Santanna (1997) & escitor © conista brasileiro. Com sida frmaglo acacé- mica na érea de iteratura,atvou como docente om diversas universes brasilerase estrangelra,além de criar ¢ dirigirprogramas de pés-graduacto na érea Fol presidente da Fundagdo Bibliateca Nacional (1990-1996). capiruco 5 # O7 pode ser express, or diferentes conjuncBes: "porque WB que’, Visto que’ etc. E também podemos expressar causalidade em- pregendo determinados substatuos “o porque’) cou verbos, como "causar, ‘acarretar’, ‘mativar’ (cf. GARCIA, 1977, pag) 8 « capiruco 5, Por causa da atuagdo de uma frente fria, todo 0 Estado do Rio et trou em estagio de atengéo, antem, (jornal Metro, 06/02/2013) ssa frase poderia ser reescrita de varias maneiras. Vejamos algu- mas possibilidades de substituigéo LUST RL SSS] scot 0 eee Cee eet Ae uo) Rid i cn Essas substituigdes, como se pode observar, ficam circunscritas A manutengio sinon{mica de um mesmo campo semantico. GY arencio Nesse processo de substtuicéo, 4 fundamental manter 6 tido estabelecida pelo operador ‘por causa da’, que estabslece um naxo coesivo de causelidade entre as duas oracdes, Come voeé pode notar, é possivel alterar os nexos coesivos, mas manter a ideia geral de causalidade. Se, no lugar de qualquer um des- ses operadores, colacassemos outro, de outro sentido, toda significa- so seria alterada, vocé ndo acha? Volte ao exemplo ¢ substituia “por causa da” por “apesar da” para ver se o sentido de causa permanece. ‘Se quisermos que nosso texto tenha manuteneiio temdtica e encadea- ‘mento légico de ideias, é necessério usar adequadamente os operadores coesivos para estabelecermos as telagdes ldgico-seménticas pertinentes, Koch (1989, p. 62-9) distingue oito tipos de encadeamento adequa- dosa textos dissertativos, narrativos e descritivos, La THN STE Te THINS TH Lo are cy “por motive de” ets, mas’ "porém, epesar de’, "embora’, Lon “contudo" ete. "se, ‘caso, ano ser que’, "contato que’, “amenos que ete, ean Gane) TAIT cMgge ‘a i decom propéaito de, ‘pea’, "com o abjetve de" ete : sa “ou de valor inclusivo - (um ou outro, ambos) See a evatrexduswo torceeniey) DSO a ue ‘contore’ ‘consoanet “segundo ‘de acordo com etc Modo como se reliza uma ago/evento: "Eles sequiam o bloco pulando animadamente’ ee ee Pode ser tempo simulneo, ane, posterior, contnuoi“essim que “antes que’ ‘depos que’ "enquani' et. een tet Além dos operadores citados, Garcia (1977, p. 265-71) enumera outras possibilida- des de sequenciagao, Vejamos os encadeadores apresentados por esse outro autor, a partir de exemplos: EY EXempLo ) relagies de adigéo, continuagdo (‘Tom Jobim, além de maestro, era compositor também"); ) relagbes de divida ("0 avido jd aterrisou? Quem sabe? € provvel, mas ainda nao apareceu qual- quer registro no painel."); 6) rela es de certeza ou énfase (‘Sem divide, o avido jé pousou); @) relagSes de surpresa (Inesperademente, owvimos a noticia sobre o airaso do avido"); @) relagdes de esclarecimento ('O avido pousou, em outras palavras, ele jé se encontra no pétio’); 4) relagdes de recapitulagio ou concluséo (’Em suma, vimos © conjunto de possiblidades de estabe- lecer relagdes sequer Wy atencio © que se observa no modo de consiruir a sequenciago também 6 vélido quando temos a produgao de um texto maior iais coesivas.’) Organizagao da estrutura textual Para nossos propésitos, ¢ fundamental que voce se lembre de fazer sucessivos encadea: mentos de forma a apresentar e organizar progressivamente o tema do texto. Agora, ire- mos explorar como isso se d em um plano mais amplo, tomando 0 texto como unidade. Vamos ler, a seguir, o seguinte pardgrafo, transcrito do livo A construgdo da ordem (2996), de José Murilo de Carvalho: “Elemento poderoso de unficacéo ideoldgica da poltica imperial fol a educacao superior. E isso por tres ‘azdes, Em primeira lugar, porque quase toda a alte possuia estudos superiores,c que acentecia com ouca gente fora dele ete era uma tha de letrados ern um mar de aalfabetes. Em segundo lug capiruto § » 9G porque a educagéo superior se concentrava na fornacéo jurgica e fornecia, em» consequéncia, um récleo homogneo de conhecimentos e habliades. Em tercelro lugar, porque se concentra, alé a Independéncie, em quatro capita provincials, ou duas, se cansiderarmas epenas a formagio [ursica A ‘concenlragdo temitica e geagréfic promovia contatos pessoais entre estudiantes das vias capitanies « provincias @ incutia neles uma idealogla homogénea denivo da esti controle aque as escolas Su periores eram submetidas pelos govemas tanto de Portugal como do Brasit”(CARVALHO, 1996p. 68) Nesse texto de José Murilo de Carvatho, a progressio textual é realizada com auutilizagao de operadores que ordenam a sequéncia dos motivos que justificam a afirmativa de que foi a educagdo superior a responsive pela unificacdo ideolégica durante o perfodo do império. ‘As “tr€s razdes" estio justapostas, ndo hd predominancia de qualquer uma delas. bee eT CUU LEO ee oe Mee Ce er um TO a aR a eee Rie ea cA ce “Em primelro lugar" "Em segundo lugar” “Em terceiro lug Por outro lado, quando queremos escrever um texto em que a progressio se dé por rele- vvaneia, ou prioridade, devemos nos valer de outros nexos coesivos, como, por exemplo, “antes de mais nada", “acima de tudo", “sobretudo”, “primordialmente”(cf. GARCIA, 1977, p. 263). Autilizagdo desses operadores introduz uma hierarquia semantica entre os elementos que compéem o texto. Vamos a outro fragmento extraido de A construgdo da ordem, de José Murillo de Carvalho. 0 texto € construido por contraste. Vejamos: *0 exeme da poltica de terras permite aprofundar a andiise das r prietérios rurais. Como a politica abolicionista, a poltica de terras, sobretudo seu ponte alto, a lei {de 1850, atingla de maneira profunda os interesses dos proprietérios, ou pslo menos de parcela deles, Mas ela possul valor analitico distinto por ter provocado alinhamento de proprietérios di- .cbes entre governa e pro- ‘erente daquele provocado pelo abolicionismo e por néo ter sofrido interferéncia direta da coro, ‘Sua especificidade se manifesta ainda com mais clareza quando se examinam os resultados ob- ‘idos. Em contraste com a politica de abolic&o, a poltica de terras quase nao salu do debate legislative dos relatérios dos burocratas dos ministérios do império e da Agricultura, Comércio « obras Publicas, Ela fol vetada pelos barBes.” (CARVALHO, 1996, p. 308) ‘Observemos que a progressio ¢ realizada a partir da frase inicial, em que se explicita 0 tema “o exame da politica de terras...". A partir daf,o texto vai sendo encadeado por compa: ragio e contraste. Essa forma de sequenciagao aparece logo na segunda frase com a intro- ‘dugo do operador “como” (“como a politica abolicionista..."), O contraste (ou contrajun- gio) se inicia na terceira frase, a partir do uso da conjungiio “mas” (mas ela possui.."), © + continua mais adiante no texto, com “em contraste com a politica de aboligaé. {00 = carmuto 5 i Argumentagao e texto argumentativo Normalmente, quando pensamos em argumentagSo e em textos ar- gumentativos, costumamos associé-los a um tipo espeeifico de texto, o chamado texto dissertativo. Eo que fazemos, por exemplo, quando escrevemos uma redaco para o vestibular: argumentamos sobre uma dada questo, como so- bre o trénsito nas grandes cidades ou a influéncia da tecnologia na educagdo, dentre outras, e, se formos bem sucedidos, teremos como resultado um texto coerente e eoeso, com boa argumentagdo e bem aceito pelo leitor que, nesse caso, é um avaliador. Bsse tipo de texto disgertativo/ if argumentativo ¢ também muito fre- ce quente em jornais imptessos: logo nas primeiras paginas, costumamos encontrar o editorial, destinado aemi- tir a opiniao do periddico sobre um determinado assunto. EY comentario que faz 0 jornal nesse espago é justarmente argumentar, na tentativa de mostrar a0 leltor como @ questo em pauta pode e deve ser compreendida. Também nos jomais so comuns os artigos assinados, que sao textos opinativos nos quais jor- Nalistas @ especialistas, em diversas éreas, argumentam sobre uma dada questéo, No discurso jornalistico, a presenga desses textos declaradamente argumentativos, em segbes especificas, tem um funcionamento particu- Jar: marcar lugares diferenciados para a opinido e para a informagdo, mantendo esta ultima sob o rétulo da objetividade, do simples relato dos fatos. Sob essa perspectiva tedrica, toda linguagem se dirige ao outro e, nesse sentido, todo ato linguistico é& argumentativo, Demodo andlogo ao que corte no discurso jornalis- tico, a classificactio dos tex- tos em tipos diversos tam: bém produz os seus efeitos: por ela, somos levados a pensar que somente alguns textos so argumentativos, ou seja, sio des- tinados a “ganhat” a cumplicidade dos leitores. Vejamos algumas afir- ‘magdes de Koch a respeito da telagto entre argumento e discurso: Wy’ wvencio "A simples selegao das opinides a serem reproduzidas jd implica, por si mesma, uma op¢do. Também nos textos denominados narrativos e descritivos, @ GY concerto Texto dissertative: Diferentemente de cutras tipos textu ais, como 0 narrativo ou © desertivo, Co texto cissertativa teria como fungao principal ciscorrer sobre uma determi nada questéo a partir de um ponto de Vista e, consequentemente, ganhar a ‘adesio doleitor a esse ponto de vista ali expresso, através de argumentos EY comentArio Lugares diferenciados: ‘As andlises do discurso jornalistco tam discuti objetividede que 6 constuida pela imprensa, Voc8 pode néo ter percebido, mas a propria soleco do que seré ou no noticiado na imprensa jé é uma escolha e diz a0 leitor o que deve ser considerad importante em um dado momento histé juito essa lluséo de ico. Em outras palevras, entendemos que o discurso jornalistica agenda 0 que serd tema de discussio na cidade e no pats. Logo, todo ele 6, por natureza, argumentatvo, capinuto 5 « {I in AU pswarpoucror Oswald Ducrot Oswald Ducrat (4990) € um linguista francés cujas obras e estudos versam, especialmente, sobre a semfntica da enunclacSo. Em seus studs semdnticos una das questées abordadasé justamente eargumenis- fo, Para Ducrot, a axgumentacko nao 6 uma propriedede de certostpos de texto e ndo esté meramente condicio: ada a intengao do suet que busca persvadiro outro com 8360 caer 40 « cacrno 5 argumentagao se faz presente em malar ou menor grau (.) © uso da lingua- gem & inerentemente argumentative." (KOCH, 1987, p. 1920, 104) De um modo geral, a argumentatividade na linguagem esté relacio- nada & persuasio do outro, ao agir sobre o outro em termos lingufsti- cos. Além disso, hd textos e enunciados que tém como caracteristica marcante uma formulagdo construida para levar o leitor a certos tipos de conclusio, ou de eliminagao de opinises divergentes. Bases textos se marcam por lancar mao de diferentes estratégias que orientam a argumentaco. Compare, por exemplo, os dois enunciados a seguir: Meu time esta preparado para 0 jogo. Trata'se de uma afirmaczo, de limitado poder de Mn ee eee oie rst ne ime) eee rouse Wier Reet esc cuse Observe agora os exemplos a seguir e veja qual enunciado, na sua opinio, possui maior forga argumentativa: HB ete ieue chou tudo para fazer @ monografia. BB endo s6 leu como também fichou tudo para fazer a monograta Voce jé pereebeu que o segundo tem maior forga argumentativa, nfo €? Bo que estd servindo para isso s80 0s elementos "ndo sé” e“como também", que funcionam como em uma escala argumentativa, de acor- do como semanticista Oswald Ducrot, (In: GUIMARAES, 1987, p.19~32) ‘Vamos entender melhor como isso funciona? Pa RESUMO Para linha teésica de Ducrot a argumentardo esténa propria lingua ‘espectcamente 10 léxie’ come nos expca Zopp-Fantana (206). Assim os enunciadose es palwas que compSem o leo de una lingua em paricularjé raiam consigo valores aguen- tatvosespecficos, que conforem ceta draco ao que & dt (orentacio argumertatva). Alguns elementos lingu{sticos teriam entéo maior valor argumen- tativo que outros, o que permitiria disp6-los em uma escala argumen- tativa (dos termos com menor valor argumentativo para aqueles com maior “poder” de argumentagao). EY EXEMPLO Quer outro exempla de coma os préprios termos empregados no dizer funcionam arqumentativamente? Voct jé deve ter ouvido a metiéfora do copo, geralmente uilizada para clferenciar as pessoas otimistas daquelas consideradas pessimistas: Pessinista Ofmista Diante de uma mesma quantidade de égua em um copo, 6 possivel afimar que ele est "melo cheio! ou meio vari". Depertiendo do enunciado emitido, podemos che- gar aconclustes 4 les, apesar de a quantidade de dgua no copo ser a mesma CY comentario / Como afirma Zoppi-Fontana (2006), nesse exemplo, “meio cheio' e ‘melo v io possuem valores argumentativos, © nos permitem entender a argumentagao ‘como “direcionamento para uma poss(vel continuacdo®(p, 98); ou, coma nos diz Guimardes (2002, p. 78), ‘argumentar é dar uma diretividade ao dizer’ © tempo verbal é outro importante operador argumentative. Formas verbais no imperativo, por exemplo, possuem um valor ar- gumentativo bastante relevante e, por isso, s8o muito frequentes no discurso publicitério. © modo imperativo ¢ muito recorrente nos discursos da midia que buscam uma maior proximidade com os seus leitores, posto que seus enunciados interpelam o interlocutor, incitando-o a uma atitude/ ago. Chamadas como “Acompanhe a movimentagdo do transito no Carnaval” e “Tire suas chividas de portugués com nosso dicionério” silo apenas alguns exemplos do funcionamento dessa forma verbal. Como podemos observar, todos esses enunciados buseam encami- nhar a uma Unica conclusdo: a efetivagdo da compra, O que nos leva a contluir que a publicidade é um texto argumentativo por exceléncia; afi- nal, seu objetivo é levar quem a 1é a comprar o produto, Bla age sobre 0 WY curiosipane Imperativo: Voce se lambra daquele antncio em que uma meninha ficava dizendo de forma eneantadora compre Baton?” Pol 6 reparou que o verso encon- tracse em ume forma imperatva? & 6 mesmo funcionamento que vernes am slogans famosos, coma "Beta Coca-Cola’ e em cneres correntes em propagandas das male diversas como Compre agora “Asse é ou ‘Compre um e eve dos carfruo 5 103

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