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aoe arene a 1 CIENCIA E CONHECIMENTO CIENTIFICO 1.1 © CONHECIMENTO CIENTIFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO ‘Ao se falar em conhecimento cientifico, o primeiro passo consiste em dife- nario, , MA. Waleed | S01. TARO DLE Ae Caer. 6% =p DRS PMO 1 ATURG, 200m ava o desperdicio de ; ial x ave puso: os In pees ou oe @Dek Constante, Hoje, a agricultura utlizase de sementes selecionadas, de adubos icos, de defensivos contra as pragas € tenta-se, até, o controle biolégico dos insetos daninhos. lois tipos de conhecimento: o primeiro, vulgar jeo do camponés, transmitido de geragao para geragao da educagio informal e baseado em imitacio e experiéncia pessoal; Portanto, empirico © desprovide de conhecimento sobre a composigao do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo re. produtivo dos insetos etc.; 0 segundo, cientifico, &transmitido por intermédio de tteinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo ra duzido por meio de procedimentos cientificos. Visa explicar “por que” e “como” 0s fenémenos ocorrem, na tentativa de evidenciar 0s fatos que esto correlacio- nados, numa visio mais globalizante do que a relacionada com um simples fato = uma cultura especifica, de trigo, por exemplo, 1.1.1 Correlagéo entre Conhecimento Popular e Conhecimento Cientifico -0 nem pela veracidade nem pela na 08 diferencia é a forma, 0 modo ou 0 le agua e que, se nao a receber de forma “natural”, deve ser irrigada, pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovavel, mas, nem. Por isso, cientifico. Para que isso ocorra, é necessdrio ir mais além: conhecer a atureza dos vegetais, sua composigdo, seu ciclo de desenvolvimento e as parti- cularidades que jem uma espécie de outra. Dessa forma, patenteiam-se dois aspectos: a) a ciéncia nao é o tinico caminho de acesso 20 conhecimento e a ver- dade; b)_ um mesmo objeto ou fendmeno — uma planta, um mi nidade ou as relagbes entre chefes e subordi de observagéo tanto para o cient que leva um ao conhecimento e 01 observagio. , uma com dos ~ pode ser maté quanto para o homem comum; 0 ao vulgar ou popular &a forma de Para Bunge (1976:20), a descontinuidade radical existe entre a Ciéncia ¢ conhecimento popular, em numerosos aspectos (principalmente no que se refere 20 método); néo nos deve se fazer ignorar certa continuidade em outros aspectos, principalmente quando “senso”. Se excluirmos Sree 7 verificamos que tanto “bom-senso” quanto a cién almejam ser racionais ¢ objetivos: “sao c um 2 coeréncia (racionalidade) e procuram adaptar- -$¢ aos fatos em vez de permitir-se especulacées em controle (objetividade)” Entretanto, o ideal de racionalidade, compreendido como tematizacdo cocrente de enunciados fundamentadios e passiveis de verifi to mais por intermédio de teorias, que constituem 0 niicleo da Ci pelo conhecimento comum, entendido como acumulagéo de partes 0 de informagao frouxamente vinculadas. Por sua vez, 0 ideal de objetividade, 6 a construgio de imagens de realidade, verdadeiras e im , niio pode ser aleangado se néo ultrapassar os estreitos limites da vida cotidiana, assim como a experiéncia particular; € necessério abandonar o ponto de vista antropocén- ttico, para formular hipéteses sobre a existéncia de objetos e fendmenos além da propria percepcio de nossos sentidos, submeté-lo interpretada com © ausilio das teorias. Pot esse m ou 0 “bom-senso”, no pode conseguir mais do que assim como é limitada sua racion: est estreitamente vinculado & percepgio e A agio. 1.1.2 Caracteristicas do Conhecimento Popular aspiracio 2 ra lade e objetividade, de forma muito limitada’, pode-se dizer que © conhecimento vulgar ou popular, lato sensu, € 0 modo comum, corrente ¢ es- neo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres “& saber que preenche nossa vida didria e que se possui sem o haver ou estudado, sem a aplicagao de um método e sem se haver refletido sobre algo” (Babini, 1957:21). Para Ander-Egg (1978: predominantemente: © conhecimento popular caracteriza-se por ser a) superficial ~ isto é, conforma-se com a aparéncia, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como “porque 0 vi, “porque o se que todo mundo 0 b) sensitivo- a vida dia seja, referente a viva estados de animo © emogies ° ivo ~ pois é 0 préprio sujeito que orgar conhecimes a suas experiéncias Into 0S que adquire por vivéncia prépria qui acritico mentos 0 sej 1u no, a pretensio de que esses conhect- ssta sempre de uma forma critica. 1.1.3 Os Quatro Tipos de Conhecimento Verificamos, dessa forma, que o conhecimento cientifico diferencia-se do 1e se refere a seu contexto metodolégico do que pro- Essa diferenca ocorre também em relagao aos conhe- gico), as caracterfsticas dos quatro tipos de conhe- Conhecimenta Retigioso ‘6 objero conhecido, e este & pos f 10 impregnam o objeto conhecido. E ser reduzido a baseia-se na “organizagai noscente, € no em uina sistematizagio das idetas, na procura de uma formula: gio geral que explique os fendmenos observados, aspecto que dificulta a trans- ‘de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. f verificdve 10 da vida didria e diz respeito a0 que se pode perceber no yexato, pols se conforma com a aparén to, Em outras palavras, no pert sncia de fendmenos situados além das ias & observagio: “as hipdteses este conhecimento emerge da experiéncia e nao da experimentagio” (Trujillo, 1974:12), por este motivo, 0 conhecimento filosético é ndo verificdvel, jd que os enunciados das hipéteses filoséficas, ao contrério do que ocorre no campo da ciéncia, néo podem ser con- firmados nem refutados, £ racional, em virtude de consistir nim conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a caracteristica de sistematico, pois suas hipéteses e enunciados visam a uma representagio coerente da reali- dade estudada, numa tentativa de apreendé-la em sua totalidade. Por tiltimo, é infalivel e exato, jd que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definicio do i 10 capaz de aprender a realidade, seus postulados, assim como suas hipéteses, ndo sao submetidos ao decisivo teste da ‘observacio (experimentagao), © conhecimento filoséfico ¢ caracterizado pelo esforgo da razio iades materiais e, por essa raz direta ou indireta (por instrumentos), ia da (08 reais e concretos, afir- nentago. Ao contrario, a ‘no qual prevalece o proceso dedutivo, ia, ¢ nao exige confirmacio experimental, mas somen- 1979:110). 0 procedimento cientifico leva a eircuns- € analisar 0 que se constitui 0 objeto da pesquisa, jo segmentos da realidade, ao passo que a filosofia encontra-se sempre & procura do que é mais geral, interessando-se pela formulagio de uma concep¢ao lunificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder as grandes in- dagacoes do espirito humano e, até, busca as leis mais universais que englobem © harmonizem as conclusdes da ciéncia, 1.1.3.3, CONHECIMENTO RELIGIOSO 0 conhecimento religioso, isto 6, teolégico, apoia-se em de m proposigdes sagradas (valorativas), por terem sido revela¢ ural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades sio consideradas in- 20 Metoslogia Clones» Marcon «Lat faliveis e indiscutiveis (exatas); é um conhecimento sistematico do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divinoy suas parte do principio de que consistirem em “revelagées” da divindade (sobrenatural). A adesio das pessoas passa a ser um ato de f, pois a visio sistemstica do mundo é interpretada como decorrente do ato de um criador divino, cujas evidéncias néo so postas em du vida nem sequer verificaveis. A postura dos teblogos e ciemtistas diante da reoria, da evolugéo das espécies, particularmente do Homem, demonstra as abordagens diversas: de um lado, as posigbes dos tedlogos fundamentam-se nos ensinamen- tos de textos sagrados; de outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos coneretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipéteses. Na realidade, mais longe. Se o fundamento do conhecimento ciei ddos fatos observados e experimentalmente controlados, e 0 do conhe: filos6fico e de seus enunciados, na evidéncia Iégica, fazendo com que em ambos ‘0s modos de conhecer deve a evidéncia resultar da pesquisa dos analise dos contetidos dos enunciados, no caso do conhecimento te algum modo” (Trujillo, 1974:14). Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposicdes ou hipdteses tém sua veracidade ou falsidade conheci por meio da experimentagao endo apenas pela azo, como ocorre no cone: mento filos6fico. E sistematico, jé que se trata de um saber ordenado logi mente, formando um sistema de ideias (teoria) ¢ no conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a caracteristica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmagdes (hipéteses) que néo podem ser comprovadas nao pertencem ao m- bito da ciéncia. Constitui-se em conhecimento falivel, em virtude de no ser definitivo, absoluto ou final, por este motivo, € aproximadamente exato: novas proposigdes e o desenvolvimento de técnicas podem reformular 0 acervo de teoria existente. “Apesar da separacio “metadol pos de conhecimento po- pullas, de apreensio da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas areas: ao estudar 0 homem, por exemplo, pode-se rirar uma série de conclusdes sobre sua atuacao dade, baseada no senso comum ou na experiéncia cotidiana; pode-se ‘como um ser bialégico, verificando, com base na investigacio experi- co 21 divindade, a sua imagem e semelhanga, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados. Por sua vez, essa formas de conhecimento podem coesistr na mesma pes- , voltado, por exemplo, ao estudo da fisica, pode ser crente -muitos aspectos de sua vida cot do senso comum, 1.2 CONCEITO DE CIENCIA Diversos autores tentaram definir o que se entende por Ciéncia. Os concei tos mais comuns, mas, a nosso ver, incompletos, so os seguintes: sumulagdo de conhecimentos sistemiticos.” jemonstrar a verdade dos fatos experimentais, ‘aracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemitico, exato, veri vel e, por conseguinte, fall “Conhecimento certo do real pelas suas causas.” “Conhecimento sistemiitico dos fendmenos da natureza e das leis que 0 obtido pel ‘ago, pelo raciocinio e pela experimentagao intensiva, *+ “Conjunto de enunciados légica e dedutivamente justificados por outros snunciados.”| ico de conclusées ces monstradas e relacionadas com objeto 1s € gerais, metodicamente de- terminado. “Corpo de conhecimentos consistindo em percepgdes, experiéneias, fatos certos e seguros.” lo de problemas sotiveis, mediante método cient co, sistematicamente organizada de pensamento objet 1.2.1 Conceito de Ander-Egg mneeito mais abrangente & o que Ander-Egg apresenta em sua obra n a las técnicas de investigacién social (1978:15): 22. merséaoga a) conhecimento racional - isto é, que tem exigéncias de método € ido por uma série de elementos basicos, tais como sistema conceitual, hipéteses, definigdes; diferencia-se das sensagdes ou ima- gens que se reflet ido de animo, como 0 conhecimento poético, e da compreensiio imediata, sem que se busquem os fundamen: tos, como € 0 caso do conhecim b) certo ou provavel - jé que no se pode atribuir a ciéncia a certeza indiscutivel de todo o saber que a compie. Ao lado dos conhecimentos certos, € grande a quantidade dos provaveis. Antes de tudo, toda lei indutiva é meramente provavel, por mais elevada que seja sua probabi lidade; ©) obtidos metodicamente ~ pois nio se os adquire ao acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras légicas e procedimentos técnicos; «) sistematizadores -is desconexos, mas de u sistema de ideias (teo ©) verificaveis ~ pelo fato de que as afirmagées, que nio podem ser com- provadas ou que nao passam pelo exame da experiencia, ndo fazem par- 3, que necessita, para incorpori-las, de afirmagées das pela observaco; se trata de conhecimentos dispersos € ) relatives a objetos de uma mesma natureza — ou seja, cbjetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certos ca racteres de homogeneidade. 1.2.2 Conceito de Trujillo Apesar da maior abrangéncia do conceito de Ander Egg, consideramos mais precisa a definicio de Trujillo, expressa em seu livro Merodologia da ciéneia, que nos serve de ponto de partida eentendemos por cigncia uma sistematizagdo de conhecimentos, um jonadas sobre 0 comportamento 1.23 Visdo Geral dos Conceitos Desses conceitos emana a caracteristica de apresentar-se a ciéncia como um pensamento racional, objetivo, ou seja, nao (0, pois deve ser verificd- ‘perimentagio p: fagio de seus enunciados hipéteses, procurando-se as relagGes caus: também, a cia da metodologia que, em tiltima andlise, determinaré a prépria possil de experimentacio. E dessa maneira que podemos compreender as preocupagées de Ogbumn Nimkoff (1971:20-1), assim como de Caplow (1975:4-5), ao discutirem até que Ponto a Sociologia, como ciéncia, inserida no universo mais amplo das Cié Sociais ou Humanas, aproxima-se das snominadas de Exaras. Os pr o que é uma ciéncia, afirmam que cla é reconhecida por tds critérios: a confia- bilidade de seu corpo de conhe izagao e seu método. Nao vendo diividas quanto as duas ‘primeira ~ conhecimento confidvel -é inerente & Sociologia, em particul Ciéncias Sociais ou Humanas, em geval Na realidade, essa discussio existe até hoje. Perdeu um pouco de intensi dade quando a separacao, baseada na “acdo do observador sobre a coisa obser- vada’, que era nitida entre as Ciéncias Fisicas e Biolégicas ¢ as So« , até entiio caracteristica wz mais subsidios: “Mesmo que os geralmente, mais precisos ou 0 em sua abrangéncia inf apresen |, como seu proprio objeto; tretanto, as proprias limitagdes de nossa mente exigem a fragmentagio do real para que possa atingir um de seus segmentos, resultando, desse fato, a plural. dade das eiénci 24. Mesodlogia Cinien + Maran Latter Por sua vez, em se tratando de analisar a natureza da ciéneia, podem ser | ou de contevido) ¢ a metodolégica (operacional aspectos légicos quanto técnicos. Pode-se conceituar 0 aspecto légico da ciéncia como 0 método de raciocinio e de inferéneia acerca dos fenémenos jé conhecidos ou a serem investigados; em outras palavras, pode-se considerar que o “aspecto légico constitui o método para a construgio de proposigées e enunciados”, objetivando, dessa mancira, uma descrigio, interpretacio, explicagao e verificagao mais precisas. idade da ciéncia manifesta-se por meio de procedimentos ¢ opera- intelectuais que: ‘a) 'b) permitem a interpretacio e a explicagéo adequadas dos fendmenos; tam a observagao racional e controlam os fatos; © contribuem para a verificagio dos fendmenos, positivados pela experi- mentagao ou pela observa¢ao; 4) fundamentam os pri da generalizagéo ou o estabelecimento dos principios e das leis” (Tryjillo, 1974:9). Acciéncia, dos, hierarquic indo gradativamente de fatos particulare ascendente = indugio; conexao descend a certeza de serem fundamentados) pela pesquisa empirica (submetidos veri ficagao). Por sua vez, 0 aspecto téenico da ciéncia pode ser caracterizado pelos processos de manipulagéo dos fendmenos que se pretende estudar, anal interpretar ou verificar, cuidando para que sejam medidos ou calculados com a maior precisao possivel, registrando-se as condigées em que os mesmos ocor- rem, assim como sua frequéncia e persisténcia, procedendo-se a sua decompo. sigdo e recomposigao, sua comparacao com outros fenémenos, para detectar tudes e diferencas e, finalmente, seu aproveitamento. Port ico da ci€ncia corresponde a 12.5 Componentes da Ciéneia As cincias posstuem: a) objetivo ou finalidade ~ preocupagao em distinguir a caracteristica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos; io 25 b)_ fungao ~ aperfeicoamento, por meio do crescente acervo de conheci ‘mentos, da relagio clo homem com seu mundo; ©) objetos - subdividido em: ~ material, aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral; ~ formal, o enfoque especial, em face das diversas ciéneins que pos- stem 6 mesmo objeto material 1.3 CLASSIFICAGAO E DIVISAO DA CLENCIA A complexidade do universo e a diversidade de fendmenos que nele se das & necessidade do homem de estudé-los para os, levaram ao surgimento de diversos ramos de estudo ¢ quer de ac complexidade, quer de acordo com seu contetido: objeto ou temas, diferencas de enunciados ¢ metodologia empregada. 1.3.1 Classificagdo de Comte Uma das primeiras classificagées foi estabelecida por Augusto Comte. Para ele, as ciéncias, de acordo com a ordem lexidade, apresen- am-se da seg: isica, Qui Sociologia e Moral. Outros autores ‘io da comple, dade crescente, originando classificagdes com pequenas diferencas em relacio a Comte. 1.3.2 Variagdo da Classificagéo de Comte Alguns autores classificam as ciéncias segundo um eritério mi a complexidade crescente, de acordo com o conceito de Comte, ido (Nérici, 1978:113); ‘Teéricas: Aritmética, Geometria, Algebra Aplicadas: Mecénica Racional MATEMATICAS ca, Quimica, Mineralogia, Geol Geogratia Fi FisICO-QUIMICAS BIOLOGICAS ‘oologia, Antropologia Psicologia, Légica, Estética, Moral CIENCIAS | Historia, Geografia Humana, Arqueologia Cosmologia Racional, Psicologia Racional, EISIGAS ‘Teologia Racional | (vi | . Ine | {ri | 13.3 Classificagéo de Carnap formais ~ contém apenas enunciados analiticos, isto &, cuja verdade depende unicamente do significado de seus termos ou de sua estrutura lgica; b) factuais — além dos enunciados analiticos, cont ‘08, aqueles cuja verdade depende nio sé 108, mas, igualmente, dos fatos @ que se referem. sobretudo os sin- icado de seus 13.4 Classificagdo de Bunge Mario Bunge, partindo da mesma divisiio em relagio as ciéncias, apresenta aa seguinte classificagio (1976:41): . Légica nO Matematica NATURAL ceNCIA Individual FACTUAL, Psicologia Social Sociologia cuururaz | Economia 135 Classificagdo de Wundt Por sua vez, Wunde (Pastor e Quills 1952:276) indica a classificagéo que se FORMAIS - Matematica Fenorenoligics | CIENCIAS DA, ‘Cenk CIENCIAS DA | Gendvicas ‘CIENCIAS nen Siena | setcomarigien { catucuss pe | Seéticn {stdin ESPIRITO Direito Pol 28 todas Cini + Morente Laatos 1.3.6 Classificagéo Adotada Das classificagSes vistas, percebe-se que nao ha um consenso entre os autores, nem sequer quando se trata da diferenca entre ciéncias e ramos de estudo: o que para alguns 6 ciéncia, para outros ainda permanece como ramo de estudo, e vice-versa, Baseando-se em Bunge, apresentamos a seguinte classificago das ciéncias: Logica Fisica NATURAIS ica Biologia e outras ciénoas Antropologia mori Calera Direito socials Psicologia Social Sociologia 1.4 CIENCIAS FORMAIS E CIENCIAS FACTUAIS A primeira e a mais fundamental diferenga que se apresenta entre as cién- cias diz respeito as ciéncias formais, estudo das ideias, e is cigncias factuais, est do dos fatos, Entre as primeiras, encontram-se a légica e a matematica, que nio tendo relacio com algo encontracdo na realidade, néo podem valer-se dos conta- tos com essa realidade para convalidar suas férmulas. Por outro lado, a fisica e a sociologia, sendo ciéncias factuas, referem-se a fatos que supostamente ocorrem no mundo e, em consequéncia, recorrem & observagio e & experimentagio para comprovar (ou refutar) suas férmulas (hipsteses). A logica e a matemética tratam de entes ideais, tanto abstratos quanto in- terpretados, existentes apenas na mente humana e, mesmo nela, em Ambito con feo. Em outras palavras, constroem seus préprios objetos de estudo, mesmo que, muitas vezes, 0 faca, por abstracio de objetos reais (naturais ou socials) Segundo Bunge (1974a:8.9), 0 conceito de niimero abstrato nasceu da co ordenagio de conjuntos de objetos materiais; todavia, os nimero fora de nossos cérebros: podemos ver, encontrar, manusear, tocar trés livros, trés Cnsn«Conbesimens Gietifeo 29 drvores, trés carros, ou podemos imaginar trés discos voadores, mas ninguém pode ver um simples wr, em sua forma, composigio, esséncia, Por exemple sistema decimal, em matemética, é uma decorréncia de os seres humanos sufrem 10 dedos, 1.4.1 Aspectos Relacionados & Divisdo em Ciéncias Formais e Factuais Ad io em ciéncias formais e factuais leva em consideragé 4) © objeto ou tema das respectivas disciplinas — as formais preo- cupam-se com enuinciados, ao passo que as factuais tratam de objetos empiricos, de coisas e de processos; b) a diferenca de espécie entre enunciados - os enunciados for- mais consistem em relagées entre simbolos ¢ os factuais referem-se a entes e: ficos, isto é, fenomenos e processos; ©) © método pelo qual se comprovam os enunciados ~ as cién- cias formais contentam-se com a l6gica para clemonstrar rigorosamente seus teoremas e as factuais necessitam da observagio e/ou experimen to, Dito de outa forma, as primeiras nao empregam a experimentagao para a demonstragao de seus teoremas, pois ela decorre da dedusao; ha matemetica, por exemplo, “o conhecimento depende da coerén do enunciado dado com um sistema de ideias que foram admitidas previamente” (Trujillo, 1974:13); ao con ver, sempre que possivel, procurar alterar d fenémenos ou processos, para verificar até q ajustam-se aos fatos; onto suas hipéteses 4) 0 grau de suficiéncia em relagio a0 contetido método de prova~as ciéna fo a seus contetidos e métodos de prova, e1 is dependem do “fato”, ", no que diz respeito a0 seu conteido ou signifcagio, e do “Fato exp para Sua convalidacio, “Isto explica por que se pode conseguir verdade formal completa, enquanto a verdade factual e revela to fas dia” (Bunge, 1976:39); ©) 0 papel da coeréneia para se aleangar a verdade — para Bun ge (1974a:11-13), se na matematica a verdade consiste “na coeténi «do enunciado dado com um sistema de ideias previamente admitid esta verdade nao ¢ absoluta, mas relativa a este sistema, de tal forma que, se uma proposigio é valida em uma teoria, pode deixar de ser logicamente verdadeira em outra: por exemplo, no sister empregado para contar as horas de um dia, a proposigio 24 20 6 valida. Portanto, se os axiomas podem ser escolhidos & vontade, so- ‘mente as conclusdes (teoremas) terdio que ser verdadeiras, e isto s6 se ica, ou seja, sem violar as leis do 'do empregando sim: ‘vazios” (varidvel , mas apenas simbolos interpretados, + a racionalidade, isto é, a “coeréncia com um sistema de ideias previa. mente admitido” é necessaria, mas néo suficiente, da mesma forma aque a submissdo a um sistema de Wgica € também necesséria, mas do garante, por si s6, a obtengao da verdade. exige-se que os enunciados sejam verificave) derado adequado a seu objet verdadeito e, mesmo assim, a neia néo pode garantir que seja o tinico verdadeira: “somente ue é provavelmente adequado, sem excluis, por isso, a proba- es aproximacoes idade escolhida” (Bunge, a tugdo conceitual da parte de re 1874a:14); £) 0 resultado alcangado ~ as ciéncias formais demonstram ou provam; as factuais verificam (comprovam ou refutam) hipéteses que, em sua maioria, so provisérias. A demonstracio & completa e final, a0 passo ago € incompleta e, por este motivo, tempor: 1.5 CARACTERISTICAS DAS CIENCIAS FACTUAIS Entre 0s autores que se ocuparam com a andlise das caracterfsticas das ciéncias factuais, foi Mario Bunge quem the deu maior profundidade, em sua za-se por ser: racior preciso, comunicivel, verificave tico, acumu Assim, 0 conhecimento cientifico, no ambito das ciéncias factu: 1), objetivo, factual, trancendente aos fatos, anal dependente de investigagao mets geral, explicativo, preditivo, aberto e tt 15.1 0 Conhecimento Cientifico é Racional Entende-se por conhecimento racional aquele que: 4) € constituido por conceitos, juizos e raciocinios endo por sensagdes, imagens, modelos de conduta ete. ~ é evidente que © cientista depende do conhecimento sensivel, j4 que sente, percebe, forma imagens mentais de coisas, seres e fatos; entretanto, quando tra- balha com o conhecimento racional, tanto 0 ponto de partida quanto 0 de chegada sao ideias (hipdteses); b) permite que as ideias que o compéem possam combinar-se segundo um conjunto de regras Idgicas, com a finalidade de produzir novas ideias (inferéncia dedutiva) - se, do ponto de vista estritamente légico, estas ideias no sao inteiramente novas, podem ser consideradas como tais, a medida que expressam conheci ‘mentos acerca dos quais nao se tem consciéncia antes do momento em que se efetua a deducio; © contém ideias que se organizam em sistemas - ou seja, con- juntos ordenados de proposigoes (teorias) e néo ideias simplesmente aglomeradas ao acaso, ou mesmo de forma eronologica. 1.5.2 0 Conhecimento Cientifico é objetivo O conhecimento cientifico é objetivo & medida que: 8) procura concordar com seu objeto ~ isto é, buscar aleangar a verdade factual por intermédio dos meios de observacio, investigacao & experimentagao existentes; b) verifica a adequagio das ideias (hipéteses) aos fatos - recor- rendo, para tal, & observagdo e 4 experimentagio, atividades que si0 controlaveis e, até certo ponto, reproduziveis 1.5.3. O Conhecimento Cientifico é Factual onsidera-se conhecimento cient! 0 factual aquele que: @) parte dos fatos sempre volta a eles ~ para Cohen e Nagel (1971:11-36-38), a palavra “faro” denota pelo menos quatro coisas dis- tas: tos elementos que discernimos na laranja situa-se entre o amarelo e ‘a coluna de mereiirio encontra-se na marca de 38° C”; “fato” denota a proposi¢io que interpreta 0 dado ocorrido na experiéncia sensorial. Exemplos: "Isto € livro"; “este som é 0 bada- lar do sino da igreja"; “com 5° C, a temperatura da égua é fria”; 32. Mesedloga Cees + Marconi Lakatos — outras vezes, “fato” denota uma proposiglo que afirma uma sucesso fou conjungio invaridvel de caracteres. Exemplos: “o ouro é maledvel”; “a égua ferve a 100 graus centfgrados"; “o dcido acetil-saliclico é um analgésieo — finalmente, “fato” significa ou denota coisas que existem no espaco e ‘no tempo (assim como as relagoes entre elas), em virtude das quais uma proposigdo é verdadeira. A fungio de uma hipdtese é chegar aos fatos neste quarto sentido. Fvemplo: “a convivencia de individuos heterogéneos, durante muito tempo, no seio de uma comunidade, conduz a estratificagao”; b) capta ott recolhe os fates, da mesma forma como se produ- zem ou se apresentam na natureza ou na sociedade, segun- do quadros conceituais ou esquemas de referéneia - dessa forma, segundo indica Tryjillo (1974:14), 0 fato “Iua”, estudado pela Astronomia, seré considerado como um’satéite da Terra; analisado pela Antropologia Cultural, poderd ser caracterizado como uma divin- dade ciltuada em uma cultura “primi ©) parte dos fatos, pode interferir neles, mas sempre retorna a eles - durante o processo de conquista da realidade, nem sempre é possfvel (ou desejdvel) respeitar a integridade dos fatos: a interfere (nessa integridade) pode conduzir a dados significativos sobre as pro- priedades reais dos fatos. Exemplos: na fisica nuclear, 0 cientista pode perturbar deliberadamente o comportamento do dtomo, para melhor conhecer sua estrutura; 0 bidlogo, com a fina 1a fungio de um érgéo, pode modificar ¢ até matar o organismo que juando um antropélogo realiza pesquisas de campo ide, sua presenga pode provocar certas modificacées. © importante é que estas interferéncias sejam claramente definidas e controliveis, ou seja, passfveis de avaliacdo com certo grau de exati dao, da mesma forma que devem ser objetivas e possiveis de entender em termos de lei, Se tal nao ocorre, o desvio provocado pela interferén- cia pode deturpar o fato estudado e induzir a um falso conhecimento da realidade; 4) utiliza, como matéria-prima da eiéncia, 0s “dados empiricos” ~ isto é, enunciados factuais confirmados, obtidos com a ajuda de teorias fou quadros conceituais e que realimentam a teoria. 15.4 0 Conhecimento Gientifico é Transcendente aos Fatos Diz-se que o conhecimento cientifico transcende os fatos quando: Cita eConbesinente Ceti 33 a) desearta fatos, produz novos fatos ¢ os expliea~ ao contririo 4o conhecimento vulgar ou popular, que apenas registra a aparéncia dos fatos e se atém a ela, limitando-se, frequentemente, a um fato iso- lado sem esforcar-se em correlacioné-lo com outros ou explicé-lo, a investigagdo cientfica no se limita aos fatos observados: tem como fungio explicé-los, deseobrir suas relagBes com outros fatos e expressar essas relagées; em outras palavras, trata de conhecer a realidade além de suas aparéncias; b) seleciona os fatos considerados relevantes, controla-os e, sempre que possivel, os reproduz ~ pode, inclusive, criar coisas novas: compostos quimicos, novas variedades de virus ou bactérias, de vegetais e, inclusive, de animais; ©) nao se contenta em descrever as experiéncias, mas sinte- tiza-as e compara-as com 0 que jd se conhec fatos — descobre, assim, st da realidade, tratando de explicé-los por meio de hipéteses. A compro- vvagao da veracidade das hipdteses as transforma em enunciados de leis gerais e sistemas de hipsteses (teoria) 4) leva o conhecimento além dos fatos observados, inferindo © que pode haver por tras deles - transcendendo a experi jimediata, a passagem do nivel observacional ao teérico permite predi- téncia real de coisas e processos, até entio ocultos. Estes, por intermédio de instrumentos mais potentes (materiais ou conceptuais), podem vir a ser descobertos. Exemplos: a existéncia do dtomo foi predi ta, muito antes de poder ser comprovada; em fins do século XIX, Men- deleey faz a classificagao periédica dos elementos quimicos em ordem crescente de acordo com seu peso atdmico, elaborando quadros que, em virtude de apresentarem lacunas, levaram a prever a existéncia de elementos até ento desconhecidos (e mais tarde encontrados); a des- coberta do planeta Netuno e, posteriormente, de Plutdo, decorreu de céleulos mateméticos de perturbacées nas érbitas dos planetas externos conhecidos. 1.5.5 O Conhecimento Cientifico é Analitico © conhecimento cientifico é considerado analitico em virtude de: 8) a0 abordar um fato, proceso, situago ou fenémeno, de- compor 0 todo em suas partes componentes ~ (nfo necessa riamente a menor parte que a divisio permite), com 0 propésito de descobrir os elementos constitutivos da totalidade, assim como as inter- ligagdes que explicam sua integragao em fungio do contexto global; b) serem pareiais os problemas da Ciéncia e, em consequén- cia, também suas solugdes - ou, cle inicio, os problemas propostos so restritos ou é necessério restringi-los, com a finalidade de an: ©) © procedimento cientifico de “andlise” conduzir & “sintes: = se a investigagdo inicia-se decompondo seus objetos com a finalida- de de descobrir 0 “mecanismo” interno responsavel pelos fendmenos observados, segue-se o exame da interdependéncia das partes e, numa etapa final, a “sintese’, isto é, a reconstrugao do todo em termos de suas partes inter-relacionadas. Assim, se 0 processo de anise leva & decomposigio do todo em seus elementos ou componentes, o de sintese procede & recomposicio “das consequéncias aos principios, do produto ‘a0 produtor, dos efeitos &s causas ou, ainda, por simples correlaciona- mento” (Iryjillo, 1974:15). © processo de andlise e a subsequente sin- tese so “a nica maneira conhecida de descobrir como se constitue transformam e desaparecem determinados fendmenos, em seu ‘todo’ (Bunge, 1974a:20). Por este motivo, a ciéncia rechaga a sintese obtida sem a prévia realizagio da analise. 1.5.6 O Conhecimento Cientifico € Claro e Preciso Diz-se que 0 conhecimento cientifico requer clareza e exatidio, pois: @) a0 contrério do conhecimento vulgar ou popular -usualmente “obscuro e pouco preciso, o cientista se esforga, ao maximo, para ser exato ¢ claro ~ mesmo quando nao o consegue, o fato de possuir métodos e téenicas que permitem a descoberta de erros faz com que possa tier proveito também de suas eventuais falhas; }) 08 problemas, na Ciéncia, devem ser formulados com cla- reza 0 primeiro, mais importante e também mais dificil passo & dis- tinguir quais so realmente os problemas; um problema real formulado ida os estudos, mesmo tendo-se utilizado todo um arsenal analtico ou experimental adequado; ©) © cientista, como ponto de partida, utiliza nogbes simples que, ao longo do estudo, complica, modifica e, eventual- mente, repele ~ essa transformagio progressiva das nogées simples fou correntes processa-se ao inclui-las em esquemas teéricos, possibi tando sua precisio; todavia, qualquer falha, a0 longo do processo, pode tornar incompreensivel o resultado final; lice conbacimento Cemion 35, 4) para evitar ambiguidades na utilizago dos conceitos, a Gigncia os define - mantém assim a fidelidade dos termos ao longo do trabalho cientifco; ©) ao criar uma linguagem artificial, inventando sin: vras, simbolos etc.), (pala- eles atribui significados determinados ‘regras de designagao”. Exemplos: no con- designa o elemento de peso atémico uni Antropologia Cultural, 4 indica homem ¢ © , mulher, 1.5.7 O Conhecimento Cientifico é Comunicdvel © conhecimento cientifico € comunicivel & medida que: a) sua linguagem deve poder informar a todos os seres huma- nos que tenham sido instruidos para entendé-la ~ a maneira de expressar-se deve ser, principalmente, informativa e no expressiva cu imperativa: seu propésito ¢ informar ¢ nao seduair ou impor; b) deve ser formulado de tal forma que outros investigadores possam verificar seus dados e hipéteses ~ em razio direta da quantidade de investigadores independentes que tomam conhecimento das hipéteses e técnicas, mult lades de confirma- «do ou refutagio das mesmas; ©) deve ser considerado como propriedade de toda a humani- dade — pois a divulgacio do conhecimento é mola propulsora do pro: sgresso da Ciéneia 15.8 0 Conhecimento Gientifico € Verificdvel © conhecimento cientifico é considerado verificavel em vireude de: a) ser aceito como vilido, quando passa pela prova da expe- riéncia (ciéncias factuais) ow da demonstragao (ciéncias formais) ~ 6 a comprovagae que o torna vilido, pois, enquanto nao sio compro: vadas as hipéteses, deduzidas da investigacdo ou do sistema de ideias existentes - teorias -, tendo em vista a inferéncia dedativa, nao podem ser consideradas cientificas; b) 0 “teste” das hipéteses factuais ser empitico, isto é, obser- vacional ou experimental ~ a experimentacio, inclusive, vai além da observacio, em virtude de efetuar mudangas e nio apenas limitar-se a registrar variagGes: isola as varidveis manifestas e pertinentes. Entre- tanto, nem todas as ciéncias factuais possibilitam o experimento: alguns 36 Metedolaga Cision + Maron Later campos da Astronomia ou da Economia aleangam grande exatidao sem a ajuda da comprovagio experimental. Portanto, ser objetivo ou em- Pirico, isto é, a comprovagdo de suas formulagées envolver a experi- mentagao, nao significa que toda ciéneia factual seja necessatiamente experimental; ©) uma das regras do método cientifico ser o preceito de que as hipéteses cientifieas devem ser aprovadas ou refutadas mediante a prova da experiéneia — entretanto, sua aplicagao de- pence do tipo de objeto, do tipo da formulagio da hipétese e dos meios de experimentagéo disponiveis. E por este motivo que as ciéncias re- querem uma grande variedade de téenicas de verificagio empirica. A verificabilidade consiste na esséncia do conhecimento cientfico, pois, se assim nao fosse, nao se poderia afirmar que os cientistas buscam obter conhecimento objetivo. 1.5.9 O Conhecimento Cientifico é Dependente de Investigagdo Metédica Diz-se que o conhecimento cientfico depende de investigagio metédiea, ja que o mesmo: a) € planejado - o cientista nao age ao acaso: ele planeja seu sabe 0 que procura e como deve proceder para encontrar o que almeja Eevidente que esse planejamento no exclui, totalmente, o imprev ‘ou 0 acaso; entretanto, prevendo sua possibilidade, o cientista trata de aproveitar a interferéncia do acaso, quando este ocorre ou € deliberada, ‘mente provocado, com a finalidade de submeté-to a control b) baseia-se em conhecimento anterior, particularmente em hipéteses ja confirmadas, em leis e prineipios ja estabele- ‘eidos - dessa forma, 0 conhecimento cientifico nao resilta das inves- tigagdes isoladas de um cientista, mas do trabalho de iniimeros investi- gadores; ©) obedece a um método preestabelecido, que determina, no proceso de investigagao, a aplicagao de normas e téenicas, ‘em etapas claramente definidas — essas normas e técnicas podem ser continuamente aperfeicoadas. Entretanto, o método cientifico nao ddispoe de receitas infalfveis para encontrar a verdade: contém apenas uum conjunto de prescriges, de um lado, faliveis e, de outro, susceti veis de aperfeigoamento, para o planejamento de observagdes e expe- rimentos, para a interpretagio de seus resultados, assim como para a definigdo do préprio problema da investigacao. Finalmente, as ciéncias lnva comdecmento Genco 37 factuais nao se distinguem entre si unicamente pelo objeto de sua inves: tigaciio, mas também pelos métados especificos que wt 15.10 0 Conhecimento Cientifico € Sistematico © conhecimento cientifico é sistemitico porque: a) & constituido por um sistema de ideias, logicamente corre- Iacionadas ~ todo sistema de ideias, caracterizado por um conjunto basico de hipéteses particulares comprovadas, ou principios fundamen- tais, que procura adequar-se a uma classe de fatos, constitui uma teor dessa forma, toda Ciéncia possui seu proprio grupo de teorias, b) 0 inter-relacionamento das ideias, que compdem 0 corpo de ‘uma teoria, pode qualificar-se de orgdnico de tal forma que a substituigao de qualquer das hipéteses bsicas produz. uma transforma- so radical na teoria; ©) contém ~ “(1) sistemas de referéncia, que sio modelos funda: mentais de definigSes construidas sobre a base de conceitos e que se inter-relacionam de modo ordenado e completo, seguindo uma diretriz, gica; (2) teorias € hipéteses; (2) fontes de informagbes; (4) quadros que explicam as propriedades relacionais. que 05 fatos sto captados ou dos de modo sistemstico, visando a fefinido” (Tr 1974:15). O fundamento de uma teor conjunto de fatos, mas um conjunto de principios ou de hipéteses com certo grau de sgeneralidade. 1.5.11 © Conhecimento Cientifico é Acumulativo (© conhecimento cientifico caracteriza-se por ser acumulativo A medida que: 8) seu desenvolvimento é uma consequéneia de um continuo selecionar de conhecimentos significativos e operacionais ~ fe permitem a instrumentagio funcional de seu corpo tebrico. Avs co- hecimentos antigos somam-se novos, de forma seletiva, incorporando conjuntos de hip6teses comprovadas & teoria ou teorias existentes b) novos conhecimentos podem substituir os antigos, quando estes se revelam disfuncionais ou ultrapassados ~ muitas ve- zes as mudangas s90 provocadas pelo descobrimento de novos fatos, aque se apresentam de duas formas: no abrangidas pelas teorias ance: riores, o que leva a sua reformulagio, ou decorrentes do provesso de comprovacio dessas teorias, tornada posstvel pelo aperfeigoamento ou invengio de novas técnicas de experimentagio ou observagio; © © aparecimento de novos conhecimentos em seu processo de adigao aos jé existentes, pode ter como resultado a eriacao ou apreensiio de novas situagées, condicées ou realidades. 1.5.12 0 Conhecimento Cientifico é Falivel © conhecimento cie pois: 8)_ndo € definitivo, absoluto ou final - 0 préprio progresso da cién cia descortina novos horizontes, indwz a novas indagacées, sugere novas reses derivadas da prépria combinagio das ideias existentes (infe- ») a prépria racionalidade da ciéneia permite que, além da acumulagio gradual de resultados, 0 progresso cientifico também se efetue por “revolugdes” as revolugdes cientificas ‘nao sa decorrei «ce (principios) por novos axiomas, temas te6ricos 1.5.13 O Conhecimento Cientifico é Geral b) procurar, na variedade e unicidade, a uniformidade e a ge- neralidade ~ o cientista procura descobrir o fator out ° permitir a elabo- ragao de modelos ou sistemas mais amplos — que governam 0 15.14 Cltcaecondecmento ‘conhecimento cientifico, Esse aspecto de generalidade da linguagem da ciéncia nao tem o propésito de distancif-la da realidade concreta; a0 contrério, a generalizacio é 0 tinico meio que se conhece para penetrar no concreto, para captar a esséncia das coisas (suas qualiades ¢ leis fundamentais). O conhecimento cientifico insere os fatos singulares em normas gerais, denominadas “leis naturais” ou “leis sociais"; uma vez ica-as na busca de outras. 0 Conhecimento Gientifico é Explicativo a) ») ° ter como finalidade explicar os fatos em termos de leis ¢ as leis em termos de principios — assim, os cientistas no se com detalhes, mas pi nas, da mesma forma de leis gerais e deduz essas leis a partir de enunci dos nomoldgicos ainda mais gerais (principios ou leis teéricas) (Bunge, 1974a:3: por a cau rnas um dos tipos de explicacio cientifica, Como esta se efetua sempre em termos de leis eas leis causais sio apenas uma subelasse das leis cienti cas, segue-se que hd diversos 1 is cientificas e, em consequénci sem se referir is for- produzem ou as mas imento); dindmicas es ao movimento relacionado com as forgas que o produzem): 5 (roferentes as leis que presidem aos fendmenos): dial apresentar as seguintes caracteristicas, tipicas da explicagio: ~ aspecto pragmatico: consiste em responder as indagacBes de por ‘que? (Por q?) ~aspecto seméntico: diz respeito a férmul no, por sua vez, referit-se a fatos ou estruturs 5, as quais podem ou 40 mevodooe ~ aspecto sintatico: consiste numa argumentagio légica, com pro- posigdes gerais e particulares; 0: desse ponto de vista, podemos dizer explicar um fato expresso por um explican inserir este fa um esquema nomolégico (nomologia = estudo das k dem aos fendmenos naturais), expresso pela ou pelas i 5» Ou seja, localizar 0 fato (ou 0 a sentenga que descreve o fenémeno candum) em um sistema de entidades inter. s de sentencas aduzidas para dar ¢: do explicans; — aspecto epistemoldgico: aqui a explicagio processa-se ao inverso da dedugio: 0 elemento inicial da explicagao é 0 explicandum, e 0 que se deve encontrar sio as partes do explicans: ASPECTO ANTOLOGICO ASPECTO EPISTEMOLOGICO Explicans (aquilo que se procura = desconhwecido) t t Responde a \edugao questio “Porque g?” | Explicandum —_(fato conhecido ~ 9) ~ aspecto genético: consiste na capacidade de produzir hipéteses sistemas de hipdteses e deriva do aspecto epistemolégico: a resposta as indagagées “por que q?” S aceitar q?” Gendo g o explicandum) leva iso de formulas mais gerais e com conceitos mais abstratos (4 is elevado), jé que 0 expli- cans tem de ser logicamente ma que o explicandum icagéo como fonte de com- preenséo (Bunge, 1976:565-566). 1.5.15 0 Conhecimento Cientifico é Preditivo Diz-se que 0 conhecimento cie ico pode fazer predigies em virtude de: a) baseando-se na investigagiio dos fatos, assim como no acti- mulo das experiéncias, a ciéncia atuar no plano do previsi- asin Con a vel ~ portanto, tem a fungao de prognosticar, ant lagio ao futu: ro, quanto ao passado (retrodizer). A predigio cientifica é, em primeira lugar, uma maneira eficaz de se ipdteses e, em segundo, ‘a possibilidade de exercer controle ou, quando muito, modificar 0 curso, dos acontecimentos, >) fundamentando-se em leis j4 estabelecidas e em informa- ‘ges fidedignas sobre o estado ou o relacionamento das coisas, seres ou fendmenos, poder, pela indugio probabi- listica, prever ocorréncias ~ calculando, inclusive, a margem de erro com que acorre o fenémeno. A predigao cientifica, entretanto, nao 6 infalivel: depende de leis e informagdes. Se estas forem imperfeitas, a predicio pode falhar e, nesse caso, deve-se proceder a correcio das informagSes e até mesmo das predigdes deve-se a err ‘conduz das premissas predizer 0 comportai hhomem e os grupos que forma. 1.5.16 0 Conhecimento Gientifico é Aberto © conhecimento cientifico é considerado aberto, pois: a) nfo conhece barreiras que, pri to ~ a ciéncia nio dispie de axiomas evidentes: até os prin ‘gerais e “seguros” constituem postulados que podem ser mudados ou corrigidos; b) a Ciéncia nao é um sistema dogmatico e cerrado, mas con- trovertido e aberto fema aberto porque é falivel e, em consequeé iando surge uma nova propée-se corregio 01 ©) dependendo dos instrumentos de e dos conhecimentos acumulados, até certo ponto es gado as circunstancias de sua época ~ a aplicagio de trumentos e técnicas pode aprofundar as investigagdes, 20 passo que I pode sofrer modificagées si , podem-se considerar 0s sistemas de conhecimento como or: ¢ganismos vivos, que crescem e se modificam, assegurando o progresso da Ciencia 1.5.17 O Conhecimento Cientifico é Util Considera-se o conhecimento cie fico util em decorréncia de: a) sua objetividade, pois, na busca da verdade, cria ferramen- tas de observagao e experimentacao que lhe conferem um conhecimento adequado das coisas - por sua vez, esse conheci- mento sobre as coisas permite manipulé-las com éxito; >) manter, a Ciéncia, uma conexio com a tecnologia - todo avan: icos, cuja solugéo pode consistir 10 de novas técnicas de inves- ide de um conhecimento mais adequado e/ou de ro. Sob este aspecto, mesmo sem se propor a 0 podem ser a custo ou longo prazo, Assim, a Ciéncia e a tecnologia constituem um ciclo de sistemas intera- tuantes, retroalimentando-se: o cient ivel 0 que faz 0 ‘técnico, e este, por sua vez, oferece & Ciéncia instrumentos e comprova- (es, assim como indagagées. LITERATURA RECOMENDADA ANDER-EGG, Ezequiel. Introduccién a l as de investigacién social: para ajadores sociales, 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978, Primeira Parte. Ca- pftulo 1 BARBOSA FILHO, Manuel. IntrodugGo d pesquisa: métodos, técnicas e instrumer 108. 2. ed, Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientificos, 1980. Primeira Parte. Capitulos 1 ¢ 2. iio. La ciencia, su método y su filosofia, Buenos Aires: Siglo Veinte, su estrategia y su filosofia. 5. ed. Barcelona: tulo 1, Terceira Parte, Capitulo 9. 2 43 CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodotogta cientifica: para uso 978. Primeira Parte, oduccién a la lgica y al método cientifico. 2, ed. Buenos Aires: Amorrortu, 1971. v. 2. Capitulo I, item 5. GALLIANO, A. Guil me (Org.). O método cientifico: teoria e pr HIRANO, Sedi (Org. Pesquisa Queiroz, 1979. Primeira Parte, Ca MORGENBESSER, Sidney (Org.). Filosofia da ciéncia. 3. ed. Sio Paulo: Cultrix, 1979, Capitulo 1 NAGEL, Ernest. La estructura de la ciencia: problemas d cidn cientifica, 3. ed. Buenos Aires: Paidés, 1978. Capit Segunda Parte. Capi PARDINAS, Felipe. Metodologia y xico: Siglo Veinteuno, 1969. C RUIZ, Joao Alvaro, Metodologia cientifica: guia para eficiéncia nos estudos. S40 Paulo: Atlas, 1979. Capitulos 4, 5 © ‘SOUZA, Alufzio José Maria de et al. So Paulo: Cultrix, 1976. C ‘TRUJILLO FERRARI, Alfonso, Metodologia da ciéneia. 2. ed. Rio de Janeiro: nedy, 1974. Capitulo 1

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