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CAPA BRASIL ATAQUE O PAIS ENTROU NA GUERRA COM UM EXERCITO PRECARIO E FOI OBRIGADO A COMBATER OS PARAGUAIOS DENTRO DO TERRITORIO BRASILEIRO quanto embarcacao, 0 ‘Marqués de Olinda nfo era li grande coisa. O pe- ‘queno navio de 200 tone- ladas, dois mastros e uma ehaminé pertencia a uma companbia sub: diada pelo Império do Brasil para ‘manter uma linha regular de Monte- vidéu a Cuiaba, em Mato Grosso. Naquele 12 de novembro de 1864 transportava o coronel Frederico Carneiro de Campos, que tomaria posse em Cuiabs como presidenteda provineia, Destacado no mapeamen- to das fronteiras do Império com as Guianas, Campos ji havia sido pre- sidente da Paraiba eagora dirigia-se para assumiro mesmo posto em uma das regides mais pobrese menos de- senwvalvidas do pais. ‘OMarqués de Olinda mavegava por Sguas intranquilas. © Rio Paraguai erapalcode uma série dedesentendi- mentosentreo Brasil seu vizinho, 2 | AvexTumas a aston TEXTO Igor Natusch, de Porta Alegre ‘esecos que vinham da Bacia do Prata avisavam do conflito iminente. O va- or chegou a passar sem problemas por Assungio, mas foi interceptado pela canhoneira paraguaia Tacuari e forgado a retocnar. O governante do Paraguai, Solano Lépee, tomou como provocagio a decisio brasileira de intervir na guerra civil no Uruguai, ignorando protestos paraguaios een- viando tropas is vilasde Saltoe Pais- sanduem setembro daquele ano. Sua represilia: fazer prisioneiros o presi- dente de Mato Grosso seus oficiais. ‘Um gesto que precipitou a Guerra do Paraguai -conflito que ceifou cente- nas de milhares de vidas, manteve parte do territ6rio brasileiro sob ocu- Pagio (pela primeira vez desde a in- vasio argentina a Provincia Cisplati- nna, hoje Uruguai), transformouosolo paraguaio em terra arrasada ¢ deu noves contornos i relagio de forgas na América doSul. TRAPALHADAS Carneiro de Campos morreria na pri- soem 1867, Depois dosservigos pres- tados em tempos de paz, o Marqués de Olinda virou um improvisado na- ‘vio de guerra paraguaio. E seu fim, ‘menos lembrado, foi tioemblematieo quanto o evento que o fez famoso: foi a pique na Batalha de Riachuelo, em 1865, atingido pela fragata brasileira Amazonas. O Brasil entrou na guerra com uma estrutura social frigil, qua- sesem Exército e despreparaci para ‘um conffito longo. Cometeu trigicas trapalhadas tentando reagir. Masen- controu seu caminho, aliando-se a Argentina ¢ Uruguai e derrotandoo Paraguai em uma contraofensiva que demoroua decolar, masque, quando ganhou corpo, mostrou-se impossivel de deter. Sain da guerra diferente, pronto paraasmudangas que, menos devinteanos depois, eulminariamna proclamagio da Repablica. » CAPA Por muito tempo, a historiografia brasileira ensinou quea Guerra do Paraguai foi obra da coroa britinica. © Paraguai, nessa versio, era uma poténcin, ¢ para deter seu avango os ingleses insuflaram.o Brasil colocar- se contra o vizinho, Uma leitura que pesquisas reeentes descartam de todo. Hoje, atribui-sea Guersado Paraguai a.um caldo de rivalicades regionais, ‘que foi engrossandoa partir da Guer- endo Prata,de asta 1852. Quando clo comegoda Guerra do Paraguai,o Im- pério do Brasil eo Reino Unido nem ‘antinhim relacdes diplomaticas. Oanode1962foidecisivoe,noliveo Maliita Guerra, ohiistoviador Francis- co Doratioto enumera trés eventos fundamentais: a reunificagao argen- tina por Bartolomeu Mitre, em oposi« io nos federalistas do general Justo José Urquiza; a ascensio do Partido Liberal no Brasil, levando 0 Império ‘uma postura regional maisincisivas eachegada de Solano L6pez20 poder no Paraguai. Ao contrario do que se acredita, a nagio de Léper nio era ‘uma poténeia: tratava-se de um pais sem dividas, mas com téenieas atra- sadas de agricultura e um governo autoritirfo, que depenclia do.coméreio externo para o desenvolvimento. 28 | AVENTURAS Ka MSTORIA Em 1863, 0 colorado Venincio Flo- res saiu de Buenos Aires rumoa Mon- tevidéu com 0 objetivo de retirar os Blancos uruguaios do poder. A ago recebeu apoio de Mitre e deixou em alerta 0 Paraguai. O acesso a0 Prata pelo porto uruguaio era ambicio de Solano Lopez, ¢ a parceria com 0s blancos era estratégica. Além disso, Paraguai e Argentina tinham terras em litigio. Apés infrutiferas tentati- vas de mediacio, o Paraguaiatacou a ‘Argentina, com apoio dos federalis- tas, buscando gurantira permanéncia dos blencas no governo uruguaio. ALERTAS Pressionado por estancieiros gait- ‘chos, que viam seus negécios preju- sdicados pela instabilidade politica, o Tmpério brasileiro passou a atuar. ‘Somando isso ao litigioenvalvendoo ‘territério entre as rios Branco e Apa, reivindicados pelo Brasil, a tensfio ‘com o Paraguai tomou grandes pro- ‘porgdes. Liipez aereditava que o Pa- Taguai seria alvo de umataque brasi- leiro - eresolveu antecipar-se. ‘Nao da para dizer que ninguém alertou sobre os riscos que o pais so- fra, Jd em 1862, 0 senador Angelo “Muniz da Silva Ferraz chamouaaten- er corer Preery ara oe: ilo paraa situagio preciria das tro- pas no Rio Grande do Sul. Coma quase inexisténcia de quart soldados eram obrigadosa se abrigar em chogas ¢ barracas, mesmo no in= verno. Outro senador, Silveira da Motta, dizia que aesquadra imperial, projetada para ages no mar, era ina- dequada a uma guerra fluvial no Pra ta. "Nao ¢ possivel dizer que o Brasil {boi pego desurpresa", resume Ricardo Salles, professor da UFRJ e autor do livre Guerra do Paraguai~ Escravidéo ¢Cidadania na Formagao do Exército. A situaeio das tropas no Brasil era deplorivel. Os soldados recebiam s6 tuma refeigio por dia, 0 soldo era 0 mesmo havia 30 anos eo castigo fisi- co, punicio comum. Para 0s rieos, servir ao Exéreito era vergonhoso; com isso, as tropas costumavam ser formadas por miseriveis emarginais. Acaréneiaera tanta que, nas batalhas no Prata, em 1851 €1852, contratar mercenirios europeus. Além da tropa maltratada, o Brasil via-se com sérias deficiéneias em suas defesas, Mato Grosso, em espe- cial, era um alvo facil: dispunha de seis navios a vapor (apenas um ar- mado de canhdes)e miseros 875 sol- dadlos para defender oterrit6rio. a» foinecesssirio - OS CAMINHOS DA GUERRA ‘AS PRINCIPAIS CAMPANHAS 00 CORFLITO a 5 = 5 > te Digae de Caxias \ Gores Vaentinng SR got CAPA Seis semanas depois da ago con- tra o Marqués de Olinda, ¢ antes mesmo de uma declaraga guerra contra 0 Brasil, expedigées saiam das cidades paraguaias de As- sungdo ¢ Concepeiém para invadir Mato Grosso, Comandada pelo coro nel Vicente Barrios, eunhado de So- ano Lépez, a primeira delas alean- cou, em 26 de deaembro de 1864, 0 forte de Coimbra, as margens do Rio Paraguaie Unica barreira efetiva 20 avango dos invasores. A resisténcia durou dois dias: no dia 28, 0 coronte! Hermenegildo Portocarrero deu or- dens de evacuar o forte. A partir da queda de Coimbra, 0 avango foi faciitado, Corumba tina mais soldados e melhores condicdes mas coronel Carlos Au- fra mandouqueevacu- assem a vila, A retirada foi desorga- nizada, deixando muitos civis para tris ~ 0 presidente de Mato Grosso, Albino de Carvalho, qualificou o ‘bandonode“desastroso” edestituiu Oliveira de suas fungdes. Quem ficou 0 leve sorte: lentadas, prisioneiros foram deporta- dos sé com a roupa do corpo e 0s sa- ques nio pouparam nem o sino da iigreja, removidoe levadoa Assuncio. mulheres foram vio- 90 | averurunas ma wesTORIA Enquanto isso, a outra eoluna pa- raguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin.avangava pelo sul de Mato Grosso, dominando a colonia de Miranda ea vila de Nio- ‘aque. Um destaeamento, sob lideran- ado capitio Martin Urbieta, avan- cauatéacoldnia militarde Dourados. Encontrou resisténcia preciria, mas «com apenas 18 soldados, © tenente Antonio Jodo Ribeiro orde- nou aos cerea de 50 colonos que fu- issemelutou atéa morte. Dourados no dia 29 dle deembro de 1864. Em abril do ano seguinte, as tropas corajos ea inimigas chegaram a Coxim. ‘A partir dai, as ordens de Solano Lopez eram de avangar até Cuiab: Noentanto, eapesar dos preparativos frenéticos da cidade para resistir a0 ataque iminente, as tropas nunca che- garam, O grande lucro do Paraguai rno Mato Grosso acabou sendo em ar- mamentos ¢ muni¢ao confiscados ~ culpa do Império, que enviou grandes quantidades de material antes dereu- as tropas para usilo. Com tudo isso, o avanco até Cuiabi tornou-se desnecesss esforcos de Lépexzestavam concentra- dos na provincia de Corrientes, na Argentina, eno Rio Grande do Sul. riaquele momento, os LOPEZ MANDOU AS TROPAS INVADIREM CUIABA. NEM FOI PRECISO. O PARAGUAI ARRASOU OS SOLDADOS BRASILEIROS NA REGIAO AVANCO TRANQUILO Enquantoas tropas do general Ven- ceslau Robles cuidavam de Corrien- les, 10 mil homens comandados pelo tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia avangaram em uma tranquila campanha sobrea provin- cia brasileira. A chegada tardia de tum pelotdo de Voluntérios da Patria ‘io foi suficiente para defender Sio Borja, que acabou tomada em 12 de junho de 1865. Apés chegar em Iea- ‘qui, que encontrava-se deserta, Es+ Ligarribia ese alé Uruguaiana, onde esperavam grande resisténcia © que nao ocorreu: divergéneias entreogeneral honorario David Cn nabarro, veterano da Revolugao Far- roupilha, €0 general Jozo Frederico Caldwell, comandante militar inte- ino da provincia, levaram ao cles- omens marcharam cumprimento de ordens e inviabili- zaram (otalmente a defesa da vila. ‘Mesmo em maior nimeroe acu do boa posigao defensiva, os brasil ros optaram por abandonar Uru- ‘guaiana, invadida pelo Paraguaiem Side agosto. A frigil defesa do Rio Grande foi considlerada escandalosa pelo Império; Canabarro s6 nao foi julgado por um Conselho de Guerra Porque morreuantes,em 1867. AVENTURAS WA HisTOALA | St Enquanto o Exército de Lopezabo- canhava nacosdo terrt6rio brasileiro, o Império planejava ocontra-ataque, A preparagio foi lenta, e apesar do ‘entusiasmo inicial dos Voluntirios da Pitriaadificuldadeemrenovar ocon- tingente logo se fez sent, “Nioexistia ‘no Brasil uma buroeracia organizada para arregimentar fardar, convocar, treinar. Foi preciso eriar essa estru- tua, o que explica a demora’, diz 0 professor Vitor Izekssohn, da Uni 32 | AVENTURAS Na WsTORIA A consolidagio da Triplice Alian- a, em 1° de maio de 1865, dava aos paises acossados pelo Paraguai chance de uma reagiio conjunta, Mes- mo somados, os efetivos de Brasil, Argentina e Uruguai eram inicial- mente inferiores a0 do inimigo - era Marina de guerra brasileira, eon- tendo mais de 40 navios equipados de canhies, a esperanca coletiva de resistirao avango de Lopez. O equi- librio de poder dentro da alianga mostrou-se problemitico: desenten- dimentos com o presidente argentino Bartolomeu Mitre, comandante su premo da Alianga, levaram a suces- sivas mudangas no comando brasi leiro, culminando coma nomeacio do marechal Luis Alves de Lima e Silva, futuro Dugue de Caxins, em outubro de 1866. Mais tarde, com 0 retomode Mitrea Argentina, Caxias assumiria o comando de fato de toda soperaciode guerra. ~ ERRO FATAL Emi meioasarticulagées politicas, os moradores do Rio Grande do Sul e Mato Grosso pagavamo pato. Contra as ordens de Lépez, que nio queri tropas paraguaias clentro dos povo- ados, Estigarribia permitiu que sa- ques ¢ violéncias eontra mulheres acontecessem livremente. Confinnte, © paraguaio cometets um erro fat contra as ordens do Alto Comando, resolveu entrincheirar-se em Uru- guaiana, em vez de reunir-se com 0 restante das tropas. O erro fez com que seus soldados pudessem ser en- curralados. Cercadas pela Tri Alianea, as forgas de Estigarribia renderam-se em setembro de 1865. Outro imprevisto para o ditador paraguiaio foi falta de apoio dos fe- deralistas argentinos. A recusa de Mitre em permitir aresso as tropas araguaias que iam 20 Rio Grandee Aconsequente invasio de Corrientes eram a deixa de Lopez para que os federalistas, comandados por Urqui za, guerreassem a seu lado. Isso nao ocorreu. Temeroso dos riscos da guerra para a provincia de Entre Rios, Urquiza optou por adotar uma diibia lealdade ao governo central argentino. Ainda que suas tropas nunca tenham socorrido Corrientes, ‘auséncin do apoio tio esperado pre- Judicou os planos de Lépez ~ mada a derrota na Batalha do Ria- chuelo, forgouo Paraguaia recuar. O fracasso.em Riachuelo. touapenasa honraea vidado general ‘Wenteslao Robles, fwzilado no Para- guai sob acusagio de traigao:deisou as rolas fluviais nas mios da Triplice thegada de suprimentos earmamentosas orcas paraguaias. Quando guerra tornou- se fluvial, situaeio ficou complicada para o Paraguai 0° Alianga e invisbilizou a “Osnaviosquehaviamencomendado da Inglaterra nfo chegaram. O equi ppamento de que dispunham era pri- mitivo, as embarcacdes nao tinbam nem ganchos de abordagem. O pode- rio naval do Paraguai era uma por- carla", afirma. A partirdas derrotas em Riachuelo, Corrientes ¢ Uru sguaiana, a gueera paraguaia tormiou- sedefensiva,e assim permanecen até aderrota final, em 1870. RETIRADA Enquantoa guerra desdobrava-se na regio do Prata, 0 Império buscou li- bertar Mato Grosso. A expedic mandada pelo coronel Manuel Pedro ‘Dragosaiu de Uberaba (MG) em abril de 1865 € ficou um ano em marcha, atravessando mais de mil quilome- trosdedireas pantanosase insalubres. Apresenca das familias dossoldados, comum nas empresas militares da época, sé deixava tudo mais dramati- co. Quando chegaram a seu destino, no havia contra quem lutar:as vilas, arrasadas, haviam sido abandonadas. Diantedo constrangimento,onovo comandante da misso, coronel Car- Jos de Morais Camisio, tomou uma decisdo quase suicida. Ordenou, em fevereiro de 1867, uma marcha até Concepcién, invadindo territério pa- raguaio ~ jornadia que os brasilefros io tinham recursos humanos ¢ ma- teriais para empreender. Consegui- sam chegaratéa Fazentla Laguna, de Solano Lopez, ¢ foram forcados a re- cuar. Conhecido como Retirada de Laguna, o trajeto foi penoso: acossa: dos, sempre sob tempestade, com a tropa faminta, infestada de piolhos ¢ Fragilizada pelo edlera, O regresso encerrou-se em junho, no Porto de Canuto; as tropas de Camisio, que morreu de célera no caminho, esta vam reduzitlasa 6oohomens. OS FATOS PRINCIPAIS 1051 Guerra do Prata +1864 Inicio do confito com 165. Cidades de S60 Bola 1867 Mocre coronel Frederica 1869 Tomada de Assungza, 1870 Finda guerra AVENTURAS Na HisTORNA | 33 CAPA Com sua inictativa de guerra, So- ano Lépez.conseguiu de fato provo- car mudancas no eenirio politico da América do Sul - embora no te- ham sido, €claro, as que ele imagi- nava, A morte de Lépex em Cerro Cori, ocorrida apés longa persegui- do ern 19 de marco de 1870, nao pa- cificon a regio. Argentina e Brasil discordaram sobre o destino que deveria serdadoao Paraguai,um dos pilares da rivalidade que até hoje existe entre os paises. O proprio Pa- raguai restavadestruido:estimativas do canta de que até 70% da popula- Gio pereceu durante a guerra. Eo Brasil (eve que encarar uma quase inédita oposi¢ao popular, a medida que a guerra se estendia ¢ os reeru- tamentos forgados prosseguiam, Nacsfera internacional, Inglaterra ¢ Franca mantis quanto 0s EUA, simpiticos a0 Para- ‘guai, faziam presse para que 0 con- {ito chegasseao fim. Atéo Duquede Caxias era eontririo 4 continuidade da guerra: apés.a tomada de Assun- ‘io, em 1°de janeiro de 1669, ele con- siderava que o inimigo estava derro- tado. Dom Pedro II, porém, insistiu em seguir em frente até que Lopez fosse afastado em definitivo do poder, ‘Quando Caxias deixou 0 comando, alegando problemas de saiide, 0 im- perador entregoua direcdo da guerra a0 genro, © Conde d'Eu. O novo eo- mando mostrou-se brutal, eele nada fez, para evitar a degola de prisionel- 10s paraguaios, que se tornou quase ‘comum na fase final da guerra. sramse neutras, en DOM PEDRO || E PRESIDENTE BARTOLOMEU MITRE: A GUERRA AUMENTOU A DESCONFIANCA MUTUA DE BRASILEIROS E ARGENTINOS 34 | AVRTURAS NA HISTORIA DIVIDAS DE GUERRA Embora vencedor, nio se pode dizer que o Brasil ganhou. O Império ter- minowa guerra endividado. “A guer- ranio gerou riqueza a0 Brasil nem com pilhagens, nem em melharas na infraestrutuira. Foi um esforgo finan- ciado pela inflagio e por emprésti- mos", diz Vitor lzecksohn, da Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro. © Brasil gastou no conflito algo em torno de 612 mil contos de réis - dez a doze vezes mais quea média anual de gastos pitblicos no pré-guerra. O prejuizo financeiro foi de certo modo compensado pelo arejar das fdeins. Ize to de racionalidade” no Brasil pés- guerra, visivel em medidas como a uunificagao do sistema de pesos e me- didas ea realizagio do primeirocen- so,em1872, Além, éclaro, doesforco pelo fim daeseravidao.“A guerra fez ‘com que 0 governo pereebesse a fra- gilidade de umestadoestruturado na escravido, umasituacto quecorroia a cidadania e ainda softia presses internacionais’, diz Ricardo Salles. A grande mudanga ocorreu nos quartdis. “Os grandes nomes da Pro- clamagio so veteranos da guerra. Isso certamente nao é coineidéneia”, afirma Ricardo Salles. Segundo ele, Benjamin Constante Floriano Peixo- to nao apenas subiram degraus na hierarquia militar como voltaram mais politizadosdocampo de hatalha. Pela primeira vez, as tropasestiveram onganizadas clurante longos perfodos forado pais. A convivéncia despertou na tropa um espirito de corpo - ea consciéncia patridtica, antes Frouxa, transfarmou-se em um discurso na- cionalista cada ver maissélide, ‘ohn desereve um “sur- mac enencngho UMA HISTORIA DE AMOR E ODIO ‘RWALIOADE EXTRE BRASILEIROS E ARGENTINOS COMEGOU COM FIM DA GUERRA DO PARAGUAL ‘Se voc® acha que os argentinos S80 era de que Buenos Aires, agora ‘Atenséo entre basics e ‘arrogantss ou comemora Sempre que sob comanda de Domingo Faustina arpentines era tanta que 0 Bras eles perdem no futebol, saba que a Sarmiento, tentava encoralarforgas _maneve tropas em solo paragualo fivaidade pode ter raizes bem mais paraguaias favordveis ao fim da dante ses anos apds a guerra, ‘antigas. “Especialmente pés.o im da independéncia do pais, provocanda buscando manter pals dstante Guerra do Paraguai, 2s tenses entre um clamor nacional pela anexacgo a influéncia argentina. Destruida, Brasie Argentina se exacerbaram", argentina—oque desequlitratia nar quaranitratou de jogar com afirma o historador Ricardo Salles. as forcas polticas de toda aregido. essa tens, tentando obter vantagens Segundo ele, um confit mado ‘Territorialments, 0 Brasil jétinha de um lado e outro, No fosse um entre os dois paises era uma gatantido posse das antigas reas _levante federalista na provincia te tendéncia forte na década de 1870, em litigio e a livre navegacdo no Rio Entre Rios, que mantinha as tropas: ‘endo taltou muito para que uma ‘Paragual, em tratado assinado pelos _argentinas ocunadas desde 1870, ova guerra estourasse na rego, dls paises em janeiro de 1872. 4 guerra poderia tor se coneretizato. ‘Mesma com a Guerra do Paragual encerrada, demorau varios meses até ‘que comecassem a ser assinados 0s tratados de paz, ja que a Argentina recusava-se a aceitar 0 Paragual ‘io Tratado da Trplice Aianga. Por outro lado, a suspeita brasdeira Agssnatura, sem 0 aval argentino, fol interpretada em Buenos Aires como traigdo. Escrevendo 20 representante argentina em Washington, Sarmiento dlizka que o acordo entre Brasil e Paragual “levaria inevitavelmente a guerra’; no Rio de Janeiro, ovvisconde de Rilo Branco, ento chete do governo brastero, também, cconssderava 0 confronto iminente, ‘$6 em 1876. Argentina reconhecera de fato a independéncia ‘paraguaia, por meio da Conferénicia ‘de Buenos Aires. A assinatura do documento estriou os animes, mas ‘no acabou com as tensdes: de ‘acordo com Ricardo Salles, so no ‘comeco do século 20 a ameaca de ‘uma nova guerra fol definitivamente shastada, Axa ficou AVENTURAS WA WiSTORLA | 35,

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