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NOC nova direita civil Editorial 14 Novos Rumos da Responsabilidade Civil: Teoria do Resultado mais Grave (Thin Skull Rule) Este editorial buscou inspiracao em aula ministrada na semana passada. Um dos temas juridicos mais apaixonantes e complexas, especialmente no campo da Responsabilidade Civil, é 0 “nexo de causalidade”’. Alias, ndo 6 preciso ser versado nas letras juridicas para concluir que somente se pode responsabilizar a pessoa que, efetivamente, deu causa ao resultado danoso, Por dbvio, nos estritos limites de um editorial, nao seria razoavel longa digressao a respeito das diversas correntes explicativas do nexo causal, tema que, segundo SERPA LOPES, exige acurada atencao investigativa “uma das condicdes essenciais 4 responsabilidade civil é a presenca de um nexo causal entre o fato ilcito e 0 dano por ele produzido. £ uma nocao aparentemente facil e limpa de dificuldade. Mas se trata de mera aparéncia, porquanto a nocao de causa é uma nocao que se reveste de um aspecto profundamente filosético, além das dificuldades de ordem prética, quando os elementos causais, os fatores de producdo de um prejuizo, se muttiplicam no tempo e no espaco.” (OPES, Miguel Maria de. Curso de Direito Civil - Fontes Acontratuais das Obrigacbes e Responsabilidade Civil -vol. V.5. Ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, pag. 218.) Nessa linha, para 0 que nos propomos a tratar, vale apenas lembrar que, em Direito Civil, duas teorias, fundamentalmeate divider os juristas, a respeito do tema: a teoria da causalidade adequada (pela qual causa seria apenas o antecedente fatico que, segundo um juizo de probabilidade, tivesse aptidao para produzir o resultado danoso) ¢ a teoria da causalidade direta e imediata (segundo a qual causa seria apenas o ~antecedente fatico que determinasse o resultado danoso, como consequencia sua, dreta e imediata). 0 artigorbase do nexo causal, no Cédigo Civil, independentemente da tese adotada, ¢ 0 403. Muito bem: Nesse contexto, esclarece, com erudicao, ANDERSON SCHREIBER, que, em alguns casos, doutrina e jurisprudéncia tém “alspensado a prova da relacao causal no tocante a um resultado ulterior da conduta do agente, assegurando 30 nexo de causalidade uma elasticidade que nenhuma das teorias usuais comportaria” (Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil~ Da Erosdo dos Fillros da Reparacao a Dilvicdo de Danos, 2 ed, Sao Paulo: Atlas, 2009, pg. 70). Vale dizer, ¢ como se, em determinadas situacdes, o aplicador do direto “Torcasse a barra’, em beneticio da vitima, para imputar 0 dever de reparar 0 dano ao agente danoso, em hipdteses que, ortodoxamente, 0 Direito em vigor nao permitita v0 ew sR a MN a So oc NOC nova direita civil Entra-se, assim, nos dominios da “teoria do resultado mais grave", consagrada pelas expressdes inglesas “The Thin Skull Rule” ou “The Egg-Shell Skull Rule”: “A lal respeita, ilustres autores tém sustentado que o agente que pratica a conduta deve ser responsabilizado também pelo resultado mais grave, ainda que oriundo de condicdes particulares da vitima. Afimarse que ‘as condicoes pessoais de sauide da vitima, bem como as suas predisposkdes patolégicas, embora agravantes do resultado, em nada diminuem a responsabilidade do agente’, sendo ‘inelevante, para tal fim, que de uma Jeséo leve resulte a morte por ser a vitima hemotilica; que de um atropelamento resultem complicacées por sera vitima diabetica; que da agresséo Msica ou moral resulte a morte por ser a vitima cardiaca; que de pequeno golpe resulte fratura do crénio em razao da fragilidade congénita do osso frontal etc.’ ” (SCHREIBER, citando Cavalieri Filho, na bela obra supra mencionada). Vale dizer, na esteira desta teoria, se 0 agente do dano deu causa a um resultado mais grave, ainda que nao se possa visualizar a sua responsabilidade segundo as teorias convencionais da causalidade, seria justo que compensasse a vitima. Assim, no cléssico exemplo dado por CARDOSO GOUVEIA (cit. por GONCALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 7. Ed. Saraiva: Sao Paulo, 2002, pags. 522-523) em que o cidadao da um “leve tapa” na cabeca da vitima = aqui na Bahia chamamos isso de “peba” - e esta vem a dbito por conta de uma fragilidade craniana, pelas teorias convencionais, até mesmo pela auséncia de previsibilidade, ndo deveria o sujeito responder pela morte. Mas, segundo a “teoria do resultado mais grave", responderia E se vocé, amigo leiter, neste ponto, perguntar-nos se tal teoria ¢ aplicada, diriamos: nao se trata de uma reqra geral amplamente admitida - até porque, como dito, vai de encontro as teorias tradicionais que exigem a demonstracao do efetivo nexo causal - muito embora, na pratica, em determinadas situacées, nao seja raro encontrarmos decisdes que a aplicam como um “recurso empregado, com menor frequéncia, para a extenséo do remédio ressarcitério a dominios que a exigéncia da demonstraréo do nexo de causalidade mantinham ‘imunes tanto 4 responsabilidade subjetiva quanto a abjetiva” (SCHREIBER, Anderson, ob. Cit, pag. 72). Em outras palavias, por veres, a teoria do “thin skull rule” é aplicada para evitar que a vitima (ou 0s seus sucessores) nao receba uma justa indenizacao. Tema instigante, polémico, e merecedor de nossa reflexao. Um verdadeiro convite a boa pesquisat Um abraco, meus amigos! Fiquem com Deus! Pablo Stolze 21 de novembro de 2010 ceva er REC a MN : Sc oc

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