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RELEVO BRASILEIRO: Uma Nova Proposta de Classificagso A NATUREZA DA QUESTAO (Os Hivros didéticos de geografia para o primeiro ‘grau editados na atualidade mostram-se extremamente desatualizados no que se refere aos novos conheci- menios que se tem a respeito do relevo brasileiro. Com freqiéncia continuam reproduzindo informagées da geomorfologia do Brasil que se reportam a década de 1940, mais especificamente explorando as velhas concepgées largamente ensinadas pelos livros do ilustre gedgrafo e professor Aroldo de Azevedo, que na sua época soube desempenhar com brilho © ho- nestidade 2 fungio de mestre e pesquisador. Entre- tanto, ao longo destes guarenta anos, novos conheci- mentos foram incoporados na literatura, mas infeliz~ mente nao foram absurvidos pelus autuies dos livros didativos atuais. ‘As propostas entio existentes relatives &s for- mas predominantes do relevo brasileiro valorizam com freqléncia as dificuldades que se tem para esta- belecer uma adequada classificagio. Os problemas que impedem 0 bom entendimento, quase sempre so dcorrentes da extensividade do teirit6rio, da fzace atividade de pesquisa bésica, ¢ inclusive da comple xidade do padrées de forma que o relevo brasileiro presenta. Apesar que, de modo simplista o tecritério nacional € tido como de relevos de altitudes modestas ‘constitufdo por antigas estruturas ¢ “velhos planal- tos” associados a algumas planfcies de génese re- ‘cente, na realidade © grau de complexidade 6 eleva- do. A grande variedade de estruturas geolégicas de ‘diferentes litologias ¢ idades, juntamente com a di- versidade climética atual e pretérita que se observa a0 longo do texitério, possibilitou gerar uma vasta gama de formas de relevo que oferecem enomme dess- fo a uma adequada classificacdo. Desde a classifica- cdo proposta e, amplamente divulgada, do prof. Aroldo de Azevedo, muitas contribuigées de ambito genérico foram feitas principalmente pelo prof. Aziz Nacib Ab’Saber que em geral néo foram incomporadas Jurandyr Luciano Sanches Ross ‘a0 ensino médio e de primeito grau. E totalmente im- possivel entender-se o relevo brasileiro som gue 2 fenha ama visio ampia do que ocore a afvel das = truturas que 08 sustentam, bem como do que ocorreu a0 longo do Cenozéico, quanto aos processos erosi- ‘os, responséveis pela sua esculturacto. # frequente pastarse aos estudantes idéia de que o pats se Eonstitt de terrenos antigos e que por isto caracteri= Zarse por apresentar topografias modeslas, sem ocor Hocias de areas serranss. De fo, a5 estruturas que Sustentam as formas do relevo do Brasil sfo em gran- Ge parte. antigas, datando. do. pré-Cambriano, en {quanto ouiras como as bacias sedimentares sfo mais secentes, geradas ao longo do Fancroz6ico. Deste modo peresto-ce uma nitida confuse centre as idades e géneses das estruturas, de um lado € fs das formas de relevo esculpidas sobre as primei- ras, de outro. Néo se pode jamais confundir o que € idade e génese das formas com idade © génese das estruturas. Se as estruturas ¢ litologias so predomi- nantemente antigas 0 mesmo nflo se pode dizer das formas do relevo que so muito mais recentes. E fato, aa muito tempo conhecido, que o relevo brasileiro teve suas formas esculpidas preferencialmente ao longo do Cenozéico. Os trabalhos de Ab’Saber (1949 e 1969) sobre o ritmo da epirogénese pés-cretacica e portanto Cenozdica, bem como sobre os provessos circunde- nudacionais do pés-Creticeo, so extremamente im- porlantes para se ter um adequado entendimento so- bre a génese ¢ idade das formas do relevo do Brasil. ‘Assim, néo basta entender como formaram-se as ba- cias sedimentares FanerozSicas, os cintardes orogé- nicos do pré-Cambriano Superior ¢ como evolu a consolidagdo da Plataforma Brasileira, se, ndo enten- der-se como evoluiu 0 relevo durante © apds 0 soet- ‘guimento generalizado, porém desigual da plataform= a0 longo do Cenoz6icd. Os ensinamentos de Ab’Sa- ber (op cit) informam com clareza que 0 relevo bra sileiro. passou por processos erosivos ao longo do Tereiério © inicio do Quatemério que resultaram na 26 atual configuragdo morfol6gica. Estes process0s so 0s responsdveis pela génese das formas atuais, que se manifestam através de diferentes padroes, gragas as imposigées estruturais © tectonicas de um lado © das variagées climéticas Cenozéicas de outro. No trabalho de Ab’Saber (1972) que trata do Significado das Depressoes Periféricas e Superficies ‘Aplanadas na Compartimentagao do Planalto Brasi- leiro, fica evidenciado a importéncia das influéncias endogenéticas ¢ exogentticas na elaboragfo dos compartimentos do relevo. Neste trabalho’ sobres- saem-se 0s extensos corredores rebaixados por erosio que circundam as wés grandes bacias sedimentares Faneroz6icas. Percebe-se com clareza que o relevo do pais esté compartimentado em formas esculpidas nas bacias sedimentares soerguidas e coroadas por depresses marginais ou periféricas, que se interpéem a planaltos ¢ serras esculpidos em estruturas cristali- nas ou mesmo sedimentares rigidas e antigas (maci- 08 antigos). De 1970 a primeira metade da década de 1980 a pesquisa sistemtica desenvolvida ao Iongo de todo 0 lerritério nacional através do Projeto Radambrasil li- gado a0 Ministério das Minas e Energia, possibilitou obter-se uma “radiografia” completa do territ6rio brasileiro quanto aos recursos naturais. Utilizando-se dos produtos de um sensor modemno “as imagens de radar", pode-se executar em um espago de tempo re- Intivamente curto um levantamento nacional ¢ obter- se 0 reconhecimento geral dos solos, cobertura ve- getal, geologia, recursos hidricos, e geomorfologia. No Ambito do relevo obteve-se revelagées importan- tes que ampliaram os conhecimentos existentes, ou entéo confirmaram fatos que jé haviam sido generi- camente aventados. © grande mérito deste enorme trabalho de mapeamento sistemético do Projeto Ra- dambrasil foi possibilitar que se obtivesse de forma claramente registrada todos 0s eventos geomérficos de maior expresso areal. Infelizmente por dificulda- des iniciais de estabelecimento de metodologia ade- quada 2 escala de mapeamento, processou-se 20 lon- g0 do tempo quatro diferentes tipos de representacio cartogréfica. Por motivos até entio desconhecidos ‘no publicou-se até 0 momento um mapa sfntese em cescala compativel que abrangesse todo territério na- cional. Com os trabalhos do referido projeto pode-se chegar ’s informagSes mais precisas e perceber-se com maior clareza os eventos gcomérficos até entéo registrados parceladamente. Deste modo conheceu-se as verdadeiras dimens6es dos eventos identificados possibilitando com isto obter-se uma sintese do rele- vo abrangendo todo pats. ‘Somente ap6s ter-se uma visio geral e precisa dos eventos geomérficos do Brasil que se pode chegar a uma classificagio generalista que expressas- ‘se uma siatese © mais fiel possivel da realidade. En- tetanto, para atingir-se isto e esbogar um cartograma ‘esquemitico de apoio visual foi necessério estabele- cor 08 critérios tedrico-metodolégicos que serviram de apoio a uma adequada classificacao, As Classificagées Anteriores As primeiras classificagds datam do século XIX ¢ refletem 0 estigio de conhecimento que se tinha na época. De acordo com Azevedo (1949), as mais anti- gas so de Aires de Casal (1817), de Alexandre von Humboldt que perduram por quase todo 0 s6culo XIX e de Orville Derby (1884). Delgado de Carvalho (1923) reformulou a pro- posta de Orville Derby definindo trés macigos: 0 Atlintico; © Central ¢ o Nortista, tendo sido consa- ferada no curso secundario. Qutras classificacées também foram feitas como as de Pierre Denis (1929), von Engein, Alberto Betim, Preston James, Fabio de Macedo Soares Guimardes, Froes de Abreu e Aroldo de Azevedo (1949). A classificacio do prof. Aroldo de Azevedo a0 contrério das demais procura dar um tratamento mais coerente as grandes unidades. Em geral as classificacées anteriores definiam as unida- des empregando denominayées geomofolégicas mis- ‘turando termos eminentemente geol6gicos, como ‘exemplo Planalto Cristalino. Em outros casos empre- gava-se uma mistura de denominagées regionais tipo Chapadées Centrais a0 lado de Serras do Espinhaco, outras denominagées extremamente gerais tipo Maci- go Atlantico, Macico Nortista e Macigo Central. Azevedo (1949) denominou as grandes unidades em Planaltos © Planfcies. Isto demonstra que havia uma preocupacéo em valorizar a nomenclatura geomorfo- 6gica, empregando-se a geolégica apenas em um se- gundo nivel quando se fez uma maior especificacio. Deste modo 0 Planalto Brasileiro que foi comparti- ‘mentado em Planalto Atlantico, Meridional ¢ Central, sofre um terceiro nivel de tratamento onde aparece- ram denominagSes como Serras Cristalinas, Planalto Aren(tico-Baséltico, Planalto Sul Goiano, Planalto Sul Amaz6nico e muitos outros. De qualquer modo nfio eliminou-se a combina- cdo geomérfica-geolégica associadas as regionais pa- ra denominagdo das unidades. Ab’Saber organizou em 1962, tendo sido publicado em 1970, nova divi- sho do relevo do Brasil, onde aparecem denomina- Ges geomérficas associadas as regionais. As deno- minagdes séo Planalto das Guianas, Planalto Central, Planalto Nordestino, Planalto do Maranhéo-Piauf, Planalto Meridional e Serras e Planaltos do Leste © Sudeste. Tal proposta certamente resultou de uma tentativa de simplificagio do mapa geomorfoldgico preliminar apresentado por este autor em 1960 extre- ‘mamente mais carregado de informagdes ¢ a0 mesmo, tempo carente de critfrio te6rico metodolégico nico. Neste mapa preliminar os eventos geomorfol6- gicos registrados so denominados por uma associa ‘go de termos geomorfol6gicos, geolégicos de caréter estrutural e de cronologia. Pode-se citar como exem- plo os Planaltos Sedimentares, onde aparecem as ‘Cuestas, chapadas e chapadGes Devonianos. Ab’Saber (1964) no capftulo IIT da obra deno- minada Brasil a Terra ¢ 0 Homem — val T, mais nma vez com a preocupagio de "homogeneizar a nomen- clatura das grandes parcelas do Planalto Brasileiro” propée as seguintes denominagdes: 1 — Planalto Central ou Goiano-Matogrossense 2 — Planalto Meridional ou Gondwanico Sul Brasileiro 3 — Planalto Nordestino ou da Borborema ¢ cchapadas circundantes 4 — Planalto do Meio Norte ou do Maranhio- Piaut ‘5 — Planalto Oriental ¢ Sul-oriental ou Planalto ‘Atlintico do Brasil de Sudeste Neste mesmo trabalho remote para futuras clas- sificagdes puramente geomorfoldgicas a responsabili- dade em se estabelecer um tratamento das unidades do relevo sem que se recorra 20s dominios morfoes- ‘truturais ou ento morfoclimticos, F ainda Ab’Saber que propée em 1969 uma ou- tra diviséo do relevo do Brasl, agora valorizando os processos fomentados pelos climas atuais. Com esta preocupacio define os Dominios Morfoclimticos Brasileiros. Esta Classificagio valoriza a dinamica 7 os processos atuais na esculturacio das formas de relevo, apoiando-se na relacfo cobertura vegetal, tipo de clima e modelado predominante do relevo. Estes dominios que associam-se principalmente as regiGes climato-botinicas receberam denominagées 1 — Dominio dos chapadées tropicais, a duas cestagGes recobertos por cerrados 2.~ Dominio das regides serranas tropicais timi- das ou dos mares de morros extensivamente floresta- dos 3 — Dominio das depress6es semi-éridas, pon- tihadas de inselbergs, dotadas de drenagem intermi- tente ¢ recobertas por caatingas extensivas. 4 — Dominio de planaltos sub-tropicais, reco- bertos por araucérias ¢ pradarias de altitude 5 — Domfnio das coxilhas subtropicais uru- ‘guaio-sul riograndense recobertas por pradarias mis- tas 6 — Domfnio das terras baixas equatoriais, es- tensivamente florestas da amazOnia brasileira. Pode-se observar, portanto, que tal classificagio tem muito a ver com o clima e a cobertura vegetal no primeiro nivel de tratamento e subordinadamente apa- rece o modelado do relevo predominante de cada rea. So valorizados os processes morfodinamicos atuais em cada um dos domfnios morfoclimiticos, ‘mas perde-se a informacio da macro-compartimenta- do € 08 efeitos dos paleo-climas na esculturagao. A PROPOSTA DA NOVA CONCEPCAO Embora de forma nfo explicita, est claro que hhé uma dificuldade grande em se estabelecer a nfvel de generalizacio uma adequada classificagao do rele- vo brasileiro. Isto se deve muito mais pela dificulda- de de se estabelecer critérios coerentes de classifica- ‘go do que do desconhecimento do territ6rio que est razoavelmente desvendado com 0 mapeamento siste- mitico de reconhecimento do Projeto Radambrasil. (Como as formas de relevo resultam tanto dos proces- sos endégenos quanto dos exdgenos, ¢ relative aos exOgenos ocorrem formas geradas tanto nos climas pretéritos quanto nos atuais, tomna-se delicado esta- belecer uma classificagéo que valorize todas as vax 28 Hiéveis motoras da morfogénese. Em fungfo deste problema hé uma tendéncia em se classificar, bem como representar 0 relewo, dando-se énfase maior ora a0 estrutural ora a0 climético. Deste modo, € fre- qiiente a indentificacio ¢ registro das grandes unide- des geomorfolégicas através das morfoestraturas de ‘um lado ou entéo dos dominios morfocliméticos de outro. ‘Tanto uma classificagio como outra apresentam problemas sérios. Ao empregarse como critério as, morfoestruturas as denominagées bem como a deli- ‘mitagfio cartogréfica das unidades ficam extrema- ‘mente vinculadas a geologia o que acaba por colocar ‘em plano secundério os limites do modelado. No ou- {zo caso ao dar-se denominag6es apoiadas no quadro climato-botinico, as unidades acabam por valorizar em primeiro plano 0 tipo climético dominante, forte- mente associado a0 fitogeogrifico e o modelado apa- rece também de forma secundéria. Embora esta clas- sificago acentue a importiincia dos processos morfo- dindmicos operantes na atualidade, a geometria das formas fica praticamente esquecida. A concepgéo de Mescherikov (1968) relativa as nogdes de morfoes- trutura, morfoclimética e morfoescultura esclarece penile uma soluedo para a classificago ¢ represen- taco do relevo diferente das até entéo claboradas. ‘A nogio de mofoestrutura esté extremamente vinculada 2 influéncia da estrutura geol6gica na ge nese das formas. J, a de morfoclimética, associa-se 208 tipos climéticos determinantes nos processos morfodinimicos que operam na atualidade na escultu- aco das formas. Por outro lado as unidades ou z0- nas morfocsculturais distinguem-se claramente das unidades ou zonas morfocliméticas. As unidades morfoesculturais. no correspondem exclusivamente as formas de relevo dos climas atuais, mas também incluem as influéneias dos climas pretéritos que dei- xaram na paisagem marcas de sua presenca através as paleoformas © da macro-compartimentagio. Ge- neticamente as unidades morfoesculturais so resul- tantes de processos gerados por climas ¢ paleoclimas que esculpiram formas de relevo em diferentes es- ‘euturas. Assim, uma unidade morfoescultural, que se distingue em fungio das formas de relevo predomi- nantes, qualquer que seja sua genese ou idade, pode abranger uma ou mais estruturas geolégicas. A concepgio desta proposta, nivel de Brasil, considerando 0 elevado grau de generalizacao neces- sfrio © em funcdo da escala de representacdo ¢ finali- dade a qual se presta, leva em consideracHo o estrutu- ral, mas sobretudo valoriza 0 modelado representado aqui pelas macro compartimentagSes que 0 relevo brasileiro presenta. Deste modo o primeiro taxon considerado € eminentemente geomorfolégico, repre- sentado pelos Planaltos, Depressdes ¢ Planicies. segundo taxon, tenta classificar os planaltos em fun- do do carter estrutural que apresentam e deste mo- do surge os Planaltos esculpidos em: © Bacias Sedimentares © Intruses e Coberturas Residuais de Platafor- ma © Niicleos Cristalinos Arqueados a ea Este segundo taxon no foi aplicado para as de- ‘press6es porque estas constimem superficies de ero- fo embutides, por entre os planaltos e algumas delas se extendem por mais de uma estrutura, definindo-se mais pelo carter escultural © terceiro taxon € 0 que define nominalmente cada uma das unidades morfoesculturais. Este se aplica tanto aos planaltos, como as depresses © pla- nicies. Como exemplos, Planaltos da Amaz6nia Oriental, Planalto e Chapada dos Parecis, Depressio Marginal Norte Amazénica, Planfcie do Rio Ara- guaia, ete. Dentro desta concepcao terico-metodolégica, chegou-se a vinte ¢ oito (28) macro unidades geo- morfol6gicas, que denominou-se de unidades mor- foesculturais tais como segue: OS PLANALTOS Planaltos em Bacias Sedimentares: Planalto da Amaz6nia Oriental © Planalto da AmazOnia Ocidental © Planaltos e Chapadas da Bacia do Pamaiba ¢ Planaltos © Chapadas da Bacia do Parané Planaltos em Intrusoes e Coberturas Residuais de Plataforma © Planaltos Residuais Norte Amaz6nicos © Planaltos Residuais Sul Amazénicos © Planaltos © Chapadas do Parecis Planalios em Niicleos Cristalinos Arqueados © Planalto da Borborema © Planalto Sulriograndense Planaltos em Cinturées Orogénicos © Planaltos ¢ Serras do Atliintico Leste Sudeste © Planaltos e Serras de Goifs-Minas © Serras Residuais do Alto Paraguai AS DEPRESSOES Depressiio Marginal Norte Amaz6nica Depressdo Marginal Sul Amazénica Depressio do Arasuaia Depressfio Cuiabana Depressdes do Alto Paraguai-Guaporé Depressao do Miranda Depressfio Sertaneja © do So Francisco Depressao do Tocantins Depressio Periférica da Borda Leste da Bacia do Parand © Depressio Periférica Sulriograndense eccccccce AS PLANICIES Planicie do Rio Amazonas Planicie do Rio Araguaia Plantcie e Pantanal do Rio Guaporé Planfcie e Pantanal do Rio Paraguai ou Matogros- Planfcie das Lagoas dos Patos-Mirim Planicies Tabuleiros Litoraneos SINTESE DESCRITIVA DAS UNIDADES ‘Ao considerar-se a macro compartimentaglo do relevo brasileiro no se pode negligenciar a natureza morfogenstica deste. Deste modo, toda a histéria e 29 ‘morfocronologia s40 mais significativas a partir do Cretéceo ou seja 20 longo do Tercifrio-Quaterndvio. E fato consumado pelos trabalhos de Ab’Saber, Al- meida ¢ muitos outros que praticamente toda com- partimentago do relevo brasileiro atual tem fortes li- ‘gagées genéticas com 0 soerguimento da Plataforma Sul Americana ao longo do Cenoz6ico (epirogénese ps-cret4cea) © com os processos erosivos de caréter circundenudacionais que ocorreram principalmente a partir do ‘Tercifrio Superior, a0 Quaternério Inferior (Neogeno). Lembrando entretanto que 0 soergui- mento da Plataforma néo se deu de forma igual tanto espacialmente quanto na velocidade. Por outro lado, 98 processos erosivos, que tiveram como motores a epirogenese © 08 diversos climas, também nio tive- ram 0 mesmo vigor ao longo do espaco e do tempo. Assim, em fungio da maior ou menor atuagao da tectbnica, dos diferentes graus de resisténcia das I~ tologias, dos diversos arranjos de estrutura, e da maior ou menor agressividade dos climas, ora mais secos (Aridos e semi-Aridos), ora timidos a semi-dmi- dos com varias alterndncias a0 longo do Tercisrio Superior 20 Quatemrio inferior (Neogeno), permiti- ram a esculturacéo de diversos modelados, que po- dem receber diferentes tratamentos classificat6rios face & escala de abordagem ¢ a metodologia de apoio. Para chegar-se a esta proposta de identificagso das macro unidades do relevo brasileiro, foram fun- damentais as contribuicdes dos trabalhos de Ab’Saber (1949, 1964, 1969, 1970, 1971) e praticamente todos 0s relat6rios € mapas produzidos pelo Projeto Ra- dambrasil da série Levantamento dos Recursos Natu- mais para todo o pais. Devido a escala de apresenta- do, que se restringe a uma figura de ilustraclo, foi necessério estabelecer um elevado grau de generali- zaciio € conseqiientemente simplificacao, obtendo-se tum quadro sintese dos macro-compartimentos do re- levo do pais (Figura 1). Como a finalidade € didética ¢ claramente voltada para 0 ensino da Geografia do Brasil de 1? € 2 graus, néo se vé nesta simplificago ‘grandes problemas. As Unidades dos Planalitos: As Areas representadas por compartimentos de planaltos foram classificadas em quatro grandes cate- ‘gorias a que denominou-se de Planaltos em: 30 yuan souls 3 vd g00_) YOae) ¥g sown awa YS ‘Ou 00 TWNYINVE 3 yimovay ot oo swuoevny Sit 8a S319JNWId 1u34_ 0} sauea0 22 fa wows agxaaNvuooly Ans vo) vonozyny Ins “Twwewyn O¥ssanaa0 I voligiveir 34008 TMM Oyseaueas = s3gss3ud30 aswaonmisom TNs oLwuyas 21 zu wouoauoe "va OWN Ta 11 = soavantay sonnvisia soaTopN Ivaovivs OLY 00. sivnaissy sviniae Oo! mero sting, a" evsae a sonvNG g mnrD uuszers-aiss)“OouNyaY 00 Sywvas 3 Soria 8 =D SosINgS0H0 S3QHNLNID soolgzywy ans sivnaiszu sal £ wre SOoNgZVAY 2ANON SIvMOISay _SOLTVNNTE § EES esa doo Vovame 3 olwW la 2 ua YAMOSvIYY 30 sivnaisay svini4ad0o 3 SaQsnuAN! yavave 00 wore vo svowdvio 2 soLTNTd vdNnivd 8d vove Yo svovavi 3 SOLIWWle © Ee " WAS Engen vo “Svs @ a3 "einaWwo Vingzvav va OLWNYad 1 SSUYLNANIG3S. SviOvA Wa SOLTNWid Tsvua =o 0 ‘SIVENLINISA - OSUON saqvainn 1 —Bacias Sedimentares 2 — Intrusdes e Coberturas Residuais de Plata- forma 3.—Nicleos Cristalinos Arqueados 4—Cinturées Orogénicos. Independente da influéncia estrutural que marca cada uma destas unidades, elas assumem em grande maioria 0 caréter de formas residuais. Este aspecto decorre do fato de que tais planaltos esto circunda- dos por extensas dreas de depress6es relativas © que por consegiiinte péem em ressalto 0s relevos mais, ‘altos que ofereceram maior dificuldade ao desgaste erosivo. Planaltos em Bacias Sedimentares (Os Planaltos em Bacias Sedimentares s40 quase que inteiramente circundados por depressdes periféri- cas ou marginals. Estas unidades também se caracte- rizam por apresentar nos contatos (planaltos-depres- ‘86e8) 0s relevos escarpados caracterizados por frentes, de Cuestas. Estio representados pelos Planaltos da Bacia Amaz6nica (Oriental e Ocidental), Planaltos © (Chapadas da Bacia do Pamafba e Planaltos e Chapa- das da Bacia do Parand. Na bacia Amazdnica distingue-se claramente as uas unidades individualizadas tanto pelo modelado quanto pela génese. © Planalto da Amazénia Oriental ccaracteriza-se por um modelado ¢ associagao de for- mas de topos convexos ou planos com ocorréncia descontinua de morros residuais de topos planos. En- guanto os relevos residuais esto quase sempre asso- ciados aos sedimentos Terciérios da formacao Barrei- ras, 0$ terrenos mais dissecados esto esculpidos nos sedimentos péleo-mesoz6icos. Tanto a norte quanto a sul, este planalto tem limites claramente definidos por mudangas bruscas no modelado, senido as vezes em forma de escarpa. O limite norte € definido por uma frente de Cuesta onde as altitudes estio em tomo de 400 metzos nos trechos mais altos, enquanto que no sul 0 aspecto € de relevo cuestiforme sem entretanto ccaracterizar-se por escarpa, com os trechos mais altos ultrapassando 0s 300 metros. © Planalto da AmazOnia Ocidental, enquadra-se no que Ab'Saber (1964) inclue nas terras baixas ‘Amaz6nicas. Esta vasta rea do oeste da Amaz6nia 31 exibe terrenos baixos, inferiores a 200 metros de al- titude, sendo fracamente dissecados em formas de to- pos planos ou levemente convexizados, esculpidos ros sedimentos Terciérios Quatemérios da formagzo SolimSes. Enguadrou-se esta unidade na categoria de planalto, pela impossibilidade de enquadré-lo nos de planicies ou de depressdes face sua génese. Entre- ‘tanto, trata-se de uma superficie extremamente plana com um ténue processo fluvial de dissecagéo que im- pede de caracterizé-la como planicie. Tanto a norte quanto ao sul faz limite sem ruptura de nivel com as Depress6es Marginais Norte e Sul Amaz6nicas. (Qs Planaltos ¢ Chapadas da Bacia do Pamafba. apresentam um modelado muito mais complexo. Todo limite sul e oeste desta unidade marcado por con- {ato com as depresses circundantes através de escar- pas caracterizadas por frentes de Cuesta, enquanto © limite norte coalesce em praticamente toda sua ex- tensdo com os temenos baixos da bacia Amazénica. (© sul desta unidade 6 demarcado pela frente de Cuesta do Ibiapaba ou serra Grande do Piauf, mas mostra para o interior da bacia outros degraus meno- res correspondentes a frentes desdobradas. Na extre- midade oeste o fato se repete, observando-se frentes de Cuesta desdobradas, destacando-se entre estas 08 degraus das serras do Lajeado e do Estrondo no norte de Goids. Na parte mais central da bacia ocomem extensas superficies altas e planas caracterizadas por chapadas como a das Mangabeiras onde as altitudes atingem mais de 1.000 metros. Serve como divisor de guas dos rios Sao Francisco e Tocantins a chamada serra do Divisor que corresponde a um prolonga- ‘mento para sul da bacia do Parafba. Este techo, que na realidade se constitui em uma alongada chapada, & demarcada a leste e oeste por relevos escarpados, en- quanto que ao sul conecta-se em nfvel com a superfi- cie plana e alta de Brasflia. Os topos planos e amplos, deste Planalto é sustentado pelos sedimentos do Cre- téceo, enquanto os trechos dissecados e os escarpa- dos, normalmente associam-se aos sedimentos mais, ‘antigos do Devoniano ¢ Carbonifero. Os Planaltos © Chapadas da Bacia do Parané ‘englobam terrenos sedimentares com idades desde 0 Devoniano ao Creticeo, bem como extensa ocorrén- cia principalmente na parte sul da bacia, das rochas vulefinicas bésicas © Scidas do Jura-Cretéceo. Todo contato desta unidade com as depressées circundan- 32 tes feito através de escarpas que se identificam eo- mo frentes de Cuesta tinica ou desdobradas em duas ou mais frentes. Na borda leste aparece com uma iinica frente no Estado de So Paulo, mas nos Esta- dos do Parand ¢ Santa Catarina desdobra-se em duas frentes, uma nos terrenos do Devoniano e outra nas formagGes vulcdnicas do jura-creticeo. No Rio Gran- de do Sul a escarpa € suistentada quase que exclusi- vamente pelas rochas vulcénicas. No setor a nordeste (centro-sul de Goids) e Mi- nas Gerais na maior parte do trecho os contatos sfo nivelados com os planaltos, ndo observando-se de forma continua uma depressio Upica. J4, na extremi- dade norte, ainda no Estado de Goids verifica-se 0 contato com a Depressio do Araguaia através de trés frentes de Cuestas desdobradas da chamada serra do Caiapé. Neste trecho as frentes so sustentadas pelas formages do Devoniano, do Carbonifero do Jura- Cretéceo. Na porcao oeste e noroeste no contato com © Pantanal Matogrossense © a Depressio Cuiabana também observam-se frentes de Cuestas desdobradas obedecendo a mesma seqiiéncia da secgo norte, Es- tas frentes ora definem patamares horizontalizados ora patamares inclinados para depresses monoclinais embutidas no planalto. Sio freqiientes nas bordas norte ¢ noroeste, a presenca de extensas superficies altas © planas que atingem entre 900 © 1000 metros de altitude denominadas de chapadas. Séo exemplos marcantes as chapadas do Alto Taquari, Maracaju, Guimaries, do SW de Goids, do Trifngulo Mineiro (Uberlandia). A borda da bacia nos Estados de Goiés, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Ge- sais ¢ Sao Paulo raramente ultrapassam os 1000 me- tos de altitude, enquanto nos estados do sul ganha altura a partir do Parané, atingindo em torno de 1.500 ‘metros no nordeste do Rio Grande do Sul. No setor sudeste deste planalto, que corresponde as éreas mais cclevadas das bordas da bacia, ocomrem superficies aplanadas de forte condicionamento estrutural, que coincidem com as Areas dos campos limpos de Gua- rapuava (PR), HerciliGpolis-Irani e Campos Novos (SC) © Vacatia (RS), onde os solos so rasos ¢ pre- valece as formagées rochosas vulcinicas écidas. Planaltos em Intrusées e Coberturas Residuais de Plataforma Estas unidades nfio se constituem exclusiva- ‘mente por coberturas sedimentarcs residuais de di vversos ciclos erosivos, mas também por um pontilha- do de serras ¢ morros isolados associados a intrusdes granfticas, derrames vulcdnicos antigos ¢ de dobra- ‘mentos com ou sem metamorfismo, todas formagbes datadas do pré-Cambriano inferior a0 superior. O Planalto ¢ Chapada dos Parecis, cuja litologia data do Creticeo & exceci (Os Planaltos Residuais Norte Amaz6nicos, que se estendem desde 0 Amapé até o norte do Estado do Amazonas, ¢ que apresentam altimetrias que chegam a atingir 0s 3.000 metros (Pico da Neblina), mas que no geral oscilam entre 600 a 1.000 metros. Consti- tuem-se em Greas serranas descontinuas representadas por relevos de aspecto residual, interpenetrados pela superficie da Depressio Marginal Norte Amazénica. Estas formas de relevos esto esculpidas em diferen- {es litologias da Plataforma Amaz6nica (Norte) que correspondem as rochas sedimentares, (pré-Cambria- no) sobretudo arenitos, vulcinicas acidas, bem como intruses graniticas do pré-Cambriano Médio a Supe- rior. Sobressaem-se alguns nomes de serras como ‘Taperapecs, Imeri, Parima, Cotrimani, Acarai, Tu- mucumaque, Ipitinga, Navio, entre outras. (Os Planaltos Residuais Sul AmazOnicos abran- gem uma drea bem mais extensa da Plataforma Ama- zénica (Sul), estendendo-se desde 0 sul do Paré até Rondénia. E uma vasta érea toda pontilhada por in- trusdes graniticas do préCambriano Superior que determinam formas de relevo em morros de topos convexos com distribuicao espacial descontinua. AI _gumas serras como Gorotire, Gradaus e Seringa, s40, exemplos deste tipo de relevo. Juntamente com tais, intrusGes ocorrem estensas reas de coberturas sedi: ‘mentares antigas (pré-Cambriano e do Paleozsico in- ferior) que freqientemente definem formas de relevos esiduais de topos retilinizados e planos chegando a alguns casos a cofigurar as chamadas chapadas. Entre estes casos esto a chapada do Cachimbo e as serras de Cubencranquem, Dardanelos, Caiabis, Providén- cia, Pacads Novos. Hé ainda, relevos residuais escul- pidos em estruturas marcadas por vulcanismo antigo, ‘associadas com sedimentos, intrusGes ¢ dobramentos. com metaformismo como ocorre com a serra dos Ca- rajds entre outras menores. Todo esse pontilhado descontinuo de relevos residuais sustentados por se- dimentos antigos, intrusdes, valcanismo ow ainda do- bramentos com metamorfismo, sio interpenetrados or uma superficie mais baixa e aplanada representa- da pela Depressio Marginal Sul Amazénica. Planalto ¢ Chapada dos Parecis envolve uma grande rea que se estende desde 0 leste de Mato Grosso ao sudeste de Rondénia, Corresponde a uma faixa de terrenos sedimentares (arenito) datados do Cretéceo com recobrimento descontinuo de detritos finos tidas como do Tercifrio. Fst parcialmente na porgio do divisor de 4guas Amazonas-Paraguai-Gua- poré ¢ apresenta altitudes em tomo de 800 metros no trecho da chapada (secgo sudoeste da unidade), en- quanto que no restante as altitudes variam entre 450 a (650 metros. As formas predominantes do televo 880 fas de topos planos a ligeiramente convexizadas, 0 que caracteriza a suavidade da topografia, embora no conjunto esta seja de cardier residual. Na parte norte esta unidade 20 softer um rebaixamento continuo ¢ gradativo coalesce com a superficie da Depressao Marginal Sul Amaz6nica no nivel dos 400 metros. J4, a lesie e a sul os limites com as Depressdes do Ara- ‘guaia, Culabana e do Alto Paraguai € feito através de escarpas de aspecto cuestiforme, com um ou mais de- gravs; configurando respectivamente as serras do Roncador, Daniel ¢ Tapirapud Planaltos em Niicleos Cristalinos Argueados Estas unidades estio representadas pelo Pla- nalto da Borborema na parte oriental do nordeste ¢ pelo Planalto Sulriograndense no sudeste do Rio Grande do Sul. Tanto um quanto outro fazem parte do cinturdo orogénico da faixa Atlantica, entretamto receberam esta denominaco por se encontrarem re- lativamente isolados ¢ corresponderem @ segmentos dos dobramentos antigos soerguidos em forma de abdbada. Nos dizeres de Ab’Saber (1972) “O nor- deste Oriental € Sudeste do Rio Grande do Sul so reas dos escudos orientais sul-americanos onde € particulamente expressiva a presenca de miicleos cristalinos de conformactio geral dmica”. Estas uni- dades comportam-se como macigos antigos intensa- mente trabalhados por processos erosivos que sc de- senvolveram ao longo do Cenoz6ico. Verifica-se que no reverso de ambos gerou-se esiensas depressées que acabam por se interpor entre os macigos antigos © as bacias sedimentares do Parandi no sul e do Par- nafba no nordeste. (© Planalto da Borborema ocupa a posicdo a leste do estado de Perambuco ¢ as Areas mais eleva- das atingem entre 800 a 1.000 metros de altitude. 3 Apesar da presenca de segmentos de topos retiinizs- dos, 0 modelado dominante sio as formas convexas esculpidas em litologias do cristalino representadas por intrusivas ou ainda metamérficas de diferentes idades ao longo do pré-Cambriano. O Planalto Sul- riograndense com litologias diferenciadas também de idades e géneses diversas ao longo do pré-Cambriano apresenta modelado com formas ligeiramente conve- xas, entretanto os niveis altimétricos mais elevados no ultrapassam os 450 metros. Planaltos em Cinturées Orogénicos Os planaltos que ocorem nas faixas de oroge- nin antiga, comespondem a relevos residuais susten- tados por litologias diversas, quase sempre metafGrfi- cas associadas com intrusivas. Estas unidades estiio em fireas de estruturas dobradas correspondentes a0 geossinclineos Paraguai-Araguaia, Brasilia ¢ Atlan- tis. Nestes planaltos, em fungao da natureza estrun- ral, é onde encontra-se intimeras serras, quase sempre associadas a resfduos de estruturas em anticlinais ou sinclinais intensivamente atacados por processos ero- sivos tanto do pré-Cretéceo quanto do Tercifrio- Quaternétio. Os Planaltos © Serras do Atlantico Leste-Su- deste, que associam-se a0 Geossinclineo Atlantis € 0 que apresenta maior grau de complexidade. Sua gé- nese vincula-se a vérios ciclos de dobramentos acompanhados de metamorfismos regionais, fatha- mentos ¢ extensas intrusGes. As diversas fases oroge- inéticas do pré-Cambriano foram sucedidas por ciclos de erosio, O proceso epirogenttico pés-Crethceo que perdurou pelo menos até 0 Terciério Médio ze- rou © soerguimento da Plataforma Sul Americana, reativou falhamentos antigos e produziu escarpas acentuadas como as da serra da Mantiqueira, do Mar fossas tectOnicas como as do médio Vale do Parai- ba do Sul. A forte influéncia estrutural e tecténica Cenozéica impede de correlacionar-se com seguranga niveis allimétricos com as idades das superficies de erosio. De qualquer modo pode-se verificar a presenca de diversos nfveis morfoldgicos de caréter regional que vdo desile 800 metros, passando para 1.000 a 1.200 metros, mas que cm segmentos mais isolados ultrapassam os 2.000 metros. Nesta unidade incluem- se além das reas planditicas da faixa do litoral deli- 34 mitados por escarpas, a estensa serra do Espinhago que abrange terrenos desde as proximidades de Belo Horizonte (MG) até 0 médio vale do rio Séo Francis- co no centro-oeste da Bahia. O modelado dominante do Planalto Atlantico constitue-se por formas de to- pos convexos, elevada densidade de canais de drena- gem e vales profundos. E a érea do “Dom{nio dos, Mares de Morros” definidos por Ab'Saber (1970). Os Planaltos ¢ Serras de Goids-Minas estio as- sociados a faixa de dobramentos do Geossinclineo Brasilia. Estende-so desde a érea Central de Goids (oacia do alto Tocantins) até 0 sudoeste de Minas Gerais regio da serra da Canastra. Este planalto con- figura-se como verdadeiras serras residuais, como ‘come com as serras da Canastra (MG), da Bocaina, Dourada e Geral do Parana em Golds. Estas serras comportam-se como residuos das antigas dobras, constituindo alinhamentos de cristas que ora repre- sentam bordas de anticlinais interiormente erodios, ora em abas de sinclinais algadas. Sao sustentadas ‘com freqiléncia por rochas metamérficas, sobretudo quartzitos, entretanto, também associam-se a elas in- trusdes de natureza granitica. Sio freqiientes as ocor- réncias de estensos topos planos com aspectos de cchapadas como ocorre em trechos da serra da Canas- tra, na chapada de Brasilia, e dos Veadeiros, a nor- deste do Distrito Federal. Estes topos planos asso- ciam-se a superticies de eroséo que remontam ao pré- Creticeo com reafeigoamento no Tercisrio-Quaterné- rio. Esta unidade apresenta nfveis altimétricos que oscilam entre 1.000 a 1.200 metros com alguns seg ‘mentos atingindo 1.400 metros a0 norte do Distrito Federal As Secras Residuais do Alto Paraguai também fazem parte de estensa rea pertencente ao chamado Geossinelfneo Paraguai-Araguai. Esta unidade tem continuidade através de um segmento ao sul do Pan- ‘anal Matogrossense onde recebe a denominagéo de serra da Bodoquena e outro segmento maior a0 norte do Pantanal com a denominagio de serra das Araras ou Provincia Serrana. So formas residuais de do- bramentos em anticlinais e sinclinais, datados do pré-Cambriano, cujos processos erosives do pré- Cretéceo e do Cenazsico geraram formas de relevo em feixes de cristas assimétricas e grosseiramente pa- ralelas entre si, sustentadas por arenitos de alta re~ sisténcia. Ao contrério dos casos anteriores esta rea serrana de modelado peculiar no sofreu metamorfo- sismo regional e também ndo est4 associada a intru- ‘ses como nos demais, constituindo-se quase exclu- sivamente por rochas sedimentares antigas dobradas Por processos orogenéticos © posteriormente desgas- tadas por vérios ciclos erosivos, gerando os niveis, ‘que oscilam entre 600 a 800 metros de altitude. As Unidades das Depressies [As depressées no territério brasileiro t8m uma coracteristica genética muito marcante que & 0 fato de terem sido geradas por processos erosivos circunde- nudacionais com stuago acentuada nos contatos das bordas das bacias sedimentares com macicos antigos. As atividades erosivas com altemancias de ciclos se- os € ciclos timides esculpiram ao longo do Tereifrio Superior © do Quatcrnério Inferior as depressoes pe- Tiféricas, as marginais, e as monoclinais, que apare- cem circundando as bordas das bacias e se interpon- do entre estas e 08 macicos antigos do eristalino, ‘A atuagio das atividades erosivas evidente- ‘mente nfio ocorreram somente ao longo das atuais depresses mas também sobre 0s planaltos, entretanto € nas primeiras, que as marcas paleocliméticas so mais evidentes. E fato também marcante a estensivi dade destas depressdes avancando por estruturas muito diferenciadas. Isto certamente deve-se as alter niincias das fases de pediplanacéo dos perfodos secos com as de meteorizacio bio-quimica e erosdo linear dos periodos timidos. Em fungdo da relaco espacial destas depresses com as estruturas das bacias e dos rmacicos antigos, Ab’Saber (1972) estabeleceu a se- guinte classificagdo: © Depressées periféricas subseqiientes © Depressées monoclinais © Depress6es marginais com eversio © Depressées marginais com eversio e formagio de acias detriticas modernas. Neste trabalho nfio houve preocupacéo em de- nominar as depressdes representadas seguindo rigi- damente a classificagéo genética de Ab’Saber (op cit). Procurou-se denominagées ja consagradas na literatura com alguma simplificacio em decorréncia da natureza deste trabalho. Entretanto houve preo- ‘cupagio de identificar 20 longo do texto 0s tipos tra- tados pelo citado autor. ‘As depresses receberam aqui as seguintes de- nominagées: © Depressdo Marginal Norte Amazénica © Depressiio Marginal Sul Amazénica © Depresséo do Araguaia © Depresso Cuiabana Depressées do Alto Paraguai-Guaporé © Depresséo do Miranda © Depressi Sertaneja e do Sao Francisco © Depressiio do Tocantins © Depressio Periférica da Borda Leste da Bacia do Parané © Depressi Periférica Sulriograndense As Depressées Marginais Norte e Sul Amazéni- ca enquadram-se na classificagéo de Ab’Saber (op. cit.) como sendo do tipo marginal com eversio. Isto se deve ao fato de que ambas margeiam as bordas, norte ¢ sul da bacia amaz6nica e encontram-se total- mente esculpidas em litologias do cristalino da Plata- forma Amaz6nica. A superficie destas depressdes ‘certamente passou por aplanamentos antigos anterio- res a formacao da bacia amazénica e posterior a for- magio desta sofrex exumagio ao longo do Terciscio~ Quatemrio, expondo novamente a referida superfi- ‘A Depressiio Marginal Norte Amaz6nica, cujas altimetrias oscilam entre 200 ¢ 300 metros, se inter- péem entre as bordas da bacia Amazénica (sul), onde 9 contato se faz. através de uma frente de Cuesta bem marcada € a0 norte com os relevos residuais esculpi- dos no cristalino com intrusdes © sedimentos de co- berturas antigas, com contatos freqiientemente escar- pados. Para Leste termina no litoral do Amapé, en- quanto que para ceste avanca para os territérios da Colémbia e Venezuela nivelando-se com 0 Planalto da Amazénia Ocidental. 0 modelado caracteriza-se por formas de topos levemente convexos ocorrendo alguns pequenos morros residuais geralmente asso- ciados a intrusdes grantticas. A Depressi Marginal Sul Amaz6nica, com gé- nese semelhante 2 anterior, € muito mais estensa. Esta unidade tem limite setentrional na borda sul 35 da bacia Amaz6nica, onde o contato se faz através de patamares mal delinesdos que no conjunto Iembram uma frente de Cuesta descaracterizada pela erosio ‘Ao sul tem gua terminacdo no contato em nfvel com 0 Planalto dos Parecis. A oeste avanga em territério da Bolivia na fronteira do Fstado de Rondénia, en- ‘quanto que para leste tem continuidade nas Depres- s6es do Araguaia e Tocantins. O modelado é marca~ do por formas de relevo de topos levemente convexi- zados, entretanto € caracterfstica marcante a intensa Presenga de relovos residuais representados ora, por intrusées graniticas, ora por coberturas sedimentares antigas da Plataforma Sul AmazGnica. A Depressi do Araguaia é na realidade uma ‘estensio mais linear da Depressfio Marginal Sul ‘Amazénica. Essa unidade acompanha o vale do Ara- ‘guaia, tendo na sua parte central a presenga isolada Ga Planieie do Rio Araguaia, onde se insere a ilha do Bananal. £ delimitada a oeste pelas bordas escarpa- das do Planalto dos Parecis que localmente € conle- ida por serra do Roncador. A leste seu limite feito por relevos mais elevados esculpidos em rochas me- tanérficas do geossinclineo Paraguai-Araguaia © n0s Sedinenus da boida uvidental da bacia do Parnafba representada af pelos patamares da serra do Estado. No sul o limite €determinado pelas frentes da Cuesta da borda seteatrional da bacia do Parané. O modela- do € marcado por formas de relevo quase plano com altimetrias que oscilar de 200 metros no nozte a 350 Inetros na extremidade sul, A superficie desta depres- so corta diversas formagées rochosas, tais como as Cristainas da Plataforma Sul Amazénica © as metas- sedimentares do geossinclineo Paragual-Araguaia. ‘A Depressio Cuiabana, que se enquadra na classificagio de Ab’Saber (op. cit.) como do tipo ‘marginal de eversa0 encontra-se embutida entre as Serras Residuais do Alto Paraguai a oeste ¢ norte © a leste na escazpa de Cuesta da borda noroeste da bacia do Parang. Apresenta um modelado levemente con- vexizado esculpido nos metassedimentos do Grupo Cuiabé também pertencente 20 geossinclinco Para- guai-Araguaia. Esta unidade constitui-se em uma su- perficie em rampa que gradualmente se eleva dos 150 ‘metros no contato com o Pantanal aos 400 metros na extremidade norte. ‘As Depressées do Alto Paraguai-Guaporé estio ligadas através de um segmento levemente inclinado 36 posicionado entre as bacias do rio Jauri ¢ do tio Guaporé. Grande parte destas unidades mostram-se encobertas por sedimentos finos da mesma origem dos existentos no Pantanal de Mato Grosso ¢ do Guaporé. A Depresséo do Alto Paraguai abrange uma écea maior delimitando-se pelas serras residuais no leste e por escarpas do Planalto dos Parecis a norte © norveste, Jé, 0 trecho que compreende a Depressi do Guaporé 6 bem esteita se interpondo de um lado com as escarpas dos Parecis e de outro com as Plant- cies do Pantanal do Guaporé. As altitudes oscilam entre 150 a 200 metros em ambas. ‘A Depressdo do Miranda ao sul do Pantanal Matogrossense, 6 drenada pela bacia do rio homéni- mo. Constitue-se em uma superficie baixa e muito aplanada cujas altimetrias esto entre 100 a 150 me- tros. Esta unidade € correspondente geneticamente & Depressio Cuiabana ao norte, entretanto € de dimen- fio muito menor. Esté delimitada a oeste pelas cristas residuais da serra da Bodoquena e a leste pelas es- carpas tipo frente de Cuestas da borda da bacia do Parand. Afunila-se para sul e termina com a juncdo das cristas as cscarpas, a0 norte abre~sc para 0 Pan~ tanal através da planicie do tio Miranda. Tal unidade std esculpida em litologias do pré-Cambriano Supe- rior pertencentes ao Geossinclineo Paraguai-Ara- guaia, A Depressiio do Tocantins de forma semelhante & Depressiio do Araguaia, acompanha o vale do rio homénimo. Assume em grande parte de seu trecho norte a caracteristica de depresséo monoclinal por encontrar-se seccionando a borda ocidental da Bacia Sedimentar do Parnafba. Na secgao sul esté esculpida principalmente nas litologias do cristalino do Com- plexo Goiano. De norte para sul ganha lentamente altitude atingindo em tomo dos 400 metros na érea de confluéncia dos rios Maranhio ¢ Parand, formadores do Tocantins. De modo geral mostra um modelado

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