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a ~ ATUALIDADES Estado Istimico, celabramvitéria ‘em Ragga, na ‘Sirta;em juno 40204 OP a Creech hel rc COSC re RE oe Ret muse APRESENTACAO UM PLANO PARA OS SEUS ESTUDOS Este GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES oferece uma ajuda e tanto para as provas, mas é claro que um timico guia nfo abrange toda a preparacio necesséria para o Eneme os demais vestibulares. E por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicagdes que, juntas, fornecem um material completo para um étimo plano de estudos. O roteiro a seguir é uma sugestio de como vocé pode tirar melhor proveito de nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas. ea HEI DECIDA 0 QUE VAI PRESTAR FEES FESO] 0 primero passo para todo vestibulando éescalher com dareza a 2 carrera eauniversidade onde pretendeextudar. Cnhecendo ograu T de dficuldade do process seletivo eas matésias que tém peso maior na hora da prova fica bem mas fal planejar os seus estudos para abter bons resultados. (© como o GE PODEAsUDAR voce O. traz todas os cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as carac ‘teristicas de mais de 260 carrelras ealnda Indica as institulc6es que coferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking, de estrelas do GUIADOESTUDANTEe com aavallacao oficial do MEC. ED REVISE AS MATERIAS-CHAVE Para comeraros estudos,nnada melhor do que revisaros pontos mals Importantes das principals matérlas do Ensino Médlo. Vocé pode re- passar todas as matérlasou focar apenas em algumas delas.Além de rever 0s contaiidos é fundamental fazer muito exercico parapraticar. eat (© cowo 0 ce PoDE AJUDAR Voct Nés produzimos todos os anos um gulapara cada matéra dotnsino Medio: GEMATEMATICA Historia, Geografa, ortuguds, Reda;a0, Blologla, Quimica oFisica Todos retinem os tomas quomalscaom nas proves, trazom multas questot de vestbulares paa fazer tm uma inguagom fc do entender, permitinde que voc estude sozinho. Ey MANTENHA-SE ATUALIZADO (0 pass final écontinuarestudando atualidades, pols as provasexigem alunos cada vez mas antenados com os prinipais fatosqueacorrem ‘no Brasile no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes 0 seu processo seletivo - oEnem, por exemplo,é bem diferente dos demais vestibulares. ~ Ble @ (© como 0 cE PODEAsUDAR VocE 0 GEENEM eo GE Fuvestsfover- dadeiros “manuals de nstrugdo" que mantém vocéatualizad sobre todos os sepredosdos dolsmaiores vestibulares do pas, Também no di para perder aprixima edgio doGE Atualidades, queserélancada em agosto, trazendo novos ftos do notcérfo que ainda podem cair nas provas dos processos seltivs do final do ano. FOTO: STRINGER/REUTERS orVR DA omer Veja quando sio langadas asnossas publicagses Mes PUBLICACAO Janeiro Fevereiro GEHISTORIA Margo GGEATUALIDADES1 GE GEOGRAFIA pe GE QUIMICA a GePoRTUGUES GEBIOLOGIA Junho ene GE FUEST sutho GEREDAGAO Agosto GGEATUALIDADES2 GE MATEMATICA se GEFISICA outubro GE PROFISSOES Novembro Dezembro 0 gulas ficam um ano nas bancas - ‘com excegio do ATUALIDADES, que & semestral. Voce pode compré-los também nas lojas on-line das livrarlas Saraiva eculturz FALE COM AGENTE: ‘Av. das Nacbes Unidas, 7221, 18° andar, (CEP 05425-802, Séo Paulo/SP, ou email para: loestudante.abril@atleitor.com.br CARTA AO LEITOR campo de refugiados de Mafraq fica naJor- A MENIN A dania, perto da fronteira com a Siria. La vvivem de forma preciria quase 80 milsirios, que escaparam da brutal guerra que assola E 0 MUNDO co pais desde 2011. Foi o que fez a familia de Zubaida Faisal, agarota de 10 anos que ilustra esta pagina. Segundo ofotégrafo Muhammed Muheisen, que registrou imagem, criangas como Zubaida sio as mais resistentes is adversidades - elas consolam os adultos e encontram alegria nos pequenos prazeres da vida, como em uma brincadeira de pular corda, Apesar de tudo, a vida tem de seguir em Mafraq. Ahistoria de Zubaida ¢ apenas uma entre milhdes, e se transformaria em uma mera estatistica se nfo fossem aslentese orelato de Muheisen. Em meio a caética profusio de noticias que nos chegam diariamente, voz e a imagem de Zubaida nos ajudam a ter uma dimensio mais clara sobre como vvivem os refugiados e por que o drama deles é considerado a maior crise humanitéria da atualidade. Quando preparamos esta edigao, temos duas misses: a primeira é selecionar, em meio a todas as noticias que nos chegam, quais so os temas mais representativos da situagio atual do Brasil e do mundo ~ e, consequentemente, que podem ser cobrados nos principais vestibulares. Nossa segunda missio é tomar todo este contetido compreensivel. Para facilitar 0 entendimento, as reportagens adotam diversos recursos de texto eimagem, como infograficos, fotos, mapas, resumos esimulados. “Esperamos que a partir dessa nossa proposta vocé tenha um farto material para seus estudos e amplie sua percepgio sobre os prineipais desafios globais. E, para comegar a entender melhor a situagio deste nosso imenso mundo, é preciso olhar um pouco mais para pessoas como a pequena Zubaida. © Fabio Sasaki, editor — fabio.sasaki@abril.com.br Nota da redagact esta edicfo fol fechada em 10 de marco de2016 4 GEATUALDADES| 1 semeste 016 PAUSANA CRISE ‘Agarotasria ‘Zubaida Faisal pula corda com seus colegas em um campo derefuglados na Jordania SUMARIO Ua Ue ea REPO ceo d ESTANTE ‘8 Dicas culturals Sugestdes de mes, hstériasem quadrinhos @ {otografias que complementam reportagens desta edc PONTO DEVISTA 16 Retrospectiva/Perspectiva Veja o que os principals semanérios destacaram em seu balanco de 2015 eo que se espera para 2016 418 Crise politica Como os Jornalsnoticlaramo vazamento de deninclas do senador Delcdlo de Amaral(PT) contrao governo DESTRINCHANDO 20 Olimpiadas no Brasil Veja com graficos e mapas oque (05 Jogos olimpicos tm aver com histéria, geopolitica, desenvolvimento socioeconémico eurbanizaco costes ino 26 Aameaga terorista 0 avancodo eatremismojinadista desaflaa seguranca Internacional edesestablzao Oriente Médlo 28 Por dentro do Estado Islamlco Como grupoconqulsoutenteios ‘esetomaua organizacéo etemistamals poderesa do mundo 32, Aguerraclvil devastaa SirlaEntenda oconfto, wda como le {ortaleceu 0 Estado [slémico ede queforma interfere naintrincada .geopotica do Ortente Medio 38 Coblga internacional acirra conftos Ohistrcoda desastrosa Ingerenca oldentalno Oriente Médioe como Iso afeta as relacbes entre os pases da regjzo 42. Almensidée do mundo mugulmano Ahistria da religo Bh vrvcom 46 UnldoEuropela0 drama humane e politico dos mithares de ‘efuglados que chegam ao Velho Continente 54 Rissa poténcla inter vim na Guerra da Siriae volta ase contrapor miltarmente ao Ocidente 58 Turqula Crescea tensdo politica rligjosa no pals 662 Guerra Civil Espanhola Ha 80 anos comeravao sangyento conto que antecpouall Guerra Mundiat 664 América Latina Elettores mudam os rumos poltcas na Argentina ‘ena Venezuela, parcels do Brasil no continente 70. Africa O continent quedependedas exportactes de matérlas- primase ¢afetado pela queda Intemacional dos precos 76 ArtleoO degelo provocado pelo aquecimento global abre novas rotas mercantesefentes de extragio de petréleo e gisdo subsolo Be 78 Impeachment Entenda como éesse processo legal que ameaca.o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff ‘84 Corrupio no Congresso Deputados esenadores sob pressio ‘88. Ditadura militar Manifestantes pedem a votta dos miltares ‘92 ReformapoliticaO Supremo Tribunal Federal (STF) probe a doagso ‘deempresa prvadas aos partidos nas campanhaseleltrals ‘94 Crise econéemica Aluste fiscal do governotenta equllibrar as contas, mas provoca recessdo edesemprego 1100 Plano ¢ruzado 0 fracasso do primeto grande plano para tentar frearainftagdocongelando os pres. 102 Agropecuéria A exportacdo de alimentos fortaleceo agronegdcio 1108 Matriz de energla O impacto da queda internacional dos preces do petro na economlados pases ede empresas comoa Petrobras 4114 Globallzaglo EUA anunclam o Transpactco,o malar acordo global delwrecomérclojé.criado ; 4120 Genero Avancos elutas das mulheres por seus direltos 126 UrbantzagSo Os desafioscrescantes das grandes metropoles 132 DemograflaA China cide lexblizara politica defiho tno 4136 Papa Francisco Um lider progressistae avo nadiplomacla 140 DH O desenvolmento humano avanca no Brasil 1144 Aquecimento global Entenda o acordo detodos os pases na COP21, quesubstitulra o Protocolo deKyoto 150 Desastre amblental Asquestées evantadase as consequenclas do romplmento da barragem da mineradora Samarco em Marlana(MG) 4154 Cheobyl Hé 30 anos ocorta o maloracidente nuclear da historia 4156 Doengas 0 virus ka ea mlcocefala assustam oBrasileo mundo 4162. Marte ANasa encontra guano planetavermelho SIMULADO. 1164 Teste 37 questdes dos vestbulares sobre temas desta edic#o PENSADORES 4178 Zygmunt Bauman 0 soci6logo quediscute a socledade Uquida ESTANTE a RUD oe Da oP ae aed Sem perder aternura ‘Samba aborda a situagéo dos migrantes na Franca com leveza e descontra¢io possivel abordar um tema tio grave quanto a situagio dos imigrantes na Europade forma leve e descontraida? O filme francés ‘Samba mostra que sim. Dirigido por Oliver Nakache e Eric Toledano, os mesmos da comédia de sucesso Into- cdveis,a obra tem a rara qualidade de equilibrar drama e comédia - além de generosas doses de romance - sem desviar ofoco do tema principal: avida de um migrante na Franca. ( protagonistado filme é Samba Cis- sé,um senegalés que mora ilegalmente em Paris ha dez anos. Ele sobrevive de pequenos bicos e subempregos, en- quanto tenta obter um visto de per- manéncia legal no pais. Ao ser preso mws0 pelo servigo migratério,Sambarecebe ‘a ajuda de uma ONG que auxilia os imigrantes ilegais na Franga, Uma das voluntarias Alice, uma executiva afas- tada do trabalho por estresse. Quando Samba sai da prisio, recebe a ordem para deixar o pais, mas ele decide ficar na Franca e é ajudado por Alice para permanecer em Paris. ‘Aoacompanhar as agrurasdeSamba na capital francesa, testemunhamos com um olhar privilegiado as compli- cadassituagdes as quais os imigrantes ilegais so submetidos para conseguir permanecer -esobreviver-na Europa. Samba vive de favor com um tio, que conseguiu o principal objeto de desejo dos imigrantes—um visto deresidéncia permanente. Sem isso, Samba se vira para conseguir documentos falsos e po- der se candidatar a alguma vaga de tra- balho. Emesmo quando arruma alguns bicos, sio trabalhos precarios, que vio desde separador dellixo alimpador de janelas nos arranha-céus parisienses. 0 filme também nao deixa de ex- plorar o sentimento de exclusio pelo qual passam os imigrantesnas grandes cidades europeias Ao seguir os passos de Samba pelas ruas parisienses acom- panhamos a sua tensio ao dobrar cada esquinadiante da possibilidade de ser ego novamente pela policia. Ja no vagio do metré, Samba é alvo de olha- res desconfiados dos franceses, o que denunciaalgumas atitudes xen6fobas, ainda que veladas. No entanto, na maior parte do filme, essa carga dramatica passa por um fil- ‘ro cémico e romantico que suaviza a tensiovvividapelo protagonista. Emboa ‘medida, o mérito dessa férmula est na formacomo oroteiroconduz ainteragio de Samba com outros personagens. AS situagdes compartilhadas entre Sam- bae Wilson, um imigrante “brasileiro”, rendemboasrisadas Jaa atragio miitua entre o protagonistae Alice,avoluntéria da ONG, confere ao filme uma leveza, ainda que abuse um pouco do cliché imigrantes na Europa e da dificil inte- grado em uma sociedad pouco afeita A aceitagao de estrangeiros vindos da Africa,o filmetoca em uma ferida mui- to exposta no continente. Pelo tema, bastante atual,o filme jaseria umaboa dica para quemvai prestar o vestibular. ‘Ao conseguir fazer acritica social sem soar excessivamente sisudo ou panfle- tério além da conta, o filme torna-se ainda mais atraente. SAMBA Dirego| Olver Nakache® Eric Toledano Ano 2014 Arealidade nua e crua dos refugiados Em Dheepan ~ O Refiigio, um homem, uma mulher e uma crianca do Sri Lanka tentam se adaptar A vida na Franca vvida dos refugiados na Euro- A pavem sendo explorada com muita frequéncia pela cine- ‘matografia francesa nos iltimos anos. ‘Além de Samba, outro filme recente que aborda o tema com bastante pro- priedade é Dheepan - 0 Refigio. Mas se o primero aposta em uma narrativa mais leve e descontraida, o segundo prefere uma dramatizacéo mais nuae crua da situagio dos migrantes. protagonista do filme é Dheepan, um. membro do grupo Tigres de Libertagio daPitria Tamil, umamilicia doSri Lanka que,entre 1983 e 2009, enfrentouas tro- ppas do governoem umaluta separatista no norte ¢ no leste do pais. Quando a guerra termina com a derrota de seu mca grupo, ele se une a uma mulher desco- nhecida e uma crianga érfa, fingindo constituir uma familia para tentar um visto de permanéncia na Franca. ‘Ao chegar em Paris, os trés passam a viver juntos, como uma verdadeira familia. Dheepan consegue umtrabalho como zelador de um conjuntohhabitacio- nal no subiirbio da capital francesa. 0 condominioé barra-pesada, dominado porgangues de trafico de drogas. A mu- Ther passa acuidar de um idoso doente, onde também vive um traficante que acaba de sair da prio, Enquanto isso, a garotatenta se integrar entre os colegas na escolae aprender 0 novo idioma. ‘Atrama se desenvolve em torno desse falso micleo familiar. A tentativa dos dois adultos que mal se conhecem em se adaptar a uma dificil convivéncia e tentar ajudar na criagio de uma garota 6rfi confere um desafio a mais na vida desses refugiados. Além disso, o fato de 0s trés viverem na periferia em meio & ‘violenta disputa entre traficantes torna a situagao ainda mais extrema. ‘Vencedor da Palma de Ourono Festival de Cannes de 2015, Dheepan tem como principal mérito equilibraradelicadeza do drama familiar dessesrefugiadoscom acrueza daguerraentreas gangues. Sob um registro que muitas vezes beira o documental, o filme é um étimo com- plemento ao extrovertido Samba como estudo da crise migratéria na Europa. DHEEPAN - 0 REFUGIO Direglo| Jacques Audiard Ano|2015 QUADRINHOS Aditadura em tracos criticos Duas obras com fatos e horrores da ditadura militar, em charges e quadrinhos historias reais de estudantes, A militantes politicos, guerri- Ihefros e Iideres rurais e in- digenas presos, torturados e mortos por agentes e militares da ditadura (1964-1985) ganham no livro Notas de um Tempo Silenciado umanarrativa jornalistica em quadrinhos, com texto e desenhos de Robson Vilalba. ‘Sio13 histérias curtas, reconstruidas apésum extenso trabalho do autor em entrevistas com sobreviventes, amigos e familiares das vitimas, autores de biografias, historiadores e pesquisas para conseguir, inclusive, fotos para desenhos realistas dessas pessoas. Asprimeiras oito histérias reportadas por Vilalba foram originalmente publi- cadasnna série Pitria Armada Brasil, no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba. Elas receberam o prémio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos 2014, organizado pelo Sindicato dos Jorna- listas do Estado de Sto Paulo. Paraeste livro, porém,o autor acres centou outras cinco produgSes, com destaque para 0 avango agressivo dos militares sobre as terras indigenas, a criagao de um presidio para indigenas e de uma guarda rural indigena pela Fundagio Nacional do indio (Funai) treinada para torturar lideres dos in- dios. Um capitulo final Salvadores da Patria) resgata o histérico dos golpes como uma heranca maldita dos mili- tares, iniciada com a Proclamago da Reptiblica até chegar ao golpe de 1964, e sua influéncia do positivismo. 110 ceaTuauoanes|rsemesve 016 ESTANTE rr Aobra éenriquecida com uma repor- tagem sobre a eclosio do movimento negro Black Music nos anos de 1970 no Rio de Janeiro ea repressio a alguns de seus expoentes, além de intimeros de- poimentos sobre cada histéria revelada, entre os quais o da psiquiatra Maria Rita Kehl, que integrou a Comissio Nacional da Verdade. ‘Jao arquiteto e artista plistico Luiz Gé aborda o tema com bastante ironia emseu livro Ah, Como Era Boa a Di- ‘tadura. A obratraz charges publicadas pelo no jornal Fotha de S.Paulo a partir de 1981, sobre fatos politicos, econémi- cose sociais dotiltimo governo militar, odo general Joao Baptista de Oliveira Figueiredo. Luiz.Gé explora fatos como "A CATARATA CEMITERIO QURAN aexplosio da divida externa, aderroca- da econdmica ea chamada estagflagio (estagnagao econémica simultinea a desemprego com taxas de inflacio es- tratosféricas) — resultado da submiss&i dos militares a imposigao de politicas recessivasppelo Fundo Monetario Inter- nacional (FMI) -, as armagies politicas ‘que impediram a volta de eleigdes dire- tas para a Presidéncia ja em 1985 e os personagens politicos daqueles anos. Textos introdutdrios no livro, e na abertura de cada ano, situam o leitor mais jovem sobre fatos e aspectos do periodo para ajudar a entender aironia das charges. Além de um texto conclu- sivo, Luiz Gé agrega uma galeria dos principais personagens, em que revela seu talento para fazer caricaturas. NOTAS DE UM TEMPO SILENCIADO ‘Autor Robson Vilalba Editora BesouroBox, 103 piginas ‘AH, COMO ERABOAA DITADURA ‘Autor Luiz GE Editors Quodrinhos aia, (Companhia das Letras, 288 pias. QUADRINHOS O polémico Iraem foco HQs belas e emocionantes abordam a opressio sofrida pelo povo iraniano Ir éum dos protagonistas do Oo cenério global, sobretudodes- de a Revolugao Islimica de 1979, Sua importincia econémica vem do fato de que possui uma das maiores reservas mundiais de petréleo. Politica- mente,opafs éum dos lideres do mun- do islamico, em tenso com os Estados Unidos e os paises ocidentais ha mais de trés décadas. Em anos recentes, vive emconstantetensio interna externa. Esse cendrio convulsionado 0 pano de fundo de duas excelentes historias, em quadrinhos feitas poriranianos que ganharam destaque mundial. Persépolis, aautobiografia em qua- drinhos de Marjane Satrapi,narra ahis- t6ria do paisdosanos 1970 até adécada de 1990, passando pela Revolucio de 1979 — que derrubou a ditadura pré- BUA do xé Reza Pahlevi e implantou aatual repiiblica islamica. Nanarrati- va de Satrapi, publicada no Brasil em 2007, 6 como seo povo iraniano tivesse pulado da frigideira para o fogo. Marjane tinha 10 anos quando se vviu obrigadaa usar véu eaestudarem uma sala de aula sé de meninas. Erao resultado do Estado religioso erguido no pais, com sua atmosfera sufocante © autoritéria. Persépolis aborda, com hu- mor leve eirénico,o diaa dia opressivo dos iranianos, convivendo com tortu- ras, assassinatos, pressio nasescolase ‘a guerra contra o Iraque (1980-1988). (O impacto da obra Ihe conferiu re~ pereussio mundial e muitas premia- es. Persépolis foi escolhida amelhor 112 ceaTuauanes|rsemesve 2016 ESTANTE EU NAO SABIA DiREITO 0 QUE PENSAR DO | ERA MUITO RELIGIOSA, MAS, JUNTOS, EU E MEUS PAIS ERAMOS BEM MODERNOS E AVANCABOS, histéria em quadrinhos de 2004 na Feira de Frankfurt. Sua versio cine- matogréfica venceu o prémio do no Festival de Cannes de 2007. Mais recentemente, osleitoresbrasi- leiros puderam ver 0 Paraiso de Zahra, publicado em 2011, cujos autores sio anénimos, com pseudénimos de Amir e Khalil. Trata-se de um retrato can- dente da sociedade iraniana, em um ‘momento recente:o Movimento Verde, em 2009, em que milhares de pesso- as tomaram a Praca da Liberdade, em Teerd, acusando de fraude as eleicdes que reconduziram o entao presidente ‘Mahmoud Ahmadinejad ao cargo. Mais, de70 pessoas foram mortas pela policia 4 mil foram presas. Ahhistériacomeca como desapareci- mento do estudante Mehdi Alavi, de19 anos, nos protestos. Suamie, Zahra, € seu irméo, Hassan, vio a pragae ficam sabendo da violenta repressio. Come- camentioumaangustiante busca, que se estende por semanas, pelos labirin- tos de hospitais, reparticées piiblicas e prisdes — em busca de Mehdi. £ uma -viagem pelas entranhas do regime che- fiado pelos aiatolés. © Paraiso de Zahra é uma obra em quadrinhos prodigiosa, magnifica mente desenhada, que fala muito da realidade do Ira, complementando a histéria de turbuléncias e instabilida- des retratada em Persépolis. Juntas, as publicagées atuam como registro daluta permanente pela liberdade em um pais marcado pela opresséo. PERSEPOLIS ‘AUTOR Marjane Satrapi EDITORA Companhia das Letras, 352 pginas © PARAISO DE ZAHRA ‘NUTOR Aric & Khali EDITORA Leya,272piginas TAY m 2015, mais de 1 milhio de migrantes e refugiados che- garam & Europa cruzando as Aguas do Mar Mediterraneo. Outros 35 mil nfo conseguiram fazer a travessia e morreram afogados na tentativa de chegar ao Velho Continente. Mais da metade dos migrantes vém da Siria, fugindo da brutal guerra civil que de- vasta o pais desde 2011. Mas esses mimeros, ainda que im- portantes alarmantes, sio incapazes, de revelar 0 drama particular dessas pessoas que deixam tudo para tras © se arriscam em viagens perigosas para tentar reconstruir suas vidas. Em con- traposico, asimagens, muito mais que indicadores e estatisticas, conseguem 14 ceaTuauoanes| seme 2016 ESTANTE Imagens que revelam o lado humano dos problemas globais Fotos premiadas no World Press Photo de 2016 mostram o sofrimento de quem é obrigado a fugir de guerras e perseguic6es revelar o lado humano da crise dos refugiados e tentamnos aproximar da dura realidade vivida por eles. ‘Desde 1955, a Fundacdo World Press Photo (WPP) realiza uma premiacio internacional para escolher as melho- res fotos jornalisticas do ano, Aimagem que vocé vé acima éagrande vencedora deste ano na premiagio da WPP. Ela ‘mostra um homem passando um bebé para outra pessoa por baixo de uma cerca de arame farpado. ‘Aimagem foi registrada pelo fotdgra- fo australiano Warren Richardson no dia 28 de agosto de 2015, na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Os dois pai- ses fazem parte da rota que milhares de migrantes vindos do Oriente Mé- dio tentaram cruzar, cujo destino final ‘era aAlemanha. Segundo Richardson, ‘que acampou com os refugiados, essas pessoas tentavam chegar & Hungria antes que a cerca de seguranca esti- vesse concluida. O que mais impressiona na foto é a forga que a imagem em preto e bran- co transmite, mesmo com poucos ele~ mentos, Norosto do homem é possivel perceber a tensio ea ansiedade do mo- ‘mento, 0 bebé nos remete ao sofrimento das criancas que sio obrigadas adeixar seuslares sem entender direito por qué. Por fim, a cerca de arame farpado tem © poder de simbolizar as restrigdes a ‘que os refugiados so submetidos e as bbarreiras que precisam superar. Imagens de desespero ‘Aimigragioé umassunto que tem apa- recido com frequéncianos vestibulares, ealeituraeaintepretagio de fotos como avencedoradoconcurso da WP podem ajudarbastanteno estudo de atualidades. Na premiacao de 2016, tiveram bas- tante destaque as imagens da guerra civil na Siria e a fuga dos refugiados das reas de conflito. A foto acima, do fotdgrafo sitio Abd Doumany, mostra ‘uma garota ferida em um bombardeio realizado pelo governo da Siria. Ao lado, a imagem captada pelo russo Sergey Ponomarey revela a situacio dos mi- grantes quese amontoam em pequenas embarcagées para chegar & Grécia. Mas a premiagao da WPP nio ficou restrita ao tema dos refugiados. Outras, imagens vencedoras abordam grandes desafios do mundo contempordneo, comooaquecimento global, aepidemia de ebola, a violéncia contraa mulher e a exploragio do trabalho infantil. No site da WPP, vocé pode confe- rir todos os premiados desta edicao: hittp;//wwwaworldpressphoto.org/ collection/photo/2016. @ Na guerra entre o regime sro, rebeldes e extremistas, a populacio ficano melo de um violento fogo cruzado. Acima, a Imagem mostra uma garota sia ferida em ‘bombardelo das forcas do governo, em tratamento em um hospital improvisadona cidade de Douma, Multas pessoas ndo suportam a situacSo e decidem abandonar o pals, como mostr Imagem abalxo de uma pequena embarca¢do chegando avila de Skala, nalha de Lesbos, na Grécia. 46 a foto premiada, na pagina ao lado, revelaos obstdculos que os refugiados recém- ‘chegados & Europa sto submetidos para conseguir recomesar suas vidas. eros naoxhoverioemssroro mi ATUALIDADES|1¢zemenr 206 15, PONTO DE VISTA Te Ue eee cen ete Retrospectiva 2015 A pany Ys © VEIA ‘Uma oto om primeiro plano do rostodojulz Sergio Moro, res ponsivelpelasinvestigngses da operacioLava Jato Ele aparece sérioe comum olharassertivo. Almagem ganha ainda maior destaque devido ao fundoescuro.Essafolaescotha de Veja para lustrara sua Retrospectiva 2015. ‘Abaixo da foto, a chamada principal afrma: “Ele salvou o rmanchote suger que 2015 fl rum, mas taveum grande €iniofato postivo (que salvou o ane) - dala public foto tnica na capa eo fato de a reportagem sobre ojulz, na retrospectiva, ter nove péginas, enquanto todas as demals receberam duas paginas. manchete vem otexto, que confirmaa intencio do jutz: “aja pesquisou 2300 sentencas que Sergio Moro lavrou nosikimes quinze anos eficlinca do jlz que jenceracorrupgao" ‘como sendo a primeira esperanca real ~, também expressa aldelade que isso seria Incontestivel, polsfol resultado deum exaustive trabalho Jomalistico que levou em consideragao 300 sentencas. 116 GeATUALoADES| seme 2016 2OT6 oaepaeme © ISTOE Chama atengio a auséncla de uma grande Imagem ou deum forte texto na capa, em que predomina, simplesmente, a cor passar em branco. Faga um ano methor!”. ‘Assim torna-se clara arelacioda capa branca coma primelra rte da frase, que faz referencia a Perspectiva 2016. Nessa apresentadas cinco reportagens sobre alguns dos ‘eventos do ano que seinicia, como os Jogos Olimpicosno Rio. de Janeiro e as elelgies nos Estados Unidos, que po segundo a revista, “construir um ano melhor”. Nessa frase, ‘assim como ocorre nas outras trés revistas, hd uma critica _a0 ano que passou. Mas diferentomente de Carta Capital ede Veja, hduma conclamagio direta para se fazer um ano melh Entre os outros semanarios, aIstof é a nica a trazer tanto ‘uma perspectiva de 2016 como uma retrospectivade 2015. Os fatos do ano que passou sio chamados numa tarja na parte superlor da revista (Retrospectiva 2015), com pequenas im: ‘gens de pessoas que protagonizaram alguns desses acontect- ‘mentos - como Dilma, Eduardo Cunha, ativista de movimenos feministas e Minelrinho, o atual campeio mundial de surfe. Retrospectiva e perspectivas para 2016 Como as principais revistas semanais do pais fizeram um balanco de 2015 e apresentaram as eerie parao ano novo OFATO s edigdes de final de ano das As= principais revistas se- anais brasileiras - Carta Ca- pital, Epoca, Isto e Veja-trouxeram, como de costume, uma retrospectiva do ano que passou, com os fatos € os personagens que ganharam destaque no periodo e asperspectivas parao ano queseinicia nas diferentes areas, como politica, economia, cultura e sociedade. A operagio Lava-Jato e a atuagao do juiz Sergio Moro, acrise politica do go- ‘Yerno Dilma,a questio dos refugiados, as manifestagées feministas, a tragédia ambiental em Mariana e 0 avango do zikavirus, entre outros acontecimentos que marcaram 2015, estiveram napauta dos semanarios.E oolhar para o futuro ficou por contade buscar solugées para questies como a crise econémica, 0 cerescimento do desemprego ¢ os em- bates nas redes sociais. © EPOCA ‘ho contrarlo dos outros rés semanatos, a Epoca nio fazuma retrospectiva de2015.Arevista investe numa edigio especial discutir Ideas e assuntos que estario na agenda brasileira em 2016, como a crise econémica, a Go Lava Jato eas polémicas nas redes socials. Usando cores fortes, como vermelho em contraste como so, 0 urgencia,usao titulo *Gula de Sobrevivencia” parasereferiraonovo ano. A.expressio 6 grafada om grandes letras, que ocupam boa parte da capa, © ano 2016 aparece em preto, ae fundo. ‘Aidala de apresentar um gula de sobrevivencia étrazer a0 lettor um manual de como comportar-se ou agir perante as sltuagBes que esto por vir (note todos os verbos no futuro): “Ocusto de vidavalsubr,odesomprego val aumentar, oapo- nes da Federal em referencia ao agente Newton Ish chefe do cleo de Operagées da Policia Federal em Curitiba] val acordar 5 poderosos eos brasielros continuario a bigar nas reds socials’, diz o texto que complementao tit ‘Achamada termina com a frase “Salba como cilbatatha do nove ano”, comprovando a necessidade de um manual frente Aum canérlo complexo. gE ledighogjespecial| s°— cones ‘Amanchete “Rir para Nao Chorar”, no centro da capa, traz ‘a ldela de que-2015 fol marcado por acontecimentos ruins. Reforga esse pensamento a frase que complementa o titulo principal “Memérias e Imagens de um an« comegado. E2016? Bem, 2016...” Ouseja, 0 acontecimentos indesejados que seria melhor que nem tivesse ‘exlstido, O somandrio demonstra ter a mesma expectativa(de ‘mas noticias) em relagao.a 2016 a0 sereferiraonovo ano com ‘uma interjei¢ao (berm) e reticencias. Completa o sentido humoristico a presena dos emojis que fazer referéncia aalguns acontecimentos do ano, comoos fatos, que envolveram a presidenteDilma Rousseffbonequinha com ‘os dentes mostra afalxapresidenclal), os panclacasIconeda ‘se anuncla a edigo especlal, mals uma ver trazendo de forma bem-humorada a idela de um ano negativo. GGEATUALIDADES|1¢cemexr2016 17 IstoE divulga delacdo de senador Como os trés principais didrios do pais repercutiram a suposta revelacio de que Dilma e Lula interferiram na Lava Jato OFATO m3 de margo de 2016, arevista E Isto publicou reportagem em que afirma que teve acesso 20 termo de delagao premiada do senador Delcidio do Amaral (PT-MS) ao Ministé- rio Pablico Federal Eleacusa apresiden- teDilma Rousseff eo ex-presidente Luiz Inécio Lula da Silva de envolvimento no esquemadde corrupgio da Petrobras ena tentativa de impedirasinvestigacéesda Operacio Lava Jata Ex-liderdo governo no Senado, Delcidio do Amaral foi preso emnovembro de 2015, ele mesmo acusa- dodeinterferirna LavaJato.Segundo a Isto, em de fevereiro de 2016, quando passou a cumprir prisio domiciliar cle teriafeitoo acordodedelacio premiada, emqueo acusado contao quesabee, em troca, recebe beneficios, como redugio dapena.O senadoremitiunotadizendo que nfo reconhece a autenticidade dos documentos divulgados pela revista. Nomesmo dia, o resultado do PIB em 2015 ea votacio de acéo penal contrao presidente da Camara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também foram noticias. 118 GATUALDADES|*semeave 2016 PONTO DE VISTA _FOLHADE S.PAULO Exlider do governo liga Dima e Lula a Lava ato, e oposigdo pede rentincia © FOLHADES.PAULO ‘A Folha trouxe a manchetorelaclonada ao fato-“Exider do ‘govern liga ilmae Lula Lava Jat, e oposigo pede retin parva parte superior da sua capa. Ao contrérlo do Estado @ da Globo,ndo colocou onome do senadorDeletdlonotitulo (mas apenas no texto ababcoda manchete) e preferhiusaraexpressio jo nos partidos de opesiga, que menclonaram Incluira delasaono pedidodeimpeachment. (Jomalreproduzisas acusagSescontra Dlma(“tentou interfere ‘trés vezesna operagaocomajuda de José Eduardo Cardozo, entao ministro da Justiga) e Lula (“Delcidio intermediou, a pedido d Lula, propina a0 ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveré para tentar evitar a sua delacio"), citou algumas consequéncias da ddeclaragio (como a subida daBolsa ea queda do délar)eincluiu ‘que “devem dar forgaa protestos anti-Dima’. ‘Chama atengioaarticulagao das duas fotos presentesnacapa: ‘a dorosto parcial da presidente Dilma emprimetro plano (emque ‘aparecem apenas seus olhose nariz) ea que mostrasomenteos labios costurados deum refugiado iraniano, que vemum pouco ixo, formando uma unidade. A Folha noticiou a queda no PIBna parte nferior da pagina, mas com um certo destaque, e afirmou que 0 plor resultado desde 1990”. Nao houve mengao “noticia sobre Eduardo Cunha-acapadodiaanteriorjéhavia adiantado que a maloria dos ministros do Supremo Tribunal Federal havia votado pela abertura da aco penal. © GLOBO Delagao de Delcidio poe Dilma no centro da Lava-Jato Frat soease | Det nrane Msn Reeinesinss angestana te lange ch [aegis 91% 4% agit © 0GLOB0 Nojornalcarioca,adelagao de Deledlo também ganhou espa- sp nobre, ocupando cerca de trés quartos da pégina. Uma foto de Dima em primeiro plano, com um ohar triste, mostrava, 20, fundo,oex-ministr da Just¢a, José Eduardo Cardozo, que cum- primentava um colega ao se despedirdo cargo. Adela que Dima ‘std s6 fol reforada pela forte manchete “Delagio de Delcdlo Dilma no centro da Lava-Jato Diferentemente da Folha ¢ do Estado, Globo nao colo titulo; apenas o mencionou ‘um ministro do S1J paratentar soltaro: Odebrecht e Otivio Azevedo” e que “la dades na compr pletam o conjunto de informagées sobre a delagao foto personalidades envolvidas, como Delcidio, Dilmae Lula, eum pequene resumo da atuagao do senadore das acusacoes que residente eo ex-presidente. ‘Anoticia sobre Eduardo Cunha velo logo abaixodo conjunto de Informagées sobre a delacao de elcidio, comotitulo “Por tunanimidade, Cunha viraréino Supremo’: Jé 0 recuodoPIB jerdida”) contou com a indicadores negativos(recessio historica, queda dos investimentos, tombo na indistria), reforgando “o plor resultado desde. confisce deCollor” eas professes fltas (novo tombo de 4% este anoe recessio como a da década de 80). ESTADO DE S. PAULO Delcidio acusa Dilma e Lulana © O ESTADO DES. PAULO jojomal sobre a suposta delacao de Delcidio - ‘que também mereceu amanchete principal eo malor espago sidente Dilma, Amanchete 6 se- methante a da Folha, que traz onome de ambos, mas, notexto da capa, 6 cita residente ssadena”) ,enquanto sok duas (“atuou para evitara delacao de Nestor Cerveré eIntermediot jgamentos a familia do ex-diretor da Petrobras em troca do silénclo dele” e“trabalhouparafrearas InvestigagSes da CPI suposta compra de MPs”). Afoto de Dilma - nica Imagem da capa - sugere certa fragilidade da presidente, a0 mostré-la abragando 0 ex-ministro da Justica na cerlménia de transferéncia de cargos. Além do texto qui noticla principal, outras duas chamadasrepercutema delagao impliam a cobertura: “Planalto critica ‘vazamentos como arma politica” e “Oposigao reforga pedido de rendincia’ ‘Assim como 0 Globo, o Estado também traz na capa a infor- ‘que Delcidio nao confirmou aautenticidade dos docu- ‘mentos da reportagem da revista stof - a Folha s6menclona ‘esse fato na reportagem intern: ( jomal ainda destaca na capa a queda de 2,8% doPIB eo GGEATUALIDADES |1¢semesre2016 19 DESTRINCHANDO Peat OO ee a eC oD ese NUMERO DE PAISES PARTICIPANTES POR ‘AS CIDADES-SEDE POR CONTINENTE CONTINENTE E EDICAO DOS JoGOs* m0 Inala paoslemaesnal ‘Guerra Mandal Bg da ‘trac nesJoges de 30, na ‘Antuirplacenige aerusto deAlmanha, Austria, Hungra,BlgriaeTarqua- abs derotados no confit. ~ WE: m5 m0 wees ‘MUNDO Dos ‘IMPERIOS ~ 1900 No inci dos jogs daeramodema, ‘mundo oradominae pels potncas Impaialistas. principal erao Reino ‘nid, que mann cldias emtodos scontinentes,Multas esas ptindas cobrigavamatletas deoutras napbes2 defendas, como armdnios que tiveram ‘quecompetir como turosecoreanos {ovgados usar nomesaponeses. ee Lig eo & peat bs oo mae | Oo ey wa ws 1s forumdicte —onbdiirtomdo bce Seetcen Seeeeaen Smee ners Cees) wenece ae Satie: tecvaes laeronas, ee See. cece ee San ee ES cece feces ‘Angeles levam 6oo atletas, _afre-americano Jesse ‘Guerra Mundial, Aes rk) meen ene Asterd woe EI 1M unis Eine ahve Apa Pa Ansan shapes Bain aia Perr a 1982 ‘smoimertosnaconals ras clas dae gnham apna patrdos anesa9s-oqueserefte aumento de acaos os jogo seins. Em a diputacomos Eats Unidos ola emonia nuda passaasertravada também sport, Vejao que as Olimpiadas téma ver coma geopolitica, o desenvolvimento social ‘econémico e a urbanizacao por Wiliam Taciroe Muit/SP in 176 Ogrpoterorsta palestine zapasesahicanes dam SetambroNeg atacaa,—_osgorem protest cara dlegaiodelraelmavlaaNovaZelndjotine colimpia,ondematadoise derugh fer uma turd de Arado Su, yembarea sJogos Olimpicos que os aristo- cratas europeuscriaram no final do século XIX era um festival atlético com repercussdes modestas. ‘Mas perto da I Guerra Mundial, os Jo- 0s jé eram explorados em um ambito ‘que extrapolavaa performance esportiva. ‘Ver compatriotas desfilarem com sua bandeira pela primeiravez numa ceri- méniaolimpica tornou-se um momento de celebracio histérica em mais decem ‘ranking de medalhas passou aser visto comouma demonstragao de, re or- gulhonacional, eaaimaoereen as conquistas sociais e econdmicas do pais. Ser anfitrigio dos Jogos virou uma ‘oportunidade para paises promoverem reformas urbanisticas na cidade-sede ‘elustrarem a imagem internacional. ‘Acompanhe abaixo a evoluco no mimero de participantes e como os -comités olimpicos e os Jogos se tor- paisesque conquistaramaindependén- naramparte importante da geopolitica cianesse tempo. Obomdesempenhono internacional. 0902984 109% ams ‘evi invaste do ‘amo desmemramento da URSS Dos pies fro eta ‘Mepanstio pela RSS os em novos pass eaadesode ‘lmpcan i dane: EUAlideramum bicte _-malspalsestrianas20 Ol os ‘Suds Sl qua O dinheiro da as cartas ea so e Olimpiadas de Londres, no planeta olimpico Bae poate stares Coubertin. E paraa maioriadasnagées, Como a forga do capital e dos investimentos sociais afastam os __principalmente aquelas que nio estio paises mais pobres das conquistas e limitam o pédio olimpico.a —_nogrupodosdesenvolvidos, opapel nos ‘uma pequena elite esportiva - e financeira ‘Jogos fica restrito mesmo acompeticio. ANAMORFOSE: 0 MAPA DISTORCIDO: ‘stemapa é dferent daquolesplanistries aque vot et acestumado. ‘Tatas de uma anamertse- uma repretentaeo cartopfica que «store o tama eo tracado ds pases para reforcaro ete. ‘comparative aresplt do tema apresentado. est caso,o mapa mostra ‘come sera o mundo se 2 re dos ples ose properional av nimer de ‘modalas ganas nahistla dos ops. planeta, sua rea é que ‘capa malo esp, ‘efletindo suas conaustas OPLANISFERIO REAL Paater uma dls do quo stridasforam as eldos ‘do artograma das madahas,compareo com stout mapa onde a rea dos pases 6 proporconal 2s seus ‘erste, ‘reaper pats (roles equietanguar) Isso porque o pédio costuma ser uma rea limitada a uma elite esportiva que, nfo por coincidéncia, também sao os paises mais ricos. Entre as cinco naces, quemais ganharam medalhas nahistoria, quatro esto no G-7 (grupo dos paises mais ricos do mundo): Estados Unidos, Reino Unido, Frangae Alemanha. usps saab Ord deta tortata Arte rteauna wert onap Osaltos investimentos em educagio, co incentivo a pritica esportiva para as, ceriangas e as boas condicdes de vida paraa populaco acabam tendo refle- xos diretos no quadro de medalhas. ‘Namaioria das vezes, os paises me- nos desenvolvidos acabam dependendo do talento e do esforgo individual dos sts Note comoas dimanstes tents da Asta sto ‘bom proprconalssu2 Importinca no quatro de _medalas-porisio ela no PIB VERSUSMEDALHAS Este rfc de disperse mostra uma darareacdo ‘ne oProduto intro Bat 1B) ¢ ‘esempentolipie. Os pnts lcalzados no toate ‘Antes, 2 grande partedos ‘indo e vottande do emprego. — =: ‘removides vivia @ _ eos 24 ccATUALADES|rsemeste 2016 deixam para cidade-sede uma sériede benesses em termos de infraestrutu- aque compensam qualquer impacto econdmico, social e ambiental. Os Jo- gos de Barcelona, em 1992, sio sempre Jembrados como um exemplo de como a realizagio da Olimpfada trouxe me- Ihorias urbanisticas paraacidade-sede. ort Maratha ‘Arotalzaie dana portusia no cenr strc, Insiraa am projets como 0 dePuerto Madero, em Buenos ‘ies, quer tra turistase Investors internacional, e © si ° (gm datii (MEGARREMOCOES OLIMPICAS Desde Sul mais dea miles de pesiastieram as casas demolidas para dar ugar alga climpicos” Alantaasgs ———0 i pssonsremovidas 30m se smudam pela ata do cast de vida provecaa pla valoizato da rea acalona gg 62 familias desapropriadase altano custo da moradla xpusou outros mihares Mas ha um outro lado nessa hist5ria, (Os Jogos de Seul,em 1988, por exemy io celebrados portransformar acapital sul-coreana emumamodernametrépole, ‘masa organizagiodemoliuo lar de720 mil pessoas.Segundo aONU, foi uma das ‘mais violentas politicas de remogGes ja realizadas no mundo. eropr Irena Tobin See tia ) pe hace ‘Mesmo assim, expulses em massa tornaram-se rotina durante as obras que precedem os Jogos. Ainda que a maioria das remogdes se dé em acor do com leis locais, elas sto notérias por afetar principalmente pobres e minorias, Veja como o Rio esta sendo impactado por essa politica. TOTALINVESTIDO No PROJETOOLUMPICO RS 39 BILHOES Sa RS 24,6 BILHOES: bras de ead Netade dsovalpara ‘bras etanpote Para oPor Marah, mein dos ths da dade 4d “hp limp quse RSE ew NF oma q 7 Shee a SpE RILHOES cra ps5 cra 797 BILHOES — sam lnsalgs spats $30 MILHOES (eta) Devore 0 MILHOES a ren TABILHOES TO MILHOES ints — pero do event sais de almentct, osptagem, 400 MILHOES ‘nome pao ==. et undone evaluntis ee Seulsget ‘romllpeseas despa, amalra Sem reloaonemlndeiacio equinaeds | e o/s sno de pases remot pelo goero Asta eadvopdos Aonckes2e 204 ‘us dtd moradors 0 press ‘sepesseas ds ponos 7 milpesoada romaeliandls enaroma,um ds Sdn a00 sdnaesiorenoias_povscanhecles Nowe remotes fora, mas ee cae fares foram expsas plata Parque line remondas roscusts dre EATUALIDADES|1¢cemenr 2016 25, Poy etry reece Peet ee ‘em video que crore) Pees ce ce nsnsner enna occcccasncrersana nasa cccscececrcncececesaiasn nase Cee o4 Se Conhecido pelos métodos brutais, o Estado Islamico amplia a sua atuacdo ao organizar atentados na Franca e em outros PLU MSE eB me ROR k Coeur ekonomi Re CCE seguranga mundial e desestabiliza o Oriente Médio Se See ec ea eee eee a eee eed ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO Por deniré do. Estado Jslamicd vasta rede de recrutamento e de financiamento para as suas operacées. Entenda como funciona a organizagao noite de13denovem- bro de2015,uuma sex- ta-feira, nfo serd es- quecida em Paris tio cedo, Surpreendidas quando se divertiam emumaregifo de bares e restaurantes, dezenasde pessoas sofreram um ataque brutal, mais mortifero na capital fran- cesa desde aI Guerra Mundial (1939- 1945). Em ago coordenada, terroristas, posteriormente identificados como integrantes do grupo Estado Islamico (EDatiraram aesmoouseexplodiram, provocando a morte de 130 pessoas, a maioria na casa de shows Bataclan. Disparos atingiram outras vitimas em mais quatro locais. Além das mortes, pelomenos 352 pessoas ficaram feridas. Emdeclaracao ficial,o Elreivindicou aautoriada ago. Paraanalistas,trata-se deumaretaliago contra papel desem- penhado pela Francanosataques aéreos na Siria e no Traque, paises nos quais 0 EI ocupa vastos territérios. A Franga 6 a mais constante aliada dos Estados Unidos (EUA) na guerra contra ogrupo. Nao foi atinicaagio do EI no periodo. ‘A faceao assumin também a autoria do atentado a bomba que derrubou um avido russo da companhia Metrojet, em 31 de outubro, no Egito, causando a morte das 224 pessoas a bordo. Em Beirute, no Libano, um ataque com OQ ox 6 ) homens-bomba, em 12 de no matou 44 pessoas, em outra do grupo. Nos EUA,em 2de dezembro, tum casal, supostamente vinculado a0 EI, atacou a tiros um centro de trata- mento de pessoas com deficiéncia, na Califérnia, matando 14 pessoas. O EI realizou, diretamente ou por intermédio de grupos associados, outros ataques na Tunisia, na Nigéria, na Turquiae na Indonésia. Esses atentados marcam uma mudancanaestratégia da organizacao, que agora ampliao seu raio de ago, an- teriormente limitado ao Oriente Médio. AGUERRA AO TERROR Comum vasto territério que abrange reas do Traque e da Siria, um enorme poder demobilizagdoe uma eficiente ca- pacidade operacional, EI éconsiderado aorganizagao extremista mais poderosa cebem-sucedida dahistéria. Suaascensio esté diretamente associada apoliticade “Guerra ao Terror” implementada pelo entio presidente norte-americano Geor ge W.Bush (2001-2009) como resposta aosatentados de 11 de setembro de 2001 cometidos pela Al Qaeda, aredetterroris- tade Osama Bin Laden (veja mais sobre as intervengdes ocidentais na pag. 38). Aocupagio do Iraque como parte da ofensiva dos EUA contra 0 terrorismo, entre 2003 e 2011, teve como um dos principaisefeitoscolateraiso sungimento deum movimento local contra ainvasio norte-americana. Nesse context, surgi- ramdiversasmilicias que contestavam a presenga das ropasdos EUA. Umadelas eraa Al Qaeda do raque (AQLou Isil,em inglés), uma filial darede de Bin Laden. Criada em 2004, essa organizacio daria origem ao poderoso grupo que conhe- cemoshoje como Estado Islémico (veja linha do tempo na pdg. ao lado). IMPOSIGAO DO CALIFADO ‘Nos anosseguintes.criagZo da AQI, caosno Iraque ena Siria foi um terreno propicioao avanco do grupo: enquanto no Iraque huma sucessio de disputas politicase conflitos sectarios (entre su- nitas e xiitas), a Siria vive desde 2011 ‘um confronto entre grupos rebeldes, apoiados pelas poténcias ocidentais, ¢ © regime do ditador Bashar al-Assad. Aproveitando o vacuo de poder e de seguranga nessas regides, a organizagio foi ganhando forca, com frequentes fu- ses e trocas de nome nesse percurso. Oanode 2014 representouummarco naexpansio do grupo. Em junho, olider da organizagio Abu Bakr al-Baghdadi proclamou a criacao de um califadonos territériosocupados sobaalcunhade Es- O Estadd islamicd no Jraqué 6 Ha Siria Cee ee ence ote Co eee trey Are re Ln ee roar a rT Co) ee Pity Pepe Poet rier ans aie ne ene nd akZargansevincuaarede —-masressurgecomo Estado A Peron mn Pierre rere remy Perret eo a ee etre saci ar ce] arrears cen Pree Se nes Eee CE ak rer rc en r g Perera Perraenriny Peon aren serra Preeti Paper rena Panett en eon ieee preeterinierratr ier Peeps Eraser vertices Prrecerneeny Pri Ce Ber perinreeres Enerepiventy aaron Siiasnesheod Pere) Pvernce ry poorer aa ferent eer apn tmcalaie Port) cei rent ene Fame ocr Marl ores [eb ert oepaon ieee a eer peers ese rere part eee eet ee re ee rd Perse erreurs ar Taner rere Mert O ESTADOISLAMICO Ce ec ee Ue ee ee ed NOIRAQUEE SIRIA . Pinca cer ‘controtadas Regios contoadas WH Atacadas pelo tt FOREAS CONTRA OEL ‘andes Regimes Rebaldes conta govern sto ovens roy Ea ses aco rata eee peor tuk ot res , j er e DOSSIE ESTADO ISLAMICO tado Islimico ese autodenominou ocali- fa (um lider espiritual investido de poder politico). O califado éumareferéncia aos ntigos impériosislimicos surgidos apés a morte do profeta Maomeé - o ultimo califado foi o Império Otomano, dissol- ‘vido em 1920, No entanto, este suposto califado carece de legitimidade mesmo dentro do mundo érabe-muculmano. RECRUTAMENTO DE VOLUNTARIOS ‘A orga do EI vem principalmente de sua capacidade militar e operacional. © mimero de integrantes do EI é de dificil verificagao. As estimativas mais, aceitas indicam que o grupo aglutina zno minimo 35 mil combatentes. Mas ha avaliagdes que chegam a 100 mil mili- tantes. No Iraque,o EI absorveu mem- bros do antigo Exéreito de Saddam Hussein, desmantelado apés a deposi- go do ditador, em 2003.Além disso, a populagao sunita passou a ser cadavez mais discriminada pelo governo pré- xiita, o que levou muitos a aderir a0 grupo fundamentalista. Mas o que mais impressiona é a ca- pacidade do EI em atrair voluntitios de todas as partes do mundo, inclusive do Ocidente. Mugulmanos que vivem em paises da Europa, desiludidos com asegregncio ea falta de oportunidades, aceitam engrossar asfileiras do EI coma promessa de salvagio. Utilizando tecno- logias de comunicagio que vao de videos no YouTube a revistas online, 0 grupo ‘manipula odiscurso religiso paraincitar 0 6dio e atingir seus objetivos politicos. [30 GcATUALDADES| + semeste 016 Acredita-se que osmembrosestrangeiros (forada Siriae do Iraque) seriam prove- niientes de mais de 80 paises. ‘Como estratégia de guerra, o EI pro- ‘move execugdes eamputagdes emmassa, is vezes contra comunidades inteiras, € mortes coletivas, por crucificagio, decapitagao e enforcamento. Essa im- posigio pelo terror visa a atemorizar todosaqueles que ogrupoclassifica como infigis (minorias éticas e religiosas e ocidentais) ou apéstatas (mugulmanos que teriam renegado a religiio). Como um grupo de orientagio sunita, seusata- ques atingem principalmente os xitas. As raizes doutrindrias do EI, em sua ceruzadacontraos infigis, podem ser en- contradas no wahabismo eno salafismo, 0 Estado Islamico possui um Exército de pelo menos 35 mil combatentes, vindos de mais de 80 paises 200000 ORL HOP cvooce ‘BRUTALIDADE Cristios ttopes sto conduzides por ‘membros do Estado [slamico antes de serem decapitados, naLibia ‘movimentos sunitas ultraconservadores e radicais difundidos pela Arabia Sau- dita (eia mais na pdg. 42). Mas a orga- nizagdo nio é movida apenas pelo ddio ‘grupo pretende criar uma novaordem politica no Oriente Médio e, a partir da conquista de novos territérios, um Estado genuinamente islamico e uma sociedade livre dos costumes ocidentais. AGESTAO DO “GOVERNO” (OETcontrolaum tervtério de aproxi- madamente100 mil quilometros quadra- dos, rea pouco maior queade Portugal. Nesses dominios, onde vivem entre 8e 10 millhdes de pessoas, o grupo assumiu ‘© controle de bases militares, bancos, hidrelétricas, campos de petréleo egal- pées de alimentos, além de instaurar um governo proprio, com ministérios, cortesislmicas aparato de seguranga, ‘Atua, assim, como se fosseum verdadeiro Estado, impondo a sua castica ordem. ‘Avvenda de petréleo extraido dos territérios que ocupa é uma das prin- cipais fontes de financiamento da orgi- nizagio.O contrabando do éleo paraa Turguia- onde é vendido.a pregos bem abaixo dos de mercado ~ proporciona ‘uma rendaestimada entre e3 milhdes de délares por dia. ‘Outras formas de obter recursos sfo: a doagio de individuos e instituigées, principalmente da Arabia Saudita edo Catar, recompensas por estrangeiros sequestrados, 0 trifico de milhares de objetos arqueoldgicos e antiguida- des histéricas, a explorago de outros, recursos naturais, como 0 fosfato, © a cobranga de impostos e taxas das populacées submetidasa seu dominio, ‘Aexpansodo poderdo EI levou va- ras facges fundamentalistasadeclarar lealdade ao califado. Estima-se que se- jam atualmente pelo menos 30 grupos, de quase 20 diferentes paises. O grupo nigeriano Boko Haram, consideradoum dos mais violentos do mundo em 2015, foium dos que juraram lealdade ao EI. MUDANGA DE ESTRATEGIA Analistas avaliam que os atentados dofinal de 2015 marcam uma mudanga de posicio importante do EI. Desde que surgiu, o EI buscava atrair combaten- tes num territério que conquistou, no Oriente Médio, e chamar os islamicos de todo o mundo a jurar obediéncia a seu califado. Ao organizar ou apoiar ages terroristas no Egito, no Libano, na Frangae nos EUA, o grupo passou.a também projetar-se para fora da Siria e do Iraque, tendo como alvo alguns dos principais paises que desenvolvem ages contra a organizagio. s atentados mais recentes indicam que varios dessesmilitantes do El foram enviadlos devoltaaseus paisesde origem, para organizar atos terroristas. Toda a ago dos atentados de Paris teria sido organizada por integrantes do grupo que moravam na Franca ou na Bélgica. EI também comeca a se expandir na ocupagio de outros territérios. Em 2015, ogrupo chegouatéaLibia,nonorte da Africa. Como na Siriae no Iraque,o ‘grupo aproveitou-se da fragilidade do Estado libio, onde hé disputas entre dois sgovernos distintos. Estima-se que o EI tenha pelo menos 1,5 mil combatentes na regido em torno da cidade de Sirte. ARESPOSTA DO OCIDENTE Oavango do EI, principalmente apés 1 proclamagio do califado em 2014, le- ‘vou os EUA a comandar uma coalizio formada por cerca de 40 nagdes para realizar bombardeiosaéreoscontrabases, da organizagio terrorista. Os ataques, que comegaram em setembro de 2014, produziram resultadoslimitadase foram intensificados apésos ataques em Paris. Entre dezembro de 2015 e janeirode 2016, o Exército iraquiano retomou a cidade de Ramadi, que havia sido cap- ee! E1, DAESH, ISIL OU ISIS? NOME E MOTIVO DE POLEMICA © uso do nome Estado Iskimico (El) para designar o discussao entre especialistas e governos que estao empenhados em combaté-lo. 'deum verdadelro Estado, multos dizem ‘que chamé-lo pela denominagao que ele proprio se atribulu seria legitima- la ampla matoria dos mugulmanos, que Como se trata deum grupo terrorista, isso, avinculagao slamica 6 repudlac iio se reconhecem nas ages do grupo. rupo fu smentalista 6 objeto -Algm Muttos governos, como oda Franca, utlizam o nome Daesh, que vem da contragao do um de seus nomes anteriores (Estado islamico do Iraque e do Levante) em éral Al-Dawla al-slamiya fil raq wa'al-Sham. 0 termo, re alavra ar Seu uso seria uma forma de desqualificar a organizagi Inimigos do grupo porque o som lembrs tado pelo El, 6 utilizado por ‘que significa “destruldor”. ‘Autoridades norte-americanas costumam usara siglalsil,equivalente em inglés do ‘mesmo nome antertor, mas o préprio presidente Barack OF do, John Kerry, Jase referiram ao grupo pelo termo pejorative D 1a eo secretario de Esta- sh. Exist, ainda, 0 ‘terme isis -uma tradugo alternativa que significa Estado Islamico do raqueee da Sila. turada em maio pelo EI. Ramadi fica 2100 quilémetros da capital, Bagda. Os bombardeios da coalizio também fizeram oEI perder territériosna Siria eno Iraque. Embora tenha sido um avango nalluta contrao grupo, analistas, avaliam que seré muito mais dificil a recuperagio de cidades maiores, como Ragga (Siria), Mosul e Faluja (Iraque). 0 objetivo imediato dos EUA nao é extinguir o EI, mas conté-lo, reduzindo co espaco geografico sob seu controle. ‘Umesmagamento completo do grupo 6 considerado praticamente impossivel sem uma grande intervensaoem solo, que é de dificil execugio, tanto militar quanto politicamente. Apés as fracas- sadasintervengdes no Afeganistio eno Iraque, realizadas durante a Guerra a0 ‘Terror na década passada, politicaex- terna de Obama tem sido pautada pela cautela quando settrata de intervenes, militares em outros paises. Outro problema. impasse emtorno da coalizao organizada pelos EUA para combater o EI, que é dificil separar essa iniciativa da situagao da guerra ci- vilna Sitia,em que hé divergénciasen- tre os variosatores. Tanto EUA quanto Unido Europeia, Rissia eos principais, aliados dos paises ocidentaisno Oriente Médio, como Arsbia Sauditae Turquia, participam formalmente da luta contra © EI. Na Siria, entretanto, onde boa parte dos combates efetivos se desen- volve, os interesses sio diferentes. E esseimpasse tem sido fundamental para o fortalecimento do grupo extremista. APARATO MIDIATICO EXPANDE ALCANCE DO ESTADO ISLAMICO logo Bercito- Em Made! ‘Amensagem, ctando normas do sé culo 2, pode parecer medieval. Mas 0 meio utllzado para divulgéaé de uma rmodernidadetamanha, ‘face terrorista Estado Isimico(E) utiliza uma complexaestrutura de comu- nleagdo nas milas soca para divulgar seusvideos dedecapitacioe destrucio de patimeni istriconaSiaeno raque\.. ‘Um relatrio apresentado ONU pe- lo pesquisador espanhol Javier Lesaca estima, por exemplo, que oEltenha pu- blicado mais de20 campanhas audio- visuals em 22 meses, como trabalho de 33 diferentes produtoras. ‘estética, segundo Lesaca, é familiar 20 piblico ocidental. Das gravacées de execugbes, quase metade fo inspirada ‘em filmes como Jogos Vorazes @ jogos cletrénicos como Callof Duty. CEI tem forte presenca em dezenas de plataformas virtua, Seus militantes s- taono Facabook, no Twitter no Telegram, no WhatsApp eemaplicativos desenvol- vidos pelos prpiosterroristas Goverose empresas de comunicardo cacam esses teroristas online, mas 0 esforgo necessirio éhercilo..) FFolha de S.Paulo, 31/1/2018 GGEATUALIDADES|1¢cemesr2016 32 ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO + A sverra civil dévasta 4 Siria Mais de 250 mil pessoas ja morreram nesse conflito que resultou no fortalecimento do Estado Islamico e alterou 0 equilibrio de forgas no Oriente Médio argo de 2011. Um gru- pode criangasemDa- raa, no sul da Siria, & preso pela policia por pichar frases criticas, a0 governo. Inconfor- ‘madas, centenas de pessoas'saem as ruas da cidade para protestar contra as res- trigdes liberdade promovidas pelo go- vernodo ditador Bashar al-Assad. Assim comoem outrospaises do Oriente Médio edonorte da Africa, aSiriamergulhana onda demanifestagées conhecida como Primavera Arabe (veja boxena pdg.37). ‘Masa manifestago pacificaemDaraa éviolentamente reprimida. Asforgas de seguranga abrem fogo contra amultidaio e matam dezenas de pessoas. A reacio desproporcional do governo estimula novas revoltas. Algumas semanas depois, ‘mais de 100 cidadesna Sitiasio paleo de protestosregulares.Astropasdogoverno no cedem e respondem com violén- cia,o que leva a oposicio ase organizar em diversos grupos armados para lutar contra Assad, fo inicio da guerra civil. Corta para marco de 2016, Passados cinco anos a Siria éuma terraarrasada. O conflito éconsiderado pela Organizagio das Nagdes Unidas (ONU) amaior crise humanitéria deste século. Os nimeros falam porssis6.Pelo menos 250 mil pes- soas morreram. Entre os sobreviventes, 6,5 milhdes de pessoas foram obrigadas [32 GEATUALDADES|1Psemeate 016 OQ ox 6 ) amudar-se para outras regides do pais,e outros 45 milhées abandonaram a Siria. ‘Com a economia em frangalhos, quase 70% dossitios que permaneceram agora vvivem abaixo da linha de pobreza. AS FORCAS NO CONFLITO ‘A populagio siria encontra-se no meio de um fogo cruzado que envolve diferentes grupos. Veja a seguiras prin- cipais forgas envolvidas no conffito: GOVERNOSIRIOEALIADOS Deum ladodo conflito estéo regime sirio liderado por Bashar al-Assad. Desde 1970, a familia ‘Assad comanda no pais um brutal regime de partido tinico. Apesar de serem alaui- tas uma seita mugulmana do ramo xita), os Assad mantinham um governo laico, que separavaareligiiodo Estado. Como inicio dos protestos, os sunitas tomaram a frente na oposigio ao regime,o que deu 0 conffto contornos sectérios. Apesar dendo apoiarem oditador, cristios,xiitas, até parte daclite sunita preferem ver ‘Assad no poder diante da possibilidade deterum pais tomado pelos extremistas. Quanto fs aliangas externas, Assad conta como apoio do Irae do grupo liba- nésHezbollah,formando um“eixo ita” que retine paises onganizagées cujos lideres sao adeptos dessa corrente do islamismo. O grupo se opée a Israel e disputa ahegemonia no Oriente Médio com as monarquias sunitas lideradaspela Arabia Saudita.O principal aliado fora da regio é a Riis- sia, que mantém uma antiga parceria coma Siria, sustentada pela base naval que os russos controlam em Tartus, no litoral sirio. Tanto o apoio do Hezbollah e dasmilicias iranianas quanto osbom- bardeios mais recentes realizados pelas forgas russas tém sido fundamentais, para sobrevivénciado regimede Assad. (GRUPOS REBELDES Umas das primeiras forgas a mergulhar na guerra foram os sgrupossunitas quelutam para derrubar ditadurade Assad. Entre os chamados “rebeldesmoderados”,que recebemesse nome por no serem adeptos do radi- calismo iskimico, amaior expresso é0 Exército Livre da Siria (ELS).A organi- zagio conta como respaldo das poténcias, ‘ocidentais, ideradas pela Europae EUA. ‘Também recebem apoio da Turquiae da Arabia Saudita, principais inimigos de ‘Assad na regio. I por isso que a guerra na Siria,além de ser uma disputaintema de poder, reflete a rivalidade entre dois, paises-chave no Oriente Médio: Ira e Arabia Saudita (veja mais adiante). © equilibrio dé fors4s Ho Oriente Médio Coen eet nr et ea ee ete Ley ee ee ee me ey irre en emer retort me eT Breer tame re tr theme et Reeser rrr a Ut era eC Se ee nyt err eet eer mre ey Derry rr me Ce Ser ee rie mm ee a ac ole ee Ce ae) Ce me Ce la aerate tae ae MIVA cr Sore ad een cere a Sacer Prironrarern ron nn ee re Fess iirsistt eee Srsrt ee) Cnn De erro ey s Poe eaneeta . cero) errr) rag dese spo da cet ert Ere ecr rere prreeen Decent am om, erat ee ‘Tunguia ee ie Latakla. Ao nici, em ere eta Puen Petree Cry ] Paper ey Seri erento co Ca aa Perera pererersr erro irene EL rae ea pore , \e sniow ee poet usa, / Solon sm eons cer coo \ / CaeE irene Wuz0s RECEBERAM ys piriees teers 4,3 milhoes a] x dereugator Peery Dee rere Prior eer ry Cea Pears Ler et ered ‘ambi mann eleshostiscom Cr iy Pere Pe ar F z Ce ete PC er mn ee Ty ete er a a ey er a ees) Pelee ety peed ere ry rere ry Pet ene a ere er Pr a ee uy ee ey ee mm ok es ee mare ee eet ty ere et Cee en ear corer ty peer ae ere Co a ie era Pea rer eon Peter) poetry ert reece) Cree e DOSSIE ESTADO ISLAMICO ‘Acldade de Kobane, nonorteda Sia, ddovastadapeloconfito: ‘mals de 250 mllpessoas ‘morreram desdeo Ino da guerra TREMISTAS ISLAMICOS Entre os gru- ppos que querem derrubar Assad, além dos rebeldes moderados, ha facgdes extremistas islamicas, que estio frag- mentadas em diversos grupos. Uma das, organizagdes que mais conquistaram terreno, principalmente nos primeiros anos do conflito, foia Frente al-Nusra, umbrago darrede extremista Al Qaeda na Siria, Posteriormente,a partirde 2013, ogrupo terrorista Estado Islmico (EI) aproveitou-se da situagao de caos cria- da pela guerra civil e, vindo do Iraque, avangoude formaavassaladora brutal, ‘ocupando metade do territério sirio. S Hi, ainda, 0 que podemos chamar de uma quarta forga envolvida no conflto. Trata-se dos curdos, etnia que habita territérios de Siria, Tarquia, Iraque, Ira, Arméniae Azerbaidjoerei- vindica acriagio de um Estado préprio para o seu powo - 0 Curdistio. Desde 0 inicio do conflito na Siria, a Unidade de Defesa Popular (YPG), uma milicia formada para defender as regides habi- tadas pelos curdos no norte do pais, se fortaleceu. Paraoregime de Assad,a YPG 34 GeATUALDADES|Psemeate 016 tomou-se um ator bastante itil, porque amilicia ¢ uma das principais forgas de resisténcia tanto contra os extremistas do El como os “moderados” do ELS. Essa situagdo embaralha o jogo das poténcias, colocando EUA e Turquia, ambos membros da Otan, aaliancami- litar ocidental, em lados opostos. Isso porqueo YPG recebe o apoio dos norte- americanos na luta contra o EI, mas é ‘um dos principais inimigos da Turquia, que teme o fortalecimento dos curdos em seu préprio territério. A SOBREVIVENCIA DE ASSAD ‘Com tantas forgas envolvidas no com- bate, nestes cinco anos da guerra civil houve diversos momentos em que as tropas de Assad estiveram & beira da derrota. Osviolentos combates travados entre regimee rebeldes forammarcados por avangos e retrocessos das forgas, oficiais em cidades estratégicas,comoa capital Damasco,Homs e Aleppo -are- as que hoje so controladas por Assad. ‘Mas 0 momento mais delicado para © ditador foi em 2013, quando um ata- quecomarmas quimicas no subiirbio de Damasco foi atribuido ao regime sirio. Os EUA chegaram até a anunciar uma ofensiva militar punitiva,mas acabaram aceitando.solucao diplomatica ofereci- da pela Rissa: o ataque seria suspenso como compromisso da Siriaem destruir suas armas quimicas. 0 plano deu certo, Assad ganhou uma sobrevidano poder. 5 i i Diante de todas essas ameagas, € surpreendente o fato de Assad ainda sustentar 0 seu regime. Mas dois fato- res centrais explicam a permanéncia do ditador sir. Em primeiro lugar, 0 regime beneficiou-se, portragicaironia, do crescimento do EI, que fez acender luz de perigo para as grandes potén- cias, Houve uma mudanga de foco, ea estratégia da coalizio ocidental passoua privilegiara contenco do grupo terro- rista, deixando parauma etapa posterior aquestio da retirada de Assad do poder. O segundo motivo, mais determinante, foi a intervencdo militar da Riissia em defesade Assad. Em setembro de 2015, ‘ogoverno russo iniciou ataques aéreos dirigidos ao territério da Sia, oficial- ‘mente contra as posigdes do EI - mas nao s6. Os bombardeios russos tinham comoalvo principal osrebeldesmodera- dos anti-Assad, justamente aqueles que io apoiados pelos EUA e as poténcias, ocidentais. Obviamente, essas ages mi- litares foram condenadas pelo governo norte-americano, para quem foco dos ataques deve ser oETenao ajudar Assad (veja mais sobre a Russia na pg 54). ARELUTANCIA DOS EUA Além das divergéncias coma Riissia, os EUAtémum problema adicional:aava- lingo segundo aqual principal perigo jimediato 60EI nao écompartilhada por alguns deseus principais parceiros. Aco- ‘mega pela mencionada Turquia, cujos principais nimigos sio os guerrilheiros curdos do Partido dos Trabalhadores de Curdistio, oPKK. Jénoentendimentode Aribia Saudita e Israel, aagio do Irina Siria é mais perigosa que a do EI. Outro problema é que parceiros es- tratégicos dos EUA, como Franga, Reino Unido, Alemanha, Turquia e Arabia Saudita, revelam-se incomodados com oqueacreditam seruma posturaomissa do governo de Barack Obama, quetteria aberto espago para a ofensiva russa. Opaisesti destruido, mas as tropas de Assad, apoiadas por iranianos e pelo Hezbollah, e tendo como retaguarda 0s fortes bombardeios da Riissia, con- quistou posicdes importantes. ‘Obama, porém, mostra-se muito resis- tente ao envio de tropas para combates, terrestres. Naverdade,o governo norte- americano teme que uma intervenci0 MAL NA FOTO Soldado da Frente al-Nusraretira ‘quadro do ditador sirioBasharal- ‘Assad na cidade de ‘rina, em 2015 diretana Siria cause mesmo efeito pro- duzido na invasio ao Traque em 2003: uma rebeliio de diversos grupos contra aocupagio estrangeira eapermanéncia prolongadadas tropas dos EUA no pais. Porora, osnorte-americanosprocuram manter os bombardeios aéreos e enga- jar ao maximo possivel os seus aliados europeus ot locais - principalmenteos curdos —num compromisso mais direto de combates no terreno. No meio dessa falta de entendimento entreas poténcias, estrangeiras, Assad vai estendendo sua longevidade & frente da ditadura siria. FRAGIL CESSAR-FOGO Com aresisténcia de Assad e a pro- longagao de um sangrento conffito, os atores envolvidos na guerra passarama se empenhar emuma solucio diploms- tica. O Conselho de Seguranga da ONU: aprovou, em dezembro, uma resolug0 prevendo negociagdesno inicio de 2016 entre ogoverno sitio eos rebeldes, sem a participagao de grupos. individuos considerados “terroristas’, caso do Ele da Frente al-Nusra. 0 processo de paz seria precedido de um cessar-fogo e ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO EM FUGA Refugiados silos aguardam permissdo das autoridades para cruzar a fronteiracom a Turqula: mals de4 mithbes debraram a Sila conduziria, entre outros pontos, aum governo transitério e eleigdes no prazo de 18 meses. Foi a primeira vez que a Riissia aceitou um documento desse tipo. 0 pais nao concorda, porém, coma saida de Assad do poder como condico para as negociacdes, como defendem ‘grupos rebeldes de oposigao. Mas as negociagdes nem chegaram a comegar de fato. 0 aumento dos bom- bardeios russos, principalmente na cidade de Aleppo, levou a suspensio por trés semanas das discussées, pre- vistas inicialmente para 0 comeso de fevereiro. Somente nos primeiros dez dias do més, os ataques russos provo- caram maisde 500 mortesem Aleppo. ‘Apesar das dificuldades, no fim de fe- vereiro entrou em vigor um cessar-fogo na Siria, em um acordo costurado por EUAe Riissia. A pausa nas hostilidades temecomo principal objetivoaentrada de ajuda humanitiriano pais. Continuariam apenas asagées contra oEI ea Frente al- -Nusra. No entanto, poucas horas apés 0 inicio do cessar-fogo,o governo sitio eos grupos rebeldesjé trocavamacusagéesde que o outro lado havia violado a trégua. [36 GcATUALDADES| + semeste 016 O DRAMA DOS REFUGIADOS Oatendimento asvitimasdaguerraea ceriagZode um corredorparaa entrada de ajuda humanitéria sio ages considera- das prioritdrias pelas grandes poténcias para tentar minimizar o softimento da populaao siria. Nestes cinco anos de violénciaininterrupta, quase metade dos Desde o inicio da crise, Turquia, Libano, Jordénia, Iraque e Egito receberam 95% dos refugiados sirios 202000 GOR HOP soocee habitantes do pais abandonaram seus lares, tornando-se deslocados internos ‘ou refugiados em diversos paises. Apesar de acrise dos refugiados atin- gir a Europa com forga neste ano, as pessoas que fugiram da guerrana Siria dirigiram-se principalmente para cin- co paises do Oriente Médio: Turquia, Libano, Jordania, Iraque e Egito, que receberam pelo menos 4,3 milhdes de pessoas desde o inicio da crise. Essas nagdes concentram 95% dos refugia- dos sirios ¢ demandam muito mais, assisténcia dos servigos puiblicos do que ocorre atualmente na Europa (veja mais sobre a Europa na pég. 46). Nesses paises que fazem fronteira coma Siria, ha sérios problemas para garantir as necessidades basicas dos refugiados, como alimentacao, abrigo e ensino para as criancas. A gravidade dasituagao tem levadoa umamudanca de posigo dos governos dessasnagées. No Libano, onde o total de sirios refu- giiados, superior a1 milhao, equivale a 25% da populacao total, entraram em vigor em 2015 novas exigéncias paraos estrangeiros que chegam, como o paga- TT PRIMAVERA ARABE, CINCO ANOS DEPOIS Notniclo de 2011, uma onda de revottas varreu varios patses do Orlente Médioe do norteda Africa. Milhares de pessoas, sobretudo jovens, foram asruas relvindicages muito concretas, como democracia, liberda social Estava deflagrada a Primavera Arabe. Essas revoltas encheram de esperancaa popula¢ao rabenum primeiro momento. Em poucos meses, longevos ditadores foram derrubados. Entre janeiro e outubro ‘alram ospresidentes da Tunisla, do Egito, dolémen eda Libia- neste dltimo, o dita. dor Muammar Kadafi fol morto por um cerco popular. Asrevoltas também atingiram palses como Bareln, Arabla Saudita, Marrocos e a propria Sirla. Mas, passados cinco anos, oque se ve é um quadro de desagregacaonesses patses. No Egito, um governo elelto, dirigido pelos Islamicos vincul .de Muculmana, fol derrubado pelos militares. O atual presidente 60 ex-marachal ‘Abdel Fatah al-Sisi, que dirige umregime dominado peloExércitoe considerado tao ou mals autoritério que ode antes da Primavera Arabe. 0 lémen nao consegulu conclulr © processo de transi;ao politica. O pafs esta mergulhado em um conflito interno @ assiste a expansio de organizacées terroristas om seu territrio. Na Libia, a situagao 6 ainda plot. A queda de Kadafi gerou um vacuo de poder, fo- mentando a disputa entre diversas milicias. Essa desagregacio levou a formagao dedols governos apés as elekSes de 2014, que disputam a legitimidade de falar em nome do pals. Nao por acaso, 0 Else aproveltou dasituacao paratambém se inst no territérlo Uiblo, em torno da cidade portudrla de Sirta. Pelo menos na Tunisia a transicae democratica fol como um caso exemplar ao promover eleigies diretas, ogressista do mundo érabe e ter um governo eleito. Apesar disso, a nacao.enfrenta dificuldades, como o clevado desemprego entre.os jovens, que ainda gera protestos. ‘a Constitulgio mals ‘mento de umataxaparaaobtensiode lida pornoméximo um ano.A Jordénia, segundo o rei Abdullah Ibn al-Hussein, esta “em ponto de ebuligao”, jé que 0s sirios refugiados equivalem a 20% da populacao jordaniana, eo pais nio tem condigées de assegurar servigos Piiblicos aos que chegam. ‘A pressio é grande também na Tur- quia, pais que se tornou o principal des- tino dos refugiados - mais de 2 milhdes desirios cruzaram a fronteira entre os dois paises. A Turquia disponibiliza ‘mais de 20 campos de re abrigos so insuficientes para atendera todos os migrantes srios,e muitos deles esto semnenhuma assisténcia. A situ- acdo preocupa a Unido Europeia (UE), poisamaioriadosrefugiados que chega {& Turquia tem como destino final nagbes, ceuropeias como Alemanhae Austria. Por isso, oslideres da UE fecharam um acor- doemnovembro coma Turquia parao pais melhorar as condigdes dos abrigos e ampliar apermissio de trabalho aos sirios (veja mais sobre o envolvimento da Turquia na crise na pdg. 58). IRA X ARABIA SAUDITA No tabuleiro complexo que éo Oriente Médio, a guerra na Siria afeta 0 equili- brio de poder entre dois paises-chave da regio. A ArdbiaSauditaeo Irdestioem lados opostosno confit sirioe também alimentam divergéncias no que serefere Aadisputa pelo poder regional ereligi ‘mugulmana. Os sauditas sio guardiGes das tradigdes sunitas eseu regime apoia- -se numa forma de fundamentalismo (owahabismo) considerado inspirador de grupos terroristas como Al Qaeda e ELOIraéumareptblicaislamica tam- bém aferrada a fortes tradigSes conser vadoras, mas no ambito dos xiitas (veja ‘mais na pdg. 42). Ha também razées econémicas que dio sustentagio aessa rivalidade entre sauditas ¢ iranianos: ambos os paises esto entre os grandes produtores mundiais de petrél Por isso mesmo, 0 acordo histérico que as poténcias fecharam com o Ira em 2015, pelo qual o govern iraniano concordou em limitar drasticamente seu programa nuclear, em troca da sus- pensio das sangdes econémicas que pesavam contrasi,foimal recebido pelo regime saudita.O Irl,considerado desde a Revolugio islamica de1979 um pariana comunidade internacional, por suposta- mente apoiar gruposterroristas e buscar afubricagdo de armas mucleares (o que o regime sempre negou), foi reintegrado ao sistema global e ter acesso a cerca de 100 bilhdes de délares que estavam congelados. Emtermos politicos, poder ampliar sua influéncia na diplomacia internacional e seu poder regional. Ja o regime saudita é um dos mais autoritarios e fechados do mundo. Seu sistema judiciario prevé, entre as pe- nalidades, chibatadas ¢ decapitagio. Em janeiro, a execugio de 47 pessoas acusadas de terrorismo, entre as quais, um respeitado clérigo xiita, motivou fortes protestos no Ira. Manifestantes invadiram a embaixada saudita na ca- pital iraniana, Teera,e incendiaram 0 edificio, atitude eriticada pelo governo iraniano. O episédio foi a gota d’égua para que a Arébia Saudita rompesse relacdes diplomaticas com o Ira. Asexecugdes realizadaspelossauditas receberam dos EUA edaspoténciasuma condenagio em termos brandos. Ofato de os sauditas serem grandes produto- res de petréleo, aliados dos ocidentais ¢ com enormes investimentosnomercado financeiro mundial explica, segundo ana- listas, essa posiglo. Tradicionalmente, ‘os governos norte-americanos mantém relagSes estreitas como regime saudita. Dada essa rivalidade regional, o confii- tona Siria nao deixa de ser uma guerra indireta entre sauditas eiranianos. Mas essaé apenasuma das formas de enxer- gar acrise. Também é possivel analisar a guerra sob o prisma da disputa entre Riissia e EUA, que tentam manter seus interesses estratégicosno Oriente Médio. Ou, ainda, como uma luta internaentre o regime de Assad contra as milicias sunitase as organizagSesterroristas.Por causa de toda essa rede de interesses, & muito dificil encontrar uma solugo rapida e duradoura. Enquanto isso ocon- flitona Siriacontinuamatandomilhares de pessoas e é foco do maior desafio & seguranga mundial nos iltimos anos. PARA IR ALEM Nofilme #Chicogogir (de Joe Piscatlla, 2013) uma unversiria sia que ‘mora em Chicago, nos Estados Unides, tenta ajudara opesicéo que uta contra o ditador Basha al-Assad com a ajuda das redessociis. GEATUALIDADES|1¢ seme 2016 37 ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO Cobica internacion ° acirra conflitds Intervengées de poténcias ocidentais no Oriente Médio marcam a historia da re; desenvolvimento impossivelentendera situagio politica atu- al do Oriente Médio sem levar em conta a histérica intervengi0 das poténcias ociden- tis, Esta ingeréncia externa nos paises da regio se acentuou nos iltimos cem ‘anos, estimulando conffitos internos e moldando a forma como a sociedade ‘mugulmana enxerga o Ocidente. (O Império Otomano (1281-1922) foio Aitimo califado - uma forma de governo islamico comandado porum califaque acumulaas fungées de um lider politico ceespiritual. Em seu auge, controlavaum vasto territériona Europa,na Anatélia (atual Turquia) e nas regides arabes. ‘Veio um longo periodo de decadéncia até que, ao fim da I Guerra Mundial, res- tavaapenaso centro turco, na Anatélia. A situagao social dos paises que se desmembraram do dominio turco-oto- ‘mano,comos povos submetidos a varias, privagées impostas pelo imperialismo ocidental, gerou ressentimentos que es- timularam a proliferagio de movimentos de nacionalistas érabes (pan-arabismo) ce fundamentalistasislamicos. As popu- lagGes desses paises viramo predominio do Ocidente - identificado com o cris- tianismo-comouma desvalorizagao de sua religido e de sua identidade. Nesse terreno, desenvolveram-se os grupos [38 GcATUALDADES|Psemeste 016 o> RS islamicos querechacama modemidade ocidental. Nao é casual quea Irmandade ‘Mugulmana, primeira grande organiza- 0 fundamentalista, tenha surgido no Egito em 1928, logo apés a derrocada otomana. A Irmandade ¢ até hoje o gru- po islimico mais influente do mundo. ‘Nessa mesma época, cresceuaimpor tnciaeconémica do Oriente Médio,que abrigaasmaiores reservas de petréleo e isdo planeta. As disputas pelo controle dos recursos petroliferos estiveram na origem de muitas intervengées estran- geiras, principalmente do Reino Unido, da Frangae dos Estados Unidos (EUA). ACORDOS SYKES-PICOT ‘Como fim do Império Otomano, suas provincias érabes foram postasem geral sob o controle britinicoe francés, como parte danova ordemestabelecida pelos vencedores da I Guerra. O desenho da regifo foi tragado, antes mesmo do fim da guerra, em acordos secretos entre Reino Unido e Franca, cujas delegagies foram chefiadas, respectivamente, por Mark Sykes e Frangois Georges-Picot. Eles debateramo assunto entre ofim de 1915 eoinicio de 1916. Suas conclusées, quevieramaser conhecidascomo“acor iio e contribuem para 0 io fundamentalismo dos Sykes-Picot’, pretendiam definir a partilha do império (vejamapa ao lado). elo entendimento, aFranga passaria a controlar diretamente territérios que iam da Anatdlia ao litoral mediterraneo oriental (atuais Siriae Libano),incluin- doo norte do atual Iraque (a cidade de Mosul, por exemplo). Ao Reino Unido caberia o controle da maior parte das restantes terras drabes, entre elas as que correspondem a atual Jordania e as da maioria do Iraque (0 litoral do Golfo Pérsico e a regio préxima, que abrange a cidade iraquiana de Basra). ‘APalestina seria intemacionalizada-na pritica, passou também ao controle bri- ico. Essa diviséo,embora nfo tenha sido colocada em prética exatamente como o planejado, definiu os limites da influéncia das duas poténciasna regio. Essanovaconfiguracio ainda teveou- tros desdobramentos importantes no Oriente Média Osturcosdesenvolveram ‘uma luta de independéncia, que impe- diu o controle grego sobre a Anatdlia e desembocou na constituigio da Turquia contemporanea (vejamais napdg. 58). Na érsia (atual Ira), em1921, um golpe de Estado olocouno poder o general Reza Khan, que coroou-se xa (monarca) em 1926, com onome de Reza Shah Pahlevi. As terras da Peninsula Arabe (onde ficam, entre outros, os atuais Ardbia Saudita, Kuweit, Iémene Oma), os eu- Cen ett ee a En ad i ee Impéri a dominacao perry Cr) ory a : por ry bis ey ean ‘soe pany 3 corr rar 3 ‘cam rer V toeeae, 2 al, Se eer eet eae et ete Pipestone erst ie erertt peatereater ener Tenn peared re rier rena Pieriersiaeernatcteter ay aan Panter neem sic et Petree vaeirirer riety orn anti er ec Te penrvier nen roarserer eon peat serrmeter ios feo ir (ear = ecto x a Prearearal : Preeti Pe = os Perera re erections Nope oe Seer py rid ot eves nee en ‘anes pet Ce er Cerra Perce ey ee ar Sere Perec ry t Selena Cee ey a paneer era ee Py Pe cr ave reer rrr ney Oortnus a! Dre rence a ay 40 e DOSSIE ESTADO ISLAMICO ropeus concederam a possibilidade demanter Estados independentes, do ponto de vista formal, embora também submetidos ao controle das poténcias. essa forma, os acordos Sykes-Picot definiram a configuracio politica do Oriente Médio apés aguerra. Com base neles,negociagées ofciaisestabeleceram fronteiras, muitas das quais artifcias, milenares, que mantinham lagos culturais e eco- némicos comuns. Tudo isso contribuiu para o crescimento de um sentimento antiocidental nos povos da regio. CRIAGAO DE ISRAEL ‘Loge apés a II Guerra Mundial (1939- 1945), outro grande acontecimento re- configurou politicamentea regiio:acria- fo do Estado de Israel. O novo pais, 20 Palestina, expulsou milhares de arabes, palestinos queeramamaioria da popula- folocal ecriouuma situagio de disputas comas varias nacées arabes vizinhas. Israel tem sua origem no sionismo, movimento surgidona Europanoséculo XIX, com objetivo de criar um Estado paraos judeus. 0 apoio internacional & causa aumentou, depois da Il Guerra, 20 ser revelado 0 genocidio de cerca de 6 milhdes de judeus nos campos de exter- minio nazistas,o Holocausto. Em 1947, Organizagio das Nagdes Unidas (ONU) aprovou a divisio da Palestina em dois Estados ~ um para os judeus, com 53% do territério, outro para os érabes, com 47%, Estes itimos rejeitaram o plano. Em14demaiode1948, foicriado oEs- tado de Israel, que, desde o inicio recebeu forte apoio politico, militar e financeiro dos EUA. Cinco paisesdrabes enviaram tropas para impedir sua fundagio, mas as forcas militares de Israel venceram © combate. Apés a guerra, em janeiro de 1949, Israel passou a ocupar 75% da regio, Mais de700 mil palestinos foram expulsos,refugiando-sena Cisjordania, em Gaza ou nos paises érabes vizinhos. Em 1967, Israel voltou a derrotar uma alianga de paises érabes na Guerra dos Seis Dias, e passou a controlar a Cisjor dania e Jerusalém Oriental, a Faixa de Gaza e a Peninsula do Sinai (que seria devolvida ao Egito em 1982), além das Colinasde GolA, que pertenciam Siria. ‘ARevolugio [slamica noir, em 1979, representou ‘um momento de ruptura do pals com os Estados Unidos Essa situaggo levou Israel a cons- tituir-se como um pais altamente militarizado, em que os conflitos sio constantes, entremeados por tréguas. Um dos efeitos desse longo conflito foi © desenvolvimento de grupos funda- mentalistas islamicos que combatem Israel de forma radical. O palestine Hamas, inspirado na Irmandade Mu- gulmana, controla aPaixa de Gaza-o que complica ainda mais a busca pela paz, ja que Israel no negocia com 0 grupo, por consideré-lo terrorista. Ha também o libanés Hezbollah, vincu- lado politicamente ao governo sirio e apoiado pelo Ira, que ja enfrentou militarmente Israel no sul do Libano. REVOLUGAO ISLAMICA NO IRA Outro momento decisivo nas relagées entre o Oriente Médio e 0 Ocidente ‘ocorreu no Iri coma Revolugao Iskimi- ca, de 1979, que derrubou 0x4 Moham- mad Reza Pahlevi (filho do primeiro xa, que abdicara em 1941). Durante anos, ‘os EUA mantiveramuma alianga como 14, sustentando um governo corrupto e poucointeressadonasituacao social do pais. Em troca, as empresas norte- americanas mantinham vantajosos contratos, principalmente para explo- rar os recursos energéticos iranianos. Em1978 acriseeconémicae aampla corrupgo desencadearam protestos con- ‘traoxd. As virias correntes oposicionis- tas uniram-se sob alideranga do aiatola Ruhollah Khomeini, exilado na Franca. 0 governo nio conseguiu controlar a insurreigio, ¢, em janeiro de 1979, Reza Pahlevi fugiu do paise obteve asilo poli- ticonos EUA. Apés umregresso triunfal ao Ira, Khomeini assumiu o poder. ARevolugao Islémica explicitou are~ jeigdoda sociedade iranianaa submissio ocidental emarcou ainstauragéodeum regime que se contrapée fortemente aos UA. Além disso, alterou acorrelagiode forgasna regio, Emumpais-chavecomo o Ira foi criada uma repiiblica islimica dirigida por xiitas, um fator a mais de tensio com osoutros regimesda regio, todos comandados na épocapor sunitas, (eia sobre xiitas e sunitas na pag 42). AGUERRA DO GOLFO A Guerra do Golfo marcaa primeira intervengio militar norte-americana no Oriente Médio apés a queda do Muro de Berlime o inicio da derrocadasocia- lista em 1989 - periodoem que osEUA consolidaram sua hegemonia mundial. Oestopim do conflito foi aanexagao do Kuweit pelo Iraque,em 1990. Mesmo tendo apoiado o Iraque na guerra contra 0 Ira (1980-1988), os norte-americanos decidiram acionar sua maquina de guerracontrao ditador iraquiano Saddam Hussein. Além de restaurar a soberania do Kuweit, o ob- jetivo era evitar que o fortalecimento de tum pafs-chave no Oriente Médio como o Traque alterasse o equilibrio de poder naregifo. Implicitamente, a intervengio aindamandavaum claro recado sobrea capacidade norte-americana de susten- tar sua hegemonia no Oriente Médio. ‘Emuma operagao fulminante,inicia- da em 16 de janeiro de 1991, as forgas coligadas de cerca de 30 nagdes,lide- radas pelos EUA, derrotaramo Iraque em pouco mais de um més. Mesmo derrotado, Saddam Hussein conseguiu se sustentar no poder. OCUPAGAO DO IRAQUE Nadécada seguinte,o Iraquevvoltariaa ser alvo das forcas militares norte-ame- ricanas, numaagao cujosefeitos estiono cerne da atual crise no Oriente Médio. Em_2002, EUAe Reino Unido acusaram Saddam Hussein de acumular armas de destruigo em massa. O governo do presidente norte-americano George W. Bush comecou os preparativos para uma guerra contra Iraque, queera apresen- tada também como parte desuaofensiva contraoterrorismo,naesteiradareacio aos atentados cometidos pela Al Qaeda, nos EUA, em 1 de setembro de 2001. EUAe Reino Unido decidiram atacar © Iraque, em marco de 2003, mesmo sem o respaldo da ONU. Derrotaram rapidamente os iraquianos, conquis- tando a capital, Bagda, em 9 de abril, einstalando um governo de ocupacio. ‘Meses depois, Saddam foi capturado,e ele acabou sendo executado em 2006. Posteriormente, ficou comprovado que oditador iraquiano nao possuiaarmas de destruigo em massa. As forcas de ocupagio dos EUA tentaram impor no Traque uma nova ordem politica, favorecendo a maioria xiita em detrimento dos sunitas - nos ‘QUEDADO DrTADOR Estitua de Saddam Hussein écoberta ‘coma bandeira ‘dosEUA durantea ‘ocupag do lraque, ‘em 2003 quais Saddam apoiava-se para gover- nar. Os protestos contra o dominio estrangeiro logo deram origem auma insurgéncia contra as forcas ocidentais. Atentados e ataques tornaram-se fre~ quentes, convulsionando o pais. ‘Com a posse de Barack Obama na presidéncia dos EUA, em 2008, 0s norte- americanos comecaram aretiraras tro- pas do Iraque gradualmente, concluindo a operagio em dezembro de 2011. Além dedeixarcerca 10 milcivis mortos,essa longa permanéncia em solo iraquiano desestabilizou completamente o pais, com oacirramento das desavencas po- liticas e sectarias. Aliada a esse fator, a retirada das tropas norte-americanas foi sucedida por um vacuo de poder que favoreceua proliferagio de diversas ilicias. 0 desenvolvimento do grupo Estado Islamico esta diretamente vin- culado aessa situagao (vejana pag 28). ‘Todas essas intervengdes contribu- fram para fomentar uma forte aversio a0 Ocidente em grande parte das socie- dades mugulmanas do Oriente Médio. Obviamente, o repiidio as ingeréncias, das grandes poténcias por si sé no é suficiente para explicar a atual onda fundamentalista em alguns setores do islamismo — afinal,nao se pode ignorar © baixo desenvolvimento econémico nna maioria dessas sociedades e as di- vvisdes dentro do préprio isla como al- gunscatalisadores do extremismo. Mas também é inegavel que esse histérico de dominacio ocidental gerou fortes ressentimentos ainda nao superados. GGEATUALDADES|1¢cemesr2016 4 ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO A imensidao do mondo muctlmand Aacio de do isla alimenta distorgdes sobre a segunda crenga mais ostiltimosanos,aima- gem do islamismo fi- coumuito associadaa esteredtipos do terro- rismo,daintolerancia edarepressio aos di- reitos individuais. Essa visio deturpada 6 consequéncia da atividade de grupos violentos como a Al Qaeda e 0 Estado Islimico (ED, que dizem basear seus atos brutaisno isl. Aoescolher ocaminhodo fandamentalismo para disseminar sua interpretagio radical do isla, essa mino- riabarulhenta acabasilenciando outras tendéncias dareligiio -umaexpressiva maioria que repudia os atosde violencia. ‘Ainda que essa pequena frago funda- ‘mentalista ganhe os holofotes da midia, ela¢ incapaz de representar toda a di- vversidade de uma comunidade formada por 7 bilhao deadeptos do islamismo. Basegunda renga mais popular, depois, do cristianismo, que tem 2,4 bilhées, e seus seguidores aumentam numa velo- cidade maior do que. religiéo de Cristo. ‘Ao longo de seus quase 14 séculos de existéncia,o islamismo exerceu grande influéncia, nao apenas na esfera reli- giosa, mas nos campos da politica, da economiae dasrelagéesinternacionais. ‘Uma de suas principaiscaracteristicasé abranger nao apenas um corpo de cren- a5, mas orientagdes que influenciam toda a vida social de seus praticantes. 42 ccATUALDADES|Psemeate 016 ipos fundamentalistas que dizem agir em nome popillar do planeta OY “KX () ) RAPIDA EXPANSAO O islamismo, ou isla, cujos seguido- res sio conhecidos como islimicos ou muculmanos,éumareligiio monoteista baseada nos ensinamentos de Mohamed (670-632), chamado no Ocidente de Ma- ‘omé, quenasceue viveu onde atualmen- tesesituaa Ardbia Saudita. Aos 40 anos, ‘Maomé passouatervisdese ouvir vozes, queatribuin ao anjo Gabriel, trazendo- Ihearevelagao da palavra de Deus (Al). Posteriormente, essasmensagens foram consolidadas num livro, o Alcordo. Perseguido pela elite comercial de Meca, sua cidade natal, Maomé partiu em 622 para Medina. Esse movimento, comhecido como Hégira (ou migrasio), 6 um dos elementos constitutivos do islamismo.Conquistando adeptosrapi- damente, Maomé, chamado pelos segui- dores de profeta,tornou-senio apenaso chefe religiosa maso govemante politico e comandante militar de Medina. Os novos figisdispuseram-se arealizar uma guerra santa de expansio doisla, que se espalhou por todasas regiées da Arabia. Mesmo apés a morte de Maomé, exércitos comandados por seus suces- sores invadiram territérios vizinhos e emmenos de um século formaram um. grande império,o califado. O dirigente do novo império era o khalifa (califa), termo que equivale a representante de ‘Maomeé apés a sua morte. Ao longo da histéria, os mugulmanos constituiram ‘trés grandes califados ou impérios: Omi- ada (661-750), Abassida (750-1258) ¢ Otomano (12811922).0 fimdoImpério Otomano marcou o fim do predominio mugulmano como forga politica unifi- cada de uma ampla regio do planeta. ‘SUNITAS E XIITAS ‘Os mugulmanos dividem-se em uma pluralidade de correntes, mas duas grandes vertentes sio as principais: os sunitas (cerca de 85%) e os xiitas (15%). Aorigemdessa divisioremontaadisputa pelasucessio de Maomé. frente do isla. ‘Apés a sua morte, duas tendéncias se manifestaram. A minoritaria defendia que osucessorfosse alguém da familia do profeta— Ali, primo e genro de Maomé, eraquemliderava essa corrente. J4a.ou- tratendénciaentendia que qualquermu- gulmano poderia ser oescolhido, desde que fosse da tribo de Maomé- 0 cla dos coraixitas-e aceito pela comunidade. Este iltimo grupo quedefendiauma eleigao entre seus seguidores acabou se impondo, e Abu Bakr, amigo de Maomé, tornou-seo califa,em 632. Seguiram-se ‘outros dois califas (Omar e Otman) até Alli, o primo de Maomé, assumir 0 po- BS aang La ca Tt cy re) veceraracanaeecs ced cy Peng od eee Cee ue ay Maomé fol sucedide por cretrelcoy erry ce ee ean oes rere ‘os"bem gulados” Be Ce ener a eed 85% ney pty ene eee) rere : Prose heey Pore 15% eer ;omoAllibn Abl ‘dos cAI mmugtimanos Coren pestis Pee LLC PORCENTAGEM DE MUCULMANOS NA POPULACAO POR PAIS DSS Ltd ere Perey ees perenne prep reeneeai Peeeineeatny emer Poneto ees pects Pierrot properties eed Pa ar Ea eee rn sobrenatural,em874, rs Peete ey ireeenerentien Poeerr eat Perris ears perieeree ey ees Et sober Perieaeay re meee Seco) See ry ere Perr eres onre Per sed een Cr nro) prey permet) Lanterns Perret Serie ; Hanbalita Dee RoC a aor Sea oro iret Ea err ea et os ees oe aan canned Perot eer rete pemerioreniserira frei rerio re ae ana fies fos de supersticdo, os sufistas foram multas vezes perseguldos pelas autor Perey outer ura eetcid ae eur eed retin Asc err er ee eC or er ees eer a erento ey ere! e DOSSIE ESTADO ISLAMICO der,o que alterou o sistema sucessério em favor de seu grupo e desencadeou uma guerra civil dentro do isla. Ali foi morto em 661, abrindo espago para que “Muawiyya se tornassecalifa,iniciandoa primeira dinastiacalifal, ados omiadas. Amaioria dos érabes aceitoua pacifi- cagio sob seu comando. Mas os seguido- resde Ali consideravam Muawiyyaum usurpador e formaram o Partido de Ali (Shiat Ali), que éa origem dos xiitas.O segundo filho de Ali, Hussein, liderow uma rebelifo contra Yazid, filo e su- cessorde Muawiyya, mas foifacilmente derrotado. Isso consolidou o poder dos ‘omiadas, que se tornaram os seguidores da tradigo (ounna), ou sunitas. GEOPOLITICA E RELIGIAO Durante séculos, as rivalidades se as- sentaram, ¢ as duas alas do islamismo conviveram em relativa paz. Em boa medida, as divergéncias mais recentes, tém a ver com a Revolugio Iraniana, vitoriosaem 1979, que levou os xiitas a0 poder. A ascensiio politicado Ira foivista como umaameaga i hegemonia regional da Arabia Saudita, guardia das tradigdes, sunitas na regio (veja mais na pag. 37). Mais do que um grande conflito sec- trio, o atual antagonismo entre xciitas, e sunitas esta mais ligado a disputas geopoliticas. Na verdade, a rivalidade 6 alimentada menos pela imposigio de uma vertente religiosa sobre a outra; trata-se mais de uma disputa por po- der local e regional. Nessa estratégia, 0s governantes acabam insuflando 0 44 ccaTUALDADES|Psemeste 016 dio religioso para atingir seus objeti- vvos politicos -sejao controle do poder local, aexpansio da influéncia regional ou adistribuigo dasriquezas nacionais, parao seu grupo de apoio. 0 que tem acontecido em paises como Siria, Iraque, Libano, Bareine Iémen. Ainterferéncia estrangeira, especialmente das poténcias, ocidentais, também exerce papel deci- sivoneste cenério (veja mais na pag. 38) OFUNDAMENTALISMO WAHABITA ‘Aatual onda fandamentalista no isla temorigemem algumascorrentes den- tro do sunismo que pregam uma inter- pretagio rigorosa e literal do Alcordo. O salafismo e o wahabismo sio as ex- presses mais ativas dessas tendéncias. Os preceitos wahabistas difundidos pela Ardbia Saudita inspiram diversos grupos terroristas 222008 GOR HOP soocse PRECES DIARIAS. ‘Muculmanos rezam cemmesquita de Moscou (Rssia): religito tem 1,7 bllhdo de seguldores ‘em diversospalses Salafismo, que vem da expressio al- salaf,ou seja, os predecessores, designa de forma genéricaessalinha de interpre- ‘ago, enquanto wahabismo diz respeito diretamente ao movimento criado pelo teélogo Mohammed ibn Abd al-Wahhab, no século XVIII, em alianca com o cla dos Saud ~ que formaria uma dinastia responsivel pela reunificacao arabe na Arabia Saudita, em 1932. Os wahabi- tas passarama ter grande influénciana Arabia Saudita A familia Saud detinhao poder politico eeconémico,enquanto os clérigos wahabitas passaram acontrolar a educagio eo sistema judiciario. ‘Coma influéncia regional e interna- cional obtida coma riqueza do petréleo, os sauditas difundiram esses princi- pios em varios paises. As monarquias da Arabia Saudita e do Catar teriam gasto, desde a década de 1970, cerca de3 bilhdes de délares por ano parafinanciar a construgao de madrassas, universida- des, mesquitas eoutras instituigées, para difundir o wahabismo pelo mundo. As, poténcias ocidentais nfo se opuseram a essa ago, porque os dois paises sio seus aliados e mantém iniimeros negécios — em particular a venda de petréleo ¢ a compra de armas ~ que ajudam a mo- ‘vimentar aeconomia norte-americana e de varias nagdes europeias. Os preceitos wahabistas inspiraram diversos grupos terroristas que dizem combater em nome do isla. O fortale- cimento dessa corrente ganhou gran- de impulso na invasio do Afeganistio pela Unido Soviética, em 1979. Diversos ———— FUNDAMENTALISMO NAO E SO ISLAMICO ‘Ainda que o fundamentalismo esteja atualmente associado aos islamicos, grupos fundamentalistas existem em varias roligides. Eles defendem que Interpretacdes Uterais dos textos religiosos devem sera nica orientagao para diversos aspectos da vida, das relagées familiares a organizacao do Estado eda socledade. E uma posicao ‘que se opse a perspectiva secular adotada desde a Revoluao Francesa (1788), quando os negéclos de Estado se separaram das convicgées religiosas.. Arigor,o termo fundamentallsmo 6 inexato, quando se fala om mugulmanos, porque designava movimentos surgidos no inicio do século XX entre os protestantes mals conservadores dos Estados Unidos (EUA). Eles queriam avolta aos fundamentos da {fé crista e defendiam que a Biblia deverla ser entendida Uteralmente. Grupos pro- testantes conservadores nos EUA, por exemplo, sio contra oaborto ea igualdade de direitos civs paras homosexuals. Nos catélicos, manifesta-se emorganizages como atradicionalista Opus Del, surgidana Espanha. Entre os hinduistas, um exemplo 60 Partido Bharatiya Janata (BJP), que atualmente govern: Intolerancia em relagao aos cultos muculmanos no pais. grupos emillitantes inspirados nowaha- bismo lutaram no pais, com apoio oci- dental. Foio caso de Osama in Laden, que futuramente dirigiriaa Al Qaeda. Na atual crise envolvendo o extre- mismo islimico no Oriente Médio, Catar e Arabia Saudita sio acusados de financiar e armar grupos fundamen- talistas que se opunham aoregime sirio, ‘mas posteriormente juntaram-se ao EI, evando consigo as armas eo dinheiro. JIHAD E SHARIA Entre as interpretagées literais que © wahabismo faz dos textos sagrados, a mais polémica diz respeito 3 jihad, traduzida em geral por “guerra sa Este sentido de conotagio mais militar se impés, mas nao corresponde ao que esti contido no Alconto. Literalmente, jilad é “esforgo ou empenho em favor de Deus”. Pode referir-se & disciplina da transformagio interior, contra os préprios erros ou os da comunidade (grande jihad) ou a guerra de conversio dos infigis (pequena jihad). A interpretacao literal das normas contidasno Alcordotambém deu origem A sharia, que pode ser traduzida por “o caminho certo”. Trata-se do cédigo legal islamico, que estabelece regrasa serem obedecidas na vida em sociedade. Sua consolidagao data do século IX, quase 250 anos depois da morte de Maomé. Isso explica muitas das contradicées, apontadas por especialistas entre oA condo easharia. 0 Alcondo por exemplo, diz. que ha igualdade entre homens ¢ India e tem umhistérico ‘mulheres,enquanto asharia afirmaque amulher é inferior e deve cobrir-se. A shariaabrangetodos os aspectos davida do muculmano ~ as regras familiares, a sexualidade, os habitos alimentares, as, obrigagdes religiosase as praticas eco- némicase politicas. De modo geral, sio normas restritas 4 esfera privada e pes- soal dos mugulmanos. Mas em estados religiosos, como a Ardbia Saudita,elaé instituida como sistema de lei, poden- do ser aplicada pelas cortes de justia, essa forma, crimescomo adultério,o rouboea ingestio de bebidas alcodlicas podem ser punidos com amputagées, chibatadas e até mesmo a morte. Em muitos paises de maioria mugul- ‘mana, especialmente nos que adotam a sharia institucionalmente, existem restrigdes as liberdades democraticas ce desrespeito aos direitos humanos. No entanto, ha uma grande diferenca des- sas nagdes paraa situaco da Turquiae da Indonésia, por exemplo. Ainda que a democracia nessas nagées enfren- ‘tem desafios, sio Estados de maioria ‘mugulmanaem que as instituigdes so seculares (separadas da religio) e que realizam eleigdes regulares. Damesma forma, apesar de o fundamentalismo islamico ser uma ameaga a seguran- gainternacional, a imensa maioria da Comunidade muculmana abomina 0 terrorismo e prega a tolerancia. Sio exemplos que mostram como algumas generalizagdes simplistas nao tradu- zem a realidade e ignoram a diversi- dade da sociedade muculmana. | RESUMO Estado Islamico ESTADO ISLAMICO 0 El &considerado 0 grupo extremista islamic mals poderoso dahistria Seucrescimentoaprovetou-se dasituagio decaosnotraqueena Siia.Na regio que ocypou, 0 Elatua como sefesse umverdaelo Estado, com rigids esinp- radasnumaintrpretacofundamentalta doislamismo,emétodoscrugis,comoox=- cugées por decaptardo ou aoitamento. ‘SIRIA Aguerra civil na Siriaé amaior crise humanitria deste sécul. Aim de pelo menos 250 milmortes, 1 milhéesde sitios tiveram de sair de suas casas. Grupos re- beldes, aplados pelasrandespotincias, tutam desde 2011 para derruba oditador Basharal-tssad, quetem o apoio daRis- sla, do rd e do grupo libands Hezbollah. Apartcipacdo do Ele de miliciascurdas tornam oconfte ainda mals complexo. ‘COALIZKO 0s Estados Unidos (EUA)lide- ram uma coalizdo de mais de 40 paises, que realiza bombardelos aéreos contra: bases do El. Como os conflitos na Siriae =o avanco do grupo extremista esto en- "= trelacados, as potnclas nao conseguem chegar a um consenso sobre a melhor estratigiade combate, polsha interesses divergentes entre os prindpas atores. INTERVENGKO OCIDENTAL As interfe- réncias das poténcias no Oriente Médio, especialmente apés a | Guerra Mundial, alimentaram um sentimentoartiocdntal entre as nades muculmanas. O Acordo Sykes-Picot (1915-1916) criou fronteiras artfciais na regigo, o que acirrouas dis- putasinternas.Posteriormente, a criago delsrael, a Revolucdoslamica nolréeas ‘operaciomilitares dos EUA no raquede- = sestablizaram ainda malso Oriente Médio. ISLAMISMO Com 1,7 bithéo de adeptos, © Islamism é uma religléo monoteista, | baseada nos ensinamentos de Maom (670-622). Osmugulmanos se dividem em dduas grandes vertentes: os sunitas e os xiltas. Divergncias entre os dois grupos provocam confitos regionals, nsuflados por disputaspoliticas.Aatualonda funda- mentalista noislatem base nos preceitos wahabitasdifundidos pela Ardbia Saudita. GGEATUALIDADES|1¢ seme 2016 45 a eS — vide oD Oi . + ar = i . . ee OW eM lee cir CeCe MAU) tol ce oot art ¢:\ (ae crise humanitaria e reacende o debate sobre a imigracgao no continente Cees * LONGA TRAVESSIA Poliials conduzem rmigrantes na slovenia, em ‘outubro de 2015: ‘uxo recorde na Europa mundo vive atualmente a ais grave crise derefugiados desde a II Guerra Mundial. A situagio tornou-se especialmente criticana Europa, continente que rece- beu mais de 1 milhio de refugiados em 2015. 0 fato mobilizou os governantes e reacendeu a polémica na sociedade sobre como receber os milhares de estrangeiros que continuam chegando no continente. Sé nas primeiras seis semanas deste ano, o mimeo de pes- soas que tentaram entrar ilegalmente na Europa pelo mar subiu dezvezes em comparagioaomesmo perfodo de 2015. ‘Amaforia dos refugiados que chegam a Europa vem da Africa e do Oriente Médio, fagindo de guerras, conflitos internos, perseguicdes politicas e vio- laces de direitos humanos. Mas nem todos conseguem alcangar seu desti- no final. A prineipal porta de entrada no continente é a Grécia ou a Itilia e, para chegar lé, muitos migrantes desafiam os mares revoltos do Medi- terrineo. A travessia é perigosa, feita emembarcacées precérias, geralmen- te superlotadas. Segundo a Organiza gio Internacional para as Migragdes, (OIM),3771 deslocados morreram ou desapareceram durante as travessias no ano pasado, niimero recorde. $6 nas seis primeiras semanas de 2016, 409 pessoas perderam a vida no mar. Para os que conseguem fazer a tra- vvessiae chegar ao préspero continente europeu, os problemas nfo terminam. destino final dessa massa humana soos paises menos afetados pela crise econémica que ha anos ronda o Velho Continente, como Alemanha, Suécia e Austria. Para chegar até la, os migrantes precisam cruzar diversos paises, onde nem sempre sio bem recebidos. A res- postade muitos governos écarregadade racismo e xenofobia, com um discurso que defende medidas extremas, que vio da prisio a deportacio dos migrantes. 448 ccATUALDADES|Psemeate 016 De onde vém os refugiados drama dos refugiados ganhou vi- sibilidade e chocou o planeta quando imagens do corpo do garoto sirio Aylan Kurdi, deapenas3anos,jogado debrugos emma praia nacosta da Turquia, foram publicadas em sites e jornais de todo 0 mundo em setembro do ano passado. Aylan, o irmio Galip, de 5 anos, e sua mie, Rehan, morreram afogados numa fracassada tentativa de cruzar o Mar Egeu rumo ailha grega de Kos. 0 tinico sobrevivente foio pai, Adbullah. O desti- no final dos quatro migrantes, que fugiam deKobane, cidade siria massacradapela guerra, erao Canada, pais onde moram parentes da familia, mas que jé havia negado um pedido de asilo. As imagens do menino franzino sem vida, largado na areia, viraram um triste simbolo da maior crise humanitaria registrada no continente em sete décadas. ‘Emborao drama da familia do peque- no Aylan tenha comovido o mundo, ele esta longe de ser o tinico que se abateu sobre os migrantes. Metade do fuxoatual & composto de pessoas que fogem da Siria, pais que desde 2011 enfrentauma sangrenta guerra civil que parece longe de terminar.Estima-se que ocontfto no pais governado pelo ditador Bashar al- Assad jf matou mais de 250 mil pessoas € provocou o deslocamento de 46 mi- Ihdes— um quinto da populacio do pais. Depois dos sirios, os maiores grupos de migrantes, por nacionalidade, sto formados por afegios (21% do total), iraquianos (8%) e eritreus (4%). Ins- [AYLAN KURDI ‘Amorte do garoto sitio de apenas 3 anos, em setembro de 2015, na Turquia, exp0s odrama da crise migratoria tabilidades no Afeganistdo eno Iraque = onde os governos locais enfrentam, respectivamente, militantes extremis- tasda Al Qaeda edo Estado Islimico—e ‘obrutal regime ditatorial que comanda a Eritreia, pais da Africa Oriental, as margens do Mar Vermelho, explicam por que essas nacGes, juntamente com ‘Siria, respondem por mais de 80% do fluxo de pessoas que buscam desespe- radamente um abrigo na Europa. As principais rotas Especialistas dividem as travessias do Mediterraneo em dirego a0 con- tinente europeu emtrés grandes rotas. © Mediterraneo central: parte da Libia e tem como principal destino a Ttilia, notadamentea Tiha de Lam- pedusa, préxima & costa africana. © Mediterraneo ocidental: também retine refugiados africanos, que par- tem do Marrocos, Tunisia e Argélia e buscam desembarcar na costa da Espanha. © Mediterraneo oriental: é aquela utilizada para fazer a ligagao entre aTurquia ea Grécia. Até 2014, 0 fluxo de refugiados con centrava-se majoritariamente na rota central, com milhares de libios fugindo davviolénciae da instabilidade que en- golfaram seu pais depois dos aconte- cimentos da Primavera Arabe - onda de protestos e revolugdes populares que eclodiu no mundo érabe a partir Refugiados rumo 4 Europa Contras principatrata de chegada 20 Yeo Comtnentee pimps destin dos myantesda Antica edo Oriente Médin ass da Unto tropes © stad stom aastem iy? (© Gepaiasde mpratesen 15" 2 irda @ Mertesde migrates en mse osc 0h prota abre “> Prt ° etry eatin oe 2 1.003.120 D5 wa ras cua wt Paes deena des igri: eowestrineg eras" ‘MAIS DE MILHAO PELO MAB ‘mest vr de glo ue chem pb Med rmm a Sr ee ee ete’ ered INTERNACIONAL UNIAO EUROPEIA O governo hiingaro reprime o ingresso de refugiados alegando “defender a cultura da Hungria e da Europa” do final de 2010. No ano passado, ore- crudescimento do conflito na Siria fez com que milhes de sirios deixassem o pais e buscassem refiigio em paises vvizinhos e nagSes europeias. ‘Comisso,a rota oriental, via Grécia, tomou a dianteira. Cerca de 800 mil refugiados e migrantes aportaram na Europa por esse caminho em 2015, cruzando o Mar Egeu, que separa os territérios turco e grego. No mesmo perfodo,o ntimero de pessoas que cru- zaram oMediterrineo a partir da Libia edo Norteda Africaem diregao altilia ficou em 150 mil. Segundo a OIM, 77% das 3771 mortes registradas em 2015 ocorreram na rota central, enquanto 21% aconteceram durante a travessia do Mar Egeu,na vertente oriental (veja infogndfico na pag. 49). ‘Além das rotas pelo Mediterraneo, vale ressaltar que uma parte reduzida dos migrantes chega por terra, atraves- sando a Turquia, muitas vezesa pé, até alcangar os territériosbiilgaro ou grego. Frente anti-imigragéo Divisées profundas entre os Estados- membros da UE sobre como enfrentar acrise e a inércia diante da chegada dos migrantes sao, segundo analistas, principal fator a agravar o proble- ma. De um ado, paises como Suécia e Alemanha tém adotado uma postura mais liberal efavorivel ao acolhimento dos refugiados. No entanto, algumas nagGes defendem medidas drasticas, para conter a chegadados deslocados. ‘50 GcATUALDADES| + semeste 016 © governo nacionalista da Hungria, porexemplo, decidiu construirumacer- canos175 quilémetros em sua fronteira coma Sérvia (pais que nfo integraa UE) econseguiu aprovar um conjunto deleis que punem com até trés anos de prisio quem tentar fazer a travessia ilegal- mente. A novalef hiingara de migracio, classificada pela oposigio de esquerdae por organizacdes humanitarias de “au- toritiria eanticonstitucional”, também permite que o governo deporte imigran- tesillegais. Com amedida,o governo do primeiro-ministro conservador Viktor Orban tentareprimir oingressodos des- locados e, em suas palavras “defender a cultura da Hungria e da Europa”, com politicas de caréter xenéfobo. Até se- tembro do ano passado, mais de 160 mil pessoas jéhaviam entradono tervitério Inxingaro pela fronteira com a Sérvia, a maioriadeles comaintencio de seguir vviagem rumo a Alemanha ou Austria. Assim como a Hungria, a Austria de- cidiu erguer barreiras paralidar coma incessante chegada de refugiados ao seu territ6ria. Em outubro do ano passado, 0 ‘governo austriaco anunciou aintengio deconstruiruma cercanafronteiracom a Eslovénia, um dos gargalos de entrada dos refugiados na Europa Ocidental. Dois meses antes, 71 pessoas haviam sido encontradas sem vida dentro de um caminhao de transportes estacionado as margens de uma estrada préxima a fronteira com a Hungria. O grupo tinha ingressado no pais com a ajuda de traficantes de pessoas. [NAVEGAGAO ARRISCADA Embarcagio lotada de migrantes se aproxima da ha de Kos, na Grécia Emmeio ao crescente sentimentode xenofobia no continente, a Eslovénia foi outranagioaedificar cercasafimde impedir a entrada legal de imigrantes. ‘Abarreira foi erguida na ronteiracom a Croécia, situada ao sul. Schengen na berlinda Aimplantagao de controles frontei- rigos é uma das respostas de alguns paises ao intenso fluxo migratorio. A fim de proteger seus territérios, os governos estio, na pratica, revendo ‘0s termos do Acordo de Schengen, que libera a circulagao de pessoas € mercadorias entre asfronteiras das na- ges europeias signatérias do tratado. Criado em 1985, 0 Espaco Schengen 6 um dos maiores simbolos da inte- gragio continental eretine 22 de seus 28 paises-membros, além de Islandia, Noruega, Suica e Liechtenstein, que nio fazem parte dobloco. Reino Unido, Inlanda, Roménia, Bulgéria, Chipre e Crodcia integram a UE, mas nao ade- riram ao Espaco Schengen. Em meados de fevereiro, os parla- mentares da UE iniciaram discussdes com o objetivo de restringir a livre circulacéo na regio e restabelecer 0 controle de passaporte nas frontei- ras internas para limitar a entrada de refugiados. Antes disso, a Comissio Europeia, braro executivo do bloco, ja haviaameacado a Grécia de suspensio do Espaco Schengen caso 0 pais nao conseguisse resolver as deficiéncias do controle de suas fronteiras. [ACESSO RESTRITO Soldadoseslovenos instalam barrlra de protec na frontelra com a rodcla, Outra convencio europeia que pas- souaser colocada em discussioa partir do agravamento da crise dosrefugiados foi aRegulagio de Dublin, que trata da politica de concessio de asilo na Unio Europeia. Poressalei, aprovada pelos estados-membros em junho de 1990 na capital irlandesa - dai o seu nome -, as pessoas que buscam asilo no continente precisam requisité-lo no primeiro pais em que colocaremos pés. Essa determinagio poe forte pressio nas nacées situadas nos limites terri- toriais do bloco, como Italia, Grécia e ‘Hungria, que sio o ponto de chegada dos refugiados. A Grécia, que desde 2008 enfrenta graves dificuldades fi- nanceiras, jé deixou claro que nao tem comoacolher os milhares de migrantes, que chegaram ao seu territério nos tl- timos mesese pediu ajuda emergencial 0s parceiros europeus. O papel da Alemanha A fim de amenizar a pressio sobre essas nagdes, 0 governo alemao passou a admitir em agosto do ano passado que migrantes oriundos da Siria so- licitassem visto no pais mesmo tendo transitado antes por outras nagdes europeias. Liderado pela chanceler Angela Merkel, 0 pais adotou desde © inicio da crise dos refugiados uma politica de portas abertas e recebeu pelo menos 800 mil pessoas em 2015, quatro vezes mais do que o registrado no ano anterior. Economia mais forte do continente, a Alemanha, conforme declaragdes de seus dirigentes, poderia aceitar um niimero maior de refugia- dos. Segundo dados oficiais relativos 82014, 10,9 milhdes de imigrantes vi- ‘vemna Alemanha, cuja populagio total soma 82,7 milhdes. ‘Apostura receptiva dos alemaes, em contraste com a posi¢o pouco amis- tosa da maioria dos paises da regio, esta fundamentada em razies demo- grificas e econémicas. A baixataxa de natalidade esta levando o mimero de habitantes do pais a um répido decli- nio. Projecdes da Comissio Europeia apontam quea populagao alemé cairé para 70,8 milhdes em 2060. Aomesmo tempo, cresce o indice de dependén- cia de idosos, que é a relagio entre a populacio mais velha (aposentada e onerosa aos cofres pitblicos) e a mais, nova e em idade ativa (a forca motriz do pais, capaz de trabalhar, gerar ri- quezas e pagar impostos). Até 2060, © percentual da populagao com 65 anos ou mais em comparago aos que ‘tem entre 15 e 64 anos deverd subir para 59%, contra os 32% atuais. E 0 problema se estende a todaa Europa. Até 2060, haverd nocontinente apenas dois trabalhadores para cada individuo acima de 65 anos, ametade da propor- go atual. Em resumo, a Alemanhaea Europa precisam da forga de trabalho dos imigrantes para sair dessa encru- zilhada demogréfica. ‘Uma das iniciativas do governo Merkel, que enfrenta a menor popu- laridade desde 2011, foi pressionar seus SO REFUGIADOS TEM DIREITO A SOLICITAR ASILO Multos termos raferantes a cris refuglados podem causarconfusio. Por 1ss0, 6 preciso fazer algumasdistingbes concaltuals entre eles: (© MIGRANTE qualquer pessoa que muda de reglao ou pals. (© MIGRANTE ECONOMICO pes: muda de regiao ou pals, por vonta prépria, paraescaparda pobreza gem de melhores condies de vida. ‘© REFUGIADO pessoa que mud: ‘lao ou pais tentandofugir de guer- ras, conflits Intemos, persegulco » @tnlca, religiosa etc.) © le direitos hum: © SOLICITANTE DEASILO pessoa quepe- iu proteszo Interacionale aguarda a concessiede status derefugiado. [A distingio entre esses concaltos & ‘multe Importante do ponto de vista legal ss0 porque apenas os refugiados ‘encontram acolhimento na Conveng! das Nagies Unidas sobre oF statuto dos Rofugiados,de 1951, enasdiretrizesda Unlio Europela para obtengao de aslo. J4 05 migrantes econdmicos nao tem direlto a requerer asilo. Multos palses europeus barram a entrada de Imigrantes Hlegals sol Justificativa de que a maloria desses estrangelros que chega a Europa sao imigrantes e nao refuglas Refuglados (Acnur)contestaoargumen- to, afirmando que ofto em cada dez mi- grantes provém de pases em conflito ‘ou sob regime de excecio, como Siria, ‘Afoganistao, Ira passado, 1,2 milhao: ‘taramasilono continente, mals doque odobro de 2014. Do total, cae: mileram silo GGEATUALDADES|1¢ seresire2016 52 Politica de acolhimento de refugiados liderada pela Alemanha é contestada por metade da populagao do pais parceiros da Unio Europeia a aceitar umsistema de cotas pelo qual cada pais, teria que receberum miimero determi- nado de refugiados. A iniciativa deu resultado, Em setembro do ano passado, ministros do Interior do bloco conse- guiram aprovar uma cota obrigatéria para realocar 160 mil refugiados que se encontravamna Gréciae naItélia para outras nagdes em dois anos. A medida foi aprovada sob forte oposico dos pa- ises do Leste Europeu, como Hungria, Roménia, Reptiblica Checae Eslovénia. Para Viktor Orban,o primeiro-ministro nacionalista da Hungria, Angela Merkel fez“imperialismo moral” ao tentar im- por sua visio progressista do problema para resto do continente. Resisténcia interna ‘A postura humanitaria de Merkel tem desagradado nao apenas Iideres de outras nacdes, mas também parte do puiblico interno. Pesquisadivulgada em dezembro do ano passado mostrou que quase metade dos alemaes (49%) considerava sua politica de refugiados equivocada. Os principais temores es- tio relacionados aos impactos que a chegada de milhares de imigrantes possa ter sobre o mercado de traba- Iho, os servigos piiblicos e o sistema de beneficios que vigoram no pais. Estimativas apontam que 0 governo central alemio ira gastar pelo menos 6 bilhées de euros para lidar com 0 fluxo de migrantes que cruzaram suas, fronteiras no ano pasado. ‘52 GeATUALADES|rsemeste 016 RECOMEGANDO A VIDA Abrigo para refuglados em antigo aeroporto de Berllm, na Alemanha As resisténcias partiram inclusive do partido de Merkel, o conservador Unido Democrata-Cristi, e ganharam forga depois da onda de crimes regi trados durante o Réveillon em Colénia, quarta maior metrépole do pais. Na noite do Ano-Novo, dezenas de mu- Iheres foram vitimas de crimes sexuais. Segundo testemunhas, os agressores tém procedéncia arabe. O episddio desencadeou uma onda de xenofobia no pais, com uma série de ataques de grupos nacionalistas,neona- zistas ede extrema direita arefugiados. Manifestagées anti-imigrantes foram realizadas em varias cidades europeias como parte de uma jornada organizada pelo movimento islamofébico alemio Pegida (sigla em alemao para Patrio- tas Europeus contra a Islamizacio do Ocidente). Nem mesmo a confirmagio de que amaioria dos agressores eram ‘marroguinos e argelinos que vivem ha muito tempono pais e nao refugiados sirios como se suspeitava inicialmente ~ abalou os manifestantes. ‘Numatentativade acalmar os inimos ereverter sua imagem junto a opiniio piiblica, o governo Merkel passou ade- fender maiores restrigSes ao acolhimento dos refugiados, tomando mais severasas regras de concessio de asilo e aumen- tando.o controle do fluxo derefugiados. Oendurecimento alemao foi seguido por paises tradicionalmente menos refrati- ros aimigrantes, como Finlandia, Suécia eDinamarca, que anunciaram medidas para diminuir a autorizagio de asilos. Pressao relativa Organizagées de defesa dos direitos Jumanos e centros de pesquisa sobre migragSes se posicionam contraos pla- nos de deportaciodos governose apon- tam que a crise dos refugiados nao esta relacionada a capacidade de a Europa receber essas pessoas. Sua verdadeira causa seria politica jé que os paises do continentennio se entendem sobre como lidar como trinsito de refugiados ecom 10 pleitos de asilo. Entidades como a Human Rights Watch refutam, com riimeros, a ideia de que a regio esta- ria sendo ameagada por uma invasio. Segundo a organizacio, os cerca de 1 milhio de refugiados que chegaram 20 continente em 2015 representam apenas, 0,2% de sua populagio total -um mime +o muito baixo de pessoas para causar ‘um colapso no sistema social europeu. ‘Analistastambém ponderam queo Ve- Iho Continentenao €0 principal destino dos migrantes sirios. Segundo dados da Anistia Internacional, mais de 90% dos refugiados sitios esto concentradosem_ cinco paises do Oriente Médio e Afri- ca: Turquia, Libano, Jordania, Iraque ¢ Egito. A Turquia jé recebeu mais de 2 milhdesde-sirios,enquanto 0 Libano, um pais mais pobre ecomumterritériocem vvezes menor do que a Europa, acolhew mais de 1 milhao (veja mais na pag. 33). PARA IR ALEM 0 filme Bvt (de Alejandro rity, 2010) conta ahistéia de um espanhol que explora trabalho deimigrantes chinese € sfricanos emBarcelona, BRITANICOS PODEM DEIXAR OBLOCO © Reino Unido fara um plebiscito em junho para decidir se 0 pais permanece ou nao na Unido Europeia ‘aesteirada crise dosrefugiados, ‘umanovaameacapaira sobrea UE: apossibilidade deo Reino Unido abandonar o bloco. No dia 23 de jumho, os britinicos irdo as urnas para decidirseo pais deve ou nio permanecer no maior bloco econémico do mundo. A realizagio do plebiscito atende a ‘uma promessa de campanha do primei- ro-ministro conservador David Came- ron, quando foi reconduzido ao cargo em maio de 2015. Insatisfeito com as, obrigagées que o pais deve atender para permanecer no bloco, principalmente noqueserefere ao acolhimento de imi- srantes europeus, Cameroneraum duro critico da permanéncia do pais na UE. A gota d’égua foi o antincio do sistema SAIU NA IMPRENSA PELO MENOS 30 PAISES DEVOLVERAM REFUGIADOS DEFORMAILEGAL EM 2015, DIZANISTIA. (Com agenclas nternacionals ‘Ao menos 30 paises obrigaram, de forma llagal,refugiadosa voltarem alugaresonde corriam risco de vida, Informou um rela- t6rioda Anistia internacional que analisa a situac3o dos direitos humanos em 160 nagées. Segundo ONG, cinco desses pal ses pertencem Unigo Europela: Espanha, Holanda, Hungria, Grécia eBulgéria.(.) de cotas para recolhimento de refugia- dos, medida que foi veementemente condenada pelo governo britinico. Na tentativa de assegurar a permanéncia do Reino Unido, a UE concedeu ao pais, a condigao de “status especial”. Pelo acordo selado em fevereiro, o governo poderd restringir aconcessio de benefi- ciossociais aimigrantes seus filhos eo paisestard isento de cumpriraspoliticas de integracio do continente. Oaniincio do plebiscito foi feito no dia seguinte ao acordo, mas agora Cameron fara campanha pelo ‘sim’. Uma pesquisa recente apontou que 47%dosbritanicos io favoraveis Asaida do bloco,enquanto apenas 38% manifestaram o desejo de se- guirmembros da UE— 0s 14%restantes, declararam-se indecisos. Seo referendo for levado a cabo e os britanicos deci rem pela saida, sera. primeira vez que obloco perder um integrante. Comorigemna Comunidade Econé- ‘mica Europeia (CEE), fundadaem 1951, obloco foi formalmente criado em 1992. A partir dai, expandiu-se progressiva- mente e hoje ¢ formado por 28 paises. Acrise financeira de 2008 atingiu em cheio alguns Estados-membros, nota- damente Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda. Tentativas malsucedidas de su- perar acrise ameagaramaestabilidade da UE fortaleceramgruposde extrema direita, partidariosde uma plataforma xenéfoba e anticuropeia. A saida do Reino Unido do bloco daria municéo a eurocéticos de todo o continente a seguiremomesmocaminho. Diante da plor crise migratrlaenfrentada pela Europadesde a Segunda GuerraMundia, ‘aAnistiatambem crticou nestaquartaferaa vergonhosa resposta dos palses do continente € chegada macica de refuglados epedtu uma mudanca radicaldos compromlssos por parte da comunidade internacional. “Eta Europa, quee obloco mals eo do mun- do,ndo @capazde velar pelos dretosbasicos de algumas das pessoas mals perseguldas do mundo, ¢vergonhoso" disse osecretrlo eral da orpantzacdo, Sal shetty...) Globo, 24/2/2016 RESUMO Unido Europeia 2 UNIAO EUROPEIA E 0 maior bloco eco- némico do mundo, que agrupa 8 paises. Dezenovedeles compdema zona do euro, que compartithao euro.comomoeda ini- a,Hé ainda oEspago Schengen, incuindo 2 paises (quatro de fora da UE}. CCRISE DOS REFUGIADOS Mais de 1 mi- thio de migrantesentraram na Europa em 2015, na maior movimentagdo humana no continente desde o fim da I! Guerra Mundial. A maforia provém do Oriente édlo, principalmenteda Sita, eda Afica, Eles chegam ®ido tentando escapar de guerras,conflitosinternos, perseguigéese = vlolagbesde direitos humanos ¢ em busca de melhores condigies de vida. 2 ROTAFATAL Agrande maloria dos refugla- dos entra no continente atravessando 0 Mar Mediterraneo. Arotamalsutilizadaéa que aza ligagio maritima entrea Turqula a Grécla, Cerca de 850 mil refugiados utilzaram esse caminho, Segundo a Orga- nizacSo Internacional para as Migracées, co mimero demortos e desaparecidos nas £ travessias pelo mar bateu recordeno ano passado, chegando a 3.771 pessoas. RESPOSTA EUROPEIAA crise 6 agravada 5 pela falta de acordo entre os membros dda UE sobre como enfrentaro problema. | ‘Alguns paises, como Alemanha e Sucia, = tém adotado uma postura mais liberal ¢ favoravel a0 acolhimento dos refugla- dos, enquanto outros defendem medi- = das dristicas para conter a chegada dos deslocados. Hungri, Austria e Eslovénia construiram barreiras em suas rontlras ara impedira entrada dos refugiados. Ogoverno hingaro também aprovou uma lei que pune com prisdo imigrantes que tentrem ilegalmente no pais. PLEBISCITO BRITANICO Outro problema enfrentado pelo blocoeuropeué a ameaca "do Reino Unido de debvar a associacio. Os britanicas iréo decidir em um plebis- ito, programado para Junho deste ano, se ficam ou saem do bloco. Depols de conseguirconcessbasda Unido Europela,o primelro-ministro David Cameron passou 2 apolar a permanéncia do paisna UE. Ces A VOLTA DE MOSCOU A ARENA GEOPOLITICA Ao intervir diretamente na guerra da Siria, a Russia pretende assegurar seus interesses no Oriente Médio e mostrar que ainda exerce papel fundamental nas crises mundiais '54 GcATUALDADES| 1 semeate 016 A midade com o regime do dita- dor sitio Bashar al-Assad, que hd cinco anos tenta se manter no poder as custas de uma brutal guerra civil. No entanto, Moscou evitava realizar umain- tervengio militardiretano conflito para defender seu aliado histérica Essa estra- tégiacomecouamudarem setembrode 2015, quandoas forgasrussas iniciaram. Juma sériede ataques aéreos em defesa de Assad. Entre os alvos estavam bases do grupo extremista Estado Islamico (ED), mas nfo s4 Os cagas russos também atin- giramoutros grupos anti-Assad queso apoiados pelos Estados Unidos (BUA) e pelo Ocidente, 0 que gerou criticas por parte dos norte-americanos. Sigs carregam {fotos do presidente Bashar al-Assad e bandelras da Rissia, ‘em Damasce: apolo Alntervengéo de Moscou na guerra A intervengio da Rissia toma ainda mais complexo 0 equilibrio de forcas no conflito e pode mudar a disputa em favor do regime sirio.O presidente russo ‘Vladimir Putin defende os ataques soba justificativa de que o fortalecimento de Assad &tinica forma de derrotar o EI. Tio Ocidente patinana definigio deuma estratégia: quer derrubar o ditadorsirio, ‘masaprioridade passoua sero.combate A organizagio extremista. Desde 2014, 05, Estados Unidos lideram uma coalizio dde mais de 40 paises e vém realizando bombardeios as bases do EI, mas os re- sultados tém sido limitados. envolvimento das forgas russas na guerrada Siria émaisuma aposta ousada de Putin para assegurar seus interesses estratégicos e posicionar o pais nova- ‘mente no centro do tabuleiro geopolitico. Em 2014, a Russia jé havia desafiado 0 Ocidente ao interferir na tentativa da Unido Europeia de atraira Ucrania para sua zona de influéncia -o resultado foi a anexagio da Crimeia por Moscou e a desestabilizagio do leste ueraniano. Ago- a, aRiissiamostra que pode preencher © vacuo deixado pela inacio ocidental e apresentar-se como um ator decisivo para resolugo da crise na Siria. 0 pés-Guerra Fria Arretomada do protagonismo interna cional é um objetivo que a Riissia vem buscando desde queda do comunismo eodesmembramento da Unis Sovietica (URSS), em 1991, Semostatus de super- poténcia, o pais deu inicio a um enga- jamento com o Ocidente e se integrou nova ordem mundial, a globalizacio. Foiaceitaem diversasinstituigées, como Organizagio Mundial do Comércio (OMC)e0G-7 (grupo que reunia os se- tes paises ocidentais mais ricos domun- do), que se tornou G-8. Nesse processo,a Riissiaatraiu investimentos estrangeiros e estreitou lagos comerciais com a UE. Porém,a transicio para ocapitalismo foi conturbada. Imersa em um caos politico e econdmico durante os anos 1990, a Russia assistiu passivamente A expansio da Otan, a alianga militar ocidental, e da Unio Europeia (UE) rumo ao leste europeu. Dessa forma, paises como Estonia, Letonia, ituania, Polénia, Hungria e RepiiblicaTeheca, que tradicionalmente gravitavam sob a érbita de influéncia de Moscou, se alinharam com o Ocidente. Desde que assumiu a presidéncia da Riissia pela primeira vez, em 2000, Putin iniciou uma agao para tentar restaurar a forga internacional do pais. Sua estra- tégia econdmica passou a privilegiar a exportagio de recursos naturais—o pais 6umdos grandes produtores mundiais, de petréleo e gis. Para isso, 0 governo recuperou o controle de empresas es- tratégicas que haviam sido privatizadas, na gestio anterior. Como varios paises, do leste europeu dependem do gis rus- so, Putin passou a utilizar os recursos como fonte de pressio econémica e politica - cortando o fornecimento ou oferecendo descontos, dependendo do grau de alinhamento com Moscou. PUisrecunia Lunt (Pass uefa pre dass ales ns qua asia mar bases mites Pass dost Europon quran alas 3 Rss [Palermo a Uli curopela eda ota Nacrise da Ucrania, Putin bateu de frentecomo Ocidente e criticou o expansionismo da Otan Acrise na Ucrénia ‘A perda da influéncia sobre as an- tigas repiblicas do periodo soviético sempre causou ressentimento entre a elite politica russa. Por isso, quando a Ucrinia passou a negociar um acordo comercial com a UE no final de 2013, Putin achou que os europeus haviam ido longe demais. Afinal, a Ucrania é um pais estratégico para a geopolitica russa, considerado chave para a sua seguranga nacional. 0 alinhamento da Ucrinia com os europeus poderia facilitar o ingresso do pais na Otan e a consequente instalagao de bases em seu territério. A ideia de ver as forgas militares ocidentais em sua fronteira sudoeste é algo inconcebivel para Putin. ‘Logo, quando o presidente ucraniano Viktor Yanukovich estava prestes a assinar um acordo de associacéo co- mercial com a UE, Putin atravessou onegécio e ofereceu uma ajuda de15 bilhdes de délares mais promessa de um acordo econdmico com a Riissia. Yanukovich aceitou a oferta e virou as costas para a UE. Mas a decisio provocou uma onda de revoltas que culminoucomareniincia do presidente em fevereiro de 2014. Diante daameagade perderumgover- noaliado ever aumentaras perspectivas dea Ucrania se alinhar com os europeus, Putin agiu rapidamente. Uma rebeligo nna peninsula da Crimeia—uma repiiblica auténoma da Ucrinia, mas de populagio ‘majoritariamente russa- terminou com a declaraco de independéncia e sua ‘56 GcATUALDADES| 1 semeste 2016 ‘AcoRDO Opresidenterusso Viadimir Putin (Gi) recebe Bashar alAssad, presidente da Siri, no Kremlin, ‘emMoscou, em 2015 anexacio a Rissia. A Crimeia também & estratégica por abrigar uma importante base naval russa em Sebastopol, o que garante a Moscou acesso ao Mar Negro. Logo na sequéncia,irromperam revoltas separatistas em importantes provincias do leste ucraniano, como Donetske Lu- gansk, onde também vive um grande contingente de russos. Europeus e norte-americanos acu- saram a Riissia de violar a integridade territorial da Ucraniae desrespeitar o direito internacional. Em represilia, as poténcias ocidentais expulsaram a Riis- siadoG-8e aplicaram sangées contra osistema financeiro, as indiistrias de defesa e de tecnologia e o estratégico setor de energia. Nos meses seguintes, as medidas comegaram a afetar gra- ‘vemente a economia russa. Além das sangées, 0 pais também foi prejudica- do pela desvalorizagio acentuada das commodities de energia que exporta,e que sio a ua principal fonte de receita (vejamais na pdg. 108). Bm 2015, pais mergulhou na recessio. A intervengéo na Siria Desde o inicio do conflito, a Russia, como membro permanente do Conselho de Segurangada ONU, vemusandoseu poder de veto para impediraadogio de resolugdes contra a Siria. Para Putin, a defesa de Assad significaa manutencio de uma longa alianca com a Siria, que ‘vem desde operiodo sovietico. ARissia uma antiga fornecedora de armamen- tos e inteligéncia militar para os sirios. Essa parceria rendeaMoscouo controle da base naval de Tartus no litoral da Siria. O porto é 0 principal acesso da Riissia ao Mediterréneo e representa ‘0 ponto mais estratégico da Ruissia no Oriente Médio. ‘Agora, isolada internacionalmen- te e mergulhada em uma séria crise ‘econémica, a Rissia decidiu intervir diretamente no conflito da Siria para tentar alterar o jogo a seu favor. Para muitos analistas, 0 objetivo é emba- ralhar a crise para tentar extrair van- tagens geopoliticas. Devido a falta de iniciativa das poténcias ocidentais, a Riissia quer se posicionar como um. ator capaz de interferir nos rumos do Oriente Médio ~ e, portanto, aumentar seu pesona comunidade internacional. ‘Aagio do pais também coincide com ‘omomentoem que a Europa mostra-se mais vulneravel diante das consequén- cias do conflito - mais notadamente devido ao avango do terrorismo do EI para as cidades europeias e ao inces- sante éxodo de refugiados em directo ao continente. Apesar de atingir alvos do EI, 0 focoda operagao russa na Siria é-claramente proteger Assad, tanto que s principais afetados pelos bombar- deios séo outros grupos rebeldes, que, inclusive, recebem apoio militar das, poténcias ocidentais. ‘Ao insistir que o fortalecimento de Assad é a tinica forma de derrotar 0 EI, Putin trabalha em uma engenharia diplomatica bastante complicada: sua estratégia é chegar aum alinhamento das poténcias mundiais com o regime de Assad para vencer os fundamenta- listas. Posteriormente, uma negociagio politica paraa solucio da crise siria se tornaria mais vidvel. Nesse aspecto,al- gumas declaragées da diplomacia russa sinalizam até que a prioridade nio é ‘manter Assad no poder, desde que ele seja substituido por forgas politicas que garantama influéncia russa na regio. Por ora, odiscurso da diplomaciarussa sindanfoencontroueco entreaslideran- {gas ocidentais. Mas é com essa cartada que Putin pretende resgatar o presti internacional da Rissiae conservar seus interesses geopoliticos no Oriente Mé- dio. Umalinhamentodesse tipotambém tomaria mais vidvel uma reaproximagio SAIU NAIMPRENSA PUTIN APROVA USO DA FORGA PARA DEFESA DE INTERESSE NACIONAL DaEFE O presidente russo, Vladimir Putin, aprovou nesta quinta-felra uma nova es- tratigia de seguranga nacional até 2020 que permite, caso a diplomacia nao surta efeito, 0 uso da forca para a defesa dos Interesses nacionais, embora estenda a ‘mo a0sEUA para garantiraestabilidade Internacional...) principal amea¢a para a seguranga na. DESACORDO Opresidente sso Madimir Putin eo presidente dos EUA, Barack Obama, ‘em Nova York, em setembro de 2015 como Ocidente, necessiria para a sus- pensio das sanges econdmicas um entendimento sobre acrise na Ucrania. Anda que sua estratégia para resolver a crise na Siria envolva um intrincado conflito de interesses, Putin ao menos 44 conseguiu elevar a estatura politica nesta crise: uma saida negociada para © conflto na Siria agora parece pouco provavel sem o consentimento e a par- ticipagio ativa da Riissia. a FIQUEDE OLHOA Rissa realzardeleigbes parlamentares no dia 18 de setembro.Além de defini or membros da Duma federal pleto serum testede foo para oatualprimeiro- rministro, Dmitri Medvedev, aliade de Putin ‘ue tentardareelegio clonal continua sendo a Otan, ¢ a Rissla Insiste em apontar como “inaceltivel” a ‘expansio da Allanca Atlantica para suas fronteiras e o desdobramento de um es- cudo antimisseis. Alam disso, o texto acusa 0 Ocidente de ppreparar as condicBes para a aparicéo de lorganizagbes terroristas como o Estado Islémico com sua politica de derrubar go- vernoslegitimos, o que causa nstabllidade ed crigem de conflits, especialmente no Oriente Médio eo norte da Africa, Exame.com, 31/12/2015 "crise econémica no pas. RESUMO Russia UNIAO EUROPEIA E OTAN Apés o final da Guerra Fri, » Unio Europea (UE) ¢ a Organizagéo do Tratado do atlntico Norte (Otan),aalanca militar ocidental, expandem-se rumo ao Leste Europeu. O objetivo & arair os paises que faziam parte da Unido Sovitica (URSS) ede sua zona de influéncia Essa estragla pre- cocupa o governo da Rissa, ue vé esse processo como uma ofensva queameaca suas ronterase a hegemonia regional VLADIMIR PUTIN O atual presidente da Rissia assumiu o comando do pais pela primelravez em2000com objetivo dere- cuperar a economia erestauraro prestigjo Internacional do pais. Paraisso,retormou © controle de empresas estratégicas do setor de petrbleo e gis tenta reagrupar as antigas repiblicas sovieticas para sua esferade nfluéncla, AUcraniaéum desses paises considerados estratagicos para a seguranga e a economia russa. CCRISE NA UCRANIA A tentativa da UE de = atrair a Ucrania para sua zona de influ- Encia esbarrouna objecdo da Rissa. Em 2014, apés as revoltas que destituiram 0 presidente ucraniano, a Ucrénia entrou fem grave crise. 0 pais perdeu a Crimea, que fol anexada pela Rissia,e viu o sur- imento demovimentos separatistas em importantes cidades doleste, quecontam ‘como apoio de Moscou. CCRISE ECONOMICAA UE @ os EUAImpu- seram sangées econdmicas a Rissa, em represélia’ Intervengona Ucrania. Essas, medidas se somam a queda nos precos mundiatsdo petrdleo edo gésnatural dois dos principais produtos deexportacéo da Rassia, o que tem provocado uma grave (GUERRA NA SIRIAARissia mantém uma tase naval em Tartus no litral da Sra, um antig allado do ditador Bashar alssad, Em 2015, Moscou decidiuin- tervirnoconflte da Sila, bombardeando bases doEstado slamico (8) ede grupos rebeldes Essa acéo visa a preservar os = Interessesrussosno Oriente Médioelevar o status politico do pais. GGEATUALDADES|1¢ cement 2016 ST APOLITICA TURCA NA ENCRUZILHADA AtensAo entre islamicos e seculares se acirra enquanto o pais mergulha no conflito da Siria e passa a ser alvo de atentados terroristas or Fablo Sasaki Igada 4 condigao de grande A wien mt ma década, a Turquia inicia © ano enfrentando grandes desafios. Intemamente, a instabilidade éalimen- tada pelas ambigSes politicas de Recep ‘Tayyip Erdogan, o carismatico politico que foi primeiro-ministro entre 2003, '58 GcATUALADES|Psemeste 016 € 2014, Atualmente na presidéncia, ele quer mudar a lei, adotando o pre- sidencialismo em substituigao ao atual sistema parlamentarista. Por tris dessa iniciativa, esta a tentativa de acumu- lar os poderes da chefia de governo, que hoje cabem ao primeiro-ministro. Para promover essa mudanga, Erdo- Em outubro de 2015, Ancara sofreu ‘omalor atentado dabistria do pals: ‘9Smortos emals de 200 feridos gan conta com a maioria parlamentar conquistada pelo Partido da Justica e Desenvolvimento (AKP), do qual lider, nas eleiges de novembro de 2015. Essa disputa pelo poder acirra ainda mais a ja quente polarizagao entre os islamicos que apoiam o AKP e aoposi- go que defende o secularism. ‘Além dos desafios internos, 0 con- texto geopolitico ¢ bastante turbulento para a Turquia. Nos tiltimos meses, a situagdo se agravou com o maior volvimento do pais na guerra da Siria. A partir desses eventos, a Turquia re~ tomou o histérico conflito contra os curdose passoua seralvo de atentados cometidos pelo grupo terrorista Estado Islamico (ED). O secularismo turco A Turquia esta localizada entre a Europa e o Oriente Médio, posigéo que sempre Ihe conferiu um papel es- tratégico e histérico relevante - basta embrar que o local foi ocentro irradia- dor de poder dos impérios Bizantino (30-1453) e Otomano (1281-1918). As bases da Turquia modernacomesaram (Gar: anos cenas eps daTugula (pat tnara Piasciafeseambl, lami Busa, Adana deen Nh Pople, as, Ialgae anise 9,78) Mostra rata iS ies om) and pr pits US ED Zea habitats pos ‘ardor © Patsintsie tr (@ Pando cre teal a ser estabelecidas com a dissolugio do Império Otomano apés a derrota na I Guerra Mundial, em 1918. A crise politicae econémica do pés-guerradeu origem aum movimento nacionalista, liderado pelo general Mustafa Kemal, que adotou o codinome de “Ataturk” ou “pai dos turcos”. Considerado 0 fundador da Turquia moderna, Ataturk aboliu o califado, o governo iskimico comandado por um sultio, e proclamou areptiblicaem 1923. ‘Comum programa radical de ociden- talizagao, Ataturk rompeu com ohistéri- coatrelamento entre o Estado eareligiio islamica ao fazer da Turquia um pais, secular. A medida provocou profundas alterages na estrutura social do pais. As novas forgas politicas acompanharam a polarizagaona sociedade ese dividiram entre aqueles que defendiam os valores, seculares de Ataturk e os favoriveis a tum papel maior do sli na vida piblica. Esse cendrio gerou grande instabilida- de politica nos anos seguintes. Como guardides do secularismo, os militares derrubaram sucessivos governantes que ‘tinham um perfil mais religioso. Aascenséo de Erdogan cenario comegou a mudar a partir de 2002, com avitdria do AKP naselei- (Ges parlamentares. A ascensio de um partido islamico, ainda que moderado, no foi bem recebida pelos militares e pelaelite politica. A época, Erdogan era lider do partido, mas havia sido proibi- do deexercer cargos piilicos por repre- sentaruma ameaga ao secularismo.Com uum discurso pragmatico,em que prome- tiamanter as reformas pré-ocidentaise afirmava seu compromisso como laicis- mo, Erdogan reconquistou os direitos politicos e assumiu como primeiro- ministro em 2003. Pautado por uma agenda liberali- zante, Erdogan atraiu investimentos externos e aumentou as parcerias co- merciaiscomo exterior: Internamente, investiu em grandes obras de in trutura, ampliou os beneficios sociais ¢ estimulouo consumo doméstico. Com essa receita, a Turquia tornou-se uma das economias emergentes mais pujan- tes do mundo. O pais também firmou cadeiracativa no G-20,o grupo das 20 maiores economias do planeta. No plano externo, Erdogan obteve 6 aval da Unio Europeia para iniciar as negociagSes de ingresso da Tur quia no bloco (veja boxe na pag: 60). Paralelamente, também estreitou os lagos diplomaticos ecomerciais com as nagdes mugulmanas do Oriente Médio, especialmente Ira, Iraque e Siria. Em um periodo de menos de uma década, Erdogan tornou-se o politico mais influente da Turquia desde Ata- turk,o que garantiu ao AKP expressivas vitérias nas eleig6es de 2007 e 2011. Essa popularidade foi sustentada por importantes conquistas:a economiaia de-vento em popa, as tensdes politicas entre religiosos e seculares haviam se acomodado e a Turquia passou a ser vista como um ator diplomético essencial na regio. Durante a eclosio da Primavera Arabe em 2011, quando manifestagées populares se voltaram contra os governos autoritarios no Oriente Médio e no norte da Africa, a Turquia foi frequentemente apontada como um modelo para os paises de maioria mugulmana que sonhavam com um regime mais democratico. Ao abrir frentes de combate contra o Estado Isldmico e os curdos, a Turquia se expée a atentados Guinada autoritdria Opoder no entanto, seduziu Erdogan a ponto de ele impor uma agenda mais, autoritéria, O primeiro-ministro é acu- sado de tentar neutralizar instituigdes que servem de contrapeso ao seu poder. ‘Alémdeminarainfluénciados militares, Erdogan se voltou contra o Judiciario, a0 concentrar no Executivo a escolha de juizes, e contra a midia, ao prender jomnalistas criticos ao seu governo. Paralelamente, adotou algumasmedi- das que abalaram aconfianga que tinha dossecularistas, como aliberagio do uso do lenco iskamico em escolas e reparti- ges pubblicas ea proibi bebidas alcodlicas noite. Seus criticos denunciam a imposig&o de uma agenda islamica, enquanto 0s simpatizantes do primeiro-ministro consideram asmedi- das como uma restauragao daliberdade de expressio religiosa. A tensio entre seculares eislimicos voltou ase acirrar. Essas agbes, somadas desaceleragio da economia, acabaram desgastando a imagem do primeiro-ministro. Mesmo assim, apoiado em uma sélida base de eleitores entre a populagio rural, religiosa e conservadora, ele venceu aseleigdes presidenciaisem 2014 apés encerrar sua passagem como primeiro- -ministro por esgotar o limite de trés mandatos, como exige a Constituicao. Siria e Estado Islémico ‘Além dos desafios domésticos,o gover- no turco precisa lidar com uma agenda externaconturbada Desde 2011, guerra civil naSiria vem desestabilizando todo © Oriente Médio. A Turquia foi um dos primeiros paises da regio a se voltar diretamente contra o governo da Siria logo no inicio do conflto, ainda que as, duas nagdes cultivassem boas relagdes, no passado, Os turcos passaram a finan- ciar a oposigo moderadaee até os mais, radicais com o objetivo de derrubar 0 ditador sirio Bashar al-Assad. 660 ccaTUALoADES|*semeste 016 ‘CENTRALIZADOR O presidente Recep Erdogan em pronunclamento apés os atentados em Istambul — DESAFIOS GEOPOLITICOS O histérico impert callzagao geografica estratégica colocam a Turquia no centro de importantes conflitos de Interasses na reglao. Além da crise no Oriente Médio, veja outros desaflos que a politica externa turca enfrents histéricarivalidade entre Turquiae Grécia tem como maior foco questio do Chipre. Essaitha do Mediterraneo se divide om dois est a Repablica de Chipre, no sul, que possul populagao majoritéria de origem srega; ea Repdblica Turca do Norte do Chipre, que écontrolada pela Turquia e ‘em reconhecimentointemactonal As negoclacées para a unficacao do pals rram naintransigencia de turcose gregos. (© Armenia: arazéo da crise entre os dots pases ¢ 0 genocidlo cometido pelos tur- cos contra os arménios durante aI Guerra Mundial (1914-1918), que delxou 1 milhao e melo demortos. At hoje a Arménialuta para que a Turqulareconhesa genocide. Para evitaratrtos devidoao papel estratégicoda Turqula, os EURe muttas nagées europelas nao reconhecem o genocidl (© Rassia: as duas nagées possuem relagies amistosas que se deterloraram recen- temente devido as posicSes opostas em relagao ao conflito na Siria. O ditador sirlo Bashar al-Assad 6 o principal allado da Rissla no Oriente Médio, enquanto a Turqula faz de tudo para tentar derrubé-to. Em novembro de 2015, um caga russo que apolava as tropas de Assad fol abatido pelas forcas turcas por Invadir ‘espace aéreo do Is. Ingresso no bloco europeu 6 um desejo antigo da Turquia. ‘As negoclagées comegaram em 2005, mas pouco avancaram desde entio. Os ‘europeus exigem que a Turquia entre em acordo para a unificagao do Chi reconhesa o genocidio arménlo, Além disso, existe a objecio velada de que um pals de malorta muculmana faga parte da UE. No final de 2015, as negoclagées ceitar ajudar a Europa na crise dos refugiados. or fazer frontelracom a Sirla, aTurqula se tomnou o principaldestino (05 refugiados que fogem daquele pals em diregao a Europa. Desde o Infclo do conflito, a Turquia Jé recebeu mals de 2 mithées de sitios - cerca de 400 mil doles vivem em campos de refuglados superlotados. Mas o maior foco de tensio diz res- peito arelacio ambigua que o governo turco mantémcom oEL Nodecorrer do conflito,o grupo extremistadespontou como tinica forga capaz de fazer frente Astropas de Assad. Formalmente,a Tur- quia mantém o discurso de alinhamento comas poténciasocidentaisno combate 0 fundamentalismo islamico. No en- tanto, como a Turquia e o EI querem derrubar Assad, o governo de Erdogan 6 acusado de fazer vistas grossas em re- lago aos avangos do grupo extremista. O conflito com os curdos Osinteressesda Turquiaedo EI tam- bémconvergemem outro aspecto:am- bostémos curdos como inimigos. Maior etnia sem Estado no mundo, com 26 milhdes de pessoas, os curdos habitam uma érea que abrange os territérios de ‘Turquia, Iraque, Siria, Ird, Arménia e Azerbaidjéo. Na Turquia, onde repre- sentam cerca de 20% da populagio, os curdoslutam pela independéncia do seu territério. O principal gruposeparatista 60 Partido dos Trabalhadores do Cur- distio (PKK), que inicioualutaarmada em 1984, Com o tempo, passaram aexi- gir apenas mais autonomia nas regiGes onde vivem, e as negociagées levaram um cessar-fogo em 2013. ‘NaSiria, oscurdoslocaisconquistaram boa dose de autonomiano norte do pais, perto da fronteira com a Turquia, onde mantémrelacées estreitas como PKK e defendem seu territério contraoavanco do EI.Paraa Turquia,aaliangaentreos TURQUIA QUER €6 BI PARA FECHAR ‘ROTA DOS BALCAS’ 0 governo da Turquia pediu ontem € 6 bilhdes em investimentos da Unigo Eu- ropela em troca do fechamento de sua fronteira com a Grécia, por onde centenas de milhares de imigrantes vam cruzando Mar Egeu. Bruxelashaviaprometidoerwiar€3bilhGes ‘Ancaraparafnanclarcampos de refugiados cealuta contra as redes de trafico humano. Mas apenas uma fracao dos recursos fol ‘ransferida, porque oslidereseuropeusestio curdos sirios eo PKK representa prin- cipal ameaca ao seu territério. Por isso, sempre foi conveniente para Erdogan deixar que oEI fizesse 0 trabalho sujo” de lancar ataques aos curdos sirios e 20 PKK naregio. Mas essa relacio acabou se tornando insustentavel. A situacio comegou a mudar em julho de 2015, quando a cidade turea de Surug, no sul do pais foi alvo de umataquedo EI, que vitimou 32 pessoas, a maioria curdas. No mesmo episédio, o PKK matou dois, policiais turcos, acusados de colaborar como ataque jihadista. caso levou o governo Erdogan a ‘mudar sua estratégia: a Turquia passou a atacar abertamente alvos do PKK na Siria,rompendo atrégua com os curdos, e iniciou uma colaboracao efetiva com tan, do qual é membro, no combate 0 El. Mas, ao abrir duas novas frentes de combate, aos extremistas do PKK edo EI, a Turquia também acabou se expondo. Em outubro, 0 pais sofreu 0 maior atentado de sua histéria, quando ‘umabomba explodiu numa area préxima Aestagio de trem de Ancaraedeixou 95 ‘mortasemais de 200 eridos Em janeiro de 2016, um now atentado numa regio turistica de Istambul deixoudez mortos. Ambos 0s casos foram atribuidos ao EI. _Emmenores proporgées,oPKK também 6 acusado de promover ataques. ‘Apés uma década de prosperidade e relativa paz, a Turquia agora flerta comainstabilidade politicaecomum clima de inseguranga que ameagam as recentes conquistas. 5 Insatisfetos com a ago do governo turco, {que nao vem impedindo as travessias de bbarco pelo Mar Egeu. No domingo, mats 25 ‘pessoas morreram em um naufraglo. Ontem, a Turquia apresentou uma nova ‘proposta: dabraro valor da ajuda financeira {que receberia de Bruxclas até 2018. Além disso, Davutoglu pediu ofim da necessidade de vistos para turcos que quiseremingressar no Espaco Schengen, rea de ivrecirculacdo de pessoas, e orelancamento do process de adesdo do pais & Unio Europeta (..) 0 Estado de S. Paulo, 8/3/2016 RESUMO, Turquia HISTORIA ATurqulamodernatem orfgem na dissolugdo do Império Otomano, apés, fim da | Guerra Mundial, em 1918. Um ‘movimento nacionalistaliderado por Mus- tafa Kemal “Ataturk fundoua repdiblicae Iniciou um processo de ocidentalizaclo,, culaprincipal gio fol separaroEstadoda religido,criando as bases do secularismo, ISLAMISMO E LAICISMO A Turqula é um pais de maforia muculmana que man- ‘tm o Estado laico. As principals forcas politicasno paissedividem entre aqueles ue defendem os valores seculares eos favordveis a um papel maior do ist na vida piblica. Essa polarizacéo reflete as posigdes dasociedade e é motivo defre- uentes disputas politicas. ERDOGAN Lider do Partide da Justica e Deserwolvimento (AKP), Recep Tayyip E- dogan foi primeiro-ministrodopais entre 2003 22014, Deperflreligioso, promoveu signifcativesavanros econémicos,o que alavancou sua popularidade. Atualments € presidente do pas, cargo de funclosim- bilica.Porisso, quer aterar oregimepara presidencialista e acumular mals poder. E criticado por promover uma guinada autoritériaereligiosa no pais. ‘CURDOS Os curdos formam amaior etna sem Estadono mundo e mantémum proje- ‘toparaacriagiodeum pais propriodesde ofinaldo século%, sobretudona Turqul, na Sirla e no iraque, paises nos quais 0 ‘movimento. vielentamentereprimido.Na Turquia, o principal grupo separatistaéo Partido dos Trabalhadores do Curdistéo (PKK), que niciou aluta armadaem 1984, | SIRIA E ESTADO ISLAMICO Na guerra da Sila, a Tuqula se posiciona abertamente contra o regime do ditador Bashar alAs- sad, Como mantém alguns interesses em ‘comum com 0 Estado |slémico (El), omoo combateao regime de Assad eos curdos, a Turquia éacusada deserconiventecom as agées do grupo extremista. Contudo, apés sofrerum atentado doEl,0 governo turco passou a combaterefetivamente a organizagaoetambémampliou osataques, 8s posicées do PKK. GGEATUALDADES|1¢cemesr 2016 6 Preludio sangrento Ha 80 anos comegava a G' uerra Civil Espanhola, oconflito que antecipou os horrores da II Guerra Espanha dos anos 1920 eraum A caldeirfio em ebuligao. Sem conseguir superar uma grave crise econémica decorrente da quebra da bolsa de Nova York, em 1929, 0 pais, era tomado por grevese violentas mani- festagées. O cenario de convulsio social eraalimentado pelas divergéncias entre as principais forcas politicas do pais. De umlado, trabalhadores rurais,operérios eintelectuais exigiam mudancas sociais profundas, como reforma agraria, auto- nomia regional e reducio dos poderes da Tgreja Catélicae das Forgas Armadas. ‘De outro, a classe dominante formada por proprietirios de terras, empresé- rios, monarquistas ¢ lideres militares e catélicos nio aceitava as mudancas. 62 ccaTUALAnes| seme 2016 Apolarizagio social atingiu seu pon- tocritico nas eleigdes de 1936, AFrente Popular, formada por socialistas,anar- quistas e trabalhadores que pressio- navam por reformas, saiu vitoriosada votagio. Derrotada, a Frente Nacio- nalista, composta por conservadores de ideias fascistas,temia aimplantacio de um governo socialista que pudesse colocar em marcha as reformas que contrariavam a ultradireita. ara evitar o avango dessas propostas, os nacionalistas, com a ajuda dos se- tores mais conservadores do Exército, arquitetaram um golpe militar para der rubaro governolegalmente constituido. Aresisténcia dos chamados republic nos, os simpatizantes da Frente Popular, FOGO CERRADO resistencia republicana em combate na dade de Toledo, nos primeiros dias da Guerra civil Espanhola, em 1936, evitou a queda imediata do governo. ‘Acessa alturao pais éestava mergulhado emum conflito generalizado-comeca- vaa Guerra Civil Espanhola. Nazifascismo e comunismo Ogolpe teve inicio no dia 17 de julho de 1936. A revolta do Exército contra ‘© governo foi liderada pelo general Francisco Franco, que estava nas pos- sessdes espanholas do Marrocos. Em poucos dias,osnacionalistas tomaram varias regides, como Navarra, Castillha Galicia, a maioria concentrada em ‘reas agricolas.Jé as zonas de controle republicano estavam concentradas nas regides mais industrializadas e urba- nas, como Madri e Barcelona. As tropas do general Francisco Franco tiveram a ajuda da Alemanha nazista e da Itdlia fascista Apesar de se tratar de um confronto local, envolvendo a disputa de poder na Espanha, a guerra logo ganhou con- tomnos internacionais. Os nacionalistas obtiveram apoio dos governos nazista da Alemanha fascista da Itilia, que en- ‘viaram soldados, armas emunigdes para ajudarastropas do general Franco. 4 os republicanos contaram coma ajuda do governo comunista da Unio Soviética (URSS), que organizou as chamadas Brigadas Internacionais, compostas por 25 mil combatentes voluntarios de 53 paises. Apesar de apoiar os republica- nos, Reino Unido e Franca decidiram no intervir diretamente no conflito. ‘Masenquanto os nacionalistastinham amaior parte do Exércitolutandoa seu favor eformavam uma frente decombate ‘mais unificada sob o comando de Fran- co, os republicanos nao dispunham de armamentos suficientes e enfrentavam dissidéncias internas. Essas divergén- cias atingiram o épice em maio de 1937, quando grupos de esquerda, incluindo anarquistas, marxistase o Partido Comu- nista, se enfrentaram em Barcelona, em confronts que deixaram 500 mortos. ‘GUERNICA Obra-prima do pintor Pablo Picasso retrata as vitimas da Guerra lvl Espanola Guernica ‘Adisputa fratricida acabou enfraque~ cendo ainda mais os republicanos na Tuta contraos nacionalistas. As tropas de Franco foram, gradualmente, con- quistando territérios de norte sul do pais. Em um dos episédios mais emble- miiticos e brutais da Guerra Civil, no dia 26 de abril de 1937 0s nacionalistas, empreenderam um violento bombar- deio aéreo sobre ovilarejo de Guernica, onde viviam apenas 6 mil habitantes. Localizado em uma das provincias do Pais Basco, regio no norte da Es- panha que havia assinado um tratado de autonomia regional como governo republicano, Guernica acabou sen- do vitima de retaliagao por parte de Franco - tratava-se de um aviso para outras regides que tentassem obter autonomia. O ataque foi realizado pela Forga AéreaAlema, em uma operacio que serviu para Adolf Hitler testarseu arsenal em um periodo em que a ten- sio antes da Segunda Guerra Mundial ganhava corpo. 0 bombardeio a Guernica deixou 1.684 mortos e 889 feridos. O horror vivenciado pelas vitimas foi registra- do por Pablo Picasso em sua célebre pintura Guernica. Vivendo exilado na Franga,o pintor decidiu exprimirtoda sua indignagao pelos acontecimentos da Guerra Civil Espanhola em umam- plo painel carregado de tons soturnos e expresses de desespero. &.conside- rada uma das pinturas mais icénicas do século XX. Vitoria nacionalista Quando guerra adentrouem seu se- gundo ano, jéestava claro que oavango nacionalista no podia mais ser conti- do, Em fevereiro de 1929, as tropas de Franco ocuparam Barcelona e,no més seguinte, Madri foi conquistada sem resisténcia. A tomada da capital pelos nacionalistas marca fim da republica ¢ o surgimento de um Estado autori- tério na Espanha. Em 1° de outubro, o general Franco é nomeado chefe de Estado e passa a governar o pais com poderes ditatoriais por quase 40 anos, atéa sua morte, em 1975 esse periodo ficou conhecido como franquismo. E dificil precisar ontimero de vitimas decorrentes da Guerra Civil Espanhola ~asestimativas maisrecentes apontam para cerca de 500 mil mortos. Devido& polarizacio entre comunistas fascis- tas eo envolvimento direto de Itilia e Alemanha, que utilizaramo territério espanhol para testar armamentos eté- ticas bélicas, a Guerra Civil Espanhola é considerada uma espécie de ensaio para o maior conflito da historia: a IL Guerra Mundial, que comegaria em setembro de 1939, poucos meses apés avitériade Francona Espanha. PARA IR ALEM Baceade nolo Lutands no Espanka, de George Orwell filme Terae Lbrdde (de Ken Loach 1995) retrataahistria de um jovem desempregado inglés. Ele se junta ‘30 Partido Comunistae decide partirpara a Espanhalutar conta as tropae farcistas do general Franco. roc amine are CENARIO POLITICO EM TRANSIGAO Vitoria do conservador Mauricio Macri, na Argentina, e fortalecimento da oposi¢ao na Venezuela reconfiguram as forcas regionais por Glovana Moraes Suzin cenario politico na América Latina passa por um periodode transformagdes. Nas eleigdes presidencialna Argentinae parlamentar na Venezuela, realizadas no inal de 2015, a oposicéo conservadoralevou amelhor sobre os candidatos de esquerda. As, derrotas dos governistas nesses paises sinalizam uma mudanca na pereepci0 da maioria do eleitorado local, que vé fo esgotamento de um modelo que no consegue responder & altura aos atuais, desafios econdmicos. No plano regional, essas eleigées ja comesam a alterar 0 equilibrio entre as orcas conservadoras ce progressistas que tem caracterizadoa América Latina nos tiltimos anos. Fim daera Kirchner Na Argentina, a eleigo de Mauricio Macri,da Proposta Republicana (PRO), de centro-direita, marca ummomentode rupturapoliticae econdmica.Sua vitéria no pleito presidencial, com uma diferen- gademenos de3% de votosdocandidato governista, Daniel Scioli, pés fim a 12 anosininterruptos de era Kirchner. Este periodo comecou comaeleigio de Nés- 664 ccATUALDADES|rsemeate 016 torKirchner, eleito em 2003,emmeio & maisgraveccrise econdmica da histériado pais. Em seus quatro anos de mandato, Néstor adotou programas de inclusio| sociale conseguiu reorganizar as contas priblicas,recolocando o pais no caminho docrescimento. Coma popularidade em alta, Néstor emplacou acandidatura de sua mulher Cristina, eleita presidente em 2007,quedeu continuidade ao seu proje- to.Apartirdo segundo mandato,iniciado apés a reeleigio em 2011, a economia voltou a se deteriorar, com o aumento da inflagio e do endividamento. O pais, também enfrentou uma onda de greves que abalou a popularidade de Cristina. descontentamento da populacio argentina com os rumos da economia ficouclarocomo resultado dasumnas na eleigao presidencial. Empresdrio bem- sucedido, Mac jé adotou medidaslibe- ralizantes, como a quebra de barreiras econémicas protecionistase abertura a0 mercado internacional. Orecém-criado Ministério da Modernizagao iniciou um corte que pode acabar com 60 mil vagas de emprego - ajustificativa é que essas, pessoas foram admitidas sem concur- so piiblico. Além disso, acabou com 0 controle cambial imposto desde 2011 pelo governo de Cristina como forma de impedir a fuga de divisas (délares e ‘outras moedas internacionais). Essas medidas apontam para umrelaxamento| do controle estatal na economia, uma das caracteristicas do governo anterior. Para conseguir aplicar suas politicas, contudo, o novo mandatario precisaré ‘obter um pacto de governabilidade, pois notem maioriana Camara de Deputa- dos enemnoSenado. Essa fragilidadena relago com o Congresso jase mostrou cevidente nos primeiros dias de man- dato, Por meio de um decreto, Macri revogou parte da Lei de Meios, umdos ‘grandes triunfos de Cristina. A lei visa ‘a democratizar a posse dos meios de comunicagio ao proibir o monopslio da informagio, erepresentou uma derrota do principal conglomerado de midia do pais, o Clarin. O decreto, contudo, foi anulado pela Justiga, que restabeleceu. ‘Lei de Meios em janeiro. Macri tam- bbém é acusado de autoritarismo por designar juizes para a Suprema Corte sem.a aprovago do Congresso. Acrisena Venezuela ‘Assim comona Argentina, aesquerda na Venezuela sofreu um grande revés eleitoral, reflexo da grave crise politi cae econémica, Com a maior inflagio da América do Sul, o pais viu seu PIB despencar em 2014 (veja na pg. 67). ‘Além da condugo equivocada da politica econdmica, a recessao se agravou por causa da redugao dos precos mundiais do petréleo, principal fonte de receitas do pais, e € uma das causas do forte de- sabastecimento de produtos essenciais. Para piorar, a tensio politica também 6 grande. Maduro sofre forte pressio da direita e governa perseguindo os opositores que classifica como golpis- tas. Em 2014 a Venezuela viveu uma série de manifestagdes pré e contra o governo que resultaram em 42 mortos e mais de 800 feridos. Ailtimaeleigio parlamentar, no fim de 2015, aumentou a instabilidade do pais. A vitéria da oposigdo de direita liderada pela Mesa da Unidade Democritica (MDU), que conseguiu maioria na Assembleia, & algo que nao acontecia desde 1999. A maioria de doistergos permite aobloco opositor aprovar leis organicas, refor- mar aConstituigao e até antecipar um rocesso para a sucessao presidencial. AA dificil relagio entre Maduro com © novo Congreso ficou explicita em janeiro, quando o presidente emitiu um decreto que Ihe garantia poderes para intervir mais diretamente na economia, especialmente no setor privado, durante doismeses. Apesar de aSuprema Corte, formada em sua maioriapor aliados de Maduro, aprovar o decreto, o Congresso rejeitou a medida logo na sequéncia, enterrando as pretenses do presidente. ‘Apolarizago politicano paiscomegou aseintensificar durante apresidéncia de Hugo Chavez, que governou o pais de 1999 atéa suamorte,em 2013. Ele aplicou politicas estatizantese antiliberais, espe- Gialmente apés 2005, quando declarou seu apoio ao que chamou de “Socialismo do séculoXX1”. Apesar de governar por eleigées regulares, sofreuumatentativa de golpe de Estado em 2002. Em seus anos no poder, ele comandou progra- ‘mas de reforma agraria e habitacional, investiu em gesties participativas entre Estado e trabalhadores e aumentou 0 ‘AVEZ DADIREITA O presidente Mauricio Macri ‘chega a Casa Rosada para acerimonia de controle estatal sobreaexploragiode gis e petrdleo ~a Venezuela é 0 pais coma maior reserva comprovada de petréleo do mundo. Mais érduo antagonista da influéncia norte-americana na regio, Chavez. manteve relagdes hostis comos Estados Unidos (EUA),apontodeambos os paises retirarem seus embaixadores das respectivas capitais em 2010. As forgas politicas Arrelago que cada pais da Améri- ca Latina mantém com os EUA acaba, muitas vezes, por influenciar o perfil do governo que se encontra no poder. Em comum, muitas das 33 nagdes que compéem a regio vivem um cenério politico de consolidagao recente de governos civis, apés um periodo mar- cado por ditaduras militares. Os atuais, governos costumam ser analisadosem trés blocosinformais que adotam dife- rentes linhas para enfrentaras profun- das desigualdades sociais eas mudangas econdmicas neoliberais, iniciadas por volta de 1990. Nas paginas seguintes, apresentamosa situagao atual dos prin- cipais paises desses grupos. roc amine are A Venezuela aumentou sua influéncia regional ao oferecer petréleo a precos subsidiados para seus aliados Bloco Bolivariano ‘Ogrupo tem essenome em referéncia ao herdida independéncia Simon Bolivar (17831830) eéliderado pela Venezuela. Ele se caracteriza pela adogio de politi- casnacionalistas de oposicaoclaraaone- oliberalismo eaos Estados Unidos (EUA). Outros paises que fazem parte do bloco sio Bolivia, Equador e Cuba. Em oposi 408 Area de Livre Comércio das Amé- ricas (Alea), proposta norte-americana paraa regiio,em20040.ex-presidenteda ‘Venezuela, Hugo Chaver, crioua Alianga Bolivariana para as Américas (Alba). Elainchui, além dos quatro paises do blo- cobolivariano,ainda Dominica Antigua e Barbudae Séo Vicente e Granadinas. Oacordo de cooperagio econémica prio- riza o fornecimento de mercadorias servigos entre os paises do bloco. A Ve- nezuelavende aessasnagdes petréleo a pregos subsidiados, em uma estratégia que feza sua nfluéncia naregiao crescer, com diversos governos adotando linhas politicas semelhantes sua. ‘Na Bolivia, o presidente Evo Morales governa desde 2006 com forte apoio popular ede movimentos sociais. Seu ED SAIU NAIMPRENSA OCDE: DESIGUALDADE DE RENDA NA AMERICA LATINA. £ 65% MAIOR QUE EM DESENVOLVIDOS ‘Adesigualdade derenda naAméricaLa- tina 65% maior que a vista em paises desenvolvidos, 36% maior que nos paises do Leste Aslatico e 18% acima que oregis- trado na Africa Subsaariana.A avaliacao é dda Organizacio para a Cooperacio e De- senvolvimento Econémico (OCDE), que aponta a educacao, a protecao social e 0 empreendedorismo como armasno com- ‘OPOSIGAO Ellcdes de dezembrona Venezuela marcam o fim da hegemonia chavista noCongresso governo reduziu a miséria em mais de 30%, estatizou o petrdleo e o gas € promoveu a reforma agraria. Outra reforma foi a constitucional, que pela primeira vez na historia do pais foi a referendo popular. Ela converteu a Bolivia num estado “plurinacional” a partir do reconhecimento de 36 et- nias comonagdes. Apesar de sero pais, mais pobre da regio, o PIB da Bolivia ceresce entre 4% € 6% desde 2010. Mas aredugio do preco do gas natural no mercado mundial deve desacelerar a economia. Em referendo realizado em fevereiro de 2016, os bolivianos deci- diram que Morales nao pode se can- didatar novamente & presidéncia em 2019,impedindo sua terceira reeleicao. bate desigualdade, além de um melo de deter a desaceleracio econémica na regio. Em relatério a entidade observa que a ‘queda nos precos das commodities, amenor atividade na Chinae oiniciodo clo dealta de |uros nos Estados Unidosimpactarama regldo. Essesfatores extarnos, combinados com oatraso de reformas estruturais urgen- tes, abrandaram o ritmo no qual os paises latino-americanos buscavamseaproximar dospadrées de vida nas economias desen- volvidas’, pontua o estude. (..) O Estado de Minas Gerals, 19/1/2016 (0 Equador clegeu o presidente Ra- fael Correa pela terceira vez. em 2013. Em dezembro de 2015, a Assembleia Nacional aprovou diversas emendas & Carta Magna. A mais importante é a que permite reeleiglo ilimitada para presidente a partir de 2021. Outraemen- da, no entanto, impede de concorrer & reeleigo quem jativer ocupadoo cargo por dois perfodos. Isso fara com que Correa fique ao menos um mandato ~ entre 2017 e 2021 - longe do poder. Com maioria absoluta no Congreso, elelevou acabo mudancasimportantes, como aestatizagiodo gise do petréleo, areforma constitucional, mudancasno sistema juridico e umalei de regulagio da midia, submetida a referendo popular. Correa enfrentaatualmente duros pro- testos. Depois de anos de crescimento, ‘© Equador vive uma crise econémica desencadeada pela queda do prego do petréleo e pela valorizagio do délar, moeda adotada no pais, que ameaca a competitividade dos produtores locais. Cuba é 0 tinico pais comunista da ‘América, também omais dependente da Alba. A nagao atravessou uma grave crise como fim da Unido Sovietica,em 1991, que comprava seu aticar a bons pregos e Ihe vendia petréleo com va- lores subsidiados. Desde 2008, quando Fidel Castro foi sucedido pelo irmio Rail Castro, ailha vem pasando por reformas liberalizantes na economia. ‘Atualmente a Venezuela fornece pe- emtroca de mercadoriase servicos de MEM ed ‘Wea comoosprincpalspales a redo se grupampolicamente ecofaseus dade soeccondics xy) “SWs ‘REGINOHETEROGENEA ‘Odesaquecimenton economia aparece para alguns como resutad do ‘combate cris mundi com bane de ‘ceslmento do PI alts taxas de Intaoe de esemprego. Por outro ado osqueinvestiam em dstribuisoderendanasiitimasdécadas _apresentamum nice de Desenvolvimento ‘Humane mats clevado (quanto mais ‘rx de, maior obemesa da popula) VENEZUELA aan ‘rdente Nels ‘rene: Ral caro Maduro Pat solsta—(aridocamunit) tnd a veneze) (esineto d0P1:27% CcescimentodoPe-s% Gar) Infago-622% Inia: A Desamprge:b%, Desemproge 338 oveo7e 7 igan wie 97e9 oa) sm equaooR smpouNvin Dresden Rafaeloen Presents Evo Mores (alana as) (Mowrnert 20 Ccosimentodopie:37% salsa) Infago: 30% Cusine Desamprge: 40% fos ‘Die o72 6" hgan ——_Detemrege 7% {ov 96 fg ug 1 BlocoBalvariano 1 BlocoConservadr querda Moderada 4y a uéxaco ‘= cououou Presdnte:Enique era retante un Mandel Niko Paro evlucens-— Sats Pardo Socal "omstacena) ‘nade acora Crescimentado 1:22 —cestimntn dP: em Inflego% Infle 298 Desenprege os Dasompregt 102% ov 964g) ove 970 7g) — —_—_ — — = ARGENTINA ‘= PARAGUAY Presdmte: Maric nacre Horo (Propsta Republican) ‘Cremer do 05% Cates (Parido cara) Crescenta 6 18: «7% Dasnpge Des ieee) tabs basen se opasi. Presidente: ota Preeti una pao oss Patodos aca Ptuao) ‘rescnenta do: 24% Int 376 Desenprege 2% Dasemprage 2% oiko(tehuga loi asst ug) come se urvcun, Presider michle Pretdere Takaré achat Paro salalsa—_vimuez re Ang) doch) {rasmento dPB35% CresimentodoPieagh infact na a Dasempraga 70% Dasenprage 4% rove o7e3(5¢ ug) roar ea) erie wold Pry an ds Na nls pao eens PUTS satide, Em 2015, Cubae BUA reataram relacées diplomticas apés 53 anos de rupturae reabriram suas embaixadas. 0 embargo econémico norte-ameri- cano aplicado desde 1962, no entanto, ainda nao acabou, pois depende da aprovacio pelo Congresso dos EUA. Bloco Conservador Retine os dois paises da regio com acordos de livre-comércio com os Es- tados Unidos - México e Colémbia-, além do Paraguaieda recém-integrada Argentina. Eoblocodenagdes queado- tam programas econdmicos neoliberais, que pregam uma menor intervengio estatal na economia e estio alinhados politicamente comosnorte-americanos. A Colémbia mantém fortes lagos comosEUA. Além de acordos delivre- comércio, os paises tém um tratado de cooperacio militar. Por isso os nort. americanos possuem sete bases mili- tares em territério colombiano- o que & motivo de desavencas coma vizinha Venezuela. Ha mais de meio século, 0 pais vive uma guerra interna envolven- do forgas do Estado, guerrilheiros das, Forgas Armadas Revolucionarias da Colémbia (Farc) e paramilitares de di- reita.O atual presidente, Juan Manuel Santos, tenta concluir um acordo para pér fim ao conflito (veja mais na pag. 68). Beonomicamente, aColémbiaé um dos destaques da regio, com expansio de 4,6% do PIB em 2014. (O Méxicoé o principal sliado dos Es- tadlos Unidos entre os paises latino-ame- ricanos. Juntoao Canads,eles formamha ‘mais deduas décadaso Acordo de Livre- Comércio da América do Norte (Nafta). 0 acordo, que reduz.ou elimina tarifas, comerciaisentre os paises-membros le- ‘voumnuitasindiistrias norte-americanas ase instalaremno México, atraidas pela milo de obra barata e pelos subsidios fiscais. O acordo garantiu uma grande expansio ao PIB mexicano. Por outro lado,o Naftadeixou opaisextremamente dependente da economia de seu pais, vvizinho e aumentou a desigualdade so- cial. O atual presidente, Enrique Pefia Nieto, eleito em 2012 pelo PRI (Partido Revolucionario Institucional), ampliou GEATUALDADES|1¢ seme 2016 67 roc amine are Brasil, Chile, Uruguai e Peru tém governos de tendéncia progressista, sem romper com a economia de mercado a abertura econémica. Internamente, grande desafio mexicano é comba- ter as aces do nareotrafico e do crime organizado. Analistas acreditam que a desarticulagao doscartéis de drogas, du- rante adécada de 1990, fez comque boa parte dasatividades ilegaistenham sido transferidas da Colémbia para o México. © Paraguai elegeu, em agosto de 2013, um dos homens mais ricos do pais como presidente, Horacio Car tes, do Partido Colorado. A eleigéo representou nao apenas uma guinada conservadora, masa volta ao poder do partido que governou o pais ininter- ruptamente de 1947 a 2008. ascensio de Cartes marca também o retorno do Paraguai ao Mercosul e & Unio de NagSes Sul-Americanas (Unasul). 0 pais fora suspenso das duasinstituigdes, por conta do impeachment relampago sofrido pelo ex-presidente esquerdista FemandoLugoem 2012. Oafastamento foi considerado um golpe de Estado pelos vizinhos. Economicamente o pais, vive um momento de estabilidade, com inflagio controlada e crescimento. Esquerda Moderada Formado por Brasil, Chile, Uruguai Peru, esteé o bloco composto por pa- ises de tendéncia progressista que nfo promoveram estatizagées sigificativas, possuem boas relagdes com os EUA e adotam politicas econdmicas alinhadas aomercado global. Chile e Peru diferen- ciam-se dosdemais por manteracordos paralelosde livre-comércio comos EUA. (68 ccaTUALbADES|rsemeate 016 No Uruguai, Tabaré Vizquez_venceu aseleigées presidenciaisde 2014 evoltou a ocupar ocargo maisimportante do pais, apés sua passagem entre 2004 e 2009. ‘Agora, Vézquez da continuidade ao go- ‘verno do ex-guerrilheiro tupamaro José ‘Mujica. Em seu mandato Mujica con- duziu importantes avangos em direitos civis legalizou ocasamentohomoafetivo, descriminalizou o aborto paragestacSes, de até 12 semanas e aplicou um inédito projeto de legalizacao damaconha. Ape- sar dataxade desemprego emalta, oPIB esté em crescimento eo pais apresenta amenor proporgio de indigentes entre os paises latino-americanos. NoPeru,o presidente Ollanta Humala, cexmnlitar,chegou ao poder comum dis- curso nacionalista, bastante alinhado 20 bloco bolivariano. Contudo, 20 assumir opoder, em 2011, Humala deu continui- dade politica liberal de seu antecessor. pais pode ser o préximo a deixar 0 bloco moderado e, como a Argentina, migrar paraos conservadores.Emabr, os eleitores irdo as urnas para eleger 0 novo presidente. A constituigao peruana ‘eta areeleicSo, por iss0.0 atual manda- trio, Humala,estdforadopleito. Ostrés, principais candidatos so de tendéncia conservadora, mas ha um favoritismo de Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Dois anos depois de ser eleito, em 1990, Fujimori dissolveu (© Congresso e interveio no Poder Ju- diciério, o que ficou conhecido como 0 “Antogolpe de 1992”. Hoje, Fujimori est preso, condenado por corrupsio e crimes contra a humanidade. Nas eleigdes de dezembro de 2013, © Chile colocou novamente no poder a socialista Michelle Bachelet, pondo fim a quatro anos de governo conser vador. A politica econémica do pais, no entanto, continua com viés liberal, sustentada pelo acordo de livre-comér- cio com os EUA. A economia chilena eresce lentamente com a queda dos pregos dos minérios no mercado in- temacional. Eleitacomapromessa de investire ampliar o acesso & educacio no pais, Bachelet enfrenta protestos dos estudantes, que exigem a gratuidade do Ensino Superior. A presidente ja aprovou medidas para que 0 ensino seja gratuito para estudantes pobres. 0 projeto prevé que a gratuidade seja universal até 2020. 0 PROCESSO DE PAZ NA COLOMBIA Negociagées avangam entre guerrilheiros das Farce o governo, podendo encerrar um Conflito que j dura 52 anos governo colombiano e as li- derangas das Forgas Armadas Revolucionérias da Colémbia (Fare) iniciaram em novembro de 2012 negociagdes para um acordo de paz, mediado pelo presidente cubano Rail Castro, em Havana. 0 conflito armado 4 dura 52 anos, vitimou mais de 220 mil pessoas e deixou 4,9 milhées de refugiadosinternos e um saldo de mais de 25 mil desaparecidos. ‘Nas tiltimas trés décadas houveoutras tentativas de pacificago, porém sem sucesso A diferenca para as negociagSes, atuais 60 contexto militar desfavoravel aos guerrilheiros, que tiveram variosde seus lideres mortos nos tiltimos anos. Estima-sequeas Farctenham 8mil guer- rilheiros, 12 mil a menos que dez anos atrés, Além disso, hd uma convergéncia de interesses e esforgos, de ambas as, partes,a fim de chegar aum cessar-fogo Até fevereiro de 2016, quatro reu- nides jé haviam sido feitas, e chegou- se a um consenso sobre os principais, pontos, de um total de75 tens Entreeles, esté a questo fumdidria, a participagio dos guerrilheiros na politica do pais e ‘AGORAVAI? Representantes do ‘governo colombiano ‘edas Fare, durante negoclagées depaz ‘em Havana, em dezembro de 2015, DIALOGOS|DERAT LA HABANA, CUBA a questio das drogas e cultivos ilegais. Em setembro de 2015, 0 presidente Juan ‘Manuel Santos o lider das Fare, Rodrigo Londoio,conhecido como Timochenko, apertaram as mios e prometeram selar © acordo de paz. ainda no primeiro se- ‘mestre de 2016. les haviam acabado de acordar alguns dos pontosmais contro- vversos: reparacao as vitimas e garantias, de que os confrontos nio se repetirio, além da criagéo de um sistema juridico especial para julgar os crimes de guerra durante a transigio para a paz. Mas ha ainda um item bastante delicado para sernegociado: adeposi¢ao dasarmas eo consequente cessar-fogo. 0 processo de ppaz-se desenrola em meio a confrontos iretos, que jé mataram 11 militares do exército colombiano e 26 guerrilheiros desde o inicio das conversagées. ‘As Fare foram criadas em 1964, em meio a um momento histérico conhe- cido como La Violencia,iniciado apés o assassinato do candidato a presidéncia pelo Partido Liberal, Jorge Eliécer Gai- tn, em 1948 Em 18 de maio de 1964, o governo de coalizao Frente Nacional langa a“Operacio Soberania’ eraacomunidade auténoma Marqueta- lia, sob dominio do entao chamado Blo- co Sul. Alguns dos lideres, no entanto, conseguem escapar e dois anos depois, mudam 0 nome do bloco para Forcas, Armadas Revolucionérias da Colmbia. ‘AsFaresetornaramamaisforte guer- rilha de esquerda do paise um dos pro- ‘tagonistas do conflito armado. Na déca- da de 1980, a organizagao passou a financiar suas atividades por meio do narcotrafico. Além do Estado edoexér- Cito colombiano, 0 conflito envolve tam- bbém paramilitares de direita (grupo que surgiu para proteger os grandes proprie- trios de terra contraosataques daguer- rilha), narcotraficantes, além de outras, guerrilhas de esquerda, como o Exérci- tode Libertagio Nacional (ELN),outro envolvido nas tratativasde paz. FIQUEDE 0LHOO governo colombiano eas, Fare estabeleceram uma agenda que previa ‘accinatura de um acordo no dia 23 de margo - apéeo fechamento desta edigSo. Se oacordofor sad, ee precisaré ser validado per meio de um plbiscitoa serrealzado de doisatrés meses apésa assinatura do documento. RESUMO, América Latina ARGENTINA A vitéria do conservador #: # MauticioMacrinaselelcées presidenciais ‘marca ofim de 12 anos deera Kirchner. novo governo tomou posseem dezembro J8 adotou medidas lberalizantes. Para- lelamente, também tenta acabarcom alel deregulacéo da midia, um marco de sua antecassora, Cristina Kirchner. VENEZUELA A conquista da maforia das cadeiras na Assembleia pela oposicao ® poefima 6 anos de hegemonia chavista "no Congresso e agrava a tensdo politica. O pais passa por grave crise econémicae enfrenta escassezde produtosessenclals. ‘ACORDO DE PAZ NA COLOMBIA Ogoverno da ColémblaeasFarc negociam uminédi- to acordo de paz para par fim ao confit. armado que dura 52 anos. As conversas iniaram-se em2012, ea expecatvaé que co acordo fnalsjaassinadoaindaem2016, BLOCO BOLIVARIANO € a principal fren- te de oposicio as politicas econémicas = neoliberais da globalizacéo. Impulsiona a estatizagdo de empresas ede recursos. naturals e0 combate & pobreza. Seus go- \vernos fazem oposi¢do 3 influéncia dos Es- tadosUnidosna regio. Entre osprincipals palsesdessa frente estioVenezuela, Cuba, Bolivia, Equador eNicarégua. O abalo da hegemonia chavista na Venezuela pode afetardiretamente 0 bloco. ESQUERDA MODERADA Formada por pa- ises de tendéncta progressista, que apos- {tama participaco ativa do Estado como propulsordodesenvolvimentoeconémico, ‘mas adotam politcas econémicas bem- vistas pelo mercado emantém boas rela- # GBes com os EUA Esto Incluidos Brasil, Chile, Peru e Urugual. BLOCO CONSERVADOR € formado por paises com governos de partidos con- i servadores ou que conduzem politcas Uerais, como a abertura da economia emacordos delivrecomérciocomosEUA outros paises e mercados. Fazem parte. México, Col6mbla, Paraguaie, agora, a: ‘Argentina, que elegeu o presidente con- " servador Mauricio Macri em dezembro, MATERIAS-PRIMAS DITAM A ECONOMIA DO CONTINENTE Altamente dependente das exportagdes de produtos primarios, a Africa sofre o impacto da queda nos precos das commodities TO ceaTuaLonDes|1¢semerve 206 ne U Essa escalada econémica, contudo, sofreu um abalo em 2015. A culpaéda brusca queda no prego das matérias- primas, que afetou diretamente as, exportagées e, consequentemente, a entrada de délares em virios paises do continente. Esse novo cenério podera também reduzir os investimentos es- trangeiros na Africa, que abundaram na década passada. Diante dessa si- ‘uagio, o Banco Mundial reduziu sua previsio para o crescimento do PIB do continente. Na Africa Subsaariana, a regido ao sul do Deserto do Saara e queconcentra a maior parte dos paises, os calculos da entidade projetam um crescimento de 34% em 2015, abaixo dos 4,6% registrados no ano anterior. PERDADE VALOR Refinariade petréleo em Port Harcourt,na Nigeria: queda dos ragos mundials afeta a Africa i / 0 boom econémico Orecente“boom econdmico” da Africa foi impulsionado pela cobiga de diver- sos paises por seus recursos naturais. Estima-se que os campos petroliferos afticanos possam conter mais de 130 billies de barris, quase 9% dasreservas, mundiais. Além disso, o continente & rico em minerais raros, entre os quais, ouro,diamante,estanho, cobalto, niquel, cromo,niébio e tantalo. Aexportagio de mineraisvaliosos 60 motor econémico de paises como Africa do Sul, Repiiblica ‘Democriticado Congo (RDC),Tanziinia, Zambiae vizinhos. A produgio agricola no continente, farto em terras aréveis, também atraio interesse internacional ¢ investimento tanto para produzir ali- ‘mentos quanto para biocombustiveis. ‘Acorridapor esses recursos atrairam vwultosos investimentos de corporagées ¢ transnacionais dos Estados Unidos (BUA) e da Buropa,além denagSesemer- agentes da Asia. Desde os anos 1990, a China é a poténcia que mais investe na Africa. Os chineses desenvolvem projetos de infraestrutura de ferrovias, portos, rodovias, mineragio, hidrelétricas, pe- tréleoe gisnatural emmais de 30nagies do continente. Desde aviradadlo século em 2000, o comércio da China com os paises africanoscresceu quase 20vezes, chegando a 179 bilhées de délares em 2015. Hoje, o gigante asitico é o prin- cipal parceiro comercial do continente, superando os norte-americanos. ‘Durante os anos 2000, a maioria dos paisesafricanosfoi beneficada pelavalo- izagio das commodities. Foium perfodo declevadocrescimento das exportacées da Africa, que passou a abastecer 0s se- dentos mereados das economias emer- gentes. Como aumento dademanda, os precos desses produtos dispararam no mercado internacional, Dessa forma, Africa foi duplamente beneficiada: ex- portando quantidades cadavez maiores, ce apregos crescentes. Segundo Banco Africano de Desenvolvimento,na década passadaas exportagdes do continentedo- bbraram para a Europa, quadruplicaram ppara.s paises de economiasemergentes, e cresceram 12 vezes paraa China. ‘esse perfodo,os governos africanos fizeram privatizacées e passaram tam- bbém a investir em parcerias com cor- poracdes e governos estrangeiros, em grandes empreendimentos de médio e longo prazo.O boom econémicotambém impulsionou a construgao civil, a urba- ado e o consumo, transformando a Africaem um dos mercados mais quentes da globalizagio em potencial de cresci- ‘mento em negécios e lucros. OProduto Interno Bruto (PIB) do continente cres- ceu a uma taxa superior a 5% a0 ano, ¢ superiora9% emalguns paises. Segundo estimativa de Srgios de investimento,a urbanizacio cresee aumataxade 3%a0 ano-e,somado aocrescimentoda renda,o continente ganhou 221 miles de novos consumidores até 2015, Desaceleracéo econémica Quando a crise econémica mundial eclodiu nos EUA e Europa em 2008, a Africa também sofreu oimpacto, mas os investimentos foram mantidos, ¢0 con- tinente continuou areceber os recursos estrangeiros.Porém, apéscincoanosde pregos baixose vendas em quantidades menores,a desvalorizagdo das commo- dities parece ser um cendrio mais dura- douro do que previsto, principalmente porquea China também diminuiu subs- tancialmente as importagSes da Africa ~ uma queda de 39% em 2015. Na avaliacio do Fundo Monetério Internacional (FMD, os governos esto ficando com poucos recursos, ¢ os in- vvestimentos tenderio a diminuir se nfo houver recuperacio dos pregos para ex- portar.A queda do pregodosbarrisde pe- tréleo, aprincipal commodity mundial, um dos fatores que tém forte impacto sobreataxa geral de crescimentodocon- tinente. Isso porque o produto representa 660% do valor total exportado pela Africa. ‘Também registraram expressiva queda de valor no mercado nos iltimos anos itensimportantes da pautadeexportacio do continente, como minério de ferro, cobre, borracha e algodio. ‘Aexpansio prevista pelo Banco Mun- dial de34% na economia da Africa Sub- saariana esti longe de ser inexpressiva ~afinal, as taxas de crescimento do PIB ainda mantém-se positivas. A questo équeo ritmo do boom econdmico afri- cano nao deverd ser mais o mesmo da década passada por algum tempo. E 0 impacto é forte levando-se em conta que a regio tem uma base econémica ‘muito pequena, com um PIB de 2,4 tri- Indes de délares em 2014 equivalente aos valores do Brasil. GGEATUALDADES|1¢cemesr2016 TR Com um nivel de industrializagao baixo, a Africa néo consegue exportar produtos manufaturados Dependéncia de commodities Essa desaceleragiona economia afri- cana é consequéncia de um modelo baseado na excessiva dependéncia das commodities. Nos iltimos anos, a maio- ria dos paises africanos diversificou muito pouco suas estruturas econé- produtos prim: industrializagao é muito baixo, os pai- ses afticanos nfo conseguem produzir manufaturados, que possuem maior valor de mercado. Segundo a Comissio Econémica das Nacdes Unidas para a Africa (Uneca, na sigla em inglés), a contribuigio do setor industrial para aeconomiado continente caiu de12% em 1980 para 11% em 2013. ‘Amaior critica quese faza esse mode- lode desenvolvimento é que, apesar das, taxas elevadas de crescimento nas duas, iiltimas décadas, a pobreza continua elevada. Os grandes beneficiados sio as, empresas estrangeirase muitos analis- tas veem essa relago econémica como umanova formade colonizacao devido 0 grau de dependénciada economia e a exploragao da natureza e da pop’ go. Além disso, os regimes ditatoriais, duradouros,acorrupgioe a fragilidade das instituigées politicas impedem a distribuigdo justa dos recursos propor- cionados pelas riquezas naturais. ‘Mas alguns paises estio conseguindo aproveitar o boom econémico para expandir suas indiistrias, focando em setores estratégicos e em parcerias com as grandes economias emergentes. Sio os casos de Etiépia, Tanzania, Ruanda eGana. Mocambique é destacado pelo FMI como o de desenvolvimento re- cente mais promissor. Apenas de 2006 82009, 0 niimero de induistrias cresceu 62% (de 1.881 para 3.061). Em 2016, 0 pais tem dez megaprojetos em cons- trugio, emeletricidade, gis e minérios. 72 ceaTuauonoes|1¢semenve 206 As duas Africas Em termos geogrificos e humanos, © continente africano apresenta duas, grandes regides:a Africa Setentrionalea Africa Subsaariana.O limite natural entre ambas é 0 Deserto do Saara, que ocupa tum terco de todo o territérfo afticano. que faz parte da Africa Subsaariana. © A Africa Setentrional, ou norte da Africa, é formada por seis paises CEgito, Libia Tunisia, Argelia, Mar- rocos ¢ Djibuti) que possuem clima dlesértico e populagio predominan- temente drabe ebérbere (ndmade). © A Africa Subsaariana reine 48 na- ges de populagio predomin: ‘mente negra, com habitos,religides e idiomas distintos dos encontrados no norte do continente. Apesar do recente desenvolvimentoecondmico nessa regido, hi evidéncias de queo progresso beneficia principalmente ‘© conjunto mais abastado da popu- lagio de cada pais. A luta contra a pobreza ainda esta longe de ser vencida, Quasemetade dos africanos subsaarianos (46,8%) tinha renda inferior 1,25 délar por dia, em 2011 Doengas A Africa Subsaariana é assolada por doengas graves e epidemias, resultado da miséria, desnutrigdo e fome, falta de saneamento bisico e estruturas de atendimento em satide. A incidéncia de aids, responsével por pelo menos 1 milhio de mortos anualmente desde 1998, fez a expectativa média de vida diminuir cerca de 30 anos nos paises mais afetados, como Botsuana, Leso- to, Suazilandia e Zimbabue. Em 2014, a Africa Subsaariana registrou cerca de 70% dos contaminados no mundo. ‘Um em cada 20 adultos na regio vive com oHIV, 0 virus causador dadoenga. Continente éo0 mais pobre do mun Africa &@ regio do globo com o maior rnimero de paises entre os menos desenvolvidos. Das 43 nagées classificadas pela ONU como de baixo Indice de Desenvolvimento Humano (IDH), que tem como criti a renda per capita da populacdoe indicadores de saddee educaco, 35 sioafricanas em 2014, IDH dos paises africanos (2014) Entrada de capitais na Africa (2000-2015) Enis de dtares “simiie so a3 i l] a 55 iil ms DS Recursos de fora entrada de capitals nocomtinnta cresceuquases ys Doe ala se mantémenire albexppbihtes deddaresanuas Esesvalresse refremaremessasdo exter sista Intaaconalenvestinetes. e200 2205,0,010me acumuladoutrapasau1 ode dlrs, metadedo ‘alord Piatrara O crescimento das economia (2015) Previbs de crescinato% dP Ader mass {arasm Araeem asl hinge mundo oe mos aki fords MEA — tarastinaisde ete ‘Indices incidem sobre Senin ‘economias muito oon abs Gira HIBS? om zou 0 da Costado Martin, 3.3 ies Asriquezas do continente Osrecarsas eas reasquerectbem aii dos nvestimentes sang, Principals reas de explrarso (© Produc deptrleoe eis © Produce nner © bplorat ores Prins reas eerahos Dpextleo isnatwal 60 uae ¢ Cando Principals recursos minerals S00 Zinc Pata Olanganés ere = + fui Sobre Crome #Cobato Platina @Niuel © diamante © Esanho © Tantal/Ndbio ‘@-Chumbo Ourosmineis Paralereste mapa, comeceidentiicando asriuaras ‘naturals do continent Not por exempla como 2 explora So petra ocore foe vis partes ore a Africa (produao mats anti sudo Su Sudo Sa (had eo go daGuinéAeanomia da Acad Sl useiasenzexploracio mineral Com as nhasermelbas ‘aul verde voce tom ums idl a rages qu est0 reabendo grande parte cosinvestimatas francs Fronteiras artificiais . (Osmapas ako mstama dferenc bt entreastepesércasecutuals da ‘Avicaeasfronaras poltcasimposta plas otras colonia Aatual visto pola dos pases arcane resultado da colonzacioe opel, erreosséclos KV (200, fol deiida com a Confertncla de Beli 83883, spots cloials estabeleeramseasde dominio ecaramfranaras que tndlam acs prep Intresss ignorando os tritvos as lose das ets nativas, sabes nasidas com a indpendncabasenram suas rants na vst potca clot oe amsjonene Ditto dna Apartado contsente Divisio poita teal ‘Antes dacolonizacdoeutopela grande dveridade A Confertncia cde Berlin de 3885 defn rontaras ‘pts aindpendénci, os plss atcanosherdaramas ‘nia estabelcaaorganizardo soil natica arbitriseosdominiosde ada potncia europea _—_‘flonterasartficalsimpstas plas potincascolonials g GGEATUALDADES|1¢ semen 2016 72 fattened a 8 A Africa Subsaariana éaregido em quea ONU concentra a maior parte de suas forcas de paz, com 11 mil homens Os esforgos internacionais e dos gover- nos locais parao combate conseguiram reduziro niimero de novoscasosdecon- taminagoem 41% de 2001 a2014, mas essa continua a sera regio mais conta- ‘minada do mundo, com estimativa de 14 milhio de novos casos apenas em 2014. ‘Também so endémicas na regio a maléria, o sarampo e a tuberculose. A partir do final de 2013, 0s paises do oeste foram vitimas do pior surto de ebolaja registrado, Ele atingiu particularmente Guing, Libériae Serra Leoa. De acordo com a Organizagio Mundial da Satide (OMS), foram mais de 28 mil casos e 11.316 mortes até fevereiro de 2016. Apartilha do continente Grande parte da pobreza e dos atuais confrontos na Africa tem origem na intervengio estrangeira. Desdeo século XV, a Africa é subjugada e espoliada pelos europeus. Durante quase quatro séculos, Portugal, Espanha e Inglaterra levaram negros afticanos escravizados para servir de mao de obra no conti- nente americano. Estima-se que cerca de 12,5 milhées de africanos tenham desembarcado a forca nas Américas. 6 no Brasil, o miimero de negros es- cravizados foi depelo menos 4 milhSes. No fim do século XIX, as poténcias europeias iniciaram uma nova corrida imperialista para controlar as matérias- -primas enovos mercados da Africa para seus produtos manufaturados. Para re- solver os desentendimentos, ocorreu a Conferéncia de Berlim, entre 1884 1885, em que as principais nacdes europeias definiram uma partilha do continente ¢ criaram fronteirasartificiais para suasco- lonias, sem levar em conta as diferentes etnias que vivem no territério, Apés a II Guerra Mundial (1939- 1945), o modelo colonial entrou em decadéncia, e cresceram os movimen- tos por independéncia nas colénias africanas. Em muitos casos, 0 proces- 7A ceaTuauonoes|1¢zemenve 206 #BRING BA OUR ene so de independéncia transcorreu sem ‘guerras. Porém, nagGes colonizadas como Argélia (pela Franga), Repiblica Democratica do Congo (Bélgica) e An- gola Portugal) enfrentaram guerras du- rissimas para conquistar a autonomia. Conflitos Criados artificialments, os novos Es- tados reuniam diferentes grupos étni- cos, com histérias e costumes distintos, carecendo de umauténtico sentimento de identidade e unidade nacional. Em pouco tempo, comegaram violentas dis- putas pelo poder, golpese ditaduras mi- litares, que por sua vez suscitaram novas interyengdes das grandes poténcias. ‘A Africa Subsaariana é a regio em que a ONU concentra a maior parte de suas forcas de paz. Em dezembro de 2015, atuavam em todo o continente nove miss6es armadas, somando 111 mil pessoas, em oito paises: Mali, Liberia, Costa do Marfim, Reptiblica Centro- Africana, Republica Democratica do Congo, Sudo, Sudo do Sul e Marrocos (Saara Ocidental). ‘Veja. situacio atual de alguns paises africanosabalados por confitosinternos. NIGERIA Maior produtor de petréleoe mais populoso pais da Africa, a Nigéria superou a Africa doSul como maior eco- nomia do continente em 2013.Contudo, mais da metade de sua populago vive napobreza. As desigualdades nadistri- buicdode renda eculturaentre onorte, de maioria mugulmana e mais pobre, ‘TRAGAM NOSSAS GAROTAS DE VOLTA Maes de meninas, ‘sequestradas pelo grupo extremista Boke Haram, na Nigeria, em 2014 © ocentro-sul, com populagio cristae animista, sio motivos de conffito. Conflitos étnicos e religiosos foram responséveis por mais de 10 milmortes entre 1999 e 2006. A tensio religiosa aumentou a partir de 1999, quando 0 estado de Zamfara, no norte, adotou a sharia, a lefislamica. Em dois anos, essa lei passoua vigorar em 12 dos 36 estados nigerianos, todosno norte. Atualmente, ‘omaior desafio das autoridades do pais é combater o terrorismo do grupo Boko Haram, ligado ao Estado Islamico, que pretende implantarno paisum Estado islamita conservador. Os extremistas invadem aldeias, realizam genocidios e sequestram mulheres. ‘SUDAO DO SUL Apés uma guerra civil que durou meio século e deixou 2 mi- Ihées de mortos, 0 Sudo e o Sudo do Sul epararam-se em 201A indefinigéo sobre as fronteiras definitivas entre os, dois paises provoca atritos, principal- mente por causa da provincia de Abyei, rica em petréleo, que fica no Sudao. Ocontrole pelas reservas petroliferas do Sudiodo Sul acirraas disputas entre o presidente Salva Kiir eo vice-presi- dente demitido por ele, Riek Machar. Em 2014, 0s confrontos entre os grupos ligados aos dois politicos transforma- ram-se emumaguerra civil que causou. milhares de mortes edeslocamentos po- pulacionais.Nos tiltimosmesesde 2015, aONUfezumapelo piblico de ajuda, pois 4 milhées de pessoas poderiam morrer de fome. Em fevereirode 2016, oconfito no Sudao do Sul cessou, pois Salva Kiir aceitou reconduzir Riek Machar a vice- presidéncia, mas teme-se que o acordo nio seja definitive, Atuam entre os dois, paises trés forgas de paz da ONU. SOMALIA Desde 1991, a Somélia ¢ paleo de uma feroz disputa entre clas rivais, ¢, mais recentemente, entre milicias islamicas radicaise o governo. A fragi- lidade do poder central faclitou aagio de piratas no Oceano Indico eno Mar Vermelho. Os terroristas do grupo Al Shabab, ligado & Al Qaeda, dominavam regides ao sul, mas perderam terreno para as tropas oficiais. Em 2014, tropas do governo eda Amisom, amissiode paz da Unido Africana, langaram ofensiva contra o Al Shabab, retomando varias, cidades. Deslocado desuasbases,ogrupo se reorganizou na fronteira com 0 Qu- énia, e passou a atacar aquele pais, por apoiar o governo somali.No piorataque emanos, em abril de 2015, 0 Al Shabab assassinou 147 estudantes em uma uni- vversidade no nordeste do Quénia. REPUBLICA DEMOCRATICA DO CONGO (20¢) Seis paises (Angola, Uganda, Ruanda, Burundi, Repiblica Centro- Africana e Namibia) e varios grupos guerrilheiros se envolveram na guerra civil da Repiiblica Democritica do Con- g0 (RDO), iniciada em 1998, motivada pela disputa por riquezas minerais. ‘Apés um frégil acordo de paz.assinado em 2003, 0s confrontos irromperam com maior intensidade em 2008. Quatro anos depois, entrada do gru- po M23, composto de antigos rebeldes, que integravam o Exército, gerou mais, instabilidade. Os conflitos armados so mais fortes na regiao leste (préxima & fronteira com Uganda e Ruanda), rica em minégrios raros como ouro, estanho, cobalto, tintalo e nidbio. Em 2013, os, 1700 combatentes do M23 depuseramas armas. iniciaram conversagées de paz. SAIU NAIMPRENSA EUAE ALIADOS LUTAM CONTRA EXPANSAO DO El NA AFRICA O braco do Estado Istamico (EI) na Libia est se alastrando sobre uma ampla area daflrica, atraindo novos recrutas de paises como 0 Senegal, que estavam em gran- de parte imunes a propaganda jhadista. ‘Autoridades africanas, junto aos aliados cocidentals, aumentam os esforcos para combater a ameaca. («) Lideres do EI na Siria esto avisando a recrutas que vém de nacées dooeste aft ‘ano, como Senegal e Chade, bem como Estima-se que cerca de 6 milhdes de pessoas tenham morrido no conflito, 0 ‘mais sangrento desde II Guerra Mun- dial. Houve avangos na pacificago, mas, cerca de 80 grupos rebeldes e milicias, continuam a atuar no leste, onde ex- ploram ilegalmente a mineragio e se confrontam. Em 2016, atua no pais a maior forca de paz da ONU no mundo, com 22 mil pessoas. A RDC recebe investimentos da China em estradas de ferro para viabilizar a exportacio de minérios porum porto no Atlantico. MALI Situado no noroeste afticano, essa ex-colénia francesa tem a parte nortedo terrtério ocupada pelo Deserto do Saara, onde diferentes grupos tua- regues armados lutam por autonomia. A partir de 2012, os tuaregues orga- nizam-se no Movimento Nacional de Libertagao de Azawad e tomam varias, cidades no norte. ‘Na mesma regio, atuam terroristas da Ansar Dine, brago da Al Qaeda no “Magreb Islamico, que pretende instau- rar um estado islamita, e acentuam-se os conflitos armados entre tuaregues, terroristase tropas federais, todos con- ‘tra todos, além de sequestros de turis- tas e atentados dos jihadistas. Desde 2013, atuam no pais tropas da Franga, da Unido AfricanaedaONU. PARA IR ALEM Timbuktu (de Abderrahmane Sissaho, 2014) indicado ao Oscar 2015, conta o rama de um pescadordo Mali que é pereguido por grupos ihaditas. do Sudéo,na Africa Oriental, para quendo rumem ae Oriente Médio. Em vezdisto,sf0 orientados a ir para aLibia. A Inteligéncia dos EUA afirma que o objetivo imediato do E16 constituir um novo califado neste pais: ha sinals de que o grupo estabelece InsttulgSes de governanca por li.) —0€Ina Libiatornou-se umimé queatral ‘pessoas no sé no pais, masdo continente african, bem como de fora — enfatiza 0 diretor da Agéncia Central de Intaligéncia (Cla) dos EUA, John Brennan. Jornal Extra 23/2/2016 RESUMO Africa 2 CRESCIMENTO ECONOMICOA Arica gum dos continents com maior potencial de crescimento econémico e atralinvesti- ‘mentos internacionals, especialmente: dda China. Retine 54 paises e 1,1 bilhdo 2 de habitantes. Nos iltimos 15 anos, a ‘economia do continente cresce a taxas celevadas, movida por fortes exportagies = de commodities para a China e outras inagBes emergentes. Esse crescimento, contudo, éafetado pela queda dos pregos Internacionais das matérlas-primas. | PETROLEO E MINERIOS A Africa abriga quase das reservasglobalsde petréleo = egise exporta também minérfosvaliosos, como ouroe diamantes, estanho, cobal- : tp, niquel e cromo. Porém, © balxo nivel 2 de industializacdo e a dependéncia da exportacdo de commodities fragiliza a ‘economia dos paises. AFRICA SUBSAARIANA Area mas pobre do = planeta, compreende 48 nacGes da regiso centrale sul do continente, delimitada ‘0 norte pelo Deserto do Saara. Aragléo £ concentra a maforia dos casos de doen ‘as infecciosasno mundo, como malaria, ‘uberculose e alds.Aregiao sofreuo pior surto de ebola da istéria, com mais de £28 milcasos e 11 mil mortes. PARTILHADA AFRICA fim de soluciona- ! = rem sua disputa pelo territério afticanoe suas riquezas, as nagbes europelas pro- moveram entre 18842 1885a Conferéncla = de Berlin. Oencontro dvidiuo continente entreessaspotinclas,criandofrontelras atfciats, que nao levaram em conta os teritrios originals das dferentesetnias, suas religibes e seus costumes. CCONFLITOS Vos paisesafricanos enfren- tam guerras civis motivadas pela disputa dos recursos naturals, por rivalidades ét- nicas ou contra ditadores. Grupos terro- " istas, como o Boko Haram, na Nigéria, A Shabab, na Somalia, eo Ansar Dine, = no Mall, seguem organiza¢des como a ‘Al Qaeda e 0 Estado Islémico. Eles reall- zamatentados, sequestros e massacres, = causando o destocamento de grandes contingentes da populagio. GGEATUALDADES|1¢cemesr2016 75 ADISPUTA PELO ARTICO Derretimento da calota de gelo no Polo Norte permite a abertura de novas rotas maritimas eo aumento na exploracao de gas e petrdleo Infogratico Alex Argozino NOVAS ROTAS COMERCIAIS ‘Oderetiment dacamada de gel do ‘Arto possbtaaaberrade das totasparaatravesiadenavos. Una es conheida come Noroeste, ‘nntorarao Canada. Aoutra ‘6zroa Nowesta que passa paacosta da Aisiae]sé ‘tlzada durant overdo, ‘Uma possvel rota ‘curtis Arto plo ‘cairo, emcaso de eretiment total. 1982 76 ccaTUALoAnes| seme 2016 “Emum period de pou mais de30 Antico é uma regito localizada no extremo norte do planeta, formada pelo Oceano Articoe por uuma calota de gelo de aguas sali- nas As alteragSes liméticas, contudo, vem alterando essaconfiguraglo. Com a clevacio da temperatura média do planeta observada nos tiltimos anos, a camada de gelo do Artico esta der- retendo ~algumas projecées indicam que, apartir de 2040, nfo haverd mais, gelo durante 0 verdo. Mas esse fenémeno, que pode cau- sar uma catéstrofe ambiental com consequéncias devastadoras para 0 ecossistema Artico ¢ o clima do pla- anos, Artin perdeu yo da camada de ‘Aestrica NOAA) prvdqueo ol do ‘eorogistrada durante overdo, devido (csane Atco pode desaparecer ans ellos das mudancasclinticas totalmente durante verdo em ano [A Administra Naconl Oceieae neta, é visto como uma grande opor- tunidade pelos paises que circundam a regio. Basicamente, o degelo no Artico abre duas possibilidades de exploragao econémica: a abertura de rotas maritimas comerciais e a extragio de petréleo e gis. A seguir, vocé confere como essas novas perspectivas econémicas abrem ‘uma disputaquemexe como interesse dos paises da regio, Note que a pro- jegio dos mapas é diferente daquelas mais utilizadas frequentemente - os planisférios. Neste caso, apresentare- mos a érea do Artico a partir de uma projegio conhecida como azimutal. ©) OMINGOMANS CURTO ‘rota Nordestreduzem ‘oa lagu da Europapara lest sti, rota Noroeste cra um talho entre a Europaeacesta cesta dos Estados Unidos, OTA NoROESTE y Real 2040 FRONTEIRA EXPANDIDA ‘ico plses tim det explora econbmia do tc: Estados Unidos, Canad Dinamara, Noruegae Rissa. les ‘dem xporarcomercimente uma read até200mihas ‘uta (370k apart da sua cost, Com oderetmento da ‘amata de oo ese pases - com exci da Noruea-querem ampliar os deltos para alm dss limite Arevindcagog ‘bseada ma Corwen da ONU sobre o Diet do ar, que prov zampliard dessa zona aso comprovese que 2plataforma ‘antinntalultrapassa as 20 mils. Noesquema aban sta ‘regi campreende a ‘plataforma continental ested’. No mapa ao lao, vc v2 pores do Atco aque cada nario tem lta ona parte mals central as reas relvindlcads. ZONAS MaRITMAS “Emmis ndutias (yt Send ae oN ay trate Motes ae fea ica, Witienbeictvmnne oat RECURSOS ENERGETICOS ‘deg do Antic permite que campos de petro. ‘vestimento esse torando vid, Nos grfcs,percebese que a Rissa pas que ‘mas dees benefit com adescoberta deses novos recursos energetics, Seo ener — i | ro ae eC eT} ‘rdabdeneas epdorens un anodes \vougstedexbeta canes soins bats rico reco Pore amen roocanoasta Sonor ane | Gis natural iquido seins ste cena 5 Se =o ae | EP g mbitedetar utnsdelans eomeqwene ra ersten CGEATUALIDADES|1¢cemexr 2016 77 RASIL IMPEACHMENT o MANDATO 83 SOBRISCO Desde o final de 2015, a presidente Dilma Rousseff sofre a J ameaca de perder 0 cargo em meio a uma grave turbuléncia / é politica. Entenda como funciona um processo legal de ; deposicao de um governante ] j j JOGOS DEPODER presidente Dilma Rousseffeovice Michel Temer: possibllidade de Impeachment abaloua relacio BRASIL IMPEACHMENT ima Rousseff ainda nfo tinha D completado o primeiro ano de seu segundo mandato presi- dencial quando, em dezembro de 2015, opresidente da Camarados Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), acolheu um pedido de abertura de processo de im- peachment contra ela, elaborado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Kinior e Janaina Paschoal. Esse foi o desfecho de um ano conturbado para a presidente, que atravessou uma trilha tortuosa de debates juridicose negocia- es politicas, costurada por manifesta- gesnasruaseescndalos decorrupyo. Em margode 2016, quandoapressio acerca do impeachment comegava a se acomodar, tanto nas ruas como nos corredores do Congresso, novos fatos voltaram a colocar Dilma nadefensiva. Preso em novembro de 2015 sob a acu- sagio de atrapalhar as investigagdes da Operagio Lava Jato,0 senador Delcidio do Amaral (PT-MS) teria feito acusagdes, presidente em depoimento &Procura- doria Geral da Repiiblica veja mais sobre aprisao de Deleidioea Lava Jato napdg. 84). Em acordo de delagio premiada, Deleidio teria acusado a presidente de interferir nas investigagéesda Lava Jato 0 usar sua influéncia para evitar a pu- nico de empreiteiros investigados pela operacio —uma das agées seria anome- ago do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiga (STS). No dia seguinte,o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva foi levado pela Po- licia Federal para prestar depoimento sobre sua suposta relaco como esque- ma de desvio de dinheiro na Petrobras. Apesar de a demiincia de Deleidio no ser baseada em provas e as acusagées, contra Lula ndoimplicarem diretamente cogoverno de Dilma, os dois fatos contri- buiram para que a pressio em favor do impeachment voltasse a ganhar fora. Conceitos Impeachment é a palavra em inglés para‘‘impedimento”.Eadesttuigaolegal de uma autoridade do poder puiblico, que tenha sido julgadaecondenada por crime, Devido a seriedade da questo, 0 impeachment de um presidente da Repti blica ématéria definidana Constituigio Federal. Apesar de a Carta Magna em ‘vigor ser de 1988, a lei do impeachment ainda é de 1950. Podemrresultaremimpe- achment crimes comuns, como roubo ou homicfdio,ou crimes de responsabilida- de, desde que cometidosno mandatoem vigéncia ou seja, qualquer atoilicito que tenha sido cometido porum presidente em mandato anterior, ou em cargo que no seja da Presidéncia, no constitui acusagao valida para o impedimento. TT ‘CASOS EMBLEMATICOS DE IMPEACHMENT Dilma é acusada de ter cometido crimes de responsabilidade, atos que Jesama Unio ouameagam sua existén- cia. A Constituigio e alei de 1950 defi- nemoitocrimesde responsabilidade do presidente da Repiiblica-dentre eles, colocar em risco a seguranga interna do pais, lesar os direitos politicos, indivi- duais e sociais dos cidadaos, cometer ato de improbidade administrativa e descumprir a Lei Orgamentaria Anual (LOA), quedefineas despesasereceitas do governo, a cada ano. Qualquer cidadao pode requerer ‘© impedimento de um presidente da Repiiblica. Mas as acusagées tém de ser muito bem fundamentadas, com provas ¢ lista de testemunhas. Além da deposigao, o impeachment pode resultar, ainda, em punigées legais, (como prisio) ¢ a perda dos direitos politicos - 0 condenado ficaimpedido desecandidatara qualquer eleigio por ‘um prazo de até oito anos. O tinico presidente brasileiro a ser destituido por impeachment foi Fer nando Collor de Mello, em 1992 (veja boxe abaixo). Mas pedidos para depor © lider do Executivo nao sao raros. 0 ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva foi alvo de 34 requerimentos em seus dois mandatos. E Fernando Henri- que Cardoso, de Ié pedidos. Com Dilma nio foi diferente. A Camara recebeu dez requisigées, nove delas imediata- mente arquivadas por nao atenderem 08 requisitosminimos, com acusagées, bem fundamentadas. (0 primeiro caso de impeachment de que s2 tem noticia na histérla ocorreu no século XIV, naInglaterra, em ‘um processo do parlamento contra o barao Latimer, acusado de favorecer inimigos do reino e desviar recursos {que seriam devidos ao rel, Eduardo Ill Entre os processos mals famosos no mundo, esta o do presidente dos Estados Unidos (EUA) Richard Nixon. Envolvido em um escandalo de esplonagem na sede do Partide Democrata, ‘orepublicano Nixon acabou renunclando em 1974, antes da conclusio do processo de Impeachment. No Brasil, ounico presidente a ser destituldo porimpeachment fol Femando Collor de Mello, em dezembrode 1992. 0 que motivou a sua destitulgao fol um escdndalo de corrupsio, conhecido como “Esquema PC” - uma pritica delavagom de dinhelre no exterior comandada por Paulo César Farlas, tesoureiro da campanhaelelitoral de Collor. As dendncias mobilizaram protestos pelo pals e deram origem ao movimento dos Caras Pintadas. Horas antes da declsao final pelo impeachment no Senado, Collor renunclou, tentando evitar a perda dos direttos politicos. Mesmo assim, o Senado aprovou a destitulgao do presidente no dia 29 dedezembro de 1992. (0 vice-presidente, Itamar Franco, assumlu até o final do mandato. Durante olto anos, Collor ficou inelegivel - prolbido de se candidatar a qualquer cargo pabllco. Em 1994, 0 ex-presidente fol absolvido em processo criminal lo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele voltou a0 cenarlo politico em 2006, ao eleger-se senador pelo.estado de Alagoas. Em 2014, folreclet Acusagdo e defesa No pedido deimpeachmentacolhido por Eduardo Cunha, Dilma é acusada de ter cometido os trés atos a seguir, que se encaixariam na categoria de crimes de responsabilidade. Corrupgio na Petrobras Atos de corrupsio configuram improbidade administrativa. Segundo a acusagio,a presidente teria ciéncia dos casos de corrupsio na Petrobras investigados na Operagao Lava Jato, sem ter feitonada para impedi-los. Porém, a presidente no é investigada oficialmente na Ope- ragio Lava Jato, e fatos ocorridos fora de seu atual mandato ndo podem ser usados parao impeachment. Dilmachefiou 0 conselho de adminis- ‘trago da estatal entre 2003 e 2010 e foi apontada por um dos delatores da Lava Jato como responsével pela compra da refinaria de Pasadena, em 2006 ~ um negécio que, segundo investigades do ‘Tribunal de Contas da Unido (TCU), lesou os cofres piiblicosem mais de700 milhées de délares. Segundo adefesada presidente Dilma,a autorizacio foi dada com base em anilise téenicado negicio«, portanto, sem intencfodelesaraestatal. Créditos no autorizados No se- gundo semestre de 2015, Dilma deter- minou, por uma sequéncia de decretos, um aumento de 2,5bilhdes de reaisnas despesas do governo, que seriam lastre- ados por 900 milhdes de reais a mais arrecadadose uma poupanga de 16 bi- Ihio acima da estimada. Mas, segundo a acusagio, essa receita seria artificial: Dillma teria aumentado os gastos saben- do que nao teria fundos paracobri-los. ‘Com isso, segundo acusagio, gover- noestariadesrespeitandoas metasfiscais definidas na Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga o governante a seguir as metas previstas no orcamento. Essas metas sio as prioridades do governo federal, definidas com as respectivas previsées de receitas e despesas na Lei de Diretrizes Orgamentérias (LDO). E na LDO que se define se o pais tera ‘um superivit primério ou um déficit primério- ou sefa, se a0 final do ano as contas estario no azul ou no vermelho. ( governo pode propor revisio das ‘metas 2o longo do ano de modo a apro- ximar a promessa da realidade, sempre com aaprovagio do Congresso, masnio pode avancar sobre elas por decreto. Segundo a LDO de 2015, 0 governo de- veriamanter, naquele ano, um superavit primério correspondente al,1%do Pro- duto Interno Bruto (PIB).Acontece que ‘umasemanaantes de editar os decretos autorizando as despesas extras, Dilma apresentou um projetodeleialterandoa ‘meta fiscal etransformando osuperdvit que estava previsto em 2015 em déficit primério, No entanto,o Congresso apro- ‘vou essa revisiofeita pela presidente em dezembro, dando argumento a favor da defesa: Dilma nfo teria ferido a Lei de Responsibilidade Fiscal comos decretos demeados de 2015 porque aquela época se previa, ainda, um supersvit. WLANALAVAJATO Ocxpresidente Luiz Indcio Lula da Siva prestou depoimento {Policia Federal no Aeroporto de Congonhas (SP) Pedaladas fiscais Siomanobras con- tabeis adotadas para ajustar, no papel, as contas do governo, simulando um saldo positivo inexistente ou maior do que o real. Segundo a acusagio, 0 governo Dilma teria usado dessas ma- nobras em 2014, ferindo a Lei Orga- mentéria Anual (LOA).As pedaladas teriam ocorrido quando o Ministério da Fazenda atrasow o repasse de recursos para a Caixa Econémica e o Banco do Brasil, responsaveis pelo pagamen- to de programas e beneficios sociais, como o Bolsa Familia, aposentadorias e seguro-desemprego. Sem o repasse, esses beneficios foram pagos com re- cursos dos préprios bancos. © Tribunal de Contas da Unido (TCU) considerou essas medidas como empréstimos indevidos dos bancos estatais ao governo, e recomendou a0 Congresso Nacional rejeitar as contas do governo daquele ano. 0 governo nega a acusagao e afirma que sao ope- rages contabeis legais, regularmente empregadas por governos anteriores. Arejeigo das contas depende de jul- gamento no Congresso,o quenio havia ocorrido até o fechamento desta ediglo. Emdezembrode 2015, ogoverno federal pagou a divida de 55,6 bilhdes de reais referente as pedaladas de 2014, e acres- centou outros 16,8bilhées, para garantir qualquer acusagio sobre eventuaisma- nobras em 2015 (vefa mais na pag. 97). Rito do impeachment Entre opedido de impeachment ser protocolado na Camara e 0 Congresso dar a sentenga final, existe um rito a ser cumprido ~ uma sequéncia bem definida de andlises por comissdes.es- peciais e votagdes em plenario, tanto na Camara quanto no Senado. 0 rito define acomposicao das comissdese a forma como seus membros sio eeitos. Define, também, o papel da Camara e do Senado no tramite do proceso. GGEATUALDADES|1¢ seme 2016 8 BE ees reesci ORITO DO IMPEACHMENT (Stpremo Tribunal Federal deliv que a Ciara ds Dputados a porta de entrada de um pedo de Impeachment Mas de Snado 2 esponsblidade de instaurar process tomar ads final PEDIDO ualuer dado pode Deir oimpexchment do Dreientda ep ‘Quem asta curecisio edo o president ‘hmaradosDeputades. ‘COMISSAO DO SENADO No Senado uma comissto ite um parecer contraoua ‘Assim que deu entrada no pedido de impeachment, Cunha convocou elei- es para a comissio especial que deve aprofundar aanilise eelaborar relatério recomendando,ou nao, oimpeachment aoplensrio dacasa. Acomissio deve ser composta de 65 membros, eleitos pelos lideres de cada partido, na proporgao de sua participagio na casa. Mas Cunha, baseado no regimento da Camara, alte- rou as normas. Permitiu a formagio de uma “chapa alternativa”, formada por adversérios de Dilma, e permitiu que eles fossem eleitos em wotagio fechada, ‘ou seja, sem identificacio dos votantes. STF considerou que o regimento da Camara nio esta acima da lei do impeachment cancelouas eleigdes da {82 GATUALDADES| 1 semeate 016 e COMISSAO DACAMARA ‘Ua comisio com dputaos de todosospartdose ‘banca analisao pedo ea defsa doréueemite ‘umparcer contra eu favor do impediment, \VOTACAO EM PLENARIO DO SENADO ‘Aco da coms oad em pny and vence opine damages tae dor sears ma tm, ea deci for pel aber doproso 0 eins d Reps atstdoongraanrte do {aa Asune oi S6aqulo races ist, Como o impeachment depende do Congresso, o processo acaba sendo mais politico do que propriamente juridico comissio. 0 STF também decidiu que oSenado teré a prerrogativade decidir pela instaurago ou nao do proceso. Desse modo,a presidente sé seré afas- tada do cargo, temporariamente, depois, que o processo seja efetivamente ins- tauradono Senado (veja0 ito completo, no infogréfico acima).. ° \VOTACAo EM PLENARIO DA CAMARA Seacamisso prorat do rca dot tet det eptade an pecan ser 36 para ote sgu se forcontr, dos tros acusacho Nova asi especlne Seat, dada pos res cada pri, edge um documento cas sevagls conto presen a epi 0 camera Govamenta late pnt do Sena. S array nis delle JULGAMENTO Ereazad no plenirio do Senad, coma acusaclo]adefesase revezande.0 impeachment ocore sete voto de dis tars ds senaores.Se fo absovido 0 resent reassumeo cargo imodiatament. Secandanadeéafstadodefinitvamente do ‘arg. viceasume atonal do mando. Cendrio politico e econémico ‘Comoum proceso deimpeachment passa pelas mios do Congresso, éfécil ‘entender que a decisio é politica - de- pende da forca do governoe da oposiio no Legislativo. Um dos principais prota- gonistas do processo, Eduardo Cunha, é francamente a favor do impeachment. Mas sua credibilidade est comprome- tida, apés ser denunciadona Operacio Lava Jato por suposto recebimento de propina desviada da Petrobras. ‘Apesar disso, Cunha ainda contacom ‘um grande mimero de deputados como aliados que, somados & oposigao lidera- da pelo PSDB, poderiam angariar apoio para levar adiante o processo de impea- chment.Por suavez,oPT acredita que, ‘mesmo comuma base aliada frégil enem sempre fiel as votagdes do governo, tem votos suficientes para barrar a maioria de dois tergos necesséria para fazer 0 rocesso prosperar na Camara. Neste cendrio, a voz das ruas pode exercer um importante papel para in- fiuenciar os votos dos congressistas na votagao do impeachment. Do lado de foradas paredes do Congresso, a popu- laridade da presidente despenca. Além dos escandalos da Lava Jato,o aumento da inflagao e do desemprego motivaram millhdes de pessoas a diversas manifes- ‘tages com panelagos nas varandas € ppasseatasnas ruas das principais cidades, brasileiras, como mote “Fora, Dilma”. 0 governo alega que o pedido de im- peachment nao possui bases fundamen- tadase tem carter de golpe, promovido pela oposigao, que perdeu as leides de 2014, Nas eleigSes, Dilma,candidatado PT,venceu oadversirio Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com apenas 51,6% dos votos vilidos contra 48,3% para Aécio. Processo no TSE No caso de deposi da presidente, assume o vice, Michel Temer (PMDB) até o final do mandato. Desde que o debate sobre o impeachment se in- tensificou, o pemedebista adota uma postura ambigua em relagio a Dilma. Poucos dias apés o pedido pela aber- tura do processo ter sido aceito por Cunha, uma carta de Temer, na qual ele reclama diretamente a Dilma do OAB ESTA RACHADA SOBRE IMPEACHMENT DE DILMA, DIZ PRESIDENTE DA ORDEM Opresidenteda OAB (Ordem dos Advoga- dos do Brasil), Claudio Lamachia, afirmou nesta terca-feira (16) que a entidade est dividida sabre qual posicéotomarem rela- ‘oaoimpeachment da presidente Dilma Rousseff Desde 2015, a entidade discute se val apolar oundo o proceso deimpeachment deDilma.(..] Nofim do ano passado, a0AB decidiu inclu dados referentesasinvest- tratamento que recebe da presidente, vvazou na imprensa. Posteriormente, ovice tratou de amenizar a questio € tentar uma reaproximagao com Dilma. Mas 0 mandato de Temer também pode estarameagado, porprocessoaber~ tono Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quepede aimpugnagio da chapa Dilma- ‘Temer nas eleigdes de 2014. ‘A.agiono TSE foi movida por partidos deoposigio lideradospelo PSDB eapon- tasupostasirregularidadesna campanha eleitoral para a Presidéncia em 2014. Achapa Dilma (PT) e Temer (PMDB) 6 acusada de receber recursos obtidos de desvios da Petrobras. O TSE ja havia aprovado as contas da campanha, mas, decidiu aceitar a demtincia e instaurar ‘um processo, que sera julgado em 2016. HA divergéncias juridicas quanto & competéncia do TSE para afastarapre- sidente e seu vice, mas uma eventual condenagio da chapa abre também a possibilidade da abertura de um novo processodeimpedimentono Congresso. ‘Seja como for, se Dilma for afastadado poder devido a irregularidades em sua campanha eleitoral, Temer nao poderé assumir a presidéncia da Repiblica. O cargo sera ocupado interinamente pelo presidente da Camara. Se o afastamen- to ocorrer nos dois primeiros anos do ‘mandato eleigdes diretas io convocadas, num prazo de 90 dias. Caso 0 afasta- ‘mento ocorra na segunda metade do ‘mandato,o novo presidente é eleitoem 30 dias, por eleigdes indiretas,nas quais 6 parlamentares votam. a gagbes da Operagio Lava Jato na anélise sobre como a entidade val se posicionar ‘em relacao a0 impeachment... Na primeira analise, portrés votos a dois, ‘a comisséespecial da OAB que anallsouse caberia o impeachment de Dilma reeitou cendossaroafastamento por causa da and- lisedo TCU. O entendimento majoritario fol ‘queas contas de 2014 sereferem apraticas ‘ocorridas em mandato anterior a0 atual, ‘© que no poderia justificar 0 processo politico do impeachment. Folta de S.Paulo, 16/2/2016 = responsabilidade: envolvimentoeomis RESUMO Impeachment = CONCEITO Palavra que significa impe- dimento, & a destituicdo legal do poder piblico de uma autoridade ulgada econ- denada por crime. NoBrasl, ssomotives paraimpeachment os crimes comuns ou = crimes de responsabllidade (atos que le- ‘sama Unido ou ameacam sua existéncta). : Denire os crimes de responsabilidade esti colocar em risco a seguranca in- tetna do pais, cometer ato de improbi- dade administrativa e descumprir a Let COrcamentéria Anual do governo. Além da deposicdo, oimpeachment pode resultar, ainda, em punicdes legals (como prisdo) ¢ na perda dos direitos politicos. Na saida £ dopresidente, assume o vice. PROCESO CONTRA DILMAEm dezem- bro de 2015, o presidente da Cémara de Deputados, Eduardo Cunha, acolheu um pedido para abertura de proceso de impeachment de Dilma Rousseff. A presidente é acusada de trés crimes de noscasosdecorrupcdonaPetrobras;de ter estabelecido por decretoaumentonasdes- ! pesas do governo acima do estabelecido na Lel de Dirtrizes Orcamentarias (LOO), sabendo que do teradinhor parahonrar 0s compromissos; e de usar pedaladas fiscals-manobras contébels que simulam tum saldo positivo maior do que o real. £ CRISE POLITICA 0 proceso de impeach- ment passa pelas maos de deputados & senadores, por isso depande da relacio do goveriocom a oposicéonas duascasas do Legislaivo. 0 presidente da Camara, Eduardo Cunha, denunciadona Operaso = Lava Jato, entrou ematritodireto com a Presidente Dilma e apola abertamente 0 processo de impeachment. ‘CRIMES ELEITORAIS Uma acéo apresen- tada pelo PSDB ao Tribunal Superior Ell- tora (TSE) fol aceita, levando & abertura de um processo que pode impugnar a chapa Dilma-Michel Temer, vencedora $ das eleicdes de 2014, por crimes eleito- rals.O proceso serd julgado om 2016 & pode levar ao afastamento de ambos ou = tomar-sernovo motivo para um prooesso de impeachment no Congresso.

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