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GRANDES QUESTOES ATUAIS DO DIREITO TRIBUTARIO 18° volume Coorder VALDIR DE OLIVEIRA ROCHA Autores ‘ALBERTO XAVIER ALCIDES JORGE COSTA BETINA TREIGER GRUPENMACHER ‘CAIO AUGUSTO TAKANO, EDUARDO JUNQUEIRA COELHO FABIO PALLARETTI CALCINI FERNANDO FACURY SCAFF GABRIEL LACERDA TROIANELLI GUILHERME CEZAROTI HELENO TAVEIRA TORRES HUGO DE BRITO MACHADO HUGO DE BRITO MACHADO SEGUNDO IVES GANDRA DA SILVA MARTINS JOSE EDUARDO SOARES DE MELO LUIS EDUARDO SCHOUERI MARCIANO SEABRA DE GODO! MISABEL ABREU MACHADO DERZI PAULO AYRES BARRETO PAULO ROBERTO LYRIO PIMENTA. RENATO LOPES BECHO ROBERTO FERRAZ SACHA CALMON NAVARRO COELHO SERGIO ANDRE ROCHA VALTER DE SOUZA LOBATO |DLzmea| ‘Sao Paulo - 2014 Tributag&o do Resultado de Coligadas e Controladas no Exterior, em face da Lei n° 12.973/2014 PAULO AYRES BARRETO Dowor em Dito Tun pa Potts Unersdad Cate de ‘do Paulo ~ PUCISP. Livre Docent pela Universidade de Sto Paulo USP, onde é Professor Asociado. AIO AUGUSTO TAKANO Mestrando em Direito Eeonbmico, Financeio e Trbutdrio pla Universidade de Sdo Paulo - USP. Professor Conidado da Po Graduagdo da FGV Management, Advogado em Sao Paulo, I+ Introito Dista de ser simples o exame da tributa- do no Brasil. A t6nica prevalecente é a da complexidade. Trata-se de caracteristica ima- nente a0 nosso sistema tributirio, que gera, de © um lado, inseguranca e altos custos para os contribuintes que pretendem manter-se em conformidade com as suas obrigagdes tributd- Fias e respectivos deveres instrumentais, e, de outro, dificuldades para as empresas brasilei- Tas competirem no plano internacional. Os primeiros desafios exsurgem do mo- delo de federagao escolhido pelo legistador constituinte. Dentre os entes tributantes temos, além da Unido, os Estados membros, os Muni: cipios ¢ o Distrito Federal, a colorir com matri- Coin Augusto Takano es prOprias e peculiares a repartigao de com- eténcia tributdria impositiva, necesséria para garantir-Ihes autonomia. Se colocarmos sob foco as incidéncias so- bre o consumo, identificaremos distintos tributos, criados e adminis trados por diferentes entes tributantes, em cenério propicio as mais acitradas disputas tibutérias e & crescente inseguranga jurfdica. Dat © porgué de o sistema tributério brasileiro ter ganhado a reputasio «le ser um dos mais complexos do mundo, notadamente em razio do Peuto Ayres Barreto Pano Ames Baasero / Caso Augusto Tacano __ 353 seu imposto sobre valor adicionado, conforme pertinente aponta- mento de Vitor Tan: No que tange & tributaedo sobre a renda, insiste-se na busca de solugdes dissonantes das melhores préticas internacionais, cunhadas ap6s longo processo de aprendizado histsrico. Nossas solugdes pata esse Imposto - ndo raro - sdo tnicas no mundo. E o que sucede com a legislacdo de pregos de transferéncia, subcapitalizagio, tributagao de lucros auferides por coligadas e controladas no exterior, juros $0. bre capital proprio etc. ‘Como ensina David Rosenbloom, os sistemas tributarios refle- toma histéria, a cultura, os valores e as necessidades de seus paises? A evolugao legislativa da tributago dos Iucros auferidos no exterior revela precisamente a linha de racioefnio que tem norteado o legisla dor tributario: a preferéncia por um sistema que promova maior ar. recadagio, simplicidade e praticidade, a um que guarde consonancia om o principio da capacidade contributiva, que respeite as garantias, dos contribuintes, que gere justiga tributaria ou que fomente a inter. nacionalizagio das empresas brasileiras. O que interessa é atender os interesses do Fisco! Nesse cenétio, as modificagdes introduzidas pela Lei n° 12.973, de 13 de maio de 2014, longe de trazerem solugdes satisfatérias & Questdo dos lucros aufericlos no exterior, limitaram-se a cunhar re- gras de carter meramente arrecadatério, que no se harmonizam com os padrdes internacionalmente aceitos, nem permitem o ade quado desenvolvimento da empresa nacional A partir do resultado do julgamento da ADIn n° 2.588/DF pelo Supremo Tribunal Federal e, fundamentalmente, do que nao foi de- cidido naquela ocasiao, confirmou-se a postura peculiar do Brasil em tributar a renda independentemente de efetiva distribuigsio dos lucros ou situagdes de abuso precisamente delimitadas pela lei, exce. £ Comentiris conclusivos 20 Coldquio Internacional do NEF > Cl ROSENBLOOM, H. David. “Where's the pony? Reflections on the making of international tax policy” Bullenin far Inericninmal Tavatuon, Arvstendas IBEOY 2009, p35, Fazemos oreistro de que ete atig, polo tema que mf contri pela eto, Ferd como foco as alterages peomnovidas pela Lei" 12 973/204 em neea asa mente ji emboraexetinon cents de que algumas das princpas inovagbos Ettcas jd poderiam ser realizadax durante a vigéncia da Meigs Provisors a exmni, 354 Grwwoes Quesrées Aruss 00 Dero Trerano to nos casos de coligadas localizadas em pafses sem tributagao favo- recida (que nao sejam parafsos fiscais). cuja tributacdo foi reconhe- ida como inconstitucional Nesse intento, houve um esforgo do legislador em aproximar 0 novo regime jurfdico da tributacdo dos lucros auferidos por controla- das € coligadas no exterior a legislacio “CFC” (Controlled Foreign Corporation), na tentativa de se justificar a tributagdo, nas demais situagdes em que nio houve expresso afastamento pela Corte Supre- ma, de algo que renda (disponivel) ndo é. Podemos citar, exemplifi- cativamente, a positivagio do conceito de renda ativa, a diferencia- ‘edo de tratamentos para empresas situadas em pafses de subtributa- ‘eo ou paraiso fiscal etc. Mera mascara, que esconde inequivoca preocupacdo de gerar receitas imediatas aos cofres piblicos, mas ue, como se verd, causa distorgdes sistémicas e apenas em tese prestigia a arrecadagdo tributéria. Nao hd, na nova dicgao legal, uma clara e precisa distingao entre situagdes normais, em que hé genuino exercfcio da atividade empresarial, ¢ aquelas excepcionais que, mun- do afora, ensejam a aplicagdo de normas “CFC”, por conterem 0 elemento “abusivo”” Tais aspectos serio abordados adiante, mas registre-se, por ‘oportuno, que insistimos em permanecer na contramio do mundo, ‘em nao incentivar a competitividade das empresas nacionais, em no ‘compreender 0 contexto em que o Brasil esté inserido internacional- mente € © papel que exerce nele*, Novamente, com o argumento de tornar a legislagdo mais simples e a arrecadacao mais eficiente, ig- noram-se diretrizes fundamentais do Texto Constitucional, sempre em prejuizo do contribuinte. Embora seja prematuro fazer afirmacdes perempt6rias sobre as notmas juridicas veiculadas pela Lei n° 12.973/2014, nosso propési- to, neste artigo, é 0 de discorrer sobre os contornos do novo regime juridico da tributagao dos resultados auferidos no exterior e os seus limites positivos, examinando as perspectivas da tributacdo da renda das pessoas juridicas em bases universais no sistema tributério bra- sileiro. + Nesse sentido, a palestra proferida por Luis Eduardo Schouer, por ocasito do XXIII Congresso brasileiro de Dieito Tributirio, realizado pelo lnsttuto Geraldo ‘Ataliba - Idepe, publicada na Revista de Direizo Tributdrio 111. Sio Paulo: Ma- Iheiros, 2010, p. 140-146. Puno Avnes Banwero / Caso Auusto Texan a IL- A Evolugio do Tema - o Contexto da Publicagio da Lei n? 12.973/2014 Desde a primeira tentativa da Unido, sob a égide da Constitu cdo Federal de 1988, de tributar a renda das pessoas juridicas: em bases universais (world-wide-income) com a publicagao da Lei 9.249/1995°, o tema tem gerado intensos debates na doutrina, com os correspondentes efeitos na jurisprudéncia. Embora este nao seja 0 espaco para reproduzi-los, é inevitavel uma breve digressao sobre o tratamento fiscal da matéria, que ndo tem sido linear, para que se Compreenda 0 contexto no qual as alteragdes da Lei n? 12.973/2014 foram instituidas. Com o advento da Lei n° 9.249/1995, pretendeu-se introduzir 0 Principio da universalidade na tributagdo sobre a renda das pessoas Juridicas. Passou-se a exigir que os lucros auferidos por controladas € coligadas no exterior fossem computados na apuragio do lucro real, proporcionalmente & participago da pessoa juridica residente ‘ou domiciliada no pais em seu capital. Nao obstante, olvidou o legis- ador que 0 Cédigo Tributério Nacional exige, em seu art. 43, a dis- ponibilidade, juridica ou econdmica, da renda para sua tributacdo. Por esse mesmo motivo, ndo lograram éxito nem a Instrugo Normativa n? 38/1996, que previu o “

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