Você está na página 1de 38
PARTE S JOAO ANTONIO DE PAULA 0 PROCESSO ECONOMICO A ECONOMIA BRASILEIRA ENTRE 1830 E 1889 — VISAO GERAL 0 periodo considerado nesse capitulo, do ponto de vista econémico, politico, social e cultural, representa 0 momento consolidador de varios e decisivos aspectos da nacionalidade, seja na afirmaggo de algumas de suas caracte- risticas fundamentais, seja na abertura de possibilidades, ou mesmo pelos impasses que explicitou e que tém marcado o pais até os dias atuais. Entre 07 de abril de 1831 ¢ 0 15 de novembro de 1889, da abdicaco de 4. Pedro 1 Repiiblica, o Brasil experimentou transformagdes, modernizou suas instituicées politicas, sua estrutura econdmica, suas relagbes sociais, sem que tenham sido superadas certas mazelas e contradigdes que, perma- nentemente atualizadas, tém confirmado o apego a desigualdade, a exclusio € A marginalizagio sociais, que estéo na base de impasses historicos que 0 Brasil tem reiterado. A escravidio foi abolida depois de longuissima vigéncia; esbocow-se a formacao e a articulagio do mercado interno a partir de um mosaico de economias regionais; consolidouse, com o Cédigo Comercial, de 1850, a moldura institucional para o desenvolvimento das relagées mercantis capi talistas; consolidaramsse, enfim, as condigdes de vigéncia do trabalho livre, das relades de trabalho especificamente capitalistas. O period em tela foi momento de emergéncia e expansio da moderniza- ‘20 da infraestrutura urbana, de nossa vida cultural, ainda que constrangida pela presenca de altos niveis de analfabetismo. Houve crescimento das institui- Ges de ensino e de pesquisa, consolidow-se um efetivo sistema cultural com- Posto de produtores, veiculos e consumidores de bens simbélicos, que por ser, de fato, um sistema, nio ficou restrito aos grandes nomes, aos grandes autores. ACIENCIA EA TECNOLOGIA NO BRASIL D0 SECULO XIX (0 Brasil no século x1x, depois do considerdvel florescimento cultural do pperiodo joanino, assist a dois grandes movimentos de enriquecimento de sua vida cultural: o primeiro representado pela implantacao e expansio do censino superior, ¢ 0 segundo pela instalacio de uma série de instituigdes de pesquisa cientifica ‘No campo do ensino superior, quatro areas tiveram considerdvel cres- cimento: 0 direito, a engenharia, as ciéncias agrérias e, com maior dest que, o ensino juridico. Por motivos decorrentes tanto das exigéncias do momento (a organizagao do Estado depois da independéncia), quanto da tradigdo bacharelesca herdada de Portugal, foi no campo do direito, na ‘busca da normatizacio da vida politico:nstitucional do pais, que se deram as maiores iniciativas intelectuais. A elaboracao da Constituigio, em 1824, ddo Cédigo Criminal, em 1832, do Cédigo de Processo Criminal, em 1832 do Ato Adicional & Constituiglo, em 1834, da Lei de Interpretagao do Ato ‘Adicional, em 1840, do Cédigo Comercial, em 1850, do conta de um impor- tanteesforco legislador. Esse aparato legal fez parte do mesmo movimento que levoua institucionalizacao do ensino jurfdico no Brasil, que teve inicio em 1827 coma criagio das faculdades de Olinda e So Paulo. Mais do que isso, é possivelafirmar que toda a vida politicocultural brasileira ¢ filtrada pela cultura juridica. Foram os juristas que deram o tom em nossas letras, em nossa filosofia e em nossas instituigdes politicas e sociais. O ensino da engenharia comecou no Brasil, excetuando-se o que era ministrado nas ‘Academias Militares, em 1874, com a transformagao da Escola Central em Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Depois, em 1876, fof instalada a Escola dde Minas de Ouro Preto e, em 1894, a Escola Politécnica de Sio Paulo, ‘No que tange as escolas de ciencias agréria, depois dos cursos de agricul tura criados na Bahia,em 1808, eno Rio de Janeiro, em 1814, houve a criacio de instituigbes de ciéncias agrérias em Lengéis, na Bahia, em 1877; em Pelotas, Rio Grande do Sul, em 1883; a partir de 1889, em Piracicaba, Sao Paulo; em 1908, em Lavras, em Minas Gerais; e, em 1920, em Vicosa, Minas Gerais, No referente as instituigdes de pesquisa, vejase a cronologia: 1838, criacdo do Instituto Histérico e Geografico Brasileiro, que foi, atéa fundacio a Faculdade de Filosofia da Universidade de Sao Paulo (Us?), em 1934 2 Sinica instituicio de pesquisa hist6rica do Brasil. Em 1887, foi criado o Inst tuto Agrondmico de Campinas, principal centro de pesquisas sobre @lavoura cafeeira, durante décadas. De 1892 € a criagio do Instituto Biolégico de Sio Paulo, em suas quatro divisées — Laboratério Bacteriolégico, Laborat6rio cere Vacinogénico, Laboratério de Anélises Clinicas e Laborat6rio Farmacéutico. Fm 1893 foi fundado o Museu Paulista, centro de pesquisa em hist6ria natural, arqueologia e etnologia. Em 1894 criouse o Museu Paraense, hoje chamado de Emilio Goeldi, com as mesmas caracteristicas do Museu Paulista Se examinarmos as areas privilegiadas e a qualidade do que foi feito, € possivel dizer que as instituigbes de ensino e pesquisa nasceram com consideravel grau de consisténcia e aderéncia as grandes questdes de ento. ‘No campo da engenharia é clara e coerente a op¢io pelo desenvolvimento das engenharias ferrovidria, de construgao de portos, de minas e metalurgia, de prospecgao e exploragio dos recursos minerais. Do mesmo modo, foram. pertinentes e oportunos os investimentos para o desenvolvimento das cién- cias agrarias e pedolégicas, que incidiam sobre as maiores fontes de riqueza entio, a producto agropecudria. ‘Também ajustadas as exigéncias do momento foram as varias iniciativas, >bem-sucedidas, no campo das campanhas sanitérias e da pesquisa biolgica, no enfrentamento de doengas endémicas e epidémicas debilitadoras da populacéo. Finalmente, os esforgos no campo da instalacao de museus tém um qué de imitacao da velha tradicio dos “gabinetes de curiosidades” e refletem 0 es: forgo genuino de nossos cientistas para entender a terra ea gente brasieiras. Contudo, todos esses empreendimentos, que nao podem ser subestima- dos erevelam tirocinio e atualizacao de nossa inteligéncia, nfo significaram efetiva mudanca de qualidade em nossa vida cultural, isto é, no expressa rama constituigio de um sistema nacional de movagdo, na medida mesmo em ue estas instituigdes e iniciativas nao foram capazes ce ampliar a qualidade a quantidade de nossa producio cientifica e tecnolégica, e, muito menos, de articulé-as ao setor produtivo. CONFIGURAGAO REGIONAL DA ECONOMIA BRASILEIRA NO SECULO XIX A economia brasileira entre 1830 € 1889, apesar da efetiva centralidade da produgio cafeeira, foi relativamente diversificada e dindmica. Ao lon" g0 do século x1x certas caracteristicas estruturais e vocagées regionais criaram um mosaico de relagées de trabalho, de tecnologia, de produtos, de mercados, de formas de propriedade, o que contraria a imagem, que ainda tem ampla difusio, de uma economia exclusivamente escravista, de Fonocultare € Voliads pars a exportalo, De itera economia brasicia rlacio. De fato, a economia brasileira esteve longe de ser homogénea em qualquer de suas caracteristicas basicas, antes se desenvolveu a partir de peculiaridades regionais. + Laboratério Farmacéutico, # uma importante conquista da historiografia brasileira a superagio da 183 >esquisa em histéria natural, perspectiva em que a histéria econémica do Brasil era tomada como um so- euParaense, hoje chamado mat6rio de ciclos de produtos (acicar, ouro, café), 0s quais teriam trajetérias do Museu Paulista, similares (nascimento, auge, declinio). Tal maneira de ver as coisas resultou | ‘qualidade do que foi feito, ‘num reducionismo problematico, a ignorar a existéncia de “complexos eco- | e pesquisa nasceram com | ymicos" para além da exportaco de alguns produtos. A economia nordestina, hi] grandes questées de entio. rhesmo no auge Ga exportagao de aciicar, nunca foi apenas acucareira, como | »pcio pelo desenvolvimento também nio foi sé minerat6ria (ouro e diamantes) a economia de Minas Gerais ros, de minas e metalurgia, no século xvii e assim por diante. Tratase, entao, de entender a economia is. Do mesmo modo, foram brasileira no século xix como regionalmente diversficada do ponto devista | | > desenvolvimento das cién- da produgao, dos mercados, das relagdes de trabalho, das estruturas fundidas. smaiores fontes de riqueza Os dados apresentados a seguir, que registram as exportagies no period, I nao pretendem totalizar o conjunto da economia brasileira, pois the escapam ‘ foram as varias iniciativas, importantes atividades, quantitativa e qualitativamente, voltadas para o mer- , sseda pesquisa biolégica, no ‘ado interno, De todo modo, vale o registro de algumas de suas evidéncias, | 's debilitadoras da populacio. tais como o creseimento da participacio do café na pauta de exportacées, | ‘cao de museus tém um qué vised-vis ao deeréscimo das exportacoes de agucar ¢ de algodio. Ainda mais i suriosidades" erefletem oes- expressivo, relativamente, foi o aumento das exportagdes de borracha, que -aterraea gente brasileiras passaram de 0,3% no decénio 1821-1830 para 15% no decénio 1891-1900. | ‘endo podem ser subestima- Destaque-se ainda o crescimento da exportagio de algodiio entre 1861 € 1870, | teligéncia,ndo significaram. invertendo queda que se manifestou em todo 0 periodo considerado © que | itural, isto €, nao expressa- reproduz situagio ja vivenciada no passado, quando a exportacio brasileira | so, na medida mesmo em de algodio cresceu como resposta & crise das exportagdes norte-americanas, «azes de ampliar a qualidade ‘num primeiro momento reflexo das guerras de independéncia ocorridas scnol6gica, e, muito menos, entre 1776 e 1812, e num segundo momento como consequéncia da guerra civil, na década de 1861-1870. TABELA1 EXPORTACOES DE MERCADORIAS (% 00 VALOR 005 oITo PRODUTOS ILEIRA NO SECULO XIX PRINCIPAIS SOBRE 0 VALOR TOTAL DA EXPORTACAO) sar da efetiva centralidade ectx1o Tora care agtican cacau TAN yuma atconko somaacna {eee iffcada dinamica. Ao lon” SS iuais e vocagées regionais —————— | Je tecnologias, de produtos, ase moos ast os 78 me | i contraria a imagem, que eeit5o 88a 7403S C Husivamente escravista, de “i5iitio 909 mane +4636 Ga 7 x fato, a economia brasileira 761-870 oo ase 8S 60 {suas caracteristicas basicas, ie7r-i8t0 9 ws ae os to b regionais. ae Mae wa OS» 99 36 60 Ne] Fonte: Comérco Exterior do Brasil=n,1~CE-e N. 12, do Servigo de Fstatstiea Beondmica © ‘inanceira do Ministro da Fazenda ap Siva. 19763), Podemos iniiara andlise com a economia da Amazinia, cujacaracteristica mais marcante naquele momento, e que em parte se mantém, era exploracio, ‘mediante o extrativismo, das chamadas “drogas do sertdo”, as quais, além da cagae da pesca, inclufam madeiras,resinas,éleos,ervas, bras, produtos da floresta em geral, com destaque para a borracha, os couros ¢ as peles e para a castanhaddo-pard. A organizacio da extragao dessas “drogas do sertio", em particular da producio da borracha, baseou-se em relagdes de trabalho apenas formalmente livres, pois, na pratica,significavam tiabalho compuls6rio, pela ‘mobilizagéo do chamado Fema dean. }0 qual, mediante o monopélio dda venda de produtos necessaios a subsistencia dos produtores de borracha, chamados seringueiros, e do monops6nio, isto é, os seringalistas se colocarem ‘como tinicos compralores da borracha produzida pelos seringueiros, resultou, nna realidade, numa modalidade de “sesvidao por dfvida", em que o seringueiro, permanentemente encividado pela manipulagio dos precos dos produtos que comprava ¢ vendia,ficava compulsoriamente ligado aos seringas. O sistema de aviamento constituia-se, de fato, num encadeamento de relagBes mercantis, que, tendo nos seringais espalhados pelo interior da Ama- zénia um de seus polos, e ligavam as casas comerciais de Belém e Manaus, ‘as quais estavam, por sua vez, articuladas as casas exportadoras e importa: dloras.Jéessas tiltimas, abastecendo o mercado mundial de borracha vegetal, ‘guameciam a Amazénia de produtos industriais como tecidos, alimentos industrializados, ferramentas, armas, chumbo, pélvora, medicamentos et. sistema de aviamento esteve longe de impedir vazamentos, como os de- correntes dos chamados “regatées", ou “marreteiros”, que, se interpondo entre seringueitos e seringalistas, compravam borracha e abasteciam os seringueiros, quebrando a regra do monopélio gerado pelo monopsonio. Os dados da tabela 1 mostram o expressivo crescimento das exporta @es brasileiras de borracha, que no final do século xx representavam 0 segundo item mais importante da pauta de exportacées, com_s% do valor, TST ATR apeTas Wo Cae queTEpTEsentava 64.5% A escalada 6a expora de borracha esté igada & chamada Segunda Revolugdo Industrial ea algumas de suas indiistrias ideres, como a automobilistica. A invencio da vuleant zagio, em meados do século x1, permitiu a ampliagdo dos usos industriais | 186 daborracha, transformando a Amazonia brasileira no principal produtor de porracha vegetal do mundo, situagao que vai perdurar até o inicio da Primeira Guerra Mundial. A partir da década de 1910, 0 Brasil perder a primazia na | roducio mundial de borracha pela entrada em cena da borracha vegetal asidtica, produzida nas colbnias britanicas do Sudeste asistico. ‘A perda da lideranca brasileira no mercado mundial de borracha deveu-se A.expressiva diferenca de produtividade entre a borracha asiatica, produzida em seringais plantados de sementes contrabandeadas do Brasil, ea borracha brasileira, extraida de seringais nativos espalhados aleatoriamente pela flo- resta que acarretavam jornadas extensissimas de trabalho, com baixissimos rendimentos quando comparadas com a producio asiatica De todo modo, no periodo aqui considerado, a economia da borracha | foi das mais dinamicas, impactando a regido amaz6nica, que experimentou, | pfints 880 © 1930, express manifestacoes de modernizacio e urbani- | zagao, de que as cidades de Belém e Manaus séo bons exemplos. ‘Além do mais, é possivel dizer que o crescimento da producao brast- | | leira de borracha deveu-se, do lado da oferta, ao significativo processo da H et ey imigracdo para a Amaz6nia, sobretudo de nordestinos, em duas grandes t | ondas, A primeira estd relacionada as grandes secas de 1877-1880, que | dleterminaram a transferéncia da populacio nordestina, em particular de ‘cearenses, para a Amazinia, Estima-se que cerca de 500 mil pessoas foram | obrigadas a abandonar as reas devastadas pela seca. A segunda onda est Tigada ao esforgo desenvolvido na Segunda Guerra Mundial no sentido de ‘4 | aumentar a producdo de borracha Vegetal para suprir o mercado mundial, * | teem particular 0s paises aliados, depois que os japoneses ocuparam as | principais fontes de producio de borracha vegetal no Sudeste asistico. | Tomb {COR FORTE amas ke esa redo de acicar, nem mesmoTa Zona da MATE que abrange apenas 5% do teritério 7 ty ondesting © além de aofcar Trtamibém local de producio de tabac, de at cf. doNordeste, do pont de vita agroecoigico, ¢o geste Regio de transi Se cdo entre a mata e 0 sertio, o Agreste ocupa igualmente 5% do territério e tem estrutura produtiva compésita. £ possivel encontrar no Agreste tanto ramificacbes da economia acucareira quanto manifestacées de atividades Sk P Biss do sett, como + pecudria extensiva, a produgao algodoeira e a Zo cacau, de alimentos e de atividades pecuaristas. Outra regido caracteristica producdo de alimentos. No sertio nordestino, que ocupa 90% do territério regional, encontra-se a maior érea do semiérido brasileiro. Durante algum tempo, a economia nordestina foi definida pela triade latifiindio, trabalho escravo e monocultura. Essa imagem est, porém, longe principal produtor de at€ inicio da Primeira perder a primazia na a da borracha vegetal pasidtico. \ldeborracha deveu-se hhaasiatica, produzida do Brasil, ea borracha eatoriamente pela flo- alho, com baixissimos iftica conomia da borracha a,que experimentou, odernizacao e urbani- asexemplos. ito da produgao brasi- nificativo processo da ros, em duas grandes 1s de 1877-1880, que ina, em particular de 500 mil pessoas foram “Asegunds onda esta ‘undial no sentido de ‘4 iromercado mundial, * poneses ocuparam as vo Sudeste asidtico. uumiu a producio de penas 5% do territério rodlucio de tabaco, de aregiio caracteristica reste. Regio de transi- inte 5% do territério € atrarno Agreste tanto sstagies de atividades ndugio algodoeira e a cpa 90% do territério sileito. oidefinida pela triade jem esté, porém, longe 0 processo ecowomico de representar até mesmo a economia agucareira, Um quadro mais nuan- 187 ado, e por isso mesmo mais exato dessa realidade, deverd levar em conta tanto a complexidade tipica do engenho acucareiro quanto a diversidade de atividades auxiliares, complementares e de apoio, conformadoras de complexa divisio de trabalho. Gilberto Freyre cunhou a expressio “civilizacio do acicar”, abrindo ‘uma perspectiva que vale a pena reter. 0 termo busca abarcar 0 conjunto dos desdobramentos da atividade acucareira sobre a vida econdmica ¢ social, sobre a paisagem e os recursos naturais, sobre a sociabilidade e as formas simbélicas, que Freyre esbogou em seu livro de 1937, Nordeste. O historiador Stuart Schwartz, em Segredas internos, apreendeu a economia acucareira do seguinte modo: | Brasil desde os seus primérdios até o final do século X1X e 0s cativos sempre fos- sem preponderantes como forga de trabalho, o carter da produgdo agucareira cesuas exigéncias especfficas criaram a necessidade de um grupo de assalariados | ‘no cerne do processo, Os trabalhadores do campo eram quase sempre escravos, | ‘Muito embora a méo de obra escrava caracterizasse a economia arucareira no | em geral negros e preponderantemente africanos; os senhores de engenho eram ‘invarlavelmente livres ¢ brancos. Porém, nas funcées intermedirias — admit rnistrativas, técnicas e artesanais — havia individuos livres, libertos e cativos, bbrancos, pardos ou negros (Schwartz, 1988:261). Sea economia agucareira foi a mais importante entre as economias nor destinas, 0 quadto geral da atvidade foi marcado pela crise secular que se instalow a partir de meados do século xvi, Como consequéncia da entrada to mercado da producio antihana, comandada por capita holandeses,e nha segunda metade do século xix, pela concorréncia do agicar de beterraba TABELA2 PREGOS DO AGUCAR EM LIBRAS POR TONELADA inicio do séeuloxvnt 0 inicio do sécuio wnt 7 inicio do séealox » Metade do stewie xix 6 Inicio doséculoxx ° Font: Amaro Eat do Bra 939-a40faped Rego ¢ Marques, 2003:251), 188 Como jé mencionado, se o aciicar predominou na Zona da Mata nor- destina, esta regiio também abrigou outras atividades voltadas para a exportacio, como o\tabaco,,plantado na regio do recéncavo baiano, em juenas propriedades € Com pequena pastigipacio de escravos; e offacaul) ‘que Taio as Amazonia, foi elnvado na Ge sm torno da cidade de Iihéus, que utilizou predominantemente mao de obra escrava. ‘0 complexo econdmico nordestino, come foi chamado por Celso Fur- tado, inciuiu ainda a economia da pecudtia, as lavouras de subsisténcia ea economia algodoeira. O mesmo Celso Furtado viu a economia da pecuaria ‘como uma projecio da economia agucareira que assumiu no espaco um ‘movimento em bifurcacio. Para o Sul, subindo o rio Sao Francisco, que ficou conhecido como rio dos Currais; e em direcdo ao Piaut, que, concentrando atividades pecudrias, levou Capistrano de Abreu falar de uma “civilizacio do couro” nessa provincia Fssa projegdo da economia agucareira representada pela pecudria di feriu de sua matriz em varios e significativos aspectos, em particular por seu cardter itinerante e extensivo. A dinamica espacial da pecuaria bovina obedeceu, sobretudo, & busca de pastagens naturais, que so escassas nas regides semiridas, como é 0 caso tipico do serto nordestino. Contudo, {diferenga mais decisiva entre a economia acucareira e a pecuéria nor- ; {eins clas oman de taba, que no REPS, por sua Itinerancia e extensividade, excluiu a possibilidade de utllizagdo de iio de obra escrava, confirmandose ai um regime de parceria em que o vaqueiro, trabalhador livre, recebia por seu trabalho o equivalente a um quarto das crias do rebanho. Se. pecuéria nordestina desempenhou diversos papéis no conjunto da economia regional, sendo fonte de abastecimento de carnes e couros, de animais de tragdo e transporte, também complementar e essencial para a reproducio do sistema econdmico regional foi a agricultura d téncia, que se espalhou pela Zona da Mata, Agreste ¢ Sertdo, garantindo.o abastecimento alimentar da regiao. Steve presente tanto nos engenhos de agiicar oltados para a exportacio quanto nas outras atividades econdmicas voltadas para o mercado interno, A agricultura de alimentos utilizou-se | tanto de mio de obra live ava, configurando, neste caso, 0 que | ‘constitulanse em "Tends transferéncia para os escravos da responsabilidade por sua sobrevivéncia. ido" lxpressa no fato de quea srmisido do plantio de alimentos sm sobrelucro dos proprictarios, mediante a Final nomia reg e com sigt internacio producaot reas ante; regos inte da dinamix A mobiliza ‘ocorreu no De tod Maranhao, escrava nen 0 trabalho reconhecer também éc a realidade Nascida os tempos, assolaram 3 de atividad Minas Gera doouroede manufature Podemo de Minas Ge gar doouro ‘uma signific ‘mesma base o suportem: urbana, dew ede umaest Acrise d século xvint uma vez que dinamismo « a favor da pc mineira ters contingente: Yona da Mata nor s voltadas para a cavo baiano, em smo da cidade de scrava. ido por Celso Fur- lesubsisténciaea omia da pecudria iu no espago um ‘ancisco, que ficou ue, concentrando zuma “civilizagio «pela pecutia di sm patiular por apecudria bovina destino, Contudo, da pecuaia, por de utilizacao de sazegria em que 0 equivalente a um Sisno conjunto da umes e couros, de re essencial para ‘Ho. garantindo 9 nos engenhos de dades econdmicas rentos utilizow-se neste caso, 0 que ‘ano fato de quea infio de alimentos ‘os, mediante a sua sobrevivencia, Finalmente, a|gconomia algodoeira)pcupou lugar importante na eco- nomia regional nordestina, Fortemente presente no Sertdo e no Agreste € com significativa presenca no Maranhio. As oscilagies da demanda internacional de algodio determinaram respostas correspondentes da producdo brasileira, nao sé a nordestina, que tendet a crescer e a ocupar reas antes voltadas para outras atividades sempre que a procura e 08 precos internacionais do algodao subiam. Esse movimento em sanfona da din&mica algodoeira correspondeu, do lado das formas de trabalho, 4 mobilizacio tanto de trabalhadores livres, quanto de escravos, como ocorreu no Maranhio, De todo modo, a producio de algodio no Nordeste, com excegio do Maranhio, nao se caracterizou nem pelo uso intensivo da mao de obra escrava nem pela grande propriedade, tendo predominado nessa atividade 0 trabalho familiar e variadas formas de parceria. Assim, é fundamental reconhecer a existéncia de um “complexo econdmico nordestino", como também é 0 caso de mobilizar a mesma ideia de “complexo” para designar a realidade da economia mineira no século x1x. ‘Nascida do impulso minerador, [Minas Gerais] mesmo em seus primei ros tempos, jamais foi apenas misieFacio. As grandes crises de fome que assolaram a regio entre 1699 e 1701 determinaram o desenvolvimento de atividades agricolas. Assim, desde o inicio do século xv1it, deu-se em Minas Gerais uma economia diversificada em que, ao lado da produgio do ouro e dos diamantes, tiveram importancia as atividades agropecudtias, manufatureiras ¢ de servigos. Poclemos constatar também, como especificidade do desenvolvimento de Minas Gerais, o fato de que a centralidade da producio aurifera e o Iu- gar do ouro como meio de pagamento e como veiculo de trocas definiram ‘uma significativa amplificagdo das relagdes econdmicas na regio. £ essa ‘mesma base econdmica diversificada, monetizada e mercantilizada que sera co suporte material da emergéncia e do desenvolvimento de uma estrutura urbana, de uma estrutura politico-administrativa, de um sistema cultural de uma estrutura social relativamente densos e complexos. ‘A.crise da mineracio do ouro em Minas Gerais na segunda metadle do século xvi11 nio significou, porém, prostragdo ou regress3o economica, uma vez que a economia da provincia no século x1x manteve considerével dinamismo e experimentou significativas transformagdes. Uma evidéncia a favor da permanéncia do dinamismo econdmico é 0 fato de a provincia mineira ter se mantido a mais populosa do Império, abrigando tanto omaior contingente de populacao livre quanto a maior populagio escrava do Brasil, 189 Continuaram importantes em Minas Gerais, no século xix, asatividaes ‘mineratorias, que, no entanto, vao experimentar expressivas modificagées. No caso da mineragdo de ouro, a partir da década de 1820 0 setor passou a ser comandado por grandes companhias estrangeiras, que trouxeram significativas inovagSes tecnoldgicas na medida em que a exploracao pas- sou se fazer em minas subterraneas. Sob vitios aspectos houve efetiva atualizagdo tecnoldgica do setor, que, no entanto, continuou a utilizar mio de obra escrava, Também no referente i produgao diamantifera, no periodo considera: do, houve avangos teenologicos, sobretudo nas técnicas de lapidacio, que permitiram que o antigo arraal do"Tijuco,elevado & condigdo de cidade em 1831, mantivesse posigio de destaque polarizando grande parte da economia do norte de Minas Gerais, seja como entreposto comercial, seia como polo de concentracio de sevigos e de atividades manufatureiras Apesar de recorrentes constrangimentos legais — como a legislagdo restrtiva sobre engenhos de cana de-agicare 0 AWvard de 1785, que proba teares e atvidades de tecelagem —, desenvolveramse em Minas Gerais amps atividades agroindustriais e manufatureiras, com destaque para os engenhos de cana, produtores de agcar,rapaduraseaguardentes; para uma extensa indistra txtl domeéstica; e para uma também ampla presenca de forjas, tendas de ferreiro e manufaturas de ferro em gera. Na economia de Minas Gerais do século x1x, a centralidade da agrope ccria no deve subestimara presenca da agroindstria, as mamufatures da mineragio e dos servigos urbanos, O reconhecimento da existéncia de atividades econémicas consideraveis, nfo voltadas para a exportacio, motivou trabalhos como os de Roberto Borges Martins, que mostraram © quio complexa,diversficada erelativamente dinamica foi a economia mineira naquele periodo (Martins, 1982) as provincias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo, 2 produgao cafecira foia matrie decisiva de importantes transformacdes moderizantes da economia da sociedade brasleras, ej pela pressio que sua demanda ccescente por mao de obra provocou em n0ss0 sistema escravst,seja pela efetivaintroducio do trabalho livre, que ela promoveu por meio de poiticas imigrantistas, Mas, se nfo podemos subestimaro peso e aimportancia do | café, também nao devemos superestiméo, | Plantado desde o final do século xv1tt, no Rio de Janeiro, Keaté aise | | expandir pelas provincias de Minas Gerais e Sao Paulo, ocupand0 Zona da Mata mineira e 0 Vale do Parafba do Rio de Janeiro e de Sao Paulo. Sua ‘marcha para o oeste paullsta seré marcada por um notvel aumento da de it int culo x1x, as atividades mressivas modificagées. 1820 0 setor passou eiras, que trouxeram que a exploragio pas- spectos houve efetiva continuou a utilizar jas de lapidagdo, que a condigdo de cidade ando grande parte da eposto comercial, seja des manufatureiras. ‘Ade 1785, que proibiu nse em Minas Gerais, ‘com destaque para os aguardentes; para uma ‘émampla presenga de ageral, entralidade da agrope- stria, das manufaturas, mento da existéncia das para a exportacao, urtins, que mostraram samica foi a economia Sto Paulo, a produgio mages modernizantes sssio que sua demanda nna escravista, seja pela spor meio de politicas eso ea importancia do iro ede Sao Paulo. Sua n notvel aumento da produtividade fisica das lavouras em funcdo da ocupagao de terras mais e mais férteis. Se o escritor Monteiro Lobato constatou melancélico a existéncia de “cidades mortas” no Vale do Paraiba fluminense e paulista, ‘0 quadro das cidades do “Oeste Novo" de So Paulo, a partir de 1880, é de vivo dinamismo. Outra importante atividade que contribuiu para a consolidacio da fronteira oeste do Brasil foi a mineracio, pois, com a crise dessa atividade na segunda metade do século xvi, a capitania de Gois buscou diversificar sua produgio por meio da expansfo da agropecuaria e pelo desenvolvi- ‘mento da manufacura textil de algodio, que abasteceu certo segmento da demanda paulista no fim do periodo colonial. Vale lembrar que tanto no caso da capitania de Mato Grosso, quanto em Goids, é essencial considerar as complexas e conflituosas implicagbes do processo de expansio da colonizacao nas diversas comunidades indigenas que ocupavam 0 territério. ‘A ocupacio do “extremo oeste”, como 0 chamou Sérgio Buarque de Holanda, obedeceu a quatro motivagées basicas: o apresamento de indios; a exploragio mineral; a expansio da grande pecusria; ¢ a protecao da frontei- ra para garantir a soberania sobre o territério. Nesses processos expansivos foram constantes e durissimos os desafios: as crises de abastecimento, os ataques dos indios paiaguds, as febres e doencas tropicais que explicam muito do cardter intermitente, fragmentado e mesmo certos abandonos temporsrios que marcaram a colonizagio da regio, Jo extremo sul do Brasil desenvolveu uma economia regional que nd se voltou para o mercado externo. Desde 0 século xviti, sua orga nizagio produtiva baseou-se no abastecimento da regido mineratéria, fornecendo carne ¢ animais de carga e tracdo. Mais tarde, no século x1x, © Rio Grande do Sul vai se especializar, sobretudo, na produgio de ali- mentos para 0 mercado interno — arroz, trigo, milho, carne. E também digno de registro o fato de que essa economia regional, com excegio da rea das grandes estdncias voltadas para a pecuéria, foi marcada pela presenca do trabalho familiar e, relativamente, de uma estrutura fundi- ria desconcentrada. ‘A marcha da ocupacdo econdmica do extremo sul do pafs ndo se deu de forma linear no tempo e no espaco, marcada que foi por saltos e des- continuidades. De todo modo, desde o século xviti, a economia da regiao jf estava em grande medida voltada para o abastecimento do mercado interno, caracteristica que vai ser confirmada no século xtx. Ao lado desse taco basico, a economia sulina também se distinguiu por suas relagoes 191 192 de trabalho, pela estrutura de distribuicdo da propriedade da terrae pelas sucessivas ondas de imigracio europeia que recebeu, inicialmente de acorianos, a partir do século xv1tt, seguindose a chegada de imigrantes alemies, em 1825, ¢ de italianos, a partir de 1875, [Apresenga da escravidao foi restrita na economia sulina, como também ‘do foi ali dominante a grande propriedade. Também por isso, foram ali historicamente menores as desigualdades de renda eriqueza, 0 que explica o fato de a regio manter nivel médio de qualidade de vida superior a0 de outras regides brasileias, onde ainda prevalece a concentracio absoluta da renda eda riqueza. TERRA, TRABALHO E DINHEIRO: A FORMACAO DO MERCADO INTERNO ‘A independéncia, em 1822, fez emergi ideias e propostas sobre 0 ue Gevera sera nag recém-tada, Essa propostas foram hegemoneizadas por arranjopottico que, propciando avangos paciais no sentido da moder hizagio, nto foi capa. efetivamente de superar as cronicas precariedades de nossa economia, herdadas de seu passado colonial. ‘No centro dareiterago das precaiedades de nossa economia, destaca se 0 sistemitio bloqueto a consttuigio de um mercado interno forte € consistent, dinamicoeinlusivo, condic indispensével&construco do aque chamamos desenvolvimento econdmico Importa destacar que, independentemente da forma como concreta mente aleangaram este objetivo, todos os paises hoje consderados desen wolvidoschegaram a essa condi pela ciagio de instituigoes e processos Cujo sentido geral fi a jistribuigdo primaria da renday seja mediante revolugdes democrtica. como no caso da Panga, a pair de 1785; sea mediante reformas democriticoliberais, como no caso dos Estados Unidos ¢ sua Lei de Terra de 1862 a aboligi da escravidéo de 1863 sa mediante processos autoritrios de modemizacio, como se vé emblematicamente hos casos da Alemanha ¢ do Japio. Em todos os exemplos extosos de desenvolvimedto econdmico capitalista agregaramse & distribuicfo da renda e da rqueza outras reformas importantes no campo da educasao, Gasatide, havendosignificativos e continuados investimentos em ciénciae tecnologia, sendo esses 65 efetivos instrumentos promotores do desenvol- ments ccondmico Resumindo, a qualidade e consisténcia do processo de desenvolvimento econdmico ¢funciodireta da qualidade e universalidade »priedade da terra e pelas ecebeu, inicialmente de a chegada de imigrantes nia sulina, como também nbém por isso, foram ali laeriqueza, o que explica de de vida superior ao de a concentragao absoluta MERCADO INTERNO € propostas sobre o que s foram hegemoneizadas ciais no sentido da moder- as crénicas precariedades nial nossa economia, destaca- mercado interno forte e pensivel & construcdo do da forma como concreta- hoje considerados desen- e instituigdes e processos {a renda’; seja mediante ga, a partir de 1789; seja caso dos Estados Unidos e io de 1863; seja mediante ve vé emblematicamente os exemplos exitosos de ramse & distribuicdo da 5 no campo da educacao, vestimentos em ciénciae promotores do desenvol- nsisténcia do processo de salidade e universalidade Bee eve BRASIL E ESTADOS UNIDOS Comparemos entio 0 desenvolvimento do capitalismo no Brasil ¢ nos Es- tados Unidos. Paises com texritsrios continentais equivalentesiniciaram 0 século x1x com populagdes de tamanhos assemelhados, ocorrendo, a partit de 1850, considerdvel alteragao nos ritmos de crescimento demogréfico, como resultado das enormes ondas de imigracdes para 0s Estados Unidos, motivadas tanto por crises e problemas experimentados entio por varios paises europeus, quanto pelas oportunidades abertas pela expansio da fronteira oeste norte-americana, TABELA2 POPULAGAO 00 BRASIL E 00S ESTADOS UNIDOS EM MILHOES DE PESSOAS | 1900-1900, 3 398 78 98) Fonte: Merrick e Graham. 198647, al afluxo populacional para os Estados Unidos nas primeiras décadas, do século x1x deve-se ao seu prodigioso crescimento econdmico, reflexo das transformagdes econdmicas, politicas, sociais e institucionais que consolidardo as bases para uma vigorosa expansio capitalista. TABELA 4 IMIGRACKO PARA 0 BRASILE PARA OS ESTADOS UNIOOS EM NUMERO OE PESSOAS | 1860-1099 1860-1869 eos niles mo a9 Smiles 880-1889 527869 Sms corer} 13205809 “ames Fonte lan, 196395; Cole, 196698 193 | 194 0 formidavel contingente populacional que se transferiu para os Leidet Estados Unidos foi um dos pilares decisivos de seu vigoroso processo de sancion | acumulacio de capital. Um indicador importante das diferencas entre Ape | (05 processos de acumulagio dos dois paises € 0 que compara as suas expans! i ‘malhas ferrovidrias. lores, ic ' transpo TARELAS ALMA FERROVIARIA 80 BRASIL E 005 ESTADOS UNIDOS Em QUILOMETROS embare 11860-1900 que de poetic apenas, mor on istavor unos inovage 0 ee que ext 1870 308 or dade, a : = aa ‘asonma uma me ty iss SR SRNR 6221 OSE == pret | oi ! Font: Cle, 1966ane. MERC 4 Sem desdenhar das determinagoes politico-culturais para acompreen- | Entre a sio dos processos historicos, vale a pena considerar aqui asinjungoes mate | terrase ‘ riais, buscando estabelecer, 20 menos em parte, as razGes do descompasso_ | se prok : do desenvolvimento econdmico do Brasil em relagio ao norteamericano. | sobretu Eno processo radicalmente diverso de distribuicdo primériaderenda—a | lizacio- que se deu no Brasil e a que ocorreu nos Estados Unidos — que se explica Ao | a gritante disparidade entre os dois paises. Lei das. ‘A exata compreensio da centralidade do mercado interno na cons: de Port | tituigdo da economia capitaista deve comecar por rejetar a tese queo | —_até, rig yi] vvé como simples conjunto de pessoas presentes num certo territério. De | ras ocie fato, o mercado € 0 conjunto de pessoas num certo territério, dotadas de foi suce poder de compra, o qual pode ser definido pelo acesso de cada um desses Filipina ' individuos & renda e a riqueza. Assim, o mercado interno de uma regio, incluin de um pais, nio é dado pelo niimero de seus habitantes, mas pelo niimero Der 1 dos que, entre esses, tm, efetivamente, acesso a renda e a riqueza. sesmari Nesse sentido, o contraste entre os processos de desenvolvimento das vistas a economias brasileira e norte-americana pode ser exemplarmente apreen- tempo dido na comparacio entre suas leis dg zexras. aestrul i Enquanto os Estados Unidos, em{862,aixavam uma lei que amplia: segund rid va.de algum modo, o acesso 2 terra—Hevesta que teve papel essencial quadrac | ina atragdo de milhdes de imigrantes para o pafs —, nd{Brasil)em 1850, a de verd I que se transferiu para os e seu vigoroso proceso de ante das diferencas entre 8 € 0 que compara as suas |ADOS UNIDOS EM QUILOMETROS pena »culturais para a compreen- rar aqui as injungdes mate- 2.as razées do descompasso ‘lagio ao norte-americano, igdo priméria de renda—a 1s Unidos — que se explica mercado interno na cons- F por rejeitar a tese que 0 25num certo territ6rio, De erto territério, dotadas de >acesso de cada um desses ado interno de uma regio, bitantes, mas pelo niimero > arenda ea riqueza. 0s de desenvolvimento das ‘er exemplarmente apreen- xavam uma let que amplia a que eve papel essendal ne(Brsiem 1850, 0 Lei de Terras bloqueou 0 acesso dos pobres a terra, ao mesmo tempo que sdncTonow a estrutura latifundiaria, criada pelo sistema sesmarial Apesar das diferencas, 0 Brasil nao ficou & margem do processo de expansio capitalista, marcado por uma significativa disseminagao de va- lores, ideias, instituigdes, mercadorias e pela modernizacao dos meios de transportes e comunicacies, como 0 telégrafo, 0 telefone, a ferrovia, as embarcaces modernas... O pais também experimentou tais mudancas s6 que de modo fragmentério e seletivo. O que pesou contra 0 Brasil nao foi apenas, ¢ nem decisivamente, a defasagem temporal na absorgio dessas imovagdes. Nao é 0 atraso na recepcio das novas realidades do capitalismo que explica a debilidade do desenvolvimento capitalista no Brasil, Na ver dade, as Classes dominantes brasileiras tém se esmerado na imposicio de uma modalidade de capitalismo que, baseada num mercado interno restrito e precario, tem resultado mii capitalismo dependente, cujas caracteristicas essenciais so a concentracao da renda e da riqueza. (0 MERCADO DE TERRAS Entre as instituigdes centrais da ordem capitalista estio o mercado de terras ¢ o de trabalho. No caso do Brasil, a constituicdo desses mercados se prolongou do século 3V1 20 xX, com importantes diferengas regionais, sobretudo no que diz respeito aos ritmos da proletarizacao ¢ da mercanti- Tizagao-monopolizagio da terra ‘Acorigem do regime de terras brasileiro remonta gadis fuasy A Lei das Sesmiaries, Babads em 36 de funho de 1375, por & Fernando, rei de Portugal, pautoua forma de distribuigdo e ocupagio das terras no Brasil até, igorosamente, 1850. Em seus objetives bisicos visava a cultivar ter ras ociosas com vistas a aumentarariqueza do reino. A Lei das Sesmarias foi sucessivamente incomporada as Ordenagées Afonsinas, Manoelinas e Filipinas, definindo, neste sentido, a politica de terras do Reino portugués, incluindo-se ai o Brasil (Porto, 1965). Derivada da palavra latina sium, que significa a sexta part, otermo sesmaria acabou assumindo a caracterstca genérca de terras doadas, com vistas ao cultivo. No Brasil, 0 regime sesmarial implantow-se a0 mesmo tempo que as capitanias hereditrias,definindo um padrdo que marcou a estratura fundiaria brasileira sob a forma do latifindio. Distribuida Segundo um médulo minimo, que era a légua quadrada (6,6 mil metros aquadrados), a estrutura sesmaral nao foi homogenea, contemplando des de verdadeiros “impérios teritoriais" — como a sesmaria da Casa Garcia 195 , ye ae 196 Avila, que margeava o tio S40 Francisco — até sesmarias menores de uma légua quadrada, ‘A motivacio bisica das Leis das Sesmarias era o cultivo da terra. Uma sesmaria improdutiva deveria ser repartida de tal forma que oa ainprod zie riquezas. Contudo, este principio, ao que parece, nunca foi exatamente observado, resultando dat a consolidacio do latifindio. £ explicito, nesse sentido, o regimento do governador-geral, Tomé de Souza, de 1548, que ‘mandava distribuir as terras em sesmarias, mas condicionava essa distribui «io aos que possuissem cabedal suficiente para construir casas-fortes, 0 que std na base da constituicio da estrutura fundidria concentrada, ponto de | partida para a conformagio do poder oligrquico, fenomeno fundamental de nossa vida politica e cultural, que € 0 coroelism CO regime sesmarial, tal como se desenvolveu no Brasil, ndo foi uniforme em todas as regides, A posse de grandes dreas teve peso mengr quando se considera, por exemplo, a economia mineratéria de Minas Gerais, onde 0 que efetivamente contava era a quantidade de ouro ou diamantes de uma determinada data mineral, Ainda sobre a economia mineratéria, oquadro mais complexo pela forte presenga do que foi chamado por Miguel Costa Filho degiuzenda mista, que reunia, numa mesma propriedade, atividades agropecustias, manufatureiras e mineratdrias. (© que se quer evitar aqui é uma generalizacJo que atribua homo- geneidade a um quadro histérico-espacial marcado pela diversidade. Se 0 latifindio e a escravidio foram fundamentais na economia pecudria {do couro, do charque e do gado em pé) da regio de Pelotas, no periodo colonial, o mesmo nio se pode dizer da agricultura de alimentos em Rio Grande de Sao Pedro, que ter padrdo de distribuicdo da terra forma de organizagio do trabalho marcados pela desconcentracéo fundidria e pela hhegemOnica presenca do trabalho familiar ‘Aquestdo fundidria no Brasil de nenhum modo foi pacifica. em 1795, foi feita tentativa de modificar a politica de terras abolindo o regime das sesmarias, O alvaré de 5 de outubro de 1795 explicitou 0 quadro de des- ‘mandos e distorgdes que se buscava alterar: “Que sendome presentes em consulta do Consetho Ultramarino os abusos e irregularidades, e desordens, que tém grassado, esto e vao grassando em todo 0 Estado do Brasil, sobre ‘o melindroso objeto de suas sesmarias..." (Smith, 1990:285). Por mais bem -intencionado que tenha sido o alvaré, ele no foi aplicado. As dificuldades fem se harmonizar interesses em disputa vdo marcar a historia brasileira no que se refere a distribuigdo de terras do final do século xv até hoje. Tanto 0 alvard frustrado quanto 0 decreto que o anulou fazem parte de té sesmarias menores de 120 cultivo da terra, Uma forma que tod3 elt produ- ‘ce, nunca foi exatamente findio. F explicito, nesse € de Souza, de 1548, que ondicionava essa distribui- nstruir casas-fortes, 0 que ‘ia concentrada, ponte de »,fenémeno fundamental mo. 1o Brasil, nZo foi uniforme ve peso mengr quando se de Minas Gerais, onde 0 wo ou diamantes de uma aia minerat6ria, o quadro tamado por Miguel Costa \ propriedade, atividades aco que atribua homo- ado pela diversidade. Se 8 na economia pecuaria 0 de Pelotas, no periodo ura de alimentos em Rio tigio da terra e forma de “ntragdo fundiéria e pela © foi pacifica. Jé em 1795 's abolindo o regime das slicitou o quadro de des- sendo-mme presentes em gularidades, e desordens, Estado do Brasil, sobre 1990:285). Por mais bem- 1plicado. As dificuldades ‘car a hist6ria brasileira do século xvirr até hoje. anulou fazem parte de ‘um contexto caracterizado por embates sobre os rumos da construcio do 197 Estado e da sociedade nacionais. Quem talvez tena sintetizado melhor fessas questdes foi José Bonificio, responsével por pioneira proposta de construgio de uma nova ofdem socicecondmica e que enfatizava a dentincia das sesmarias como incompativeis com o desenvolvimento da agricultura. Se houve, entio, desde 1822, clara intenio de por fim i velha institu fo da sesmaria, és6 em 1850, com a Lei de Terras, a Lei n¢ 601 do Império do Brasil, de 18 de setembro, que se estabeleceu o marco legal da politica dS terras, ATei de Terras €coetanea ails ores nsramentoe > ° CBdigo Comercial e a Lei Eusébio de QueirOs, que aboliu 0 Wakico inter | nacional de escravos, e que significaram, em conjunto, 0 marco inicial do 6 | | pprocesso de constituicio das relagoes mercantis especificamente capitals tas, isto é, a transformacio da terra e da forga de trabalho em mercadorias O historiador José Murilo de Carvalho, em seu livro Teatro de somiras, j nos dew informada e licida anslise sobre a Lei de Terras, apresentando as a ee ae cc desea aprorago¢ plement | ‘a partir de 1842. No essencial, ele mostrou que a Lei de Terras foi um em- | Dlematico instrumento de modernizagdo conservadora, que se frustrou pela intercorréncia de variados obstaculos e contradicées, centrados na divergéncia de interesses entre os proprietarios. A grande lavoura cafeei- ra do Rio de Janeiro era a grande beneficiada com a legislacio, que, a0 estabelecer um imposto territorial que incidiria sobre todos os proprieté- | | | rios, privilegiava aqueles que demandavam crescentemente mao de obra imigrante no contexto do aumento de pressio inglesa pela supressdo do ‘tifico internacional de escravos. ‘Aprovado na Camara, 0 dispositive que previa a cobranga do imposto territorial foi derrubado no Senado e jamais foi instituido durante o periodo imperial, apesat das sistematicas demandas de funcionatios e ministros da Agricultura, que viam 0 imposto como complemento necessario a lei. sos \ 1 feito, a Lei de Terras nao atendia ao conjunto dos proprietarios brasileiros, | * sendo esta a razio principal de sua ineficécia. (0 fracasso do reformismo conservador na reestruturacao fundidria durante 0 periodo imperial, de que resultou a permanéncia do latifiindio, ‘expressow a auséncia de efetiva hegemonia dos segmentos modernizantes das elites brasileiras, incapaves de generalizar para o conjunto do pals a instituigdes tipicas da economia de mercado sintetizadas na transforma. (do da terra e da forca de trabalho em mercadorias. A efetiva imposicao dos mercados de terras de trabalho em moldes especificamente capita- listas ndo teve dimensio nacional durante o perfodo imperial, estando A consraugio Nactonat 198 fundamentalmente ligada & expansio cafeeira em So Paulo, sobretudo 4 partir da década de 1880. A historiadora Emilia Viotti da Castayresumiu o essencial da Lei de Terras em quatro pontos basicos: (1) o acesso as terras piiblicas seria dado apenas pela compra; (2) o tamanho das posses, terras apropriadas mediante ocupacas, foi limitado ao tamanho da maior doacio feita no distrito em que se localizavam; (3) 0 produto da venda das terras seria usado para financiar a vinda de imigrantes para o Brasil; e, (4) foi criada a Reparticad Geral das Terras Pablicas para administrar 0 proceso € promover a migracao (Costa, 1987). ‘Aesses pontos agreguem-se dois outros, enfatizados na andlise de José Murilo de Carvalho: a exigéncia de demarcacio das sesmarias caidas em comisso, ou seja, que perderam a validade; e a exigéncia de demarcacao das posses latifundidrias. Essas medidas causaram vivas reagdes dos pro- Prietérios, estando na base do proceso que levou ao efetivo bloqueio da aplicagao da lei sab jf atmetvet re ald as ea ena 0 dps ae ‘cis que os imigrantes pudessem comprar terras antes de trés anos de ae ¢ trabalho no pais. Baixada a Lei de Terras, sua eficdcia e consequéncias devem ser re- lativizadas sobretudo pelo que o historiador José Murilo de Carvalho chamou de “veto dos bardes”, e que resultou, na prética, no bloqueio & discriminagdo das terras pblicas e privadas, ja que isto pressupunha um ccadastro das terras ocupadas, o que a Reparticio Geral de Terras Piblicas foi impedida de fazer, tanto por pressio dos proprietarios quanto por sua 37 precariedade funcional. 7 | Assim, se foram limitadas as consequencias préticas da Lei de Terras ‘quanto a discriminacio de terras piblicas, no referente & delimitacio das terras privadas a lei contribuiu para reduzir a superposicio de direitos. A consequéncia maior disso foi a desconstituicio de direitos costumeiros de arrendatarios, posseiros e agregados, 0 que se deu em meio a fortes | conflitos que, afinal, consagraram os interesses dos grandes proprietios. Promulgada em 1850, regulamentada em 1851 (em regulamento que s6 foi publicado em 1854), Lei de Terras foi boicotada desde o inicio e, de fato, foi, em seus dispositivos centrais em varias provincias, “letra morta” Segundo José Murilo de Carvalho: Em 1877 reconhecia-se que a le era “letra morta” em varios pontas. O mesmo seria repetido, em 1886, quase ao final do Império, 36 anos apés a aprovacao sintoni a0 patr escravo caracte: da reali perman brasilei Nol em todo escravor econom, em que africana Sem escravid Joaquim revoltas seaiafi dos Malé > Paulo, sobretudo J essencial da Lei de ‘tras piiblicas seria terras apropriadas ior doacio feita no ada das terras seria asil;e, (4) foi criada istrar 0 proceso € osnaanilise de José esmarias caidas em cia de demarcagio vas reagdes dos pro- efetivo bloqueio da 1no dispositivo que tes de trés anos de acias devem ser re- furilo de Carvalho tica, no bloqueio a ‘o pressupunha um de Terras Pablicas ios quanto por sua as da Lei de Terras eA delimitagao das ‘sigdo de direitos. A reitos costumeiros 1em meio a fortes indes proprietérios. a regulamento que desde 0 inicio e, de acias, “letra morta”. ios pontos. O mesmo 10s apés a aprovacdo da lei. Segundo o ministro desse ano, grande niimero de sesmarias e posses ‘permanecia sem revalidar e sem legitimar, eas terras piblicas continuavarn Ser hwadidas (Carvalho, 1988:95) ‘Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos a questio da terra foi objeto de tensdes e disputas. Lé, os interesses dos grandes proprietarios do Sul expressaram-se na defesa de uma politica de terras baseada no latifindio eno trabalho escravo. A Lei de Terras americana, de 1862, ea abolicio da’ escraviddo, em 1863, no contexto da Guerra Civil, sfo sinais inequivocos da vitéria de interesses especificamente capitalistas. ( ponto central aqui é que a Lei de Terras e a Lei Eusébio de Queirés, ambas de 1850, foram mecanismos solidérios e complementares na consti- tuigéo dos mercados de trabalho e de terras, que afinal nao se confirmaram pela reagdo do senhoriato, apegado a um projeto de dominacio em que a produgio de tiquezas eas relagdes econdmicas, politicas e sociais estavam sintonizadas as velhas aspiragbes de status e poder de uma elite apegada ‘a0 patrimonialismo e ao Antigo Regime. (© MERCADO DE TRABALHO E também marcada por ambiguidades e tensdes que se d4, no Brasil, a cons- tituigio do mercado de trabalho —a longa e complexa transicao do trabalho escravo ao trabalho livre e deste ao trabalho assalariado —, proceso que caracterizou todo século x1x e parte do século xx. A exata compreensio 199 M kr. wea ue da realidade brasileira pressupde extrair todas as consequéncias da longa <= permanéncia da escravidio. que marcou decisivamente 0 conjunto da vida brasileira em variados aspectos. ‘No Brasil, a escravidio africana ndo foi dominante em todas as regides, «em todos 0s momentos eem todas as atividades. Foi pequena a presenca de ‘eseravos africanos nas capitanias/provincias do Sul. Também foi restrita na ‘economia das “drogas do sertio”, na regido amazénica. Mesmo em regides em que predominou, como a nordestina e a mineira, 0 trabalho escravo afticano nio foi a tinica forma de trabalho a ser utilizada. Sempre houve, entre a elite brasileira, quem se colocasse contra a cescravidio, como José Bonificio nos primeiros anos do Império, ou como Joaquim Nabuco, no final do periodo imperial. Foram permanentes as revoltas ¢ 08 movimentos de resistencia dos préprios escravos, destacando- -se af a formacio de quilombos; as grandes revoltas de escravos, como a dos Malés, em Salvador, em 1835; a intensificacio das fugas de escravos € \ 200 | | conflitos, que vio marcar a provincias escravis sas, sobretucdo Sao Paulo, na cafeeira esté ligado ao alo, 0 desenvolvimento npliou a capacidade de produtoras e os portos, Jo mercado interno, De ‘importante tanto no hago das primeiras or- ado regular de dinheiro, 2s que acompanharama Gs capitalistas entre nés. apromulgagao do Cédi- trou um amplo processo" ‘metade do século, com as casas de penhores e sociedades andnimas; a ‘econstrugio naval e do Sprocessos de execugio diistrias auliares; cor gulamentagio de titulos ‘ideseguro, entre outras, um significativo in -mentou nesse perfodo. ‘ca nio tiveram implan- rando-se, sobretudo, no aagdes e vicissitudes da nitico 0 caso do Banco icionar em 1809, ¢ cuja contradigées da conso- '8e liquidado em 1829) ‘iado 0 Banco do Cearé 1 1845, 0 Banco Comer- {o;e, em 1851, o Banco expressiva expansio bancatia, com a criacio de dezenas de bancos, que seriam afetados pela forte crise que se abateu sobre o setor, entre 1857 € 1864. ‘Uma questo importante que se colocou para o setor bancério foi quan- to as prerrogativas de emissio da moeda por parte dos bancos privados, A questio teve vigencia entre 1853 € 1866, alternando-se politicas ditas “papelistas", que defendiam a emissao de moeda por parte dos bancos, € politicas “metalistas”, que propunham o monopélio da emissio pelo Banco do Brasil, recriado em 1854, depois da fusdo com 0 Banco | ‘Comercial do Rio de Janeiro, fundado por Irineu Evangelista de Souza, em 1851. Em 1866. questo foi encerrada quando o gqverno imperial concedeu a0 Tesouro a exclusividade da emissio monetiria, "AEA década de 1850, na auséncia de instrumentos legais capazes de garantis a seguranca de titulos de crédito e de contratos, foram os (Geusissarios de cal) comerciantes que faziam a intermediacio entre ‘os produtores © 05 compradores do produto — os efetivos financiadores da producio, transporte e armazenagem de café, situacdo alterada com a entrada em cena dos bancos hipotecirios, que vio emprestar diretamente aos fazendelros, a partir da década de 1860. ‘Aexpansio cafeeira na segunda metade do século x1x estd na base da formacdo do capital de parte significativa do sistema bancario brasileiro de entdo, Ela atraiu bancos estrangeiros, que se instalaram no Brasil e prosperaram mesmo no contexto da crise bancairia da década de 1860. No ‘aso dos bancos brasileires. grande parte dos seus capitais veo dos fazen- deiros e comissarios de café, que foram os intermedidrios efetivos entre os produtores e os exportadores, em geral grandes casas de exportaclo sob controle do capital britanico e norte-americano. Registrese que 0 comércio urbano no periodo imperial dividiu-se em dois blocos: 0 primeiro englobava o pequeno comeércio, as casas de secos fe molhados, e era controlado por portugueses e brasileiros naturalizados, fem sua grande maioria portugueses; 0 segundo bloco abrangia o grande comiércio,o “rosso trato",¢ era controlado, sobretudo, por capitaisingleses ‘Visto em conjunto, o comércio exterior brasileiro durante o século ‘gxapiesentava duas caracteristicacbésicas:a primeira metade do século {oi marcada por déficts na balanca comercial, situagdo que serd revertida na segunda metade do século, com majoritéria acaméncia de superévits comercais.Esses superavits estavam diretamente associados & expansio da economia cafeeira e seu comportamento cilico, Por outro lado, se conside- amos obalango de ervgos do Brasil durante todo o século 0 quadro serd de déficits persistentes, que superaram os supersvits da balanga comercial, 205 | 206 obrigando o pafs ao endividamento externo, ainda mais incrementado pelos empréstimos contraidos para financiar a Guerra do Paraguai, que somaram 10.396.200 libras; e os gastos com a seca do Cears de 1877-1880, que foram de 4.599 mil libras (Lima, 1970:256-257) A EXPANSAO CAFEEIRA E A MODERNIZACAO ECONOMICA: TRANSPORTES, URBANIZACAO E ENERGIA ‘A economia cafeeira foi a principal matriz.da modernizacao da economia a partir da segunda metade do século x1x. Plantado, inicialmente, no Paré, za primeira metade do século xvirr, 0 café foi trazido inicialmente para 0 Rio de Janeiro, no comeco do século x1x, expandindo-se depois para a Zona da Mata fluminense e mineira, ¢ para o Vale do Parafba paulista, ocupando ‘em seguida 0 oeste paulista e o sul de Minas. Sérgio Millet deu-nos um “roteiro do café" em sua marcha pelo terri ‘6rio paulista, roteiro que teria de ser complementado com os itinerdrios do café em Minas Gerais ¢ no Espirito Santo para se ter 0 quadro completo a dinamica cafeeira no século x1%. | ‘A expansio cafeeira foi resultado da crescente demanda internacional que acabou por impactar os precos, a busca por terras e mao de obra, os. sistemas de transportes e os processos de beneficiamento do café, bem como os mecanismos de financiamento da producao e de comercializa¢ao. ‘A marcha das exportagdes de café apresenta um crescimento vigoroso, como mostra a tabela 6. TABELA 6 EXPORTACOES ORASILEIRAS DE CAFE EM MILHARES OE SACAS DE 40 KS brctwior MEARS ar1840 Fonte: Prado Jinior, Calo Hite eamdnica do Bris (apd Rego ¢ Marques, 200380) a mais incrementado erra do Paraguai, que ‘0 Ceara de 1877-1880, ICA: TRANSPORTES, ‘nizagio da economia inicialmente, no Paré, lo inicialmente para o vse depois para a Zona a paulista, ocupando sua marcha pelo terri: \do com os itinerarios ‘ero quadro completo 2manda internacional ‘ras e mao de obra, os amento do café, bem ve de comercializagao. ctescimento vigoroso, SDE SACAS DE 60 KG ws, 200380) Houve alteragées importantes na participacao relativa das provincias) estadlos na exportagdo de café. Se entre 1876 € 1880 0 Rio de Janeiro foi responsivel por 52,2% do total das exportagées, entre 1891 € 1900 essa participacao caiu para 11.5%, enquanto a de Sao Paulo passou de 24.3% entre 1876 e 1880 para 60,5% entre 1891 ¢ 1900. Nos mesmos perfodos, a participago de Minas Gerais cresceu de 20,2% para 22.7%, enquanto a do Espirito Santo subiu de 3.3% para 5.3%. (O crescimento das exportagies de café no periodo nao foi acompanhado de movimento equivalente nos precos, que tiveram comportamento ciclico como mostrou 0 economista AntOnio Delfim Netto, em seu livro 0 problema do café no Brasil, que identificou trés ciclos de precos do café entre 1857 € 1905, a saber: 15) 1857-1868; 2*) 1869-1885; € 3) 1886-1905. Além do mais, durante o periodo considerado funcionow um mecanis: mo bisico de defesa dos interesses dos cafeicultores — a desvalorizacio cambial —, que permitiu a manutengdo e mesmo a elevacao da renda dos exportadores, determinando a continua expansao da oferta, Tal medida, em tempos de retracao da demanda internacional, obtigou a desvalorizacées ainda maiores, reiterando 0 que o economista Celso Furtado chamou de “socializagio das perdas, que ocorreram na medida em que o conjunto da economia arcava com o Onus da defesa dos interesses dos cafeicultores, TABELAT EXPORTACAO OE CAFE € DESVALORIZAGAO CAMBIAL | 1881-1885, er 338 _ ea vos iss nae wesei8s—Gaa a8 ie Vargo cy Ed Fonte: Netto, 1959-1981:20-21, Pela tabela 7 vé-se o resultado das desvalorizagdes cambiais que pro- piciaram um aumento da receita das exportagées de café, no periodo considerado, de 1881 a 1885, de 77%, enquanto o aumento das exportacdes, de café somou 65%. A demanda internacional do café, na segunda metade do século xix, impactou a economia brasileira em varios sentidos. Em primeiro lugar, ela 207 incidiu sobre a procura por mao de obra, determinando, de um lado, a in- tensificagio do tréfico interprovincial de escravos e a consequente elevacio dos pregos dos escravos, e, de outro lado, a busca de fontes alternativas de mio de obra sob a forma de politicas imigrantistas. As tabelas 8 e 9 trazem dados sobre a evolucao dos pregos dos escravos na regio mais dinamica da economia brasileira de entio, o oeste paulista, ea relagio entre produgao de café e entrada de imigrantes no Brasil. TABELA® PRECO MEDIO DE UM ESCRAVO — OESTE PAULISTA | 1049-1887 meee sg08oo0 ord 6493500 ‘E87 78500 5475000 wn coy co 3855-1887 88795 Fonte: Dean, Waren. oC. A Sraan Manat Stns, 820-192 apd Martins, 197927) Nao seré equivocada a interpretagio que afirma que a queda nos pregos dos escravos no periodo 1883-1887, na regido mais dinamica da economia cafeeira, esta associada a crescente consciéncia quanto a iminencia do fim da escravidio, sobretudo depois da Lei do Ventre Livre de 1871, a propria in tensificagdo da luta abolicionista , finalmente, ao movimento de imigracao. TABELA® PRODUCAO DE CAFE E IMIGRAGRO| 1860-1897 3783 ase 5691 23.766 is nance 86 35409 Sio Pa. FERR Sioc ferro: Brasil Previt dei. Evan com ado, de um lado, a in- consequente elevacio ‘ontes alternativas de 5 pregos dos escravos Ado, 0 oeste paulista, rantes no Brasil 1849-1887 ud Marin, 197937) =a queda nos precos vamica da economia a iminéncia do fim Je 1871, & propria in- ‘mento de imigracao, ‘eas 6492 23505 Ta 6320 ~ 55806 1887 3368 ea ina ons, yeaa 889 495 15879 = Va387 i898 was 58 74 4 9s, 1a s80 Total 35.229 147504 ‘Fonte: Departamento Nacional do Café, AnuétioEstatistic, 1998, Secretaria de Agricultura de ‘Séo Palo, Rlatrio,vrios anos “hares de sacs de 6 kg colocadas no porto de Santos apd Rego Margues, 2003128). Aexpansio cafeeira estimulou e induziu outras transformacées decisi- vvas na economia, sobretudo em So Paulo. fo que se vé quando se consi- deram os efeitos da expansio das ferrovias sobre 0s custos de transportes, arateando-os; sobre a mecanizacdo da estrutura produtiva brasileira; ou ainda por seu impacto sobre a unificagao do mercado interno. FERROVIAS Sao classicas as andlises que apontam a centralidade da expansio das ferrovias na constituicdo do modo de producio capitalista. Também no Brasil elas tiveram importante papel na modernizacao da vida econémica. Previstas desde o perfodo regencial pelo Decreto n# 101, de 31 de outubro de 1835, as ferrovias vio ser implantadas a partir da década de 1850. A pri- ‘meira ferrovia efetivamente construfda é de 1854, por iniciativa de Irinew Evangelista de Souza, que construiu 14 quilémetros de estrada de ferro ‘com um propésito que ele mesmo definiu como de propaganda da inovacao. 209 210 A Lei n® 541, de 26 de junho de 1852. no Brasil foram: a Estrada de Ferro D. Pedro I (Gepols Central do Brasil), a Estrada de Ferro de Maud, 2 Estrada de Ferro de Recife ao Sio Francisco, a Estrada de Ferro da Bahig a0 Sao Francisco e 3 Estrada de Ferro de Santos a Jundiai. Dessas, duas apenas, as nordestinas, no estiveram relacionadas & expansio cafeeita, A Estrada de Ferro D. Pedro I, » Ro municipio de Mar de Espanha, ‘nium total de 828 quilmetros, incluindo Outras ferrovias foram criadas no Rio de Janeiro, nas décadas de 1860 € 1870, sobretudo para 0 escoamento da Producio cafeeira das preendys Mata mineira ¢ fuminense. Em Sio Paulo, a marche dos em. Preendimentos ferrovisrios teve inicio way, para fazer a ligacio Santos.ju -$e as companhias: Paulista, em 1875, e Sorocabana, tamb €ssas companhias, resultando na conce nhias Paulista, Mojiana e Sorocabana ‘A segunda estrada de ferro a funcionar foi a Reci Railway Company Limited, de capital inglés, que ‘inaugurou seu primeiro Grecho em 1858. Na década de 1880, foi criada a Great Western Railway Company Limited, também com capitaisingleses, voltada para atender 0s interesses das areas acucareiras de Pernambuco ¢ Alagoas. Na Bahia, Gepois de virias tentativas frustradas, implantow-e ume malha ferroviaria see mags Somava 1.057 quilémetros, 14% do total do pais. Também no Sul houve significativa expansio ferrovidria, destacando-se ai, pelo apuro técnico, a ferrovia Caritiba-Paranagus, projetada pelo enge- Reboucas, construfda entre 1880 ¢ 1885, ife and Sao Francisco do Brasil e que, ainda assim, pela interveniéncia de interes Plos a arbitrariedade dos trac; na matha ferrovidri ndo conseguiu interligar o mercado regional 212 ‘cronologia da constituicdo da malha ferroviria em Minas Gerais no século X1x € a seguinte: 1869, Estrada de Ferro D. Pedro Il: 1894, Feta, Ge Ferro Leopoidina; 1880, Estrada de Ferro Oeste de Minas; 1882, fatrach ac Kervo Bahia e Minas; 1889, Estrada de Ferro Minas e Rio; 886, Estrada de Ferro Mogiana; 1891, Viacdo Ferro Sapucat; 1892, Estrada de Ferro Muzambinho; 1895, Estrada de Ferro Trespontana, Grosso modo, podemos dizer que as ferrovias impactaram a vida econd- sane eOtia, socal e cultural sob diversos aspectos: unificaram o mercado caannp, icilitando a circulacio de pessoas e mercadorias; baratearam 4 custo do transporte, beneficiando as exportagGes: permitiram a expansio G2 fronteira agropecuiria e mineratéra; induziram a expansio ab setor de producio de ago, miquinas e ferramentas, equipamentos ferroviarios, dee arusio civil e ferrovidria; consolidatam a formacdo téenico-profissionay dos trabalhiadores do setor industrial. Ainda que pequeno quando comparado 20 dos Estados Unidos, o setor ‘erroviario brasileiro mobilizou considersveis capitais pelo vulto der investi rene necessirios. Ao lado dos aspectos econémicos, as ferrovias também cee gutiram sobre o conjunto da vida sociocultural, redefinindo hibitos « Préticas, permitindo a interagdo e o intercimbio materiale simbslics Foram as ferrovias, em suas oficinas, que formaram o mieleo inicgl 4° operariado industrial e que reuniram, no mesmo espaco de trabalho, grupos de trabalhadores, submetendoos tanto a formagao técnico-profis sional quanto a socializacio tipica do mundo do trabalho capitalists, Neess, Sentido, nao € surpresa que os ferrovidrios tenham se constitufdo em unre de cen Profssional potitizada, mobilizada e combativa, participando de expressivos momentos de luta dos trat Delos gréficos, teceldes e portudrios, URBANIZAGAO E ENERGIA a Europa; em 1880 iniciou-se a telefonia: data de 1888 « primeira usina Ridroelétrica; entre 1872 e 1895 instalaram-se redes de tréfego urbano nas ‘idades do Rio de Janeiro, Sio Paulo, Salvador, Campinas, Sie luis c Recife, 214 Expandiram-se os nticleos urbanos. Cidades como Santos, Campinas @ Sio Paulo vio crescer e diversificar suas estruturas no campo bancério ¢ financeiro, ao mesmo tempo que instalam servicos de utilidade piiblica ‘como iluminagao a gés, transporte urbano a tracao animal, servicos de agua e esgoto. ‘Também no campo da energia elétrica ocorreram avancos, como se vé na tabela a seguir: TTABELA 10 A ELETRICIOADE NO BRASIL | 1363-1900 1885 889 1900 ‘Nimero de empresas a = ‘sina temoelere 7 2 é ‘Usinas hidroeléericas = : : Fotinia de origem térmica HP 7 aaae Potencia de origem hi : 65 | tends tial LP 7 se Tcaliadescervides 5 3 6 Fonte erandes, 99534. {As dificuldades para a implantagdo da modernizagio sio exemplificadas pelas vicissitudes da instituicdo do sistema métrico decimal, em 1862, como se vé na Revolta do Quebra-Quilos, de 1874, que, tendo se iniciado no Rio Grande do Norte, espalhou-se pelo Nordeste, tentando impedir a utiliza- ‘cdo do sistema de pesos e medidas moderno. No mesmo sentido, dewse a resistencia generalizada as medidas tomadas pelo governo imperial para a realizacio do recenseamento brasileiro de 1852, com relacio & seculari- zacio do registro civil, dos casamentos e dos sepultamentos, que também geraram descontentamentos, presentes entre 0s temas, por exemplo, da pregago de Antonio Conselheiro em sua epopeia de Canudos. ‘A GENESE DA INDUSTRIA NO BRASIL Nao ha consenso entre os especialistas sobre como explicar a origem e 0 desenvolvimento da industrializagao no Brasil — seja quanto a seus deter- ‘minantes principais, seja quanto a seus protagonistas, ou mesmo quanto a periodizacdo do proceso, suas etapas e caracteristicas, Santos, Campinas xo campo bancirio fe utilidade publica tnimal, servigos de 1 avangos, como se ‘o sio exemplificadas imal, em 1862, como lo se iniciado no Rio do impedir a utiliza- mo sentido, deuse a \verno imperial para m relagZo a seculari- rnentos, que também tas, por exemplo, da Canudos. xplicar a origem € 0 quanto a seus deter- 's, ou mesmo quanto oN uaa be Sio quatro as questdes centrais presentes no debate sobre aindustriali- zagio brasileira, A primeira diz respeito a relagio entre a expansio cafeeira feo surgimento da indistria no Brasil. Durante certo tempo predominou 4 visio, tipificada pelo empresirio e historiador Roberto Simonsen, que ‘considerava a predominncia da producio cafeeira como o grande obs- tdculo a industrializacdo. Nos anos 1970 essa tese ser confrontada por duas posigdes. Uma expressa pelo historiador norte-americano Warren Dean, que defende hipétese oposta a de Simonsen, argumentando que @ expansio cafeeira, em vez de obstéculo, foi matriz direta e imediata da industrializacio, resultado da expansdo da lucratividade e da capacidade de acumular das atividades cafeeiras. Ha na tese de Dean uma ligacio direta entre 0 comércio, sobretudo ode importacdo, e a génese da industrializacéo, destacando-se ai 0 papel de certa “burguesia imigrante”, que, inicialmente ligada as atividades comerciais, teria sido pioneira na industrializacio. Noms como Francisco Matarazzo, Rodolfo Crespi, José Pereira Igndcio, Emesto Diederichsen, Egydio Gamba, os irmaos Puglini Carbone, os Jaffet, 0s Klabin, 0s Weiszflog confirmam a presenca significativa de imigrantes, {que vieram da Europa, com recursos ¢ experiéncia empresarial suficientes para capacité-los a serem 0s pioneiros da industrializacio. "Também criticando Roberto Simonsen, mas estabelecendo nuances nas relagdes entre café e indtistria e vendo contradicbes onde Warren Dean s6 vé relagio univoca elineas, o economista Sérgio Silva inaugurou outra cor rente de interpretagdo, que se caracteriza por enquadrar a relaglo entre as atividades cafeeiras ea génese da indtistria como marcada por uma contra- dicho bisica: 0 fato de 0 “sucesso” cafeeiro manter o pais como exportadlor ide uum produto primério sujeito a divisio internacional do trabalho ¢ as relagdes de troca que confirmavam sua condicio dependente e periférica ‘Uma segunda questao presente no debate sobre a industrializacao diz, respeito 20 papel do artesanato local. Tanto para o soci6logo José de Souza Martins quanto para o historiador Jacob Gorender as matrizes da indus- trializagao nao foram as atividades ligadas a0 café, mas o artesanato local, responsivel pela construgao e pelo reparo de ferramentas e equipamentos. "A terceira questo referese ao papel do capital estrangeiro. Em que pese diferencas de énfase, as interpretacoes anteriores partitham um re- lativo consenso quanto a pelo menos trés aspectos: (1) que a presenca do capital estrangeiro, sobretudo até a Primeira Guerra Mundial, centrouse ematividades de infraestrutura, servigos urbanos, eletricidade, mineracio, pancos, companhias de navegacio e de seguros, com pequena participagio 215 216 na indiistria de transformacio; (2) que a expansio dos investimentos es- trangeiros atendeu a dindmica expansiva do grande capital em sua fase imperialista; (3) que 0 crescimento € a diversificacio da economia, pot outro lado, foram fatores decisivos na crescente participacio do capital estrangeiro no desenvolvimento capitalista ‘Aquarta questio referente & génese da indiistria €a que busca avaliar «© papel do Estado nesse processo, Ha concordancia sobre o papel decisivo do Estado sobre a industrializagao, a modemnizagao ea urbanizacdo depois de 1930, tanto quanto é usual considerar de pouca importancia os esfor- 0s industrializantes durante o periodo imperial, Contudo, esse quadro deve ser relativizado para admitir a existéncia da alternancia de politicas tarifirias, que ora estimularam a industrializacéo, ora desestimularam- nna. De todo modo, sabe-se que tarifas protecionistas, por si s6, no sio capazes de gerar indtistrias, o que nao impediu que o pais tivesse uma movimentada agenda tarifiria: de 1844 € a tarifa protecionista baixada durante a gestéo do ministro Alves Branco: de 1857 é a revisio livre: cambista da tarifa Alves Branco; de 1867-1869, a elevacao tariféria em fangio das necessidades de recursos gerados pela Guerra do Paraguai; de 1874, nova tarifa kivre-cambista; de 1879, nova elevagio de tarifas por razées fiscais; 1881, nova reducZo de tarifas; e seguiram-se revisdes tarifirias em 1890, 1896, 1897, 1900 € 1905. Durante o perfodo considerado nesse capitulo, a a¢io do Estado no tocante a vida econdmica do pais resumiurse, de um lado, & protecio dos interesses cafeeiros mediante a desvalorizagio cambial ¢ aos estimulos & expansio das ferrovias, por meio da garantia de juros para os investimentos no setor e da subvencao quilométrica; e, de outro lado, & constituigao do marco legalinstitucional necessério 4 expansio das relagdes mercantis especificamente capitalistas. ‘A génese da industrializagio foi caracterizada pelo economista Wilson Suzigan como tendo duas etapas bisicas: de 1869 a 1914, de 1914 a 1939. ‘A primeira fase teria sido marcada pela substituicao das importagBes dos sequintes setores: textes (algodao, jutae la); chapéus; calcados; moinhos de trigo; fabricacao e refino do agiicar; cervejarias; metal-mecdnica I (mo- endas e pecas para engenhos de agticar, moinhos para cereais, maquinas para beneficiar café e arroz, miquinas leves para agricultura, ferramen- tas e utensilios etc); fésforos; outras indiistrias (vestuario, sabes € vela, artigos de vidro, mobilidtio, produtos alimenticios, cigarros, editorial e sgrifico). A segunda fase, de 1914 1939, teria se dado com a substituigdo das importagbes dos seguintes ramos: cimento, ferro e ago; metabmec&nica (mag equipa tosdet (seda e No: Em 18 aiistria de mac metal Par seapre dades Co trabalt do sete partici Paulo ¢ Or period Ajuda! Mecin Tiposr éaAss també 18826 éoCe grifice Em18 As jornad do tra aciden De sindi e espa consid G tituigé Evang investimentos es- pital em sua fase economia, por ppacdo do capital que busca avaliar 20 papel decisivo anizacdo depois ortancia os esfor: tudo, esse quadro Ancia de politicas desestimularam- vor si $6, no sio pais tivesse uma scionista baixada 6a revisio livre- agio tarifaria em srra do Paraguai; evagio de tarifas uuiram-se revisoes so do Estado no lo, a protegao dos 0s estimulos & 20s investimentos a constitui¢ao do slagées mercantis conomista Wilson, 4,de 1914 1939. s importagdes dos algados; moinhos almecdnica I (mo- cereais, méquinas cultura, ferramen- itio, sabdes e vela, garros, editorial e ‘oma substituigao ‘o;metakmecanica 11 (méquinas agricolas pesadas, méquinas industriais, aparelhos elétricos, equipamentos de construgio e de transporte etc:); papel e celulose: produ: tos de borracha; quimica e farmacéutica; 6leo de carogo de algodao; téxteis: (seda e raiom); carnes congeladas e industrializadas. ‘Nos primeiros tempos da industrializagao dominou a indi Em 1889 ela era responsével por 60% do setor industrial, seguida da in- diistria de alimentos com 15% da indistria quimica com 10%, da inditstria de madeiras com 4%, da indiistria do vestudrio com 3,5% e da indiistria metalirgica com 3% Para ono 1907 € possivel regionalizar a estrutura industrial destacando- se a produgio do Rio de Janeiro, que sediava 30% da industria brasileira, segut da de Sio Paulo com 16%, Rio Grande do Sul com 7% e Minas Gerais com 4% ‘Com relacio a0 mercado de trabalho em Sao Paulo, em 1893, 55% dos trabalhadores eram estrangeiros, ocupando 84% dos postos de trabalho do setor industrial e 72% dos empregos no setor comercial. Em 1900 a participacdo dos trabalhadores estrangeiros no setor industrial de Sio Paulo cresceu para 92%. ‘O movimento associativo e organizativo dos trabalhadores urbanos, no periodo considerado, teve inicio em 1833 com a criacio da Associacio de ‘Ajuda Mitua, Entre 1836 ¢ 1841 foi criada a Imperial Sociedade de Artistas “Mecanicos e Liberais de Pernambuco; de 1853 € a Imperial Associagio de Tipografias Fluminenses e a Sociedade Beneficente dos Caixeiros; de 1873 2 Associacéo de Auxilio Matuo dos Empregados da Tipografia Nacional: também de 1873 € a Associacio de Socorros Matus — Liga Operiria: de 43882 6 0 Corpo Coletivo da Unidio Operdiria — Arsenal de Marinha; de 1892 60 Centro Opersrio Radical — Rio de Janeiro. Em 1858, houve a greve dos _gréficos do Rio de Janeiro, a primeira greve de trabalhadores urbanos livres. Em 1890, foi criado o Partido Socialista. ‘As lutas dos trabathadores durante o periodo buscavam a redugao da jomnada de trabalho, a redugéo do trabalho noturno, 0 fim da exploragéo ‘Qo trabalho infantil e feminino, 0 direito & sindicalizacio, 0 seguro por acidentes de trabalho e o aumento de satarios. Depois de um inicio marcado pelo mutualismo, omovimento opersrio} ria textil. sindical, sobretudo em So Paulo, por influéncia dos imigrantes italianos fe espanhéis, expressou perspectivas anarquistas ¢ socialistas que tero considerivel influéncia durante as duas primeiras décadas do século Xxx. Caberia ainda considerar o papel importante de certos individuos e ins tituigdes na modernizagao da estrutura produtiva, como € 0 caso de Trine Evangelista de Souza (1813-1889), nascido no Rio Grande do Sul, baro 217 +s Mecdnicas e Liberais. 1125 de margo de 1835, HA JATS gots eae 0 rrocesso scondaico depois visconde de Maus, que foi a mais expressiva figura de slfmade man {que o pais ja teve. Fle protagonizot, entre 1845¢ 1875, as mais importantes sniciativas empresariais em variados campos: comércio, indistra, ferrovias, ‘ompanhias de navegacio, bancos, construcio de navios; sua faléncia fala muito sobre as contradigbes e o$ limites do processo de modernizacio da economia, no sentido de superagio de sua condicao periférica. ‘Se 6 0 caso de sublinhar o papel ¢ os empreendimentos do bardo de Maui entre as pioneiras tentativas de modernizagio da economia, outros nomes também devem ser lembrados, como os mineiros Mariano Proc6pio Ferreira Lage (1820-1872) ¢ Bernardo Mascarenhas (1846-1899); 0 cearense Delmiro Gouveia (1863-1917); e o paranaense Ildefonso Pereira Correia, 0 bardo do Serro Azul, entre outros. Finalmente, € importante mencionar 0 quadro associativo do em- presariado, destacando-se a Sociedade Auxiliadora da Indiistria Nacional. fandada em 1827; e a Associacio Industrial, fundada no Rio de Janeiro, fem 1881, e presidida pelo industrial e senador mineiro, AntOnio Felicio ddos Santos, influenciado pelas teses do economista alemao Friedrich List (1789-1846) sobre a necessidade da protecio a indiéstria nascente, De 1894 é a Associagio Comercial do Rio de Janeiro. ‘A historiografia sobre a industrializagdo no século X1x costuma chamar de surto industrial as fabricas que surgiram no pais naquele periodo. De fato,a palavra industrializacio nao se aplica a uma realidade marcada pela incipienca, ragmentagioe desarticulacio de seus elementos. industrial ‘aedo, propriamente dita, é mais do que a simples presenca de fabricas, na medida em que pressupde transformacées qualitativas tanto das relacoes Socials de producdo quanto das forcas produtivas. Cada pais e cada regio desenvolveu o seu modo especifico de apropria «glo e generalizagio de novas tecnologias formas de organizacao e gestso dha forca de trabalho. Vale dizer que 0s processos de industralizagio so processos historic, que refletem as peculiaridades sociais, economics, politicas e culturais das regides em que ocorrem. Nesse sentido, nio hé propésito em transformar 0 caso brtanico, a pioneira experiencia de in- Ructrializagao capitalista, em modelo ou receita a ser seguida. Ea partir Ge elementos basicos comuns, dados pelo desenvolvimento cientifico € tecnolégico, que cada pais ou regido elaborard seus préprios caminhos para a industrializacio, que expressardo, fundamentalmente, suas c= cunstincias histéricas vAssim, durante 0 século X1X, o Brasil experimentou, entre 1840 € 1870, surto industrial, que, nao configurando efetivo processo de industralizac3o, 219 { 220 A consravgho waciowat f0i expressio dos constrangimentos decorrentes da precariedade do mer- cado interno marcado pela concentragio da renda, consequéncia de uma estrutura politico-econémica arcaica Os dados do censo brasileiro de 1872 mostram que 72% da populagio economicamente ativa estavam empregados no setor agricola, 13% no setor de servigos e 7% no setor industrial. © censo de 1920 fornece os dados que permititam a montagem da tabela a4 TABELA 11 ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS BRASILEIROS SEGUNDO A EPOCA DA FUNOAGAO | 1249-1869 nites Mitigad none 399 amcasid orate 06 ararashasa nary aon = ee 1860-18654 20 SSCrapga0a 889, a 653869 10.847:4498 1.784 1.864 15.909:3608 1870-1874 Gz a 6.019 se.atost45$ wis & 405 “x0 34ngIS oie 99 = hahah aS aginst 1885-1889 248 «ina. aosanS 98a74 24369 247.141:6208 — 267 242588413 7.488 4ax7 6.420:6608 Toad 93 hokamak 73907 shay suonaaad Fonte: Lima, rerea6t-a6o, * Empresas fandadas em datas ignoradas, A comparacio entre a realidade industrial brasileira e a norte-ame- ricana nao ignora as decisivas diferencas que se estabeleceram entre os Processos de desenvolvimento capitalista dos dois paises, que, sobretudo, se deram entre 1830 € 1890. Ao contrério, o que se sustenta aqui é que a expressiva superioridade do desenvolvimento industrial dos Estados Uni- dos explica-se pela radical diferenca entre os processos de constituicao do mercado interno: forte e includente nos Estados Unidos, porque resultado de efetiva distribuigdo primétia da renda; fraco e excludente no Brasil, por ser resultado da insubsisténcia de distribuigao priméria da renda. Com feito, a criagao de um mercado interno amplo e dindmico é precondigio u te sa, sel de tes liz scariedade do mer- para a apropriagio dos ganhos decorrentes do aumento de escalae de 221 sequencia de uma produtividade. E essa a explicacéo para o fato de que os Estados Unidos, que em 1848 tinham 123.025 manufaturas, passassem a ter 353.863 em 72% da populagto 1868, enquanto o Brasil, por volta de 1870, tinha cerca de duzentas; que {cola, 13% no setor 6 ntimero de trabathadores industriais nos Estados Unidos, que em 1849 era de 957.059, chegasse aos 2.053.996 em 1869, nuimero que o Brasil s6 214 montagem da alcancou cem anos depois, na década de 1966. Sabe-se que a expansio industrial brasileira entre 1830 € 1889 teve repercussées regionais, Assim, no sul do pais concentraramse inditstrias oo éPoca Da voltadas para o abastecimento do mercado interno no setor de alimentos (trigo, carnes resfriadas e congeladas}, bebidas (vinho}, couros e peles. Na regio Nordeste manteve-se a centralidade da agroindiistria agucareira, as yaton Da ‘manufaturas de couro e peles, a manufatura téxtil. Na regio Norte foi o eee periodo do auge da exploracio da borracha, Mais diversificada foi a expan aes so industrial das provincias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sao Paulo, eset concentrando-se em Minas Gerais atividades mineradoras e metalirgicas. east £ ainda importante ressaltar que esses empreendimentos industriais 7 utilizaramsse simultaneamente de mao de obra livre e mo de obra e- crava, no havendo diferenciagao funcional com relagio a condi¢ao dos ory trabalhadores, 0 que contraria certas teses que quiseram ver incapacidade ccaaicesacs técnica dos escravos com relago ao uso de tecnologias mais aprimoradas. '89:866:0765 —— BALANCO DA ECONOMIA BRASILEIRA: 1830-1889 E0608 ssosiaaas 0 periodo considerado neste trabalho foi o da consolidagio da economia como realidade autdnoma. Essa consolidago se deu de tal forma que con- sagrou as préticas que passaram a balizar os aspectos centrais da economia ‘contemporsnea, eja pela permanéncia de certos arcafsmos, seja pelo carter a eanorteame- seletivo do processo de modernizacio, que ignorou instituicdes e conquistas leceram entre os decisivas da modernidade, como a universalizagio de direitos sociais bisicos, que, sobretudo, Com efeito, o Brasil tem experimentado, desde o século x1x, importan- : onta aqui é que a tes avangos nos campos da modernizacio, da urbanizacio e da industri dos Estados Uni- lizagio. Procrastinada, a abolicdo, enfim, deu-se em 1888. Antes de 1888, econstituigao do 4é estavam em curso diversas iniciativas, que criaram as bases do marco sorque resultado legal institucional necessério & consolidagao das relagées econémicas mer- ate no Brasil, por cantis capitalistas, como sio 0 Cédigo Comercial, de 1850; Lei de Locacio 1 da renda. Com de Servigos, de 1879; a politica de incentivos a imigracio; as politicas de 20 precondicdo apoio & expansio das ferrovias. ‘A constRUGxO NACIONAL 222 ‘Também expressivas no periodo foram as iniciativas no campo da im- plantacdo do ensino superior e das instituigées de pesquisa, com a criagao do Instituto Histérico e Geogréfico, em 1838, da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, entre outras instituigées significativas. Esbocousse, também, uma divisdo inter-regional do trabalho, que aca: bou confirmando certas caracteristicas herdadas do periodo colonial, so- bretudo no referente a estrutura fundidria, a um mercado interno restrito © forte dependéncia da exportaco de produtos primatios. Ao fim e ao cabo, a economia, gestada entre 1830 e 1889, conheceu Processo de modernizacao e crescimento, sem que os frutos dessa moder- nizacdo e desse crescimento tenham significado efetivo desenvolvimento econdmico, 0 qual sé pode ocorrer, de fato, quando o conjunto da socie dade usufruir de seus beneficios, processo que tem como pressuposto Basico a distribuicdo priméria da renda, distribuicéo ndo s6 da renda e da riqueza, mas, também e decisivamente, distribuigdo de habilitagdes ‘técnico-cientificas e direitos de cidadania, BIBLIOGRAFIA CARVALHO, José Murilo de. Teatro de sombras: a politica imperial. $40 Paulo: Vértice; Rio de Janeiro: Iuperj, 1988. COLE, G.D.H. Introduccién a la Historia Econdmica (1750-1950). 3. ed. México: Fondo de Cultura Econémica, 1966. cost, Emiflia Viotti da. Da monarquia d repibiica. 5, ed. Sao Paulo: Brasi- liense, 1987. ——. Da senzala d colénia. 3. ed. S20 Paulo: Brasiliense, 1989, | DEAN, Warren. A industrializagdo de Sao Paulo. Sao Paulo: Difusio Europeia do Livroffdusp, 1971. FERNANDES, Achilles de Oliveira. Quadro demonstrativo do desenvolvimen- to da indiistria e da eletricidade no Brasil, 1883-1934. In: Utiizagio da energia elétrica no Brasil, Ministério da Agricultura, Boletim n. 1, 1935. FURTADO, Celso. Formagii econdmica do Brasil. 13. ed. Sao Paulo: Cia. Editora Nacional, 1973, { GORENDER, Jacob. A burguesia brasileira, 2, ed, Sio Paulo: Brasiliense, 1982. | TANNI, Octivio, Industrializagtioe desenvolvimento soctal no Brasil. Rio de Janeiro: | Civilizagéo Brasileira, 1963, LIMA, Heitor Ferreira. Histéria politico-econdmica e industrial do Brasil. S30 | Paulo: Cia. Editora Nacional, 1970, a, tae xan adowwes © PRocesso Feondmico vvas no campo da im- MARTINS, José de Souza. 0 cativeiro da terra. So Paulo: Ciéncias Humanas, 223 quisa, com a criagao 1979. lade Minas de Ouro ManTINs, Roberto Borges. A economia escravista de Minas Gerais no século x1x. s. Belo Horizonte: Cedeplar/ueMc, 1982. 4o trabalho, que aca- MERRICK, Thomas; GRAHAN, Douglas. Populagdes e desenvolvimento no periodo colonial, so- Brasil: uma perspectiva histérica, In: NeuAus, Paulo (Org,). Eoonomia, ‘ado interno restrito brasileira: uma visio hist6rica. Rio de Janeiro: Campus, 1980. naios, NETO, Ant6nio Delfim. 0 problema do café no Brasil. Sio Paulo: usP, 1959- 10 e 1889, conheceu 1981. Facsimile. frutos dessa moder PORTO, Costa. Estudo sobre o sistema sesmarial, Recife: Imprensa Universitaria) vo desenvolvimento UFF, 1965. © conjunto da socie- | REGO, José Marcio; marqus, Rosa Maria (Org). Formagdo econdmica do Brasil, como pressuposto { ‘So Paulo: Saraiva, 2003, 9 ndo s6 da renda e ScHwanrz, Stuart. Segredos internos, So Paulo: Companhia das Letras, 1988. igdo de habilitagées SILVA, Sérgio. Expansdo cafeeira e origens da industrializagéo no Brasil. S40 Paulo: Alfa-Omega, 1976. smitH, Roberto. Propriedade da terrae transigdo, Sao Paulo: Brasiliense, 1990. SUzIGAN, Wilson. Indistria brasileira. So Paulo: Brasiliense, 1986. 1950). 3. ed. México: ed. Sio Paulo: Brasi- 198. 6: Difusio Europeia imperial. Séo Paulo: ‘odo desenvolvimen- 934. In; Utilizagdo da Boletim n. 1, 1935. o Paulo: Cia. Editora lo: Brasiliense, 1982. | Brasil Rio de Janeiro: ustrial do Brasil. So

Você também pode gostar