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‘AMARA 005 DEPUTADOS Gabinete Jo Depatado Wadi Bamaus PF} ue STERIG PU SO REDE i (igen GS Sets e [ewese © 8 de EHS i WADIH Ds lous. advogado regularmente inscrito na on i Janeiro sob o n° 768-B, no exercicio do mandato de deputado federal, deputado federal, portader do RG n° 32782856 - RU, inscrito no CPF seb 0 n° 548.124.457-89, enderego Praga dos Trés Poderes — Camara dos Deputados, gabinete 413, anexo IV, CEP 70160-900 - Brasilia -DF, MARCIO SOTELO FELIPPE, Advogado, portador da cédula de identidade de n° 7989175, residente ¢ domiciliado na rua Guarara, 261, ap 21, Jardim Paulista, Cep 01425 001, marciogotelo@zmail.com e PAULO ROBERTO SEVERO PIMENTA, brasileiro, casado, deputado federal, portador a oédula de identidade de 2024323822 — SSP/RS, CPF 428449240-34, com enderego na Praga dos Trés Poderes —Cimara dos Deputados, gabinete 552. anexo TV, CEP 70160-900 — Brasilia, vém a Vossa Exceléncia, apresentar REPRESENTACA em desfavor do ministro de Estado da Justica Alexandre de Moraes, pelos fatos c motivos a seguir delineados. Dos fatos. © jornal Fotha de Séo Paulo publicou matérial com 6 titulo “Obra de Alexandre de Moraes tem trechos copiados de livro espanhol”, em que releva que livro publicado pelo Representado, contém trechos idénticos aos de uma obra do jurista espanhol Francisco Rubio Llorente (1930-2016) que realiza compilacao de decisées do Tribunal daquele pais. Trago a colacdo, parte da matéria: + http://www fotha.uol.com,bt/pader/2047/02/1857103-obra-de-alexandre-de-moraes-tem-trechos- coplados-de-tivro-espanhol.shiml CAMARA D05 DEPUTADOS, Cabinets do Depiraedo Wadlth Dasnous « PE/R AS DUAS OBRAS ‘Trabsliio de Aiexandve de Moraes, indicado ao STF, tem trecios idénticos a tivro de direito espanhot Trechos win portugués:“Diteitos Hunisnos Furcomensnis, ce Alewandie de Moroes (1° edigdo pulsitada em 1997), trechos teptaduzHlas cs 11® edi, de 2026 ‘Trechas em espantol: “Derechos Funidementalese Prncipias Constitecianales, francisen Rubio Lorente, rechos retrados da edizin poids ern 1995, S eguldade da parson mummers ente n, i CAMARA DOS DEPUTADGS: Gabingte dos Depustads Wada Dacnoas - PTR Aduz, ainda, a matéria, que o livro vem sendo publicado pelo Representado desde 1997 e ja esté cm sua 11* edigdo. A obra “Direitos Humanos Fundameniais" reproduz, sem o devido crédito e sem imformar de que se trata de uma citacdo, passagens de "Derechos Fundamentales y — Principios Constitucionales", de Rubio Llorente, publicado em 1995 pela editora espanhola Ariel. Quem denunciou o plagio a0 jornal Folha de S40 Paulo foi © Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Fernando Jayme, que teria alertado numa rede social para os trechos idénticos sem a devida mencao da fonte. Para Fernando Jayme, o gile houve "é sem divida alguma plagio". "Ninguém pode assumir a autoria do texto alheio. Ao deixar de fazer a citacdo, parece que a ideia ¢ dele, mas é de ‘outro autor, do qual ele copieu literalmente’, afirmou a Folha. Jayme diz que j4 viu, no Consetho Universitario da UFMG, 0 qual integra, "citagdes bem menos explicitas serem consideradas plagio". Outro especialista ouvido pelos jornalistas, sem saber se tratar do Representado, se manifestou no mesmo sentido: Para o advogado Daniel Campcllo, a cépia dos trechos configura “caso classico de pligio académico da pior qualidade, encontrado infelizmente em diversos trabalhos de conclusao de curso de graduac&o, mas bem raro quando se trata de uma tese de doutorado" Segundo Campello, os quatro requisitos examinados cm acusagoes de plagio séo preenchidos no caso: similitude entre 08 trechos; anterioridade da obra supostamente original; prova de acesso, ou seja, gue o acusado teve contato com o texto que teria reproduzido; e comprovado dolo ou vantagem com a pratica. O inciso II do art. 46 da Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 que trata dos Direitos Autorais, exige para se exclua ofensa aos direitos autorais a indicacao do nome do autor € a origem da obra: Ill - a citacao em fivros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicacio, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, critica ou polémica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se 0 nome do autor e a origem da obra; ‘CAMARA 205 DEPUTADOS F Gabinate do Deputado Waits Damous - PUR O sitio Jornalistas Livres publicou?, no dia 10 de fevereiro, mateéria intitulada Mais um plagio de Alexandre de Moraes - Dessa vez a vitima foi o colega no Largo Sto Francisco e Mackenzie, 0 professor titular de direito penal Vicente Greco Filho. Aduz a matéria que o Representado copiou literalmente em seu livro “Legislagao Penal Especial” (Editora Atlas, 2006, Sao Paulo) diversos trechos da obra “Texicos, Prevencao ~ Repressao”, de seu colega da Faculdade de Direito da USP ¢ professor titular de direito penal do Mackenzie, Vicente Greco Filho. Como no caso relatado pelo jornal Folha de Sao Paulo, o docente teria usado produce intelectual de outrem como se sua fosse. Como nas outras demincias de plagio que envelvem o escolhido por Temer, ele simplesmente faz constar 0 nome do autor copiado na bibliografia, mas ignora as aspas ou citacées, tornando impossivel identificar os trechos que Moraes copia de outros autores, contrariando, assim, as normas da ABNT (Associago Brasileira de Normas Técnicas) para a citacao de autores em obras académicas. Nos trechos destacados, observa-se a apropriagdo de termos através de cépia literal, sea qualquer identificagao por meio de aspa ou citagao. Das 40 linhas presentes na pagina 120 de “Legislacao Penal Especial”, por exemplo, 26 foram clonadas por Alexandre Moraes de seu colega. A utilizacao de termos ineomuns, como “dédiva”, por exemplo, evidenciam a ma conchta académica. © Cédigo de Boas Praticas Cientificas da FAPESP ~ Fundacaio de Amparo 4 Pesquisa do Estado de Sao Paulo, prevé o que poderia ser considerado como mas condutas cientificas, dentre as quais o plagio: {c] O pidgio, ov a utilizagao de ideias ou formulagées: verbais, orais ou escritas de outrem sem dar-lhe por elas, exprossa claramente, o devido crédito, de modo a gerar razoavelmente a percepcao de que sejam ideias ou formulacdes de autoria propria. 2 httpsi//jomalistaslivres.org/2017/02/mais-uim-plagio-de-alexandré-de-moraes/ CAlaana 005 DEPUTADOS Gabinete do Geputods Waal Dames ~ PTA OQ Cédigo de Btica da Universidade de Séo Paulo estabelece que: Art. 28 » £ vedado aos membros da Universidade: III - utilizar, sem referéncia ao autor ou sem a sua autorizacao expressa, informagdes, opinides ou dados ainda nao publicados; IV - apresentar como originais quaisquer idéias, descobertas ou ilustracées, sob a forma de texto, imagens, representagoes graficas ou qualquer outro meio, que na realidade no o sejam; Desta forma, cabe analisar o Cédigo Penal no capitulo que trata dos crimes contra a propriedade intelectual. Sob a ética da responsabilizacdo criminal do autor de plagio de obra, assim dispée o artigo 184 do CP: Art. 184, Violar direitos de autor e os que the sao conexos: § lo Se a violagao consistir em reprodugao total ou parcial, com intuito de Iucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretagdio, execucdo ou fonograma, sem autorizacdo expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme 0 caso, ou de quem os represente: Pena - rechusao, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. E que néo se considere que a mengSo ao autor da obra plagiada na bibliografia final da obra do contrafator seja suficiente para afastar a conduta criminosa, como afirmou pela imprensa o Representado. Isso porque a autoria deve ser indicada no proprio trecho utilizado. A mengao genérica na bibliografia no final do livro nao elide a uusurpagdo de autoria perpetrada, mas por outro lado, apenas demonstra 9 dolo na conduta criminosa, vale dizer, de tomar como sua a criagao intelectual de terceiros e disto, todos os méritos académicos ¢ sociais dai advindos. No caso conereto, a reprodugao parcial da obra espanhola € tho evidente quanto sua finalidade fucrativa, direta e indireta. O livro em tese escrito pelo Representado é vendido e revendido ha anos a operadores do direito, especialmente a candidatos a vagas em concursos plblicos. Lucra diretamente 0 seu ‘autor’ na medida em que a alta CAMARA DOS DECUTADOS Eabinete do Feputade Wadi Damnows - PI vendagem Ihe proporciona ganhos financeiros significativos. Lucra indiretamente na medida em que, ao identificar-se na comunidade jutidica ¢ no mereado editorial brasileiro como um best seller, atrai para si prestigio, reconhecimento, indicacdes ¢ vantagens de diversas naturezas Vé-se, portanto, que ha elementos consistentes para enquadrar a conduta do Representade como ofensiva a Lei do Direito Autorai e ao Cédigo Penal ne capitulo que trata da protecdo a propriedade intelectual. ‘Aanélise por Vossa Exceléncia da suposta pratica de crime por parte do Ministro de Estado da Justica, ora Representado, é urgente. & que, tendo em vista a iminente sabatina do Representado pelo Senado Federal para o exercicio de cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, a questao aqui delineada se relaciona profundamente com os requisitos previstos na Constituigéo da Repiblica de 1988: Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compée-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadaos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notavel saber furidico e reputagao ilibada, Paragrafo tinico. Os Ministcos do Supremo Tribunal Federal seréo nomeados pelo Presidente da Reptblica, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Como se trata de poder-dever do Senado Federal a afericao do notavel saber juridico ¢ da reputacae ilibada dos sabatinados ao cargo, a mera abertura de procedimento investigative para apuragéo do crime de violacdo de direito autoral nao 86 atinge 0 mérito intelectual previsto na exigéncia do notavel saber juridico, como questiona a propria exigéncia da reputacdo ilibada. Ha que fazer uma distingdo entre os termos notdvel saber juridico que a Constituicao aplica a ministros do STF fart. 101 da CAMARA DOS DEPUTADOS Gabinete de Deguiade Wadih Damous « PT/R Constituicéo da Republica), ¢ o termo notério saber juridico, aplicado ao como exigéncia para o exercicio de outros cargos. Notavel, guarda relagéio com insigne, apreciavel, ja 0 notério é aquilo que é sabido por todos. Assim, 0 notével se conecta a um dado efetivamente concreto, existente, quanto que notério podera ser construido artificialmente. A Constituicdo escolheu 0 termo notdvel saber juridico justamente para clevar a exigéncia a um patamar de mérito intelectual incontestavel. ‘Ter notoricdade nao significa, portanto, possuir notdvel saber juridico, Este ultimo adjetivo é conferido apenas a produgao intelectual e carreiras incontestaveis, de cujo mérito ndo se questiona, mas que se eleva perante todos. Ou seja, nao basta a publicacio em si, mas sim e, principalmente, o reflexo do seu contetido para as ciéncias juridicas € para a literatura em geral®. Apelar-se para eventuais citagdes de obras escritas pelo indicado, por membros do STF ou da comunidade académica, 6 expediente de valor refativo, uma ver. que imimeras citacies sao feitas por amizade, no pelo valor cientifico da obra citada. A publicacao de livros e artigos também necessita de analise. Sim, porque ndo é qualquer artigo, publicado em qualquer lugar. que traduziré “notavel saber juridico”. J. Creteila Junior, em seu livro Comentarios 4 Constituigao Brasileira de 1988, aduz que: © requisite de notavel saber, exigido pela Constituicdo, refere- se, especialmente, & habilitacao cientifica em alto grau nas matérias sobre que o tribunal tem de pronunciat-se, ius dicere, © que supde nos nomeados a inteira competéncia ¢ sabedoria que no conhecimento do Direito devem ter os jurisconsultos.”* + José Wilson Ferreira Sobrinho, Aspectos Constitucionais da investidura no cargo de ministro do ‘Supremo Tribunol Federal, Revista do institute de Pesquisas @ Estudos: -fles//IC:/Users/P_250326/Bevinioads/ripe38.o4(> “JUNIOR, J. Cretella. Comentarios & Constitulgfo de 1988. Vel. VI. 12 ed. Rlo de Janeiro: Forense Universitaria, 1992. CAMané 90S DEPUTANOS Gabinete do Deputado Wad Rarsous - PTR] Ao tecer comentarios sobre a Constituigao de 1967, Pontes de Miranda observou que: Enquanto, no art, 136 IVV, a propésito de tribunais estaduais, se fala de advogado ou membro do Ministério Pablico, o art. 113, paragrafo i°, exige, para ser Ministre do Supremo ‘Tribunal Federal, que se trate de Brasileiro nato, de notavel saber juridico ¢ reputacdi ilibada, para que se nao dé acesso ao maior tribunal do Pais a homens publicos tisnados; outro, diferente em grau: aos futuros juizes é exigida a classificagdo; ao passo que aos Ministros do Supremo Tribunal Fecieral se exige mais ~ exigi- ihes a notabilidade, a erminéncia, a relevante solidez ¢ o brilho do saber juridico.”s Do exposto acima se extrai que o notdvel saber juridico atribuido ao indicado ao Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, pode ¢ deve ser questionado no momento em que se verifica a pratica de um plagio intelectual. Até porque, o fato de ter uma obra publicada ja na 32" edi¢do tem sido um referencial para as pessoas que defendem a sua indicagao ao STF. Na Alemanha, o ministro Karl-Theodor Zu Guttenberg, importante nome do Govemo da chanceler Angela Merkel, apresentou pedido de demisséo em marco de 2011, apés ter sido acusado de plagio na sua tese de doutoradoS. A atitude do ministro demonstra a gravidade da pratica do plagio. E, na contramao do que ocorreu na Alemanha, © Brasil esta na iminéncia de nomear ministro da sua mais alta Corte de Justica um autor do plagio. A pratica do crime de violagdo de autoria, evidencia, também, a auséncia do requisito constitucional da reputagao ilibada para que Alexandre de Moraes seja nomeado como Ministro do Supremo Tribunal Federal. Em deciséo sobre o assunto o Ministro Dias Toffoli sustentou: © MIRANDA, Pontes De, Comentérios & Constitui¢go de 1967. Tomo IV. Séa Paulo: Revista dos Tribuneis, 1967. ® htto://1 globo. com/mundo/noticia/20%.1/03/ministro-acusado-

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