Doenga inflamatoria pélvica
Ondina Campos
1. INTRODUCAO
Doenga inflamatéria pélvica (DIP) é a desig-
nacao habitualmente utilizada para descre-
ver um quadro clinico caracterizado pela
existéncia de um processo inflamatério dos
6rgaos genitais internos da mulher.
Na maior parte dos casos existe um quadro
infeccioso, ascendente, que ao avancar para
além do endocolo, pode ficar confinado
apenas a um rgao (endometrite, salpingite,
oforite), as estruturas ligamentosas de su-
porte (parametrite) ou ter um envolvimento
miltiplo em simultaneo.
A DIP & uma inflamagao aguda ou créni
ca que representa, muitas vezes, uma das
complicagdes das doengas de transmissao
sexual, nomeadamente as causadas por
Chlamydia trachomatis e a Neisseria gonor-
thoeae"’. Poderao estar em causa outros
agentes como sejam os provenientes da
flora vaginal endégena (aerdbica e anaeré-
bica como 0 Bacteroides fragilis, agentes as-
sociados a vaginose bacteriana (Gardnerella
vaginalis, Mycoplasma hominis, etc.) e, ainda,
‘0 Mycobacterium tuberculosis.
2. EPIDEMIOLOGIA.
A incidéncia da DIP é muito dificil de deter-
minar. Por um lado, muitos casos decorrem.
de forma insidiosa ou mesmo assintomatica
€ 56 se detectam mais tarde pelas sequelas
que ocasionam, principalmente a esterilida-
de; Larissa Hirsch chega mesmo a afirmar que
se diagnostica apenas um em cada trés ca-
s0s, Por outro lado, quando a sintomatologia
existe mas nao é muito exuberante, grande
parte das doentes sdo assistidas no ambito
dos cuidados primérios de satide ou mesmo
no sector privado; nesses casos, hé maior
dificuldade em serem realizados os exames
laboratoriais em que se apoia a pesquisa de
doencas sexualmente transmissiveis, e dai a
falha na completa caracterizagao de um caso.
Contudo, a DIP continua a ser uma doenca
frequente e com consequéncias graves na
mulher em idade reprodutiva”®. Apesar dos
dados mais recentes demonstrarem que a
sua incidéncia estd em declinio nos paises
mais desenvolvidos, as suas sequelas na fer-
tilidade nao diminutram.
No Reino Unido, cerca de uma em cada 50
mulheres sexualmente activas terao uma
DIP por ano. Nos EUA, segundo os dados
do CDC (Centers for Disease Control and Pre-
vention), mais de um milhao de mulheres é
tratada anualmente por DIP e pressupdem
que 0 mesmo numero tera a doenga sem 0
saber*” (Fig. 1).
A Chlamydia trachomatis ésem divida oagen-
te causal mais frequente na DIP, calculando-
se que esteja presente em cerca de 85% dos
casos tratados. Alguns autores* calcularam
a probabilidade de contagio entre parceiros
sexuais, referindo ser de 45% da mulher para
homem e de 56% do homem para mulher.
Outros, como Quinn TC, et al, afirmam poder
atingir 68% em ambos 0s casos"
Em 2006, 0 CDC nos EUA (incluindo os 50
estados e 0 distrito da Columbia), registou
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