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xiv TECNICA DE REDAGAO situagao cult Procurei, neste livro, desmitificar, descon: cequivocadas, provocar uma mudanga de atitude em relagio a0 iente, ao de ler. Nao proponho continua e sempre enriquece- dda auto-estima e da atividade in- qualquer nivel si0 proponho. Capitulo Os mitos que cercam 0 ato de escrever 1. Verdades e mentiras Durante sua vide escolar, voo8 deve ter cristalizado alguns € 05 livros didaticos, pais, colegas, bem como alguns p res, contribiliram para que crengas, nem sempre as mais ade- quadas, fossem se configurando e se enraizassem. Poucas pes- soas conseguem escaper de uim.conjunto equivocado de in- ‘luéticias e construir uma relacdo realmente saudével com o ato de éscrever. Dessa forme, muitos jovens crescem pensando que nunca sero bons redatores, que tém texto péssimo e que ndo ha formas de melhorar o desempenho na produgio de textos. E 0 seu caso? Se nfo for, vc’ é uma excegdo, pois até - fissionais maduros demonstram inseguranga em.relagio & pré- pria expresso escrita, Embora seja uma das tarefas mais com-, plexas que as pessoas chegam a executar na vida, principalmen- fe porque exige envolvimento pessoal e revelagdo de caracteris- ticas do sujeito, todos podem escrever bem. — Quais sio as falsas crencas, os mitos riais freqiientes em relagdo a escrita? Ha ;, mas aqui vamos refletir acerca | dos THais devastadores, que Sio os que levam alguém a acredi- tar que escrever seria ‘dom que poucas pessoas tém; um ato cespoiifineo que no exige empenho; uma questo que se resolve com algumas “dicas”; um ato isolado, desligada_da Jeitura, \ algodesnecessério no rmuiido spoderno; s/ vincitlads das prdticas sociais. pe TECNICA DE REDACAO a) Escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida € no um dom que poucas pessoas tém “Bu jdo tenho 0 dom da escri lao fui escolhido.” “Nao reeebi esse talento quando nasci:" Essas sao algumas das “alifinagdes mais freqiientes entre alunos de cursos de prose ‘40 de textos, bloqueados diante da pégina em branco. E claro que no estamos tratando, aqui, da escrita literdria. ‘Aeescrita é uma construgio social, coletiva, tanto na historia humana como na historia de cada individu. O aprendiz precisa das outras pessoas para comecar para continuar escrevendo. ( que vai determinar 0 nosso grau de familiaridade com a escrita é 0 modo como aprendemos a escrever, a importincia {que o texto escrito tem para nés e para nosso grupo social, a intensidade do convivio estabelecido com o texto escrito © a freqiiéncia com que escrevemos. Conseqiientemente, sio esses fatores que vio definir também nossa maturidade e nosso de- sempenho na produgao de textos. ‘A nogdo de dom, embora polémica e questionével, pode- ria ser aplicada a alguns poucos génios da literatura. Mesmo assim, a revelacio desses gé so de aprendizagem e do com ta, Ninguém nasce escritor eo processo que transforma alguém em um artista da palavra é ainda um enigma. Entretanto, va- ‘mos usar alguns depoimentos e exemplos de escritores porque neles a luta com as palavras € muito evidente, e muitos passam por etapas semelhantes aos redatores leigos. Caso a escrita fosse ‘um dom inato, qual seria o papel da escola? E 0 que acontece- ria com aqueles que, tendo recebido o dom, nunca foram alfa~ betizados? José J. Veiga, renomado autor br mesino o talento, a vocagio ou o dom dependem sistencia: = Como comecou a escrever? = Foi um processo demorado, que amadureceu devagor. | Quando resoli experimentarescrever,ndo consegui da primeira We (OS MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER 3 | vez. Escrevi uma histéria, néo gostei, e desanimei, Eu estava des- cobrindo que ler é muito mais facil do que escrever ‘gente joga a foalha, entregaos pontas num assunto tar, apankei que quando consertos aqui batatha permanente. Mas é uma batalha curiosa: as derrotas que {a gente sofre nela néo sao derrotas, so ides para o futuro. E preciso, antes de tudo, compreender que todas as pes- soas podem chegar a produzir bons textos, ¢ que isso nio é ‘uma questo de ser “ungido” pelos deuses que escolhem os mais talentosos. E necessério também identificar bloqueios porventura construidos 20 longo da vida escolar ¢ tentar elimind-los. a b) Escrever é um ato que exige empenho trabalho e néo um fendmeno espontineo Muitas pessoas acreditam que aqueles que redigem com. desenvoltura executam essa tarefa como quem respira, sem a menor dificuldade, sem o menor esforgo. Nao é assim. Escre- ver & uma das atividades mais complexas que.o ser humano pode realizar. Faz rigorosas exigéncias & meméria e ao raci rio. A agilidade mental é imprescindivel para que todos os pectos envolvidos na escrita sejam articulados, coordenados, harmonizados de forma que o texto seja bem sucedido. Conhecimentos de natureza diversa so acessados para que 0 texto tome forma. E necessério que o redator utilize si- multaneamente seus conhecimentos relativos ao assunto que quer tratar, ao género adequado, a situagdo em que 0 texto produzido, aos possiveis leitores, & lingua e suas possibilida- ®. 4 TECNICA DE REDAGHO des estilisticas, Portanto, escrever nao é facil e, principalmen- te, escrever € incompativel com a preguica. 7 ‘A tarefa pode ir ficando paulatinamente mais fécil para profissionais que escrevem muito, todos os dias, mas mesmo esses testemunham que é um trabalho exigente, cansativo, ¢ que 6, muitas vezes, insatisfatério, frustrante. Sempre queremos um_ texto ainda melhor do que o que chegamos a produzir ¢ poucas vveres conseguimos manter na linguagem escrita todas as suti- lezas da percepsdo original acerca de um fato ou um pensa- ‘mento. O que admiramos na literatura é justamente essa espe- cificidade, essa possibilidade de expandir pela palavra escrita emogies, pensamentos, sensagdes, significados, que nés, lei- 0s, no conseguimos traduzir com propriedade. Continuemos com o depoimento de José J. Veiga, agora em uma outra entrevista: —O senhor é muito conhecido por reescrever incessantemen- te seus textos. Por que 0 senhor reescreve? ” por conta de uma grande insatisfagdo. Voeé imagina as coisas, até 2, mas, quando quer pér aquilo no papel, tem que usar a linguagem. Ai vocé descobre que a linguagem é fosca. Nao acompanka 0 que vocé quer fazer. Entdo vocé fica trabalhando, trabalhando, para chegar 0 mais préximo possi ~ Por isso a linguagem do senhor é to seca, tio substan- tiva? 2 vigio muito para ndo fazer aquilo que em lingua- ‘gem popular se diz “encher lingilica”. Eu desbasto 0 texto, Tiro.o ‘bagaco para deixar apenas o que tem peso, a esséncia. Folha de S. Paulo. So Paulo, 17 jun. 1999. otha lustrada, p 8. Para refletir sobre estas questdes, considere 0 poema, jé classico, de Carlos Drummond de Andrade, em que essa rela~ gio de necessidade, amor e conflito em relagio as palavras ¢ apresentada de maneira extraordindria: WW OS MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER OLUTADOR Lutarcompalavras Jt vejo palavas, Parece sem fut. ‘em coro submisso, Nib tia e sngue. Entetano, luo, Palayra palavra (igo exasperado), neste descampado, sem roteiro de una cou mares de dente de uma posse impure : feque venhao gozo sudo se evapora. sibite fogem dda mar tontura, endo hi ameaca O cielo do dia enem ha sevicia LLuto corpo a corpo, ora se consumma {ques rage de novo ‘to todo o tempo, 0 ini ‘0 centro da prog sem maior proveito fhe dacgano ven. Riocacono vex, lo sepsro formas e tuidstninige Ge toda me evolve eoeicincemie Tanai cals ¢ nenhum pee. oe sh Lr Navor octavo boo ela * late posepe Ge raga deseo, tas edo sono Senne onir desea, — Undo bs ves, pepustamlevisines” resin quesentegt ——Calos ummond eviranvme oresto. se consamari. ‘de Andrade ©) Escrever exige estudo sério e no é uma competéncia que se forma com algumas “dicas” A idéia de que algumas indicagdes e truques rapidos de liltima hora podem solucionar problemas de produgao de tex- , tanto para candidatos a concursos como para profissionais, 6 TECNICA DE REDAGHO que precisam mostrar competéncia escrita em curtissimo pra- zo, tem enganado os apressados e enriquecido muitos donos de escola e de cursinhos. Muitos professores oferecem uma espécie de formulério 3.¢ mental do que seria um bom texto para que o estudante preen- cha as lacunas, acreditando que prescrever esse procedimento, muitas vezes suficiente para conseguir desempenho minimo ‘num concurso, € 0 objetivo da escola. Formulas pré-fabricadas de textos € “dicas” isoladas ape- nas contribuem para a miontagem de um texto defeituoso, trun- cado, artific clichés, chavées, frases feitas e pensamentos alheios. ‘A autoria vem das escolhas pessoais dentro das pos: des da lingua e do género. Escrever bem é 0 resultado de curso constituido de muita prética, muita reflexo e muita leitu- ra, E-uma ago em que 0 sujeito se envolve de forma total, com sua bagagem de conhecimentos e experiéncias sobre o mundo & sobre a linguagem. Nao existem esquemas prévios ou roteiros infaliveis que possam substituir tal envolvimento. E a voz do in- dividuo que orienta o texto, portanto este é imprevisivel. ‘Uma redagdo por més, alguns exercicios esporddicos de produgio de pequenos trechos nao formam um bom redator. E necessario escrever sempre, escrever todos os dias, escrever $o- bre assuntos diversos, escrever com diversos objetivos, escre- ver em diversas situagdes. . "Associadas a muita pritica, as “dicas” fornecidas a partir de dificuldades rea iadas na produgio de textos podem ser iteis, esclarecedoras, iluminadoras. Quando estio isoladas de uma pritica intensa, nao ajudam em nada. ,/ @ Escrever é uma pritica que se articula com a pritica da leitura & improvavel que um mau leitor chegue a escrever com desenvoltura. B pela leitura que assimilamos as estruturas pro- prias da lingua escrita. Para nos comunicarmos oralmente apoiamo-nos no contexto, temos a colaborao do ouvinte. Ja J, em que a voz do autor se anula para dar lugar a (05 MITOS QUE CERCAM 0 ATO DE ESCREVER 7 a comunicagdo escrita tem suas especificidades, suas exigén- cias. Essas exigéncias advém do fato de estarmos nos comuni- cando a distancia, sem apoio do contexto ou da expressio fa- cial. Tratamos de forma diferente a sintaxe, 0 vocabulitio e a propria organizacao do discurso. E pela convivéncia com tex- tos escritos de diversos géneros que vamos incorporando as nossas habilidades um efetivo conhecimento da escrita. ‘Além de ser imprescindivel como instrumento de consoli- dagio dos conhecimentos a respeito da lingua ¢ dos tipos de texto, a leitura é um propulsor do desenvolvimento das habili- dades cognitivas. Envolve tantos procedimentos intelectuais exige tantas operagdes mentais que o bom leitor adquire maior agilidade de raciocinio. Ha ainda que se considerar que a leitura é uma das formas mais eficientes de acesso a informagio. Seu exercicio intenso constante promove a andlise e a reflexao sobre os fenémenos e acontecimentos, tornando a pessoa mais critica e mais resis- tente & dominago ideolégica. O que é a leitura € 0 nosso as- sunto do capitulo 3. ©) Escrever é necessirio no mundo moderno Observa-se que o cidadio cpmum, dependendo do mundo profissional a que pertence, escreve muito pouco. Hoje, tudo esta muito automatizado e as relagdes humanas por intermédio da escrita podem ser reduzidas ao minimo: 0 telefone resolve a maior parte dos problemas do cotidiano. Alguns conseguem mesmo reduzir sua atividade escrita a assinatura de cheques € documentos. Por outro lado, paradoxalmente, 0 complexo mundo con- tempordneo esté cada vez mais exigente em relagdo a escrita, Precisamos de documentos escritos para exist, ser, atuar € possuir: certid6es, certificados, diplomas, atestados, declaragdes, contratos, escrituras, cédulas, comprovantes, registros, recibos, relatérios, projetos, propostas, comunicados inundam a nossa vida cotidiana. Tudo o que somos, temos, realizamos ou dese~ 8 TECNICA DE REDAGAO jamos realizar deve estar Iegitimado pela palavra escrita, Vale © escrito. E nossa habilidade de escrever é exigida, investiga- da, medida, avaliada, sempre que nos submetemos a qualquer processo seletivo, sempre que nos propomos a integrar os 6r- gos que conformam o sistema da cidadania urbana. ‘Mesmo na informatica, tudo € mediado pela escrita. Na~ vegar ou conversar na Internet exige um convivio especial com a escrita. O que antes se resolvia simplesmente com uma liga- ‘sao telefonica passou a ser substituido por um texto escrito jo via fax ou e-mail. disso, enquanto 0 trabalho primério vai sendo atri- buido as mAquinas, exigem-se dos homens as habilidades que Ihes so exclusivas, como a produgao de textos. Os profissio- nais que dominam essas habilidades mais complexas ¢ sofisti- cadas tém mais chances no mercado de trabalho, a cada dia mais seletivo. ‘fi Escrever é um ato vinculado a praticas sociais ‘Todo ato de escrita pertence a uma pritica social. Nao se escreve por escrever. A escrita tem um sentido e uma funclo. Como vimos no item anterior, toda a nossa civilizagéo ociden- jal 6 regulada pela escrita. Para nés, vale 0 escrito. Pela escrita estamos atuando no mundo, estamos nos relacionando com os ‘outros e nos constituindo como autores, como sujeitos de uma ‘voz, Veja o exemplo desta carta enviada ao jomnal Correio Bra- ziliense por uma leitora: Primeiro de tudo, gostaria de parabenizar 0 Jornal que é | muito bom. Parabéns! Segundo, gostaria de expor a minha ido robre un fator que etd acabando com o Brasil neses tim ‘nossa fome. Esiava no mew curso de inglés, na un incluindo o Brasil. O professor citou que sua namorada trabal nas Nagées Unidas, aqui em Brasilia, e niio péde deixar de nos (0S MITOS QUE CERCAM 0 ATO DE ESCREVER 9 informar sobre a populagio que esté morrendo de fome no Bra- sil. Entdo veio a "bomba” sobre nds: 28 milhdes de pessoas ‘morrem de fome neste exato momento no Brasil, mais do que a populagdo da Argentina. Isso me deixou muito irritada, razdo ‘por que faco um apelo: por favor, vamos tomar uma providén- ‘séria, Brasil! O governo niioé 0 tinico culpado. A sociedade também &. E, se somos culpados, podemos agir, para, pelo me- | nos, tentar controlar e acabar com essa catéstrofel Correo Braciliense. Brasil Seqdo Cartas dos Le Po Essa carta é um exemplo de como a participagio pela es- crita confere ao individuo um novo canal de relacionamento com 0 mundo, Pelo texto escrito modificamos 0 nosso contex- to e nos modificamos simultaneamente. ‘Assim, a redagao escolar, isolada, desvinculada do que 0 individuo realmente pensa, acredita, defende e quer comparti- Ihar ou expor ao outro como forma de interaso, nao pode ser considerada escrita, mas apenas uma forma de demonstragio de habilidades gramaticais. ‘A produgdo de textos & uma forma de reorganizagio do pensamento € do universo interior da pessoa. A escrita ndo apenas uma oportunidade para que a pessoa mostre, comuni- {que 0 que sabe, mas também para que descubra o que &, 0 que ppensa, 0 que quer, em que acredita Saber escrever é também compartilhar praticas sociais de diversas naturezas que a sociedade vem construindo ao longo de sua historia. Essas priticas de comunicagao em sociedade se configuram em géneros de texto especificos a situacdes de- terminadas. Para cada situacio, objetivo, desejo, necessidade temos nossa disposi¢ao um acervo de textos apropriados. As- sim, o produtor de texto nfo apenas tem conhecimentos sobre as configuragées dos diversos géneros, mas também sabe quan- do cada um deles é adequado, em que momento e de que modo 10 TECNICA DE REDACAO izd-lo. Um relatério € proprio para prestar contas de , de uma investigacao, de uma tarefa ‘mas ndo serve para contar uma viagem de férias para os amigos, por exemplo. 2, Reconsiderando crengas ‘Vimos qué escrever no é um dom que apenas algumas pessoas tém. Todos podem vir a ser bons redatores, Entre- tanto, escrever ndo é um ato espontaneo. Exige muito empe- ‘ho, é um trabalho duro. Nem sempre as “dicas’ oferecidas pelos professores e colegas so suficientes para a elaboragdo de um texto fluente, claro, adequado. Os truques podem aju- dar os redatores que ja estio em meio ao processo de desen- -volvimento da prépria produgao escrita, porque podem escla- recer alguns pontos duvidosos ou obscuros da escrita e da or- ganizagao do texto, mas nao funcionam isolados de muito exercicio. 7 Compreendemos também que a leitura ¢ imprescindivel para que o redator chegue a apresentar um bom desempenho, pois ela oferece oportunidades de contato intenso com as infi- nitas possibilidades da lingua, com os diversos géneros ¢ tipos de texto ¢ com as informagées e idéias que circulam no nosso universo. ‘A escrita é muito necessdria no mundo modermo, uma vez que as priticas sociais que estruturam as nossas organizagdes contemporaneas sao mediadas por textos escritos. Dependemos da escrita para existir efetivamente ¢ atuar no mundo. ve (0S MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER u PARA QUEM GOSTA DE “DICAS” 3. Novas atitudes em relacio 4 eserita £ IMPRESCINDIVEL: + ESCREVER TODOS 0S DIAS: ANOTACOES DE AULA, DIARIO, RESUMOS DE LEITURAS, TEXTOS COM SUAS OPINIOES ACERCA DE ACONTECIMENTOS, CARTAS, BILHETES, PROJETOS.. + ACREDITAR QUE VOCE PODE ESCREVER BEM, ESTA MELHORANDO E QUE VAI CHEGAR LA IMPULSIO- NA O APERFEIGOAMENTO. + SER AUTOMOTIVADO, DEIXAR A PREGUICA DE LA- DOE SEESFORCAR. + QUERER SABER MUITO MAIS, IR MAIS PROFUNDA- MENTE AS QUESTOES. NAO SE PODE FICAR SATIS- FEITO COM “DICAS” ISOLADAS E FRAGMENTADAS. + CONSIDERAR A ESCRITA COMO UMA HABILIDA- DE IMPORTANTE PARA O NOSSO SUCESSO PROFIS- SIONAL. + RECONHECER QUE PELA ESCRITA PARTICIPAMOS MAIS DO MUNDO. + LER MUITO, LER DIVERSOS TIPOS DE TEXTO, LER MELHOR A CADA DIA. 4, Praficn de escrita_ (abe a) Béra desmontar de vez suas crengas inadequadas a respeito ‘de sua relagao com a escrita, empreenda uma viagem na me- méria, Lembre-se de quando aprendeu a escrever, sua escola, seus professores. Reveja todo o seu percurso escolar ¢ profis- sional, focalizando principalmente as situages de escrita que ficaram gravadas em sua meméria. Tente formular uma narra- tiva que explique ou justifique como foi construida a sua ex- 2 TECNICA DE REDACAO periéneia de escrita até hoje] Escreva um texto em primeira ‘pessoa, coloquial, informal, em tom de depoimento (talvez no formato de carta), para um interlocutor imaginario. que ‘pode ser um amigo, um professor, um analista. Releia, colo- cando-se no lugar do leitor, para avaliar se as informagdes esto compreensiveis. b) Transforme essa narrativa em um texto em terceira pessoa, no qual vocé conta toda a histéria como se fosse a de uma outra pessoa. pc) Mantenha um catlerno de anotapdes datadas de impressdes ¢ reflexdes sobre stg relacdo com 0 texto escrito; suas ob- servagdes acerca do'que escreve diariamente; suas expe- rigncias, expectativas, sucessos ¢ fracassos escolares e pro- fissionais; seus avangos & retrocessos; como vai transfor- mando seus conceitos acetea da escrita. Esse didrio pode oferecer muitas pistas para Sua trajetéria de crescimento, além de desbloquear a mente esenferrujar amio. Capitulo 2 Como escrevemos 1. Outras visbes acerca do ato de escrever o Os pesquisadores ja sabem muita coisa sobre a escrita, sobre o que acontece com a mente das pessoas durante 0 ato de escrever, sobre como as pessoas chegam a ser realmente dti- ‘mas redatoras, mas ainda é muito pouco diante do que precisa- mos descobrir. Estudos de varias areas do conhecimento nos levam a refletir sobre essas questdes: lingiiistas, psic6logos, ‘educadores, neurologistas, sociélogos, antropélogos véem a es~ rita sob seus diversos aspectos, oferecendo-nos um quadro multifacetado de conhecimentos acerca do fenémeno. ‘Um dos caminhos mais interessantes para compreender 0 ato de escrever 6 considerar os depoimentos de pessoas que es- crevem todos os dias, vivem de escrever, escrevem com desen- voltura. Observe 0 depoimento da escritora Lygia Fagundes Tellgs: | Como voeé definiria 0 ato de escrever? = Uma luta. Uma luta que pode ser va, como disse 0 poeta mas que Ihe toma a manhd. E a tarde. Até a noite. Luta que re- (quer paciéncia. Humildade. Humor. Me lembro que estava num frotel em Buenos Aires, vendo na tevé um drama de boxe. Des- liguei 0 som, ficou sé a imagem do lutador jé cansado (tantas | | was) e reagindo. Resistindo. Acertava ds vezes, mas tanto soco em vio, 0 adversério tdo dgil, fugidio, desviando a cara. E ele ali, 4 TECNICA DE REDACIO investindo, Insistindo ~ mas 0 que mantinha 0 lutador em pé? | sangue. Voltava a reagir, tha, é methor desistir, che- nus onde e se levantava de ‘alguém sugeriu que Ihe atirassem a ‘ga! Mas ele ia buscar forcas sabe hnovo, 0 fervor acendendo a fresta do olho quase encoberto pela ilpebra inchada, Figuei vendo a imagem silenciosa do lutador tério ~ mas quem podia ajudé-lo? Era a coragem que 0 sus- tentava? A vaidade? Simples ambigao de riqueza, aplauso? (..) E de repente me emocionei: na imagem do lutador de boxe via ima- gem do escritor no corpo-a-corpo com a palavra, Para gostar de ler. Vol. 9. Sio Paulo’ Editora Atica, 3% ed., 1988, p. 7. Outro possivel caminho para entender a escrita é observar- mos nossos préprios processos enquanto trabalhamos em um texto. Cada pessoa deve descobrir como procede durante a es- crita, para explorar melhor e com mais consciéncia esses proce- dimentos, seja para aperfeigod-los ou para transformé-los. escrita como processo Um caminho mais cientifico é a andlise das contribuigdes que @ lingiifstica nos trouxe sobre o ato de escrever. Sob essa petspectiva, bompreendé-se que a escrita é uma atividade que~ envoive varias tarefay, as vezes seqitenciais, as vezes simulta east ¢ vindas: comega=se uma tarefa € € pre- “ziso' voltar a uma etapa anterior ou avangar para um aspecto + que seria posterior. Todas essas agdes estio profundamente ar- ticuladas ao contexto em que se originou e em que acontece a produgdo do texto. +9” Ctexto somente se constréi ¢ tem sentido dentro de uma ‘prtica social. Assim, 0 que mabiliza 0 individuo a comegat a ‘escrever um texto é a motivagdo, & a razio para escrevé-lo: emi- tir e defender uma pao, ewvindicat um direito, expressar uma emogao ou sentimento, relatar uma experiéncia, apresentar 4 (COMO ESCREVEMOS 15 ‘uma proposta de trabalho, estabelecer um pacto, regular nor- mas, comunicar um fato, narrar uma aventura ou apenas provar que sabe escrever bem para ser aprovado numa selegdo. PRATICA SOCIAL DE ESCRITA CONTEXTO DA PRODUCAO DE TEXTO |ASSUNTO TEXTO EM PROCESO DE PRODUGAO MOTIVACAO (OU JA PRODUZIDO NECESSIDADE | | IDEIA DELEITOR| processaMENTO | ESCRITA | REESCRITA. | MEMORIA GeRAcAo | VERSOES | RELEITURAS ASSUNTO ORGANIZACAO REVISOES LINGUA GENEROS MONITORAGAO [AVALIAGAO CONSTANTE DO PROCESSO Estabelecida a necessidade de escrever, 0 processo de es- crita jA esta desencadeado. O produtor jé tem imediatamente ‘em mente algumas informagdes sobre a tarefa: + quais os objetivos do texto; + qual é 0 assunto em linhas gerais; + qual o género mais adequado aos objetivos; + quem provavelmente ue nivel de linguagem deve ser utilizado; .« que grau de subjetividade ou de impessoalidade deve - ser atingido; + quais as condigdes priticas de produgio: tempo, apre- sentagdio, formato. B sobre essa base de orientagdo que © produtor do texto vai coordenar o seu proprio trabalho, monitorando-o para que no fuja da rota e desande em outras diregbes. ft 16 TECNICA DE REDAGAO _A memiéria do redator jé esté acessada em varias vertentes | © é um fator importantissimo na construgdo do texto. Nela estdio armazenados os conhecimentos sobre a lingua ~ matéria- prima do texto -, os conhecimentos sobre organizagao dos di- -versos tipos de texto, e ainda os conhecimentos sobre os assun— tos e informagdes"que sero tratados no text. Memiia varia” roduz texto fraco, sem substincia informativa ow lingtistics.” Pp \ Uilizamios-emeriéria durante todo 0 processo de produgio do ~J Texto e, quanilo ela a0 tem estoque suficiente-pare-o-que dese- jamos;temos que procurar a informacao, 0 conhecimento para enriquecé-la. Gabriel Garcia Marquez, quando escrevetl 0 r0- mance histérico O general em seu labirinto, sobre Simon Bo- livar, no se satisfez com sua propria meméria e contou com diversos colaboradores. Nos agradecimentos, ele esclarece: historiador colombiano Gustavo Vargas, professor da Uni- versidade Nacional Auténoma do México, se manteve ao aleance do meu telefone para me esclarecer diividas maiores e menores, sobretudo as relacionadas com as idéias politicas da época. O historiador bolivariano Vinicio Romero Martine: mé ajudou de Caracas com achados que me pareciam impossiveis sobre as cos- tumes particulares de Bolivar ~ em especial seu linguajar grosso =e sobre o cariiter ¢ 0 destino de seu séquito, além de uma revi- sao implacdvel de dados histdricos na versio final. A ele devo a ‘adverténcia providencial de que Bolivar no podia “chupar man- ‘gas com deleite infantil”, pela simples razo de que faltavam ios anos para a manga chegar ds Américas. Jorge Eduardo Ritter, embaixador do Panamé na Colémbia e mais tarde chanceler de seu pals, fer varios véos urgentes 56 para me trazer alguns dos ‘seus livros inencontréveis. Dom Francisco de Abrisqueta, de Bo- ‘gotd, foi um guia obstinado na intrincada e vasta bibliografia livariana, O expresidente Belisario Betancur me esclareceu vidas esparsas durante fodo um ano de consultas telefOnicas, estabeleceu para mim que os versos citados de meméria por Bolt- var eram do poeta equatoriano José Joaguin Olmedo. Com Fran- cisco Pividal mantive em Havana as vaghrosas conversas preli- ‘minares que me permitiram formar uma idéia clara sobre o livro (que pretendia escrever. Roberto Cadavid (Argos) olingdista mais y COMO ESCREVEMOS 7 popular e prestativo da Colémbia, me fez 0 favor de pesquisar 0 |e cs trp meno ig set ale ge Pees Dov skeen de Ciéncias de Cuba, fizeram o inventario das noites de lua cheia Se a eracen rama seu labirinto. 989, pp. 268.9. Gabriel Garia Mirquez. O gen Rio de Janeiro: Reco Observe quantas pessoas 0 escritor consultou sobre deta- thes importantes para a sua narrativa. E nessa fase de pesquisa ‘que eitram a leitura, a andlise, a reflexdo, a observagio, 0 ra- : para preencher os vazios da meméria. Vocé verd nos los 3 ¢ 4 alguns procedimentos para ativar ¢ enriquecer a meméria, ‘Tomadas essas primeiras decisdes ¢ providéncias, pode- ‘mos considerar que 0 texto jé est4 sendo produzido, jé esta em processamento. Nesta etapa as pessoas tém procedimentos di- ferentes, Observe algumas dessas preferéncias (na hipétese de producdo de um texto informativo) e veja em qual delas voce se ~enquadra: . «+ fazer anotagdes soitas, independentes; + fazer uma lista de palavras-chave; + anotar tudo o que vem mente, desordenadamente, para depois cortar e ordenar; * elaborar um resumo das idéias para depois acrescentar\ detalhes, exemplos, idéias secundérias; | + construir um primeiro pardgrafo para désbloquear e de- pois ir desenvolvendo as idéias ali expostas; «+ escrever a idéia principal e as secundérias em frases iso- Iadas para depois interligi-las; «+ elaborar inicialmente uma espécie de sumério ou esque- ma geral do texto; + organizar mentalmente os grandes blocos do texto, es- crevé-lo e reestruturé-lo varias vezes. Caso voce utilize mais de um procedimento para iniciar seu texto, ou tenha um processo pessoal diferente dos que fo- 1B TECNICA DE REDAGAO jio se preocupe. O importante é co- cia de suas proprias estratégias, co- ram enumerados acima, megat a ter mais con: mhecé-las, dominé-las.

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