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b Lumenfuris|Editora wun fumenjuris.com.br tore: oso eae oso Sia Area Cone Ear ano Pat Gustav ra oA us ate Aetorase ‘Nex Mra a Ross (Gustav Sanka Goto ane tess Pesto Diego ay Capos Mele Eas Peo Mara ott ine rus Garcia. Jean ats Fernandes ‘tel bse Uae | Fy scart Fino “oipcatpe sci Marc ro Bazar dele ava Ahmed Jao Mal ea sah eto Las ibs Fedo Pice Grech) Jodo Thesianio Manges ya Aero. Vera Gurl Pra Jes nil nav ‘Steg Ani foots (Sha idl Nao Porfex Lacon Cramgn der, Vidor aro mond | Gl iano tug Bonz Sey Guta Consett tenant: Maras Jun Vile S marr cans Anaya Mantes hls Sener Nave Asai Caos Warts Sate. ‘utr 6 Bia Gatos Ste Fils Sud: Rio Jano ‘ono ~ Fund est, 36, sls 2012204, (iP: 2001-000 = ConA at (2) 2004-0805, io Pa (Dba Pun Con Vasu, 48 ‘EP oane-016 Via Games = Sia Palo - $e Tea (1) Se06-4200| (native ine teat kei. Tres ‘led Mara Gas Fran os Gre iyo) Su ead Sou seigog@umenus. con te Bo Hoon = el (3) S206-1765 ‘Sart Cana (Dupage) Catan ma Mata. cstanog neni. tr esandpale 80, vel (490812259 ALEXANDRE MORAIS DA ROSA AUGUSTO JOBIM DO AMARAL CULTURA DA PUNICAO A OSTENTACAO DO HORROR Eoirora LUMEN JURIS RIO DE JANEIRO 2014 Copyright 2014 by ALEXANDRE MORAIS DA ROSA ‘Augusto Jobim do Amaral Categoria: Direito Processual e Penal Produgio Eaitorial Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. Diagramacao: Surama Cespedes ALIVRARIA € EDITORA LUMEN JURIS LTDA, ‘do se responsabiliza pela originalidade desta obra. E proibida a reprodugéo total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto 8s caracteristicas gréficas e/ou editorials. Aviolacao de direitos autorais consttui crime (Cédigo Penal, art, 184 e 6, e Lei n® 10.695, de 15/07/2003), sujeitando-se & busca e apreensio e indenizagdes diversas (Lei né 9.610/98). Todos 0s direitos desta ediggo reservados & Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. Impresso no Brasil Printed in Brazil Dados internacionais de Catalogacao- blicagdo (CIP) a7Be Rosa, Alexandre Morais da Cultura da punigao : a ostentag3o do horror / Alexandre Morais da Rosa, Augusto Jobim do Amaral. ~ Rio de Janeiro Lumen Juris, 2014, 374 p.; 21.em, Inclui bibliografa ISBN 978-85-67595-60-3, 1. Processo penal — Aspectos sociais ~ Brasil. 2. Controle social ~ Brasil. 3. Crime Brasil. 4. Puni¢o ~ Brasil. |. Amaral, ‘Augusto Jobim do I. Titulo. coD- 345.8107 SUMARIO PARTE 1 “ A OSTENTACAO PENAL. Ms a 1 Merten - Encarceramento e Substitutes Penis “mais-valia” punitiva 1 2. Governamentalidade em Tempos Securit integracio, confinamento e controle... 3. AVontade de Punir do Populismo Penal posigdes — da democracia repressiva 4, Excursus ~ Sobre a Soberana Policia: as jornadas de junho de 2013. Referéncias Bibliograficas. PARTE 2 1. Da ardem ao caos 2. Kespera dos barbaros: ‘como 0 medo nos alimenta on 7 3. A Eficiéncia do Medd... 104 4. Aceleracio do Processo Penal. 112 5. Delaco Premiads: Terror e Surpresa 119 6. A deciso penal do juiz paranoico ea resposta garantista 123 7. Decisdo e Ideologia * 144 8. Para nfo concluir o Processo Penal do Espetéculo + 157 9. Referéncias Bibliogréficas .. 158 Alexandre Morais da Rosa" 1. DA ORDEM AO Caos © mundo € muito mais complexo e trégico do que.o senso comum teérico dos juristas apresenta. Nao acontece de maneira linear, pois 0 mundo (juridico) é ca6tico. Por sso precisamos ser menos platénicos e, assim, 0 texto que segue ao mesmo tempo em ue reconhece a contribuigo de autores, ndo pretende os enten- der como plenamente coerentes, nem quer que o nome suplante as ideias, algumas acolhidas e outras rejeitadas. Por exemplo, ainda que reconheca acerta no garantismo penal de Ferrajoi,acredito que est errado em muitos pontos’, dato erro ‘undamental —e no direito parece torcida de time de futebol, a saber, ou se torce pelo time do Garantismo, e tudo que o Ferrajoli disse esté certo, colo- cando-se etiquetas nos autores. O fato de se usar algumas nocSes, Conceitos, enfim, de trazer contribuigdes de Ferrajoli no me torna garantista. € diffcll, mas se o sujeito citar o Ferrajoll, em seguida surge um dedo apontando~e muitas vezes franzindo 0 cenho: esse é garantista. € banal e bizarra como a coisa acontece no Direito. Desde jé antecipo que concordo com alguns pontos da perspectiva de Ferrajoli, mas no posso ser chamado de garantista porque j critiquei ferozmente o Garantismo e, por ndo ser um analitico, seria Paradoxal apostar minhas fichas no garantismo,Alids, Luis Alberto Warat no prefécio da minha dissertacao ja diziaisso: “o texto apre- senta afirmagées sobre o garantismo que parecem indicar a aceita- 2 Doutor em Direito (UFPR), com estdgio de pbs dovtorament em Direto (Faculdade {de Direito de Coimbra e UNISINOS) Mestre em Direto (UFSC), Professor Agjunto de Processo Penal e do CPGD (mestrado) d2 UFSC. Professor da UNIVALL Jue de Direlto (SC), Pesquisa Judicisio, Processo e Decisio, com perspectiva transdisiplinar Coon. {dena o Grupo de Pesquisa Judielirio do Futuro (enpa) 2 FERRAJOL, Lug Ditto e Razf: teoria do garantismo penal Trad, Ana Paula Zomer et all SS0 Paulo: RT, 2002 ‘3 MORAIS DA ROSA, Alexandre, Decsio Penal: bricolage de signifcantes. Rio de Ja- ‘eiro; Lumen Juris, 2005, 93 G0 do autor; na realidade sao expresstio de uma ironia muito fina que é preciso que os leitores, sem pressa, aprendam a desfrutar.”* A proposta desse texto & muito mais castica do ponto de vista tedrico. Tomarei 0 culdado de néo atirar muitos nomes na direcdo do leitor. Além do que, parece que assistir aula na gradua- ‘s40, mestrado, doutorado e palestras, no Direito, passou a ser um arremesso de autores e ndo de ideias articuladas, sem narrativida- de, aceitando-se a aleatoriedade sem sentido ~ alids, de todos os autores. Serei, no texto, entio, muito cético no tocante as teorias gerais e também, adotarei uma forma de empirismo falsificacionis- ta no tocante ao caso penal. Alguns autores pops do Direito nao se- Bo sequer mencionados e se poderé objetar que deveria mostrar que esto errados. Entretanto, a nossa divergéncia é de largada, ou seja, os fundamentos que pensam nao so compartilhados. Repito, © uso instrumental — de ideias, conforme a teoria dos jogos dina rmicos ~ decorte do fato de que 0 exercicio da poder penal opera ‘com sujeitos que no falam a mesma lingua e ha, no campo penal, grande dificuldade de compreensao das normas juridicas aplicé- veis, para o qual remeto 0 leitor a outros escritos* Dai que no texto invocarei autores que ndo foram parte do senso comum teérico, bem assim alguns néo reconhecido pelo Mo- nastério dos Sabios. Isso pode gerar certa perplexidade. Nao posso ser mais do mesmo. Existem muitos livros do mesmo. A proposta é ser diferenciada. O senso comum tedrico se auto alimenta. Uns citam 0s outros e poucos leram os fundamentos dos fundamentos. O contetido é uma consideracao secundéria. A aparéncia e a marca = nome do autor - é 0 que importa. Os autores que prometem sucesso e a facilidade vendem mais. Simplificagées, resumos, en- fim, tudo parece mais ébvio, naquilo que chamei de Hermenéutica do Conforto, em que se realiza 0 fendmeno da toxicidade da juris- prudéncia. Normalmente embalada em papel de presente ementa, servem para 0s diversos fins. Deveria ser proibido o uso do mutatis: ‘VARAT, Luis Albert. Apresentacdo fora da rotnas. In: MORAIS DA ROSA, Alexan- 4re. Garantismo Jurdico e Controle de Constitucionalidade Matera Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, pv 5 MORAIS DA ROSA, Alexandre, Guia Compacto do Processo Penal confarme a Teoria os Jogos Rio de Janeiro: Lumen urs, 2088 94 ‘mutandis na utilizagao de julgados, afinal, o que precisa ser muda- do? O julgador precisa dizer. N3o raro se use uma decisSo que na fundamentagao diz o oposto do que consta na ementa. Com a exis. téncia de informativos, sites de busca online, milhares de publica $8es, temos 0 fendmeno da toxicidade da jursprudéncia, a saber, so tantas fontes desconexas, sem explicitagio dos fundamentos dos fundamentos, compradas pela embalagem, que o uso continuo além a dependéncia, gera 0 paroxismo do caos. Inexiste, muitas vezes, sequer, coeréncia entre as decisées, Em face das decisdes cadticas ~ sem fundamento, contraditérias e incoerentes —nao fica dificil elaborar um pseudo Manual de Penal ou de Processo Penal colacionando julgados ou fragmentos doutrinérios ad hoc. Servem como um buffet de restaurante self service’, O sujeito vai lé apenas bara justificar a decisio solipsista que ja tomou ou mesmo aderit 2 qualquer enunciado, nesse ultimo caso quando nao decide nada, ‘apenas acha a deciséo. Estagiérios (com todo o respeito) adoram dizer que iro pesquisar 0 caso. Sentam-se no computador e lan. gam as palavras chaves no site do STF, ST) ou de qualquer Tribunal , entdo, dizem: achell Disso se faz decisBes no Rrasil. E o funda mento? A coeréncia? Precisa?, respondem, O texto que segue resgata alguns autores "fracassados” e ou- tras “Jovens promessas” do Direito. Procura na literatura marginal algo que possa furar o sentido linear e pleno que engana no direito © processo penal hé décadas. Dai que recomendo cuidado com a leltura dos autores do senso comum tedrico. Mas o leitor é livre Para pensar — pensar, repito ~como quiser, até porque seguir esse caminho pode ser menos eficiente. © horror permeia o campo do direito e do processo penal A partir da nocdo de horror e sua ostentacéo, pode-se repensar a5 coordenadas em que o sistema de controle social pensado e aplicado. A onda de linchamentos, condenacées, prisées, séries de STALE, Haisin Nichols. pia do Cre Negro impact oo atamentemprovve ad. Marcelo Sel. fo Paulo Best eer, 2012p. 2Tombtn& tomar bey 2orsenta como obevo deur sim arguments stresoscloner ates "ase doquntesdeautondases moras Pormeodeoeieotn tenn ease taraguemae fr uma cedar io sonor gue ont sesponie beet ee, tie épossvelencontar ote pensdor morte que dive eatmenc cones 95 televisdo, enfim, toda uma gama de produtos da indiistria do entre- tenimento’ se baseiam nas figuras monstruosas, construidas a partir de sujeitos de carne e osso. Predadores sexuais, anormais, zumbis, fantasmas, personalidades que encarnam a maldade humana (ma- cabras, possuldas, etc.), todos fazem parte do elenco em que os programas escorre sangue apresentam. O sistema de controle social ppassou a ser, nos tiltimos anos, uma verdadeira caga as bruxas. ‘As coordenadas simbélicas que a atual geracao foi construida se deu a partir de filmes que geraram grande impacto maneira pela qual a violéncia e seus protagonistas se fazem ver. Como se a violencia nfo fosse constitutiva da sociedade e no dissesse respeito ao sujeito. Ha, por assim dizer, certa excluséo do ddio que habita o sujeito. Jean Pler- re Lebrun chega a dizer que “como seria bom para nés, se o édio no nos habitasse, se ndo estivesse em nds, se ele ndo nos tivesse construl- do. 0 que acontece é que ele nos concerne, sim, eventualmente, na medida em que podemos ser objeto ou vitima dele; que deveriamos reconhecer que ele existe, sim, é,infelizmente, que nés néo podemos impedi-lo de existir.E, se ele estivesse em outro lugar, no outro, prd- xximo ou muito longe, pouco importaria, mas néo dentro das nossas prdprias muralhas, néo na nossa prépria cidade, néo alojado em nos- 0 proprio corpo!” € a manifestac3o do édio que nos habita se faz ver na vida cotidiana (na agressividade, na célera, no tom de voz, nos siléncios, falsas amabilidades, no politicamente correto, nos pensa~ ‘mentos), nos (des)encontros com os outros, com os quais a vontade ea impossibilidade de dominar se apresenta pela via da linguagem. Com efeito, toda uma geraco acompanhou o filmes/docu- mentarios que reproduzem a intolerancia com o diferente, no raro tachado de anormal, o qual, por sua existéncia e aces, amea- {62 nosso equilibrio imagindrio de paz social. Basta ver os filmes ~ desde o Exorcista, passando por Tubardo e chegando em Tropa de Elite, por exemplo os quals reproduzem o imaginério de ameaca e apresentam a violéncia legitimada como o lenitivo coletivo. Dai que o gosto e a atracdo pelo horror si manifestadas no contexto 7 CARROLL, No8l.&filosofa do horter: ou paradoxos do coraglo, Trad, Roberto Leal Pereira. Campinas: Papirus, 1999, p. 14-15. ‘8 LEBRUN, Jean Pierre. 0 futuro do 6dlo. Trad. Jodo Fernando ChapadeiroCorréa. Por to Alegre: CMC, 2008, p. 13. 96 das audiéncias que aguardam ~ ansiosamente ~ por novos barba- £05, criando toda uma estética do horror. ‘Anarrativa do horror se dé pela distingdo entre os lados, ou seja, mocinhos contra bandidos. Flavio Kothe’ aponta que a nar. rativa trivial encena a vitéria do bem contra 0 mal, girando toda Producio sobre a mesma ténica. Essa doutrinecdo faz com que os Preconceitos e estereétipos do senso comum tenha acolhida, se. jam legitimados e auratizados, salvando-se os bons e condenando- -se 0s maus, servindo para reforcar a crendice popular e mitigar a necessidade de repensar os fundamentos dos fundamentos. O giro no sistema de controle social se deu oela encarnagdo das figuras sobrenaturais, as quais perseguem vitimas comuns e inocen- tes, assumindo aspecto realist e psicolégico do desvi. O hortor que isso proporciona causa, no piblco que se acredita a milhes de quid metros do mal, acompaixéo pela vitima e o desprezo pelo eriminoso, © medo passa a ser a pedra de toque da politica, ou seja, da arte de ‘os manter em fila. Daf o efeito normatizador do sistema de controle social. O crime causa efeitos emocionais e arregimenta o piblico em "nome da tinica saida a ser apresentada como sahadora: pena, ____Octiminoso ¢ sempre apresentacia por imagens e figuras de sénero capazes de ocasionar o consenso. Se o horror deixa os es, ectadores apavorados e é desagradével, qual a chave para se en- tender tanto interesse nele? Para responder esse questionamento, todavia, precisaremos passar por algumas mediagées e, ao final, compreender o paradoxo do crime e da punigio, apontando-se uma salda garantista, sem que seja a solucdo, mas um sendero, 2. A ESPERA DOS BARBAROS: COMO O MEDO NOS ALIMENTA. No livro “A espera dos bérbaros*™, de J.M. Coetzee, talvez por ter exercido a magistratura numa regigo de frorteira, assim como ‘9 KOTHE, Flivio Rene. Anarrativa trivial Brasil: Elitora UNB, 1994, p. 7-20, AOCOETZEE, 1.0. A espera dos barbaros. Trad. José Rubens Sicueira. So Paula: Com- panhia das Letras, 2006 97 eu, bem como por compartilhar o mal estar da magistratura, tenha tido um efeito devastador. E efeitos devastadores no so, neces- sariamente, ruins. Eles podem fazer o sujeito, enfim, assumir algu- mas responsabilidades. Essa possivel responsabllidade pelo que se passa, de alguma forma, longe dos olhos e dos ouvidos, permeia boa parte da atividade jurisdicional. Um certo “no me diz respei- to.” Justamente porque vigora a maxima: o que nao esté nos autos no esté no mundo... € as pessoas envolvidas na cena judicial no estdo nos autos; elas sofrem os efeitos. Talvez seja 0 caso de se invocar Hannah Arendt’, a qual aponta as caracteristicas do regime politico autoritério, ou seja, exting3o do pluripartidarismo, discurso Unico, burocratizacdo do aparelho estatal, represséo draconiana contra os dissidentes, pro- paganda estatal e ideolégica em massa e fomento de um inimigo qualquer como forma de legitimar o regime opressor e controle sobre a informaco, mediante restrig6es de censura e de liberdade de expresso. Com essa modulacao, assim, a esfera privada resta invadida pelo Estado, em nome do bem, do justo, da seguranca, enfim, para protesdo. Esse discurso seduz ao prometer @ massa que vive numa inseguranca imaginéria a tSo almejada seguranca, especialmente de neuréticos. Daf que Hannah Arendt ao analisar 0 julgamento de Adolf Eichmann é capaz de demonstrar o quanto a seducdo opera a partir da maxima: cumpra a lei; é seu dever. Uma adociio alienada — sem enunciagao — da maxima kantiana, Entre 0 ji dito ~ lei -e a aplicagao, um sujeito deveria aparecer. De regra é engolfado pelo simples cumprimento de normas, as quais nao Ihe dizem respeito. Entretanto, longe de se acolher essa desresponsa- bilizagdo, 0 caminho a seguir é outro. A alegagao de mero dente da engrenagem é de uma normalidade lancinante” e, ainda faz vi- TL ARENDT, rannah Eichmann em Jerusalém: um reoto sobre a banaidode do mal. $30 Paulo: Cia das Letras, 1998p. 60. A autora arma que os monstros nenistas nBoeram a ‘encarnago do ml, mas muitos deles eram apenas homens incapazes de pensar, e que ‘creditavam cumpriseus paps socaiscumprindoas les. A “falha mais especie, etam- bbém mais decisva no carter de Eichmann er sua quase total incapacidade de olhar qua ‘quer coisa do panto de vista do outro” hole seréque acontece alg similar nouccirie? 412 ROUDINESCO, Elsabeth, Por que a psicandllse? Trad. Vera Ribeiro, Rio de Jane {fo Jorge Zahar, 2000, p. 123: O crime, a barrie e 0 genocido s30 atos que fazem parte da prépria humanidade, éaquilo que é earacteristico do homem. Por estarem 98 {imas. © sueito,nesse lugar; 6 sempre responsével, como o & em momentos da vida. Trata-se de posicao subjeti i Posicdo subjetiva dos ete esas decies Dao espa deo dscasao te, 0 lvro “A espera dos bérbaros”,cabe di gem. Um magistrado leva a vida na regigo de fronteha ero if0 de fronteira, ti lamente. O exercicio do ‘concede slgum pose enn ‘cio do poder Ihe concede algui sensago de mal estarestivesse tanloquentocons, Presente, um tanto ‘ t ; quanto acomo- dade plas ceunstinias. At quecegam os ofc em brea das rbaros, os quais so eleitos pelo Império, co , Como 0 7 dem macular a ordem...0inimigoa ser combatido. Um inimigo sem fosto, sem nomes proprio, que se escondem atrés da fag sus, {entacko imaginéria deuma establidade... Ness lugar, omegamn 6s interrogatéies, as torturas, enquanto iso nosso protagonsta, SO magistrado narrador di: “Dos gritos que os pesioas ofirmam ter vide do celero depos, eu ndo ougo nade. A cata momento da. auela noite enquanto fara o que tenho de fazer, estou oerta pare o r acontecendo, e meu owvido esté ue pasa estracontece 0 est sintonizado para o na. Mas 0 celeiro (onde a 105) um eco slo com ports pecata james Milena {fie além do obatedouroe do mainko no lado sul além disso, o que u Posto avancado e depois um forte ira < 1a fronteira cres- Cay at se troy um estentamerto agro un dade de ts i feo barulho da vida, o barulho 4 que todos essas {fozem numa noite quente de verdo, no cess pose on nen inserts no cere do gbnaro humana, nk inne 0, no pada seraliminada do on Sng ea so nem co cosbuade sel na en oe eam terizaninand erase fame. mos braun eb ae fora da pulso de morte, a matscega, amas compuna ses an era Balers, Eichmann em Jersalém aio fa um mans Serpe oc rer 8 abomindvel.Examinando as =, Se exstea banalifage do mal, como mportamerte comum, mas de sso de normatdade, Nada é mals idade levada a0 extreme, Como bem 'snormas, com efeto, que multas vezes mais criminosose mais desviantes” uma loucuraassassna i cule earaceristica seria oexce roxio da patoogia do que ocuto oa norma mos, € nas Familias aparentemente mal surgem os comportamentes mais locos, 99 gar alguém esté gritando.” E conclui: (A certo ponto, comeco a de- fender minha prépria causa).” De fato, sabe-se dos horrores e das torturas. Mas nao se as vé, nem se as ouve. Os gritos so chamados no vazio, sem rostos que possam dar um sentido. Uma preocupacdo 0 affige, de leve. Daf que pergunta a0 Co- ronel Joll, o responsavel pelos interrogatérios: “E se 0 prisioneiro estiver dizendo a verdade ... mas descobre que no acreditam nele? No é uma situagdo terrive!?” No que o Coronel Joll responde: “Hé um certo tom... Um certo tom que aparece na voz de um homem que esté dizendo a verdade. Treino e experiéncia ensinam a reco- nhecer esse tom.” A fantasia construida pelo inquiridor o autoriza a torturar.... Dai que o magistrado aponta que “a dor é a verdade; tudo 0 mais esté sujeito a diivida.” € diante disso, na simples condi- 80 de magistrado, pensa: “Por qutro lado, quem sou eu para afir- ‘mar minha disténcia dele? Bebo com ele, como com ele, mostro-lhe 05 lugares, presto-Ihe toda a assisténcia que a carta de comissio- namento dele requer e mais, O Império ndo exige que seus stidites ‘amem uns aos outros, simplesmente que cumpram seu dever.” Durante o interrogatério, diz o Coronel Jol as contradides fi- caram aparentes e confrontado com as contradigbes, “o prisioneiro Jicou enraivecido e atacou 0 oficial investigador. Seguiu-se um cor- po-a-corpo durante o qual o prisioneiro caiu pesadamente contra a parede. Os esforcos para reanima-lo foram intiteis” A pergunta do magistrado se o prisioneiro estava amarrado é respondida positi- vamente. Sem mais, o magistrado autoriza o enterro. Alguma coisa no cai bem e, pela noite, busca o lugar onde esto os presos, ten- do encontrado 0 corpo duro e a crianca, ao seu lado, com fore... Nos seus devaneios sente o coragao apertar e pensa: “Jomais quis ser levado a isto. ..) Eu no queria me envolver nisso. Sow um ma- gistrado da roca, um funcionério responsdvel a servico do Império, servindo meus dias neta fronteira preguicosa, esperando para me ‘aposentar. Recolho o ditimo e os impostos, administro as terros co- ‘munais, cuido de que ndo falte nada para a guarnigéo, supervisiono 105 funcionérios juniores, que sé os unicos funcionérios que temos or aqui fico de olho no comércio, presido o Tribunal duas vezes por semana. De resto, vejo 0 sol nascer e se par, como e durmo, e estou contente. Quando morrer, espero merecer trés linhas em letra miti- 400 da na gazeta imperial. NGo pedi nada mais que uma vida tranquila em tempos tranquilos.” Mas eis que surge, do Império, a inquietaga contra os barba- ros, Da inquietago 0 magistrado nada viu, entretanto, ahistetia con- tra os barbaros surge, cresce, agiganta-se... “Nao existe mulher que viva perto da fronteira que ndo tenha sonhado com uma escura méo barbara saindo de sob a cama para agarrar seu tornozelo, néo existe um homem que ndo se assuste com visbes dos bérbaros farreando ‘em sua casa, quebrando os pratos, tocando fogo nas cortinas, es- tuprando suas filhas. Esses sonhos so consequércia de muito écio. ‘Mostre-me um exércit6'de bérbaros que entdo eu acredit.” E dai as Investigacdes do Império, marcadas pelo medo, anunciam-se. O livro apresenta outras facetas, quero, contudo, realgar 0 crescimento da angiistia, ou seja, um afeto no dizer de Lacan, nao engana. Ela se faz presente. E assim, os dias se passam... Potencia- liza-se, todavia, uma perturbaco no magistrado da roca: “Othando para ele ~ Coronel Joll ~ imagino como se sentiu. na primeirissima vez: serd que, convidado como aprendie a torce: 0 torqués ou gi- rar 0 parafuso ou seja Ié 0 que for que eles fazem, estremeceu ao ‘menos um pouco ao saber que naquele instante estava ultrapas- sando 0 limite do proibido? Vejo-me imaginanco também se ele tem algum ritual particular de purificacdo, realieado a portas fe- chadas, para habilitd-o a voltar a comungar com outros homens. Serd que lava as més com muito cuidado, talver, ou troca toda a roupa; ou serd que a Divisio criou novos homens, que conseguem passar sem inquieta¢éo do sujo para oxlimpo?” Aparentemente Fecluso em seu apartamento estaria a salvo da afetagao absurda. “Espaco € espaso, vida é vida, em toda parte é iqual. Mas quanto mim, sustentado pelo esforgo dos outros, sem vicios civilizados com que preencher meu lazer, eu mimo a minha melancolia e ten- to encontrar no vazio do deserto uma pungéncia historica especial. Fatil, indtil, desorientado! Que bom que ninguém pode me ver!” O espetéculo piblico dos prisioneiros amaldicoados pela humilha- sao coletiva nao se dé conta do patético de se prender gente com medo... “Um dos soldados explicou: quando eles viram a gente che- gando, tentaram se esconder. Alo oficial, o Exceléncia, mandou a gente prender eles. Porque estavam se escondendo.” Esse povo, diz ‘© magistrado, vive com medo de todo mundo... Tal qual o povo de aaq qualquer cidade, com medo do controle social, por suas agéncias, sempre procurando novos protagonistas que possam representar que hd de humano do medo, ‘A tentacdo de nao ver retorna e ndo se sustenta pelo apare- jento, no ato, de um sujeito: "Se eu morasse na vila dos magis- trados, na rua mais tranquila da cidade, realizando julgamentos as segundas e quintas-feiras, indo d caca toda manhé, ocupando mi- Inhas noites com os cldssicos, tapando os ouvidos para as atividades desse policial pretensioso, se resolvesse espantar 0 meu momento e me mantivesse isolado, poderia deixar de me sentir como um ho- ‘mem que, levado pela corrente, desiste de lutor, para de nadar, vira 0 rosto para o mar aberto e para a morte.” Mas isso “atrai a pior vergonha em mim, a maior indiferenca @ aniquilagdo. De alguma Jorma, eu sei demais; e desse conhecimento, depois que se foi con- taminado, parece ndo haver recupefacao.” Essa contaminagao pela angiistia impede o retorno, desde seu lugar ético, para o mesmo... Na guerra, entendida como a necessidade de impor a alguém uma escolha que de outra forma ndo seria feita, esse preco ¢ a perda dos limites simbélicos, gerando, no principio, a euforia da atmosfera de novos tempos, perdidos no real da violéncia que se reproduz no dia-a-dia e faz que 0 algoz dos barbaros seja 0 algoz de todos... A populago goza com 0 espetculo da punigio, da qual ‘no quer mais fazer parte. Rompe-se a alianga com o Império e um sortiso brota de sua boca...enfim... lembra-se que ndo hé nada de heroico no seu ato. £ julgado por sua vida particular, suas escolhas, agora 0 novo inimigo do Império... O espetaculo da punicgo: “Olho © rosto de uma menininha que esté na fileira da frente do multidéo, agarrada a roupa da mae. Seus olhos estdo arregalados, o polegar na boca: em siléncio, aterrorizada, curiosa, ela serve a visdo destes grandes homens nis sendo espancados. Em todos os rostos & mi- nha volta, até nos que esto sorrindo, vejo a mesma expresstio: nao dio, nem sede de sangue, mas uma curiosidade tdo intensa que seus corpos se rendem a ela e apenas 0s olhos vivem, drgdos de um novo e voraz apetite.” & tentativa de fazer parar o espetaculo do bem acaba com a aniquilacao do que se opée, sutile violentamen- te. Mais um bode expiatério ¢ nomeado; e a festa continua O livro que segue, de alguma maneira, faz com que nos in- terroguemos sobre o lugar ético que ocupamos na fébrica pena 102 imposta pelo Império. Orientanda pela Professora Doutora Selma Pereira de Santana, a proposta nos faz pensar até que ponto somos responséveis pelo festival de aniquilamento humano que o direito Penal promove. E a saida é sempre ética. A Justisa Restaurativa ‘como forma de mitigaco do sofrimento humans, no encontro com 0 impacto da conduta para 0 agressor e um momento de pos- sivel acerto de contras simbélico com as vitimas, talvez seja um caminho. Entretanto, para a grande massa de Eichmann’s que po- voam 0 Sistema de Controle Social, todo sofrimento seja pouco. © risco de rompermos com o saber instituico é de sermos tratados como “defensores de bandidos’, os quais merecem o mesmo tratamento. Por isso, no livro que nos serve de metafora desse prefacio, o Juiz da roca, depois de torturado, ao final, per- gunta: "Desculpe se o pergunta parece descarado, mas eu gostaria de perguntar: como senhor consegue comer depois, depois de. trabalhar com as pessoas? Essa é a pergunta que sempre fiz a mim mesmo sobre carrascos e esse tipo de gente. Espere! Escute mais um pouquinho, estou sendo sincero, me custou muito conseguir dizer isso, {6 que tenho pavor do senhor, nem preciso dizer, tenho certeza de que 0 senhor sabe disso. Acha fécil engolir a comida depois? Fiquel imaginando que dé vontade de lava: as méos. Mas Javar normalmente ndo deve bastar, deve ser necessério uma inter- vengéo sacerdotal, um ritual de limpeza, néo acha? Algum tipo de purgagéo da alma também ~ foi assim que imaginel, Sendo, como seria possivel retomar a vida cotidiana ~ sentar & meso, por exem- plo, e repartit 0 pao com a propria familinou com os camaradas? Ele se vira, mas com uma mole mao em garra consigo segurar seu braco. Néo, escutel, digo. Nao me entenda mal, néo 2stou culpando nem acusando 0 senhor, jé passei desse ponto. Néo esquega que eu também dediquei uma vida 4 lei, conheco os processos legais, sei que o funcionamento da justica muitas vezes é obscuro. Sé es- tou tentando entender, Esotu tentando entender a zona em que 0 senhor vive. Estou tentando imaginar como senhor respira, come, vive dia apés dia. Mas ndo consigo! € por isso que me perturba! Se eu fosse ele, digo.a mim mesmo, ia sentir as mdos tao sujas que isso ja me sufocar. Ele se livra de mim e bate com tanto forca no meu peito que perco o félego e cambaleio para trés. Seu filho-da-putal, grita. Porra de velho maluco! Suma! Vé morrer em algum lugar.” 4102 Essa demanda de saber como o sujeito se limpa néo faz sentido Para quem no se acha sujo, bem pontuou Hannah Arendt. Dai que sua pergunta no faz sentido, Talvez fosse melhor fazer como todo mundo faz... A culpa € do Império. Da ordem que me obriga. Dai que reflete: “Mais de uma vez brinquei com a ideia de renunciar a ‘meu posto, de me retirar da vida puiblica, de comprar um mercadi- ‘nho. Mas entéo, pensavo, alguém mais serd nomeado para sentir ‘a mesma vergonha do cargo, e nada terd mudado. Entéo continuei com meus deveres até que um dia os acontecimentos me engoli- ram.” No se fazer ver do sujeito a incompreensio dos cumpridores das normas se apresenta de maneira draconiana. Diz ele: “Essa ndo 6 a cena com que sonhei. Como de muitas outras coisas hoje em dia, me afasto sentindo-me estipido, como um homem que perdeu ‘@rumo hd muito tempo mas insiste em seguir uma estrada que no pode levar @ lugar nenhum.” De lugar em lugar o que pode, por fim, aparecer, de fato, é 0 sujeito. Que tenhamos sorte articulando nosso desejo com responsabilidade ética, 3. A EFICIENCIA DO MeDo O modo de producio capitalista foi o pano de fundo da Crimi- nologia Critica do final do século passado e precisa, talvez, de uma atualizacao decorrente da mudanca de paradigma econémico, a saber, depois da proeminéncia do Neoliberalismo & necessario (re) pensar as coordenadas de um saber que no pode responder mais, 05 sistemas bindrios em que Estado versus individuo aparecem em posigdes antagénicas. Nos dois extremos encontravam-se 0 Projeto liberal de extensio de direitos e garantais individuais e, de Outro, uma perspectiva social em que a compreensio é coletiviza- da, flexionada, tudo em nome do interesse coletivo, Logo, em am- bos pélos hd uma tensio entre a efetivaco dos direitos e garantias individuais. A novidade é o surgimento do discurso da eficiéncia, ‘manipulado pelo critério do custo beneficio, articulado pelo dis- curso da Andlise Econémica do Direito, Nesse contexto, convida- Se para cena um novo e sedutor protagonista: o Mercado" e sua 433 DUFOUR, Dany-Robert.O divine mercado: arevolugdo cultural liberal. 112d. Proc prio Abreu. Rio de Janeiro: Compania de Freud, 2008 104 aparente autonomia ideologicamente provida de um pensamento 4inico™. Dito de outra forma: como a estrutura econdmica promo. ve um giro na compreenso do Direito e Processo Penal, no mals situado na tenso Sujeito-Estado, mas garantidor da estabilidade econdmica e da possivel previsibilidade do Sistema. O crime como componente da realidade passa a ser um mero elemento conta biP* do custo pais, sem que os dilemas modernos tenham mais a relevancia de antes" A eficiéncia, agora, 6 medida por melo de resultados economicamente mais vantajosos. Desta forma, hé uma tendéncia rumo ao Direito Penal do Inimigo”, baseado no fomento de um perigosismo generalizado Impregnado no imaginatio coletivo que demanda, assim, por se. Buranga. Abre-se caminho para que Jakobs, fundamentado reto. ricamente no contrato social possa defender que o inimigo seria aquele que rompeu com as regras contraidas, justificando a visdo de ndo-membro e, por via de consequéncia, a intervencio penal busca evitar os perigos que ele representa, podendo, assim, o Fs- tado restringit para o inimigo as normas ~ garantias ~ conferides ao cidado. A Defesa Social e o direito penal do autor retornam, sob ‘nova fachada. Estabelecida a distingo entre entrecidaddo e inimi. 90, para estes, na defesa dos bons cidadios, deve-se, para Jakobs, ‘estringir as garantias penais e processuais, por isso Direito Penal -CHOHSKY Noa RAMONET pce, Comoros erent. cba, 208, 35.GIORG Alessandro de. Amis governada travds do ster penal Tra. sre Lamarto. eae ans: Revan, 2006 DIETER Maur Stegenans alte Se Atari Rode lene Revan 2013. WACGUANT, ok Pun pode aco Lamar. Rio de ani Rover, 203, {6 POBNER Achar. Eland econdmico del derecho. ead evade Suarén Ms eo: FC, 207 27 JAKORS, Gunner; CANCIO MELA, Manel Derecho penal dl enemigo, Madi Cots, 206, p47: “Quien no retain seprine cogtten secon oe Bortamiento personal na somo puede eparar st tao tno eee ue estado no debe atari ya como person, yo que delocostoneene ny derecho a1 seguridad de is demés personas.) Cute por ptiploes ore todo desiado no ofec avatia den comportamientapeton ere et Ge ser wateco como cudatano, sno dee so combatso tone oorroe ie goes "ene lugar con un leptin derecho des cudcanes en30 deena ih ce ero. erenci dels pane, noes derecho tansen espe delioe Srecnee Sl conver eleremig sexo" 105 do Inimigo. Qualquer aproximacao, pois, com os discursos da Lei e Ordem no & mera coincidéncia, dado que reeditam a necessidade de Defesa Social redefinindo os tipos penais para difusos bens cole- tivos, cuja densidade se mostra epistemologicamente impossivel, ‘embora sejam eficientes do ponto de vista da Analise Econdmica do Direito. A distin¢go entre inimigo e cidadao, contudo, é dada @ priori e, como tal, no se sustenta, pols categoriza, por qualida- des etiquetadas socialmente, o grau que o sujeito pode usufruir na sociedade. Apresenta-se como uma tarifacao da cidadania, a qual exclui, de antemio, todos os que se apresentam, de alguma ma- neira, envolvidos pelo sistema de controle social. Desde o batizado no sistema, com novos sentidos da velha periculosidade da Escola Positiva, surgem tarifacdes onde a dignidade da pessoa humana ‘do tolera™. Enfim, no se mostra possivel dentro de uma perspec- tiva democratica a adogdo de discurso que module a cidadania ou mesmo promova restricées aos Direitos Fundamentais (pois Direl- to Penal e Processo Penal so Direitos Fundamentais)®. Segue-se, assim, um movimento que se pode chamar de Neo- Penalismo. Isto porque o estabelecimento da Criminologia como campo de estudo do sujeito humano guarda vinculaco direta com © paradigma da Modernidade e do modelo de sujeito que Ihe infor- ma. De um lado se construiu uma andlise baseada nas caracteristi- ‘as internas do sujeito - paradigma etiol6gico -, no qual as causas intrinsecas eram vasculhadas e poderiam ser verificadas e trata- das, via pena. Por outro lado, diante das observacdes sociologicas, 18 BECK, Francis Rafe, Perspectivas de controle 20 rime organizadae critica 8 fe bilzac30 das garantias, Sto Paul: |BCCRIM, 2004, 19 ZAFFARON|, Eugenio Raul. O Inimigo no Dieito Penal. Ro de Janeiro: Revan, 2007; CARVALHO, Sao. Antimanual de Criminologa.Sdo Paul: Saralva, 2012 20MEIER, Julio, Estado Democrtico de Derecho, Derecho Penaly procedimiento penal In: Revista bero-Americana de Cincias Penis, Porto Alegre, 30 8.16, jlde2/2008, .1139:"La division de estatutos, uno para el cludadano y outro parael enemigo, parte dela base de a posibildad de reconoceroso diferencaloso prior de dstinguircon cer- ‘tera aambas categoras de seres humanos, esto e, algo asi como por eluniforme, como sise tratara de una guerra convencional antigua o por la camiset, tal como sucede ‘en un partido ce fbol Pero la realidad muestra que esta ina avira tajante resulta real e imposible no sélo empircamente, sino también conceptualmente.” 106 principalmente da denominada Criminologia Critica”, as condigdes do meio em que o sujeito se encontrava passaram a ganhar forca. Surgiu, assim, a compreensao da incidéncia de criminalizagées (pri- maria e secundaria), pelas quais 0 sujeito-foco do Sistema Penal & selecionado e etiquetado. Tudo isto até a tiltima década do século passado guardava muito sentido. Atualmente o foco modificou-se justamente porque o modelo de sujeito e de seu vinculo social res- taram alterados, fundamentalmente, pelo giro econémico operado pelo Neoliberalismo, Néo se trata aqui de reiterar o que foi dito pela Criminologia Radical, nem de demonstrar que a existéncia de clas- ses opera selecionand6'os criminosos. A pretensio é a de apontar 2 superacdo dessas distingBes no mundo globalitado, de risco, em ue 0 discurso tinico do Mercado transforma os sujeitos (ricos e po- bres} em sujeitos descartavels. Sujeitos Mercado-De(sa)gradaveis, simples mercadorias de consumo do Processo Penal do Espetaculo. Parece, assim, que a aplicago das categorias da Criminologia Critica, embora possa explicar parcela significativa da criminalizagao dos Pos penais ¢, principalmente, como 0 Sistema opera na protesao da propriedade privada e do contrato, com a sofisticacdo do discurso Neoliberal, pode procurar nova forma de compreensio. © Proprietério do Século XX! difuso, ou seja, néo é uma ca- tegoria estabelecida por uma classe social espectfca, basicamente porque (i) o crime passou a ser um produto e, (i) a propriedade que interessa no é mais de um sujeito, mas de estruturas econémicas. ‘A fusdo de horizontes destes condicionantes gera, no seu cimu- lo, um curto-circuito nas categorias crimtinolégicas. Ainda que se possa falar em sujeito criminoso, em processo de criminalizacio, no eterno dilema das causas, no paradigma Neoliberal, justamen- te pelo cambio epistemolégico operado (da relagio causa-efeito para a aco eficiente), a intervenco penal se situa na contenco 21 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A llusio da seguranca jardica do controle da Violéncia violencia do controle penal. Porto Alegre: Livaria d3 Advogado, 1997; BA. ATTA, Alessandro. Criminologa critica e critica do Diteto eral: introdudo& socio. logia do direto penal. Trad. luarex Cine dos Santos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1995; 8022A, Fabio da. Teoria da Pena: do discurso Juridica 3 critica eriminoléyiea, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013; BARROSO, Daniel Vegas. Cririnologia:Do Estado de Policia a0 Estado de Direito.Florianépolis Conceit, 2009; CAFVALMO, Thiago Fabres de, Criminologa, invsiblidade, reconhecimento, Rio de Janelo: evan, 2014 ang dos efeitos das acdes individuais a0 menor custo. Nao se trata de recuperar, nem de punir, mas monitorar®. A intervenc3o busca manter as regras do jogo formal do Mercado, pouco importando © que se passa com os sujeitos. Eles so convocados a fazer a mé- quina funcionar, Por isto pode ser dito que houve uma superago das categorias da Criminologia. Para se entender o que se passa, atualmente, ndo basta conhecer o que as Escolas preconizam; é preciso entender que o Estado, entendido desde Weber como 0 titular indelegével do poder de punir, passou uma procuracio aos entes privados, ou seja, foi vendido no mercado de ilusées. A pri- so virou mercadoria, trocada, claro, por seu valor de face, com direito a agées na Bolsa de Valores. Ferrajoli é preciso ao dizer que: lwinfelizmente, a ilusdo panjudicialista ressurgiu em nossos tempos por meio da concepcéo do direito e do processo penal como remé- dios ao mesmo tempo exclusivos e exaustivos para toda infragéio da ordem social, desde a grande criminalidade ligada a degeneragées endémicas e estruturais do tecido civil e do sistema politico até as transgressées mais mintisculas das inumeréveis leis que séio cada vez mais frequentemente sancionadas penalmente, por causa da conhecida inefetividade dos controles e das sangées néo penais. Resulta disso um popel de supléncia geral da fungéo judicial em relagdo a todas as outras func&es do Estado — das funcées politica e de governo as administrativas e disciplinares - e um aumento com- pletamente anormal da quantidade dos assuntos penais.”= ‘Ao mesmo tempo em que houve recrudescimento do Siste- ma de Controle Social pelo agigantamento do Sistema Penal, per- 22 DELEUZE, Giles. Postada sobre ls sociedades de control IN: FERRER, Christian (ore) lenguae libertaro. La Plata (Argentina: Terramar, 2005, p. 145-121; VIANNA, ‘Tuli Lima. Transparencia publica, opacidade privada.Rlo de Janeiro: Revan, 2007. 23 FERRAJOU, Luigi Dicltoe Ra... p. 45 26 MIRANDA COUTINNO, Jacinto Nelson de. Manifesto contra 0s juizados especias afirma que diante da opacidade do mundo articulamos trés gran- des redutores de complexidade, ou seja, nos auto-enganamos de que temos: a) a iluséo da compreenséo; a certeza ingénua de que sabemos 0 que est acontecendo em um mundo mais complicado do que percebemos; b) a distor¢ao retrospectiva: como realiza- ‘mos uma tarefa de contar o fato criminoso como se estivéssemos olhando pelo retrovisor a histéria aparenta ser mais clara e organi- zada do que o mundo de fato é; c) supervalorizaco da informaco factual: a deficiéncia das pessoas em compreenderem a complexi- dade a partir de teorias simplificadoras e platénicas. A reconstrucdo do caso penal se dé pelas narrativas dos en- volvidos — vitimats) e acusado(s) ~ e de terceiros (informantes, tes- temunhas e peritos}, bem assim por imagens (gravagdes em video, reproduces, etc.) e sons (dudio, interceptacdo de conversas) ¢ es- critos (interceptagao de dados, cartas, e-mails, etc.). Busca-se com- pulsivamente estabelecer “A” histéria, recontando como se tudo Pudesse ser, efetivamente, reproduzido no futuro. Um remake do evento, Amarrados ao pensamento causalista (causa e efeito), avessos a complexidade das verses paralelas e coerentes a0 mes- ‘mo tempo, remontam a histéria com uma boa dose de imaginario. 95 TALEB, Nassim Nicholas. A Légica do Cisne Negro: a impacto do altemente im- provivel. Trad. Marcelo Schild Si Paulo: Best Seller, 2012, p. 37 148 {sso promove a sensacdo de compreensao do ocorrido, ‘como se” 6s jogadores e o julgador passassem, dai em diante, a ser teste- ‘munhas diretas do ocorrido. No se trata mais do evento histéri- co, mas do que se fala dele, perdendo, assim, a sua singularidade. Somos treinados a dar sentido, explicar os fendmenos, acoplando tipos penais, incapazes de aceitar 0 néo saber. Recordar eventos: passados exige que 0 sujeito - testemunha, informante, acusado, vitima, perito ~ possa dar sentido ao fragmento de momentos que teve conhecimento. Dai que a meméria é filtrada e limitada, relegando 0 que néo faz sentido e se focando naquilo que possa explicar 0 ‘caso penal’. No raro se quer que a prova responda simplesmente: (no) aconteceu. Como se as demais circunstancias, fossem irrelevantes. O esforgo narrativo do declarante é sempre Fetrospectivo. Daf que uma das taticas dos jogadores ¢ inverter a ordem das perguntas, a saber, ao invés de indagar 0 sujeito na Id. . Bica linear, pede-se para que conte do final para o inicio, A istéria decorada e prenhe de sentidos pode ficar em curto-circuito, Mas sempre é arriscado e depende qual a estratégia utilizada. Especial- mente quando hd interesses na condenacao/absolvicSo, a selecio dos eventos relevantes ao lado que se pretende favorecer nio dei- xa de ser uma modalidade de dopping processual, de certa forma de trapaca. Além disso, as informacdes trazidas pelos depoentes so articuladas em arrazoados que buscam (des)confirmar as teses, apresentadas pelos jogadores e como linguagem que so, server ‘4 manipulacdo. Dai que significantes abertos — perto, longe, medo, parecido, alto, balxo, etc. ~ s80 matreiramente utlizados para de- ois servirem de material confirmatério. E 0 mundo, todavia, & vvago. Ademais, quando mais articulado o narraday, melhor aparen- tard a sedutora narrativa, a qual junta materiais de informacio e costura um sentido que joga com o imaginario de jogadores e es- pecialmente julgador. E depois hi o efeito semblante de que a de so 6 o retrato retrospectivo do que se passou, isento de auséncias e inconsisténcias. E isso preocupa. Mas seria muito complicado aos julgadores admitir que julgam sem saber, salvo aos honestos. Acontece, no raro, a Falcia Narrativa: a tentagdo por resumir, simplificar e dar sentido logico as historias estd presente no processo Penal. Os depoimentos ndo podem ser abrangentes, de regra, pede- se que o declarante fale sobre um tema especifico, uma conduta, e 149 hd selegio do que se pode falar e de como se pode falar. Muitas ve- 2e5 0 que o deciarante viu ou ouviu ndo comecou desde o inicio, mas ‘mesmo assim ele é capaz de descrever a causa — imaginada — como se tivesse ocorrido na sua presencatt. Tabeb afirma: “A faldcia nar- rativa aborda nossa capacidade limitada de olhar para sequéncias de fatos sem costurar uma explicagio nelas, ou, equivalentemente, forcar uma ligagdo légica, uma flecha de relacionamento, sobre elas. Explicagdes unem fatos. E tornar os fatos mais faceis de se lembrar; @ 05 ajudam a fazer mais sentido. Essa propenstio pode dar errado quando aumenta nossa impressdo de entendimento.” Assim o perigo da frase: agora entendi. Nesse exato momento o sujeito liga os frag- _mentos do que percebeu com uma causa e cristaliza, por assim dizer, @ histéria que explica o fenémeno. Por um milagre de reducéo de complexidade, o néio visto, nfo sabido, passa.a compor a narrativa.”>” Ainformacdo necessaria a ser usarla num jogo processual pré cisa ser buscada em terceiros. Algumas fontes de informaco so periciais e diminuem 0 trabalho. Entrétanto, no que toca 4 prova testemunhal, surgem diversos problemas. 0 fator tempo entre o testemunho e a declaracdo judicial faz com que o sujeito testemu- nhante tenha problemas de armazenamento e de indexacio, ou seja, ndo se mantém na meméria consciente muitas coisas. Os frag- mentos se perdem na maioria das vezes e se armazena 0 padréo, 0 regular, o que sempre acontece. Nao raro policiais ao serem ouvidos em juizo somente se recordam do padréo, sendo que o restante re- cebe um sonoro: nao me recordo. Néo esto fazendo pouco caso do depoimento. Apenas recordam do que ¢ padrdo. Isso é humano. Imaginemos o seguinte depoimento: os dois acusados estavam na ‘casa em que a droga foi encontrada. € verdadeiro. O mais explicado 96 TALEB, Nassim Nicholas. A Logica do Cisne Negro: impacto do altamente impro- Vvvel. Trad, Marcelo Schill Si Paulo: Best Seller, 2012, p, 102; “Racionalzagdo post hoc. Em um experimento, pscsiogos pediram que mulheres selecionassem entre 12 ares de meias-calas de ndion aquelas que preferiam. Entdo, os pesquisadores per ‘untaram as mulheresasraabes para as escolhas.Textura,sensagdo e cor estavam en tre as razbesescolhidas. Todos os pares de melat-calga eram, na verdad, idéntideos AAS mulheres ofereceram explicagdes adaptadas, post hoc. Serd que iso sugere que somos melhores em explicar do que em entender? 97 TALEB, Nessim Nicholas. A Légica do Cisne Negro: a impacto do altamente im- Provavel. Trad. Marcelo Schl, Sao Paulo: Gest Seller, 2022, p10. 150 ode ser. A droga foi encontrada no quarto onde se encontrava 0 acusado Ae suas roupas, enquanto 0 acusado B estava dormindo no quarto ao lado onde nada foi encontrado. Os fatos reduzidos podem dar a impressdo de mesmo espaco. Logo, a maneira como se faz as. perguntas e os esclarecimentos implicam em novas perspectivas e sentidos. A causalidade autoriza a construcio de uma narrative confortante em que o fluxo temporal é alinhado. Depois de assistir 20 evento criminoso, nao raro, chegam policiais, peritos, curiosos, a imprensa noticia, novas informacGes so acrescentadas a percep- 0 original e, sem que seja intencional, o sujeito vai acomodando as informagées posteriores na narrativa que rd fazer. A sequéncia de informagBes vai se enriquecendo com o que nio foi percebido, as acrescido pelas informagdes posteriores e estranhas ao tes- temunho. Nos depoimentos infantis isso € muito mais evidente. A mente & uma maquina dindmica de reescrever o mesmo", Pensar o impensado, 0 nao dito, o siléncio, compreender 0 que no se passou, o que poderia ter acontecido, a narrativa silen- closa ndo contada, esvaziar-se de informagées indteis, repetitivas, rasas e sensancionalistas. Aprender a desnarrar as verses, as hi- poteses do jogo, no julgar muito répido, dar uma chance para a narrativa oposta. Ampliar, assim, o foco de abordagem da imputa- 60 penal, ou seja, os acontecimentos anteriores e as demais ver- ses ao fendmeno podem surpreender. Se o julgador, por exemplo, id entra na partida que ird apitar convencido, 0 jogo é performati- €o. 0 jogo processual penal precisa ser auténtico. Por fim, desterrada a possibilidade de ‘neutralidade’, ou seja, do juiz PH 7, cabe dizer, com Portanova, que “A sentenca, dada a sua especialissima condig&io de exercicio de podes por quem possua @ indispensével formagio académica, tem um dever social: difun- dir 0 jogo politico no Direito. Cabe apontar 0 que entenda sejam defeitos e injusticas. A motivagto sentencial deve deixar clara a 98 TALEB, Nassim Nicholas. A Logiea do Cisne Negro: o Impacto altamente impro: vavel, Trad, Marcelo Schild, So Paulo: Best Seller, 2012, p. 109: “Assim, usamas me. ‘mérias 30 longo delinhas ceusns, evisando-as nvoluntiiaeinconscientemente. Re narramos continuamente eventos passados sob a luz do que nos parece fazer sentido l6pico, depois que tals eventos ocorrem.” Dal que se pode inventar conexBes causa, ‘aumentaranitiez de um fendmeno pelo acréscimo posterior de informactese isso ¢ lum caos discursive no campo do jogo procestual.” 151 compreensio do julgador quanto questéo ideolégica no funciona- mento da sociedade.”® Ferrajoli acode a essa percepco sem que, todavia, tenha indicado um caminho convincente, pois seu apego a seméntica o impediu de efetuar o ‘giro linguistico’. De qualquer forma; alinhou que dentre os limites da ‘verdade processual’ esté a impossibilidade de neutralidade do 6rgio julgador dado que ‘por ‘mais que se esforce para ser objetivo, esté sempre condicionado pe- las circunsténcias ambientais nas quais atua, pelos seus sentimen- tos, suas inclinagdes, suas emogées, seus valores ético-politicos. A imagem proposta por Beccaria do julz como ‘investigador imparcial do verdadeiro’é, sob este aspecto, fundamentalmente ingénua.”** De fato, nao se pode pretender um juz ‘pasteurizado de valo- res’, somente com muito esforco ilusério e sedutor, cuja imagem, todavia, Lowy destréi em passagem singular: “Liberar-se por um esforso de objetividade das pressuposicées éticas. sociais ou politi- cos fundamentals de seu proprio pensamento é uma facanha que faz pensar irresistivelmente na célebre histéria do Baréio de Miin- chhausen, ou este herdi picaresco que consegue através de um golpe genial, escapar ao péntano onde ele e seu cavalo estavam sendo tragados, ao puxar a si proprio pelos cabelos... Os que pre- tendem ser sinceramente seres objetivos séio simplesmente aqueles nos quais as pressuposigées esto mais profundamente enraizodas. Para se liberar destes ‘preconceitos’ é necessério, antes de tudo, reconhecé-los como tais: ora, a sua principal caracteristica é que ‘eles ndo sdo considerados como tals, mas como verdades eviden- tes, incontestdveis, indiscutiveis. Qu melhor, em geral eles ndo so sequer formulados, e permanecem implicitos, subjacentes a in- vestigagéo cientifca, ds vezes ocultos ao préprio pesquisador. [..] Sua pretensdo & neutralidade é as vezes uma iluséo, és vezes um ocultamento deliberado, e, frequentemente, uma mistura bastante complexa dos dois. A difusdo, pois, da neutralidade axiolégica do julgador nao passa de embuste, mito, capaz de funcionar como ‘99 PORTANOVA, Rui. As motivacdesideol6gicas da sentenca. Porto Alegre: Livara do ‘Advogado, 1997, p. 15253, 100 FERRAJOU, (vig ireto e RavBo., . 46. 101 LOWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra Bardo de Minchheusen. Tad, ‘warez Guimardes. S30 Paulo: Corte, 1998, . 3233. 152 aplacador da dimensdo politica do juridico™, deixando o julga- dor alienado tal qual ‘Truman Burbank’, protagonista da pelicula ‘0 Show da Vida’ (The Truman Show), na qual sua existéncia era artificial, um programa de TV, em que vivia num cenério perfeito, linear e falso, Sua familia, sua casa, seus sentimentos, sua situaco no mundo, as coordenadas simbélicas, nada era, enfim, verdadei ro. O juiz neutro encontra-se neste cenério de plena felicidade por acreditar que esté levando sua propria vida e aplicando a lei pura, talver precisando de uma voz, como se deu no filme, para avisar ‘0s incautos, que o cenério onde se desenrola a aco no é falso, mas, sublinhe-se, totalmente controlado. Dai que com Cappelletti, pode-se dizer que: “Se es verdad que las concepciones filoséficas. politicas, culturales e ideolégicas _Penetran, directamente o por via del derecho sustancial, en el pro- ‘ceso y en su reglamentacién concreta, imprimiéndole ciertas di- ~ recciones, significados, dessarrollos que la mera letra de la norma inal sabria revelar; si esto es verdad, entonces parece también la insuficiéncia metodolégica de cierto formalismo dogmético como el que surge a menudo de los estudios que nosostros los juristas nos son familiares."® Existe sempre interesses (ndo ditos) que ‘mexem as cordinhas’, e quanto menos ele aparece, quanto menos se sabe dele, melhor é a dominacao. “Truman Burbank’ acreditava viver sua realidade, os juizes também; e como costuma-se dizer: qualquer semelhanca com a realidade é mera coincidéncia. No filme a porta se abriu, no mundo juridico é preciso arrombé-la para que se possa sair desse ‘efeito vertigem’. O um-juie possui uma carga ideolégica inafastavel e o senso comum tedrico sé-nega. Zizek destaca bem: ‘Eles no sabem o que fazem’, e, que o lugar apropriado para a difu- so da ilusdo é na prépria realidade, no efetivo processo social, no qual @ lei é a Lei’ A pretensao formal de Kelsen na aplicagio do 102 LYRA FILHO, Roberto. Por que estudar Dreto, hoje... 9: "De toda sorte, a neu- tralidade 6 apenas um disfarce: all se esconde o canservador encabulado, que no ‘usa der o que mas he apetece (ou serd que ape-dedsse?). O que importa nao € ser neuro (se ninguém 0 € ou engajado (j4 que todos s80):¢ char oengajamento certo defendé-lo, sem frousido, nem sectarismo.” 103 CAPPELLETTI, Mauro. Proceso, deologias, Sociedad... 26:27, 41042126, Slave. Els no sabem o que fazem.. 63-64, 153 Direito nao salva mais, uma vez que como pontua’Marques Neto: “No pensamento kelseniano, por exemplo, ele supée, de um lado, {que 0 sujeito pode ser neutro e, de outro, que a linquagem pode ser pura, Ora, af faz 0 qué? Limito-me a aplicar a lei até no sentido ‘mais literal possivel, mas a lei é ndo neutra, a lei é ela prépria uma escolha entre vérias. Por que as leis so essas e ndo outras, por que elas consagram esses valores e ndo outros? ... A lei € um comando que nada tem de neutro. Daf que, se 0 Julz aplica neutramente a le, {ue néo é neutra, ele também néo é neutro. A prépria lei contamina @ neutralidade do Juiz, o que ndo quer dizer que o Juiz deve ignorar @ fei A estrutura formal do crime, com efeito, propicia que 0 raciocinio seja situado & margem do mundo da vida, com o objetivo claro de naturalizar a aplicacdo de sancdes. Assim, “obscurece o.ca- rater contingente das instituigdes juridicas, enralzadas em transito- ras formas de oraanizacdo social. Depois. este procedimento gera uma ilusdo de chistoricidade em relagéo as mesmas instituigées, enquanto as recobre com 0 manto'tedrico-dogmatico, invaridvel, ‘temporal, supostamente neutro.”% A partir dos Critical Legal Studies ~ CLS, Duncan Kennedy” romove a leitura da decisdo judicial no panorama dos EUA, no qual a distingo ideolégica entre liberais e conservadores & mar- ante, Assim, informado pela posicao ideol6gica do julgador - ator ideol6gico -, pretende demonstrar o comportamento hermenéu- tico estratégico dos argumentos. £m uma sociedade capitalista, por evidente, o interesse do direito penal é manter a estrutura de exploracdo, da mais-valia, do respeito aos contratos e do livre mer- cado™ Parece ingénuo ainda hoje acreditar na aplicaco neutra da lei, embora boa parte dos magistrados assim entenda, daf o éxito do efeito ilusério da ciéncia do direito. A seleco dos argumentos que sero utilizados é ideologicamente orientada. Duncan Ken- 105 MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. O Poder Judiiéro na Perspectiva., p50. 106 CUNHA, Rosa Maria Cardoso da. Ocaréter retérico.,p: 24 107 KENIVEDY, Ouncan. nquierda y derecho. Ensayos de teorajurdica crite. Trad, Guillermo Maro. Buenos Aires: Siglo Vintuno, 2080. 108 MORAIS & ROSA, Alexandre; AROSO LINHARES, José Manuel Didlogos com 3 Law & Economies. Rio de Janeir: Lumen Juris, 2012 154 nedy'® diz que é sempre possivel a um julgador adotar uma ati- tude estratégica para com os materiais significantes, fazendo com ue parecam algo distinto do que em principio pareciam significar (ou mesmo emprestar novos significados dentro de uma cadeia de significantes, rearticulando a maneira como so apresentados. Hé ‘sempre um espaco para manipulacao dos jogadores e julgadores entre as possiveis verses do mesmo material coletado validamen- te em um jogo processual. Isso 6 verificdvel com a quantidade de reformas de decisdes de primeiro grau, a saber, com o mesmo ma- terial significante, a articula¢do da teoria do crime, das teorias de processo, dos sentidos possiveis, modifica-se o sentido. Isso depen- de do talento e da op¢o~ mesmo inconsciente — sobre a sua posi- so no mundo em face do.direito auténtico. Entretanto, na imensa maioria das vezes, essas opcies so maquiadas em nome da neu- lade, da aplicacdo estrita da lei, quase nunca sao evidenciadas as intengées ideol6gicas e se perguntados, sorriem dizendo: ape- nas apliquei a lei em vigor. A selecdo das normas juridicas e dos fatos relevantes e provados depende de fatores extra-narrativos. Feita essa explicacéo, Duncan Kennedy" apresenta trés modelos de julz: a) 0 Julgador Ativista (restringido). A imagem proposta é a do julgador que sabe da aplicacdo de determinada regra ao caso ‘mas por nao concordar pessoalmente — ideologicamente — desloca sua narrativa para plantar um exceco. No busca desconsiderar a lei, mas sim apresentar um excecao restritiva do caso em anéli- se, crendo, sinceramente, que a decisao é a decorrente do melhor direito, Produz sentencas que formalmente so manifestagées ju- diclais defendendo seu ponto de vista, solipsita, claro, desde uma motivacao defensiva do seu argumento, enfim, constréi o senti- do do material apresentado — do qual é fiel - corroborando sua decisio, todavia. Quando nao encontra meios de apontar o caso como excecdo, submete-se ao direito, Esse modelo pode ser tanto conservador como liberal. b) Julgador Mediador: ciente da divisio ideolégica, posta-se como observador externo e busca por meio de 109 KENNEDY, Duncan. nqulerda y derecho. Ensayos de teoriajuridicaeriiea, Ted. Guillermo Moro. Buenos Aires: Siglo Vintune, 2010, p. 2. 120 KENNEDY, Duncan. liquierda y derecho. Ensayes de teoriajuridica critica, Ted Guillermo Mero. Buenos Are: Siglo Vintune, 2010, p. 38-43, 155 Direito néo salva mais, uma vez que como pontua Marques Neto: “No pensamento kelseniano, por exemplo, ele supée, de um lado, que 0 sujeito pode ser neutro e, de outro, que a linguagem pode ser pura. Ora, af faz 0 qué? Limito-me a aplicar a lei até no sentido ‘mais literal possive, mas a lei é néo neutra, a lei é ela prépria uma escolha entre varias. Por que as leis sao essas e ndo outras, por que elas consagram esses valores e néo outros? (..) A lei é um comando que nada tem de neutro. Dai que, se o Juiz aplica neutramente a le, que néo é neutra, ele também ndo é neutro. A propria lei contamina a neutralidade do Juiz, o que ndo quer dizer que o Juiz deve ignorar a lei"** A estrutura formal do crime, com efeito, propicia que o raclocinio seja situado a margem do mundo da vida, com o objetivo claro de naturalizar a aplicacdo de sancées. Assim, “obscurece oca- rater contingente das instituic6es juridicas, enraizadas em transit6- rigs formas de organizagéo social. Depois, este procedimento gera uma iluséo de ahistoricidade em relacéo és mesmas instituicdes, enquanto as recobre com 0 manto tedrico-dogmético, invariével, ‘temporal, supostamente neutro.’3% A partir dos Critical Legal Studies ~ CLS, Duncan Kennedy” Promove a leitura da decisdo judicial no panorama dos EUA, no qual a distingao ideolégica entre liberais e conservadores é mar- cante. Assim, informado pela posico ideolégica do julgador ~ ator \deolégico ~, pretende demonstrar 0 comportamento hermenéu- tico estratégico dos argumentos. Em uma sociedade capitalista, Por evidente, 0 interesse do direito penal é manter a estrutura de exploracdo, da mais-valia, do respeito aos contratos e do livre mer- cado™. Parece ingénuo ainda hoje acreditar na aplicaco neutra da lei, embora boa parte dos magistrados assim entenda, dai o éxito do efeito ilusério da ciéncia do direito. A selecao dos argumentos ue sero utilizados & ideologicamente orientada. Duncan Ken- 4305 MARQUES NETO, AgostnhoRomatho.© Poder usa ma Perspective. 50 306 CUNHA, Rosa Maria Cardoso da, O contr retéleo., 107 KENNEDY, Duncan. lnquierda y derecho, Ensayos de teria juridica critic. Trad Guillermo Mora. Buenos Ares: Sigle Vintuno, 2010. 108 MORAIS DA ROSA, Alerandre; AROSO LINHARES, José Manuel. Dislogos coma Law. 4 Economics, Rio de Janeiro: Lumen juris, 2012 154 24 nedy"® diz que é sempre possivel a um julgador adotar uma ati- tude estratégica para com os materiais significantes, fazendo com Que parecam algo distinto do que em principio pareciam significar ‘ou mesmo emprestar novos significados dentro de uma cadeia de significantes, rearticulando a maneira como so apresentados, Hi sempre um espaco para manipulacdo dos jogadores e julgadores entre as possiveis versées do mesmo material coletado validamen- te em um jogo processual. Isso é verificdvel com a quantidade de reformas de decis6es de primeiro grau, a saber, com o mesmo ma- terial significante, a articulagdo da teoria do crime, das teorias de Proceso, dos sentidos possiveis, modifica-se o sentido. Isso depen- de do talento e da op¢ao—mesme inconsciente ~ sobre a sua posi. $40 no mundo em face do direito auténtico. Entretanto, na imensa maioria das vezes, essas opcdes so maquiadas em nome da neu ‘wolidade, da aplicacao estrita da lei, quase nunca so evidenciadas as.intengdes ideol6gicas e se perguntados, sorriem dizendo: ape. fas apliquei a lei em vigor. A selecSo das normas juridicas e dos fatos relevantes e provados depende de fatores extra-narrativos, Feita essa explicago, Duncan Kennedy" apresenta trés modelos de juiz: a) 0 Julgador Ativista (restringido). A imagem proposta é a do julgador que sabe da aplicaco de determinada regra ao caso mas por no concordar pessoalmente - ideologicamente — desloca sua narrativa para plantar um excecéo. No busca desconsiderar a lei, mas sim apresentar um excegio restritiva do caso em anéli- se, crendo, sinceramente, que a decisio é a decorrente do melhor direlto, Produz sentencas que formalmente so manifestacées j diciais defendendo seu ponto de vista, solipsita, claro, desde uma Motivacao defensiva do seu argumento, enfim, constréi o senti- do do material apresentado ~ do qual é fiel - corroborando sua decisio, todavia. Quando néo encontra meios de apontar o caso como excecdo, submete-se ao direito, Esse modelo pode ser tanto conservador como liberal. b) Julgador Mediador: ciente da divisso ideol6gica, posta-se como observador externo e busca por meio de 4309 KENNEDY, Duncan, lequerda y derecho. Ensayos de teoriajuriicaertca, Trad. Guillermo More. Buenos Aires: Sigle Vintuno, 2010 . 32. 310 KENNEDY, Ouncan, Inquerda y derecho. Ensayos de teoris Juridica cries. Trad Guillermo Moro. Buenos Aires: Siglo Vintuno, 2010, 38-43, 155 sua atividade judicial o comportamento estratégico dé conclliar as vertentes, promovendo 0 meio termo. Ante os extremos ideoldg! os situa-se em posicdes moderadas, as quais poderiam ensejar a convivéncia de diferentes grupos ideolégicos. c) Julgador Bipolar: No enleio entre posigées ideolégicas, muitas vezes por deficiéncia teérica, decide de maneira conservadora e no caso seguinte de for- ‘ma liberal, sem que tenha um minimo de coeréncia. Dai que nao se sabe o que esperar dele. Sua bipolaridade decorre do fato de que no pertence ~ ou ndo sabe que pertence — a um grupo ideol6gico definido e passa a vida decidindo como bem the aprouver. Nao raro acredita, ainda (e precisamos ter cuidado com esses sujeitos) que decisdo vem de sentire, tio bem criticado por Lenio Streck™. No Brasil poderia ser chamado julgador Maria-vai-com-as-outras. 8. PARA NAO CONCLUIR © PROCESSO PENAL DO ESPETACULO O imaginério preside a légica contemporanea, apontada como do espetaculo, por Debord, em que o crime passa a ser um pas- satempo, uma programacao didria, modalidade de entretenimento. © triunfo do populismo (mididtico e politico) em nome do combate ‘a0 mal e da crueldade, justamente os fomentando. A construcio de toda uma mistica salvacionista a partir da selego dos casos em que havera consenso pela pena. Um espetéculo Kitsch’ em que a su- perexposi¢éo, a superexcitagdo, agucam a expectativa do préximo episédio, assim como as séries de Hollywood. Futilidades embala- das em papel de presente de informaco coletiva. No imbricamento entre midia (que busca lucros), instituigdes (que buscam legitima- $0) e agentes piblicos e acusados (ambos buscando seus 15 minu- tos de fama, de ver e ser visto perante o seu grupo de reconheci- 114 STRECK, Lenio Luz, seo: fcliadaalan-maskn-abvigancey Costa em 07032008 112 DEBORD, Guy. A sociedade do espetécul, Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, 313 MOLES, Abraham, 0 Kitsch: a arte da Felidade. Trad. Sérglo Miceli Séo Paul: Perspectiva, 2001. 156 mento) 0 Processo Penal do Espetéculo serve para distrair, provocar interesses e emocionar o publico, diz Susca, “estabelecer com este uma relagéo empéttica, mobilizar seus processos de identificacéo e entrar em contato de modo biunivoco com seu imagindrio.”™* A juncdo entre a arte de fazer andar em fila — politica — o di- reito penal encontra, na midia delivery, seu sintoma. A promessa da sseguranga e felicidade é mostrada de maneira abstrata e etérea, por meio de diversdo e aparente felicidade. Essa grelha teérica implica, muitas vezes, atores juridicos, sem que se deem conta de que algo vai mal, afinal sempre foi assim. Por isso a necessidade de se repensar ‘as coordenadas em que foros ensinados a compreender o direito e, caso tenhamos coragem, de as rever. As estratégias de seduco apon- tadas pelo sistema de pena e punicdo precisam ser revistas e assumi- das ideologicamente, dado que a ilusdo da Verdade Real e da aplica- fo neutra da le, pelo pequeno trajeto apresentado, desfizeram-se. Postar-se como defensor de garantias individuais passa a ser uma postura de exceco, quando na verdade, é o verdadeiro papel do Poder Judicidrio, ou seja, sua fungdo contramajoritaria. O crime passa a ser a diversao de um povo jogado na inautenticidade e que precisa ser alimentado, alids, avidamente. Pena e prisio passam a ser as medidas solicitadas e a magistratura morre de medo de néo julgar para torcida, para 0 povo que canta e sorri pedindo puni¢o, linchamento, dado que seriam decis6es impopulares. Criam-se fi- guras miticas ~ e no somente os nomes das operacées da Policia Federal —as quais procuram relacionar sua aura com a da salvacao. ‘A imagem é do sujeito que em nome do coletivo aceita flutuar so- bre as normas, de maneira brute, ilegal, grosseira, encarnando a figura do sobre-a-lei em face dos fins a que se destina. O efeito di- vertimento ao piiblico é manifesto. Ndo se pode fazer um proceso penal sério adornado pelo populismo. Entretanto, atende ao im- erativo da massa que quer gozar, pela imagem que acalenta seu ‘mal-estar constitutivo, criando, assim, toda uma erdtica entre lider piblico. O populismo premia o agente enquanto imagem, como @ aura, com 0s atributos positivos, que poderd salvar. E a possibil dade de um salvador movimenta a massa. Nao fosse um simulacro ALESUSCA, Vicenzo, Nos limites do imaginério. O Governador Schwarzenegger € os ‘Telepopulistas. Tra. Tals Ferreira. Poro Alegre: Sulla, 2002, p. 34 157 produzido para atender interesses outros, dado que reproduzem 0 idedrio do status quo. O direito penal sabe-se, numa sociedade capitalista, defende o capital. Logo, os salvadores so, no fundo, defensores travestidos do capital. Em nome do bem manipulam a inseguranca constitutiva do sujeito. Com isso 0 modelo cria novos personagens que, por seus fingimentos, tornam-se sedutores da prometida seguranca. Encantam, distraem e apresentam as mes- mas respostas de ontem, com nova roupagem: recrudescimento do sistema penal. Susca afirma: “Os telepopulistas ascendem to rapidamente e com vastos ecos sociais ¢ mididticos ao palco da politica quanto mais suas frases ressonem cheias de misseis des- trutives nos confrontos com a ordem instituida. O sucesso deles é inversamente proporcional 6 graca de suas piruetas, 0 mode- rago de seus discursos e 6 homogeneidade que manifestam nos confrontos de estilos, de culturas, e dos conteidos caracterizantes das elites hegemonicas. Sao, dese modo, expressbes espurias de ‘anomia social pura, que escolhe sua monstruosidade para de des- vencilhar do asco e da desconfianga da ordem ética e estética dos sistemas de poder. Espaihar imundicie que equivale a comprometer 2 equilibrio e atrapalhar a harmonia ficticia construida na pele das multidées.”"* € 0 triunfo do Trash no Direito. 'N3o pretendo, por fim, comprovar por argumentos que apresen- to. Acredite se puder. Alguns esperam um ciborgue imaginario que nos propicie seguranca contra 0 édio que nos habita, entretanto, ele nos habita. Diria 0 Exterminador do Futuro: “Hasta la vista, baby!” 9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusdo da seguranga juridica: do controle da violéncia a violéncia do controle penal. 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O sucesso deles é inversamente proporcional @ graga de suas piruetas, a mode- ragéo de seus discursos e & homogeneidade que manifestam nos confrontos de estilos, de culturas, e dos conteuidos caracterizantes das elites hegeménicas. Séo, desse modo, expressées esplirias de ‘anomia social pura, que escolhe sua monstruosidade para de des- vencilhar do asco e da desconfianca da ordem ética e estética dos sistemas de poder. Espalhar imundicie que equivale a comprometer © equillbrio e atrapalhar a harmonia ficticia construida na pele das multidées.”"* € 0 triunfo do Trash no Direito, Nao pretendo, por fim, comprovar por argumentos que apresen- to. Acredite se puder. Alguns esperam um ciborgue imaginério que nos propicie seguranca contra o édio que nos habita, entretanto, ele nos habita. Diria 0 Exterminador do Futuro: "Hasta la vista, baby!” 9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusdo da seguranca juridica: do controle da violéncia a violencia do controle penal. 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