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EXCELENTISSIMO SENHOR DEPUTADO FEDERAL CORREGEDOR DA CAMARA DOS DEPUTADOS. MD. CLAUDIO CAJADO. ROBINSON SANTOS ALMEIDA, brasileiro, casado, engenheiro elé- trico, portador da Cl n° 0313457352 — SSP/BA e CPF n? 364.649.455-72, atual- mente no exercicio do mandato de Deputado Federal pelo PT/BA, com endere¢o na Camara dos Deputados - Anexo Ill - Gabinete 576 — Brasilia (DF), vem a pre- senga de Vossa Exceléncia, nos termos do artigo 37 da Constituigio Federal, InstrugSo Normativa n@ 4, de 2015 (Corregedoria Parlamentar) e artigos 32 e 52 do Cédigo de Etica e Decoro Parlamentar da Camara dos Deputados, propor a seguinte REPRESENTACAO PEDT TOTO ES TOSS ih BARLAMERTA O3 1 Zolyes Mh Contra o Sr. Deputado Federal Arthur Maia — PPS-BA, tendo em vista as razdes de fato e de direito adiante delineadas. Breve sintese dos fatos. O Poder Executive encaminhou a Camara dos Deputados a Pro- posta de Emenda Constitucional — PEC n° 287/2016, autodenominada Reforma da Previdéncia, atualmente em discussdo e debate em Comissdo Especial da Camara dos Deputados, que tem sob sua relatoria o ora Representado. Dentre as diversas alteragdes veiculadas na PEC, tudo em detri- mento do interesse publico e do direitos dos trabalhadores, estao as seguintes modificagdes: a) FixagSo da idade minima para aposentadoria de homens e mu- Iheres em 65 anos, inclusive aos trabalhadores rurais; b) Fim da aposentadoria por tempo de contribui¢do; c) ExtingSo da reversibilidade das cotas nas pensdes e desvincu- lag8o do valor das pensdes do salario minimo; d) ExtingSo da paridade entre ativos e inativos e extingdo da apo- sentadoria especial por atividade de risco, entre outras madifi- cagdes, A proposta cria ainda uma regra de transicao entre aqueles que jd se encontram vinculados ao sistema previdencidrio, de modo a penalizar quem possui idade inferior a 50 (cinquenta) anos, no caso de homens e 45 (quarenta e cinco) anos, entre as mulheres, inviabilizando, na pratica, doravante, 0 pro- prio alcance do beneficio previdenciario de aposentadoria. Tem-se, nesta realidade, que a reforma foi divisada em parte, nio para atender ao interesse puiblico da sociedade e do Estado brasileiro, mas para privilegiar grandes grupos econdmicos, integrantes do sistema financeiro naci- onal, que poderdo ofertar planos de previdéncia complementar e que certa- mente serao alternativas a que acorreram grande parte dos brasileiros, como alternativa para que se tenha minimamente, na velhice, renda que possa fazer face aos desatios e aos custos inerentes a terceira idade. Verifica-se, desta feita, que a reforma atende muito mais aos inte- resses econdmicos de alguns grupos financeiros (bancos) do que ao interesse publico vislumbrando pela sociedade brasileira. Agrava essa realidade aqui descortinada, o fato de que a proposta de reforma da Previdéncia jamais foi discutida com a sociedade brasileira, tendo sido gerada de forma aligeirada, no gabinete da Secretaria de Previdén- cia do Ministério da Fazenda - apés a sintomatica extingdo do Ministério da Previdéncia Social pelo mesmo governo como um dos seus primeiros atos desde a tomada de poder pelo afastamento da presidenta eleita - apenas com a par- ticipaciio dos representantes de bancos e de fundos de previdéncia privados (doc. 1), 0 que denota, ao fim e ao cabo, o desvio de finalidade publica, da pré- pria proposta de emenda constitucional 7 wept I< Dos Impedimentos do Deputado Representado com a Titularidade da Rela- toria da Comisso Especial de Reforma da Previdéncia. Com efeito, afirma-se que que o Deputado Representado nao so- mente ndo deve figurar como relator da proposta de emenda constitucional, como também a sua manutengdo neste cargo pode vir a tipificar direta violago ao Cédigo de Etica e Decoro Parlamentar da Camara dos Deputados. Eo que se passa_a demonstrar. Vela-se Senhor Corregedor, que uma das principais justificativas apresentadas pelo Governo Federal para entabular a denominada “Reforma Previdencidria” é a existéncia de um suposto déficit no Sistema, que se agrava pela elevada inadimpléncia, grandemente exacerbada pelos devedores pes- soas juridicas de direito privado A propésito do que se afirma, traz-se 4 baila matéria publicada em 11.03.17, do Jornal Folha de Sao Paulo, por intermédio de seu sitio UOL (doc. 2) em que informa que o “Relator da Reforma da Previdéncia tem empresa na lista de devedores do INSS”. E importante afirmar, nesse ponto, que dados do préprio governo federal divulgados em fevereiro do ano em curso, demonstram que apenas 500 empresas devem um total de R$ 426 bilhdes ao INSS, quantia quase 03 vezes maior que 0 total do suposto déficit existente em 2016, na ordem de 149,7 bilhdes de reais. Segundo a publicaciio referenciada, o relator da Reforma da Pre- vidéncia, ora Representado, é sécio de uma empresa que estd na lista de deve- dores do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). O débito, estimado em RS 151,9 mil, se refere a tributos previdenciérios no pagos por uma distribui- dora de combustiveis da qual Maia é sécio no interior da Bahia (...). Ora, conquanto o montante da divida da empresa do Deputado representado se mostre relatividade simples quando confrontado com o total das dividas inadimplidas pelas 500 maiores empresas, tem-se claramente que 0 Deputado, na condigao de devedor da Previdéncia Social néo tem condi¢ées de isenciio, data vénia, para continuar @ frente da relatoria da Comissdo Espe- cial de Reforma da Previdéncia Social, legitimado exatamente pelo discurso ofi- cial de que a Reforma é necesséria para acabar com o déficit existente, quando se vislumbra, claramente, que ele integra 0 rol dos responsaveis pelo “rombo” previdencidrio, ou seja, faz parte do seleto grupo econémico que deve quase 500 bilhdes & Previdéncia Social Ademais, ao conduzir os debates oficiais, na defesa da proposta entabulada pelo Poder Executivo, tanto 0 relator, quanto os demais defensores da proposta, transferem a responsabilidade pelo déficit (dos grandes e médios grupos econémicos) para os trabalhadores e para a sociedade em geral, difi- cultando ou quigé inviabilizando 0 gozo futuro dos beneficios da previdéncia social, Por outro lado, o mesmo sitio UOL, em edigao de 09.02.17, in- forma que o relator ora Representado recebeu R$ 300 mil de empresa ligada ao sistema de previdéncia privada. Afirma o periddico, que o deputado Arthur 5 Maia (PPS-BA) recebeu duas doagdes da Bradesco Vida e Previdéncia nas elei- 96es de 2014, totalizando RS 299.972,00, sendo este o montante correspon- dente a 8% de tudo que o deputado declarou na campanha. (doc. 3) Observa-se uma Reforma Previdenciaria cujo texto foi entabulado exclusivamente pelos e para os agentes do mercado bancario (planos de previ- déncias privados ofertados pelos bancos e financeiras) e, de outro, a indicacSo de um relator da matéria na Comissdo Especial da Reforma da Previdéncia, cuja campanha eleitoral também foi financiada, em grande parte, pelas pessoas ju- ridicas que sero, em tese, beneficiadas pela Reforma da Previdéncia pelo Re- presentado relatada. Trata-se de clara violagao ao principio da moralidade e da impes- soalidade e, nessa quadra, pode se divisar ofensas 3s regras do decoro parla- mentar, consoante se indica em seguida ll ~ Da violacg&o ao texto Constitucional e ao Cédigo de Etica da Camara pelo Representado. Com efeito, 0 artigo 37 da Constituico Federal, estatui o seguinte: “Art. 37. Aadministracao publica direta e indi- reta de qualquer dos Poderes da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios obedecera aos principios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia e, também, ao seguinte” Ora, 0 motor da aco administrativa, nas palavras de Jean Riveiro, citado por Romeo Filipe Bacelar Filho, "é essencialmente desinteressado: é a prossecucéio do interesse geral, ou ainda da utilidade piiblica, ou, numa pers- pectiva mais filasdfica, do bem comum" (In: Principios constitucionais do pro- cesso administrativo disciplinar. Sdo Paulo: Max Limonad, 1998. p. 175). Na medida em que o relator da Reforma da Previdéncia, feita para e pelos agentes do mercado de previdéncia privada é um dos beneficidrios de recursos de campanha origindrios desses agentes econdmicos e um dos cola- boradores do déficit da previdéncia, através da inadimpléncia de suas empre- sas, hd uma verdadeira ofensa ao postulado da impessoalidade na assun¢3o e manutencao da relatoria pelo Representado. A pratica revela ainda, parcial desprezo pela moralidade publica. Segundo a hoje Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmem Lu- cia Antunes Rocha, a moralidade administrativa “é 0 principio segundo o qual o Estado define 0 desempenho da funcéo administrativa segundo uma ordem ética acordada com os valores sociais prevalentes e voltada a realizagdo de seus fins. Esta moral institucional, consoante aos pardmetros sociais, submete o ad- ministrador piiblico” (Principios Constitucionais da Administraco Publica, Ed. Del Rey, 1994, p. 193). Assim, a pratica do administrador publico hd de ser ori- entada pelo acatamento desse principio, por um comportamento virtuoso, mar- cado por uma conduta conforme a natureza do cargo por ele desenvolvida, dos fins buscados e consenténeos com o Direito, e dos meios utilizados para o atin- gimento destes fins (idem, ibidem, p. 193). Desse modo, a continuidade do Representado a frente da Relato- ria da Comissao Especial da Reforma da Previdéncia viola os principios da mo- ralidade e, substancialmente, da impessoalidade administrativa. Amanutencao da relatoria pelo Representado configura, ainda, vi- olacdo do Decoro Parlamentar. Com efeito, 0 Cédigo de Etica e Decoro Parla- mentar da Cémara dos Deputados prescreve o seguinte em seus artigos 3° © “prt, 32, Sdo deveres fundamentais do deputado: | Promover a defesa do interesse puiblico e da soberania nacional; IV ~ exercer 0 mandato com dignidade e respeito a coisa publica e & vontade popular, agindo com boa-fé, zelo e probidade; Art. 52, Atentam, ainda, contra o decoro parlamentar as seguintes condutas, puniveis na forma deste cédigo: Vill — relatar matéria submetida & apreciacéo da Camara dos Deputados, de interesse especifico de pessoa fisica ou uridica que tenha contribuido para o financiamento de sua campanha eleitoral; Veja-se que a situacdo fatica e juridica do Representado subsume- se perfeitamente a vedac3o insculpida no inciso Vil, do artigo 5° do Codigo de Etica e Decoro Parlamentar da Camara dos Deputados. E inconteste que tendo recebido vultosos recursos de campanha dos conglomerados financeiros diretamente interessados na Reforma da Pre- vidéncia, no poderia o Representado, sem a isengdo que a sociedade almeja, ser designado ou, nesse momento, continuar a frente da relatoria da matéria. Em sintese, afirma-se que a manuteng3o do Representado no cargo de relator da reforma da previdéncia conflita com suas atribuigdes éticas e de decoro e enseja, em nossa avaliacio preliminar, a abertura de procedi- mento ético preliminar junto 4 essa Corregedoria, a fim de que os fatos sejam amplamente esclarecidos e, ser for 0 caso, as providéncias pertinentes adota- das. IV = Do pedido. Face ao exposto, requer-se: a) Sejao Presidente da Comisso Especial de Reforma Politica, Se- nhor Deputado Federal Carlos Marun, suscitado por essa Cor- regedoria, no sentido de afastar, por incompatibilidade com a fungao, o atual relator da Comissao de Reforma Politica. Termos em que Pede e espera deferimento. Brasilia (DF), 14 de marco de 2017. Deputado Federal —PT/BA 10

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