EDUCERE. 2013 J Seto ntennaconas o€ rePaesentages Soci, [V7 SEMINAR INTERNAGONAL SOBRE PROFSIONALZAGIO. SUBIETMIOADE E EDUCAGAO ~ SSS DDOCENTE ~SIPD/CATEDRA UNESCO Pontificia Universidade Catélica do Parand . Curitiba, de 23 a 26/9/2013, O BABADO DO XIRE E DA GIRA: GENERO E DIVERSIDADE SEXUAL NAS RELIGIOES AFRO-BRASILEIRAS SILVA. R. F.! “SEED” Grupo de trabalho ~ Ensino religioso sncia Financiadora: nao contou com financiamento Resumo texto abordara um dos temas mais debatidos em ambito politico e religioso na atualidade. ‘As questdes relacionadas as diferengas entre os géneros ¢ a diversidade sexual e a relagaio desses sujeitos dentro das religides afio-brasileiras, mesmo diante da predominancia de prineipios da colonizagao portuguesa do catolicismo, essas discuss6es ainda causam muitas diividas, precisando ser contextualizadas diante de tantos atos de preconceito e discriminagao que atingem mulheres, travestis, transexuais e homossexuais em nossa sociedade ocidental contemporanea, com base em textos da Biblia cristae sem findamento legal. Face a essa problematiea, Ruth Landes (1947), aponta que o Candomblé tem origens matriareais, embora © homem tenha uma relevante importincia, Por esse motivo, nos rituais do Candomblé no s6 na tradigao Yorubi, mas também nas de Caboclo, que € 0 culto a Orixds e entidades de aneestrais amerindias e na Umbanda, a cosmovisio africana esta embutida, e as pessoas so olhadas a partir de suas personalidades e de seu compromisso com a religido e néio a partir de seus Orgios genitais e xotulos pré estabelecidos por nonmas hegemonicamente heterossextais. A nogio de pecado religioso € comum no judaico-cristianismo que nao existia da mesma forma em Africa, consequentemente influenciou as religides afro-brasileiras, ¢ isso se reflete na no condenagio da orientagao sexual e identidade de género dentro do Candomblé e da ‘Umbanda. Dentre as diversas consideragdes, cabe ressaltar a importante presenga da mulher nos cargos de lideranga nas religides afio-brasileiras, bem como, o ambiente igualitario que estas proporcionam. As fontes consistem em Leis, textos extraidos de sites da internet, em pesquisas, em livros e em documentarios. Palavras- Chave: Religides Afio-brasileiras. Discriminagao. Mulher. Homossexualidade. Introdugio E nitido para a sociedade que toda/o a/o sujeita/o que se apresenta diferente das normas de conduta, postura e religiosidade impostas desde a colonizagio portugnesa do ‘Professor da Rede Publica Estadual de Educagto do Parané, Licenciado em Matemética, Teendlogo em Processos Gerenciais, Pés-graduado em Psicopedagogia Clinica © Institucional, Pos-graduando em Educacao ‘Matemética Comparada, Bacharel em Teologia — Livre, Mestre em Teologia — Livre.29149 catolicismo no Brasil, sofre das mais variadas formas de discriminagao, violéncia e preconceito As nogdes de moral que vieram de uma cultura enraizada nos prineipios judaico- cristios herdadas da Europa deram origem a esta forma de lidar com a sexualidade. como sendo permitido apenas com o consentimento da Igreja através do casamento entre homem e mulher. Segundo o site da Revista Epoca, uma pesquisa do IBOPE faz revelagdes importantes sobre mudangas que a sociedade est passando em respeito as doutrinas da Tgreja Catélica: ‘A nisioria dos jovens catdlicos, entre 18 © 29 anos, acha tudo isso © mais ainda Dizem que, mesmo praticando © oposto do que a doutrina prega, sto bons catélicos. Ea Tareja, na opinito deles, que esta atrasada. Essa é a conclusio de uma pesquisa exclusiva do Ibope. realizada a pedido da ONG: Catélicas pelo Direito de Decidis. ‘com 1,268 jovens catélicos em 315 municipios. Ela revela que a lereja prega uma ‘coisa e os jovens fazem outra: $8% acreditam que uma pessoa pode usar métodos anticoncepeionais e continuar sendo boa catélica; 96% stio a favor do uso de camisinha para evitar gravidez 2 doengas sexualmente transmissiveis; 79% discordam de fazer sexo s6 depois do casamento. (BRUM; SANCHES, [2012?]) Jesnitas se basearam na moral sexual determinada pelo catolicismo, que considerava a homossexualidade como a doenga da anormalidade, segundo a biblia cristi, eram considerados atos sexuais contra a natureza humana, conforme ¢ relatado em Levitico, 18. Criou-se uma légica simples, mal fundamentada de que 0 sexo s6 pode ser concebido para gerar filhos, onde o prazer e as paixdes so consideradas como pecado. Até hoje, esta ‘mesma regra 6 valida, tanto para homossexuais como para heterossexuais com o mesmo peso de pecado, mas a sociedade hipécrita condena apenas 0s atos sexuais cometidos entre pessoas do mesino sexo. Até 0 século XIX a palavra mais utlizada para designar as relagies entre pessoas do ‘mesmo sexo era a expressto latina sodomia, que se origina do ralato do Antigo ‘Testamento no Livro do Génesis (PRESTES: VANNA 2007, p.316) Todo ato sexual que nao tinha por finalidade a procriagao, era condenado. ‘No Brasil e em outras localidades da Ameérica do Sul meridional, antes da chegada dos europeus, existiam relagdes homossexuais entre aborigenes brasileiros que eram socialmente aceitos. “Entre os Tupinambas, que ocupavam a maior parte da costa brasileira, os indigenas gays eram chamadas de tibira, e as lésbicas de cacoaimbeguira”. Mott, (1994. p.4)29150 Amerinios lusutiosos, colonos insaciéveis, newzos Tascivos, mulatas desinquietas, seuhores desregrados, sinhis enciumadas, o pecado estava em todas as gentes ¢ lugares. A todos, sem excegto cabia portanto intiidar, ameagar,casigar~ foi o que pensaram os seguidores de Trento no ultramar portugués. (VAINFAS,1989, p. 38) Nesta pesquisa, verificamos que o candomblé sempre foi uma forma de resisténcia cultural perante aos valores morais “predominantes dos brancos europeus aos mecanismos de dominagao do cristianismo que marginalizou os negros e os mestigos mesmo apés a aboligaio da eseravatnra”. (Prandi, 2004 p.1). © candomblé tonou-se uma religito que permite possibilidaces de uma universalidade e de igualdade perante as diferengas. Festas religiosas, como as de Iemanja e de Oxum que sto amplamente cultuadas no pais bem como as demais festas ou formas de manifestagao cultural, incluindo as paradas da diversidade, sto rebatidas e sofrem toda demanda de ataqnes de emissoras de TV e lideres religiosos. Fica nitida a necessidade do reconhecimento destas manifestagdes por parte do poder piiblico, que tende, por exemplo, a dificultar o acesso dessas manifestagdes aos pontos mais valorizados das cidades. Por muito tempo. neste pais, alimentamos o furor de um racismo hipéerita fazendo de conta que isso nao existia por aqui, finginda que nao temos “problema racial” Hoje, poucos apregoam a “democracia racial brasileira”. Mas agora nos defrontamos ‘com um triste casamento de racismo com intoleréncia religiosa. Ora, convém, Iembrar que racismo é crime e intolerincia religiosa também, Representam um desacaro a nossas leis maiores, a comegar pela prdpria Constituigao Brasileira (MARTINELLI, 2012), E preciso que aqueles sujeitos a discriminagio, seja por orientagio sexual, por identidade de género, racismo, sexismo, ¢ a intolerincia religiosa, se unam, com o compromisso de luta pela valorizagao de sua identidade religiosa ¢ cultural e, a garantia de direitos humanos fundamentais como educasio, satide, exercicio da cidadania e a seguranga com estratégias que possam mobilizar nossos governantes para o reconhecimento dos festejos religiosos e manifestagdes culturais no calendario das cidades. A Homossexualidade nas Casas de Axé O relacionamento entre a homossexualidade e a religido varia de um lugar para outro e de épocas para épocas, Nem todas as religides reprovam abertamente a homossexualidade. Algumas simplesmente omitem consideragdes a respeito.29151 Conforme Oggioni, 2013, em sua pesquisa, nas igrejas com maior mimero de figis em diferentes linhas doutrinrias, levando em conta dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica IBGE podemos ter uma base de como o fato é tratado por estas Na Assembleia de Deus, a igreja evangélica pentecostal mais representativa no pais, com mais de 12 milhoes de fieis, a doutrina & notoriamente contrivia a homossexualidade. Em um artigo assinado pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convencto Geral das Assembleias de Deus no Brasil, publicado na pagina da igreja na intemet, a homossexualidade ¢ colocada como “uma perverséo saténica dos instintos sexuais do ser humano”. Para o lider, “A Biblia nao classifica a homossexalidade como doenca qualquer. pelo contratio, firma claramente que se trata de uma deliberada desobedigncia Deus e aos seus ‘mandamentos”, esereveu (OGGIONT, 2013). Ao longo da historia, o sexo entre pessoas do mesmo sexo (especialmente homens) era tolerado e também instituido em rituais religiosos da Babilénia e Canad, além de serem enaltecidos na religido da Grécia antiga. A mitologia grega ¢ uma rica fonte de histérias de amor e sexo entre figuras do mesmo sexo. Na religido mugulmana em paises arabes a homossexualidade é punida com a morte. Ja na Turqnia, podem até frequentar uma Mesquita, desde que nao sejam maltrapilhos. Segundo Oggioni, (2013): © Islamismo — com pouco mais de 35 mil praticantes no Brasil — também é catezorico ao condenar a homossexualidade. O sheikh Mobamad Al Bukai, diretor josos da Unito Nacional Islimica, afirma que alcorio. livro sagrade dos mugulmanos, considera a “pratica” proibida. Para ele, os gays precisam de instrugio, mas sem preconceito com o cidadio. “Nio podemos diseriminar. ‘Temos que ajudar e orientar essas pessoas”. diz Al Bukai (OGGIONT, 2013). ‘No Brasil, este tema é muito debatido entre religiosos de todo o pais. Apenas religides como o Espititismo de Alan Kardee, a Umbanda ¢ Candomblé, que acreditam no espizito (que no possui forma nem sexo), conseguem tratar de forma simples questdes como esta No espiritismo de Allan Kardee, cada qual pode usar seu livre arbittio, Nao existe nenhuma oposigao para que homossexuais frequentem suas reunides Deus criou espiritos e estes nao tem sexo. Entao, tanto podemos encamar em um corpo masculino como feminino. Quando estamos deseneamados, no plano spiritual, geralmente, conservamos a aparéncia da titima encamnasao. Muitos optama pela aparéncia da encamagao que foi mais marcante, Quando estamos encamados, ‘nfexpretamos papeis, como artistas num filme on novela. Um homem, por exemple. ‘mao Ehomem., ele ESTA interpretando papal de homem. porque vaste um corpo smasculino, Assim ocorre em relagéo a mulher. Na préxima encamnacao nao sabemos em que sexo reencamaremos. (Grupo de Estudo “Allan Kardee”, 2010).29152 A maioria das igrejas evangélicas pentecostais e fimdamentalistas sao radicalmente contra a homossexualidade, considerada por estas uma aberragdo, uma doenga que pode ser tratada, uma opgao de pessoas sem valores, agao de deménios, entre outros. A maioria dos evangélicos é radicalmente contra unido estavel e adogao de criangas por casais do mesmo sexo. © fundamentalismo religioso e a intolerancia religiosa, acontecem de forma significativa em nosso pais. Para tanto, sabemos que toda ago anti-discriminatoria deveria ser um compromisso dos lideres religiosos que se julgam detentores do conhecimento dos desejos de Deus e dever dos Governos no pais, com foco nos Direitos Humanos. Diante do exposto, cabe ressaltar que a agio das religides que discriminam a homossexualidade, também se reflete desta forma com povo de santo, historicamente estigmatizado. Em diversos estados do pais, vem sendo discutidas e realizadas diversas agdes contra a discriminagao por orientagao sexual, identidade de género, racismo € reaciondtio em relagao a condigao da mulher (machismo). Muitos projetos de leis siio contratios a esta promogativa, prejudicando a garantia dos direitos de Travestis, Transexuais, Lésbicas, Gays, Bissexuais, negros adeptos das religides de matriz africana, assim como existem leis que no sfo cumpridas, como a que regulamenta o ensino de historia da Africa nas escolas. A Secretaria de Estado da Educagao do Parana mantém coordenagdes de educacao que trabalham com estas especificidades. Dentre estas coordenagdes esti a Coordenagio da Educagao das Relagdes de Género e Diversidade Sexual. Uma das tinicas do pais, com uma misao arcua e muitas vezes mal vista por muitos profissionais, que ainda insistem em exeluir dos espagos escolares qualquer pessoa que nfo esteja conforme as normas da moral crista estabelecida. E preciso olhar as pessoas com outro foco, num lugar onde sAo respeitadas, onde todos tem o mesmo diteito de exercer cargos, inclusive de lideres. Nesse contexto, a dezenas de anos, temos os terreitos de Umbanda e Candomblé no Brasil, que trabalham bem com as questdes relacionadas 4 sexualidade, Por este motivo, vem. sendo vitimas de mais uma perseguig%o preconceituosa, a de que toda/o sacerdotisa/e de ‘Umbanda e Candomblé é lésbica, gay, travesti ou transexual.29153 As mulheres ¢ homossexuais so os que mais bem se adaptam as religides afto- brasileiras segundo a antropéloga americana Ruth Landes (1947). Frases de diversos autores como a citada ¢ manifestagdes contrarias ocorrem, devido as religides de afro-brasileiras possuirem muitos adeptos homossexuais, porque nao ha (ou pelo menos nao deveria haver) nenhum tipo de preconceito em relagao a sexualidade ou ao género. Dentro dos terreiros, nao se faz. diferenga entre © homosexual ¢ o heterossexual. O mesmo acontece entre o pobre ou o rico, entre o faxineiro e o presidente da multinacional. Todos vestem branco, todos batem a cabega no chiio em sinal de humildade, todos so dignos de respeito. Pelo menos assim deveria ser em qualquer terreiro, mas uo podemos ser hipécritas ao afirmar que realmente isto acontece em todas as casas de axé Ao respeitar a homossexualidade, © géuero e a identidade de género, estas religides fazem com que homossexuais, travestis e transexuais visualizem nesses espagos, a possibilidade de serem reconhecidos socialmente, terem possibilidades de vir a ser lider de ‘uma comunidade, terem proximidades e relagdes com personalidades do poder publico. A discriminagao, seja ela por qual motivo for, é uma pritica contraria aos mais basicos principios da Umbanda como diz Pai Alberto: “fazer o bem sem olhar a quem” (BAYER, 2012). Infelizmente, embora sejam poucos casos, ainda predomina em alguns terreiros os principios cristaos sobre a homossexualidade, como ¢ 0 caso dos “catdlicos-umbandistas” que vemos aos montes por ai, e que espalham nos Terreitos as doutrinas e orientagdes do Vaticano. ‘Nao encontramos em relatos sobre a personalidade de Deus, que este faz distingao entre as pessoas, sejam os homossexuais, os heterossexuais, os democratas, republicanos. corintianos ou sao paulinos. O dio 6 uma emogao humana, e é dificil crer que um ser que é a causa de tudo que conhecemos, despreze ou odeie qualquer uma de suas criaturas. Se analisarmos, Deus é to amoroso, que nao odeia nem mesmo aqueles que em seu nome, pregam a violencia e o preconeeito. No Brasil, as religises affo-brasileiras acabaram criando modos e formas de convivéneia com homossexuais, travestis € transexuais, onde possam coexistir, pois a mitologia africana cria essas possibilidades. Contudo & importante enfatizar que os orixas29154 nada tém haver com a sexualidade humana. Apesar das divindades terem influéncia sobre seus omo-orixas (filhos de santo) no que diz respeito ao seu comportamento na sociedade Conforme relato do Pai Jorge no site vetorial net, “Logunedé ¢ tido como androgeno, patrono dos homossexuais, orixa iorubano, tendo como elemento terra e agua dominando ios, cachoeiras e matas”. Apesar de sua historia, é preciso esclarecer que Logun Edé nao muda de sexo a cada seis meses, ele é um orixé do sexo masculino. Sua dualidade se di em nivel comportamental, jé que em determinadas ocasides pode ser doce e benevolente como Oxum e em outras, sério e solitério como Odé. Nada leva a crer que um iniciado ao culto de candomblé tenha tendéncias homossexuais ou distirbios da identidade de género, influenciadas por algum orixé, seja ele masculino ou feminino, O que vale na realidade é a personalidade individual de eada pessoa, ¢ isso nao interfere nos cultos religiosos, on seja, independente da orienta sexual dos adeptos do candomblé, a religio nao interfere na intimidade sexual de seus seguidores. Os orixas sempre foram importantes ua sociedade afticana, sendo eles reis e rainhas & tendo por sua vez um cariter imaculado e digno de ser imitado por seus sacerdotes seguidores. Sabemos que a homossexualidade esta presente em todas as religi6es, mas devido a0 preconceito da sociedade esses casos so tratados com discriminagao, o que inflige a legislaglio do nosso pais que diz que todas as pessoas devem ser tratadas com respeito ¢ dignidade, Relacdes de Género nas Rel Ao contritio da maioria das religioes mundiais, as relagdes entre os géneros no Candomblé ¢ na Umbanda sempre se deram com igualdade de direitos, sendo ambos respeitados em suas fungdes. Tanto homens quanto mulheres podem trabalhar como pais e mies de santo, Babalorixiis e Iyalorixas, 0 maior cargo dentro destas religiées, com um mesmo grau hierirquico, o que pode mudar sto as tarefas que cada um deve exercer em diferentes rituais29158 Historicamente, os homens dominam a produgdo do que ¢ ‘sagrado’ nas diversas sociedades. Discursos e praticas religiosas tem a marca dessa dominagio. Norma, regras, doutrinas sto definidas por homens em praticamente todas as reliaides ‘conhecidas. As mulheres continuam ausentes dos espagos definidores das crengas & das politicas pastorais e organizacionais das instituigdes religiosas. O investimento da populagao feminina nas religides da-se no campo da pritica seligiosa, nos sitvais, pa transmissio, como guardias da meméria do grupo religioso (ROSADO ‘NUNES, 2005, p. 363) Os cultos, tanto da Umbanda quanto do Candomble, so conhecidos também pelos oriiculos ¢ adivinhagdes, praticado por pessoas de ambos os sexos. Esses orfculos se baseiam nos mitos de fatos que ocorreram com deuses afticanos, como é 0 caso do jogo de biizios. O terreiro Tlé Iya Nass6 (Casa de Mae Nass6), ¢ conhecido popularmente como Casa Branca do Engenho Velho, localizado em Salvador. Este terreito, até onde xe sabe fj fundado no séonlo passado por tr ex-escravas jorubas, eujas nomes afficanos exam Adot, Iyakala e Iymass9, vindas da cidade de Keto (SILVA, 1994, p. 59) Conforme texto extraido do Blog Olhos D'4gua da Dioxum, ao contrario da maioria das outtas religides, no Candomblé, por exemplo, existem cargos que no podem ser dados a homens e vice-versa. Sendo assim, nesta religio a mulher tem papel fundamental. Citamos aqui o cargo de Yabassé, a mulher responsivel pela comida dos santos, a Ekédi, que exerce a fungao de Dama de Honra do Orixa regente da Casa. E dela a fungao de zelar, acompanhar, dangar, cuidar das roupas e apetrechos do Orixé da Casa, além dos demais Orixis, dos filhos e até mesmo dos visitantes. E uma espécie de “noiva” que atua sempre ao lado do Orixa e que também cuida dos objetos pessoais do Babalorixé ou Tyalorixa. Segundo o site mundo dos orixas, o cargo de Ekedi ¢ muito importante, pois sera ela a condutora dos Orixas incorporados no Egbé (barracio ou sala de festividades) e dela é a responsabilidade de recolhé-Ios e “desviré-los”, observando as condigdes fisicas daqueles que “desviraram” As mulheres das comunidades-terreinos, do povo de “Axé”, vio se caracterizar por ‘um passado de Iuta, determinaso e resisténcia passando a simbolizar a nuulher(...) que enfrenta adversidades @ problemas de qualquer ordem, possibilitando uma aufoimagem ¢ uma auto definigao: “mulheres sem papas na lingua, de raga, que nfo tem medo de nada” (THEODORO . 1986. p. 183). Por conta da ampla participagao feminina e negra nas religides de matrizes afticanas em geral, o discurso dle ser uma religito matriarca é muito recomrente, sobretudo por que estas so liderangas religiosas e chefs de familia29156 Landes (2005) foi pioneira ao falar em seu livro “cidade das mulheres”, sobre o matriarcado e homossexualidade nas religies afro-brasileiras, trazendo importantes e inovadoras contribuigdes @ época. A autora foi duramente ctiticada por sugerir que o Candomblé fosse uma religiio de feministas e homossexuais, além de aspectos que fugiam dos cénones morais da época. Podemos imaginar o desgosto de Arthw Ramos ao ver a religifo pela qual tanto Iutow para preservar das variadas formas de presonceito,além deter que suportar v= Ja conhecida pejorativamente como “religifo de negros”, passar também a ser teferida como “religito de homossexuais” (BIRMAN, 2008, p. 408), Hoje vemos na maioria das religides, que a grande maioria da participagao é feminina, No entanto, a estas no sao dados cargos de chefia ou lideranga, historicamente devido a um machismo que a centenas de anos se estabelecen devido a escrituras feitas por homens que para ditar normas de controle dos povos, para serem seguidas pela sociedade da época, Por mais incrivel que parega, mesmo diante do machismo institucionalizado, as maiores religiSes ainda sto seguidas até os dias de hoje. Se 0 piblico de figis que engrossam as fileiras das instituigdes religiosas ¢ msjoritariamente feminino, como explicar que as mulheres ainda seja vetada a pparticipagdo como ministras ordenadas na Igreja Catélica e em um sem ntimero de igrejas protestantes “classicas” e pentecostais? (ORTNER E WHITEHEAD, 1981, p. 16 apud SEGATO, 2000. p. 88). As igrejas cristas, afirmam que seus fimdamentos, baseiam-se em escritas feitas por Deus e que nao podem ser alteradas. Hoje os seguidores destas escrituras quando se dirigem para outras pessoas com suas formas de pensar, logo citam com frases prontas, como: “est escrito que...”. Frases como essa, so ditas como se aquilo que elas/eles acreditam, fosse uma lei obrigatéria a todas as pessoas, inclusive aquelas que nao seguem estas escrituras. Os homens, nao ha duvida, podem constituir familias, construir relagoes cconsanguineas e de alianga a partir da assungto do estatuto de pai, mas vo depender dha presenga das mulheres para constituir o terreiro como umn arupo doméstico, que _possa abrigar seus fos e fills, além de ser o local onde se realizam todos os ritos, © obrigagdes (BIRMAN, 1995, p. 172173) Apesar do aumento de homens como sacerdotes nas liderangas, vemos ainda que as mulheres sto a maior parte dos figis e so elas que conferem as casas a imagem das “baianas” que remetem as tradigdes. “As mulheres oferecem a organizagio e apresentam a respeitabilidade necesséria nos templos”, Birman (1995)29187 Mesmo em casas dirigidas por homens ou com a presenga expressiva de homossexnais masculinos, as mulheres exercem o papel da organizagao e do cuidado com os Orixas. Também vale reforgar que independentemente de a lideranga ser masculina ou feminina, os espagos dos terreiros, como sao chamados os templos de tradigdes afio- brasileiras, sto agregadores de mulheres e homens, heterossexuais e homossexuais, que manifestam sua sexualidade sem medo e sem culpa, para uma melhor forma de relacionamento com esas condigdes. No entanto, & importante frisar que a divisio do trabalho é organizada obedecendo A ordem de construgao dos géneros e nao a orientagao sexual. Reforgando as representagdes sociais dos papéis de género, ou seja, gays terfio cargos masculinos, Lésbieas terdo cargos femininos. Em muitos terreizos do pais, ja se respeita também a identidade de género, ou seja, uma mulher transexual var exercer eargos femininos e vice-versa Consideragies Finais Este artigo designou-se a apresentar ao longo do texto, a histéria da presenca de homossexuais nas religides afio-brasileiras. Estes sujeitos foram excluidos do meio religioso a longo da histéria, devido a influencia de valores judaico-cristaos. Verificon-se como esta influéneia aconteceu e porque conseguiram o respeito através de seu cariter e fidelidade a raligiao, sem serem vistos a partir de sua sexualidade. A maioria das casas de religito afio-brasileiza, se baseiam em valores diferentes do jndaico-cristao. A partir da dtica africana sobre o que s4o 0s valores éticos e religiosos, nessas casas nao hé influéncia machista nos cargos e fungdes. Nao hé nenhuma restrigao para que homossexuais, travestis e transexuais possam ou nao participar e serem praticantes destas religiges, isto explica 0 porqué de ser uma religiao tao frequentada nao s6 por homossexuais, que ao contririo do que se pensa, sto pessoas muito religiosas, mas também por toda diversidade de pessoas, independente da classe social, raga, etnia, orientaglio sexual ¢ identidade de género. Além dessas consideragdes, cabe ressaltar a importante presenga da muller nos cargos de lideranga nas religides afro-brasileiras, bem como, o ambiente igualitirio que estas proporcionam.REFERENCIAS BAYER, Alberto A. Fazer 0 Bem sem Olhar a Quem, CEU ~ Centro de Estudos ‘Umbandista. [8.1], 2012. Disponivel em: . Acesso em: 10 maio 2013. BIBLIA Sagrada. 2 ED. Barueri, SP: Sociedade Biblica do Brasil, 1993. BIRMAN, Patricia. Transas e transes: sexo ¢ género nos cultos afro-brasileiros, um sobrevéo. Revista Estudos Feministas, Floriandpolis: 2005. Disponivel em: . Acesso em 22 fev. 2012 BRUM, Eliane: SANCHES, Mariana. O que significa ser catélico no Brasil. [8.1]: Epoca. [20127]. Disponivel em: . Acesso em: 12 maio. 2013. GRUPO DE ESTUDO “ALLAN KARDEC”, Homossexualidade na Visao Espirita. (S.1], 2010. Disponivel em: . Acesso em 12 maio 2013. LANDES. Ruth. A cidade das Mulheres. Rio de Janeiro: Civilizagao Brasileira, 1967. Publicado originalmente em 1947, MARTINELLI. Manifesto contra a intolerancia religiosa eo racismo, em defesa do candomblé ¢ dos cultos afro-brasileiros em geral. ORDEP SERRA. [SL]. 2012. Disponivel em: . Acesso em 17 maio 2013 MESQUITA, Ralph Ribeiro. Entre Homens e Deuses: Identidade, género ¢ (homo)sexualidade no contexto religioso afro-brasileiro. 2004. 117 £. Tese (Doutorado em Antropologia). UFSC. Santa Catarina. 2004. Disponivel em: . Acesso em 15 fev. 2013 PAT JORGE. Logunedé.Vetorial.net. [S.1.]. [entre 2000 e 2013]. Disponivel em: Acesso em 09 maio 2013. PRANDI, Reginaldo. O Brasil com axé: candomblé € umbanda no mercado religioso. Estudos avangados; dossié religides no Brasil. Sae Paulo, vol.18. u.34. p.1. 2004. Disponivel em: < http://www scielo.br’scielo php?script=sei_arttext&pid=S0103-40142004000300015>. Acesso em: 22 fev. 2013 PRETES, Erika Aparecida : VIANNA, Tiilio. Historia da criminalizagao da homossexualidade no Brasil: da sodomia ao homossexualismo. Belo Horizonte. Ed. PUC. Vol. 1. 2007. Disponivel em: Acesso em: 18 fev. 2013 ROSADO-NUNES, Maria José. Género e Religitio. Revista Estudos Feministas, Florianépolis, v. 13, n. 2, p. 363-365, maio-agosto 2005. Disponivel em: Acesso em: 16 fev. 2013. SEGATO, Rita Laura. Inventando a natureza: familia, sexo e género no Xang6 do Recife. Anuatio Antropologico, Tempo Brasileiro. Sao Paulo. 1986 SILVA, Vagner Gongalves da. Candomblé ¢ umbanda: caminhos da devocio brasileira. Sao Paulo: Atica, 1994. . Acesso em 10 jan. 2013, THEODORO, Helena. Algumas consideracdes sobre a mulher negra. I Identidade Negra e Religiao. [S.1]: Edigdes Liberdade. Imprensa Metodista . 1986. 201 paginas. VAINFAS, Ronaldo. Trépico dos pecados: moral, sexnalidade e inquisigio no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizagdo Brasileira, 2010. Cap. 5. VERGER, Pierre. A contribuigao especial das mulheres ao candomblé do Brasil. In: Artigos. Sao Paulo: Comupio, 1992.