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Capitulo 5 Turbinas a Vapor Anton Stanisldvovich Mazurenko Flavio Neves Teixeira 5.LINTRODUCAO, Aturbina a vapor € um dos motores térmicos de combustio externa rotativo mais dfundido, justamen- te por possibiltar unidades de grande poténcia unitéria, além de proporcionar alta confiabitidade, vida Gtile cficiéncia, Uma vantagem importante das turbinas a vapor constitui no fato de que, mediante a organizagio de cextragdes reguliveis na sua segio de fluxo, pode-se fornecer calor com os parmetros requeridos pelo consumo externo, Neste caso, 0 custo deste calor nao é alto, j4 que nos sistemas de cogeracdo (produeio simultinea de cletricidade e calor — para maiores detalhes vide o capitulo 13) 0 vapor, antes de ser fornecido a um consumidor de calor, aproveita seu alto conteiido em energia térmica na turbina durante 0 processo de producio de eletricidade Neste capitulo, a atengio principal est centrada na anélise dos processos que acontecem nos estégios das turbinas a vapor, na andlise das perdas e sua natureza, nas particularidades construtivas das turbinas e seus elementos. A atencio foi centrada nos assuntos principais, evitando, as vezes, detalhes ou fatos que nio tém uma influéncia principal sobre a compreensio dos principais fundamentos. Da mesma maneira, os métodos de célculo e solugdes construtivas nao pretendem ser completas © nem de cardter inovador, pois estas informagdes podem ser encontradas em outras publicagées. Porém, conside- rando que em muitos pafses 0 uso de energia térmica estd em estégio de formacao, existe a necessidade desta abordagem como o primeiro passo no conhecimento das possibilidades potenciais do seu aproveitamento, part- cularidades construtivas e da operaciio de motores térmiicos deste tipo, Além disso, a formulagdo teérica, por meio dos edlculos apresentados, permitird esclarecer os principi- 0s do funcionamento e verificagio dos processos térmicos nos estgios e na turbina como um todo, o que & muito importante para a selegao do tipo de turbina, de suas caracteristicas principais ¢ indicadores. 5.2 HISTORICO Uma turbina a vapor um motor térmico rotativo no qual a energia térmica do vapor, medida pela entalpia, é transformada em energia cinética devido & sua expansio através dos bocais. Esta energia entio é transformada em energia mecinica de rotagio devido a forga do vapor agindo nas pis rotativas. Considerando esta definiglo, a famosa aeolipyle (figura 5.1), proposta por Hero, da Alexandria, por volta de 150 a.C., ou a ‘maquina a vapor similar, proposta por William Avery (1831), no podem ser consideradas como as primeiras turbinasa vapor pelo fato de nao possufrem uma parte constituinte obrigatéria de uma turbina: as pas (Leyzerovich, 250 Geragdo Termelétrica: Planejamento, Projeto ¢ Operagéo 1997). Embora seja considerada como tal por alguns autores (Elliot, Chen e Swanekamp, 1997; Li e Priddy, 1985), na verdade fo! o primeiro passo para um dispositive térmico que trabalhava sobre o prinefpio de reagio. Ela consistia de uma esfera oca na qual o vapor era introduzido sob pressio através de um eixo vazado, © escapava através de dois tubos curvos diametricamente opostos e com diregdes também opostas. Ent a reagio do vapor escapando causava a rotagiio da esfera. Porém, nenhum trabalho itil foi realizado com este dispositivo, Figura 8.1~ A aeolipyle desenvolvida por Hero (150 a.C.) ¢,& dieita, a méquina desenvolvida por Giovanni de Branca (1629) Desde Hero, cerca de dois mil anos transcorreram antes que qualquer idéia fosse dada na utilizagio real do vapor para produzir energia ou trabalho mecanico. cientista italiano, Giovanni de Branca, em 1629, foi o primeiro cientista a propor 0 uso de um jato de vapor escapando de um dispositivo tal como a aeolipyle para produzir rotagao. Sua “roda de vapor” apresentava limitagSes para a eventual utilizagio, sendo que a mais importante era as altas perdas que aconteciam na méqui- na, devido ao baixo desenvolvimento, na época, do estado da arte da construgdo mecanica, fato que também levor © pritica de algumas sugestées posteriores. no implement Na década de 1780, Watt construiu a primeira maquina a vapor que teve aplicagio pritica, e que se tornou um dos impulsores da Revolugdo Industrial que aconteceria no século seguinte (Stodola, 1945) (© aparecimento da primeira turbina a vapor de aplicagao € associado, em primeiro lugar, aos engenhei- ros Carl Gustaf de Laval (1845-1913), da Suécia, e Charles Parsons (1854-1931), da Gra-Bretanha, Embora existam muitos outros engenheiros e cientistas, cujos nomes estdo intimamente associados ‘com 0 progresso das turbinas a vapor, coube ao americano George Westinghouse (1846-1914), quem adquirit 60s direitos americanos sobre as turbinas Parsons em 1895, 0 mérito de desenvolver ¢ Implementar a primeira turbina a vapor comercial de 400 kW de capacidade, acionando um gerador elétrico. Outro que merece destaque € Aurel Stodola (1859-1942), nascido na Estoviquia, que praticamente estabeleceu os fundamentos da teoria de turboméquinas e seu controle automaitico. E também pertinente mencionar o nome do russo Andrey Vladimirovich Shcheglyaev (1902-1970), que estabeleceu uma grande escola soviética de idéias e projeto em turbinas a gas © vapor, iniciou a edigio de numerosas monografias ¢ livros valiosos neste campo e, também, contribuiu significantemente para a teoria de turboméquinas e seu controle (Leyzerovich, 1997). Desde o inicio da utilizagao de turbinas a vapor para a geracao de energla elétrica, elas aumentaratn significantemente suas capacidades e eficiéncias e tornaram-se mais complexas € sofisticadas. Este proceso pode ser ilustrado pelo diagrama da figura 5.2 (Leyzerovich, 1997), mostrando o crescimento, em fungio do tempo, da capacidade unitaria maxima e dos parametros iniciais do vapor (temperatura e pressi0). Cartravo $~Turbinas a Vapor 251 ol 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Anos Figura 5.2 ~ Evolugio das capacidades e parimetros de operagio de turbinas a vapor durante os Gtimos 100 anos. A linba I representa as unidades comerciais, ea linha 2 as unidades pilotos. (Leyzerovich, 1997). Source: Leyzerovich, ‘A.S., Large Power Steam Turbines: Design and Operation, Copyright PennWell Books, 2001 Nos iltimos 85 anos, desenvolvimentos técnicos continuos de turbinas a vapor fizeram deste aciona- dor primario o principal equipamento em centrais de geracio elétrica. Para aumentar a eficiéncia térmica, foi introduzido, em 1930, o conceito de reaquecimento do vapor na fase de expansio, e tornou-se comum a sua aplicagdo em meados do século XX. A necessidade de economia de escala e 0 aumento na eficiéncia térmica levou os projetistas a aumentar a temperatura ea pressao de operacao, além do aumento da poténcia, Atualmen- te, a capacidade unitéria média instalada é de 600 MW, enquanto que na época de 1920 estas poténcias nao alcangavam 30 MW, Isto demonstra o progresso alcangado a partir da metade do século XX. Também houve ‘um ineremento significante na pressao e temperatura do vapor: Estas passaram de no méximo 1,4 MPa ¢ 290°C em 1920, para cerca de 16 MPa e 540 °C, todavia, podendo atingir valores para condigdes supercriticas de 24 MPa.e 540 °C (Li e Priddy, 1985). Atualmente, os principais fabricantes de turbinas a vapor de média e grande poténcia sfo os seguintes: + nos Estados Unidos: General Electric e a Westinghouse; + na Europa: ASEA Brown Boveri (Alemanha, Suica e Suécia), Siemens (Alemanha), MAN (Ale- manha) e a GEC Alstom Franga e Gri-Bretanha); + no Japa. Hitachi, Mitsubishi Heavy Industries, Toshiba e a Fuji Eh + na Russia: LMZ e TMZ e na Ucrinia KhTZ (Turboatom) Recentemente, algumas fusdes entre estes fabricantes vém ocorrendo, por exemplo, a Siemens- Westinghouse ¢ a ABB-Alstom (Alstom Power). 5.3 CLASSIFICACAO DAS TURBINAS A VAPOR As turbinas a vapor, devido a sua ampla gama de utilizagao e estado da arte, podem ser classificadas segundo diferentes crtérios. De acordo com sua finalidade, podem ser: *+ para acionamento elétrico — utilizadas para acionar um gerador elétrico de uma indiistria, que ira suprir as necessidades da central. Geralmente, operam com velocidade s{ncrona (1800 ou 3600 pm) e com poténcias na faixa de 16 a 1.300 MW; 252 Geragao Termelétrica: Planejamento, Projeto e Operacao + para acionamento mecinico (utilizadas como acionador de grandes ventiladores de tiragem, bom- bas, compressores, propulsio de navios e outros grandes equipamentos de rotagio. Estes sistemas, normalmente, operam entre 900 10.000 rpm e com potencias na faixa de 500 KW a 10 MW. Apresentam algumas vantagens sobre aquelas para acionamento elétrico, podendo-se destacar: ‘melhor utilizago da energia térmica, facilidade no controle da velocidade e répido start-up. ‘Com relagZo ao prine‘pio de funcionamento, hé dois tipos fundamentais + de ago (impulso) ~ neste tipo o seu funcionamento é devido, unicamente, & queda da pressio do vapor nos bocais ¢ & sua queda de entalpia associada, com a transformagao desta variagio da entalpia em energia cinética do vapor. Este vapor de alta velocidade incide sobre as pas (palhetas méveis), convertenda sua energiacinétien em trabalho mecfinico, 0 vapor atravessa, portanto, as palhetas a pressio constante, atuando sobre elas unicamente em virtude de sua velocidade (figura 5.3); + de reagdo — utilizam, ao mesmo tempo, a pressiio do vapor e a stia expansio nas rodas méveis, Note que 0 vapor nio se expande completamente no distribuidor, mas continua a sofrer, na roda vel, uma diminuigao de pressio, a medida que sua velocidade também se diminui devido & alta velocidade com que estas palhetas méveis se movimentam., Assim, o distribuidor transforma, ape- nas em parte, a energia térmica do vapor em energia cinética, ficando a outra parte para ser transformada na propria roda mével. Essas turbinas so caracterizadas pelo fato de que a roda movel ndo trabalhia com o vapor a pressio constante, mas, gradativamente variavel, diminuindo de ‘montante para jusante, em relago ao percurso nas palhetas (figura 5.3) Co ' : —? cr Figura 5.3~Iipos tundamentais de turbinas a vapor: agdo (esquerda) ¢ reagao (drei). Uma caracteristica fisica que diferencia as turbinas de reagao das de ado € 0 formato da segio transversal das palhetas. No caso das de agiio, a segdo tem formato simétrico, enquanto que nas de rea formato assimétrico e mostram-se idéntico: Curirswo 5 —Turbinas a Vapor 253 Baseado nestes dois principios de funcionamento, pode ser feita outra classificagao, considerando os, aarranjos dos estagios. Define-se estégio de ago como um grupo de bocais distribuidores seguidos de sucessivas fileiras de palhetas méveis e fixas, tendo a primeira a fungdo de converter a energia cinética do vapor em trabalho mecinico, enquanto que a segunda tem a fungio de redirecionar o fluxo de vapor. Por outro lado, define-se 0 estdgio de reagiio como o conjunto de fileiras de palhetas méveis e fixas, tendo a primeira a func de converter a energia disponivel no vapor em trabalho mecinicoe a segunda, além de redirecionar o fluxo e devido ao seu formato transversal, o espaco entre elas forma um bocal convergente- divergente, o que possibilita converter parte da energia térmica do fluxo que escoa em energia cinética, aumen- tando a velocidade do Muxo para palhieta movel seguinte Sendo assim, conforme a seguir (Fronap urbinas de ago podem ser classificadas, de acordo com 0 arranjo dos estigios, 1964): Turbina de acdo simples ou de Laval Consiste de um ou mais bocais fixos, descarregando o vapor sobre uma fileira de palhetas montadas na circunferéncia periférica de um disco acoplado a um eixo, constituindo o componente denominado de rotor (figura 5.4), Tem como caracterfstica fundamental, 0 fato de que a expansio do vapor, desde sua pressio inicial até final ocorrer completamente no bocal, produzindo fluxo de alta velocidade na saida, Como as palhetas méveis nio absorvem toda a energia cinética, o vapor saird com uma velocidade relativamente alta, 0 que cconstitui uma perda. A despeito do baixo rendimento proprio da turbina de ago simples, sua simplicidade de projeto e construgiio torna-a recomendada para pequenas poténcias, 98 we ‘veLocipar a a 33 i 8 4 a veLoe’ bo 28 || €8 Figura 5.4 —Turbina de Laval: diagramas de pressio e velocidade e esquema da disposigdo das palhetas. 254 Geragao Termelétrica: Planejamento, Projeto ¢ Operacdo ‘Turbina Curtis A fim de evitar a perda de energia, decorrente da velocidade residual relativamente alta nas turbinas de ago simples, montam-se duas ou mais filas de palhetas méveis. Na carcaga sio fixadas, entre as filas de palhetas _méveis, palhetasfixas como tinico prop6sito de redirecionar jato de vapor. A este arranjo denomina-se estigio Curtis ou de velocidade escalonada (figura 5.5). Observe que somente nos bocais hé queda de pressio, enquanto que em cada fila de pas méveis ocorre uma queda de velocidade, mantendo-se a pressao nas pas fixas. Figura 5.5 ~ Turbina Curtis: diagramas de pressii ¢ velocidade e esquema da disposigio das palhetas. ‘Turbina Rateau Em vez da queda total de pressio do vapor ocorrer em um tinico conjunto de bocais, essa queda pode serdividida em duas ou mais fileiras de bocais, de maneira a se obter um efeito semelhante ao que se teria a um arranjo de duas ou mais turbinas de Laval em série, conforme a figura 5.6. A vantagem é que se pode obter uma velocidade mais adequada de palhetas em termos de resisténcia dos materiais. Porém, estas turbinas podem, apresentar maiores dimensdes, dependendo do ntimero de estagios Rateau, ‘Turbina Curtis-Rateau O desenvolvimento desta turbina partiu do principio de também se consezuir velocidades de pis dais, Pportanto, maiores rendimentos, utiizando-se a combinagio de estigios Curtis escalonamento de velocidade) € Rateau (escalonamento de pressio) de acordo com a figura 5.7. O emprego do estigio Curtis ocasiona grande ‘queda de pressio e de temperatura do vapor, 0 que permite tanto o uso de materiais mais leves e baratos nos estigios Rateau posteriores, como turbinas mais curtas. Cartruwo 5~Turbinas a Vapor 255 heceoe Het esas i San ui ! y a naan, A pe poesia = | iaroas 4 nan Figura 8.7 ~ Turbina Curtis/Rateau: diagramas de pressio e velocidade e esquema da disposigio das palhetas 256 Geragdo Termelétrica: Planejamento, Projeto e Operagdo ‘Turbina de reagao ‘Um estégio de uma turbina de reagio é denominado de estigio Parsons, o que justifica 0 nome de Parsons para designar algumas turbinas constitufdas com este tipo de estigiv. Estas turbinas so de miltiplos estigios, isto 6, construfdas de modo que a queda de pressio, da admissio ao escape, seja dividida em quedas parciais por meio de sucessivas fileiras de palhetas fixas e méveis. Assim, a queda de pressio em cada fileira de palhetas 6 pequena, resultando em baixas velocidades do vapor em cada estigio (figura 5.8) as pis movers ‘VELOCIOADE 90 ‘vapor NA Aiba PRESSHODOVAPDR (CONDENSADOR “E SS LASS Least Goss SSSR eee Figura 5.8 - Turbina Parsons: diagramas de pressio e velocidade e esquema da disposigao das palhetas. ‘A medida que o vapor se expande, seu volume especffico aumenta,razio pela qual as fileiras suces- sivas de palhetastém suas dimensGes aumentadas progressivamente. Porém, como o volume espectico do ‘apor nos estigios de alta pressdo € pequeno, as palhetas devem ser mais curtas, esultando em fo {veis nos topos, o que causa excessiva fuga de vapor de alta pressfo nest turbina as apreci- folgas, induzindo a uma queda sens{vel no rendimento total Por este motivo, evita-se utilizar turbinas de reagio como turbinas de alta pressio, preferindo-se 9. Nestes,adiciona-se um estigio Curtis (no exemplo com duas quedas de velocida- reduzindo-se a pressto ¢ a temperatura do vapor par serem ulilzados nos estigios de reagio que se arranjos como o da figura de tem. Esta turbina é denominada Curtis-Parsons ¢ utiliza os prinefpios de agio e reagio. Anda, referindo-se aos tipos de turbinas, pode-se subdividi-las quanto a descarga de vapor. Segundo esta classificagiio, dentre as principais, temos: Cwviruwo 5 ~Turbinas a Vapor 257 Figura $.9 ~ Turbina CurtivParsons: diagramas de pressfo e velocidade e esquema da disposigo das palhetas, ‘Turbinas de contrapressio de fluxo direto (figura 5.10) ‘O termo contrapressao se utiliza para indicar que o vapor na safda da turbina esta a uma pressao igual, ‘ou superior, & atmosférica, condig&o necesséria para atender a demandas de calor em nfveis de temperatura superiores a 100 °C, Geralmente sao fisicamente menores do que uma unidade de condensacio equivalente e, tusualmente, operam com maior velocidade de rotago devido as consideragées de eficiéncia Siio instaladas nas indstrias onde hi necessidade de vapor nos processos de fabricagiio, cujo abaste ‘mento é garantido com o vapor de exaustio da turbina que, normalmente, opera com uma presso constante do vapor de escape. O aumento na demanda de energia elétrica acima da capacidade de geragiio pode ser compen- sado pela rede elétrica da concessionéria, Quando o processo industrial exigir uma quantidade de vapor maior do que a necessairia para a geragao de energia elétrica requerida pela inddstria, ou se houver excesso de vapor para © consumo da turbina, a quantidade de vapor requerida € conduzida diretamente ao processo, através de uma cestago redutora de pressao, Vopor vivo Volvula redutora de pressio TV de contrapresséo Gerador Redutor Vopor de Vopor de proceso contrapressdo Figura 5.10 Esquema simplificado de turbina de contrapressio. 258 Geracao Termelétrica: Planejamento, Projeto ¢ Operacao ‘Turbinas de contrapressio com sangria ou extragHo(Ges) controlada(s) (figura 5.11) Quando o proceso exigir vapor em diferentes nfveis de pressio, sio utilizadas as turbinas com sangria ou cextragio controlada, que fornecem parte do fluxo de vapor em média pressdo e parte em baixa pressao. As turbinas ‘com sangrias (figura 5.11) so utilizadas quando 0 volume de vapor de extragio (de média pressio) é menor que ‘0 volume de escape (de baixa pressio). As com extraco(Ges) controlada(s) (figura 5.1 1b) so utilizadas quando o fluxo de vapor de extragdo (de média pressio) € relativamente alto quando comparado com o fluxo de vapor de escape (de baixa presto) ea demanda de vapor de média pressfo estésujeita a flutuagbes considerdves. A pressio do vapor de extragao, nestes casos, permanece constante para qualquer carga da turbina, Vopor vivo Vopor vivo it TV de contrapresséo ©) 1V de contrapresséo © ‘com songrios Seraior com extragéo Seotor Redutor controlada Redutor Vopor. dos Vopor de extragéo Vapor de sangrias, Vopor de controlada contrapressdo ——— f contrapressio 2) Com songria b) Com extragio controlada Figura $.11 - Esquema simplificado de turbina de contrapressdo com sangria (a), ou extragao controlada (b) ‘Turbina de condensacio de fluxo direto (figura 5.12) Este tipo de turbina descarrega o vapor para o condensador a uma pressfio menor que a atmosférica (normalmente alto vécuo), a fim de aumentar a eficigncia térmica do ciclo mediante aumento maximo da queda de entalpia, As turbinas de condensagao tendem a ser fisicamente maiores, bem como mais potentes do que as de contrapressio, Porém, o rendimento total ¢ inferior ao de uma instalago de contrapressfo, j4 que uma parte da energia contida no vapor se perde através da égua de refrigeragao necesséria para a condensagdo, Yopor vivo =) Gerador Redutor TV de condensagio Vopor de condensagéo Figura 5.12 — Esquema simplificado de turbina de condensagao, Carirawo 5~Turbinas a Vapor 259 ‘Turina de condensacao com extracHo(Ges) (figura 5.13) Empregada quando se nevessita mais energia elétrica do que se pode autogerar com o calor de proces so, O vapor de processo excedente seri expandido até a condigio de vicuo, resultando em um salto térmico maior. Apesar da maior eficiéncia das turbinas de contrapressdo, em muitos casos as turbinas de condensaga0 ‘com extragdo(6es) apresentam vantagens tais como: compensagao das oscilagdes de consumo de energia elétrica vapor resultante do processo; evita-se ultrapassar o limite de poténcia contratado com a concessionéria; possibilidade de o condensador principal absorver o vapor excedente, quando da paralisago parcial do processo. As turbinas a vapor com extracio automética ou extragdes regulveis sto projetadas para permitira retirada de ‘quantidades variaveis de vapor sob presso constante, em um ou mais pontos de extragio. Nas turbinas de ‘extragio niio-regukivel no hi controle da pressdo do vapor retirado, que varia em fungio da carga. Vopor vivo TV de condensogio com “extragao ret Redutor Vopor de Vopor de proceso condensag8o Figura 5.13 - Esquema simplificado de turbina de condensagdo com extragio, ‘Turbina de condensagdo com reaquecimento (figura 5.14) ‘Todo o fluxo de vapor vivo & admitido no estigio de alta pressao onde, apds o proceso de expansio, retoma & caldeira para o reaquecimento (aumento de temperatura), prosseguindo para o estigio de pressio intermediria, de onde se expande através dos estigios finais até 0 escape. Pode-se encontrar também turbinas com reaquecimento duplo. Vopor vivo TV de condensogéo com reaquecimento Geredor Redutor 7 Vopor de Reaquecimento eae Vapar reaquecia Figura $.14 ~ Esquema simplificado de turbina de condensagio com reaquecimento, 260 Geragdo Termelétrica: Plangjamento, Projeto e Operagdo Turbinas a vapor podem também se diferenciar conforme a diregao do fluxo (figura 5.15a). A maioria das turbinas modernas € de fluxo axial, nas quais 0 escoamento através das palhetas é paralelo ao seu eixo. A principal variante & a turbina de fluxo radial, onde o escoamento ocorre na diregao radial ao eixo, podendo ser radial centrifuga, quando o vapor passa do centro para periferia ou radial centripeta, quando ele se escoa da periferia para o centro, Jel Figura 5.15 ~ Esquema de turbinas de fluxo axial (fluxo simples, duplo e reverso) e radial, As turbinas axiais podem ser de trés tipos (figura 5.15b) ‘+ fluxo simples — quando o fluxo principal escoa na mesma diresdio desde a sua entrada até a sai no tiltimo estagio; + fluxo duplo ~ quando o fluxo principal é admitido no centro do cilindro e dividido em duas diregdes axiais opostas com relagdo ao rotor. Este arranjo € utilizado levando-se em consideragio dois principals aspectos: evitaro tamanho excessivo das palhetas dos tiltimos estigios ereduzira zer0 os cesforgos axiais eausados pelas forgas do fluxo de vapor nas palhetas méveis, + fluxo reverso — apresentam duas carcagas, sendo uma interna e outa externa, onde o fluxo de vapor flui em uma diregao, através de um grupo de estagios, sendo entio conduzido externamente ara um segundo grupo de estdgios, na diregdo oposta axialmente. Esta configuragio é realizada considerando reduzir os esforgos axiais causados pelas forcas do fluxo de vapor nas palhetas méveis, promovendo 0 balanceamento, bem como para permitiro resfriamento da carcaga por um vapor jé expandido e, assim mais frio melhorando, desta forma, o seu estado térmico. Além. disso, a construgao com duas carcacas, com gradiente de pressio dividido pela inversio do fluxo de vapor, permite reduzir substancialmente a espessura de suas paredes e flanges, da qual depen- dem os estorgos térmicos adicionais devido as mudangas de temperatura nas partidas e variagdes de carga, melhorando as condigdes de aquecimento desses elementos e, em conseqiiéncia, as caracteristicas de clasticidade da maquina (permite obter partidas mais répidas) © limite da poténcia para o corpo de simples cilindro é da ordem de 100 MW, dependendo dos conceitos do projeto, das condigdes iniciais do vapor (pressio e temperatura), se existe ou ni o reaquecimento, das condigdes do vapor de exaustio e da velocidade de rotagio. Freqiientemente, turbinas deste porte so projetadas e construfdas em bases modulares, com segbes ¢ admissio, de palhetas e de exaustdo selecionadas dentro de uma faixa de projetos-padrées que permitem uma Carino §~Turbinas a Vapor 261 hK_-# WY & Lo nl EH » Lo Tae Senn Mite = % w Hm Uw LO LATA MS = L© oo Figura 5.16 ~ Configuragdes de arranjos multi-cilindros candem-compound. gama de poténcias, variagdes das condigdes iniciais do vapor, além de aplicagdes especiais como por exemplo, ‘extragio de vapor. Para turbinas de maior porte, geralmente adota-se configuragSes multi-cilindros (figura 5.16), sendo que o nimero de cilindros dependerd das limitagoes construtivas de projeto. Uma tipica central utilizando combustivel sil (6leo, gas ou carvio), com poténcia na faixa de 500 a 1.000 MW, poderi ter um estigio de alta pressio (cilindros), outro com pressio intermediéria, seguido de um ou mais de baixa pressio, sendo este provavelmente de duplo fluxo. Nestas instalagSes, quando os cilindros estio dispostos numa mesma linha do eixo (colineares), denomina-se tandem-compound, enquanto que aquelas em ue os eixos dos cilindros sio montados em paralelo, acionando dois geradores elétricos separados, so denomi- nados cross-compound (figura 5.17). Nos arranjos cross-compound, as conexdes do vapor € os sistemas auxiliares de cada cilindro do estdigio sio constituidos como se fossem unidades de eixo simples. Est tipo de arranjo tem sido muito utilizado nas centrais que alimentam redes cuja freqiiéncia é de 60 Hz. pois. neste caso, por razSes construtivas, seria necessirio maior niimero de estéigios de baixa pressio, 0 que causaria um grande comprimento da unidade. Dessa forma, 0 emprego da configuragao cross-compound permite a utilizagio de eixos menores, além de reduzir o niimero de turbinas de baixa pressdo, uma vez que esta opera com 1800 rpm, enquanto que a turbina de alta pressio opera a 3600 rpm. 262 Geragao Termelétrica: Planejamento, Projeto e Operagiio Bx HEH bo le] 2 FO at Figura 5.17 ~ Configuragdes de arranjos randem-compound (eixos colineares) & ‘eross-compound (eixos paralelos separados), A figura 5.18, a seguir, apresenta uma vista em corte de uma turbina a vapor Siemens de condensagio ‘com extragao, apresentando seus principais componentes. Nesta chama a atengio 0 estigio de regulagio, cons- tituido de rotor com palhetas de grande altura a fim de se realizar uma maior queda entilpica no mesmo, reduzindo-se os parmetros de pressio e temperatura para os demais estigios, facilitando a sua operago mesmo reduzindo a eficiéncia, Também vale salientar aexisténcia de vélvulas de admissdo de fechamento rapido (para ‘garantir a seguranga na operacao devido a algum problema na turbina) e da valvula de regulagem, Figura 5.18 ~Turbina de condensagio com extragio: vista em corte (Siemens). Carirawo 5~Turbinas a Vapor 263 5.4 ESQUEMA TERMICO SIMPLIFICADO DE UMA INSTALACAO DE, TURBINA A VAPOR Na figura 5.19 se representa um fluxograma térmico de vapor simplificado de uma unidade de turbina com reaquecimento intermedisrio e sistema regenerativo de aquecimento da gua de alimentagio. \S _— | CAP te te SR MP Figura $.19 —Fluxograma do ciclo térmico (Rankine) de uma CTE com reaquecimento ¢ regeneragio. Segundo a figura, inicialmente, o vapor superaquecido sai da caldeira e se expande no CAP (cilindro de alta pressio). Ap6s a CAP, o vapor retorna a caldera e passa pelo reaquecedor intermediério (RI) expan- dindo-se, primeiramente, no CMP (cilindro de média pressio) e, posteriormente, nos CBP! e CBP2 (cilindros de baixa pressio 1 e 2). Destes, flui para 0 condensador (C), depois para a bomba de condensado (BC) ¢ recuperador de calor do ejetor de vapor (E) e, entio, para o SRABP (sistema regenerativo de aquecedores de baixa presi), normalmente de 3 a 5 aquecedores abertos (ou de mistura) conectados em série. Destes, 0 fluxo segue para o desaerador (D) e, aps 0 mesmo, para a bomba de recalque (BB) ¢ para a bomba de alimentagao da caldeira (TBA), passando, em seguida, pelo SRAAP (sistema regenerativo de aquecedores em série de alta pressio), retomando a caldeira, Altos pardimetros iniciais do vapor de admissio na turbina ca utilizago do reaquecimento intermedis- rio permitem aumentar a temperatura média termodindmica de fornecimento de calor a0 ciclo (T,), 0 que, combinado com uma baixa temperatura média de rejeigio do calor no condensador (Tq, permite obter um rendimento térmico do ciclo de vapor suficientemente alto, conforme ser demonstrado no proximo item. Ty nm 6.) Tim ( sistema de aquecimento regenerativo da dgua de alimentago também aumenta, consideravelmente, aeficiéncia do ciclo de turbinas de vapor, como consequlncia do aumento da temperatura média termodinémica de fomecimento de calor(T,,) 264 Gerasdio Termelétrica: Planejamento, Projeto ¢ Operacdo 0 fomecimento de calor, neste caso, nfo se inicia a partir da temperatura que tem a égua apés a bomba de alimentagdo (no esquema mais simples, esta temperatura é praticamente a temperatura de condensacio do vapor), seniio, a partir de um nivel de temperatura mais alto, apés 0 aquecimento regenerativo (taa). Isto naturalmente aumenta a temperatura média termodinamica (T,,)- Na figura 5.20 esté representado a evolugio deste processo nas coordenadas T-S (temperatura-entropia), Todavia, é preciso assinalar que a uilizagao deste sistema acarreta maior complexidade e aumento de custo da instalagao. ‘Figura $.20 ~ Diagrama do processo em coordenadas T-S do ciclo com reaquecimento ¢ regeneragio, 5.5 RENDIMENTO DO CICLO DAS TURBINAS, ‘A avaliagio do desempenho das instalagdes de turbinas e seus elementos é realizada por um sistema de rendimento absoluto ¢relativo (com relacao & instalagao da turbina ideal). Analisemos o rendimento do ciclo de vapor de instalagao simples de uma turbina para geragio termelétrica conforme fluxograma ¢ os componen- tes indicados Figura $.21 —Fluxograma do ciclo de vapor (Rankine) simples, 5.5.1 Rendimento Térmico E um dos principais indices de desempenho (performance) de uma instalagio de turbinas. O diagra- ma T-§ do ciclo, da figura anterior, esté representado na figura 5.22 e, fazendo uma aproximagio deste diagra- ‘ma com o diagrama em T-S do ciclo de Carnot, temos a expressio do rendimento do ciclo acima como sendo: Te 62) Esta expressiio indica o possivel limite do rendimento da transformagao do calor em trabalho meca- nico para niveis de temperaturas dados e processos ideais em todos os elementos do ciclo. Carina 5~Turbinas a Vapor 265 ‘Tratando-se de méquinas térmicas, também € uilizado amplamente 0 conceito de rendimento cal6rico: we oii” =e (83) sendo Q, € Q, correspondentes, respectivamente, aos calores fornecido e rejeitado no ciclo, conforme os processos 4-1 € 2-3 na figura 5.22 “Pett bt tt 7 x Ss S Figura 5.22 — Diagrama do ciclo de vapor de uma instalago de vapor simples. Utilizando a figura 5.22, nio é dificil demonstrar que o rendimento caldrico é, em esséncia, o rendi- mento térmico, jé que, se representarmos na tltima frmula o fluxo de calor na forma de diferenca de entalpia, para um kg de substancia de trabalho, obtém-se: (64) sendo, Wy = trabalho mecéinico obtido na turbina, e W, alimentagao da caldeira Em instalagdes com ciclo de vapor, o valor de W,, € muito pequeno em relagio a W;, inclusive, quando a pressio inicial de vapor 624 MPa, constitui algo em torno de 4%. Por isso, W,, costuma ser despreza- da na itima férmula e, neste caso: Wy one (66) by-hy hj—by Q ) Deste modo, 0 rendimento calorifico é, em esséncia, a fragdo do calor fornecido ao ciclo energético que se transforma em trabalho mecfinico na turbina, ¢ 0 seu valor & aproximadamente igual ao rendimento térmico. Para as unidades de turbinas a vapor modemnas de centrais termelétricas, o rendimento térmico ou calorifico pode aleangar 42-45%, No entanto, nos diferentes componentes dessas instalagdes, ocorrem diversas perdas que, naturalmente, diminuem o rendimento da transformacao do calor em trabalho mecainico ou eletrici- dade. 266 Geragdo Termelétrica: Planejamento, Projeto e Operacao 5.5.2 Rendimento Interno Relativo da Turbina A representagdo do processo que ocorre na turbina é mais adequado de se representar no diagrama de Mollier (coordenadas h-s). Um exemplo deste proceso € mostrado na figura 5.23. Nesta, Py € ty sd0 pardimetros do vapor (pressio e temperatura) na entrada da turbina e P, a pressio apds a turbina (escape). O processo hy -> h,,, corresponde ao processo ideal ou te6rico da turbina, quando as perdas estio ausentes. O processo hy ->h, corresponde ao processo real na turbina com perdas, quando tem lugar o aumento da entropia (caso seja adiabatico). A queda de entalpia AHy =ho —h,,, € chamada de salto entélpico dispontvel, enquanto que AH, = hy ~h, de salto entélpico stil. Evidentemente, por causa das perdas na secao de fluxo da turbina, AH,

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