RACISMO
NO BRASIL:
QUANDO
INCLUSAO
_COMBINA C
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ial+ No ano de 2009, a midia brasileira foi inundada por uma
noticia que abatou a sensibilidade nacional. O episédio en-
volveu 0 jogador do Sio Paulo Futebol Clube, Graft, ¢ 0
2zagueiro argentino Desibato, o qual, bem no meio da parti-
da, teria xingado o colega, chamando-o de “negro e maca-
co's ele ea toda asua parentela, Tomemos 0 c490 como um
‘modelo exemplar. Afna, por que serd que o evento desper-
fou tanta atengio e ressentimento? Com certeza, e884 na
Seria a primeira vez que alguém arregimentaria a cor como.
categoria acusatria, ou se embraria da associa popular
entre cor da pele ¢ determinados atributos moras e cul
ras, Alm do mais, como marcador social de diferenga,*ne-
10” pode ser termo negatvo, mas também positive; até afe-
tivo. Jamals neutro.
‘Mas 0 fato & que simbolos 56 sio entendidos de maneira,
situada e, no contexto em questio, no havia nenhum laivo
de atitude carinhosa na expressio utlizada. Ao contri,
dessa vez, o que parecia chamar & reagio geral era o lugar
‘onde o conflto se explictava: no outro. Endo por coincidén-
ia, odo 0 cenario lembra tuma modalidade de preconceito
amplamente praticada no Brasil: uma espéeie de “precancel-
to de ter preconeeito™. Ta tipo de racismo retroatve foi des
crito pela primeira vez por Forestan Fernandes, nos anos
1960, e ji naquela ocasio o socilogo conchua como costu-
‘mamas jogar para o “outro” a discriminagio e o racismo. E
melhor ainda se fr estrangeiroe, de quebra, argentino.
Por outro lado, o embate jogava mais lena na fogueira
daqueles que acreditam que, no pals, a disriminagéo se ap
ca mais a cor do que & origem social, Oracy Nogueira em
1954 teria chamado o,fendmeno de “preconceito de marca’,
contraposto ao de “orig”, mais praticado em paises como
Attica do Sul Estados Unidos, duas nagies sempre lembra-
das, como o outro lado do espetho, quando se trata de anal
Sar oracismo exstente por aqui. O supostoé que, diferente de
‘outros pases, cuja base objetva da discriminagao & a origem
a quantidade de sangue negro ou braneo (0 famoxo modelo
norte-americano do one drop blood rule), no Brasil os padres,
se apresentariam comparativamente mais flxivels, uma vez
‘que oscilariam a partir da contingéncia (do momento), da si
‘hago social eda origem cultural. Ou sea, uma pessoa pode
definirse mais ow menos branca em fungéo da pessoa que faz
‘ pergunta, do contexto em que se encontra ou da stuacio
‘econémica que vivenca famosa a passagem citada peo via
jjante francés Saint-Hilare, que em pleno século XI, percor-
Tendo o interior de Minas Gerais, deparou-se com uma peque
a mili ¢ logo indagon pel chee. Um dos membros apontou
‘ent para um soldado,e fol quando o francés reagu, dizen-
do: “E aquele negra 2”. Ao que o mesmo oficial respondeu:
‘Nao, ele ndo pode ser negro, uma vez que & chefe”,
Exemplos desse tipo abundam em nossa literatura e con:
{formar um retrao fel da ambivaléncia do racismo praticado
no pais, Grate aceitou o apelide, que afetivamente delimita
sua cor. No entanto, om eircunstineia piblica agencia essa
‘mesma cor de maneira contri talver nessa stuago espe
cifeaprefiraalegar no ter cor, se julgue até mais branco do
{que em outras contngéncias, ou entofique irado a0 ver sua
‘origem social ede classe ser destacada em situagio de confi.
{o, O mesmo fendmeno se repete em um jogo que ocorre em
elidpolis (em Séo Paule), quando, hi mais de oto anos, um
‘oweo antes do Nata, realiza-se uma pelada chamada “Pretos
% Brancos”. Teorcamente sio onze jogadores negros contra
‘onze brancos, No entanto,a cada ano os espotistas mudam,
de time como se trocassem de mein. Methor do que a*wersati-
lidade” & o calibre das explicagies. Alguns dizem estarem
‘mais brancos porque enriqueceram; outros porgue subiram