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PERIGOS DA CASA MODERNISTA. A época ¢ de exposigdes, de quadros, de ves- tidos, de automéveis, de porcelanas, de cdes, de fendmenos naturais e artificiais, As mulheres, até © ano passado, expunham os seus joelhos. Os ho- mens expdem seus bigodinhos, ou a saudade de- les, porque nao se pode decentemente chamar de bigode esse vago ornamento capilar que ora se insere entre o nariz ¢ 0 ldbio superior de meus semelhantes. Afinal, tudo € exposicao, ou dé en- sejo a cla, mas expor uma casa, como agora se faz no Brasil, creio bem que é A casa é modernista ¢ const Paulo. A de expé-la ao pil Ha naquela Capital varias casas do ‘mesmo estilo © sabor, habitadas por pessoas sem preconceitos arqui . Essas pessoas, porém, diziam-se cacetea: todo mut mo era por dentro a casa mode a noite, eram até & copa, até & cozinha: — Dé licenga? E iam en ido. A principio, os pro- lhosos ¢ ufanos; davam ois no, ora essa, a ram a pereeber que ja estava ficando pau. Os tapetes cubistas do salo de visi acusavam marcas de sapatos absoluta- mente passadistas e enlameados. Havia curiosos que levavam a sua curiosidade ponto de pegar las de Leger suas impressdes di tirar uma pera da de Lallique © comeu-a sem explicagdes. Os criados estavam cansados de abrir e fechar as portas, de inspe- cionag, & saida, 08 bolsos dos admiradotes da nova arquitetura. Um inferno, a casa modernista. O engenheiro Gregori Warchavehik, autor de viirias dessas casas, tendo recebido reclamagoes de seus habitantes, concebeu a idéia feliz de cons- truir mais uma e expd-ta, mente pintada, mobiliada ¢ decorada, & curiosidade insactavel do piiblico. Em vez de “maquina de morar”, como bretende Le Coubusier, seria “maquina de ver" Apenas para os amigos do belo e do novo s¢ Ee acostumarem a entrar e sair de um edi derno, sem arruinar as tapecarias as colegdes de Chagal ¢ Marie Laui ginais de An exposta, ¢ dizem os jornais que co: cesso. No consigo imaginar é 0 q do esse sucesso enorme, irdo fazer 2”

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