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x SONJUNTURA ‘Macroeconémica Por que as nacoes fracassam? sndo de Holanda Barbosa Asnagies fracassam economicamente devido a suas instituigdes politicas. Esta éa resposta de Acemoglu ¢ Ro- binson a pergunta deste artigo, titulo do livro publicado recentemente por ‘esses autores, nos Estados Unidos." Esse livro sera leitura obrigat6ria para todos aqueles que querem compreen- der 0 processo de crescimento eco- némico. A mecanica do crescimento econdmico ja é bastante conhecida da teoria econdmica e baseia-se na acu- mulagao de capital fisico, de capital humano € na inovagio tecnolégica Por que muitas nagdes pobres so incapazes de usar esse conhecimento comum, disponivel em qualquer livro texto de economia, para transfor- marem suas economias trilhando 0 caminho do crescimento? Em Zimbabue e Serra Leoa, da Africa, na Argentina, Bolivia e Vene- ‘auela, da América Latina, na Coreia do Norte e no Usbequistao, da Asia no Egito, do Oriente Médio, no é a sgeografia, a cultura, tampouco a sor- te oua ignorancia da classe dirigente que explicam o fracasso econdmico dos mesmos. Onde esta o n6 gérdio dessa questo? A origem do fracasso reside na incapacidade desses paises de cons- 2+ Conjuntura Econdmica truirem instituigdes econémicas, que determinam os incen- tivos € as restrigdes para os diferentes agentes econémicos (consumidores, trabalhadores, empresirios, politicos) ¢ que moldam os resultados econdmicos. Essas instituigdes abrangem 0 direito de propriedade, a liberdade de esco- Iha de cada cidadao, o respeito aos contratos ¢ as leis, 0 desenho de mecanismos € politicas para que grupos de interesse nao se apropriem do bolo sem terem participado na sua produgio, a seguranca e a protegio das pessoas € a igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade em qualquer agao e/ou atividade. Dependéncia ‘A construgio das instituigdes econdmicas, segundo a teoria de Acemoglu e Robinson, depende das instituigdes politicas. Estas sio classficadas em dois tipos: extrativas e inclusivas. Instituigdes politicas extrativas eriam instituigdes econdmi- cas extrativas, transferindo riqueza e poder para as elites do pais, deixando marginalizada a maior parte da populagio. Esse tipo de instituigao pode até produzir crescimento eco- nnomico. Mas esse crescimento nao é sustentavel porque esse processo é incompativel coma manutengao ea concentragio do poder na mao de uma elite predadora. As instituigoes politicas inclusivas so baseadas no plura- lismo, produzem o império da lei, principio segundo o qual as leis devem ser aplicadas igualmente para todo mundo. Essas instituigdes politicas geram instituigdes econémicas com 08 incentives apropriados para o investimento em capital tecnol6gica que levam 4 prosperidade, e, portanto, ao aumento do bem-estar material da populacio. A segunda ico, a formagao do capital humano ¢ a inovagio CONJUNTURA ‘Macroeconmica parte da teoria de Acemoglu ¢ Robinson procura explicar porque instituigées politicas inclusivas surgiram em algu- ‘mas partes do mundo ¢ nao em outras. liveo de Acemoglu ¢ Robinson relata também fatos pitorescos, que na verdade fazem parte da tragédia de alguns paises, como € 0 caso da Argentina. Segundo os au- tores, Simon Kuznets, Prémio Nobel de Economia de 1971, afirmava que no mundo existiam quatro tipos de paises: desenvolvidos, subdesenvolvidos, Japio ¢ Argentina, O Japio entrava nessa classificagao devido ao seu crescimento, depois da Segunda Guerra Mundial, tornando-se um pais do Primeiro Mundo. Quanto a Argentina, a afirmagio de Kuznets baseava-se no fato de que na época da Primeira Guerra Mundial aquele pais era um dos mais ricos do mundo, De lé para ci a Argentina vem ladeira abaixo € hoje em dia é um pais considerado emergente, o novo jargio para subdesenvolvimento, Por que eles andaram para tras? ‘A resposta, de Acemoglu e Robinson, baseia-se no faro de «que as instituigdes politicas da Argentina sio extrativas, construidas na época de ouro da economia exportadora de produtos agricolas. Essas instituigdes perduram até os dias atuais, num equilibrio politico de forgas retrégradas que mantém o status quo, impedindo 0 surgimento de instituigdes politicas do tipo inclusivas que produziriam instituiges econdmicas capazes de gerar o circulo virtuoso. do crescimento econdmico. Brasil © livro de Acemoglu e Robinson trata também do caso brasileiro. Afinal de contas nossas instituigoes polit inclusivas ou extrativas? Os autores descrevem a coal das forgas politicas e das organizagées sociais na redemo- cratiza¢io do Brasil, que, em grande parte, sio responsveis, pela construgio das instituigdes politicas depois do regime militar. Eles descrevem a greve dos metaltirgicos na fabrica da Scania, na cidade de Sao Bernardo, em maio de 1978, 0 surgimento do lider metakirgico Luiz Inacio Lula da Silva, ‘sua transformagao em lider politico com a criagao do Parti- do dos Trabalhadores (PT), ¢ sua ascensao a Presidéncia da Replica. Atribui, erradamente, um papel desempenhado pelo PT na construgao de instituigdes econdmicas inclusivas no Brasil, que somente ocorreu depois da Carta aos Brasilei- ros, na campanha politica da primeira eleigao do presidente A origem do fracasso reside na incapacidade dos paises de construirem instituig¢6es econdmicas, que determinam os incentivos e as restricdes para os diferentes agentes econdémicos Lula, Nessa carta, o PT deixa de lado ‘ projeto antimercado de sua tradigio historica, de reveréncia sistemética a0 modelo cubano, ¢ embarca na canoa da democracia social, no rio j4 navegado pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Acemoglu ¢ Robinson erraram no varejo no caso brasileiro, mas 0 livro acerta no atacado, mostrando a importancia dasinstituigdes politicas aqui ¢ em qualquer lugar do mundo, onde se queira levar adiante am processo de creseimento econdmico ‘com justiga social. O Brasil esta no caminho certo, mas ha um longo ‘caminho a percorrer. a Fernando de Holanda Barbosa & professor da Escola de Pos Graduacao em Economia da FGM "Acemoalu, Daron rations fal the ogirsof awe: prosperiyyand very Nova York Gown Publisher 2012

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