Você está na página 1de 25
quips de rectizgto: Profeto grifico de Lécto G. Machado e Eduardo J. Rodrigues ‘Avteworin editorial de Mara Valles Revisio de Valeria C. Salles, El ete Orétice € Helaine 1, Vio Civ-Bras. Catalogectonaronte Eins Beate Go Lives SF Fredric, Hugg, OU197 Fate Ensure da Urea modem « da metade do séulo xxi a merdcn do adc XK) ogo Friedrich: tre diugbo do texto por Marie. M Curtin! posim por Dore F. és Sival, ~~ Ska Paulo Erne 1578 ‘Problemas atuais e suas Fontes: 3) Biiograie 1. Poesia franessa — 2. Poelo‘modema 5, Poesia moderna — Stculo 29 — Hisria © cries i Theta, (CD D-409. 109054 “st, e964 108 Es esse Indices para eatlogo sistem: Poesia: Séeulo 19: Hina e exten Doenla: Séeulo 19 + Literatur francesa « Misia cftea 641.09054 Pocus :Século 20 : Historia etea 80210808 ‘Séeulo 19 = Porsa : Historia e exilca 609. 109038 5, Seeulo 19 | Pocsie + Literatura francesa » Hintéris © critica 641,00054 Séeulo 20 : Poesia : Hise erties 408.1096 ESTRUTURA DA LIRICA MODERNA (da metade do século XIX a meados do século XX) Hugo Friedrich [Al Livraria [Al Duas Cidades 1 Porspectiva da lirica contemporines: dlssonénclas © ancrmalldade A Ifrice européia do século XX nio & de ficil acesso. Fula ‘de manelra enigmatic e obscura, Mas ¢ de uma produtividads Taipreendente, A obra dos lirieos alemfes, do Rilke dos times tempos e de Trakl a G. Benn, dos franceses, de Apollinaire Saintfoha Perse, dos espanhéis, de Garcia Lorca e Guillén, dos italianos, de Palazzeschi a Ungareiti, dos anglo-saxdni- eos, de Yeats a T. 8. Eliot, nfo pode mais scr em ‘Svida quanto 2 sua significasio. Este obra mostra que a forga de expzestdo da lites, na situacéo espiritual do presente, nfo € inferior & forca de expresso da filosfia, do romance, do teato, a pintura © da misica. om estes posta, 0 leltor pasa por uma experéneia que condaz — tammy sinda ane que de peeeba disto — multo Debtino d carscersoa esenclal de tl Lea, San obocuridade STcina, na mena medida em que 0 eiconcria. A magia de fun palnra seu ent de mintéio gem profundament, em bora a compreensdo permanesc desorientad”, “A poesia pode Comuniiar-seysindn antes de ser compresndia’, observau 75. Eliot em seus enstio. Esta jungio de incomprecnsiblidade © Ge fecinagao pode set chamada de distonincin, pols gera ma tensdo que tendo mais & inguletude que 2 erenidade, A tes dissonante é um objetivo das artes modernas em geral. Stra Winsky escreve em sun Podtigue Musicale (1948): "Nada nos Constange a buscar a sisagdo sempre e somente no repoino ‘Hi mais de um século, acumulam-se exemplos de um estilo no qual a dissonincia tornou-se auténoma, Transformou-se em uma fom ai. E assim sucede que ela nem prepara nem anuacia coisa alguma. A dissonincia é tio poueo uma portadora de desordem, assim como a consondncia € uma getantia de segu. ranga", Isto 6 valido em toda a extensdo tembém para a Urea, vp, Su® obscuridads € intencional, Jé Baudelaire escreveu: ‘Existe uina certa gloria em nio ser compreendido”. Para Benn, oetizar significa: “elevar as coisas decisives & linguagem do incompreensivel, dedicarse « coisas que tiveram o mérito de ‘que nfo se venha a convencer ninguém delas”, Em Extase, Saint. John Perse dirigese ao poeta: "Es bilingte entre coisas’ dupla- mente agudes, tu mesmo és uma luta entre tudo aquilo que uta, falando no ambiguo como alguém que ee desorientoy na Ista entre as asas e 08 espinhos!". E, de novo, mais s6brio, ‘Montale; “Ninguém escreveria versos te © problema da poesia consistisse ex fazer-se compreensivel” AA prinefpio, nfo se poderé sconselhar outra colse a quem tem boa yontade do que procurar acostumar seus olhos & obs. ‘suridade que envoive a litica modems, Por toda a parte, obser. Vamos nela a tendéncia de manterso afastada 0 tanto quanto ossivel da mediapo de conietdos inequtvocos. A. poesia quer Ser, a0 contrério, uma criagio autosuficiente, pluriforme. ne significagdo, consistindo em um entrelagamento do tenséer de forges sbvoluias, as quals agem sugestivamente em estratos pro. racionais, mas também dslocam em vibragdes as zoaas de tals. ‘étio dos'conecitos, Esta tenslo dissonante de poesia moderaa exprimese ainda gm outro aspecto. Assim, tragos de origem arcaica, mistca ¢ Seu, ectrattancom sna equ inland, spt lade ds exposicéo com a complenidade daquilo que ¢ expresto, g,sredondener lingo com a inexabidnde de on de, « preciso com 2 absurdidade, a teidede do motive com 2.maisimpetuoso movimento esiliaic. SBo, em parte, tnader formals ¢ quezem, freqientemente, ser entendidas somente como tals. Entretanto, elas aparecem também nos conteddon. Quando a poesia moderna se refere « contetidos — das coi- ‘as € dos homens — no as trata descritivamente, nem com o calor de um ver ¢ sentir intimos, Elz nos conduz a0 ambite do no familiar, tora-os estranhos, deforme-os. A\pocsis nay. guet mais ser medida om base eo que comumente s¢ chamna ton, lidede, mesmo sc — como ponto de partida para a sua liberdade a Mees com slg resduos. A realdade desprendetse ordem espacial, temporal, objetiya e anfmica e subtralu. as dlatingdes — repudiadas como prejudicials 16 sérias a uma otlentaglo normal do universo: as dusiingivs entre o belo ¢ 0 feio, ent a proximidade e a distincia, entte a luz 8 sombra, entre a dor e 8 alegria, entre a terra © 0 cfu. Das ités ranciras possiveis de comportamento da composiglo lirica — sentir, obtervar, transformar — ¢ esla éltima que dottina na poesia moderna ¢, em verdad, tanto no que diz respeito 20 undo como & lingua, Segundo uma definisgo colhida éa poesia romantica (e generalizeds, muito sem rezéo), a lirica ¢ tids, smuitas vezes, como a linguagem do ¢stado de animo, da alma pessoal. © conceito de estado de énimo indica distensio, me- dianie 0 recolhiments, em um esparo animico, que mesmo 0 hhomem meis solitério compartitha com todos aqucles que con- feguem sentir. £ justamente esta intimidade comunieativa que ‘poesia moderna evita. Ela prescinde da humanidade no sentido tradicional, da “experiéncia vivida*, do sentimento e, muitas vyezes, até mesmo do eu pessoal do artists, Ete nfo mais part ipa em sua criagdo como pessoa particular, porém como inte- ligéncia_que poetiza, como operador da lingua, como artista que experimenta os atos de transformasio de sux fantasia im ‘Hosa ot de seu modo irreal de ver num assunto qualquet, pobre fe significado em si mesmo, Isto néo exclui que tal poesia nasga da magia da alma e a desperte. Mas tratase de algo diferente dde estado de dnimo. Tratase de uma polifonia e uma incond- cionalidade da subjetividede pura que aio mals se pode decom por cm isolados valores de sensibilidade. “Sentimento? Néo te- ‘ho sentimento”, confessou Gottfried Benn, Quando suavidades afins 20 seatimento querem insecirse, palavras dessrmoniosas © duras atravessam-nas como um projétil, despedagandoas. Pode felar de uma dramatiidade sgressiva do poetar mo- demo. Ela domine na relagéo entre os temas ou motivos que si0 ais contrapostes do que justapostos, além disso, domina na relagdo entre esses e um comportamenio inguieto de estilo que separa, tanto quanto possivel, os sinais do significado. Mas ela determina também a relagdo entre poesia ¢ Teitor, gore um efei- to de chogue, cuje vitima & 0 leitor. Este néo se sente protegido ‘mas, sim, alermado, & verdide que a linguagem pottica sempre oi distnia da funsio normal da lingua, ou soja, de ser comu- ‘so, Presidio de caso olds Dante, por exempo, os Géngors, tratousc sempre, porém, de ume diference modern € paiva De improvio, oh sepinda meade do" éclo 1X, resultow da{ ums radical diversidade entre a ngus comum ¢ 4 pottica, uma tensio desmedida que, astociada os contetidos, ‘obscures, gera perturbaséo, A lingua poética adquire o cardter de-um experimento, do qual emergem combinagie ito preley- didas pelo sigificador'ou metRsr, x6 atdo cram o significado. wv © vocabulério usual aparece com significapses insélitas. Pala. ‘ras provenientes da linguagem técnica mais remota vém eletst zadas liricamente. A sintaxe desmembrasse ou reduz-se a expres. ‘88 nominais intenciohalmente primitivas. Os mais entigos ins. trumentos da poesie, a comperesio ¢ a metifora, $30 aplicados dds uma nova maneira, que evita'¢ terme de comperacfo natural © forse uma nido itreal daguilo que real e logicamente € incon. ailidvel.\Como na pintura moderna, a composigao de cores ¢ de formas, tormada autbnome, desloca’ou afesta completamente do aquilo que € objetivo, para s6 se realizat a i prSpria, Asian, na litica, a compotigéo autdnoma do movimento liegtistico, & necessidade de curvas de intensidade e de seqléncias sonctas isentas de significado, tém por efeito nko mais permitirem, de ‘modo algum, compreender poema a partir dos conteddos de suas afirmagbes. Pois o seu contetde verdadeiro reside na dram {ea das forsas formais tanto exteriores como interiores. Gone semelhanie pooma ainda assim é linguagem, mes uma Ti sem um objeto comunicdvel, tem o efeito dissonante de attait e, 80 mesmo tempo, perturbar qiiem a sente. Diante de tuis feudmenos, errigase no leitor a impressio de uma anormalidade. Com ito concorda o fato de que um con. cxito fundamental dos tedticos modernos diz: surpresa, estrahe. 22, Quem quer causat estranheza, surpreendendor tem do valne 2 de meos anormais. Certamente a anormalidade ¢ um conceso Perigoso; suscta a impressfo de que existe uma norm empl ema, Constate-se, porém, que a “snormalidade” de uma enon forowse norma na seguinte, ¢ deixouse, portanto, aminilan Certamente isto ado vale agora para aquela lice que temes de tater aqui. J& ndo vale mais para seus fundadores franceyes Rimbaud ¢ Mallarmé nfo foram mais assimilados por um pal 0 maior, nem mesmo hoje, por mais que se escreva sobre eles A nio asimilbilidads permaneceu uma caracterstica eaics também dos poetes mais modemos, Useremos, tedavie, heuristicamente a denominagio “anot- alidade”, assim como a denominagdo “normal”. Sem atengio as citcunstncias histéricas estimames em normais aquele estado dia alma ¢ da consciéacia que pode compreender, por exemplo, tum texto de Goethe ou ainda de Hofmannsthal. Isto. permite ‘dentticer mais nitidaments os fendmenos da lirica contmpors: ‘nea, que divergem a tal ponto de um poetar & muneita eo mencionsdos, que devem ser qualificedos de anormais, "Aor, ‘mal” no € um jutzo de valor e nto significa “degencrado"; isto ‘nunca € demais sublinher. O admirador acritio de poesia ino. derma costuma defendéla de restripio burguesa, do gosto eco. listico e familiar. Isto 6 pueril, nfo apreende de { rma alguma © fmpeto de tal poesia e dé provas, além do mais de falta ‘noglio de trés séculos de literatura européia. A por:sa (e @ arte) modems nfo € de se admirar nem de se rejeitar a sriori. Como 1m Fenbseno constant do presents, elm o « rio do set reciada pelo reconhecimento. Mas’o leitor tami ém tem um diteito, 0 de extrair os seus critérios da composigé » precedente € de estimélos tdo alto quanto possivel. Absicmownos de julgar segundo tais eritérios, mas permitimo-ncs, com a aiuda deles, 0 diteito de descrever ¢ de compreender. Isto porque una cognigio também é possivel «mma poe sia que néo espera, coma primeira coisa, ser comprvendida, visto «que ela, para concordarmos com Eliot, nig encerea ‘um signifi ado “que satsfara um habito do lelior") E Eliot prossegu Tis les pots inguin dante cal sip wo, oe sito este Ies parece suptfiuo ¢ veer posiblidades de inten ‘dado postin que surgem quando liber deste sigaficado™ Pode-se reconhecer e descrever totalmente tal pocter, mesmo se sek tom Hirde ho grandee spn ode no relhor dos casos, constiar sun propria liberdade, mas nio, soba cn ol hh pose sstes (do novo segundo uma afizmagio de Eliot) s80 180 impre- Vistwole na sues significasSes que eté mermo 0 préprio posts © ‘onhecimento do sentido daquilo que compos ¢ Iimitado. A cog. nigdo de tal poesia acolhe sua dificil ow impossvel compreensi- bilidade como uma primeire caracterisica de sun vontade est Mea, Out carats pode er consatdse. combect ‘mento pode autrr alguma esperanga, pois volteac a con FE et Sem er fehl 2 oli die lingusger dos autores mais diverscs. A cognicdo tegve, €- Fim, a pluraidade destes textos, na medids em que ela padpria fe insefe no processo que estes querem ativar no lito © pro- esso das tentativas de interpretacdo sempre postizantes,incon- lusas,conduzindo fora 20 aberto, Categorias negatives ‘A cognicdo da Mirica moderna encontra-se diante da tarefa 4s procurateatgorias com as quis te pon decrever cis It ica, Nio se pode fugir a0 {ato —¢ toda a erftica 0 confirma — de que se apreseniam cutegorias predominante nents negatl 19 vas. E decisivo, no entamto, que elas vém erpregtdar no pare Aepreian, mas para definir. Or, este vio torn © propsste Ge defini cm vez de deprecar,& ja uma conseqincia daguele pro. cesso histcieo pelo qual alice mederoa desprendewse daquele precedente, ‘A mudanga que se verificou na poesia do século XIX trou. 2 consigo uma miudanga cotrespondente nos conceitos de teoria podtica © da citica, Ai o inicio do século XIX, e, em parte, até depois, a possia achavese no dimbito de sessondncla da sie dade, era esperada como um quadto idealizante de sasuntos ou de situagdes costumeirss, como conforto salutar também na re presentagio do demoniaco, em que a propria ltica, embora di finta como género de outros géaeros, néo foi, de forma alguma, colocada acima deles. Em segsida, porém, a poesia velo a colo ccarse om oposicéo a uma sociedade preocupada com a segi- range econdmiea da vida, torouse 0 lamento pela deci Giemfica do universo e pela generalizada auséncia de pots derivou dat uma aguda ruptura com a tradiedo; originalidade postica justitiowse, recorrendo A ancrmalidade do" pocta; Poesia apreseniou-se como a inguagem de um softimento que s ra em tomo de si mesmo, que nio mais aspira 8 salvagio slaw rma, mas sim & palavra rica de matizs: a lisia fol, de ora ern dante, definida como o fenémeno mais puro © sublime da poc- sin que, por sua vez, colocou-se em oposiedo & literatura restate ¢ nrrogouse a fiberdade de dizer sem limites e sem consideracio fado aqllo que The sugeria uma fantasia imperios, uma ine midade estendida ao inconscientee o jogo com uma transcendén- cia vacia, Este transformasto espelhase muito exatamente nat ‘categorias com as qusis poetas e eriticas falam da lirica, ‘Ao julgar as poesias, » época precedente indicava prepoa- erantemente as Guaidades de totteddo ess descevi com ‘categorias positivas. Das recensées de Goethe sobre 2 poesia, co- Themos apreciagées, como: aprazimento, slegri, plenitude ‘har- minica ¢ afetuosa; “toda audécia curva-se a uma medida legiti- ma”; as catistrofes transformam-se em béngios; aquilo que € ‘comum, & exaltado; o beneficio de uma poesia & “que ele ensina 8 compreender a condieio do homem como desejével"; ela tem “a serenidade interior", um *olhar feliz para com 0 real”, e cleva © individue a0 universalmente humano. As qualidades ‘formais chamam-se: a significtncia (0 contetido significativo) da. pala- ‘uma “linguagem contida”, que “procede com cautela tran- « exatidio” ¢ escolhe cads palavra na medida justa, “sem ‘conceitos acessérios”. Schiller vale-se de conceltos anélogos: a Poesia enobrece, dé dignidade ao afeto; 6 “ideslizagio de seu 20 objeto, sem s qual deixaria de merecer seu nome”: evita “rati- Gades™ (singularidades) que contrasiariam com o "idoalmente universal”; sua perfeigio depende de uma alma limpids, sua bela forma da “continuidade do contexto”. Visto que tais ex glncias © avaliagSes vém delimitadas por scus contrérios, a época precedente tem de usar também categorias negativas, mas ‘exelusivamente com a finalidade de condenagio: fragmentério, “confuso", “mero amontoado de imagens", noite (em vez de Juz), “esbopo talentoso”, “sonhos vacilentes*, “tecido esvos- ‘gante” (Grillparzen. E agora, com a outra forma de poetar, eis que surgem também outras categories, quase todas nogativas, além do mais referidas, em crescente medida, no. mais ‘a0 contotdo ‘mas, antes, 2 forma. Jé com Novalis elas vém usedas nfo para ccensurat, mas para descrever e, até mesmo, para elogiar; a poe- sia baseia-se na “produgto acidental propositada”; ela representa © que foi dito “em concatenagéo livre acidental”, "quanto mais pessoal, mais local, mais temporal & uma poesia tanto mais ele esté préxima do centro da poesia” (notese que “temporal” ete., significava comumente, na estilistica de entao, o inadmissivel- ‘mente limitade), 4quadro da literatura que viria depois dele. Na. verdade’ este Guadro — iano quanto se possa interpretar um autor eadtico {que se oculta sob mésceras diversas — parece ter sido cance. 4o como uma admoestagso. Todavia que € desconcertante € que Lautrésmoni, que ajudou « prepacar a lirica posterior, sou be distinguir suas caraceristicas de tal forma que 90 toma indi ferente saber se ele queria — talvez — deter a evoluggo que cstays_pressenfindo. Suas confusdes, degradagdes, teeitos, dominio da exceggo ¢ 0 ex- traordindrio, obscuridade, fantasia ardente, 0 escuro e 0 som- bri, dilaceragso em opostos extremos, inclinaglo 20. Neda, E surgem, entfo, inesperadamente, na torrente de tas eonceitos © de semethantes, as serra". Mas encontramos estes serae ta bém em outros lugares, Numa poesia de Bluard, “Le mal” (1952), que consste de imagens acumuladas da destrigdo, soa © prime verso: "AC havie a porta como ume serra”, Vétios aquadros de Picasso mostrar, sem qualquer necessidade obje 1A putea tanec ¢ tag cit de a depod, também noe ton 1 eprmages amps nee @ ceanido proc ete guint, a live, uma serra ou entio s6 dentes de uma serra, colocada de tmnvés eniee superfices geométricas; as cordas de ‘um bandolim faparecem, outra vez, como imagens semelhantes a uma serra. Nao serd necessério pensar em influéneia alguma. Pode-se com siderar 0 aparecimento deste simbolo, em tal lapso de tempo, ‘como umm dos sinais mais expressivos para a coagio da estra: tura que domina na poesia € na arte modernas, desde a segunda metade do sécu"s rassado. Citaremos sinda {6emules signficativas colhidas de eseri- tos alemies, franceses, expanhtis ¢ inglescs sobre a lirica com ‘erapordnea. Insistimos no fato de que elas sempre foram em- ‘pregadas descritivamente e no com a finalidade de deprecsr. Ou ‘seja, desorientaséo, dissolupio do que € comente, ordem sactifieada, incoeréncia, fragmentacto, reversibiidade, estilo de slinhavo, poesia despoetizads. lampejos destrutivos, imagens ‘ortantes, repentinidade brutal, deslocamento, modo de ver a tigmético, estranbamento ... 2, Finalmente, a expressio de um ‘espanhol”(Démaso Alonso): “Nio existe, no momento, outro recurso do que designar nossa arte com’ conceitos negativos” Isto foi escrito em 1952 e poderie ser repetido em 1955, sem distorgéo dos fatos.. £ correto falar fundamentado nesses conceitos. Certamen- spenas um valor aprosimativo © aio atinge o justo valor, en- quanto reduz as dissondncias reais ¢ léxicas de. Rimbaud.[Um ‘rico francts fala da “beleza singular” de poesia de Eluard, Contudo, este conceite positive fica perdido em melo a uma série de conceitos completamente negatives; ¢ 6 estes caracte- rizam aquela “beleza singular’. Fazem-ec experiéncies seme Ihantes com os cerfticos. de pinture. Chamam “clegante” um pescogo pintado por Picasso. A definigéo & exata c todavia nfo ‘exprime a elegincis perticlar daquele pescogo, ou seja, a ele de uma imager completamente iereal, que néo € mais sa humana, mas sim uma montagem em madeira. Por que no se tem a coragem de inclu isto na definigfo de uma tal elegincia? ‘Surge a questio do motivo por que se pode descrever 0 poetar modemno muito mais exatamente com categorias negat- ‘yas do que com postivas. B ums questio de determinagio his- térice desta Iittea — uma questio do futuro, Estario todos e3- ‘es poetas tio adiante de és que einde nenfum eonceito apro- 2 priado os pode atinglr © a cognigéo tem por isso de conterse naqueles conceitos negatives, para poder ter a0 menos um posto ‘de apoio? Ou 6 cxaln a possiblidade, aludida h& pouco, que 4 rata de uma no sssimilabilidade definitive que seria’ uma ‘aégctertsticn essencial do postsr modemno? Poderia ser qual ‘quer das duss hipéteses, miss nfo 0 sabemos. S6 se pode com provar 0 fato da snormalidade. Dai a necessidade de ermpregar, 4a exata cognigSo dos clementes de tal anormalidade, aqueles Conceltos quo cla impés até mesmo sos observadores mais so licks. Prolidios teéricos no século XVIII: Rousseau @ Diderot [Na segunda metade do século XVII, comegam 2 sparecer fenémenos na literatura européia que, considerados a partir da liriea posterior, podem ser interpretados como seus prelidios, Contentame-nos em demonstrilos em Rousseau ¢ em Diderot. Rousseau interresea.nos aqui menos como 0 autor de pro- jcos @ sociais ou come o homem inebriado da na- ddida em que se trata dos pélos de uma tensio indissoldvel que atravessa toda a sua obra, E a tensio entre a agudeza intelec- ‘ual ea excitegio afetiva, entre 0 pendor a seqitncia Iégica do pensamento € a submissio as utopias do sentimento — um eso particularmente sedimentado da dissonfincia moderna. Po- rém, algumas outras caracteristicas nos so agora. mais impor- tantis. Na verdade, Rousseau & 0 herdeiro de muitas tradigées. Mas elas nfo estio mais obrigatoriamente vinculadas & su tengéo, B como se ele quiseste ficar completamente 6, apenas diante de si préprio c da natureza. B esta vontade que importa. Rousseau dirigese a0 ponto zero de hist6ria, Ele a deprecia através de seus programas sobre politica, sociedade © sobre a vide, para os quais 0 adentrarse em condigées historias ja seria uma falsifieagio. Em sua atitude autiste, ele encarna a primeira forma radical de ruptura moderna com « tradigio. E, ‘ao mesmo tempo, uma ruptura com o mundo circunstante. Cos tumase julgar Rousseeu como um psicopata, como um exem- plo clissico da mania do perseguicSo. Esic julgamento nio bas- fa; nfo consegue explicar por que sua época © a seguinte admiraram nele justamente a incomunicabilidade e « singular 2B ‘dade dat legitimada, © ea absoluto que aperece em Rousseau, com o pathos da grendezs incompreendida impele a ume rupe {ura entre ele proprio e a sociedade. Nai verdade, a ruptura res Tizou-se sob os pressupastos patoligicos da pessoa de Rousseau, ras coincidiu, evidentemente, com uma experitncia da époce ue jé se tomava sobrepessoel. Ver na prépris anormalidade a sarantia para a sua vocscéo, estar to convencido da necesséria Sreonaiiade ene o ta o| mundo de tal modo gue oe podia baseer nlsso a méxima “antes querer ser odiado do que fer normal” € um esquema dsquels eutc-interpretagio, que fa silmente se reconhece nos poetas do séeulo seguinte, Verlaine encontrou a formula exala: podies mavdits (postes malditor). © sofrimento do ex incompreendido, diante da proscrigao do ‘mundo circunstante provocade por ele mesmo ¢ a volta 8 inte- Flotidade preocupada consigo mesma, torna-se um to de orgie lho; proseriedo maniesese como uma pretensto superior de Rousseau conseaue exprimir uma certeza na existéncia pré= racional, em sua obra escrita na velhico, Les Réveries dat Pro- ‘meneur Solitaire. O-conteido desta obra € um crepilseulo de so- rho que decline do tempo mecfnico ao tempo interior, que no mais distingue entre passado e instante, confusdo e beneficio, fantasia e realidade, A descoberta do tempo intetior nfo 6 nov Sénecs, Agostino, Locke, Sterne, tinkam refletido sobre ela, A intensidade lirica, porém, com & qual Rousseau se abandons ‘20 tempo interior, tm particular a sue disposigio para uma ‘alma adversa ao rmundo circunstante, tove uma forea que pre pparou o camino poesia futura, que nio podia advir das ante- lores anélises filos6ficas sobre ‘0 tempo. U tempo mectnico, © reldgio, vem sentido como © simbolo odiado ds civilizagao (enica (assim em Baudelaire © em muitos poetes posteriotes. como em A. Machado), 0 tempo interior constituiré o refGgio de uma liica que se esquive 2 realidade opressora, AA supressio da diferenga entre fantasia e realiéade ¢ con- seguida por Rousseau em muitos outros trechos de suas obras. 86 0 fantasies — assim consin em La Nouvelle Héloise — trez 8 felicdade; realizasdo, porém, € a morte da felicidade: “O pais da fantasia 6, neste mundo, 0 tinico que merece sor hi Ditedo; a esséncia ‘do homem € tio nla que s6 € belo aqullo que néo existe.” (VI, 8) Acrescese # esta formulagiio 0 eoncel de fentasia criativa, cujo direito € aquele de eriar, com & dlisponibilidade do sujeito, © nfo existente ¢ de colocéle acta do existente (Confessions, IT, 9). Jamais pode ser attibuida demasiads importincis 20 significado de tals expresses para 28 4 poesia futura, B verdade que Rousseau fala impulsionado por ‘um sentimentalismo da felicidede ngido do matizes pesious Eliminandos, veromos que a fantasia ¢, aqui, ousadamente cle. vada a uma faculdade que, além de bem conhecer sua condigdo de iluséria, também 2 quer, gragas a convioggo de que © Nada — certamente entendido ainds por Rousseau como. nulidade moral "no. permite our produtvidade do espto nfo sera Imagindca; 56 esta satistaz @ necessade de desdobramento da jnteriordade, Com isto cal por tera o dever de medit com a legitimidade objetiva e 1dglea o produto da fantasia e de man- to afasiado do puramente fanistico. A fantasia tomese abso- Iuta, N6s a reencontraremos com tal deinigdo no séeulo XIX, exacerbada em fantsla dliaoval defiivamente libertad das cores sentiments de Rousseau ‘Também Diderot concede & fantasia uma posigéo indepen- dente e The permite medir-se s6 consigo mesms, AS suas refle- xGes sio de un teor diferente daguele que se encontra nas reflexdes de Rousseau. Relacionam-se com su discussio sobre 0 alo, como ele a desenvalve, dialeticameate, em Le Neveu de Rana neues, 20 rig see © “Gta” Bay loptdie, No primeiro escrito, aquela discussfo conduz ® tose de que a freqiente, talvez necesséria, coincidéacia de imor dade com a genialidade, da inaptidéo social com a grandeza espinitual, € um fato que se tem de constatar, mesmo se ele ‘nko pode ser explicado. A ousadia deste pensamento € extra- ‘ordinéria. A paridade — comente desde a antigiidade — das faculdades estéticas com as cognosctivas e éticas € abolida. Atribuise uma ordem autOnoma 20 génio artistico. Confronte- ‘2 esta alitude com 0s esforgos enviades por Lessing © Kant para continuar a conciliar 0 exceptional do génio com os valor res normativos do verdadeiro e do bom. Nio menos ourado é ‘9 artigo da Encyclopédie, Diderot unzse certamente a urea concepelo mais antiga segundo a qual a genialidade consiste fem um poder visiondrio natural que pode romper todss as re- aras. Porém, em nenhum autor, antes dele, podia-e encontrar a 2. Com reypelio 2 lfernsa fundamental dese conesito moderne fe faniaia dagueke do prego de AtziGiele veiage V_ Sel ‘eukade Imaginative (i= Idews und Forme Pesschri ft dish, Frankfurt at, 194) = ME Elgeldinger dscreve evdlogzo 30 no- No conceto de fenushie om PJ. Rousseau et le rdli de Pimaginatlon, Nechitel, 1862. ‘Evigentemenie 0 deve Ser exquecido que, desde por a se seo V1, coer & foc ors de pods cota inexistntes ou de feuif coins que tunce cistern jntar nalureea, ‘Pordm, com blo enlendinge a fovge da fantasia erledoee de its, © ‘io sia cepecidade de crar uses, como sconce” desde eatio. 25 afirmagio que 0 génio tem direito & selvagerie, mas também o dlrelto' de cometer erros; justamente seus erros. as . estranhos, so aqueles que inflamam; o genio semeia equivocos sespléndidos; arrebatado pelo vio de dguia do sua idcia, le constrdi casas nas quais a razio nfo iria hubitac, suas crlegoes ‘fo livres combinagées que ele ama como tmta poesia; sua ea. pacidade ¢ muito mais um produzit do que um descobrin; por: tanto *verdadeiro e falso no so mais as carscieristicas que dlistinguem o génio™. Nos techos aqui compendiados, emprega. © mulias vexes o conceito da fantasia, Bla é 2 forga que guia © génio. O que se concede 9 ests, concede também a cla: ser lum movimento auiBnome de forgas expirituals, cuja qualidade 1s mode segundo a dimensao das imagens produzidas, segundo a eficicia ‘das idies, segundo uma dindmica pura née’ mais ligada 90 eonteido, a qual deixou atréa desi as distingses nire 0 bem e o mal, a verdade eo equivoco, Também 0 paseo dagui 2 fantasia ditatorial da poesia posterior nao é grande. Faz-se necessério, ainda, atcntar algumas idéies de Diderot; excontram-se sobretudo nos Salons, onde faz uma apresiaglo critica da, pintura de entio. Neles impera uma sensibilidade apurade dos valores stmosféricos de um quadro o se expéem is6es totalmente novas acerca das leis, Independentes do sue to, de cores ¢ de luz. Mats xigificative, porémn, é que as ani lises da pintura entrelacam-se com a8 andlises da poesia, Esta ‘concepsio tem pouco a ver com a antiga dosttina que costu. ‘ava ser documentada com a formula (equivoceda) de Hordeio “ut pictara poesis"*, O que agui se delineia, antes de tudo, 6 4 aproximacso entre a rellexdo sobre a poesia e a reflexdo 4o- brea arte. plistica, uproximasio essa, especificamente imo. dema, que retorna cm Baudelaite © duraré até o presente. Nos Salons, surge uma visto de procedimenios poéticas que cta ‘aquele tempo, quando muito, compandvel aguela de G. B. Vico: zaas Diderot nfo conhecia 0 pensador italiano, Diderot vé que @ acento € para o verso 0 mesmo que a cor 6 para o quadro. A coraunfao-de ambos ele chama de “magia titmica®. Esta to- sa a vista, 0 ouvido ¢ a fantasia mals profundamente do que poderia fazer a exatido objotiva, pois a “cleridade prejudice”, Dai © apelo: “Poetas, sede obscuroe” — com 0 que s¢ entende ie a'poesia deve volver para objetos remotes, asoustadores ¢ que inspirem mistério. Mas, antes de tudo, para Diderot, © Poesia mio € mals, absolutamente, a enunciagio de objetos. 3, ar » concepsio ceria desta (Srl vejege Horatius Maccu, ‘pila, ed, Kiessling Heine, Beri, 1997, p. 33, 26 Els € movimento emocional obtido por meio da eriagio de me- tiforas a quem é permitido “lansarse aos extremos", valendo-se de tonalidades, da mesma forme, extremas. Anunciate aqui, porianto, uma decisiva preeminéncia da magia Yinglistica sobre © contedido lingistico, da dindmica de imagens sobre o signifi cado das imagens. A frase: “As dimensGes puras ¢ abstratas dda matéria tém uma certa forga de expressio" sinda tateante, ‘mas surpreendente, mostra-nos até que ponto Diderot péde, as vezes, avangar no’ desprendimento da objetividede, Baudelaire voltaré a exprimir algo semelhante, mas com maior decisio, e, deste forma, fundaré aquela modernidade do poetar que hoje se pode chamar de poesia abstrata, Além disso, Diderot deseavolveu uma teoris da compreen- ‘sio que se pode resamir assim: a compreensio existe 10 cato ideal apenas como auto-compresnsao; 20 contrério, © comtato featre poesia ¢ Ieitor, conforme a insuficiéncia da lingua pare traduzir de forma exata as significagSes, nfo é 0 contato da compreensic, mas sim o da sugestio magica. E, efinal, comesa, com Diderot, uma ampliagio do concelto de beleza. Embore com muita cautela, ele cusa » tentativa de imaginar a desordem ¢0 e008 como esteticamente representaveis e ver na perplexida- de um Iitito efeito artistco. ‘Tudo isto so moderismos assombrosos que resplandecem um espirito cuja riqueza de idéiss, de pressentimentos © de cestimlos, fez com que ele fosse multas vezes comparado com (s elementos fogo e Sgua, com um vulefo, com Prometeu e, ‘aié mesmo, com uma salamandra, Na verdede, hora de suat ias chegou s6 quando ele foi esquecido de novo, pois ele, 1hé muito, estava transformado em outros. NNovafls sobra 2 poesia future ‘As novas definiges de fantasia e de poesia, documentades aqui em Rousseau ¢ em Diderot, consolidam-se no Romantismo da Alemanha, da Frange ¢ da Inglaterra. O caminbo que eles tomam, a partir dal até os autores da metade e do fim do século XIX, pode ser seguido de perto o tem sido desctito smuitas yexes. Néo é, assim, necessério repet-lo aqui. Podemos ‘os limitar « compilar os sintomas mais importantes que ape- reoem nas teorias do Romentismo € que jé sio cs sintomus do oetur moderno, 7 Preclee-ge comegar com Novalis, Sua poesia no pode det de ser levada em conta. Swas reflexses, sssentadas nos ragmentos", ¢ em algumas péginas do “Ofierdingen”, esto ‘multo adiante’daquele. Com o propésito de interpreiar a’ poesia omnia, tragam um conceito da poesia futura, cuje signi ficagdo total 66 se abrange, por sua vez, se ponderado com @ pPritica posties, de Baudelaire até o presente, © que diz Novalis sobre a poesia referee quase excius- vamente 2 lirica, a quel sparece agora camo 0 “posto pura ¢ sirplesmente”, Bertence 2 sun esséncia « indeterminailidade ¢ # infinita dsthacia de todas as outras formas da, iteratora 2 verdade que, vez por cutra ele a chama de "reprecentagdo do Sentinento". Todavia, com esia expresso. defrontame cuties ‘gue interpretam o suicito lirics como ume. disposiggo neutra, como ums foalidade interior que nfo se prendo a uma sease #0 precise, No sto postico, « “ponderagio Fria" dotém 0 co- mando. *O poeta € ago puro, duro como uma pedemnsia.” Ne aatéria conereta como na espisitual, sri consegue a anstu: 18 do heterogineo, a fosforescéncia das transigGes. Ele é ume ‘efesa contra a vida habitual”. Sue fantasia gova da liberdade “de misturr todas a5 imagens”. A lirica 6 uma oposiqdo que canta contra um mundo dos bébites, ne qual os hantens poet cos nfo podem mais viver, pois io “homens divinatérios, may gos", De novo, portant, a peridade da poesia com a magia, Provinda das mais antigis tadigoes, mas" colocada numa’ nove relagio com a Fconstrugdo” ¢ com a “élgebra",.como Novalis chara © gosia de sublishar um teago intelectual deste poe: sla. A magia poética € severa, ¢ “uma fusdo da fantasie com @ forsa do pensamenio”, € um “opeter’,profundemente distinto em seu efeito do simples prazimento O qual, agora, deixa co fer 0 scompenhante da poesia. Da magia, Novalis deduz 0 conotto de encantamento. “Cade palavra & umn encaniamento", ima evocasdo eum exorcismo da coisa que nomeia, Dal @ “méfica da fantasia" © "0 mago & poole”, e vice-versa, Sua {orga consists em que cle pode induzit os enfettcados “a ver, cer a seotir ume coisa tal como eu quero", portant, fantasia ‘iatoial Cpredutive"). Esta 0 "maior bese do explo", Independente de “estimulos extetores”. Portanto, sus lings gem € uma “lingvagem auténoma’, sem a finalidade de coms. alcaglo. Na linguagem postica, “ocorre como com as férmules smatemiticas; formam um mundo para si, jogam apenas consigo smesmas”, Tal linguagem ¢ obscura, as ‘vezss, até 0. ponto de quo 0 posta “nfo compreende a si préprio"; pois imporam Iho as “relagées musicais da alma”, as seqinelas de acento © 28 dle tensfo, as quais nfo dependem mais da signficagdo das pa- lavras, Certamente, tende-e winds a uma compresnsto. Tra se, porém, de uma’ compreensio de-pousos iniciades, Estes feleiades fo smsis esperam da poesia os predicados de seas “gineros inferiores", ou se, “justcza, clareza, puteza, comple: tage, ordem” pois existem predicados superiors: a harmonia, a cufonia. Bis, pois, de forma decsiva, a moderna separagio entre lingua © conteddo, a favor da primeira: “Poesia, sim, plesmente cufénicas, mas também sem o menor sentido e eo. nexéo, no méximo esirofes isoladas compreensiveis, como frag ‘entos putes das cols mais diversas” B, portant, permite 4 magia lingUsica tragmentar o mundo # servigo do! encanta: mento. A escuridio e incoeréncia tomamse pressupostos da sugestio lirica, *O poeta serve-se des polavras como toclas”, desperta nelas forges que a linguagem coticlana ignora: Mal lanmé falaré do “piano de palavras", Contra a poesia ete rior, que dispunha " nfo. hums ordem facilmente conpreensivel", ecreve Novalis: “Eu quate me atreveria a dit er que 0 cos deve transparecer em rod poesia” © novo mode dle excever pcsia provoce um completo “alheamenio”, pare conduzir 8 “patria superior”. Sua “operagio" consiste em’ ded. 2ir do conhocide o desconhecido, como faz 0 "anallste no sen. tido matemético".'Tematicamonte 2 poesia segut 0 caso; me- todicamenic, as ubstrayGes da Algebra, as uals se tocam com as “abstrgdes de fibula", ou soja, com wa Hberéade ‘nos sonfrontos do mundo habitual que sofre de uma “claridade =x. cassia", Interioridede nesta em vez de sentimento, fantasia em vex de realidade, fragmentos do mundo em vez de unidade do mundo, mistura dagiilo que & heterogéneo, caos, fateinagdc por meio da obscuridede e da magia Linglistica, mas também ‘um opetar frio anilogo ac regulado pela metemética, que alhela © hebitual: esta € exstamente e estrutura deniro da qual se situardo a teoria poética de Baudelaire, a lirica de Rimbaud, de Mallarmé ¢ a dos poetas hodiemnos. A estrutura permanece fransparente também nos casos em que cada um de seus mem bros foi mais tarde deslocado ot integrado, ite Jo s poder complet com, at expresses. de Fr. ‘Schlegel sobre a exigéncia de separar o verdadciro © do moral, sobre » nevessidade pottica dos caos, sobre o “exctm- tico © o'monstevoso” como pressuposto da otiginalidade poe. tica, Novalis e Schlegel foram lidos na Franca e forentaram os ensementos fundementais do Romantismo francés, 23 (© Romantismo francés seré considerado brevemente; cons- Utul a ponte entre 0 que foi descrito aié agora © Baudclaire, ou sein, © primeito grande Iirico do modernismo, que é, 20 mesmo {empo, © primsiro teérico decisive, na Europa, da ‘liriea e do sentimento artistic moderns (© Romantieme france ‘Como moda literéria, » Romantismo francés extingulu-se por volta da metade do século XIX; mas subsistix com o des- tino expistual das gerasGes posteriores, também daqueles que pensavam em Liguidélo ¢ que introduziam outras modas. O que rele havis de descomedimento, afctagio, ostentapio, trivislide- de ropidamente csgotivel, desabou. Todevia, legou os meios de representagio aquele estado de conscifacie que desde a so- punds metade do século ia se transformando e afestando cada vez mais do Romantismo. Em suas harmonias se achavam Ia- tentes ar dissonincias do futuro, Baudelaire escrevia: *O Ro- mantismo € uma béngio celeste ou diabélica, a quem devemos fstigmas eternos” (p. 797). Esta cxpresslo atinge em chcio o fato de o Romantismco imprimir estigmas a seus sucessores até mesmo quando esté se extinguindo. Estes se revoltzm contra dle, porque se acham sob seu encanto. A poesia modema é 0 Romantismo desromantizaéo (eniromantisierte Romantik). __ A.amargura, 0 gosto de cinzat, 0 turbamento so expe- riéncias fundamentais forgadas, mas também cultivadas pelo Romantisme. Para a civilizagéo antige e posantiga, até 0 s6- culo XVITT, a alegria era aquele sumo valor espiitzal que in- dicava a perfeigio alcangada pelo sibio ou pelo crente, pelo cavaleiro, pelo homem d core, pelo erudito da elite social. A dor, a ndo ser que fosse passageira era considerada um valor negativo ¢ pelos tedlogos, uma culpa, A partir das tendéncias para a dor dos pré-romanticos do séoulo XVIII, estas relagbes se inverteram. A alegria e a serenidade desapareceram da lite- tatura. A melancolia ¢ a dor oésmica ocuparam o seu lugar. Estes nfo necessitavam motivo algum para se justificarem, ox- trafam de si préprios seu alimento © tornaram-se predicados de nobreza da alma, O romintioo Chateaubriand descobre a melan- coli sem objeto, cleva a *eiéncia da dor € das angistas” 4 feta dae ortese interpreta a cisfo expititual como Béngdo do 0 CCristianismo. As pessoas declaram-se pertencentes a ums época cultural tarda, A, consiéncin de ser deadente propegnse ¢ € ‘desfrutada como fonte de estimulos inséltos. O destrativo, mor. bbido e eriminel adquite a cetogorie de interessante, Numa poo- ia de Vigay, “La maison du berger”, a lirica tomase o lemen- to sobre os perigos da téenica que ameeca 2 aima."O conceito cdo Nada eomesa a ter sua importancia. Musset € seu primeiro FPorte-voz, no dmbito de um campo de experiéncia na qual @ Joventude ‘ludida, inflamada por Napoledo, vai de encontro f@ um mundo de negécios sem peixdes © ¥é ambos, ilusso © ne- sg6cio, abismaremse na insensatez, no deserto, no siléncio, no Nada, “Acredito no Nada, como em mim mesmo”, dizia ele. Melancolie e lamento transformam-se, afinal, na angistia por ‘aquilo que € inguietante. Numa poesia de Nerval, que traz 0 titulo, distonante de seu contetdo, “Vers dorés” (1845), © nive- Jao humano com © ndochumano, encontre-se o verso: “Temas, no muro cego, um olhar que te espreita”. Veremos, como to- dus estas tendéncias contiauam em Baudelaire — e como s smodificam. Seguindo os modelos alemics — nos quais as tradighes pleonitee tnhamse tornado tsvas —, também ot roms Franceses interpretam 0 porta como o vidente Some’ taturdote no sanuario da Art, Os poetas forma om partido contra o piblico burgvés e, por fim, partidos contri- ioe uns aos outros. A férmula usads, sinda em 1801, por Mime. Be Siacl, segundo a qual a literatuca seria expressio da so- cidade, perdc seu sentido, A literatura repete » orotesto da RevolugSo contra a rociedade vigente, tomsse lveratura de pose ou ume ict do “Fa, fiat, uma lteratura " Sepregagio, com crescente orgulho pelo isolamento. O es fqueme de Rouseens, da tinguleridade baseada na anormalidade, fbmmese 0 exquema programético destas geragses © das so- suintes. ‘Sem divide alguma, » consagrasio prOpria do poets, as ex: periéncias auténticss ov artficais da dor, da melancolis, da Fulidade do mundo, Hberteram forgas que redundaram emi fa- Yor da‘litiea, No Romantismo, floresce a Uslea francesa, al- tangando novo esplendor, depois de sua dltima época éurea que ‘emontava a trés séculos atrés. Nele hd grandes valores, mesmo fue alo sejam de categoria curopéia, Foilhe proficuo © pease- Inento expresso por tode a parte, também a Franga, de que a poesia €a lingua originéria da humenidade, » lingua total do fujeito total, para a qual no existe frontere entre as maté- au tes, nem mesmo limite entre 0 entusiasmo religioso ¢ © postico. AA livice roméntica francesa possui vaste nuanga das experigocias ineriores, viva capacidade criativa para susclar atmosferas me- ridionais, orientais © exéticas, produz uma poesia bucélica-€ goons ocaninore¢ die de ume vious are do veo cintlante, rica de gestos, superprodutiva, oratéria em Vi Hog, que odrvis, © bom medio tam oat dsrter Ee tranaiilos quadros intimos, quanto nas imagens de veeméncia visionéria, Em Musset, esta lirica € um misto de cinismo e de dor, em Lamartine — por vezes —, um tom puro, do qual cele proprio pode dizer que € suave como veludo, Aqui comega também a poesia que a apres do impulgo gino ne plape palava. ee seqléncias tho profundas para a poesia modems. Victor Hugo ‘nao apenas empregou este procedimento, mas também 0 funda- rmentou, valendo-se de muitos « antigos antecestares. Numa tr. cho conhexido de “Les Contemplations”, lege: “A palavra € tum ser vivente, mais podcrosa que aquefe que a usa; nascida da escuridao, cria o sentido que quer: cla propria é 0 que 0 ensamento, a visio, o tato externos esperam — e muito mais finds: 6 cot, noite, alegri, sonho, amargura, oceano,infinide de; € 0 “logos” de Deus, Tersed de lembrar deste t6pico, assim como das tiubsantes allemagGes do Diderot e das mele deck didas de Novalis, se se quiser compreender o pensamento é° Mallarmé acerea ‘da forsa de iniciayiva da linguagem; certa- mente ele se encontra, com seu rigor, multo afasta al de Vicor Hage, lt mule afc do Ese ‘A teoria do grotesco © do fragmentérlo Tgualmente importante 6, ainda, a teoria do grotesco. Di- derot tinha-a delineado em Le Neveu de Rameau. Victor Hugo desenvolvew-a no prefacio de seu Cromwell (1827), como parte de uma teoria do drama. Ela representa, por certo, a mais im- portante contribuig2o a0 patriménio das idéias romanticas pres. ‘ada poe poeta eanenes. Sua rises encontramas provavl ‘mente nas afirmagées de Fr, Schlegel sobre o gracejo e a ironie, 4 cujo Ambito pertencem conceitos, como cacs, eterna agilidade, {ragmentério, bufonaria transcendental. Contudo vériss particu- leridades parecer ser originais: sfc idéias fulgurantes do poeta 2 de vinte e cinco anos, das quais certamente nfo te pode exigit reflenibilidade demasinds. Mas elas so sintomas premonitérios da modemidade. Groteso” era, originariamente, um termo 48 linguagem da pintra 6 dsignava 0 trabalho de entelagamento ornamental {@ intr parte das veaes trado’ de motivos fabulosos) de um fusdro Su significado estendeuse a partir do século XVI & ‘Rrangia, jf entdo,o bizaro, a jocosidade burlesce, o elemento ‘isorido e eszorho em todos 06 campos. Vietor Hugo, re ‘Droando at sugesiGes do Feiedrich Schlegel, ompregs-o neste ser- {do ncluindos porém, ele também o elerment feo. Sua eons Ado grotesco representa um paso adiane, c af endo, 0 patto fail energico em dito 20 rivelamento do belo e do fei TRavilo que era, até enlio, desqualifendo, permitido x6 nos a&- fotorliterisoninferiores ¢ nas zones mazginis da arte plitica, ‘vem elevado a um valor expressivo metafisico. Victor Hugo par- te do conccto de um tnundo que, por sua propria essen Gndido em opostos ¢ que, «6 em virtide desta cisfo, subsite tomo enidade superior Este € um pensamento antigo, }* muitas Neue dito anee gee. Vietor Hugo, prem, acentua de manera nova o papel do feio: jé néo se trata apenas do oposto co belo, fas de um valorem ai, Aparece na obra de arte corso o grote Tor come ume imagem do incomple «do desarnico, Mas 0 ncompleto "é 0 meio mais adequado para ser harménico”. Vé- To'como, sob a designagdo “harmonia",j6 tao exdada em seu significado, vai progyedindo 0 conceito da desermonie: desarmo- eric fragentos grotesco deve aliviarmas de belezae, com Ton “vor ebrdemtc”, afatar son monotonia. Reflete « disso ‘Tncia ene ce estaics onimair ¢ os estatos superiors do ho- qian Redotindo os fendmence a fregmentes, manifesta que © rande todo" nos € perceptive! epenas como fragmento, visto Ghe 0 "todo" aio concorda como homem. O que € 0 todo? B significative que 4 resposta felte on seja confusa. £ uma transcendéncia vazia, mesmo 8¢ puder ser concebida de manci- RETGinE, como ecredita Victor Hugo. Para ele s6 exstem seus Ffagmentos nas eartaturs do grotesc e, mesmo esas, nada tim a ver com 0 iso, O iso do grotesco, assim interpretado, Sede Tuger o sors irbnico ov A horiplagio, Tornese te. jeito, excitagio provocante ¢ estimulo de uma ‘ingufetude & qual f nlme modern pire mals que 8 distensio. Extas slo teories romfintleas quo, olguns anos mais tarde, ‘se poderd encontrar também em Th. Gautier. Pertencem 20s estig: B mas de que fals Baudelsire, Indicam 0 caminho no 1a " ren tt, Ian seni ga = eeASpaner imum Saline Sc dos surrealistas ¢ de seu ‘precursor Lautréamont ¢, por fim, eer i as esc eae rau Bie Pte, ene aE ice Reo oem Sa (© poets da modernidade ‘Com Baudelaire, a rica francesa’passou a ser de dominio ceuropeu, como se vé da influéncia que, a partir de entio, exer eu sobfe a Alemanha, a Inglaterrs, a Isilig ¢ a Espanha, Na prépria Franga, tornowse logo evidente que de Baudelaire fiam correntes de carster diverso, mais excitantes que as deri vadae dos rominticos. Destas idéias foram imbuidos Rimbaud, Verlaine, Mallarmé. Esic dltimo reconheces que havie comega do do ponto onde Baudelaire teve de cessar. No fim de sua vi Valéry tragou sinda uma linha de ligasao direta de Baudelaire a ele proprio. O inglés T. 8. Eliot chama-o de “o maior exem- plo da poesia moderna eim qualquer lingua”. J. Cocteau esere- yeu om 1945: “Detrés de seus trejitos dirige lentamente seu olhar até ns como a luz das estrelas”. Em muitss declaragGes andlogns, falase do poeta da ‘mo- demidade", Esta afirmagso tem uma justificativa de todo ime- diata, pols Baudelaire € um dos criadores desta palavra. Ele a ‘emprega em 1859, desculpendo-se por sua novi ‘ita dela para expressar o particular do a ‘capacidade de yer no deserto da metrépole nfo 6 a decs do homer, mas também de pressentir uma belera misteriosa, ‘io descaberta aié entao (p. 891 e ss.). Este € 0 problema es- ppecifico de Baudelaire, ou seja, a possibilidade da poesis na Wilizagéo comercializada e dominads pela técnica. Sua poesie mostra o caminho, sua prosa exmine.a teoricamente a fundo Ente caminho conduz a uma distincia, a maior possivel da tri- vielidade do real até a zona do misterioso; o faz de tal forma, todavia, que os estimulos civilizados da realidade, incluidos nes {2 zona, possam se converter em poétices ¢ vibrantes. Este & © 38 inicio da poesia moderna e de sua substincie téo inc a post de sua substincia tio corrosive an sartii edenil te edi vin ete nmr ie Ra a igo. aes pt mie, Be Sriram a Be ag ce ena aie fet i no le ecu como ocorreu também com Novalis. Estas idéias exerceram uma ican om zal Ee ls ace oma ee act fe is a eee SERS Sete ae Ci Sahn oes to pects A A or ae aS em ome er tc es erie ns a pane an i, Ne a ms ove SSPE sere Dee ee Siar ae Sie ak see ae ame ele aie orn Spa een ellen i sebe a poesia e a arte como elaboracio criativa do destino de vere Comeca delinearse © Passo que Mallarmé dara, 80 8 uma poesia ontolégics e a ria ‘poesis fandamentads ontologicamente, ma teoria da Dospersonalizago A lnvextigapto muito consegulu no sentido de ag ‘elas existntes entre Beadelate ¢ cy Tomntico’ Mas hee ceuperemos ago da feronga entre els, allo qe he poe rity transformer lego Tominso noma peed ume es famento que, por sue Yer, gro lic dos pooeorae et Fleurs de Mat (1857) nfo sio ura Vice uy aio de dass pares, por el x ig Ss aelas o sofimenta de'um herein solaros Inet & tonne Bande nip datos ncnhuna Ge sat fos ns Oe: Vietor Hugo, Néo hé nenhuma s6 que potea explicarae cot aaa prépria temitica a base de datos’ biografices de pecs Coon Baudelaire comes a despersonilizegae da lita madden, ot menos no sentido que a palavra lirica jé ndo nasce da unidade de poesia pessoa xpi, como havimpr‘endido ox soca, 36 Hoos, em contreste com a lirica de muttos séeulos anteriores. Nao se pode levar suficlentemente a sérlo 0 que o préprio Bau delaire diz a respeito. O Tato de que suas afirmasdes se reportem a outras andlogas de'E. A. Poe, nio diminui seu valor, ao eon twério, situam-nas na linha certa. Fora da Frangs, Poe foi quem separou, de modo mais re- soluto, um do outro, a litiea e 0 eoragio. Desejox como sujeito da lirica uma excitsglo entusidstica mes que esta nada tivesse f ver com & paixfo pessoal nem com the infoxication of the heart (a embriaguez do corasdo). Entende, por excitagao en- ‘usiéstica, uma disposigio ampla, chama-a’ de alma, em ver dade s6 pera darlhe um nome, porém acrescenta cadaver: “nfo coragao”. Baudelaire repete as palavras de Poe, quase 20 pé da Iota, variando-as com formulagées.préprias: “A ca- pacidede de sentir do coragao ndo convém a0 trabalho pos fico”, em oposicso A *capacidade do sentir de fantasia” (P. 4051'e ss.. Hé de se considerar que Baudelaire concebe a fan- tasis como uma claboracéo.guieda pelo intelecto, o que serd demonstrado mais adiante. Esta concepsfo langa a iuz necessé- ria sobre as palavras citadas hd pouco. Estas exigem que s¢ prescinda “de todo sentimentalismo pessoal a favor de uma fantasia clarvidente que, de forma melhor que equele, eonclui tarefas mais dificeis, Baudeleire apiica ao poeta o iema: “nil nha tarefa & extrwhumana” (p. 1644). Em ums carta, cle fala da “intencioneda impestoslidede de minhss poesias”, com 0 que se entende que elas podem expresser qualquer possivel es tado de conseitncia do homem, com preferencia os mais extre- ‘mos. “Légrimas? Sim, mas aquelas ‘que nfo vem do coragao Baudelaire justfica 2 poesia em sua copacidade de neutralizer © coragio pessoal. Isto acontecs de mancira ainda tateante, mui- tas vezes encoberto debaixo de concepgdes mais antigas. Mas corre de tal modo que s© pode conhecer o futuro passo da neutralizasio da pessoa para a desumanizagio do sujeito lirico coma uma necessidade histérica. De qualquer forma, contém j€ aquele despersonalizagéo que, mais tarde, serd explicade por TT. 8. Eliot € outros como pressuposto para a exatidio ¢ a vali- dade do poeta. ‘Quese todas os pocstas de Les Fleurs du Mal filam a par- tir do eu. Baudelaire € um homem completamente curvado so bre si mesmo, Todavie este homem voltado para si mesmo, quando compée poesias, mal olha pare seu eu empltico. Ele fala em scas versos de’si mesmo, na medida em que se stbe vitima da moderidade. Este pesa'sobre ele como excomunhio, Baudelaire disse, com bastante freqiiéncie, que seu sofrimento 7

Você também pode gostar