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Lf entre) vista «Agao conjunta de psicologos e assistentes sociais é essencial para a bd garantia da emancipacao e do =, protagonismo social da populagao” DIALOGOS ~ A partir da criagio do Sistema Unico de Assisténcia Social (SUAS), em 2005, come 0 senhor analisa hoje a p tdncia social no Brasil? Fabio Porto VejoaPoltica Nacional de Assisténcia Social (PNAS) come umajovem politica cheia dees perancas © desafios de de senvolvimento, Penso que ‘mento de implementacio, amplagio e consolidagio na realidad politica, go- vernamental € territorial brasileira, A implancagion ddo SUAS contribu enor rmemente com a confor rmagio de uma organic: dade nacional da PNAS, 0 que & fundamental para seu devido funcionamen- ©. Contudo, como apre senta um forte diferencial discursive, concerente & superagée dos anteceden- tes histéricos da prisica socioasistencalsta), em tum pais que nunca insta lou 0 tio almejado Estado de Bem-Estar Social cha rma para sh desas her Cileos, como pretender 2 promegio da. emancipa (io social de populacées vkimas de uma pobreza crdnica © historieamente produzida (com definiciva atuagio do préprio Esta do, que propée as pol «as pblieas. Com Paulo Freire, lembramos que 0 sonha que nos aliments & cexperanga, que se dé na medida em que buscamos transformar nossa realidade.Creio que passa por a a cajetdria de consolidacio da Assstencal Socal re Brasil em nossos dias. realidade. DIALOGOS ~ Quais as conquistas eos problemas? Fabio Porto ~Primeiramente a¢conquittas a conc lidagio da Assiténca Social como politica de Estado, consttuinte da seguridade socal brasileira, 20 lado da Sade ea Previdéncia Soca a unversalzagio do acesso 305 direitos socioasstencas a contibuigso Julho 2010 Com Paulo Freire, lembramos que 60 sonho que nos alimenta a esperanca, que se dina medida ‘em que buscamos transformar nossa A \\\\\ \\ para o proceso de conquistae construgio de uma cidadaniaatva € efetva,favorecende 0 testo do “individuo-recebedor-de-cardade’ para ueitode d- reitos a incensfcagio do confonto enve uma nova cicipatva emancipatria: onganicidade a histéria das proto-policas so loassstenciais a pactuagio federatva para. desenvolvimento da PNAS ede suas acbes.a valorizagéo do municipio ina implementacio € desenvolimen- to da poltica publica de Assitencia Soci a tertorialzagéo da atuagio; ' adagio da familia como matt e tratégica a partir da qual se efetivara. 2 concretapromacio da protecio so ala reorganizagio das agées de pro tegio socal com base em diferentes ives de compleidade; @ reconhe cmento das tase da resistencia de virias populagbese categorias soci, consideradas nas etratégase ages de procesie social, come mulheres, rian 2 idosos, afrordescendentes¢ ind genas;o reconhecimento dos sspectos f€ fares socopsicolbgicos condico nantes dos quadros de vulnerabilidade das pessoas e populagdes,tendendo a ampliar aprofundar as iniciaivas de proceso social (0 problemas, em cinco grandes categoria, seriam eles: a contradicio cestuturalinerente 8 vlagio ene Es «ado esociedade ci cultura partic. ppativa ainda profundamente marcada or pritcas socioideolbgicas pater: alta, assstencialtas e centeistas, fragllando a partcipagio popular « truncande a constitugio des cidadios atendidos como sujetos de direitos, critics e atuances 0 signifiative ni mero. de adminisagies municipais com qualficagio muito defcitria (em termes téc nico-sociais cco-politios) as equipes com forma ‘ho académicaeprofisional dstanciada da relidade «da dinimica téenica, polceae social das poltias pablcas (muito desafante 3 insergio do profsional de Psicologia nesse context; a expressivafraglida- de da incegragio intercisciplinar eideolica, ence asclversas categoria profsionals eparaprofissionas ‘que coordenam e execuram as agéese services, com ‘trios entraves corporativistas, tic poltcas,teéri- cos emetodoldgicos Fico contentepora lta de conquistasser maior quea e problemas, que por sua ver, possuem ralzesprofun- as estruturais que so, pois im sendo hstoricamen- {e aimentados,deologicamence cultivados,sja pela ‘omissi, pela desorganizacio, pela corrupséo, pelo iscurso fatalsta, ou pela “inibigio rbwicat, como nos dia 0 picslo- 0 bispanesahadorenho Ignacio Marcin-Bar6 Psicologia, como DIALOGOS - © que é necesstio para consolidar 0 SUAS? Fabio Porto ~ Penso que 2 equa «lo entre conguistas e problemas ra implementagio do SUAS nos aponca grandes desafos, cua peracio exge de nds, atores socio Instcuconais compromesides com a promocio do desenvolvimento humane e socal um amplae con sistente nivel de oxganizagio e in- tegragio. A consolidagio do SUAS, a meu ver passa justamence pela superagio histérica desss desafios ‘Aqui, podemos eistingur basica- mente tr Uipos de desafis a ser superados: aqueles de ordem polit O papel da conjunto integrado de diversos saberes praxis sobre uma dada realidade, pode ser resumido simplesmente na contribuigao com © processo de emancipacio social A ‘social, podemos extender a necesidade de ampligio « aprofundamento do prepare dos trabalhaderes do SUAS as outras categoria, envolvendo inclusive opr prio Servo Soca Por fi, temos desafos organizatios e organiza: ionais, que diam respeico 3 propria evolugéo da organic dade nacional do sistema, seu funcionamento otimizado ¢ fciente,envolvendo 2 relagio funcional entre as ts esferas de ‘govern, segundo a pactuacéo de compromissose acbuigoes © praticas, como DIALOGS ~ Qual éa sua ava- liagée do Centro de Referéncia ‘de Asistencia Socal (CRAS) € ddo.seu papel no SUAS? Fibio Porto - Considero 0 CCRAS como um espago funda mental paraa vivénciaconcreta dos desafios postos pelas con- tradigBes esruturais que per passam a relagio entre a agio _governamental ea participagio popular. Podemos dizer que 0 coparicipaivaestécricosecase ——_preyisto na PNAS —_CRASteraumpapelde promo: e ipo organzacional vera protegio social, mediante Os desaios de cater polico- eno SUAS, que ‘0 acessodirecoadisitossocio- participative apontaiam paras eragio de modos de partcipagio (de usuriose operadores do siste- ‘mal acergados na acomadasio € ra adaptagio acritica & realidade vivid, decorrentes da cultura pr: Cicipatva patenalista. € asssten- alta. Outo tipo de desafo é 0 cécnico-socal, que remete tanto 3 atuarie dos operadores propria: mente dita, 20 momento de exe- cago das agbes servicos, como. também a sua coordenagio (gee ‘io da poltica publica, especial- ‘mente no imbito dos territéris onde se implantam os equipamentos de protegia socal, ‘Aina & bem incipente a tematizagio académica sisemitica em torno da relagio entre 2 Psicologia € 4s politicaspbliase soca, Anda que a Psicologia jn ua categoria que sofa bastante com a tematiza lo formatva tari (académica eprofisional) acerca o rmundo das poltcaspblias de desenvolvimento exige, logicamente, a superagao das situagées de risco soci pessoas se encontram ha geracoes asistencia, favorecendo tam bbém o desenvolvimento pesso a familar e comunitério, uma ver que prevéofortalecimenco «e integragdo dos vinculs afe- ‘ivo-socals do individuos com imedicos (si mesmos fam comuniade), Percebo 0 CRAS ‘como um grande avanco, pois teria, concetual estracegicn mente, potencal para fomen ‘ar mudangas substanciais na forma de relagio do usuirio ‘om o sistema, na constiuigéo do suelo de direitos, Justamente por atuar no nivel bisco, com énfase so: ocultural e éico-poltca, Contudo, para a constr ‘ho de cidadania ativa, 0 wabalho do CRAS deve i além da concessio de beneficios eventuais(6culos, estas bisica, cadetas de rada) e continuados (alt rio minimo para deficientesincapactados de se ss ‘tentareidosos com mais de 65 anos vulnerabilidade e em que as * Juho 2010 nl DIALOGOS ~ 0 que tera a dizer sobre o trabalho Aesenvolvide pelos divesos profissionais em servi- soscomo esse? Fibio Porto Penso que 2 equipe mukiprofssiona, roposta a0 CRAS, & um avango, mas devemos ter fem mente que ni basta haverprofsionais de di- ferences ireas compondo uma mesma equipe para terms uma atua¢io em equipe, uma atua¢io con junea esses divetsos saberes. Hi um significative acimulo de massa critica em torno da questio da Incerdiscipinaridade, seus limites «© possibidades, bem como de sua recess eurgente efeivagio para 10 desenvolvimento das poltias pi biicas, cnsttuindo tema bisco das capaciagées para operadores dese setor |é podemos nota inciativas de defnicio conjunea de fuxos procedimentos de trabalho, em um movimento de dinamizagio das incertacesentte as eiferentesSras, fe até mesmo experiéncias de equi es que incegram seus processos de atendimento is familias, como no continuum acolhida ~ atendimen: {0 social ~ acompanhamento so- opsicolgico ~ encaminhamento para rede, Deve haver também um exerci ertico para a defiigio das ‘espeiciidaese complementarida des entre os diversos procedimentos canico-socas presentes no CRAS, como é0 caso das visitas, Podemos rotar facimente que hi procedi mentosbisicos, que ever ser rea lzades por todos, ome a acohida 4 dinamizagio da sla de stuagio, ce também aqueles mais especies, da competincia rescrita (mas complementar is di- versas reas, come 0 si 0 atendimento sociopsico- légico ea eftivacio do eadastro socal, DIALOGOS - Ea entrada do psicélogo nesse con- texto: como se deu equal sua contibuigio? abi Esta € uma pergunta que comecel a ime fazer i anos logo quando foi langado 0 proté- tipo do CRAS, o muito bem denominado "Casa da Familia que tive aesso pelosidas de 2004. Com- preendo que a entrada da Psicologia no contexto da politica pica da Asssténcia Socal nfo party de uma profunda e sstemstica reflex ctica, de carter étice-poitico, conceitual, metodolégico € Julho 2010 Percebemos uma significativa consisténcia epistemoldgica na relacao entre a subjetivacio do ser humano e sua constituigao como sujeito de sua realidade, de seu mundo vivido, que é tanto sécio- psicolégico quanto histérico-cultural profsional, mas de questdes mals cicunstancias, como o fate de ser uma categoria com amplo es- pectro de atuagio, com possbilidade de contribuir nos diferentes nives de complexidade da protecdo Social. Alm dso, seria um saber com muitas in terfaces € campos compartilhades com 0 servo socal (0 que historieamente gera muitos conficos ce tensBes quando da atuagio) Tanto € que o pro fssional de Psicologia, além de estar presente nas equlpes de protego socal bisica integra também (0s servigos de protesio so- al especial (executados pelos Centos de Referéncia Especiaizada de Assistén- a Social ~ (CREAS), por exemplo, auando com 0 ‘que define como “acom: panhamente_psicossocal”). De forma mais expectica, © profissional de Psicologia pode contribuir enorme mente com @ desenvolvi- mento da propria equipe, bem como incrementar 2 atuagio dos demais profi slonals, ou mesmo para am pliar a compreensio dos fe- némenos sociopsicol6gicos limplicados na promogio da protegio social DIALOGOS ~ Qual é0 papel da psicologia? Fabio Porte ~ © papel da Psicologia, como conjunto inegrado de diversos sabe- res © priticas, como pris sobre uma dada realidade, pode ser resumido simplesmente na contribuigse com o processo de emancipagéo social prevsto na PNAS eno SUAS, que exig, logicamence, a supera io das suagies de vulnerabildade e rise social tem que as pessoas se encontvam hi geragGes (0 que reconhecidamente um problema de order esrur tural, nfo! meramente crcunstancial ou eventual) Para lustrar isso, tomemos para nossa reflexéo um procedimento bisico de trabalho na protecio so ‘al Visita domiclar. Pedemos também abordar © trabalho com grupos comunitiios, a pritica da entrevista eo acalhimente por exempl, bem come a claboragéo de metodologiase estratégias de atua- io que favoregamaincegracio entre ocrescimento pessoal eo desenvohimente comunitirio, partir da idencifeagio eda efervacio de recursos e potencias inividuaisecoletivos familiares e comunitrios. DIALOGOS ~ Em termes dos desafios dessa pol «a, como superar perspectva asstencaista? Fabio Porto ~ Acredito que um primero passo para © profissonal mergulhado na acelerada e intensa rocina de tabalho, em um CRAS atuance, ea mes mo querer e conseguir identifiareriticamente 2 tl “perspectivaassitenciaist’O que vi ria mesmo a ser iso? Come se expres ne cotidiana? Seria um fenémena verifilvel ou apenas mais uma ela boragio conceitual, mais um "sma"? Isso requer, de fa, um movimento analtico deletura critica darealdade de vabalho vvda pelo wabalhador da Picola, neste caso expecfica, Caso contrinio, nem sequer identiara a focorténcia deste fenémeno, por um lado, ou apenas otornaria um jargio’, um clic conceitual, esvaziando-o de signicado, eaindo em uma postura fatalista, nacualizando e banalzando ‘asstencialsme, Ambas posturas fa vorecem a expansia, 2 legtimacio ea prolieragio das pitas asistencia tas, seus desdobraments. LembramosaquiasReferéndas Tee nicas para Atuagao doa) Psicélogo(a) ne CRAS, do. CREPOP, que rednem viios elementos que deve ajudar profssionais de Picologia nese mov ‘mento. No mais, acrditar compreen- dere sentir que esse movimento vale & pena, & significative, & digno de ser vivid, evivélo com inteireza e intensidade,atwando ativaeexpressivamence na construgio dessa histia, atualizindo nosso deviesueto, DIALOGOS ~ Qual a convibuigio do psicloge para essa pespectiva da valorizagio,autonomia e protagonisme do sujeito? Fb Eis um tema que penso ser eapaz de incegrar a5 diversas teoriase abordagens em Picologia: © proceso de construcio, constitu oe desenvolvimento da subjetividade humana, 0 0 processo de tornarse humano (hominiza io e humanizasio). Percebemos ura significa constencia eps cemolégiea na reagio ente a subjeivagio do ser 0 profissional da Psicologia pode contribuir enormemente com 0 desenvolvimento da prépria equipe, bem como incrementar a atuagao dos demais profissionais, ou dos fenémenos sociopsicolégicos implicados na promogio da protecao social A snumane e sua consttuigio como suit de sua re- alidade, de seu mundo vivido, que € tanto seciops colégico quanto histérico-cultural. Nessa perspec: {iva 0 sueito pscolégico €sujeltohisérico, € ator ‘com papel ative, protagonista de sua exstenca, em seu tempo, onde est. Fé uma caractristica def nidora do ser sujeto a autonomia, a capacidade cde autorreguagio ca prépria conduta (como nos revela com rara conssténca cientfiea © psidlogo russo Vigotsk, em seus estudos sobre a conscién- cae a atividade humana), a auto-orientacéo do pro: rio comportamento, de seu jito de ser € estar no mundo, com © qual man- tem relagio de matua constituigio, suas ideas © agées vans formadoras (préxis). Sen- do asim, a Psicologia tem mediante muitisimo a contrbuir ‘com a compreensio cien- tiica € promogio cécnico: socal da “asutonomizagio" dos individues, grupos € mesmo para ampliar @™mnidades. Ese pro- fs ‘co-socal e académico-profisional, que parte de um ‘encontr entre identdades bem dstinas, muita ve 2 indusive antagénieas, mas aproximadas por um hhorzonce ético-poltice de iberagio e emancipagio social. Ese encontro, para ser efetivo (para se inter ‘e nio apenas it), precisa se dar em uma ambign

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