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4. A Terra, um planeta em mudanca A Terra & um planeta que, como te apercebes no teu dia-a-dia, se mantém em constante mudanga. As mudangas tém sido ndo sé a nivel geolégico como também a nivel biol6gico. 4.1. Principios basicos do raciocinio geolégico A interpretagao das alteragdes biolégicas e geolégicas tem sido influenciada pelo pensamen- to em vigor em cada época e reflecte esse mesmo pensamento. As primeiras explicacdes sobre as alteragdes geolégicas eram fixistas, atribuindo as mudangas a existéncia de vontades do Criador (eriacionismo) ou a existéncia de catastrofes (catastrofismo) Mais tarde (século XVIII), Hutton verifica que as mudangas que ele presenciava eram repeti- (Ges de fendmenos que haviam ocorrido em tempos anteriores (uniformitarismo). Actualmente, para a explicagao das alteragdes geoligicas, existe uma nova corrente que efectua uma mistura das ideias catastrofistas com as ideias uniformitaristas, © neocatastrofismo, O catastrofismo, como 0 seu nome indica, explica a extingao de espécies e as grandes alte- ragdes geologicas através da ocorréncia de uma catastrofe. Um dos grandes impulsionadores desta teoria foi Cuvier (século XVIII), que explicava a auséncia de um dado féssil nos estratos de uma série sedimentar pela ocorréncia de uma catdstrofe (inundagao, queda de meteoritos, vul Ges) que eliminava os seres vivos que al viviam. A modificagao das espécies fossilferas numa sequéncia sedimentar era explicada pela ocorréncia de catéstrofes sequidas de um repovoa- mento de espécies vindas de regides diferentes ou, entdo, originadas pelo Criador. A presenga de fésseis marinhos no cimo das montanhas era explicada, segundo o catastrofismo, pela ocorréncia de uma inundagao que permitiu aos seres aquaticos viverem no cimo das montanhas. Quando dizes que a extingao dos dinossauros se deveu A queda de um meteorito, estas a explicar que ocorreu uma catéstrofe, que foi a queda do meteorito, e que essa catdstrofe elimi nou a totalidade dos grandes dinossauros. A explicagdo que acabaste de efectuar foi uma expli- cago catastrotista, pois foi a existéncia de uma catastrote que eliminou os dinossauros. uniformitarismo foi enunciado por Hutton (século XVIII) e contém ideias evolucionistas nos sous principios orientadores, quando diz que os processos geolégicos do passado podem ser explicados através dos processes geologicos actuais. Hutton reconheceu que diariamente existiam alteragdes geoidgicas, podendo essas alteragdes ser ‘mais visiveis, como 0 caso de uma erupgdo wulcdnica, ou menos visiveis, como é 0 caso da forma- ‘go de uma montanha. Constatou, igualmente, que essas alteragdes nao podem ser totaimente ‘explicadas como tendo origem na actualidade, como 6 0 caso da formacao de uma montanha, mas ‘que elas resulta de um acumular de pequenas alteragdes ao longo de muito tempo. Hutton intro- duziu, desta forma, uma nogao de tempo diferente da existente nessa altura, j4 que, para explicar a lenta formagao de uma montanha, era necessario um espago de tempo muito grande. Hutton deu, assim, uma grande ajuda @ consolidagao das teorias evolucionistas, ao fornecer © tempo necessario para se realizarem as lentas alteragées € a actuagao da seleccao natural que os evolucionistas afirmavam existir nos seres vivos, uniformitarismo surge, desta forma, em oposigao ao catastrofismo, baseando-se em trés principios orientadores, _/ BS les ature to constantes no tempo no espago. ‘As causas que provocaram determinados fenémenos, no passado so semelhantes as que provocam os mesmos efeitos no presente - principio do actualismo u das causas actuals. X ‘A maior parte das mudancas geolégicas sao lentas | e graduais, Hutton reconheceu, no entanto, que nem todos os acontecimentos geolégicos capazes de pro- vocar grandes alteragdes s20 lentos e graduais, como é o caso dos vulebes. Além disso, nao nos Podemos esquecer que as condigSes ambientais ndo foram constantes ao longo dos tempos e, Por esse motivo, também nao provocaram exactamente as mesmas alteracdes nem as altera- ‘96es foram constantes ao longo do tempo. Se regressarmos a extingdo dos dinossauros, e a explicarmos através da existéncia de altera- ‘9bes climaticas que provocaram alteracdes nas cadeias alimentares dos ecossistemas ocupa- dos pelos dinossauros, provocando a sua lenta extineao pela fome, estamos a admitir uma expli- ‘cacao uniformitarista para a sua extingdo. Se adrmitirmos que ocorreu a queda de um meteorito na superficie terrestre e que esta queda (catastrofe) introduziu profundas alteracées climaticas, que, propagando-se aos ecossistemas, alteraram as cadeias alimentares, levando a uma lenta extin¢&o, pela tome, dos dinossauros (uni- formitarismo), estamos a admitir uma explicacéo neocatastrofista para a extingao dos dinossau- ros. O neocatastrofismo admite que as mudangas geolégicas e biolégicas podem dever-se @ existén- cia de uma catastrofe que provocou alteragSes ambientais, que actuaram, lenta e gradualmente, a0 longo de um espago temporal alargado. O neocatastrotismo aceita a existéncia de fenémenos catas- tréficos para explicar as alteragbes da Terra, aceitando, igualmente, os principios orientadores do Uniformitarismo. 4.2. Mobilismo geolégico A Terra encontra-se em permanente mudanga. As montanhas erquem-se diariamente, milime- {ro a milimetro, de forma imperceptivel. Os vulo6es e os sismos originam violentas explosées de ‘energia © materiais que provocam danos e modificagdes de dimensao variada. Aiguns cientistas, como Wegener, admitiram que as modificagdes da Terra foram ao ponto de ter existido apenas um continente (Pangeia), que flutuava no Unico oceano existente (Panta- lassa) e que se fragmentou {ig 1) Wegener (1912) enunciou a teoria da deriva dos continentes, que serviu de base a teoria da tec- tonica de placas. Segundo esta teoria, as massas continentais apresentavam uma baixa densi- dade e, por esse motivo, flutuavam sobre as densas massas oceanicas, movimentando-se e alte- rando a superficie do planeta. A teoria da deriva dos continentes diz-nos que ha 200 Maa. existia ‘apenas um supercontinente, a Pangeia, rodeado por um tinico oceano, a Pantalassa. A Pangeia ha 180 Ma., fragmentou-se, originando dois continentes, a Laurasia e a Gonduana, que, hd 70 Ma., comegaram a afastar-se. Para enunciar a teoria da deriva dos continentes, Wegener apoiou-se em diversos tipos de argumentos: argumentos morfolégicos, argumentos geol6gicos, argumentos paleoclimaticos, argumentos paleogeograficos argumentos paleontol6gicos I's» 5) Fig. 11) Teoria da deriva dos continentes. A teoria da deriva continental de Wegener sofreu fortes criticas da comunidade cientifica da poca, pois, num periodo fixista, nao eram bem recebidas ideias que introduziam a necessida- de de grandes alteragbes ao nivel dos continentes. Wegener necessitava de argumentos mais fortes para a sua teoria e de conseguir explicar a origem da forga que provocava a flutuagao dos continentes sobre os oceanos. created using ted using BCL easyPOF Pi Printer Driv Atteoria de Wegener foi abandonada durante algum tempo, até que, muitos anos mais tarde, ‘0M outro pensamento cientifico a vigorar (evolucionismo), ela foi retomada e com novas roupa- ‘gens ~ a teoria da tecténica de placas (década de 60 do séoulo XX) "Aiteoria da tecténica de placas baseia-se na teoria da deriva continental, mas explica a fonte " Setgética do movimento das placas tect6nicas © admite que nao so os continentes que se Movimentam, mas sim as placas tecténicas ou litosféricas que contém esses continentes. A litosfera corresponde ao conjunto formado pela crosta terrestre (crosta continental ¢ crosta ‘@ee4nica) e pela parte superior do manto superior. A litosfera, de caracteristicas rigidas, nao ‘presenta uma espessura constante, pois apresenta uma maior espessura ao nivel dos continen- fs do que 20 nivel dos oceanos, apresentando-se dividida em varios fragmentos que constituem 3 placas tecténicas |’) As placas tectonicas podem abranger apenas a crosta oceénica, como no caso da placa do Pacifico, ou possulrem crosta oceanica e crosta continental, tal como a placa africana. As placas tecténicas, tal como um puzzle, possuem zonas de uniao de umas com as outras “+19 7). Os limites existentes entre as placas podem ser de trés tipos: limites convergentes, limi- ‘tes divergentes ¢ limites conservativos (i tes entre as placas tecténicas O limite conv nos Himalaias, promove a convergéncia entre as placas. orre, por exemple, nay ilhas do Japao ¢ Este tipo de lin te explicar a formacio de ilhas € a formacio ce per de cadeias de montanhas e esti associa ios zonas de subdugio, galhando em pro- mais densa (placa oceanica), flutuan ns. (placa rosters Ao convergirem, as placas tect6nicas co fundidade (subdugso0) a plac sade continental), como podes observar na figura 12. Se as duas placas ‘que colidem sio occinicas, formam-se ihas de origem wuleanica ( do ¢ origimando cadeias de montanhas a placa menos © Convergente g. 128}, Se as duas placas que colidem so continentais, formar- se cadeias de montanhas que podem estar associadas a fenomenos vulcinicos (fig. 12C). Os limites convergentes esto assaciados a grandes sismos, fenéme- netamorfismo, deformacio das rochas. nos de origem vuleanic © limite divergente, que ocorre, por exemplo, no rilte do ocean Atlantico, promove 6 afastamento ener as placas tectOnicas fig. 12D). Este tipo de limive permite explicar a expansio dos fundos ocednt associad a0. vuleanismo fissural, tépico das dorsais mmédio-oceanicas, nas zonas de eft Ao longo da fissura provocada pelas forcas divergemees, oeorre uma ascensio de magma basiltico de origem mantélica, que, a0 at superficie, arrefece,solificand e originando nova litosfera. Divergente a astencsera Uresters © limite conservative, que corre, por exemplo, na fatha de Santo André e na falha Agores-Gibraltar (falhas transformantes), provoca © deslizamento das placas, movimentos horizontais de particulas (fig, 120). \ Astenosfors Conservative GH 201 casyror + Driv Crosta ecedinica Litosfera Titosfera ‘A- Colisao entre uma placa oceanica e uma placa continental. Cadeia montanhosa ame: a | xs s ae Ltosfera C-Colisio entre duas placas continentais. D-Zona de rifte - expansao do fundo oceanico. [Fig. 12] Limtes entre placas tectonicas. Se observares a figura 13, podes encontrar ai muitos dos limites entre as placas tecténicas. Rar Uimiesdivergentes |Fig, 13] Placas tectonicas e seus limites. GF BCL casyPor Printer Driver ‘Ao contrario da teoria da deriva dos continents, a teoria da tectonica de placas encontrou uma explicagao para o movimento das placas tectonicas e argumentos mais eficazes, 0 estudo do fundo ccesnico revelou que as rochas cons- tituintes haviam registado o campo magnético existente no momento da sua formagao, Analisando 0 registo desse campo magnético {fc 1), veriicou-se que este apresentava simetria ‘em relagao ao rifte, 0 que demonstrava a existéncia de uma. expanse dos fundos oceanicos. A expanséo dos fundos oceanicos ¢ 0 magnetismo das rochas foram 0s novos argu- ‘mentos utilizados para validar a teoria da tectonica de placas. ‘Como podes observar na figura 14,0 rifte, limite convergente por onde sAo continuamente emitidas lavas basdlticas, regista ‘© campo magnético da actualidade. Se continuares a analisar © perfil geomagnético, verificas que a linha central tracejada funciona como um plano de simetria. Isto significa que a lava -emitida ao nivel do rifte solidificou, ocupando um determinado espago, formando um novo fundo oceanic, o que revela a existéncia da expansdo do fundo oceanico. Se efectuarmos a datagado desse novo fundo oceanico, verificamos que ele 6 tanto mais antigo quanto mais afastado se encontra do rifte. Dorsal médio-ocesnica |Fig. 16] Geomagnetismo do fundo ocetnico. Esta expansao do fundo ocetinico (9. |5] vai criar forgas de tenséo sobre as dreas continentais, dai @ modificagdo destas, Uma vez "empurradas e comprimidas”, as placas continentais comegam a soerguer-se, originando cadelas montanhosas. As placas oceénicas, porque constituidas por rochas mais densas, electuam um mergulho, originando desta forma uma zona de subducao. Ocorre tam- bém subducao das placas oceanicas quando uma nova placa oce4nica colide com outra placa ‘ocednica mais antiga. A subdugo deste material permite a superficie terrestre restabelecer-se do crescimento dos oceanos, provocando, assim, a movimentacao dos continentes. (Fig, 151 Teoria da tectonica de placas. Beir eee Exercicio resolvido 4 1. Observa atentamente a figura 16, que representa uma sec¢So do fundo oceénico. (Fig. 16) Fundo oceanico, 1 . Faz a legenda dos nimeros da figura. - Indica o tipo de limites de placas existente em A, Be C. ae 1.3. Indica um local onde se podem encontrar os limites, Tepresentados por Ae C. io ees Proposta de resolucso: 1.1. 1 Rife; 2 Falha transformante; 3 ~ Zona de subdusio; 4 ~ Crosta ocednica; 5 ~Crosta continental, 1.2. A~ Limite divergente; B — Limite conservativos C ~ Limite convergente. 1.3. O limite A (divergente) pode ser encontrado na dorsal médio-atlantica ¢ © limite C (convergente) pode ser encontrado junto dos Hina oes ——— ened wl & BCL easyPOF Printer Driver

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