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A escola faz doutrinacGo? Especialistas discutem © Projeto Escola sem Partido, que apontaa Manipulagdo como o grande problema da educag¢éo brasileira EDUCACAD BRASILEIRA Ce ees saudade dae Pedidos de impeachment e declaragdes de saudade do regime militar, chamou atengdo de Bash eens oS Seated 2015, uma grande fea que di: "Chops dy dees Parsi: Basta de Paulo Fie”, Pareca uma exconnitidscce ee fo oticiado como iniciava de um profesor de eee eee? Foto da duces rica regimes tndicas 4 eset ra 0, em fodo munde sabia naquele momento eee €° cer Srinbo:aumu rede que envlve gaan owe oe Sepculits¢ aramentars, gnu cora'im movinen net problemas da educasfo bras, uma estategia ie wo Sean ifluenciads por autores como Paulo er Antonie Gaga genes amrangaiendeMOFMENO rain desea “bande ee ot BAER unicipaiscestaduas de todo pate apa eo fades Deputadas,projetos de lei que visa incu oe cae bases de cducado nacional o Programa Beale oar ng Nilo €coincidéncia veradores,deputadosenaduaioe om deputado federal esto submetendo ds diversas ces egeeaneen ae Ceres = ocr arn eta er ee eee mara de Vereadores de no Deter ens hetero do Monte Castelo (PR) ~ este Ren ree E entre scaeifestagdo contra o governo Dilma Rousseff. Em Brasilia, e Oe cee nee 5 acorn e Catan (2), PTN, PSC, PR, PSB. Na Ca- oo el ae Sacer! Cae ae rene Casa ainda outro projeto, do oe ra or a tears Sr renter oe eee eee eae BENE pronto pr wo du putamen a Nese ofee fan un psa join comets ene os dds pesos de cada equerente rsa et Drencher Cir ao Ministro Pbtco spon do donates ie aie Cesar todoum apraojutce perce eenfena Og omeviment consider como" pobena cera eine Oaramencprinipl defend pel annie nee ea cudenaor do Ec sem Pare prince oo eo eee Se ae 0 caag dal de aula Cartoede ie sea ane aliverdate de expresso, ma apne bed es et sprante anda “ve expenio de ata eka ee ae imerpretsio de Nai no enn de que eg eae A “Iberdade de consclencine de esa 3 7 rf 3 O texto do antey rojeto profbe a “pra de doutrinagao politica Qe te Projeto pr PB ica Pr ieee gidcoligi' emboretoapesntedebnigon’s cena, plc ert es ce conc a ener 6h sein a pallette Spe Poller /ebe 208 2 MOO ea Wie Se Attica, Nagib nega e garante que s6 teproduziu os termos da Conven- fo Americana de Direitos Huma- nos, um texto de 1969 do qual o Brasil € signa, Embora 0 foco maior seja no controle sobre o que acontece em sala de aula, o objetivo € monicora tamibém livos,avaliagdese provas Ge concurso, além dos curdeulos, como os que estdo sendo disci dos agora para a construgio de uma Base Nacional Curricular Comum. Diagnéstico Mas de onde vem esse diag- néstico? “Eu fui vitima desse pro- blema quando era estudance, meus filhos foram, conhecidos meus foram”, explica Miguel Nagib. A ‘experiéncia’ pessoal € 0 grande ra- dar do movimento para apontar @ “doutrinagao” como um problema lo grave na educaciio brasileira a ponto de ser previsto na legislacao. Num esforgo de sistematizar essa “experiéncia compartilhada", 0 site retine cestemunhos de supos- tas vitimas do problema, Apesar de Nagib afirmar que esses depoi- ‘mentos “so muito volumosos”, na dara de fechamento desta edicio, © site contabilizava 30 casos co- letados no intervalo de 11 anos (de 2004 até 2015), que incluiam mensagens enviadas diretamente A ONG e a reprodugio de artigos. Mas nem s6 de relato de expe- rigncias vive 0 movimento. Como embasamento ‘cientifico’ desse diagnéstico, Miguel Nagib cita - em diversos textos e documentos € também na entrevista a Poli - uma pesquisa realizada pelo Instituto CNT/Sensus em 2008, por enco- menda da revista Veja. De acordo com a publicacéo, o levantamento ouviu 3 mil pessoas, entre alunos, pais € professores, de 24 estados brasileiros, e chegou a ‘resulta dos’ que, para 0 coordenador do Escola sem Partido, evidenciam 0 fendmeno da “doutrinagio”. “Eles pesquisaram © verificaram que 80% dos professores entrevistados reconhecem que 0 seu discurso € politicamente engajado", cits. E atesta: “Esse € um dado objetivo". ‘A associagio entre “discurso politicamente engajado” ¢ “doutri- 22 Pal |mar/abe. 008 ee """"_~—S—Ss nagdo”, no entanto, nfo tem nada de “objetiva”, De fato, na reportagem fem que divulgou os resultados da pesquisa, a revista Veja afirma que a ‘maioria dos professores reconhece que faz doutrinacio, Mas basta uma leitura do infogrdfico que ilustra a prpria matéria para perceber que ne- rnhuma pergunta ou resposta do questiondrio aplicado nomeia esse préti- ca. No caso desse resultado especifico, a orientagao foi para que 0s pro- fessores qualificassem o seu discurso em sala de aula como ‘politieamente ‘engajado’, ‘ls vezes engajado’ ou ‘neuro’. Metade dos entrevistados ficou com a primeira opgio, 30% se reconheceram na segunda ¢ 20% na ter- ceira, Questionado pela Poli sobre se engajamento politico seria sindni- ‘mo de doutrinagio, Miguel Nagib relativiza c insiste que ndo baseia seu diagnéstico apenas nessa pesquisa, retomando o foco nas experiéncias pessoais, Mas endossa a associacéo. “Quando um professor reconhece que seu discurso € politieamente engajado, significa: tem lado. Bles no es- condem isso. Isso se reflete obviamente na ideologia do professor, que ele realmente nao se sente inibido de promover em sala de aula”, argumenta. ‘Arelagio entee posicionamento politico e pritica doutrindria ~ que parece automética na interpretagio dos dados da pesquisa - é, no en- tanto, relativizada quando perguntamos a Nagib se a mesma suspeita deveria recair sobre grandes figuras da historia recente do Brasil, como Fernando Henrique Cardoso ¢ Paulo Renato Souza, que conciliaram a vida partidéria com a prética docente. Um professor, entio, no pode ter filiagdo politico-partidéria? “Isso obviamente depende de cada individuo. Eu nao sei como o Fernando Henrique ¢ o Paulo Renato se comportavam como professores em sala de aula, Eu assisti a uma entrevista do Fernan- do Henrique, gravada no Youtube, onde ele defendia a idcia de que 0 professor no pode se aproveitar da sua posigdo em sala de aula para fazer doutrinagio, para fazer a cabeca dos alunos. Nao sei se cle se comportava dessa mancira como professor”, responde. Trata-se, segundo Nagib, de uma “questio ética”. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), que apresentou 0 projeto do Escola sem Partido na Camara dos Deputados, ‘concorda, ¢ defende, portanto, que 0 problema néo sao todos os partidos: “Pelo que eu conheco do PSDB das pessoas do PSDB desde a fundacio, clas tém um comportamento ¢ uma ética muito diferente do que existe hoje. O partido que hoje esté no poder é um partido que realmente nio respeita isso”, diz 'No que concerne ao debate sobre educagio, para 0 professor Paulo Eduardo de Mello, um dos coordenadores do Grupo de Trabalho de His- tbria ¢ Educagio da Associagio Nacional de Hist6ria (Anpuh), todo esse oo epivficrucbr diagnéstico néo passa de um “dis gurso falacioso” de grupos que “querem fazer campanha politica contemporanea”. “Doutrinagao era © que o nazismo, o faseismo faziam: egar uma crianga © educar quase ‘um processo de lavagem cerebral até ele entrar nas Forgas Armadas € sewvir a patria, Isso no Brasil nio existe”, diz. E completa: “O pro blema real da escola brasileira nao € 4 doutrinagdo, é a falta de recur. 808, é aescola que nao tem um bom banheiro, € a violencia, enfim, sao coisas de outra ordem, Essa é uma agenda forjada", garante, defen. dendo que esse movimento deseo. nhece a realidade da escola publica Papel da escola A Anpuh tem acompanhado € eriticado publicamente 0 mo. vimento Escola sem Partido. De acordo com Paulo Eduardo, esse interesse se explica porque, ainda ue respingue em todo o curriculo, © Programa atinge principalmente as disciplinas ligadas as ciéncias humanas, como a Historia, que tem foco exatamente na forma. io de uma “consciéncia politica € social” do aluno. Jé para 6 coor. denador do movimento, a propria Conecpeao de que esse & 0 papel da escola € do professor é um sincoma da doutrinagio na educagio brasi- leira. “Os professores dizem que a principal missao da escola é formar cidadios © apenas 8% consideram ue [0 objetivo] é ensinar as ma t€rias. Esse “formar cidaddos’ tem um significado muito claro: a ideia E de vocé despertar 0 senso criti- ©0 para que um estudante tenha uma visio politica e critica sobre a tealidade. E todos esses dados Convergem no sentido de que isso efetivamente acontece”, lamenta Nagib, referindo-senovamente aos dados da pesquisa do Instituto ONT /Sensus, segundo os quais 789% dos professores consideram essa a principal missio da escola Sintese das concepcoes de educa. $0 defendidas a partir do processo de democratizacdo, a proposta de “formar para o exercicio da eidada nia” nio € inveneio dos professo. res ouvidos pela pesquisa: tratase de uma expresso que consta até ne epsv fur na Lei de Dirctrizes © Bases da Educagio Nacional (LDB). Lembrando sare avogado © no educador,c afirmando que o Bseoin a Partido nao {ios s¢ 0 professor tratasse de temas polémicos cere’ desarmamento ou 3 roausto da maioridade penal, moserando os diverse lates da questio. 0 propre: diz, € que muitas vezes o professor “sé apronecnss lado com 0 hal gle se identifica” B eles chamam isso camber de hana cidadaos”, garaneiny aula Eduardo nio cem divida de que é papel socaie escola Enuants © debate pablico, aberco, com diferentes visors, Bre acredita, no ca enayGPmo esses slo apenas uma “matéria de opiniae” she tem certo a pace ganda Questio como essa”, acredita. Assim, conclonece retiradas e:parsr de dados objetivos — como os ndimeros que mec que a ante- spliced a totidade penal nfo levou a diminuigdo da violence onde foi ‘splicada, ou os gréficos que apontam que o aumenas ta encarceramento ro eausl foi acompanhado do crescimento da violene enn © contririo ~ndo so entendidas como conhecimento cientifice Mais uma vez, a preoeupagio principal do movimento Parece sera iguueneia politica que um debate como esse pode iene hora do voto. dae” 0 professor] pode tomar partido, s¢ pede Promover a opiniao dele a respeito desse assunto, poder! promoven s opiniao, por exemplo, Bosas que ett? Claro que, indiretamente, € isso que elt cont dizendo. Essas questoes acabam influenciando a escelhe Politica, a visio politica dos alunos”, argumenta Nagib, Neutralidade e piuralismo Defender que a escola precisa ser neutra em Felacio a todas as ques- ‘tes €, a opinito de Paulo Eduardo, deseonhecer ane, papel da escola quanto a natureza do conhecimento com o qual ela lida. “E a ideia da con- vivéncia méltipla, diverse, Mente a nossa, $6 que essa & Como a escola sabe que a sociedade brasileis eo de género e de raga, vem desigu: 880”, diz, ¢ exemplifica: “Ao tocs Pars ue at Pessoas respeitem as diferencas, respcitem o ovngy Vitginia Fontes, professora-pesquisadora te fred Pade Joaquim Venancio (EPS|V/Ficcruz) © da Usa Fluminense (UFF), concorda: “Essa separacio sborere entre ciéneia vida no existe”, diz. E completa: * fora dos confit € negara propria constiigae vate do campo edu- cian sete Campo cientifico, assim como apagar a denaoeane Segundo iar 3 defesa incondicional do pluraismo como anuican © qual tudo discus ganic” ~ que Virginia considera mais “draméciers que 0 dfscurso que absolutizao pluraismo sempre favorec quem tem recursos Irene Eat Suas prdprias posigdes. Asim, se, por cactipin ee, posiciona- ‘mentos a favor da reducio da maioridade penal estiveren shoy Presentes Polilmer/tr. 2018 23 TAP ROA TS BOG 2 oe ee Educagiio e moralidade O movimento que denuncia a “Nao tem certo nem errado sobre pritica de “doutrinagio” na educa- essa questio”, repete. ‘clo brasileira dedica muitaatengio debate sobre a conviccio também as questées que classifica moral dos pais ganhou espaco tam- ‘como ligadas “moralidade”. Um bém na discussao sobre os planos dos pontos mais polémicos do an- municipais, estaduais ¢ nacional teprojeto de lei criado pelaONGé de educagio. Nao por acaso, no a defesa de que a escola nfo pode nivel federal, foi o deputado Izalei tensinar contetidos que estcjamem (PSDB-DF) ~ que levou o ante- desacardo com as “convicgdes re- projeto do Escola sem Partido para ligiosas ou morais” dos pais. “Se a Cmara ~ 0 autor da emenda (05 pais sfo racistas, a escola deve que retirou do Plano Nacional de ser racista?", questiona 0 advo- Educacio o trecho que ele ~ assim gado Daniel Sarmento, professor como Nagib — considerou. como titular de Direito Constitucional “idcologia de género”. Em 2012, a da Universidade do Estado do Rio Camara havia aprovado uma reda- de Janeiro (UERJ), © compara: "A cio do PNE que falava em “supe- homofobia nio é diferente do ra- racdo das desigualdades educacio- ‘eismo. A diferenga € que a socie- nais, com énfase na promogao da dade talvez tenha despertado para igualdade racial, regional, de géne- © eardver hediondo do racismo um 0 ¢ de orientagio sexual”. Na re- pouguinho ances” dagao final, por iniciativa de Izalei, ‘0 coordenador do movimento esse trecho foi substituido por um reconhece que a escola tem que texto mais genérico, que tratava da lidar com dados cientificos, mas “superagdo das desigualdades edu- defende que esse conhecimento cacionais, com énfase na promo- do pode envolver comportamen- gio da to, Como essa é uma fronteira de todas as formas de diserimina- dificil, o discurso de Nagib - tal clo”. “Ali havia um incentivo ¢ néo ‘como 0 artigo do seu anteprojeto uma proibigio da discriminagio”, de lei - nao consegue precisar 0 justifica-se 0 deputado. Confron, que seria ou no permitido ao pro- tado com os termos da redagio, no fessor. Ele explica que um profes- entanto, ele rclativiza: “As vezes sor pode falar, por exemplo, sobre até no texto nio estava muito as- masturbago em sala de aula, Mas sim, mas como naquele momento se afirmar que essa € uma pritica da discussio 0 MEC estava pro- normal € saudével, negando que movendo coisas que eu discordo ¢ seja pecado, cle pode estar “vio- muita gente discordou na época, ando a conviegio moral de pais talvez isso tenha interferido na vo- conservadares”, assim como 0 tagio, na decisdo de fazer um texto contritio: se disser que € pecado, diferente. Foi a circunstancia da- pode estar “violando a conviccda quele momento”, confessa. moral de pais liberais”. Emboraem A nova briga do movimento ‘outro momento da entrevista ele tema ver com a redacio do Enem defenda que “se estiver amparado 2015, que também gerou uma po- ‘em pesquisa cientifiea”, 0 profes- lémica bem ao gosto da defesa da sor pode tratar do assunto, Nagib, moralidade presente no PL. do mais uma ver, trata esse contetido Escola sem Partido, Abordando 0 escolar como “matéria de opinido”: tema da violencia contra a mulher, ‘em espacos como jornais, TV € mesmo no Congresso Nacional a ideia de {que a escola cem que tracar igualmence todas as posigdes c argumentos, desconsiderando essa desigualdade no debate piblico, acaba fortalecen- do ainda mais essa tendéncia. “O pluralismo 86 seria de fato plural se todos os setores sociais tivessem recursos equivalences para difundir suas pr6prias crengas, eonvicgdes, pesquisas, problemas, questoes. Essa nao averdade.”, diz. Ampliando 0 foco do espaco restrito da sala de aula para as politi- cas educacionais, Virginia exemplifica essa falta de um verdadeiro plu- 24 Pai|mar/obr. 206 a partir de um texto da escritora Simone de Beauvoir, 0 exame foi acusado de promover essa. mesma “idealogia de género”. Isso numa realidade em que, segundo os da- dos do Mapa da Violéncia 2015, ‘© némero de assassinatos de mu: Iheres no Brasil cresceu 252% de 1980 até 2013. Para Miguel Nagib, © problema nao esti no tema da redaclo, mas na obrigatoriedade ~ prevista no guia do candidato ~ de que o estudante respeite os dirci- tos humanos, Segundo ele, essa de~ terminagio fere a liberdade de ex- pressdo dos candidatos que, sob 0 argumento de respeitar os direitos hhumanos, so submetidos a0 “po- liticamente correto”. Na pritica, ‘6 advogado defende que um aluno deveria, por exemplo, ter 0 direito de argumentar na sua redagio que ‘© comportamento da mulher pode ser responsivel pela violencia que ela softe. “Existe comportamenco de isco. Por exemplo, uma mu- Ther que faca prostituicdo esta se arriscando a ser vitima de violén- cia mais do que uma mulher que fica em casa cuidando da familia”, diz, para logo na sequéncia ponde- rar! “Eu nfo quero entrar no mé~ rico”. O também advogado Daniel Sarmento discorda: "Existe um di- reito fundamental 2 liberdade de expressio. Por isso, vocé ndo vai punir criminalmente uma pessoa que fale uma asneira como essa. Outra coisa € quando o Bstado se poe a avaliar 0 conteddo daqi lo, O Estado nao pode dizer que esté tudo bem em alguém falar que uma mulher merece apanhar (ou ser estuprada porque usa uma saia curta”, diz, defendendo que a Constituiglo brasileira como um todo coloca para o Estado o “dever de promover os direitos humanos”. “Bo melhor mecanismo para isso é a educagio”, conelui. ralismo com a presenga crescente privilegiada de entidades em- presariais na formulacio e condu: gio da educagio péblica brasilei- fa. “Que pluralismo pode existir ‘quando empresas adotam escolas piblieas, pagam passeios, lanches, tuniformes para as eriangas e, em troca, ganham 0 curticulo dessas, wrongs focuchr Ee escolas? Por acaso, as associagées de moradores préximas 3 escola, os sindicatos de trabalhadores dessas empresas, os trabalhadores rurais do entorno também tém o direito de sc organizar e apresentar suas discusses na escola", pergunta, Ela se refere ao fato dé entidades sem fins lucrativos ligadas a gran- des empresas ~ unidas, por exem. plo, no movimento “Todos pela Educagio’ - estarem a frente de Processos que se tornaram politica nacional, com chancela do Estado. “Isso € doutrinacdo, ¢ a partir de Poderes ndo cleitos, sem nenhuma influéneia da democracia. E um Process pelo qual se prega uma doutrina de acirramento da com. Peticao, um certo tipo de merito. Cracia", analisa, questionando por que essa realidade é simplesmence ignorada pelo movimento Esco. |a sem Partido. “Eu nao conhecia esse problema que vocé esté me ‘mostrando”, reconhece Nagib, di. zendo que, até aquele momento da entrevista, achava que as em. Presas interferiam apenas na ge tao das escolas. Na sequéncia do Espanto, no entanto, ele relativiza: “O problema nao é esse”. E retor. ‘na a0 alvo principal: “No fundo, © grande aror do proceso educa. cional e, portanto, também even. tualmente do processo de doutri. nagio, € 0 professor, 0 educadon, Esse € 0 responsével”, diz. Para o advogado, esse ‘protagonismo’ di 80 professor, inclusive, liberdade © obrigacio de corrigir ou relativi. zar um material didatico que seja tendencioso ~ por exemplo, a favor de concepgses que interessam 3s empresas. financiadoras. Virginia contesta: “Um professor dentro de sala de aula tem infinitesimalmen. f€ 0 peso de algo como a Funda. g40 Lehmann, 0 Instituto Ayrton Senna,aFundagéoRobertoMarinho, © Instituto Ital Social. Essas pes. soas deveriam pesquisar quem doutrina de fato a escola”, Sem partido? Para o coordenador da Anpuh, © proceso de “demonizagio” de figuras importantes como Paulo Freire ~ que se deu nao apenas na faixa que sobressaiu no procesto, or apjv fase mas também em argumentos do Escola sem Partido e em textos de articulistas da direita — é emble. atico e nio deixa dividas da asso. Ciagdo da pauta do Escola sem Par. tido com o fortalecimento de um discurso ¢ uma pritica reacionérias no pais. “E quase um remabe do que fizeram em 1964, quando pedirarn a intcrvengio dos militares. Teve a Marcha da Familia pela Liberdade, gue era a (dendincia dessa] ameaga dos comunistas a familia, aos valo- res da tradigdo crista. O pais iria virar uma Cuba. Eo mesmo discur- 80 que se faz hoje. Esto requen. tando um discurso ultrapassado, 36 que acharam novos deménios. Mas do trazem nenhuma contribui- $0 positiva para a gente avangar © assegurar mais cransparéncia no oder piblico, mais democracia ov mais agilidade da justiga. $6 tra. zem um discurso enviesado sobre © que est acontecendo no pais”. E conclu: “Eu acho que a gente esta vendo uma aco articulada, uma Ponta de langa de setores reaciond~ Flos que se apoderaram de lugares estratégicos dentro do Congresso Nacional, de alguns canais de co- municagao © esto fazendo um uso bastante agressivo disso para alte. rar a nossa legislago”, Miguel Nagib se defende da acusagdo de que o Escola sem Par. ‘ido seja um movimento de dite). ta, “Eu desafio qualquer pessoa a Provar que nosso projeto no seja 100% sem partido. Sea lei for apro- vada, ela poderi ser invocada tanto Pelo PT’ quanto pelo PSDB e pelo Partido que for”, garante. Durante a enerevista a Poli, ele fez, inclusi- ¥e, questo de citar como exemplo de pritica doutringria o caso de um Professor de portugués de Cara. Suatatuba (SP) que, numa questéo de prova sobre 0 uso da virgula, Uusou frases como “O PT é ladrio, traidor © enganador” © “Dilma, « presidente ¢ seus 40 ladrdes, afun daram 0 pais". “B desonesto um Professor fazer isso. Se isso hoje estd a favor do partido tal, amanha Pode ser contra”, opina. E perceptivel, no entanto, a relagéo entre personagens, insti- tuigdes € mesmo partidos de pau- ta conservadora com os ambientes €m que o projeto Escola sem Par. tido tem sido mais aceito € elo- giado. Um dos maiores entusiay. fs do movimento é 0 articulisea Rodrigo Constantino, conhecide Por textos polémicos que atacam Romeadamente partidos, pessoas € insticuigdes que ele, signatirio do recém-criado Partido Novo, considera de esquerda Da mesma forma, nos diver 50s espacos do site do Escola sem Partido é possivel encontrar textos que fazem a defesa de pautas as, sociadas a movimentos mais con. servadores, além de erfticas exp| citas a personagens de esquerda, Num artigo intitulado ‘Ensino da ditadura militar nas escolas: Gra mscismo puro’, publicado na seco “Corpo de delito’, por exemplo, 0 autor, Jorge Alberto Forrer Garcia, defende a interpretagio dos mili, tates e nomeia o golpe coma “con tra-revolugio democritica “de 31 de marco de 1964". E bem verda. de que, nas ‘condigées de uso’ do site, informa-se que as mensagens “no refletem, —necessariamen- , as [opinides] do. provedor”, embora este se reserve tambem © direito de recusar ou remover mensagens “a seu exclusivo crite. rio”. Na pagina principal, aparcee em destaque um clipe, classifica do pelos administradores do. sive como “tema musical da educagio brasileira”. Traca-se da masica ‘o Bando’, uma parédia da “Bands de Chico Buarque, que far refe. éncias ditetas a “mensaleiros” ¢ chama de “esquerdalha” pessoas ue tencariam transformat os es. tudantes em “robés”. Paulo Freire, segundo a letra, “virou Sanco ¢ fu deu com o Brasil” Perguntado, Nagib nao sabe citar um Gnico nome ligado & di, reita que tenha promovide dou. trinagdo. “Pode set até que exista Bu nio conheco", diz. O eoorde. nador do Escola’ sem Partido cat6lieo e, politicamente, se con. sidera um conservador ~ adjetive que, na sequéncia da entrevista, cle associa as ideias da diveita, Apesar disso, ele nao tem “nenhu, ma divida” de que, diference da Prética dos professores em sala de aula, seu projeto néo softe qual. Quer influéncia das suas posigdes Politicas e religiosas. @ Polifmer/tr. 2016 25

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