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Garoa

Como num preldio de Rachmaninov


Ela baila na moldura da janela
O quebra-cabea de pedras ao fundo
semi-coberto pela trepadeira
sequer sente-se mido

A garoa vai e vem


No pinga no telhado porque aqui no h telhado
Apenas no poema de Quintana
a chuva e o anjo esto a pirulinlar
E, aqui, eu pareo que vou sofrer

A garoa vem e vai


fina, leve, desmedida
fria, pluma, rpida
triste

Fina e minscula como a neve em Edinburgo


a cobrir meu corao vazio.

Leve e sorrateira como o gato imaginrio


que, placidamente, se deita sobre o livro aberto
acariciando com suas unhas afiadas as palavras dispersas.

Desmedida e vadia como o tranar de pernas


do brio voltando para casa ao amanhecer,
os olhos doendo pelo excesso de claridade,
a malemolncia de pernas a passos rpidos.

Fria e voraz tal o puma das savanas


silencioso como a noite
prostrado no galho grosso da rvore
a esperar a presa para dar o bote infalvel

Como uma pluma, a garoa desce sobre o dia triste


enegrece a alma, dando-lhe tons spia de tdio
e melancolia

como uma pluma, a garoa desce flutuando ao som


de Raphsody on A theme of Paganini
embaando memrias perdidas no fundo do ba

Rpida e inquieta como uma alma perdida


a garoa vai e vem
de minuto a minuto
de segundo a segundo
sem permitir que as memrias
se sentem e fiquem para o almoo.

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