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marxista Lukdacs e os dilemas da dialética marxista Arnicos GUIDO OLDRINI”* O titulo do presente esbogo, Lukdes ¢ os dilemas da dialética marxista, no quer, de forma algumna, significar quea dialética se, para Lulkécs, um difema, No cutso do desenvolvimento de sew pensamento, hd todo um longo perfodo inicial em que a dialética néo aparece de forma alguma, e um outro, subseqiiente, em que, por oucro lado, ela ocupa um lugar central, Mas, nem Hi nem aqui, ela pode suscitar dilemas: [4 no, porque cla néo existe ainda; aqui também nao, pois ¢ aceita ¢ ocupa lugar central, sem questoes de nenhuma ordem, Os dilemas da dialética consiscem, antes, apenas em que éa pt6ptia dialética a mostrar-se um dile- ma, Excetuando-se a palavra “historicismo” (fonte de equivocos mal-entendides sem- fim), em filosofia ndo conhego rermo mais escorregadio ¢ indeterminado: no 36 por- que como é bem sabido ~ a dialdtica veio, pouco a pouco, assumindo significados ltiplos, sempre diferentes entre si, mas porque, também, nos pensadores em que aparcntemente parece designar um complexo problemitico orginico ¢ unisério — Hegel «em primeiro lugar ~, 0 seu estatuto permanece impreciso, as suas aplicagSes apre- sentam intimeras variantes ¢ © seu aparecimento ¢ freqiientemente nio-declarado ou clandestino, Chamou-me sempre a atengéo a reticéncia definitéria de Hegel. De suas obras maximamente sisteméticas, a Fenomenologia ~ toda entrelagada de relag6es dialéticas, uma dialética ininterrupta, sem solugio de continuidade— nao contém nenhuma definigéo do conceito, a ndo ser a assergao de que a substancia resalve-se— dove se resolver ~ na dialética do sujeito (do espitico como sujeito); «a Enciclopedia, na qual asistentica se rege inteiramente sobre aarticulagio dialétiea, “Tiaducio do italiano de Zaira Rodrigues Vieira. Revisio véenica de Sérgio Lessa. “Professor de filosofia da Universidade de Bologna. Endereso eletrénico: guido.oldrini@unibo.ic 50 * LUKACS E OS DILEMAS DA DIALETICA MARXISTA _ —_ identificando-se com ela, maltrata a dialética do modo mais desarrazoado possivel: confina seu tratamento em um lugar errado, sob um titulo anddino, ¢ a restringe a pouicos, breves e eripticos enunciados, aos limites da compreensibilidade: quase como se a preocupagio do autor fosse mais de escondé-ta que de evidencid-la, de exibir séu papel determinante. ‘As coisas no melhoram muito com 0 marxismo, digamos que até pioram. Marx esté bem longe de nos ajudat. Do mesmo modo que 90% das suas outras promessas, também a promessa, na maturidade, de encontrar 0 tempo para voltar a ocupar-se de Hegel e da dialética termina, como bem se sabe, nao-cumprida. “Todos os marxistas sGrios que se péem ao seu lado ou que o seguem ~ Engels, Labriola, Mehting, Lénin, Gramsci, Lukées — devem se virar por conta préprias para todos, © ponto principal permanece o se, como, até que ponto ¢ em que sentido a dialética masxista constrdi um eaminho auténomo, diferente daquela de Hegel. A este inconveniente comum, fonte de entraves ¢ dilemas infinitos, de nés probleméticos irresclutos, se acrescenta, em Lukées, a circunstincia de que néo comega ¢ nao desenvolve a sua atividade principal como filésofo. O que 0 ocupa, em grande parte de sua carreita, é mais a crftica literdria ou, no maximo, a proble- matica estética em geral; mas aquela problemstica estética, que, durante seus anos juvenis, chega até a filosofia (refiro-me notadamente & Filosofia da arte de Heidelberg), possui pressupostos neokantianos, muito distantes, portanto, da dialética. Esta tltima comega a desempenhar um papel de primeiro plano s6 com 0 seu protomarxismo ¢ desenvolve-se, em seguida, continuamente, até toda a fase sistematica tardia, ultima, de seu pensamento, da grande Hstética em diante (Lukes tem, entao, quase setenta anos), quando a urgéncia dos problemas o obriga a con- frontar-se novamente de perto com a filosofia ea dialética. De minha parte, nao tenho aqui nenhuma pretensio de ir ao fundo das coisas, Nem seria razoavelmente possivel. Indicarei apenas, como eventuais pon- tos de discussio, os lugares em que Lulkécs coloca diretamente em questio a dialética com que este colocar em questio se reflete sobre o sentido ¢ 0 éxito de suas consi- deragdes filosdficas. Grosso modo — mas este é mesmo apenas um esquema muito vulgar ~ indicarci a articulagio que a fungio da dialética desenvolve ao longo das tds fases seguintes: no Lukes hegeliano-mamxista de Histdria ¢ consciéncia de classe (1923), no marxismo do Lukacs erftico literdrio ¢ histérico da filosofia, em Mos- cou apés 1930, c na sui sistemdtica marxista madura, de cunho ontoldgico (espe- cialmente em Para a ontologia do ser social, 1968-71). Comecemos do protomarxismo. A dialética ja esté toralmente em agao em Histéria e consciéncia de classe. Energicamente reivindicadas — contya toda forma de sociologismo vulgar (heranga da TI Internacional), bem como de revisionismo 4 CRITICA MARXISTA # 57 Ja Bernstein, ambos antidialéticos — so as categorias hegelianas de “totalidade” ¢ “mediagio”, agora, na acepgio especificamente marxista de “totalidade concreta’', Em toda parte so reconhectveis ¢ fecundos os tragos préprios da dialética (a influén- cia exercida pela mediacao sobre a imagem do mundo, a identidade entre processo dialético ¢ desenvolvimento histérico). Sua fungao precfpua, aquela de representar 0 fendmeno da reificacéo (tema jé no centro dos Manuseritos econbrico-filosdficos, de Marx, por sua vez, ainda nao vindos a puiblico quando Lukas deles se ocupa), ou seja, a esséncia da estrutura de mercadoria das relagdes entre os homens na organizagio capitalista da sociedade. Entretanto, sua estrutura mostra, ainda, um contexto viciado pelo pressu- posto idealista hegeliano do sujeito-objeto idéntico. Vem reproduzido ali, com todas as variantes do caso, o mito filosdfico do sujeito que produz por si mesmo o mundo para retomd-lo ¢ reabsorvé-lo novamente em si. A filosofia clissica alema — lé-se em Histdria ¢ consciéneia de clase — alcanga, em Hegel, 0 ponto de vista pelo qual a génese da realidade vem entendida como “ago” (Zathandlung): aunidade do sujeito ¢ do objeto, do pensamenta ¢ do ser, que a ago se resolveu a provar ¢ 8 mostray, encontra realmente o lugar da sua realizagio ¢ do seu substrato na unidade entre a génese das determinagées pensadas ea histéria do devir da realidade, No entanto, para se compreender esta unidade, ¢ necessdrio néo sé assinalar na hist6ria o lugar metodolégico da solugio provével para todos estes problemas, mas mostrar também con- cretamenteo “nds? que é sujcito da histéria, esse “nds” cuja agio € realmente a histéria?, Agora, em Histéria ¢ conscitncia de classe, aquele “nds” & 0 proletariado. Ao invés de perder-se “no labirinto sem safda da mitologia conceitual” de Hegel, isto & no espitito do mundo como sujeito fantéstico, Marx indica a nova perspectiva. Eo proletariado, como “sujeito real da préxis subversiva” (para usar uma locusio posterior de Lukécs, extrafda do seu ensaio de 1926 — Moses Hesse 0s problemas da dialética idealista), 0 vetculo do processo de compreensio das leis objetivas do mundo. Lé-se em Histdria e conseiéncia de classe: 108, Luhdes’ Concept of Dialectic, Londres, The Merlin Press, 1972, pp. 61 ss. (parcialmente traduzido na antologia de ensaios, organizada por mim, Lukdes, Mi- Ko, Isedi/Mondadori, 1979, pp. 141ss.). > Gydrgy Lukées, Geschichte und Klasienbewnftscin, Studien itber marxistische Dialektily, Berlim, Malik Verlag, 1923 (repr. Londres, Red Star Press, 1997), p. 1615 agora, in Gydrgy Luksecs, Arabscbriften 1 (Werke, Bd. 2), Neuwied-Berlin, Luchterhand, 1968, pp. 327-8 (Storia ¢ coscienza di classe, wad. di G. Piana, Milao, Sugar, 1967, p. 192). Histéria ¢ consciéncia de classe, tead. T. Costa, Porto, Escorpiso, 1974, pp. 164-165. 52 * LUKACS E OS DILEMAS DA DIALETICA MARXISTA Na medida em quea sua consciéncia surge como conseqiiéncia imanente da diakética histérica, cle proprio aparece como dialético. Por outras palavras, esta consciéncia é apenas a expressio da necessidade histérica, O proletariado “nao tem ideais a realizar”, Transposta para a préxis, a consciéncia do proletariado sé pode dar vida Aquilo que a dialérica histérica forsou a entrar em crises pelo contririo, nunca poderd colocar-se “praticamente” acima da marcha da hist6ria ¢ impor-lhe simples aspiragBes ou simples conhecimentos. Pois, ela mesma nio ¢ sendo a contradigio do desenvolvimento social que se tornou consciente?, Equivale a dizer que o cardter essencial da “dialética proletdria” & que “a consciéncia nfo é, aqui, consciéncia de um objeto que se lhe contrapée, mas auto- consciéncia do objeto mesmo”; que ‘a consciéncia do proletariado se eleva A auto- consciéncia da sociedade no seu desenvolvimento histérico”. A posterior autocritica de Lukécs a esta “construgao putamente metafisica” (no Preficio de 1967 a reedigao do texto) soa como radical e definitiva: O proletariado como sujeito-objeto idéntico da histéria real da humanidade nao ¢ ideali pera as construgées intelectuai (...) uma realizagio materialista que s trata-se de um hegelianismo mais hegeliano que Hegel, de uma con quer objetivamente ultrapassar 0 préprio mestre na audaz clevagéo do pensamento ruigko que acima de qualquer realidade?. Além disso, enquanto tal, enquanto expresso idealista da historicidade do mundo social, a dialética no é algo que possa ter a ver com a natureza; hé uma dialética do social, ou melhor, o social nao se exprime senao dialeticamente, mas nao uma dialética natural. Carecendo a natureza de toda interagéo entre sujeito ¢ objeto — com justificada perplexidade de Gramsci (0 qual, alids, fala do livro sé por ouvir dizer)’ —adialética da natureza permanece excluida de Histéria e consciéncia de classe. 2. Segundo o prefiicio autobiogréfico de Lukées acabado de citar’, os preconceitos idealistas de Histéria e canseiéncia de elasse cacm, ao mesmo tem po, todos juntos, com a “viragem filoséfica geral”, que intervém em sen pensa- * Ibid, p. 194 (reimp., p. 3625 uad., p. 234), ‘Trad. de'T. Costa, p. 198. “Ielom, ibidem, p. 198 (reimp., p. 3665 trad., p. 238). > Gydrgy Lukécs, Vorwore [1967] A reed. de Geschichte und Klascenbewafitsein, in Werke, Bd. 2, cit,, p. 25 (trad., p. xxv). ‘Tradugio portuguesa inteiramente modificada por nds. © Idem, ibidem, p. 18-9 (trad. p. x¥E-xvit). CR Antonio Gramsci, Quadermi del carcere, organizado por V. Gerratana, Tarim, Einaudi, 1975, It, p. 1449. “Idem, ibidem, pp. 38 ss. (uad., pp. xt ss.). CRITICA MARXISTA © 53 mento quando, no inicio dos anos 30, ele se transfere para Moscou. Esta vira- gem forma historiograficamente o né central, decisive, para a justa comprecn- sio da passagem de Lukdes do protomarxismo juvenil ao marxismo da maturi- dade, Retomatei, aqui, brevemente, algo por mim ja ilustrado detalhadamente em outro momento’. E, alids, Lukdcs mesmo a pegar-nos pela mao ¢ a condu- zit-nos certeiramente ao nos proporcionar uma reconstrugao auténtica e fide- digna da viragem em intimeros textos (cartas, entrevistas, esbogos autobiogré- ficos, prefacios ¢ posficios, de cuja sinceridade nao hé raza alguma para du- vidar). Intelectualmente determinante é, para ele, sobretudo, um pont sido que Ihe é oferecida de tomar contato, no Instituto Marx-Engels de Mos- cou, com o texto recém-publicado dos Cadernos filosdficos de Lénin ¢ com os ainda inéditos, mas j4 completamente decifrados, Manuscritos econdmico-filo- séficos do jovem Marx. Estas leituras incidem profundamente sobre cle, a pon- to de mudar completamente sua relagdo com o marxismo, de transformar sua perspectiva filosdfica; tanto que, a uma distancia de quase quarenta anos, no citado Preficio de 1967, cle se lembra da “impressao perturbadora” recebida das palavras com as quais 0 Marx dos Manuscritos individua ¢ fixa na objeti dade “algo de ontologicamente primdrio”, uma propriedade origindria de to- dos os seres, assim como de todas as relacdes entre seres [essenti] ¢ de todas as suas produgées (objetivagécs): a “quintesséncia” mesma, cré Lukics, da “teoria materialista marxiana da objetividade”. Ora, este ponto autoeritico de viragem afeta centralmente, também, sua con- cepsio da dialética. (Latentes tragos de autocritica, lembro en passant, se encontram, alids, mesmo anteriormente, nas suas resenhas vienenses criticas da segunda metade ® Refiro-me, em particular, aos seguintes escritos: Le basi teoretiche del Lkdes della maturit no volume, organizado por mim, i marsitino della maturitt di Lukdes, Napoles, Prismi, 1983, pp. 65-90; Giovane Lukes 0 Lukdes maturo?, in Gyorgy Lukdcs nel centenario della nascita, 1885-1985, organizado por D. Losurdo/P. Salyucci/L. Sichirollo, Urbino, QuactroVenti, 1986, pp. 19-32; Alle nadici dell ontologia (marsista) di Lukdes, in “Giornale critico dell filosofia italiana”, LXXVT, 1997, pp. 1-29, ¢ (versio alenya) in Lukes 1997 (Jahrbuch der Internationalen George skiéies-Gesellschaft, 2), org. por F. Benscler/W. Jung, Berna, Peter Lang, 1998, pp. 133-62, ao qual remeto também para todos os detathe: bibliograficos, Muico nitida, a propésito, a lembranga do amigo ¢ colaborador préximo de Lukes em Moscou, Michail Lifiie: “Aqui, nele, se realiza a definiciva passagem dialécica na sia verdadeira forma, ele encontroa a si mesmo” (M. Liftic, Dialoghi moscoviti con Lukdes, organizado por G, Mastroianni, “Belfagor”, XLV, 1990, pp, 549-50). CE, tam- bém, 1. Hermann, Die Gedankenwelt von Georg Lukdes, Budapeste, Akadémiai Kiad6, 1978, pp. 176 ss., ¢ 08 dois textos de L.. Sviklai, Georg Lukies und seine Zeit, 1930-1945, Budapeste, Corvina, 1986, pp. 91 ss. ¢ After the Proleturian Revolution: Georg Lakdest Marist Development, 1930-1945, Budapeste, Akadémiai Kiads, 1992, pp. 95s 54 * LUKACS E OS DILEMAS DA DIALETICA MARXISTA dos anos 20, especialmente naquelas de Bukrin, Lassallee Moses Hess)’, Eaqui tem sua raiz, também, a teoria lukécsiana do realismo em estética. Entre o “tealismo como método de criagéio artistica” ea “teotia materialista marxiana da objetividade”, no deformada por vulgatizagées, na verdade subsiste, para Lukes, bem mais que una simples correspondéncias uma deriva da outra ou, pelo menos, a ela se conecta de forma muito estreita. Isto nos induz, ao mesmo tempo, a evidenciar o outro lado complementar da teoria, 0 papel mediador, determinante, que nela representa a dialdtica, Pols, se a objetividade do realismo quer distinguir-se ¢, em prinefpio, se distinguedo natutalismo descritivo, da agitagao, ou, de um aspecto ideologicamente oposto (mas esteticamente convergente), se distingue do falso objetivismo da litera- numa burguesa decadente, entio ocorre que, superando toda imediaticidade — tanto no sujcito, come no objeto ~, toda cogitagao puramente voluntarista, bem como todo registro meramente passivo ou fenoménico de eventos, cla se produz como resultado da complexa dialética objetiva de esséncia ¢ fendmeno, da qual ¢ parte — ¢ parte decisiva ~ a inter-relagio que liga sempre o escritor & realidade representada, sua relagéo de influéncia reciproca com a concepgao do mundo ¢ 0 estilo artistico. Nao surpreende a importancia que Lukées atribui ao problema. Os seus grandes ensaios erftico-tedricos da primeira metade dos anos 30 (0 ensaio sobre Goethe ea dialésica, aquele sobre Franz Mehting e, sobretudo, aquele de 1985, Sobre o problema da forma artistiea objetiva, que apareceu originariamente na revista moscovita “Liveraturny} kritik”, e que foi, vinte anos mais tarde, vertido do russo para 0 alemao com o titulo Arte e verdade objetiva, no qual, observe-se, s4o explicitamente aproveita- das as anotages de Lénin & légica de Hegel) — tais ensaios insistem particularmente sobre este ponto, sublinhando como o problema teérico central da literatura ¢ da filosofia alema do pertodo cldssico, de Lessing a Hegel, é justamente a “luta pelo desen- volvimento da dialética”. Certo, “uma dialética édealista”, que o marxismo — sem rene- gar, de forma alguma, sua conteibuigio ~ deve realizar de modo materialista, Nem surpreende que a énfase caia, agora, com tanta forga, sobre a figura de Goethe, em tomo da qual vinha trabalhando, etn Moscow, sem interrupsio, mesmo durante os anos mais sombrios do stalinismo, em evidente ¢ nio-extrinseco paralelo com o seu inovador estudo de Hegel”. Como ele esté, agora, & procura de uma safda tedrica de seu precedente marxismo hegelianizado e visa a uma assimilagéo do materialismo que T No ensalo sobre Hes, cle insiste, entre outras coisas, abertamente sobre a “viragem do método dialético operada por Marx ¢ Engels? ¢ sobre quanto esta viragem “criou uma teoria de tipo inteiramente novo” (G. Lukées, Moses Hess und die Probleme der idealistischen Dialektil, in Werke, Bd. 2, cit. p. 681; trad. in Lukées, Sevitti politici giooanili, 1919- 1928, organizado por P. Manganato, Bari, Laterza, 1972, p. 302). © Bntve os scus principais trabalhos sobre 0 tema estio Goethe und die Dialektik, “Der Marxist”, I, 1932, n® 5, pp. 13-24 (agora in G. Lukées, Ziatétitai irdsok 1930-1945, CRITICA MARXISTA ® 55 no signifique rentincia & dialética, Goethe the oferece, em muitos sentidos, © apoio procurado. Os esforgos de Goethe para claborar uma ciéncia da evolugao na natureza c para estabelecer um estreito nexo entre filosofia da natureza ¢ estética; asua inclinagio instintiva, espontanea, para o materialismo, que se poe, também, espontaneamente sob forma dialética (embora permanega, no plano social, sempre muito atrés em rela- (40 a dialética de Hegel); sua fecunda relagao de continuidade, mas também de supe- ago no que diz, respcito ao Hluminismo; sua valorizacio — contra Schiller— do simb6- lico versus 0 alegdtico, da categoria da “particularidade” na arte ¢ outros tragos caracte- risticos de sua teoria ¢ praxis artistica, sfo, todos, elementos destinados a incidir pro- fundamente sobre a reflexao estética de Lukdcs. Goethe ocupa uma posigdo singular, privilegiada, extraordinariamente esclarecedora para o Lukdcs posterior 4 viragem de 1930. A superioridade da posi- do goethiana em relacdo, digamos, as suas fontes iluministas, ele a localiza exata- mente no fato de que, como pensador, mas também como artista, como grande realista, Goethe pode “mover-se livremente na matéria, refletir 0 movimento, 0 automovimento da matéria, essencialmente ¢ sensivelmente, como automovi- mento”, Desta forma, Lukécs, encontra, af, num certo sentido, o modelo que o arranca 4 constrigéo idealista de Hegel ¢ 0 reconecta, nos problemas concretos, 2 objetividade, ao estudo do manifestar-se imanente da dialética no real; correla- tivamente, cle vé como as geniais intuigdes dialéticas de Hegel servem para influ- enciar, corrigir, integrar, em muitos pontos, a tendéncia apenas espontanea de Goethe dialética. E comum, de todo modo, em ambos, esta “idéia fundamental” de “partir do trabalho humano como processo de autoprodugéo do homem”. Para Lukas, a concretizacao tedrica dos problemas da dialética, a descoberta ¢ 9 esclarecimento do nexo dialético entre esséncia ¢ fendmeno (clevado, pelo marxismo, “4 concretizacso do contetido social, do significado de classe de essén- cia ¢ fendmeno’") passam por aqui. Que Goethe ¢ Hegel estejam téo decidida ¢ abundantemente no centro de seus interesses é apenas mais um sinal de sua pro- organizado por L. Sziklai, Budapeste, Kossuth, 1982, pp. 267-78; trad. por A. Gargano in Lessing ¢ il suo tempo, Cremona, 1973, pp. 267-84); 0s estudos reunidos in Goethe und seine Zeit, Berlim, Aufbau-Verlag, 1950 (particularmente aqucles sobre Havst, em que o paralclo écom a Fezomenologia do espsrito); ¢ cortas paginas, em especial as conclusivas, de Der junge Hegel und die Probleme der kapitalistischen Gesellschaft, Berlim, Aufbau-Verlg, 1954, pp. 249-51, 645-6 (I giavane Hegel e i problemi della sociert capitalistica, wad. de R. Solmi, Turim, Binaudi, 1960, pp. 297-9, 783-5). ” Gyorgy Lukées, Zur Frage der Satire (1932), in Essays itber Realismus (Werke, Bd. 4), Neuwied-Berlim, Luchterhand, 1971, p. 89 (reimpresso em apéndice a A. Klein, Georg Lukes in Berlin. Literaturtheorie und Literatuypolitih dev Jabre 1930/32, Berlim-Weimat, Anfbau-Verlag, 1990, p. 305). 56 © LUKACS E OS DILEMAS DA DIALETICA MARXISTA

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