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Colegao Primeiros Passos «> Uma Enciclopédia Critica Pare, olhe e pense. Esse conjunto de casas prédios e vias de tréfego, povoado por mithares, as vezes milhdes de pessoas, é - ‘como voo8 sabe - uma cidade. E nao faz muito tempo que elas existem. As primeiras surgiram ha apenas 5.000 anos, nos vales da Mesopotmia. De lé pra c4, muita coisa mudou, Este livro parte das referéncias mais diversas para chegar ao que as cidades tem de mais essencial e comum. Mais do que isso, mergulha nas metrépoles capitalistas, suas origens e contradigoes. De Babel a © lugar onde a gente vive, estuda, irabalha e procura ser feliz. ISBN 5-12-01203-6 7ea611 10120331 es i | Raquel Rolnik t O QUEE CIDADE editora brasiliense api by Raul Ra, 188 ‘Naku arte dea pbc pode er road, “manent corn fossa sri ei a er sarong an mai Cet aati INDICE vegeta Raat Rah ~ Sia ae 2 ain ee oc |Get Roeeso bana Sigs 70 tro; 80 coum Defining acd, = Aeidade do capil = Indleages pars et aa 90 as, INTRODUCAO Quando, no alto das montanhas de Machu Picchu, pisamos nas pedras da cidade, uma emogéo forte se apodera de nés. Esta estranha ‘sensa¢o anuncia do deserto as sete portas da muralha de Jerusalém. Quem, do avido, vé S80 Paulo que se avizinha, perde a respirag&o ao perceber-se perto das centenas de torres de concreto e luzes da cidade. Que fendmeno 6 e: te capaz de se fazer sentir no corpo de quem de- le se aproxima? 0 viajante de muitos tempos e lugares reco- nhece em seu caminho os vestigios da proximi- dade com a cidade. Sobre montanhas, rios e pe- dras da natureza primeira se implanta uma se- gunda natureza, manufaturada, feita de milha- res de pelas geométricas. Fruto da imaginagaoe {Uma obra coletive que dees Ela nasce com o processo de sedentarizagdo « seu aparecimento delimite uma nova relap8o hhomeminaturoza: pare fkar-se™om um pont pa- ra plantar 6 precise garantir © dominio perme rente de um teriterio. Imbricade portanto com a natureza mesma da cidede esté 2 orgenizagio da vida social © con- ecessidade de gestBo da pro- ‘upto colstiva, Indiesoclavel 8 existencla mato- sbém que se localizam os temples, ‘onde moram os douses capazes do garantt 0 Sominio sobre 0 teritério € » possibiidade de (esto de vide coletiva, 80 Ge dominio sobre um t rion, ‘da aoministragS0, lugar dda produgBo de mitos e simbolos ~ no esta- fiam estas caractofstices ainda presentes nes mmetopoles contemporaneas? Cldades da ‘letrories, nfo seam. viro'6 metal os conto {do Estado, pats ou planeta? No seriam seus ‘outdoors, vitrinas@ elas de TV 08 tomplos dos vos deuses? Certo, ndo hd mats muralhas; 20 contrério de cidade antiga, a metrépole cortemporénea se ‘stonde ao infinito, no circunscreve nada se- ‘no sus potbncis devoradora de expensto e ct ulagso. Ap contra d tiga fochado ‘iglada para defendar-ee deinimigos internos ornos, a cidade contompordnea se caracte {za pela velocidade de cculagso. S80 tluxos ‘mercadoriss, pessoas e capital om ritmo cade ‘Yer mais acclerado, rompend areas, subju: gando terroros. ‘De Babel a Brasilia, como sugise se transfor ‘mou a cidade? 0 préprie espago urbano se en Carrega de contar parte de sua historia. A arqui+ isto, ume escrita, materialeagdo de sua pro: ra istoris. [AO escrever este liv no & nossa intend apresentar uma sistematizagSo da historia da o> dade, mas sim, tomando alguns exemplos de d Terentes formas do fendmeno urbane, reflete respeito de sua naturezs, origem e transfor- apse, 'Na primeira part do ivro partimos em busca Ge uma defnigbo do cidade. Usando referéncios ' cidades bastante ciferentes entre si, procure ‘mos apontar para aquilo que & eesencial 8 co- mum a todes elas. 'A segunda parte do livo 6 dedicada & cidade aptalista — sue origom, movimentosintornos, onfitos contredigtes, Esaremos neste capt {Ulomsls proximos das cdedasconhecides, ave Dercoremos em nosso dando: 2 grende © x osive cidade industria! ou a metropae info. Imatizace de um futuro present. ramos ~ futuro voos DEFININDO A CIDADE Quando, 20 decide oscrver este tvro, me perguntero que écidade, a primera imagem que ‘velo eabere fl 880 Paul, a motropole que {2 porde do vate. Penge na intensidade de S80 Paulo, feita do movimento inoessonte de gente ‘@msquinas, do eelor dos enconuos, 68 vilor- ‘a dor confits, Mil thoes, Mas logo me ocorreu uma civics nos fam gage ritmo e essa Intonsa concentagao, ‘singnimos de urban, proprios ‘eldedes que anu ‘nm 0 sbculo XXI? ‘Peneet entdo em outras cidedes, do outror igeres ~ Bablnia, Roma, Jorusalom wicades amurathadas, do ites precisos,cu- js ports permitiom ou bloqueavam o contacto com 0 mundo exterior, Penge nto a irania de Wal Street, rua do muro que imitava cidade 42 Nova torque, no secu XVI, tranatormande 58 no contro do mereedo tinancelointemaelo- 7a simbalo de um ruindo onde ae cidades no {im fir, No inicio da hlstoa emereane, quem {Se aigia a Nova lorque depress com sour ones. Hoje esta possbildade nso oxiste ‘mals: nfo's6 ests nunca dante da cidade, mas ‘ace sempre dentro dee O espaga urbano deixou assim de 8 resting 1 um conjunto dense e setinise de para eigalicar, de maneia male empl fmintneia cidade sobre 0 campo, ‘strtos industias, estradas © vis ‘xprssas recobrem e absorvem zonas egricolas p9f0, transtormando em urbana » Sociedade ‘como um toda,” ‘Dante de fendmenos tho ciferont ttopoles contemporsness, sea posevel dete ode? 'Na busca de algum sinal que pudesse apont uma earacteriatica essancil de cidode de qu fuer tempo ov lugar #imagam que me velo 3 aba Tole de um m8, um campo magnstica ‘ue ara, radne @ concenta os homens. ‘A cidade como um ima fente de trabalho e mocadia. Assim forarn oF [rimeiros ambnes de cidade de que tomas no- {ica, 08 ziguratos, tempos que apareceram nas niles de Mesopatimia om tore Go torclro ‘iio antes de era erst. "7A construed do local ceiimoria coresponde ‘uma traneformagao na manera de os homens ‘ccuparem 0 aspago, Pantar 0 slmonto, 0 i és de coletio ou capé-o, implica aati o os aco vital de forme mais permanente. A geran- Hiede dominio sobre este separa est na apro- ‘lopore consti as primates marcos do dace Fano de moder ansurera/ 2 teenca do iso condo, mir! de ave vam teiton os sigurates,poneitava esto nov {turer arquitetura passava dives composigdo ‘se formes. ‘tivo, por se ums unidade geométrica sim ble pectniada costal a produde rite enorme focidade he eal {io foie dae formas mages, postbitan do que o ambiemte see fabricado conforme os Sesignios humanos. ‘O templo era o ma que reunia 0 grupo. Sua cedificagdo consolidave a forma de ohango cole. brada no cerimorial pendico ai realizado. Dee tomodo, a cidade dos deuses e dos martos pre ‘edo cidade dos vives, enunciando a sedents- ‘A Bla se rafore a esta passagern no historia ‘quando nos relate experiéncie da Torre de Be bel os descendentes do Not, sobreviventes do Controle crescente do processo de trabalho pelo ‘epital,suborcin baho manual ao tr 8 para compor 0 conério da in- tri @ apenas um: a méquine. Primo foram {9s enormes engenhos de ferro ou madeira in Bulsionados pelo vapor. Hoje edo as méqulnas 4 a¢0 comandadas por programas de computa for, Embora a cidade des chominéa @ do apt das fébricas soja diferente da cidade automat 22d, 8 presenga da inddstria 6 um elemento es- ‘sencial de ambas. 0 que aconteceu com as ct ‘dads quando passaram 9 abriga 98 grandes in ‘distri fo, som divide, ume revolugae que a torou decididemente o cardter © @ natureza da aglomeracso urban. “Antes de male nada, com a industiaizagSo {da produgio assiatimos a um processo de urbe rizagdo num 3s conhecide. A Grass Stadt, grande cidade, eglomeracto urbana de Centenas de mihares, de mihdoe da habitants, produto deste processo. Além do as grandes oncentragdes, de es dansidados serem proce- Gentes & populagto, & a industria também que impulsions 0 processo de urbanizagdo da socle- ‘dase como um todo. Urbarizagso do planeta Significe que, mesmo ndo estendo dentro do ‘uma cidade, somos atingios por seus projétes. Isto se dé sobretudo om funglo de urn ‘g80.nos transportes — hoje nas comunicagtes = decorrente da introduce da méquina no oro 08so de ciculacto de bens, mereadorias 6 in- formacbes. A Introdugdo da mquina, 20 din nuir distancia, transforma som cesear regibes onginquas em morcados potenciais para oe pro- dutes da inddetra ‘A maquina entra na diswibuigSo da mercado: fia 20 mesmo tempo que entra om sua produ palo calor das fiat humans come for $0 do motor ampliou os limites 6a producdo pa- slem dae capacidades biolégias. A maquina fibo cansa, no sente, no tem humores, ndo 6 Come evento, ave vezes nde sora, nom co ‘mo 0 brago que hs vezes case. Seu poder mo: tor &limtado apenas por suas potonciaicades mmecanicas. Eis por que trunfou w tomou conta {do procosso de producto e circulagto de bens; ‘is por que nunca mais se parou de investirem ‘eu aperfeigoamento, na possbildade do ar Bago de seu tompe de soo apacdade po ‘Se por um lado quem @ dono dss méquinas epende cada vee menos dos limites humans na capacidade de produnt, por outro sua intro: {ugdo no processo produtivo implicou a mobil asta cade vez maior de individuos envolvides a produce. "A quantidide ¢ diversidede de bens produzi- dt fo! se ampliando na medica am que a siste ta industis ol ocupando uma @ uma as este- {8 da produglo do vide cotdians, Ac mesmo tempo, a concentragio e & aglomerario fsicas {unclonaram ate determinedos patemares de re: volugio industrial como condigBes para sou de: savolvimento. Por iso a grande cir ta grande indostl ‘Vamos examiner urs pouco mais detaihode- frig desta revohugto para podermos fergencia da edede industrial © ‘suas caracter rem hoje tomas indiesocieveis, 0 rie, tal como © Conhecemos hoje, nfo nasceu na cidade, mas {ora dela, Come jd afirmamos anteriormente, 2 monufature surge 8 part do controle do nego- Glante sobre # produglo domdtiea, localized Sobretudo no. campo. As restrgBes impostas pela estrature corporativa (que imitava © nime- Fede mestres e exclula a compati¢do entre eles) ‘Sonattuiam uma berrira para @ expansBo do epacidede produtiva, que a expansBo com: Glas sue cepacdade de criaeBo de mercados requeriam. ‘Gusando » burguesi Intervém na producdo, 0 {az volando 20 regras de corporacio © procs rando potencializar a produtividade do trabalho ttravés do controle da producéo. ote controle significa, por um lado, divi cespecialiacto dos tarefas e, por outro, disci ars roguleidede. Com ito se poderia maxim: Jara produpBo, através do aumento do namero Se norae, volocidede e ritmo do trabelho 9 st ‘multaneemente centralizar 0 controle na dist Buigdo dos produtos Impedindo os desvios em ue comerclalizagso. ‘Os avangos tecnoldgicos que sucedoram a esta revolute manufatureira mais do que dta- Famestas transtormegdes, foram requerides por ‘as, O trabalho parcelado tencia a desmembror 08 antigos offeos,reduzindo os & funpber ps ‘als mutuemente dependentes, Isto imptcava, or um lado, ser possivel empregar hor (Grande sprendizado anterior, 08 quals pe 1 resultado desta processo 6 rmanufatura, que surg idede domineda pola im tendmeno eleramente urban, Ela exigo grande nimero de trabalhadores 20, } Sou redor: para tomar rentdvelo investimento | hum ealdeva que produz vapor, @ preciso pro- s ‘husk muito, fazendo-e Impulsionar varios mb | odes, oie oe Lice Hi ‘qulnas simuitaneamente, da @ noite, Por outro ‘ganado Der 187) lado, 8 fumaga que sei 28, das locomotives brodupte um ritmo, 8 chamints, da febri- dos navios contere ® substi, pouco 8 posco, @ amines Como mais emu sete pe, Bulsedo sio onglobador pela prosusse sabe, tial'— antigos mestres, prenzes © joa {28 mas ainda, pousa spouse tombe ee wr0s, 08 ctancan, on abaledores goers, Libera de fabricar seu fo, seu toca: san ee, a, a mulher se explora abnica, waninsee, macdnices com gestos autombsces, taizador nos espacos onde paneus opera oe {uras,berando energies que passoms ancy td. isto # claro se obsevtmos por eawinne 9 sito as abrir de evades no Core sis Nore do Bras Roe sobre a ponwins toncontragto @ extenséo som precedentes da “ioonzapho e com a dversiede edvito de ‘ce preceriadade ds hatitapio, das explostes e revolt) 6 a expresado viva do carétor conte ‘itorio da cidade industial ~ oa 6, a0 mesmo tempo, potancia de criagdo e destuigao, catal sador0 de energia e maquina de morte. Jé nos ‘autores do sécuto XIK que descreveram a cid de industrial europea, esta aparece como uma poderose e fascinante maquina que se alimenta 4 energie da natureza 0 de multos homens, mulheres 0 erlangas @ 08 leva bexaustBo © po be A inning colony as ovat = la @ go meso ta tru nemo. £508 so Siveracade — de procits, detge a eidade indus um univers® stim ee ee orate, que faz com que se ampli 20 Ito» cepeedoe hava se vera, Ma Infe gstndode de superagao dos const ang sere naturere na cidade industria no Sous te no tom mas ie tomb 9 ‘Spscidode de desuuleg e volsnca oe esctore So seule XX se ssustra® com Manchest, imagine 9 gue n80 poder cor vor sobre Cubatio © Chemnoby, 0 sobre Stuns moneas conuroocbesungbes de cit see tomem megaciaadst? Hoje 6 coda vez see Suidonte# dertigto do amblente-nature Tes tendenc 6 ariizagao consis $e Borsa" he medidas de tempo nade mats ttm r coe itmos da natureza: stricidade i resferongs entre o dine oot w cime {yao omolnt aura aca go 20 Meeps atgitale om todos as esquires. or ono, nat grandes mtropoes mated ipa aa comunicabet po ste rratmminase também a norte de esp000, Badhnela Pode-so contr» produgaoe dt Geko do longo, pode:s0 estar presente stan Bate hares guibretros de stan Ima Sean na wideo, wor no tlafone, mensagem 10 ‘computador, ‘Alguns estudiosos da cidade falam de uma Pés-industrel, de uma cidade pos industria! ‘onde tempo e espaco 30 redetinidos, Nele nie existe mais a necessidade de ‘concentracse, uma vez que sob © paradigina elctronicen, ‘lear os terminais e bancos de dados podem eg {ar dispersos pelo territerio. Por isso » eldone ade, polo primeira vez am sua histéria, nasac, Fompendo sou impulso origindris. Se sponde a um mundo transtormade i ide, a um mundo sem cidades. pols das cidades, 660 future telramente’em cida ‘ou a0: mundo dey dizer, oder INDICAGOES PARA LEITURA. emo vnc, am none pale pled, tam vie tte mmauar am eh cite we sou nettopale Gescrvende a crm iustacbese ele i eRe eee eomee indo ponte ge vateseonomico 9s daPas Soar, fea. inl ated rans oosseran oma ton cute. Ne ‘Star carn oC encarta la ped cn, (taming sor entre porto Fe ns Ree Aer eve eet ‘ae orguritace por Gibero Vaha, 0 Fantmaro Uitano Zabe Scr Seat he fof Be Ms {tomes diane camonportna rt oP Vit {Soe Bunter sonore sn pce ros roa t poe nce nde sk Ketan aes ‘Site ee imapmaras ng Care, Le Crs i,t ERS vcs prt maior ner Sobre a autora Nasei om Sto Pauo em 1956. Bara Funda Bom Rawr dorammna pomarn wea 00 que sagen IMlneias adclascbsea putsanea tm 1or8 one na FAULUS® estsante do argtetre numa unerstode {ue doseovaemudanea'se aso, 9 ropmo pes ac Eago © pol 8 : ido persopicos no sso de Fives, eatudanco ga Urana,na pee grauagao de PAUUSP ra stvidado do prolssgta em cubes de argutelura {orgusando temas ubenonvajando peas tases. ‘esBGh do cstadr tara Urbana em Nova frye ‘mum doutoramento no Gopartameno ice 3a ork Unvorsy eo con em 1085, ul detora do piaojamarto da, Secotaria de planejamento. do. municipio do, Sa0 Paulo. © foordenasra do Pano Drobo ga eats, durante 8 Gestho do Lulza Erundina. Gaede enide tenho crc rau bao como wears (eae onsuforas em poles uaa © hobtacional para varias cidades do Brasil e América Latina e como Coordenadora de Assessorias do Pélis — Instituto de Estudos, Formag&o e Assessoria em Pol ‘as Socials) com a escrita, ensino @ pesquisa. Atualmente sou coordenadora do curso de pés-graduagao em Urbanismo da FAU-PUC Campinas, sou autora de varios artigos e do livro A cidade e a Lel

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