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SOBRE A PEDAGOGIA UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA RETOR ‘Almir de Souza Maia VICEAEITOR ACADEMICO ly Ese Baieto César VICE REITOR ADMINISTRATIVO Gustavo Jacques Dias Alvim EDITORA UNIMEP ‘CONSELHO DE POLITICA EDITORIAL ‘Almis de Souza Mai (presidente) ‘Antonio Roque De ‘Cabrera Peralta Regina Cavaglied Felipe lias Boavencura ly Eser Barreto César (vice-presidente) Francisco Cock Fontanella Gislene Garcia Franco do Nascimento Nivaldo Lemnos Coppini comiss ‘Angela Maria Cassavia Jorge Corréa aries da Costa ELIVROS Belarmino César Gi EDITOREXECUTIVO Heitor Amilcar da Silveire Neto IMMANUEL KANT DEDALUS - Acervo - FE ST 20500020890 SOBRE A PEDAGOGIA Traducéo Francisco Cock Fontanella 2*edicio, revisada eDTTORA-RUNIMEP 107p. Dem Prefacio FRANCISCO COCK FONTANELLA™ O presente texto (constante das Obras Completas de Immanuel Kant, Tomo IX, da edigio da Real Academia Prussiana de Ciéncias, de 1923) foi publicado pela primeira vez por Theodor Rivtk, discipulo de Kant. Diferentemente do que traz Angelo Valdarnini no proémio ao La Pedagogia Di Kant (G.B. Baravia, SC, p. 2), T. Rk fe remontar as prele- es de Kant fundamentalmente ao Manual da Are Educative, de D. Bock, colega de Kant, revelando que este nao se ateve estritamente dquele no andamento da pesquisa ¢ quanto aos principios.' Os professores de Filosofia da Universidade de Kénigsherg deviaon regularmente minisirar curso de Pedagogia aos estudantes, revecando-se. M. Cramipe-Casnabet rofere que as Licées de Pedagogia foram ministradas por Kant em 17761 77, 1783/84 e 1786/87. Rink obserua que a exigiidade de tempo desses casos impediv wna redagéo mais detalhada. Thata-se de um texto da segunda metade do -século XVI, muito conciso e de redagdo ligeira.? Além de tudo, a lingua alema oferece fregientes dificuldades de tradugdo para as linguas neolati- nas, Isso pode muito bem ser constatado cotejando-se as duas versbes — ita- liana e francesa — aqui utilzadas. Pareceu imperioso freqiientemente discordar de ambos ilusives tradutores. O termo alemio Gemiit, ou Gemiith (“arcaico”), sobretudo, oferece dificuldade, Apds muito hestar * Dose en ela (Usp) «plane da Rograma de Pi Cento er Buco da UNNEY omar dei fe 0 Capo mo Lamar Spee Sars ON) decid verter por “indole”. Ndo posso deixar de mencionar o importante e competente artigo de Valerio Rohden, que se originou “de dificuldades de tradugéo do termo Gemiit, no decurso da preparagdo da traduedo da Cri- tica da Faculdade do Juizo de Immanuel Kant ao portugués”.' Na tradu- ¢do da Critica da Razio Pore, publicada pela Abril Cultural (vtrias reedigies)¢ sob a reponse do masa a ton Gem dri Siocon on Keto precursor da visio wmifcada e total do ser humano, nao dividido, na flosofia ocidental; por isso, no escondo mina reicencas ante termes de conotagio dualite, como 0 caso de “faculdades”. Conquarto 0 termo “mente” sei, no meu entender aber rante em relacio ao pensamento de Kant a época da redagio da KRY, a expresso “feculdades” continua deivando a desejay,tamlsém por suas pro- fundas conotagées metafisicas. Quer me parecer que ese termo nd fa jus 2 corporeidade, a0 corpo, enquanto Gemiit, em Kant, parece dar a enten- der unser nic, total no dvdido, uma conjunto de disposi, talvex, Kant usa por duas vezeso termo latino “indoles” na py. 482 (p. 79 dir com alguna félicidade o termo Gem, seria “énimo”, mas 0 paren- tesco com “anima’” me suscita reseruas, Escolhendo esta tradugéo, sei que eget ona i Ani: 61.75, 193. “SARA ER do § Nos Disha Laie Prt 1a Rid ss Gan 193. 589042 dtbr oflanco as criticas mais justificadas, Mas queiram os leitores ver nessa escolha wma tentatva: sequeré vona indicagao, Devo aqui agradecer ao casal Assmann (Hugo e Melsene), que tan- as vezes gemtlich e dispds a me esclarecer sobre a tradugdo mais propria de certos termos, sobretudo fazendo sentir aquele “sabor” conotativo, o qual o dicionério nem de longe consegue suger Todas as falhas desta iraducao devern ser atriidas wnicamente a ina, Sumario © homem é a tinica crianara que precisa ser educada. Por educagio entende-se 0 cui- dado de sua infancia (a conservagio, o trato), a disciplina ea instrugio com a formagio. Conse- tientemente, o homem é infante, educando e iscipul. Os animais, logo que comecam a sentir alguma forca, usam-na com regularidade, isto 6 de tal maneira que ndo se prejudicam a si ‘mesmos. E de fato maravilhoso ver, por exemn- plo, como os filhotes de andorinhas, apenas sai- dos do ovo ¢ ainda cegos, sabem disporse de modo que seus exctementos caiam fora do ninho, Os animais, portanto, no precisam ser fo, mas nfo requer cuidados. Por cuidados entendem-se as precaugdes que os pais tomam para impedir que as crangas fagam uso nocivo de suas forgas. Se, por exemplo, um animal, 20 vir ao mundo, grtasse, como fazem os bebés, ‘tomar-se-ia com certeza presa dos lobos e de ‘outros animais selvagens atraidos pelos seus grit INTRODUCAO" 441 mnuennant 17 A42 12 SOBREA PEDAGOGIA ——— A disciplina transforma a animalidade transforma aati em humanidade, Um animal é por seu préprio “Hsinto tado aquilo que pode ser; uma razio exterior a ele tomou por ele antecipadamente todos 0s cuidados necessiios. Mas o homem tem necessidade de sua prépria rarao. Nao tem. instinto, ¢ precisa formar por si mesmo 0 pro: jeto de sua conduta. Entretanto, por ele no ter a capacidade imediata de o realizar, mas vir a0 mundo em estado bruto, outros dever fazé-lo porele. ‘A espécie humana é obrigada a extrair de si mesma pouco a pouco, com suas proprias Togas fods as qualia _cem A _humanidade. Uma geragéo educa a ‘outra. Pode-se buscar 0 comeco da humani- dade num estado bruto ou num estado perfeito de civilizacio. Mas, neste tikimo caso, & neces- sitio admitir que o homem tena caido depois no estado selvagem e no estado de natureza rade. A cisciplina é 0 que impede ao lhomem de desviarse do seu destino, de desvianse da humanidade, através das suas inclinagées ani- ‘mais, Ela deve, por exemplo, ‘modo que ndo se lance ao perigo cor ‘anual, que perten- mal feroz, 03 como um estipido. ‘porém, é puramente negativa, porque é o trata- mento através do qual se tira do homem a sua selvageria; a instrugio, pelo contratio, 6a parte positiva da educagéo. AA selvageria consiste na independéncia’! de qualquer Ici. A disciplina submete o homem as leis da humanidade e comeca a faxé-lo sen- Br @ forse das prOprias leis, Mas isso deve acontecer bem cedo. Assim, “as criangas so mandadas cedo & escola, nao para que af aprendam alguma coisa, mas para que ai se acostumem a ficar sentadas trangiilamente ¢ 2 obedecer pontualmente aquilo que thes é mandado, a fim de que no futuro elas nao sigam de fato ¢ imediatamente cada um dey seus éaprichos. Mas o homem é tio naturalmente incl nado a liberdade que, depois que se acostuma a ela por longo tempo, a ela tudo sacrifca. Ora, «esse € 0 motivo preciso, pelo qual é conveniente ver que os selvagens jamais se habitiem a viver como os europeus, ainda que permanegam por muito tempo a seu servigo, O que neles no deriva, como opinam Rousseau e outros, de uma nobre tendéncia & liberdade, mas de uma certa radeza, uma vez que 0 animal ainda nio desenvolveu a human dade em si mesmo numa certa medida. Assim, € preciso acostumé-lo logo a submeterse aos IVMANUELKANT 13 141 SOBRE A PEDAGOSIA preceitos da razo. Quando se deixou o homem seguir plenamente a sua vontade darante toda a javentude € néo se Ihe resistin ‘em nada, ele conserva uma certa selvageria por toda a vida. Tampouco uma afeigSo materna cexagerada é ttl aos jovens, uma vez. que mais tarde lhes surgirao obstéculos de todas as partes. ¢ receberdo golpes de todos os lados, logo que tomarem parte nos afazeres do mundo. Um erro, no qual se cai comumente na ceducagio dos grandes, é 0 de no se lhes opor nenhuma resisténcia durante a javentude, pot- {gue estio desinados a comandar. No Romer, a brutalidade requer polimento por causa de sua inclinagio & liberdade; no animal bruto, pelo contratio, isso no é necessério, por causa | do seu instinco. O homem tem nevessidade de cuidados € de formacio. A formagio compzeende a dis- ciplina ¢ a instrugio, Nenhum animal, quanto scibamos, necessita desta dima, uma vez que nenhum deles aprende dos scus ascendentes qualquer coisa, a ndo ser aqueles pissaros que aprendem a cantar. De fato, os passaros stio treinados no canto por seus genitores; ¢ é admi- nivel ver, como se fosse numa escola, os pais cantarem com todas as forgas diante dos filho- tes, enguanto estes se esforgam por trar os mes- mos sons das suas pequenas goclas, Para ‘convencerse de que os passaros ndo cantam por instinto, mas que aprendem a cantar, vale a pena fazer a prova: tie dos canérios a metade dos ovos € 08 substima por ovos de pardais; ou também misture aos canarinhos filhotes de par- dais bem novinhos. Cologue-os mum cémodo conde nao possam escutar os pardhis de fora eles aprendetio dos cansrios 0 canto e assim tere- mos pardais cantantes. 6 estupendo o fato de ‘que toda espécie de péssaros conserva em todas as gerages um certo canto principal; assim, a tradigéo do canto é a mais fiel do mundo, |} sehen ignimerse de cues Portanto, a falta de cisciplina ¢ de instrugio em cenos fons ee estes muito ruins de seus Tomasse cuidado da nossa educagio, verse-a, ent, que poderamos ns tora Mas, essim como, por um lado, a edueagio entina alguma coisa aos homens , por autto lado, néo faz mais que desenvolver nele certas qualidades, nio se pode saber até aonde nos levariam as nossas dis- Posigdes naturais'Se pelo menos fosse feita uma cexperincia com a ajuda dos grandes ¢ reunindo, a forgas de muitos, iso sokucionazia a questo de se aber até aonde o homem pode chegar por ese caminho, Uma coisa, porém, tio digna de 444 INOMAMUELHANT 15 I 16 SOBRE A PEDAGOGIA ss cobservagio para ura mente especulativa quanto triste para 0 amigo da humanidade é ver que a maior parte dos grandes no cuida sendo de si ‘mesma e ndo toma parte nas interessantes expe- riéncias sobre a educacSo, para fazer avangar algum paso em diregao & perfeigio da natureza humana. Nio hi ninguém que, tendo sido abando- nado durante a juvennude,sja capaz de reconhe- cet na sua idade madura em que aspecto foi cdesanidado, se na disciplina ou na cultura (pois cada uma das geragées fururas dé um passo a mais em dirego ao apefeigoamento da hamani- dade, uma vez que 0 grande segredo da perfegio da natureza huinana se esconde no préprio pro- blema da edacagio.A partir de agora, isso pode acontecer De fato,analmente se comega ajulgar com exatido e a ver de modo claro 0 qué pro- priamente pertence a uma boa educagio. E entu- siasmante pensar que a naturcza humana seri sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela -educacio, e que € possivel chegar a dar Squela | forma, a qual em verdade convém & humani- dade, iso abre a perspectiva para uma futurafeli- cidade da especie humana, O projero de uma teoria da educagio é ‘um ideal muito nobre e no faz mal que no possamos realzé-lo, N36 podemos considerar ina Tela como quimérica e como um belo sonho 36 porque se interpem obstéculos & sua realzacio. ‘Uma Idéia nao ¢ ourra coisa senio 0 con- ceito de uma perfeigao que ainda ndo se encon- tra na experiéncia, Tal, por exemplo, seria a reptiblica perfeita, governada con- forme as leis da justica. Dirse- entretanto, que € impossivel? Em primeiro lugar, basta que a nossa Idéia seja auténtica; em segundo lugar, que 0s obsticulos para efetuéla no sejam absolutamente impossiveis de superar. Se, por exemplo, todo mundo mentisse, 0 dizer a ver- dade seria por isso mesmo uma quimera?|A Idéia de uma educagio que desenvolva no homem todas as suas disposig6es naturais € ver- dadeira sbsolutamente. “| (Com ‘a educagio presente, 0 homem no atinge plenamente a finalidade da sua exis- téncia. Na yerdade, quanta _diversidade no modo de viver ocorze entre os homens! Entre eles nao pode acontecer uma uniformidade de vida, a ndo ser na medida em que ajam segundo ‘0 mesmos Princpiog}e seria necessério que 445 lvenvexant 97 s $ z wk S esses principios se tomassem como que uma outra natureza para eles, Podemos trabalhar num esbogo de uma educacio mais conveni- ente © deixar indicagses aos pésteros, 0s quais poderao pé-las em pritica pouco a pouco. Vé- se, por exemplo, nas flores chamadas “orelhas de urso” que, quando as arrancamos pela raiz, tém todas a mesma cor; quando, ao invés, plan tammos suas sementes, obtemos cores diferentes € variadissimas, A natureza, portanto, depds nelas certos germes da cor e, para desenvolvé- Jos, basta semear e transplantar de modo con- veniente estas flores. Acontece algo semelhante com o homem. Hi muitos germes na humanidade e toca .& a ns desenvolver em proporcio adequada as - s disposig6es naturais e desenvolver a humanidade a partir dos seus germes e fazer com que 0 ‘homem atinja a sua destinacSo. Os animnais cum- pen gu doin epee So ‘eniar conseguir © sea fimy o que ele niio pode 3 fazer sem antes ter dele um conceito[O indivi. ga duo nmano rio pode cumprir por si essa = S _— estinagio. Se admitimos um primeiro casal, $ realmente educado, do género humano, & pre- 2 cso saber também de que modo ele edacou os seus flhos. Os primeiros genitores do a seus fithos um primeiro exemplo; estes 0 imitam ¢ assim se desenvolvem algumas disposes natu- 18 SOBRE A PEDAGOGIA rais, Mas no podem todos ser educados desse ‘modo, uma ver que as criangas vem os exem plos ocasionalmente. Normalmente os homens no tinham idéia alguna da perfeigio de que a natureza humana é capaz. Nés mesmos ainda no a temos em toda a sua pareza. E certo igual- mente que os individues, 20 educarem seus fihos, no poderdo jamais fazer que estes che- | sguem a atingir a sua destinacéo/ Essa finalidade, pois, no pode ser atingida pelo homem singular, S2 mas unicamente pela epécie humana fo ¢ uma arte aja pritica satan srge can peouchns écie a Sau destino, A Providéncia quis que o homem ‘exaraisse de se mesmo o bem e, por assim dizer, assim the fala: “Entra no mundo. Cologuei em titoda espécie de disposigées para o bem. Agora compete somente ati deservolvas e ata fli cidade ou a tua infelicidade depende de &”. © homem deve, antes de tudo, desen- volver as suas disposigges, para o bem a Prov dncia nio as colocou nele prontas so simples dlsposigées, sem a marca ditintiva da moral. ‘Tornar-se melhor, educarse ee 9 é mau, pro- oe bid _rethada para exercer uma educagio que desen- ome 446 ou lng IavaNeant 19 duzir em sia moralidade: cis 0 dever do homem, Desde que se reflita detidamente a res- eito, vé-se o quanto é dificil. A cducagio, por- tanto, € 0 maior e 0 mais arduo problema que pode ser proposto 20s homens. De fato, os conhecimento dependem da educacéo e esta, por sua vez, depende daqueles, Por isso, a edu- cago nao poderia dar um passo a frente a no ser pouco a pouco, ¢ somente pode surgir um conceito da arte de educar na medida em que cada geracSo transmite suas experiéncias € seus conhecimentos & geragio seguinte, a qual Ihes acrescenta algo de seu ¢ os transmite & geragio que lhe segue. Que grande cultura e que experién- a, portanto, esse conceito supée? Na verdade, tal conceito no poderia ter surgido sendo muito tarde e nés mesmos ainda nao o eleva- sos ao seu mais alto grau de pureza. Deve a ‘educagio do individuo imitar a cultura que a hhumanidade cm geral recebe das geragdes anteriores? Engre as descobertas humanas fa das difclimas, sis a arte ds Rover 0% homens eaare de educi-los. Na verdade, ainda persis- em controversias sobre esses assuntos. Ora, de onde comecarfamos a desenvo!- ver as disposigdes naturais dos homens? Deve- rremos comecar pelo estado nude ou pelo estado jf culto? Nao é facil conceber um desenvolvi- mento, partindo do estado rade (dat também a diffculdade de formar uma idsia do primeico homem); € vemos que, sempre que se partiu esse estado, o homem sempre recaiu na rudeza € novamente se levantou a partir dal. Aré nos povos bastantes civilizados reencontramos ausén- cia de limites para a rudeza, o que € atestado pelos mais antigos monumentos escritos, que nos foram legados - ¢ que gran de cultura a «scrita nfo supe? ~ de tal modo que se pode- a propor invengéo da catia como o.comego Ha propor s Seng do mundo com respeito& cviizagio. ina ver que as disposigées nanurais do ser humano nao se desenvolvem por si mesmas, toda edhucagio & uma arte. A natutera nfo depo- sitou nele nenhum instinto para ess finalidade, ‘A origem da arte da educagéo, assim como 0 seu rogresso, & ou mecinica, ordenada sem plano conforme as circunstincias, ou racocinada. A arte da educagio nfo é mecfinica Sendo em certas ‘opornunidades, em que aprendemos por expeti- éncia se uma coisa € prejudicial ow Gil ao homem. Toda arte desse tipo, a qual fosse pura- mente meciinica, conteria muitos errase lacunas, pois que nio obedeceria a plano algum, A ame. da_educacéo ou pedagogia deve, portanto, set_ Jhumana de tal modo que esta possaconsegnir 0. seu destino. Os pais, os quais jé receberam uma cera educagio, sio exemplos pelos quais os filhos se regulam. Mas, se estes devem tornarse % bimawELKaNT 21 22 sooneareoaaoga 3 melhores, a pedagogia deve tomarse um estado; de outro modo, nada se poderia dela esperar € a ‘edueagio seria confiada a pessoas no educadas corretamente. E preciso colocar a ciéncia em lugar do mecanicismo, no que tange 4 arte da educagio; de outro modo, esta nfo se tomar jamais um esforco coerente; e uma geragio poderia destruir tado 0 que uma outra anterior tivesse edificado. ‘Um principio de pedagogia, o qual mor- mente 05 homens que propéem planos para a y \ arte de educar deveriam ter ante os olhos, é: a ‘nfo se devem edacar as ctiangas segundo o pre- v | epee as sda ium estado melhor, possivel no futuro, isto é, segundo a idéia de humanidade © da sua inteira destinacgo. Esse principio é da maxima impor os pais eeucam_sens estado melhor no futuro, Mas aqui se deparam dois obstéculos: os pais ndo se preocupam ordi nariamente sendo com wma coisa, isto é, que seus filhos fagam uma boa figura no, mundo; ¢ os principes consideram os préprios siitos apenas como instrumento para os seus propdsitos. dg. , Orman da ao princes, do ® sad Une ours deixam dese proper como # fim timo o bem geral ¢ a perfeigio a que esti oe 1s > destinada a humanidade e para a qual eta ter as disposigées. O estabelecimento de um projeto ceducativo deve ser exeoutado de modo cosmo- polis, Mas o bem geral € uma Idéia que pode tomarse prejudicial ao nosso bem particular? ‘Nunca! Jé que, ainda que parega que lhe deva- mos scrificar alguma cois,na verdade trabalha- ‘mos desse modo melhor para 0 nosso estado presente. E, entio, quantas eonseqiiéncias nobres ont de todo bem neste mundax Os pers que ‘Go depositados no homem devem see deserivol- vidos sempre mais, Na verdade, nfo hi nenhum Drinelpio do mal nas disposigSes natura do ser —— = submeter a natureza a normas. No homem nao Assim sendo, de quem deve provir 0 melhoramento do estado social? Dos principes, cu dos siditos, no sentido de que estes sc aper- feigoem antes por si mesmos ¢ fagam meio caminho para ir de encontro a bons governos? Se, pelo contratio, esse aperfeigoamento deve partir dos principes, entio, comece-se por imelhorar a sua educagio; esta sempre teve grax principes durante a sua juventude, Uma érvore que permanece isolada no meio do campo néo cresce direito e expande longos galhos; pelo contririo, aquela que cresce no meio de uma uMANUELONT 23 449 floresta cresceereta por causa da resisténcia que Ihe opdem as outras drvores, ¢, assim, busca por cima 0 ar € 0 Sol. Com 0s principes acontece 0 ‘mesmo. Mas vale que sejam sempre educados por algum dos seus siiitos do que pelos seus cde esperar que o bem venha contar mais com os esforcos particulares do que ‘com a ajuda dos principes, como julgaram Basedow ¢ outros; uma vez que a experiéncia ensina que os principes, para atingir seus objeti- vos, se preocupam no com o bem do mundo, mas com o bem do seu Estado, Se prestam auxilio 4 educagio com dinheiro, reservam-se 0 direito de estabelecer 0 plano que lhes convém. (© mesmo diga-se de rudo aquilo que diz espito a aultita do espirito humano ¢ a0 incremento dos conhecimentos humanos. Estes dois resulta- dos nao sio conseguidos pelo poder ¢. pelo dinheiro, mas sf0 no maximo por eles facilita- dos. Na verdade poderiam fazé-lo, se o Estado. nao arrecadasse impostos unicamente destinado a0 interesse do seu erdrio. Nem mesmo as acade- ‘mias produziram estes resultados, ¢ hoje em dia, mais que nunca, néo se vislumbra 0 menor sinal de que essas os produzirao. A diego das escoles deveria, portanto, f= da decisio & PESOS competences € lustradas, Toda cultura comega pelas pessoas Privadas e depois, a partir desta, se difunde. A narureza humana pode aproximarse pouco a pouco do seu fim apenas através dos esforgos das pessoas dotadas de generosas inclinagées, as quai se interessam pelo bem da sociedade ¢ esto aptas para coneeber como possivel um estado de coisas melhor no futuro:‘Entretanto, ‘alguns poderosos consideram, de certo modo, © seu povo como uma parte do reino animal e tém em mente apenas a sua multiplicagio. No méximo desejam que eles tenham um certo aumento de habilidade, mas unicamente com a finalidade de poder aproveitar-se dos préprios stiditos como instrumentos mais apropriados aos, seus designios. As pessoas particulares devern em. primeiro lugar estar atentas & finalidade da nanu- ‘reza, mas devem, sobretado, cuidar do desenivol- vimento da humanidade, e fazer com que ela se ‘tome néo somente mais habil, mas ainda mais moral e, por itkimo — coisa muito mais dificil -, empenhar-se em conduzir a posteridade a um sgrau mais elevado do que elas atingitam. ‘Na educagio, o homem deve, portanto: 1. Ser discplinado, Discplinae quet dizer: procurar, im gue 0 caréter humano, tanto no individuo “Como na sociedade, Portanto, a disciplina con- siste em domar a i 2. Tomar-se culto. A cultura abrange a instrugdo € varios conhecimentos. A cultura € VUOUELKANT. 28 26 SOBRE A PEDAGOGIA esma nenhum fim, mas deixa esse cuidado 4s circunstancias. Algumas formas de habiidade séo tteis «em todos os casos, por exemplo, o ler € 0 escre- Wek; outta sho Boas 66 em Felagao a certo por exemplo, a misica, para nos tomar queri- dos. A habilidade € de certo modo infinita, gra- {gas aos muitos fins. * 3. A educagio deve também euidar para «que o homem se tore pridente, (°° mega em sen Tugar na sociedace © gue seja que- ido e tena Infludncia, A essa espécie de cultura perience aquela chamada propriamente de civi- lidade. Esta requer certos modos cortess, genti- Jera.e a prudéncia de nos serviemos dos outros homens para os nossos fins. Ela se regula pelo gosto mutivel de cada época. Assim, prezavam- se, faz alguns decénios, as ceriménis soci 4, Deve, por fim, cuidar da moralizagio. Na verdade, nao basta que o homéin seja capaz de toda sorte de fins; convém também que ele consigaa disposigi de escolher apenas os bons fins, Bons si aqueles ins aprovados necessra rmente'por todos e que podem sex, 20 mesmo ‘erpo os fins de cada um. ‘O homem pode ser ou treinado, discipli- znado, insmudo, mecanicamente, ou ser em ver dade ilustrado, Treinam-se os cis € 03 cavalos; € derivada do inglés, . Dai se origina também Dres- shamoner, “iugar onde os pregadotes trocam as -vestes”, e no Trostkammer",) En Igamos essencial € deixamos a moral para o pregador. Mas como € infinita- iente importante ensinar as ciancas a odiar aque Deus oprobie, mas por sex desprezivel por ‘si mesmo! De outro modo, elas pensariam facil- “THERES GUE o vicio poderia ser praticado e que seria permitido, se Deus no o houvesse proi- ido, ¢ que Deus bem poderia fazer uma ‘excegdo em seu favor. Deus é 0 ser soberana- mente santo e nio quer sendo o que é bom, & 1 Nga do Wado BUT do demo arin baat "sade conse = or virtude, no pela simples raz de; Ge? po oe 451 wanuELKowT 27 exige que pratiquemos a virtude pelo seu valor intrinseco e néo porque Ele 0 ordena. ‘Viyemos em uma época de disciplina, de [ass aco, mas ela ainda no éa da erdadeira_moraidade. Nas condigoes ahins lpode dizerse que a felicdade dos Estados cresce ra mesma medida que. inflicidade dos homens. E nio se trata ainda de saber se seriamos mais fli- es no estado, Eating no qual nfo existria Wy toda essa nossi GattiFa;-do que no atual estado. yy heft como podeiamos toma os homens “ ze, # nio os tomnamos moras ¢ sibios? Desse tod, a maldade nfo ser diinaida E necessario fundar escolas experimen- tais antes de poder crarescolas norma. Aed- cago © a instrugdo nfo devem ser puramente reclinicas, mas devem apoiar-se ent Panos. Enmetanto, no devem fundar-se no raciocinio puro, mas, num certo sentido, também no 1 mecanicismo, A Austria nio tem quase sendo ! cescolas normais,instituides segundo um pro- pésito contra o qual se levantaram muitas ‘bjegdes, com fundamento, ¢ a0 qual se repro- chava sobretudo um mecanicismo cego. Todas i as outta escolas deviam regular-se por aquelas & chegava-se a recusar promogio a quem no as havia freqientado. This presctigdes demonstram com quanta 28, SOBRE APEDAGOGIA tos; € no se pode chegar a nada de bom com tais coagies. Crése geralmente que nio é preciso faver experiéncia em assuntos educacionais due se pode julgar unicamente com a razio se uma coisa serd boa ou mé. Quanto a isso erra-se muito € a experiéncia nos ensina que as nossas tentativas produziram de fato resultados opos- tos aqueles que esperivamos. Vé-se, pois, que, sendo nesse assunto necessiria a. experiéncia, nnenhuma getacio pode criar um modelo com- _pleto de educagio. A tnica escola experimental ‘que até agora comegou de algum modo a tri- Ihar esse caminho foi o Instituto de Dessau. Apesar dos muitos defeitos que se the podem assacat, defeitos que se encontram em todas as cobras pioneiras, cabe-the essa gléria: ele no cessou de fazer novas tentativas. De certo ‘modo, essa foi a tnica escola em que os mestres fiveram a liberdade de trabalhar segundo seus préprios métodos e intentos, ¢ na qual estive- ram unidos entre sie mantiveram relagées com todos os sibios da Alemanha. A educagio abrange 0s vidads a fr qual impede os deeitos; 2. positivg to trugio € dirécionamento? 6, sob esse aspecto, ertence & cultura. Odivecionamento &a condu- influtneia 0 governo se imiscui em certos asun- a son tones yea) os 452 enverant 29 430 SOBRE A PEDAGOGIA = A educagio € privada ow pitblica. Esta sikima se refere as informagées,e pode permane- cer sempre pica. A pritica dos precetos fica reservada & primeira. Uma educacio piiblica completa éaguela que rene, 20 mesmo teri, ai em promover uma boa educagio privada. Uma «escola na qual isto & praticado chama-seInstitato de Educacso. Nao é possivel haver um grande nimero desss insitutos, nem poderiam admitir um grande niimero de alunos; na verdade, sio carisimos ¢ a simples montagem desses colégios acarreta grandes despesas. © mesmo se diga das ‘Casas de Miseriodrdia (Santas Casas) ¢ dos has- pitais. Os edificios necessétios, o pagamento dos diretores, dos supervisores ¢ dos servigas,absor- [RE tata oer ~ ior Hope | vem a metade do orgamento; ¢ jé est provado que, se esse dinheiro fosse distribuido aos pobres em suas casas, ees serlam muito melhor cxida- dos. Por isso também € dificil conseguir que ‘outrascriangas, que nio as das ricos, participem nesses instinatos. A finalidade desses instinatos piblicos & o aperfeigoamento da educagio doméstica, Se 05 ais, ou aqueles gue Ihes assisterm na ecucagio ( ‘dos seus filo, tivessern recebido uma boa educr $a, a ‘aptas para que possam dar uma boa educagio doméstca. Aeducagio privada é dada pelos préptios Pais ou, caso no tenham tempo, capacidade ou do 0 queiram, por outras pessoas que os ajt- dem ness tarefa, mediante uma recompensa. ‘Mas tal educagio, ministrada por auxilia- tes, tem 2 gravisima creunstincia de dividir autoridade entre os pais ¢ esses governantes. A tiara deve regularse pelos preceitos de seus _governantes ¢, ao mesmo tempo, seguir os capri- chos de seus pais. Ness tipo de educagio rnecessirio que 05 pais deponham toda a sus autoridade nas mos dos governantes, Até onde, porém, deve-se preferit a edur cagio privada a educagio Debli, ou verve? Em geral, deducacis 453 WOMANUELKANT 31 432, SOBRE A PEDAGOGIA josa que a doméstica, nfo somente em relagio & habilidade, mas também com respeito ao verda- iro catdter do dado, A educagio doméstica, além de engendrar defeitos do ambito familiar, 08 propaga. Quanto tempo deve durar a educagio? “Até 0 momento em que a natureza determinow que © homem se governe a si mesmo; ou até que nele se desenvolva o instinto sexual até que ele possa se tomar pai eseja obrigado, por sua vex, a educa: até aproximadamente a idade de dezesecis anos. Passada essa idade, poderse-i recorrer a expedientes culturais e especalizé-lo, submeté-Jo a uma disciplina especial; mas no se tata mais de uma educagio regular. Asuleigio do educando pode ser positioa: enquanto deve fazer aquilo que le € mandado, ‘enquanto no pode ainda julgar por si mesimo, tendo apenas a capacidade de intitar. Negativa: cenquanto © educando deve fazer aquilo que os outros desejam, se quer gue eles, por sua vez, facam algo que lhe seja agradével. No primeito «aso, etd sueito'a ser punido; no segundo, a nio ‘conseguir 0 que deseja: ¢ aqui, se bem que jf posa rele, ele no fica menos dependente dos ‘outros quanto a propria satisfacio. ‘Um dos maiores problemas da edhucagio €0 poder de conciliar a submiss4o a0 constran- simento das leis com o exercico da liberdade. Na verdade, o constrangimento é necessirio! De que modo, porém, cultivar a liberdade? B preciso habituar 0 edueando a suporar que @ sua liberdade seja_submetida a0 constrangi_ py “Mento de oiitrem ¢ que, ao mesmo tempo, iberdade. Sem essa seno algo meca- +: da 2 sua educagio, nao saber usar sua liberdade. E necessario que le sinta logo a inevitivel resistdncia da socie ade; para que aprenda a conhecer o quanto € “diffe bastarse a si mesmo, tolerar as privagées © adquitir o que € necessitio para tomnarse independente. Aqui se deve ter presente as seguintes regras: 1. preciso dar liberdade & crianca desde a primeira infincia e em todos os seus movimentos (salvo quando pode fazer mal a si mesma, como, por exemplo, se pega uma faca afiada), com a condicio de no impedir a liber- dade dos outros, como no caso de gritar ou dando os outros. 2. Devese-lhe mostrar que ela pode conseguir seus propésitos, com a cond go de que permita aos demais conseguir os préprios; por exemplo, nada se far que lhe seja agradavel, se nao fizer 0 que desejamos, ou sea, aprender © que he ¢ ensinado, ¢ assim por diate, 3. & preciso provar que o constrangi- ue The € imposto, tem por fnalidade censinar a usar bem da sua libeedade, que a edu- Carag irl? we Vn & based § ae INAMUELKANT 33 ‘Tratado 455 ‘34 SOBRE A PEDAGOGIA camos para que possa ser livre um dia, isto é, dispensar os cuidados de outrem. Esse pensa- mento é o mais tardio, porque as criangas nos primeiros anos ndo imaginam que deverio um dia providenciar por si mesmas sua propria manutensio, Elas acreditam que mais tarde acontecerd como no lar patemo, onde elas tém. © que comer e beber sem preocupagio. Sem esse tratamento, as criangas, sobretudo as dos #096 € 05 filhos dos principes, permanccerio a vida toda como os habitantes do Tahiti, isto é como criangas. A educagio piiblica tem aqui manifestamente “as maiores vantagens: af se aprende a conhever a medida das préprias for- 25 € os limites que o diesita dos demais nos impée. Ai nio se tem nenhum paviegio, pois que sentimos por toda parte resisténcia, e nos elevamos acima dos demais unicamente por mérito proprio, Essa educagio pitblica é a melhor imagem do futuro cidado. Hi ainda uma dificuldade que nao deve ser aqui esquecida, e se refere a experiéncia pre- coce do sexo, a fim de preservar do vicio os adolescentes, antes da idade maduéa, Tomare- mosa ese assunto, ‘A pedagogia, ou doutrina da edueacio, se divide em fisica ¢ prdtica. A educagio fisica é aguela que 0 homem tem ém comum com os anima, ou sea, os cuidados com a vida corporal. A educagio pnitica ou moral (chama-se pritico tudo 0 que se refere& lberdade) € aquela que diz respeito & construcio (cultura) do homem, para ‘que possa viver como ua ser live, Esta ilinia €a edducagio que tem em vista a perso cago de um ser livre, qial pode bastarsé a si nembro da sociedad ¢ ter or si mesmo um valor intrinseco, ——Portanto, a educagio consiste: 1. na cul- tura escoldstica ou mecinica, a qual diz. respeito 2 habilidade: é, portanto, diddtica (informator); 2. ma formacao pragmatic, a qual se refere A prudéncia; 3. na cultura moral, tendo em vista a moralidade. ‘mesmo, cor Grhomem precisa da formagio escolés- ' ~ | rica, ow da instugio, para extar habilitado a } conseguir todos os seus fins, Essa formagio lhe | dé-um valor em relagio asi mesmo, como um individuo. A formagio da prudéncia, porém, 0 —7 Cl \ prepara para tomarse Gn cai) uma vex dodo que he conféze um valor pablico. Desse modo pomet h cle aprende tanto a trar partido da sociedad civil para 0s seus fins como a confocmarse 3 sociedade. Finalmente, a formasgo moral Ihe um valor que diz respeito a ineira espécie humana "A formaggio escolistica 6 a mais precoce. (Com efczo, prudéncia pressupée a habiidade A prudéncia€ a capacidade de usar bem e com proveito ahabiidade propria Por dkimo vem a fornagio moral, enquanto é fandada sobre wounuaiant 35 36 SOBRE A PEDAGOSIA prineipios que o proprio homem deve reconhe- cer; mas, enquanto repousa unicamente no senso comum, deve ser praticada desde o princt- pio, a0 mesmo tempo que a educagio fisica, pois, de outro modo, se enraizariam muitos defeitos, a ponto de tomar vaos todos os esfor- g0sda are educativa. Com respeito & habilidade © prudéncia, tudo deve acontecer a seu tempo com o passar dos anos. Mostrarse habil, pru- dente, paciente, sem asticia, como um adulto, durante infincia, vale tio pouco como a sensi- bilidade infantil na idade madura. ‘Ainda que alguém que tome a seu cargo uma educacio, como governante, no receba de imediato as eriangas, quando entio deveria ccupar-se também da sua educacio fisica, por ‘outro lado 6 iitil que ele saiba tudo 0 que se requer_na educacio, do principio a0 fim. Mesmo que um governante no deva ocupar-se sendo de ctiangas crescidas, pode acontecer que cle veja nascer outros filhos na mesma familia e, se ele procede cometamente, tem o direito de ser 0 confidente dos pais, ¢ estes poderio con- sultélo sobre a educagio fisica dos seus flhos; pois acontece freqiientemente o governante ser a tinica pessoa douta da casa. E necessirio, por- tanto, que 0 governante tenha conhecimentos sobre essa matéria, A educagio fisica consiste propriamente pelos pais, ou pelas amas de leite, ou pelas babés. O alimento destinado pela natureza & crianga € 0 leite de sua propria mae. 6 um mero preconceito crer que, de algum modo, acrianga sugue com o leite os sentimentos maternos, se bem que oucamos dizer freaiientemente: “Ta sugas isso com o leite de tua mie!”. Mas ruito vantajoso para a crianca ¢ para a mie que esta mesma a amamente. E preciso, porém, admitir em certos easos extremos as justas exce- «es por motivos de doenga. Acreditavacse anti= gamente que o primeizo lete, tido pela mie SOBRE A EDUCACAO 456 IMaQaLKANT a7 457 438 SOBRE APEDAGOGIA p60 parto e parecido com soro, fosse nocivo aianga, ¢ que a mie devesse livrarse dele imediatamente antes de amamentar seu filho. Mas Rousseau foi o primeiro a chamar a aten- io dos médicos sobre as qualidades deste pri- ito kite, se acaso no poderia ser til & crianca, uma vez que a natureza nada fez em vio. E foi realmente comprovado que ele no somente limpa o corpo do recém-nascido dos excrementos que contém, chamados pelos ‘médicos de mecénio, mas que também é bom € ‘ila cringe. Foi discutido se se pode igualmente ali- ‘entar a ctianga com o kite de animais. O leite humano € muito diferente do leite animal. O Kcite dos animais herbivoros, isto é, que se snutrem de vegetais, coalha muito depressa quando se Ihe mistara algum écido, por exem- plo, © écido tartirico ou 0 Acido citico, ou especialmente 0 dcido do estémago da vitela, chamado coalho, Mas o leite humano no se coalha. Isso pasto, quando a mae ou a ama de leite se alimenta por algum tempo exchusivamente de vegeta, 0 su ete coalha como o da vaca, por exemplo, Contudo, se ela se pée por algum tempo comer carne, olive fica bom como ates. Donde s¢ conclu gue o melhor e mais condl- zente & ctianga & que a mée ou a ama de leite coma came enquanto amamenta. Quando as ctiangas voritam o leite ingerido, vé-se que este coathou. © Acido do seu estémago deve, portanto, fazer coalhar 0 leite mais efciente- mente que todos os outros dcidos, uma vez que, de ontro modo, o leite humano néo teria de fato a propriedade de coalhar. Assim, seria muito pior oferecer aos bebés leite que coa- Ihasse por si mesmo! Pode'se ver por outros povos que nio depende tido 36 disso. Por cexemplo: 0s thonga se sustentam quase exctusi- vamente de came, e sio gente sadia ¢ robusta. ‘Mas todos 08 povos, como este, tém vida curta «, sem muito esforgo, pode-se levantar do cho tum jovem alto que, & primeira vista, nio se acredita que sea eve, Os suecos, 20 contro, € sobretudo os poves da india, quase nia comem came ¢, entretanto, seus filhos so muito bem criados e crescem fortes, Parece, portanto, que tudo depende da saiide de quem amamenta © que oalimento mais condizente & nutri €0 que faz gozar de melhor sade, Agora trata de saber que alimento se hd de escolher para o bebé, quando secou oleite materno, Faz algum tempo.tentou-se dar todo tipo de papinha, Mas nao é bom dar ao bebé es tipo de alimento desde o principio. Ténha- 56, sobretudo, 0 cuidado de no ministar algo picante, como vinho, condimentos ou sal, Ena verdade estanho que os bebés manifestem tanto gosto por estas coisas! A causa é que, por terem 0s sentidos ainda embotados, provocam avanueLinr 39 458 | | | | 40 SOBRE A PEDAGOGIA neles um estimulo ¢ uma excitagio que thes 34 agrada. Na Russia, os bebés certamente herdam A esse tipo de gosto de suas mées, as quais tomam 7 aguardente, e nota-se que os russos sio fortes e 4 robustos. Sem daivida, aqueles que suportam esse modo de viver devem ter uma boa consti tuigio fisica; mas € também verdade que muitos mortem engquanto deveriam poder sobreviver, De fato, uma excitagio prematara dos nervos engendra muitas desordens na vida, Tenhase ‘gualmente 0 auidado de no dar aos bebés bebi- dase alimentos muito quentes, porque tudo isso os enfraquece. ‘Convém além disso ter 0 cuidado de no manter os bebés muito aquecidos; porque 0 seu sangue é mais quente que 0 dos adultos. O calor do sangue dos bebés sobe a 110° no terméme- homens fortes, E néo é bom para a satide dos adultos vestir roupas muito quentes, cobrirse e habituarse a bebidas muito quentes. Por isso, a ‘cama dos infantes deve ser fresca ¢ dura. Os banhos frios também sfo bons. Ngo se deve usar nenhum excitante para despertar © apetite da czianga; pelo contritio, & necessério que o ape- tite seja provocado pela atividade e pela ocupa- ‘Go, Nio se permita aos infantescontrair habitos mais tarde se tomem necessidades. Até 0 naguilo que € bom, nao se deve usar a “arte para transformo interamente em um cos- tune artificial. 2 Os pavos birbaros niio usam faixas nos 8s: Os selvagens da América, por exemplo, wram pequenas fossas na terra para os bebés; em © fundo com 0 pd de Arvores selhas, para que a rina as imundicies se infil “trem ¢ 05 bebés possam assim permanecer ermaitos; depois os cobrem com folhas. Mas, de resto, deixam de fato 0 livre uso dos membros, Se nés transformamos os bebés como que em simias, € somente para nossa comodidade, isto é, para evitarmos a chateagéo de impedir ue cles fiquem defeimosos. E € 0 que acon- tece, poréi, freqitentemente com 0 uso de fai- xas! Estas, por outro lado, resultam dolorosas pata 0s préprios bebés ¢ provocam neles uma cespécie de desespero, impedindo-thes 0 uso dos préprios membros. Cré-se} entio, poder aquietar o seu choro, dirigindo-Ihes simples palavras. Experi- mentese, porém, enfaixar daquele modo bem apertado a um homem adulto, ¢, entio, perce- ber-se-i que ele também se pée a gritar e cai na angtstia e no desespero. Em geral, acaba-se por observar que a primeira educagio deve ser pura. mente negativa, isto é, que nada cabe acrescer tar &s precaugbes tomadas pela natureza, mas 459 ivneaeceent a 42 SOBRE APEDAGOGIA restringirse a nfo perturbar a sua agio. Se hé um artificio que seja permitido na educagao, € 0 do enriiecimento. Nao se deve, por isso, usar fai- _xas nos bebés. Mas, se se quiser tomar alguma ptecaugio, a melhor coisa é uma espécie de caixa guamecida de correias na parte superior. Os italianos a usam ¢ a chamam de arcuccio. O bebés entre nds. Essa precaucso 6, pois, preferi- vel as faixas, porque 0 beb8 se move dessa forma mais livremente ese evitam as deformida- des que ocomtem freqientemente por causa do enfaixamento. Um outeo costume na ira educagi €.0 de ninar os bebés. O meio mais simples é 0 que certos camponeses usu. Suspendem © bergo nos caibros através de uma corda, ¢ nada mais fazem que empurréo; 0 bergo balanga por si mesmo. Contudo, em geral, o embalar 0 bebé de nada serve, Prejudica a criangs ser balangada de um lado para outro, Vé-se até mesmo como os adultos que esse balango pro- due ansia de vomito ¢ tontura. Desa maneira, pretende-se atordoar os bebés para impediios de chorar: Mas o choro Ihes é salutar. Uma vez saidos do seio materno, no qual esto privados de ar, comecam a respirar. O fluxo de sangue, sendo assim alterado, causa-lhes uma sensagio dolorosa, Com o chro, porém, eles desenvol- vem melhor as partes intemas € 0s vas0s do corpo. £ muito prejudicial para os bebés procu- rat aquieté-los, Jogo que comecam a chorar, ‘cantando lhes algo, como costumam fazer as rutrizes ou semelhantes. E esse € o primeiro mal costume dos behés, posto que, vendo que tudo fientemente. elites. Uma yez.que © povo brinca com eles, como 0 fazem os macacos, Cantam para cles, ‘cariciam, beljam, dancam com eles. Créem que fazem algo bom e del aos bebés, correndo ime- iatamente © brineando com cles, logo que comecam a chorar, e assim por diante. Mas eles rio faro seniio chorar sempre mais. Se, pelo contrario, nao nos § preocupamos choTos ls acaba por nfo mals = rocura para sh vere S28Sf6ites todos os seus caprichos, depois serd tarde para dobrar a sua vontade. Deixemos, pois, que chorem & vontade, ¢ logo eles mnesmos ficardo cansados de chorar. Se cedemos, porém, a todos os seus caprichos na primeita infancia, corrompemos desse modo o seu coragio € 08 seus costumes. Podemos dizer em verdade que os bebés ee ‘mais malacostumados que os =| 460 MANUBLKANT 4 461 44. SOBRE A PEDAGOGIA Certamente o beb® ainda néo tem nenhu- ‘ma idéia dos costumes, mas, se arruinamos assim as suas disposigdes naturais, para temediar a0 mal seré. necessirio aplicarlhes depois durissimas punigdes. E se queremos desacostumar os bebés de verem satisfetos imediatamente os seus capri- chos, eles choram com tanta raiva, como se tal no fose possivel sendo a adultos, com a dife- renga de que no continuam unicamente porque suas forgas acebam, Enquanto precisam apenas chorar € mado acontece a0 redor, eles dominam como verdadeiros déspotas. Quando cessa esse clominio sso os aborrece muito. Porque, mesmo | para gente grande que esteve no poder por algum | vida, os bebés ainda néo possuem a vista bem desenvolvida. Eles tém a sensibilidade para luz, io 0 seguem com os olhos. Coma serwolve também a faculdade do riso€ do choros ness periodo da vida o bebe chora com uma certareflexéo, se bem que obs- cura, Ele acredita sempre que se lhe fez. mal, Rousseau nota que, se beliscarmos as mos de tiglo ardente-s The tivesse caido sobre a mio; cle jé junta aqui a idéia de ofense. Os pais, a0 saree contrério, falam muito em dobrar a vontade de seus filhos de idade tenra, Nao se deve quebrar a Sumamente diffcl remediar esse mal, ¢ s6 com muita dificuldade isso serd conseguido conse- guiré. Podemos, & verdade, conseguir que o bebé se acaimes mas ele sufoca dentro de si a bis ¢ no faz sendo alimentar a sua raiva inema, Desde modo se o habimua & dissimula- ‘cdo € as paixdes internas, Assim, por exemplo, para citar apenas um exemplo, é algo estranho que alguns pais, depois de ter batido com uma dissimulacio e & falsidade, pois, urn belo presente pel mostrarse agradecido; ¢ pode-se imaginar facil mente com que coragio a crianca beija a mao de «quem he baten! Séo usados comumente para ensinar as ctiangas a andar, as faizas e 0 canrinho. Mas muito curioso querer ensinar uma crianga a andar; como se um homem nio pudesse andar sem que se lhe ensine, As faixas so em especial perigosissimas. Um escritor se lamentava de sua cstciteza de peito, atibuindo-a as feixas. De INMANUELNANT 45 | | \ SOBRE A PEDAGOGIA fato, uma vez que a crianga apanha e cata tudo, naturalmente apéia o peito nas faixas. Como 0 peito é ainda maledvel, fia amassado e contrai depois essa forma, Com todos esses expedien- tes, a crianca por certo néo vai aprender a andar com maior seguranca do que o fatia se apren- esse por si mesma, © melhor é deixé-la engati- mihar até que pouco a pouco comece a andar. Nesse aso, pode-se ter a precaugio de cobrir 0 cho cont mania de la para evitar contusdes © ~_ “Dinse geralmente que as criancas caem com muita forge, Mas, além de tal néo poder acontecer, de resto, nfo é maim que acontega de vez em quando. Visto que isso no faz seniio censinar-lhes a manter-se em equilibrio ea encon- ‘rar um modo de impedir que as quedasas preju- diquem. Geralmente as criangas sio protegidas com um aro de tecido com enchimento de pano, para impedilas de bater 0 rosto no cho. Essa, porém, é uma educacio negativa, que consiste ‘em usar mios artificials, 20 passo que a crianga dispée dos meios naturais. No nosso caso, os ins- trumentos naturais sfo as mos, que a crianga projeta adiante ao exir. Quanto mais so utiliza. dos meios artifciais, tanto mais fica 0 home dependente deles. Em geral, seria melhor usar desde o inf- cio poucos instrumentos ¢ deixar que as crian- 25 aprendam muitas coisas por si mesmas; dessa forma aprendetiam mais efcazmente. Poe ‘exemplor seria muito possivel que aprendesse a escrever por ela prépria. Jf que alguém deve ter inventado por primeito 2 escrita, ¢ essa inven- Gio nao € assim tio diftcil. Basaria, por exem- plo, dizer & crianga que quer pao: “Vocé pode " Ela desenharia uma figura oval. Poderemos observar, entio, que nio se distin- {gue se quis desenhar um pao on uma pedra, TTentaré fazer depois um B e assim por diane; desse modo, formar por si mesma o seu pré- prio abecedério, o qual ela poderd substitu, a seguir, por outros sins, Hi ‘algumas ctiangas que nascem com certas imperfeigées no corpo: podem ser corti- sidas essas deformagGes? As pesquisas dos mais doutos escritores demonstearam que os coletes ‘empnada ajudam e, antes, agravam o mal, impe- dindo a circulacgo do sangue e dos humores, € © desenvolvimento tio necessirio das partes intemnas e extemas do corpo. Se a crianga é dei- xada live, ainda pode exercitar os membros; mas um ser humano que use um colete, quando ‘consegue livrarse dele, & muito mais fraco que ‘outro, o qual no 0 usou jamais. Ao contrario, poderseia ajudar a quem nasceu disforme, colocando um peso maior naquele lado em que (05 masculos sio mais fortes. Mas mesmo esse procedimento é muito perigoso: pois, qual é 0 homem gue pode determinar 0 equilibrio? A Imanweiant 47 48 SOBREAPEDAGOGIA melhor coisa € que a crianga se exercte por si mesma e assuma uma posigio ainda que incé- moda para ela, pois que qualquer aparelho é inoperante. ‘Todos os aparelhos atificiais dessa espé- Ge so tanto mais funestos, na medida em que contradizem diretamente ao fim que se propies a natureza nos seres organizados e racionai, em conseaiitncia do qual deve permanecer livre para aprender a servirse das préprias forcas, lo que a educagio deve fazer &impe- criangas crescamn muito delicadas. A 0 oposto da moleza. Pretende-se querer habituat a crlangas a tudo, ‘Nesse assunto cometem excesso os russas. Entre eles morte um excessivo niimero de criangas. O hébito é um prazer ou uma ago convertida em novessidade pela repeticio continua desse prazer cow dessa acéo. Nao hé nada a que se habituem mais facilmente 2s criangas do que as substancias excitantes, como, por exemplo, a0 tab: aguardente, a8 bebidas quentes; portanto, é impetioso nao habinus-las a isso. Resulta difit- limo desabimuilas depois, © causashes sofri- mento, porque aquele gozo repetido altera as fangées do corpo. Quanto mais costumes tem um komem, tanto menos é livre ¢ independente. Acontece aos homens 0 mesmo gue aos outros anima: cle conserva sempre uma certa inclinagéo para 6s primeiros habitos: dai ser imperioso impedir que a crianga se acostume a algo; no se pode penmitir que nela surja bibito algura, ‘Muitos pais querem que seus filhos se acostumem a tudo. Mas isso é uma tarefa inétil. Porque a natureza humana em geral, ¢ em parte a dos diversos seres humanos singulares, no se presta ase habituar a tudo e muitos filhos perma- necem no estado infantil de aprendizagem. Assim, por exemplo, querem que as criangas vio dormir e se levantem a qualquer hora, ou que comam quando eles permite. Mas, para spor tar iso, & necessirio um teor particular de vida que fortifique 0 corpo € que repare o mal que ‘esse sisterna causou. De resto, até mesmo na ‘natureza encontramos mnitos exemplos de perio- dicidade, Os animais tém o seu tempo determi- nado para 0 sono. © homem também deveria hhabinuar-se 2 dormir em certa horas marcadas, para no perturbar as fungées comporais ‘Quanto 20 comer toda hora, nio pode- ‘mos aqui citar 0 exemplo dos animais. Assim, 0s herbivores, por exemplo, por comerem cof sas pouco nutritivas, o pastar é para eles algo ‘ordindrio, Mas ao homem é muito salutar ali- mentar-se em horas marcadas. Muitos pais que- rem também que suas criangas possam suportar friosintensos, maus cheiros, qualquer barulho ¢ outros inconvenientes. Mas tal _néo é nada necessirios o importante é que nao contraiam 464 avonuexant 49 ‘50. SOBRE APEDAGOGIA _Benhum hébito ¢ para tal faz bem que se encop- “trem em snags ferenes. ‘Uin keito duro € imuito mais sadio que Nio faltam exemplos nota- la €S8a assercao, mas nfo séo observados, ou melhor dizendo, ndo se quer observéclos. ‘Quanto a edueagio da ind. as ctiangas como eseravos, mas sim que faga que clas sintam sempre a sua liberdade, mas de modo a no ofender a dos demais: daf que devam encontrar resisténcia. Muitos pais recu- sam tudo aos seus filhos, para exercit-los na paciéncia, exigindo dos filos mais paciéneia do {que eles préprios demonsttam, Mas isso € cruel- cade, Dé-se & crianga tudo que ela precisa e depois seja dito: “Ved jé tem o saficiente!” ‘Mas é absolutamente necessirio que essa ser tenga seja irrevogiivel. Nao se dé atengio aos gri- tos das crangase nfo se condescenda com elas, quando quetem obter alguma coisa por esse procedimento; mas, se pedem cordialmente, devese dar a elas 0 que é dtl. Desse modo, se acostumam a ser sinceros e, como nao importu- nario os demais com gritos, cada um serd, em cordial com eles. Parece que a aparéncia agradével, para que possam attar os adultos. Nada ha mais funesto para elas do que uma disciplina cbstinada e sevil, com a finali- dade de dobrar a sua vontade propria. Ordinariamente gritase com els: “Ei! Nio se envergonha?”, “Ni fica bem!” ¢ expres: sées semethantes, as quais nfo deveriam jamais ser empregadas na primeira educagio. A crianga ro possui ainda nenhuma idéia de vergonha e de convenineias no tem nem deve ter vergo- nha, Isso a tomard simida. Ficani embaragada dliante dos ouiros ¢ de boa vontade fugiré da sua presenga, Assim, nascem nela uma reserva e uma dissimnlagdo nefasta. Nao ousa perguntar mais nada, 20 paso que deveria poder perguntar taco; esconde os sentimentos e parece ser sem pre diferente do que é quando deveria poder dizer tudo francamente. Ao invés de estar sem- pre junto aos seus pais, os evita ese langa aos bra- os dos complacentes domeésticos. ‘Nem a burla e os carinhos continuos aju- dam mais que essa educagio irrtante. Tudo isso toma a crianga teimosa na sua vontade, toma fingida ¢, manifestando-se uma fraqueza nos pais, perde respeito devido a eles. Mas se é edu- -cado_de modo que nada possi consepsit gt _tando, ela se toma live, sem far sem-vergona,. , modesa, sem se tomar timida, (Dreist devecia RMWNUELONT 51 466 52 SOBRE APEDAGOGIA ‘ser escrito dust, pois a palavra vem de dhauen, drohen3) Nao se pode tolerar um insolente. Cet- tos homens tém um aspecto tio insolente que fazem a gente temer sempre deles alguma vila- nia; como também hé outros que, sé de vé-los, se pensa que sSo incapazes de dizer uma vilania.a alguém! Podemos mostrarnos francos, desde ‘que ajuntemos uma certa bondade. Freqiiente- mente ouve-se dizer que os grandes tém de fato ‘um aspecto de reis, Mas isso neles no € outra coisa que um ar insolente, a0 qual se habituaram desde jovens sem encontrar resisténcia, ‘Tudo isso diz respeito apenas & educaciio negativa, De fato, muitas fraquezas do homem, daquilo que thes comunicam as falas impres- s6es. Assim, A guisa de exemplo, as, nutrizes

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