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ANTONIO COSTA COMPREENDER O CINEMA Traduco ‘ikon Moulin Louada stele Schvarzman Into Araujo 2.* Bigao {6 Teale do original taiane Saper vedere el cinema Copyright © 1985 by Gruppo Eitarale Fabbei Bompian), Sonzogno, Eta. 8:p A. Nilzo Projete Gifico da capa: Moema Cavatean Composigao:Artesile Lida Dineltos de edie em lingua portugues quirides por EDITORA GLOBO S.A ‘Av Januaré, 1185 ~05546:902 ~ Sao Paulo ~ SP ‘ww globoliveos.com.be SUMARIO. Prarie pista eoigko Paerkcio Pruneims rants. O QUE f 0 CINEMA? 1. Inerireigio, wisosirvo, LINGUAGeM 2. DIVERSAS FORMAS DE ABORDAR © CINEMA 2.1 Cinema e histéria 2.2 Estetica e semistcs 5. Pon UMA DIDATICA DA HMAGENL SEGUNDA PARTE, AS DIVERSAS FASES Bo CINEMA [AS ORIGENS: UM ENFOQUE HisTORICO (© cANeMA MuDo Saber ver (eescutar) 0 cinema mudo 2 Do cinematégrafo 20 cinema: nascimento ‘de uma linguagem 15 0 a 2 ~ 35 3 a 4 58 5 5 5 5 4 5 ‘A ascensio de Hellywood ‘A fase Gurea do cinems cémico (Cinema e vanguardas histricas 5.5.1 Foturiemo © Dada 5.5.2 Surrealismo 5.5.3 Expresionismo 5.5.4 As vanguardas resas CConvite ao cinema mudo italiano © CINEMA SoNORO DOs ANOS 50 408 50 (© advento do cinema sonora ‘A idade de ouro de Hollywood Os géneros eléssicos do cinema americano 16.3.1 Ponts de vista sobre os géneros 6.3.2 Tres exemplos: melodrama, noir € western © neorealim italiano © cinema soveRso “politic de autores" e algo de Bazin (© novo cinema dos anos 60, 1.2.1 A nouvelle vague 1.2.2 0 New American Cinema Group © as experiéncias underground 7.2.3 Mitos e ralidades do cinema direto 7.2.4 Tentativas de renovasio no Lie eurof~ 7.2.5 A situagio italiane DDerois 60 CINEMA MaDERNO (0s anos 70 80: »transigdo 8.1.1 New Hollywood: dot auteurs aos block busters 8.1.2 0 cinema novo slemio m n 75 76 7% nm us 19 2 Bs 12s ay 1 132 132 13 190 8.2.4 imagem eletroniea B21 Cinema e TV 8.2.2 Rumo 2 invogracio das wenologias das linguagens ‘TeRCEIRA PARTE, THCNICAS LINGUAGENS 3. Ust OLHAR SOME 0 SET: 0 PROCESSO DE non ueko 9.1 Como nasce um filme? Aprendamos com 8 ficha téenica 9.2.0 que é um diretor de cinema? 10. Do koreizo A MONTAGE 10.1 Como se esereve wm filme 10.2 0 plano 10.3 Os movimentos de clmera 10.4 A fotografia 10.5 Os efits especiis 10.6 A montagem 10.7 Néo s6 imagens 11. A cena € 0 Aron Bratiocrarts| BIMIOGRAFIA.OX eDIGRO MRASILEIRA {spice pos FiLMEs crranos 15 5 7 151 155 155 160 196 166 78 135 195 202 a2 2 229 229 2s 257 250 soi, OW ¥ PREFACIO DESTA EDICAO ‘Autor que vat dieto aos fatos, Antonio Costa abre 0 pre io deste toro lembrando que hoje 0 cinema t visto, sobre fm TV e video. A obserapdo, aparentemante dbvi, na verda Eom sintoma da itimidade do autor com o objeto de seu iro. Em todo 0 modo, novas geragdes de cinilos se formam mais através desses veiculos do que pela freqizncia ds salas de espe: ‘dewtos. Nao reper, aud, as vantagens € desvantagens impliitas @ cessas novas abordagans do cinema — Costa discorre com clareta { lucider sobre las. Como seu lire fot escrito, orginalment, para o letor allan, tentarel aponteralgumas earacersticas Préprias da difuado do cima no Bras ‘Na Europa — na Ttdia em particular — 0 video © a TV vie ram ocupar tm esparo orignalmente coberto pelas sas de ‘spetdeulos, cinematecas @ einelubes. No Bras, ao conraro, hovor veculos servem pars nos introdusir filmes que 36. passa ram em cinemas quando de Se langamento "As raaies sao veiadas: nossat cincmateeas sempre tateram com falta de recursos, 0 que as lvou a prvlegior a preservagao fos filmes braseiros (principio mais do que justo, fd que os Mdemats fies podem ser pereitamente guardades em seus paises 4e origem); 0 habito das grandes companhias de gueimarem, venderem ou repariarem as éapias existentes assim que expira © praco da eens (cico anos) limon consideravelmente Sela 9 acess das cinemateces ume série de filmes, sea a existéncia {sen movimento enecubiuico forte "Einbora nem tudo isto se tenha dado exatamente asim em sodas as épocas, 5a stuagdo em ger tem sido a responsével Dele inexstencia de wma verdadeira cultura cinematogafica no Bras, de ques auroncia de dicusroessstométios ¢ publigdee ‘especalizadas surge como conseqionieIigica. O fenomeno pode Ser visto por outro anguo: epenar ope momento localizades, @ tite brasira se preocupon em estudar 0 cinema como arte eet ‘compreender” esta forma de espeldculo « principio acesiel ¢ todos Essa elite muta conseguia comencer os comerclantes da necessidade de aprofundar 0 conhecimento de wha arte popular, Talves a unica a possblitar © leno acesso a pessoas tadicona. ‘mente marzinalzndas da frugio de bens aristicos ‘Meio por conta propria, de manera eutodidtiea, mas var dose da freqiencia Constante 2 salas, 0 piblica populer acabou ormando, também no Bras, um "gosto" razoaveimente saido, “apesar das condigoes adverss. partir dos anos 10, com « TV 22 consoldando como principal vlulo da epocs, a répide dese neragdo de wa ssterma exibidor arcaic, «9 cinema se tornado lem dello minoritrio (portato ecolhendo muta mais as diver S05 vanguardas), as condigoes se modifica o cinema popular {essencialmente 9 hellywoodiano) entra em parafuso, 0 publica dleverta das sales e, com 1350, 0 proprio gosto xperimonta wna ‘spucle de regres. ‘AS vanguardas, que em polses mais avancados surgiam como consegienela natural da historia do chimay agid #00 recebldas, ‘em geral, como acontecimento auicnom, frequentemente incom breensivel O investimento da TV no chuema e 0 surgimento do ideo ineuguraram wa nova era, ao mesmo tempo, nos peear ie ealpas curtas. O Brasil & um dos raros elses do milo em ‘que a bibliografio de cinema minguou com 0 tempo. Anuigos livros (de Padovkin a Rudolf Armin) munca foram reeaitados, lenquattottuls que apontevam para modernas foras passaram entrar com certafreaiencia «m circulao. 0 desequiibrio fntre 0 primarismo da aistribuigzo © fontes tsreas gue ipl cavam um conhecimento prévio — quando no sofsticado — do cinema, ¢ evidete, Idéias discutvels (ndo necessariamente ‘equivocas)tornarenese ronda corrente e logo se trensformarart fm ftiches sem maior significado para 0 conecimento, do 10 A associagdo desses fates — video, TV, wma cultura cine ratogrdica teipiete e com freqilencia superstciosa rare se fdmitr que um produto popular contenho, também, idea) © 2: lonizade (ode os preconcetos da gente ltrada em relapdo so ‘hema brastro) ~ ajuda a avalar a opotunidade da pubice fo de Compeccnder o cinema Mas eitd longe de expicer es virtudes deste livro, Costa ¢ sum autor dito, 0 que talvezdesposte a mutos, cos que apr ‘iam comecar pelo final. Didatico nao se confnde necessarta Imenie com escolar: a Timpidez do texto 0 autor soube junta, wor 18 volume, ciples sobre a operecan chnemalogrfice (teenies e inguagem, sus evolu esdica e hstricg, sua impor lincla para o estudo da historia as diversas terlas de que fem sido objeto. Clare parte, o autor tom a sensibiidade necesséria para passar do simples ao compleso,reazendo om termos de letra 2 préprio pereurso da arte cinematogaficn Nao fe para se Spend mum "pasado dourado” om detrimento da arte de hoje ‘ao conrava,o casscisma ¢ visio aqui como base para 4 com (que o espectador, ao ver umm filme atua,compreanda gue tipo de ‘Eciogo exeetrabtho eniretém com outros para além da histo {limes contemporancos de Godard, por exemple) s0 estilhacane com tanta factidade, dando priordade ao narrar & ndo ao nar ‘ado: por que outros autores tae importantes como 05 da outra categoria € gualmente contemporancos, privlegiam 0 narrado {30 ato de narrar (Erie Rohmer & 0 moihor exemple, no cas, Porgue fax filmes teorze ‘A passagem do classco (que supde a imaginagio tratando «parr de tm tio sistema marrativo) a0 moderne fonde cada luior estabelece seus proprios pordmctos) nao tem sido wa “ificdade 3 pore 0 ehamado “espectador comin” (como se Ihowvesse os "inomuns..") Trabalhar um conjunto (0 fares digamos) ¢ tarefatnfinitamente mats fet! do que 52 dedrucar Sobre o "caso a caso" da modemidade. Mutas vezes quem escre te sobre cinoma também se embetuca —e, neste cas, prudeca (alguna generordade nao face mal a ningum, inclusive & Feputapao de quem escreve. A passagem do cinema de arte ‘mua (isto 6 que Se tmventava) a tm exercilo que pressupse lume cultura cinemaiogrifica previa, um didlogo com 0 passado, 1 costura de wma rede feta de aprosimagées ¢ dstenclamentos u com esse passado, acaba por igualar o cinema as partes ent ‘ay, som gue por iso perc sua coratetstics de fonomeno po. ular Mas exige, de quem pretende sistematcar sua paitio, (ome trabtho suplementar lirabatho @ modo de dice 50 no friste para 0 apatsonade) de acompanhamento sstemdtico no 58-dosftmes como do que se die a partir dees Tmo que esta inrodurto pareva excessvamentelaudatora. do mesmo teripo ndo sei como eseapar disso. Nao concordo, ¢ tvidente, com todas as linhar esrtar por Coste Aereito que fe airbus cxcensiva iportincia 2 abordepem semioica do ‘inemat(e notavet a itervengao de Rohmer logo apis ler amt fompieado texo de Pasolini, quando wm redator dos Cabies ds Cinema the pergurtou “o que acha disso”. Sua resposa: "O que sme impressiona que Pasolini tenha esses idias ¢ continae fazer ftmes".Contudo, sou obvigado a volar logo as virtudes do livre, pots, mesmo quando ¢ possvel dscordar de Costa, 0 Tetor 2 v6 confronado om a mancira elegant, informative e manes "No mals, 0 ietor podoré sentir falta de wns abordagem do cinema raster. A limitapao & faa, jd que Costa esereve na Utalia para 0 pico italiano, Nesse caso trremediave,feremos de procurar outra fost, desde que concordemos com a ida — meu ver cada dia mais cssencal ~ de Pasdo. Emilio Sales Gomes de que 6 podemor ter intimidade profanda com um cine. ‘ma’ produsido emt nosso pus, onde 05 esuttos abordados, por Serem palpdves, agen «propria narativa Nos aparecer mais lida 4 fgnordneta ou a recuse da cinematografia aqui prod ida impliea um necessério empobrecimento a visto gerd do ‘nema io importa quae sem av Hiitagdes dos mes, inde Dendentemente do cerder internacional do cinema or iltimo, no custa fazer oma meonpio 4 titulo. Lembro ‘que quando era pero adi por muito tempo a litura do indie. Bensavel Ouest ce que le cintma?, de Andre Bazin, por fudgar © home préprio dew loro de tncagdo © por parithar do horror hacional 43 obras de inrodugo (0 que, no mals, nao & 0 caso {oo de Bazin). Mais tarde, vim a compreender gue a pergunta {do ttlo.praticamente resumia’ a historia. do cinema. Nao hi ‘auzor nem filme gue se recom que ni langam essd questo: 0 {que Co cinema? Sem ela filme nao & nada ow d mera convengdo Alestnada a suprir 0 exfoque de novidades neessdtas sobre 12 ‘Asim também com Compreender 0 cinema. Talver mals do ‘que as outros artes, avez por ser uma experifncla nove ea ‘mesmo fonipo maduir, 0 eamego e o fim wo enema se encontram Inuito paxinas. A pergunta“o gue ¢ 0 cinema?” jrteexiet Dontos 9 ingemuo eo complexe — e 08 ordena (nao € impos Sel que se pudesse fazer wna historia dos titados de tivras sobre cinema ee rigucze que expresam. Assim, quando intl lim iva A arte do cinema, Arsheim extdlonge do esprto des Tivo de wm autor que da sou toro o nome de A arte da ite ‘ura, por exemplo: ros anos 30, Arnhim posinava, a partir do titulo estaruto de arte para 0 cinema). 1D sus mancire, Compreander e clsema une outros tantos ponts: indica iniiagao, 4a conta de 4m into didaico © a0 ‘memo tempo nos lemrbra de que em matéra de cinema somos Cbrigtoriamente inciaies: “compreendéio" equvale a "saber ‘elo uma tarcfa sempre inacabada, sempre renovada- Porgue, nando @ cinema no for mois capes de provocar supresa ‘Eputo, quando alguns filmes. nao levorem 2 perplesidade © spect, certamente alguma cose estan erada on com 9 ‘nema ow com 0 espectador. 3 PREFACIO Hoje 0 cinema € visto sobretudo na televisto. Isso significa ‘que se ve mal: imagens nascidas para serem vistas numa tela frande, numa sala escura, slo aprescntadas reduzidas, cortadss ‘as margens, aclerodas (25 fotopramas om vex de 24 por segundo) e oferecidas com grande abundincia e dispersio’ 20 ‘thar distraide do espectador de tlevisio, Por outro lado, iss significa que hoje se pode ver muito mais cinema do que no passado, © palimpsesto teleisivo de tums semana oferece ume amplitude de escolha entre filmes in teresantes muito mais vasta do que podem oferecer,hé eres de ‘quinze anos, os programas dos cinectubes de uma grande cided. E previsvel que o desenvolvimento teenoifico (televisto e alta detnigd, ‘elas de tclevisho panorimicas ullaplanss, Imtegragio das tcnologas ete.) logo possa melhorar a qualidade da imagem ‘A difusho de videos e 0 comécio ou aluguel dos filmes em casste (fendmeno em notévelexpansio também entte nos, ‘mas ainda nio na medida que sleangou em outros paises) corrgem algumes dstorges do consumo televisivo: 0 filme fem videoeasste pode ser visto vires veres, voltandose atrés © examinando, fotgrama por fotoprama se assim se desejar, 0 Segmente que nos inleresa;eafim, pade ser Visto como se Tem ‘os livros como, até hi pouco tempo, podiam fazer somente os specialists 15 oj, 0s ins, sem das habitanis (€iremuncives!) sesses insult coms, feegdentam oe centos sults vert Snover sos since em que reveem oe fies om video e, Jogo que podem, orgeizam sue propia videteca, Alem dso, sr videteas ot locdorns de vidos esto se expand pot toda a parte Talo iso. esté provocando uma pequenarevolusio camparivel Squela que te verficou no campo da mica com {iusto do dso, ou na intra strane Gor Tivos de ate som Teproduses em quatro sores, sos apocliptics se pode lembrat (que oe estos mess dreas nao foram eatasticon mais {Gee manca #0 fegientados cx concertos cas expongdes 2 Ese liv de inrodugio a0, clnems (a0 conkecimento de sua hina, de sous tcnics, de oun Knguagem) fol escrito para quem queira pasar Go vio diapers e cami. propeta Flos "palimposstos televisvos um nivel que, sem dover Shrigaoramente tomarse expeilzad, posible um conhe ‘Smento maior do fenémeno ¢ maior cepeldade de oertga0 Ove destin se também a profesor alos (de nivel rédiosuperion que, embors inde no ja una pene, tem 8 ‘necesidade de possuir um minimo de conhecimentos sobre IspecortGnicoligusticw do cinema para enrentar 9 dictn GO" de" um filme ou 0 tome dav clgdes entre uma. obra ite e ua verso sinemetogrific oy eevnivn, Meso no Sendo um menvelteenig, pode tombe ser ii como Tetra Suplementar nos mans 8 proJoges amadores Ou eclers ae fimes ow videos. Tinalinente, live se dtge, como texto. de orienta, para‘ estudante quo pretends feaientarsirsos university Weineme (je smplamentedifidos em mossy facades As Senlas humana ¢ qucea for uma Adie dos problemes © dos temas que poderd encontrar ‘A primeira pare, com carsierinttodutéio, colors slgumas questes Tundamentas em reasso 20 ato cinematogétco em Sv conjuntoe& linguogem fie em moos aroalayies« faz ‘me rena de algunas abordagens do cinema coresponden tes as vdriasmancres de responder a pergunia O que ‘Nsegunda parte, bastindose numa periodlzasio esquemé tice, examina as diverts ade do ium a ieronts ores ‘Sorimieas,tWenkas elingstsas. nao tendo como obo 16 presentar uma sntse da hiss do cinems, mas sim esi ite, priviegando lguns momentos © scm a pretenslo de set uso, © gona pela drcobera, pela compresneio dos Givers, iezaniames ‘Se comunieagio pelos varor proce tneote Goniestlindoos a A ep acmpanha sumer cae fondant proceso de produpio. de um filme e,patindo de algumas soy lemenarer df tfeicacinematogiia, dsemvlve © {ems das relate entre ni Hnguage, ‘AS tes. pares est exrleenteintegradas tte si Gocanive states de uma sre de emiasias etre oe vais parigrafon) , mesmo propondo sims mstodlogepreocupada Sm fazer vero einems lm dos ime eno interior dow fle, S"lmmpordincia ‘dos procedimentesseico-formais, forecem Tamsin um panoramn dos diferentes moos de sbordagem dot problemas tated. Neste sentido ut referencias biblogatice, “lsm de indiarem as fotes dat lagen, mules vezes serve amo sugetSes pe postriores possblidades de profunde: ‘nen, AGRADECIMENTOS. A ida da qual porn este lvo fi a de reir, segundo um chiro orinica, fevos « nots de paletassobe'o cinema Fellzadas nos tlimos anos em cursos de evalgagao pars profesoes esudantes em vis cidade. Utero Eo, 2 quem dijo mes primero aradccimeno, acolheu ¢encorajcu minhe ii, dandome sigestiespreicss "segundo com pacienteatngao 4 esruturago do lwo. ‘Oat spradeimento particular € pare Gian Piet Brunet tg Re iin wo energie por ey teebalho e com o qual ve tambam desta vex frequents trot aides, i anata 4 ofr & estuanies gue aim de minhas palestres ¢" que me. deram estnules para prossepui om iin de qos uma dddtica da imagem & & fase indapen Sivel e-preliminer para qualquer possvel dice ‘coms imagem. Govtara de recordar polo menos niguns dos respons ‘elo por Istsgaes ou ercolad que me penmiram fat estas xperiencissVitoro. Boar’ (Clnemate da prefeiturs de Bolonha, Omer Pignats, Febiio Grosol¢ Alestandra Cott favi" (Mena), Gianfranco” Gori (Rimin), Rober Eller 7 (Weneza), Luciano Giurola (Coppa), Marco della Nave {Ferma Feancosca Vassallo (Pordenone), Bruna Fomara (GIG Bergamo), Eleonare Bronson: (Regio Emilia). ‘Aradego por fim « Carmen de Bisa pela ajuda que me eu oa datiogsatia do too eee NOTA 5 tituls dos filmes ctados 10 texto soo do langamen to no Brasil; quando ese nio exis, usouse tule original no indice final dos filmes eltados, junto aos ttlos do lang: mento no Brasil, sdo apresentados também os originals. A data Junto. aos ttulos € 3° da edigio criginal, que- normalmente soinede, exceto. se hi indlcasdo conteiria, com a primeira presentago 20 public. ‘Quanto as referincas bibliogéficas no texto, o primero ‘nimero junto ao nome indica 0 ano da edigo orignal, © outa (ou os outros) a pagina (ou as péginss) da edigho de’ onde se retirou alto (normalimene, a ediggo italiane, quando exist). ‘No caso em gue um texto sea cittdo de uma colo ou amtologia posterior & primeira edigso, o nome do autor (ou do frganisadar) € precedido de It; com trad. Ir, remetese dite. mente 1 uma eJicio italiana (adowouse este criério para os fextosrustos ov em slgurs outs casos). 18 PRIMEIRA PARTE O QUE EO CINEMA? 1 INSTITUIGAO, DISPOSITIVO, LINGUAGEM Estamos no cinema, Estamos vendo Q ltime magnate (1976), de Elia Kazan, o filme extrado do romance péstumo 1940)" de. Scow Figgerald e ambientado em Hollywood, Estamos preses a aplaudi Robert De Niro, no papel do prod tor Monroe e Stuhr, acabou de conciir sma cone entsiasms: dora: aquela em que explica a um neurétco pelos métodos de trabalho no esto, © que €0 cine sma. Tratase de ume passagem antoligica, pela diveio, pelo imo e, néo menos importante, pela. filosofia do. cinema fenunciada por Siar ume cena que, como veremos neste capt {ulo, contém todos os princpais temas de que se ocupam (e $= ‘cuparam) muitos enstios do teoria do cinema ‘Apresentamos a transcrigdo doe dalsgor da versio italiana o filme num: No escrtéro tem uma larira que s¢ acende ‘om um fésfora? otsy Acho que sim Sohne: Imagine estar em sea escritério (...) Esta tmorto de cansado. Este ¢ 9 senhor. Hd uma mulher ‘a porta, Entre e nto o ve. Tra as twas. Abre a bolsa fa eevana em cima da mesa O senhor a olha. Este {£0 senhor. Agora. « mulher tem doit centavos fo foros e um miguel, Deis 0 miguel em cima da me, Volta por of doi centavos na bolse. Depo span 3s a1 lavas. Sao negras. Colocaas sobre a larera, Acende tim fsforo. Son o telefone- Levanta o fone. Bscua, Els di: "Nunca tive wm por de lavas negra na vid Deslga. Ajocthase perto da larcira, acende outro fos foro. De repeate o senor se da conta de ave hi tm ‘outro homer na sala. Ut homem que set observa ‘ada movimento que fara mulher, (Conga pause) Xie: O que acontece depois? ‘Stun: Ngo seit Ba estava so fazendo einem. Soxiey: O miguel pra que cra? Toner: (Voltada para ume colega de Bosley que assis Ted cota) Jenny, voce sabe pra que seria @ miguel? sexy: Servia pra fazer cinema toxin: Mas voot’me pags pra farer w qul? Nio enten, do exeas esting estan. ‘the: Entende sim, Sendo nao me teria perguntade respeito do mau © sidlogo da versio italiana repreduz aproximadamente 0 texto do romance de Fitgerald com algumas variantes sem impcrincia, menos uma: « pergunta de Boxley sobre a fungso do niguel: no texto de Fitzgerald ese esta resposta: “Ah sim ‘miguel servia para ir ao chwema”."& realmente ume pena, orgie esta sitima fal, se lvesse sido mantda, tele conlutdo Perfeltamome essa poquens’ lilo de_prética (e teoria) d© ‘Nessa breve cena, Stabr respondeu com extrema claeza de forma engragada lembremse de que logo depois de foneluida vemos vontade de aplaudit) 8. questo “o que é 0 finema?®, nso nos impedindo, no fim, deter um posto. de Vista diferente do dele: tanto ¢ assim que poderiamos pergun- srnos por que Slahr responde & queso exatamente daquela ‘Vamos parir do confronto entte 0 texto literéio © © fimico, Fitzgerald dé pouce informacio sobre mimiea, gestus Tidade ® movimentos de Stahr dirante este dislogo. No Tile De Niro faz mimica 0 tempo todo, movendose em viras dre- 80s. Durante'o didloge, que dura monos de tts minutos, mos 1A vero brace do filme fit 2 dilogo original de Fgead respeiado por En Kern. (N. 9 E 2 mais de quarenta mudancas de plano (com 0 uso de todas cu ‘quase todas ss vatlagdes de escala © de angulo.posivels num Smblente como aguele em que se deseavolve a cena) ‘Aguilo que no texte de Fitzgerald nos © veer, no filme de Kazan not € dado para sere sentir, mas atavés de um duplo Alisposivo de simolagdo (o do ator que recita © 0 mecanismo propriamente flmico que produz a lusio de realidad), ‘Nese fragmento, nosso papel de espetadores seduzidos pelo jopo da Figg € representado pelo rtcest, meio neuro fore obtusa (no noe ofendamos!)” Bosley se dea levar pelo Jove de sedugao de Stahr_ como nés pelo’ de De Niro. Boxley nos substitu: comporise como ns nos terlemos comportado; melhor ainda, como nos estamos comportando, fEnquanto “espectador modelo"; far aqulo que o peqveno ‘ispostiva de narragio encenado por Stahe prevé que cle fag, Mas também nos representa (no sentido em gue se-diz que tm sor representa uma personage): faz 0 papel de espectador, hum momenta da agdo em que csté para ser despedido © 10 ‘gual, "para sainse bem, deveriassumir um papel menos passvo. ‘Mas nfo bast: no final, quando Staht-De Niro. diz: “Esta 6 fazendo cinema” (endo, soponhamos, teatro), le diz s verdade em todos os setios. ‘De pequena ena natrada e_representada por cle (0 cine, inaenmens, nears represen) soa ‘divers assagens (em relacdo a0. seu_presumivel desenvoli- mento rel) reall2c, para usar iim temo mals preciso, algo mas lips, E ilo apenas ito, Deslocouse por Varies pontos fa salar ficou em’ pe, sentado, de costs ou de frente pra Boxly, ficou de cécoras. Obrigou Boxley # seguito com 0 bar, a foclizar a sengio nos dtalhes de seus geo soln ‘door do tonjunto de seu campo visual. Usou a convencio da rarragao,sabendo que Boxley enteaia logo no jogo. ‘Karan, por seu lado, nio ralizow apenas algums clips ‘em selagao'8presumivel duragdo real de conversa ente os dois (cube que pode Fazio, porque sabe que nés no podemas fear fora do ogo), mas fragmentou a reduzida cena (mais de 4 rentaplanos em menos de (res minutos) porgue sabe que stamos all prontor a identificarnos com aualquer_ ponto de Vista proposo por el; sabe que além de Bosley a cOmara est all-a representarnes (e nos representa). F, no caso de haver 2B “ifculdades, bastam alguns traques de montagem, cruzamentos de cares entre a6 personagens ca continuidade da witha fonora para que tudo\se tore mais fluido. Too fluido que 56 tim espectador pero (@ ainda com a ajuda de cimera lent) ‘ers capaz de dlzer em quanto plenos foi cepaz de fragmentar "Agora interrompemos para tirar_algumes concluses, porque rexpostas 4 pergunta "0 que # 0 cinema?” Je houve Imuites, © mio menos importants em muito diversas daquelas {que encontramos nos texts tebricos. Vamos Ter, por exemplo, um trecho de um iro de Christian Metz nos deremos conte de que fala da mesma cs que StahrDe Niro Estou no cinema. Diante de meus olhos passam as ima ‘gens do filme holiywoodiano. Hollywoodiana? Nao ne- ‘etsarlamente, At imagens de urn daguetes “Hes Simplesments, no sewido mate comune que tem a pe Tavra de um dagqucles filmes que a indsiria cine- Imatogrdfica tem hoje a fuego de produai A tndsria ‘nematogratin « tambo, eis amplamente, Inst {higdo.cinematografica em sua forma etal. Poraue ees filmer ndo sao apenas milNOes que é preciso Westr'e formar Inerattoes, para entao reeuperar divi Udendos e reimvestir les pressupdem tambon, 20 me thot para asseguvar 0 circuit de retomo do dinhero, {hue ov espctadores paguom 0 ingrsso que sna ontde dete. tnsttuian cinemarograficnuiltrapassa Ue lenge este setor (ou este arpeet) do cinema const ‘erado explicitamente comercia Guestdo de ideclogla? Or eepectadores tm a mesma {Usotogia dor filmes que Iner 0 ofrecdos, enchert las, cass a engrenagem vai para a frente? Cer famente. Mas €torbem questzo de desejo, © portanto 1c posi simbilion Nos termos de Emile Benveniste, ‘flime tradicional ¢proposto como estria« nao como ‘tvcuso. Contudo ele om discure se nos relents fs intengdes do eieasta as influbncas que exerce so. bre 0 pico ele: mas 0 espectfico deste discurso, « O pop principio de sua efieseia como discus, ¢ Suslamenteconctar as marcas de enuclagdo de mas ‘avarse como estra (Metz, 197.113) 4 Stahr € um produtor (para s constupio desta petsonayem, Fitzgerald, que havia trabalhado como foeirsta em Hollywood, onde nio\ ters, vida facil, tinhese inspirado na figura do Irving G. Thalberg. produior da MGM nos anoschave da passagem do cinema mudo para o sonore) enquanto produtor epreenta © pono de vista de Indisria cinematograiea ov, imaisexatamente, como diz Meta, da instiuigdo cinemogrdie lografia tem a ver antes de mets nada ‘ome diz Metz e como Sta all se fencontra para demonstrélo,a fim de encher as tals, © nSo de ‘svat lh ‘A instituigéo cinematogréfica, Metz nos faz lem 4 ver com a ideologia. Certamente Stahr quer conveneer seu fotersta de que 0 mundo capitaliste € 0 melhor que existe Mas como exts 6 fazendo cinema” (ele diz iso no final) © no unm comico, oferese um modelo de como 0 einem, se fuer permanccer como tl, deve, para usar as plavras de Met? um ‘Sendo um pouco simplificade, canclar os indicls de fer um discurso construdo que se propse atingir detcrminados fins efayoreeer uo maximo a impressio de ser pura nara pura esta, Aguié enoncinds a teria da "decupngem cléssica hollywoodiana veja T0.2-e 10.6) e, pare tomar as coisas sais eficazes, Kozan roda cena segundo as mais rigorosas regres. da epoca. Mas a instiuigdo cinomatogrtiea tem a ver com o deseo, com 0 imagindrio'e como simbolico; isste nos jogos de Idenuficagdo e nos. complexos"mecanismos que regulam 0 funcionamento de-nossapsigue, de nosso inconsclene- Procure: sos entender por quais tazoes Boxley se identifica 4 tal ponte om 0 jogo que Ihe proposto por Stahr que chepa 2 esquecer por momentas ses problems, nto que mo final std vsivel- ‘mene relauado, mas nio 0 sufliete para esquccer que ext fm confit com Stahr sobre o modo de eserever 0 rotir, Bowley” come "espectador medslo™ acedita sem muita conve 80 a ficgao encenads por Stat, identificandose em pate Som a estria que Slahr representa para ele (e como 080 0 Faria, jd que Suhr até finge ser Bosley?) © em parte nlo, porque atribui todo 4 sua grande capacidads bistridnica (nie, bom indo" esguecer, estamos. nos comportando. dmc modor cheganos eter vonlade de aplaudit Sta, mat vabemes ‘ue 0 pericto éxito da cena é mérto de Kazan ¢ de De Niro © fostariamos de aplaudilo também). 25

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