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ODE AS POETISAS

A poetisa cansada de escrever, cansada de fumar, cansada de viver


Afundada em suas prprias sombras
Esperava desolada e ansiava por morrer

Outra poetisa cansada de poetar e de ver que o mundo no a via


Que as pessoas, sequer a sentiam ou podiam serem tocadas
Entre anos, para qu?
Tantos poemas, histrias reais e inventadas
Aos poucos, perdida em si mesma e em suas sombrias desiluses
Bateu em sua porta aquele que fora o sentido de tudo
No dia em que o fio foi cortado
De mais nada pretendia ou sabia,
Perdida na solido de suas memrias esqueceu-se at de quem fora
O tempo que trouxe o glido vento
Levantou a areia fina que circundava a velha figueira
No importa a solidez da raiz
O peso do tempo milimetricamente mais certo
Do que o soneto mais que perfeito

E assim e assim sempre foi o peso e a medida


Das perfeccionistas e temveis Senhoras do Destino
Em silncio cortou o fio na noite escura
Tragando a memria de tantos cigarros fumados pela velha senhora
Se engana quem acha que o ltimo suspiro sufocante

A desconhecida poetisa cansada de escrever e nunca ningum ler


No tempo em que o verso se tornou o inverso
E no mais seduz e mais nada produz
Sejam ou no com efeitos, feitos e enfeites
Mergulhou dentro de si, cansada da degradao humana
Da insensibilidade que tornou os coraes um msculo intocvel

Reuniram-se as senhoras
Tanto as vivas, como as mortas
E a estas se juntaram at as imortais
Para chorar lamentos e ais sob a lpide da Academia das Poetisas Mortas
E elas cantaram em versos e prosas
Sonhos que pareciam eternos mas que hoje esto esquecidos e mortos

E elas gritaram, em desespero, os seus maiores medos


Tristes baladas que se tornaram p ao longo do progresso que trouxe os novos tempos

E elas evocaram o Deus Bragi


Na calada da noite, a assustadora procisso se reunio na encruzilhada
As que estavam vivas e desdobradas soluavam tristes rimas
E as que estavam mortas sussurravam a saudade de seus amores em antigos louvores
Aqui jaz a poesia
Esquecida e renegada
Derrotada pela tecnologia

Aqui jaz a corte e o romance


Os sentidos esto perdidos
O pensamento sequer decodifica
Quaisquer palavras de sabedoria

E as flores de papel perderam seus perfumes


Nem a lua sorri mais para os amantes
Que em luzes artificiais no mais se amam
Como era o amor de amar

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