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A TEORIA DA ACAO E DA OR- DEM NA OBRA DE TALCOTT PARSONS: Luis Flavio Sapori seem Soclogia ple UFC, tm Profesor des FINE José Ricardo Faleiro Carvaihaes stand on Soslogiapla UFUG. 1 Profesor das INP, ESUMO.O abet pce dese ar goo scr os handamentos bit 2508 eons pasoniana da rem € 3980 socal Pacrremos metar come este ator tetoueencir em sev mode lode ansise as menses mace emer via socal Ao al, aramos aiumas consioares aoa ae natureza 6 po |e parse, sivando-o no cnt 0 cebate nlsme cles em femmes ebens e metodiins 1 Nar ALEXANDER.J O Novo Mo ‘iano Tai fn: Revita es ler de Cini Sadia "4, vo 2 jumbo, 1987 2- \erALEXANDER. J. Formal Substantive Volustarisa in Work of Talcott Parsons. A Theoretical and [deotogical Resmapraatin ASK, 1978, vol :8.pp. 180,181 Parsons talvez tenha sido o primeiro socidlogo a assumir de forma explicitaofato de que a sociologia ndo pode prescindir de pressupostos tedricos inerentemente abstr tos. Sendo assim, tais pressupostos néo tém status empirico, ou seja s4o formulagdes f- loséficas ndo passiveis de falseamento. Alexander’ qualifca tals pessupostos como correspondendo ao nivel teérico- epistémico do continuum do pensamento cientifico so- cial, também denominando-os de pressu- postos metateéricos. Nesse sentido, todo paradigma socialégico contém, implicita ou explictamente, uma teoria da agao social que esta articulada a uma teoria da ordem social A proposta deste artigo consiste em apresentar 0s principais elementos da metateoria parsoniana. E esta é niotadamente complexa devido a sofistica- co da sintese tedrica empreendida por Parsons. Este procurou, por um lado, for ‘mular um esquema geral capaz de sistema- tizar todas as possibidades de acéo social, incluindo néo somente uma classificagdo tipoldgica das agdes como também uma anélise dos fundamentos sociais (valores, normas, regras) que as sustentam, e ainda © processo pelo qual tais fundamentos so formados, assimilados e manifestados pe- los individuos em particular com base em suas propriedades psiquicas e suas neces- sidades organics (motivagdes, cognicdes, objetivos fixados, etc.). Por outro lado, Parsons procurou combinar, ao nivel de uma teoria relaivamente fechada, as influéncias oriundas de pensadores de perspectivas bastante distintas que guardam entre si di- ferengas substantivas do ponto de vista tematico © mesmo metodolégico. Parsons utlizou-se das andlises de Durkheim para elaborar sua teoria da ordem social e das andlises de Weber e de Freud na constru- Ho de sua teoria da aco social, Parsons conhecia também as obras de Pareto, Marshall, Mead, entre outros, cujas idéias foram, em maior ou menor grau, incorpora- das e trabalhadas ecleticamente pelo autor. Emsuma, Parsons se utlizou de ané- lises de cunho coletvista (Durkheim), cuja énfase recai nas determinagbes sociais dos comportamentos individuais, bem como de anélises de cunho individualista (Weber, Mead), onde o individuo é concebido como sujeito de suas agdes. Seu esforco foi no sentido de estabelecer a articulacdo entre cuttura, estrutura e agéo. E € exatamente este pretensioso empreendimento te6rico. em seus fundamentos bésicos, que procu- raremos descrever nesse artigo. Tentaremos mostrar como o modelo analiico parsoniano objetiva combinar uma concepcao interpretativa do ator social com um desta- que acentuado na dimensdo estrutural-un- cional da ordem social OCARATER INTERPRETATIVO DO ATOR PARSONIANO Anatureza da agdo é um dos pres- supostos mais elementares da andlise soci olégica, com bem o frisa Alexander?. Toda teoria socioligica apresenta uma concepco acerca do grau de autonomia do individuo frente aos constrangimentos sociais. Dentro desta perspectiva, pode-se afirmar que Parsons objetivou formular uma teoria multidimensional da aco. Tal multidimensionalidade refere-se A articula- 40 dos aspectos subjetivos envolvidos na definigdo do curso de uma conduta com 0 aspecto dos constrangimentos externos. O modelo analitico parsoniano, num primeiro momento, faz referéncia ao crater subjti- oda acdo social, analisando-a na perspec- tiva do ator. Contempla 0 mesmo como su- jeito de sua conduta, ou sea, ele define ob- jetivos, visualza repercussGes de cursos al- ternativos de conduta e escolhe entre tais alternativas, Segundo Parsons, toda conduta in- dividual pode ser definida como uma agao ou conjunto de agdes, simultinea ou no, 48 A TEORIA DA ACAO E DA ORDEM NA OBRA DE TALCOTT PARSONS realizada para a obtengéo de fins através de um consumo de energia normativamente regulado. O individuo é movido pela neces- sidade de gratificar suas disposigées de necessidades, conforme expresséo utiiza- da pelo autor. E através desse dispositive que as necessidades do sistema de perso- nalidade podem ser satisfetas, Em suma, 0 ator social 6 por definig&o aquele individuo empenhado na realizagéo de algum objet- vo. ‘Aago compreende ainda trés outros, elementos fundamentais: a) situagéo con- creta, b) regulacéo normativa,c) motivagbes. ‘A conjugacéo destes elementos na forma- 40 das condutas individuais implica a exis- ‘éncia de objetos - sejam sociais ou ndo - com 0 quais os atores se relacionam e que constituem os seus sistemas de orientacdo a partir dos significados que hes so atribu- ‘dos. Os individuos agem com base na rela- ‘cdo existente entre o seu organismo, 0 con- texto no qual se encontra e os objetos que encerram em seus sigrificados as possibil- dades de orientacéo e defini¢go dos padrbes de comportamento a serem adotados. As orientagbes podem ser de valor, quando se referem a apreciagbes cognitivas, estéticas ‘e morais ou motivacionais, quando relacio- nadas a planos, expectativas e aparéncias. Especificando melhor 0 que foi dito aacima, a ago social no modelo parsoniano corre sempre numa situagao, sendo esta a parte do mundo externo composta por objetos significatives para o agente. Tais objetos, que podem ser outros individuos, coletividades ou ainda objetos fisicos, fun- cionam como meios e condigSes para a gra- tificagdo das disposigbes de necessidades. Eles néo possuem significados adscritos. S40 08 prOprios atores que os atribuem na situagéo. Assim, os objetos podem signif- car diferentes coisas para pessoas diferen- tes, tendo em vista que as orientagbes motivacionais do ator é que vao definir 0 contetido destes significados. No processo de atribuigdo de significados, o ator primei- ramente discrimina os objetos, determinan- do suas propriedades e suas diferenciagbes ‘em relacdo a outros objetos. Em outras pa- lavras, 0 primeiro procedimento subjetvo envolvido na definigdo da agdo é 0 mapeamento cognitive da situacdo. Simul- taneamente, o ator atribui um significado afetivo aos objetos. Aqui ele organiza suas catexias, de modo que os objetos sao iden- tificados em termos da potencial gratifica- go ou privagdo que podem proporcionar. Num terceiro momento, o ator social proce- de a avaliagdo da situacéo. Tendo suas cogniigdes e catexias num plano conscien- te, ele identifica os varios cursos de agéo possiveis que the proporcionaréo gratifica- Ges para depois decidir qual deles efetivar. No processo de avaliacdo so os valores morais @ 0s interesses do ator que vo def nir 0 curso de ago a ser sequido. Ndo se pode estabelecer a priori qual tipo de orien- taco vai prevalecer, sendo este um proble- ma empitico, 0 que pressupde uma certa autonomia dos atores individuais no que diz respeito as suas preferéncias, selegies © intengdes. ‘Apart desse ponto, Parsons Gcupa- seem elaborar um sofisticadissimo modelo analitco caracterizado, sobretudo, por ex- ‘tensas taxonomias, que compreendem des- cde uma tipologia das agbesatéa andlise das chamadas varidveis-padrdo. Segundo o autor, antes de agir 0 individuo deve reali- zar cinco escolhas dicot6micas, sendo que trés delas referem-se a prioridade entre modos de orientacdo e duas referem-se aos objetos. As variéveis-padréo estéo direta- mente relacionadas, portanto, ao proceso de selegdo a0 qual nos referimos anterior- mente, Séo elas: a afetvidade - neutralida- de afetiva; b) orientagdo acerca de si mes- mo - orientago acerca da coletividade; c) universalismo - paricularismo; d) adscricdo - desempenho; e) especificidade - difusividade. Como se depreende das andlises anteriores, Parsons contempla explcitamen- eee ‘CADERNO DE FILOSOFIA F CIENCIAS rr) MUMANAS ~ Aon It 9° 3~ abo rr A TEORIA DA ACAO E DA ORDEM NA OBRA DE TALCOTT PARSONS 3 Vr ALEXANDER, 1 idem. Tacia ua Teoria General dela Acca, Busnes Ass, Kapluse ee ‘CADERNO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS~ Ane I= at 3 ‘e a agdo social como resultado de um pro- cesso interpretativo. O ator parsoniano néo 6 um mero respondente aos estimulos ex- ternos. Ao contrério, ele registra na situa- 40 0s elementos que podem e os que néo podem ser manipulados em fungéo de seus objetivos. Além disso, ele estima os efeitos de possiveis condutas, permitindo-Ihe assim escolher uma linha de conduta determina- da, Nao ha como negar que nesse modelo analitico o individuo é efetivamente o sujei- to da ago. Esse cuidado em ressaltar a di- ‘mensdo subjetiva presente nos processos de interacdo social na forma como é delineada na teoria parsoniana deriva, fun- damentalmente, da incorporagdo da socio- logia de Max Weber. Assim como 0 seu co- lega aleméo, Parsons procura analisar a ago social do ponto de vista do ator, desta- cando os processos cognitivos e interpretativos envolvidos na definigéo de uma conduta, Apesar de reconhecer a dimenséo subjetiva da ago social, Parsons evita de Postular uma intencionalidade plena do in- ividuo. Ao contrério, seu esquema teérico destaca de forma acentuada os condiciona- mentos sociais das condutas individuais. Neste momento, 0 autor direciona seu mo- delo analitico para uma dimenséo estrutu- ral coletivista As. determinagdes estruturais as uais 0s individuos estéo sujeitos podem ser percebidas em dois niveis. Por um lado, constituem objetos signficativos das situa- (es. Nesse sentido, normas, lis, costumes, etc. podem ser percebidos pelo individuo como constrangimentos objetivos, nao manipulaveis, que impbem limites aliberda- de de escolha. Deste modo, tais objetos ‘exercem considerdveis influéncias na defi- nigdo de uma linha de ago. E importante destacar que as condicdes situacionais nao S40 apenas de caréter normativo, conforme 0s jd citados. Alexander? nos lembra que a teoria parsoniana da agdo néo descarta cer- tos tipos de constrangimentos matériais su- pra-individuais. A aco simbélica ocorre sempre num ambiente de fatores materiais que pressionam 0 ator a perseguir meios éficientes. Essa incorporagdo de elementos da tradigéo materalistainiciada com Hobbes « reforcada por Marx, segundo Alexander, 6 um outro indicador da sintese teérica em- preendida por Parsons, Assim, as chama- {das condigdes materiais da sociedade -for- ‘mas de organizagéo da produgdo, divisdo do trabalho, tecnologia - impéem importan- tes limites as agbes sociais Um outro nivel de atuacéo dos cons- trangimentos sociais sobre a acéo pode ser percebido no fato de que a escolha indivi- dual envolve a aceitagdo de normas morais. Oconceito que articula a dimenséo estutu ral e a dimenséo subjetiva da acdo social 6 © de interiorizagéo ou internalizagao. Des- taca-se, assim, a interrelacdo entre indivi- duo e sociedade. Parsons argumenta que as normas sociais sdo inteiorizadas pelo ator, ficando arraigadas em sua estrutura de personal dade. Portanto, sempre que o ator defron- ta-se com dois ou mais cursos alternatives de conduta, as normas morais iro auxilia- loa solucionar seu dilema subjetivo. Aspos- sibilidades de escolha e de realzacdo indi Viduais, nesse sentido, restringem-se aque- las que estéo objetivamente colocadas no ambiente sécio-cultural do qual se partici- pa. Isso permite a Parsons afirmar que *. em sentido figurado, poder-se-ia dizer que as orientagbes de valor que formam parte do sistema de valores culturais devido a sua institucionalizagdo so as que fazem a es- colha, antes que o ator."+ Em principio, portanto, pode-se con- siderar que toda ago ¢ voluntaria e subjet- va, pois implica escolhas, motivacées e in- teresses. Contudo, estes processos 86 sto efetivados num contexto de regulacéo normativa, isto 6, num ambiente comum de ago, onde expectativas e signticados so socialmente compartihados. Nesse sentido, 0 préprio processo de 30 A TEORIA DA ACAO E. DA ORDEM NA OBRA DE TALCOTT PARSONS, 5-Mer PARSONS," Working Papers nthe Thecry of Actin p19 Ss mapeamento cognitivo de agdo bem como © proceso de atribuigdo de significados aletivos aos objetos so, antes de tudo, pro- cessos guiados por valores sociais internalizados. Cumpre destacar ainda que na viséo de Parsons ainteriorizagéo dos valores cul- turais pelo individuo forma o superego - conceito freudiano que representa a estru- tura psiquica através da qual a sociedade penetra nas consciéncias individuais. Esse conceito possui uma importancia capital na teoria parsoniana. A convergéncia entre as perspectiva durkheimiana, que centraliza o problema da internalizacdo dos valores e ‘normas sociais.e a nogdo de superego per mite articular a dimenséo estruturale a di mensdo subjetiva da ago. Foi desta forma ‘que Parsons pretendeu superar a dicotomia individuo-sociedade. Mesmo incorporando as andlises de Freud, Parsons ndo deixa de apontarlimitagSes na concepgdo da estru- tura da personalidade formulada pelo fun- dador da Psicandlise. Segundo ele, Freud contemplou apenas na nogdo de superego a interiorizagdo da sociedade por parte do individuo, A compreenséo cognitva da situ- ago, associada ao ego, bem como as emo- Bes ou afetos, associadas ao id, seriam também expresses de padres culturais internalizados. A categorizagéo do sexo, que € exemplo de mapeamento cognitive, mio € nada mais que o resultado de uma social- zago, onde a crianga aprende a se identif- car com o pai ea ser dferenciar da mée, no caso do homem. Da mesma maneira, a at: tude reciproca de amor entre maeee filo no 6 um simples processo de gratificago mi: tua de necessidades; aprende-se a amar aa ser amado a partir da internalizagao de uma cultura comum de simbolismo expres sivo que permite a ambas, crianga e mde, a reciprocidade de comunicagéo e entendi- mento de seus sentimentos. Em resumo, para Parsons no somente 0 superego é a representagdo conoreta da sociedade den tro do individuo. ‘Neither what the objectis, in the most significant aspects, or what it means emotionally, can be understood as given independently of the nature of the interactive processitself, and the significance of moral norms themselves largely relates to this fact.”s Como se percebe, ao postular que o ator interiorza a exterioridade, a énfase des: Joca-se para a dimensdo cultural e institucional da sociedade. A partir dai, Parsons desenvolve olado estrutural de sua teoria, especificando sua concepcdo sistémica de sociedade. E 0 que passare mos a discutra seguir. . ‘ATEORIA DA ORDEM SOCIAL EM PARSONS. O problema da ordem social diz res- peitoatrés questbes basicas que poderiam ser colocadas nos seguintes termos:a) 0 que torna possivel aos individuos relacionarem- se entre si; b) quais 0s fatores responsaveis pela manutencéo e pela relativa estabilida- de destas relagbes; c) e em caso de mu- ddangas nas relagdes 0 que as determinam. Esse problema, cléssico para a Sociologia, € enfrentado por todos os diferentes paradigmas que procuram responder as in- dagagbes acerca dos fundamentos mais gerais da vida social Parsons, particularmente, ao se de- frontar com estas questées, elaborou um sofisticado modelo explicativo cujas premis- sas so basicamente as mesmas que en- contramos no pensamento de Durkheim. Assim como o seu colega francés, Parsons pode ser considerado um dos principais ex poentes da perspectiva que os socidlogos denominam estrutural-funcionalista. O que aproxima estes dois autores, apesar de uma diferenca de énfase, ndo é tanto a apro- priagdo, por parte de Parsons, de conceitos durkheimianos, e sim a utlizagéo da nogéo de sistema, categoria que exprime uma concepeao a prior acerca da natureza edo 3 A TEORIA DA ACAO E DA ORDEM NA OBRA DE TALCOTT PARSONS funcionamento das sociedades Considerar a sociedade como siste ma implica concebé-la como uma coletivi- dade organizada constituida de diferentes partes complementares e interdependentes entre si, de tal modo que as relacdes que se estabelecem entre elas concorrem para um equilbrio mais ou menos dindmico, depen- dendo do grau de complexidade do conjun- to, sendo que qualquer modificacéo que ocorra em uma destas relacbes acaba por afetar 0 conjunto com um todo, forgando-o uma readaptacéo funcional. Na nogdo de sistema, 0 todo & sempre maior que a soma das partes e cada uma destas deve realizar determinadas fungoes especificas necessa- rias a dindmica interna no conjunto. Assim, © contelido das relacdes que se estabele- cem entre as partes do sistema € definido a partir de necessidades funcionais. Tem-se portanto, uma concepgdo claramente coletwvista da ordem social ‘Aarticulagdo entre os condicionantes estruturais necessérios a edificagio da or dem so descritos por Parsons em seu Sis tema geral de Ado, cujos subsistemas dis- ‘tinguem-se uns dos outros por suas respec- tivas funges primarias, Entéo vejamos, a) Sistema Cultural. Responsavel pela manutencdo e pela mudanca criativa dos padrées que controlam ou governam o Sistema Geral de ‘Aco. Seus componentes estrutu- rais basicos so os valores , defin- dos como o conjunto de represen- tagbes coletivas, no sentido durkheimiano, que estabelecem os principios abstratos das interagdes socials através da fixagéo de mo- delos de signifcagbes (simbolos e crengas a serem compartihhados) ue, por sua vez, expressam a or entagdo global que o sistema deve seguir como um todo. Os valores compreendem a estética, a moral € 08 processos cognitivos. b) Sistema Social. Sua fungdo é a in tegragéo das unidades de ago: in: dividuos e coletividades. Isso é ob- tido através das normas que regu: lamentam a natureza eo conteido concreto das interagdes e que nada mais s4o que valores institucional zados. Os sistemas sociais so, para Parsons, 0 alvo principal da in- vestigagdo socioldgica. Uma soci- edade € um sistema social carac- terizado por um nivel elevado de auto-sufciéncia em retagdo ao seu ambiente e que inclui outros siste- mas sociais (organizagbes como ‘empresas ou a igreja, por ex). o) Sistema de Personalidade. Dizres- peito a realizado de objetivos por parte dos atores a partir da articu lagdo de suas ages com metas coletivamente fixadas, compatibil- zando necessidades e disposiodes individuais, por um lado, e os fins coletivos, por outro. As coletivida- des so 0 seu componente estrutu: ral basico, entendendo por coletvi- dade aqueles grupos que apresen- tam criteios bem definidos de par- ticipagao para seus membros, sen- do que estes, por sua vez, sto dife- renciados de acordo com 0 seu status eas respectivas fungtes que exercem no grupo. 4) Organism Comportamental. Sua fungo é a adaptagdo responsavel pela adequagdo das agSes individu- ais com relacéo aos outros subsistemas de acto e a interrelagdo como ambiente fsico e suas exigén- cias eoonémicas e teonologicas. Os papeis so os componentes estru- turais responsaveis pela reaizagao das fungbes adaplativas. Sao eles que definem classes de individuos que partcipam de colevidades com status definidos, a partir de expecta- tivas reciprocas. As distingSes funcionais entre es- | 32 | =a TEORIA DA ACAO E ORDEM NA OBRA TALCOTT PARSONS “6-tlagao de vomphatardates suerdpendinci ante asdanies Ancioaisergeqochajs esis sac crerénaaetreelas Desa fer- ‘naan de mila ot Seik deve lor em mse Se ipl posi de riaglo na eombinagin etre os Supimasterotrtirans cnt (es do stems a partir des esos efetives, Fas varagies cote, sbi, ns chads Srociedades modems". «nde a wane dieransisto de pats 64 Soda segment da as Socials do comseyasnetas do comple ‘eteganiva e di plaraldae de vs feces. anid cn eee val rs cals cada vr nai ssouaisme semen stn Fadss cata vor ais epson Mig PARSONS. SUIELS. op. (ANAS Aa TERNO DE HIOSOTTA F CIINCIAS 33 taba ses quatro subsistemas tém finalidades analiticas, pois uma de suas caracteristi- cas mais importantes é justamente 0 fato de apresentarem zonas de interpenetracdo, o que significa dizer que sao interdependentes e complementares. E importante lembrar que 0 modelo parsoniano pressupée que as agdes nao se dao isoladas na experiéncia, isto é, elas acontecem em ambientes representados e descritos por estes subsistemas que as governam. Na hierarquia funcional, 0 subsistema cultural € responsavel pelo ni vel mais elevado de controle sobre o sis- tema geral de acdo, sequido pelo sistema social, o de personalidade e o organismo ‘comportamental. Os sistemas sociais, que s4o aque- les que interessam mais diretamente ao so- cidlogo, s4o formados pela combinac&o dos componentes estruturais que caracterizam os quatro niveis de agdo. A interrelagao en- tre eles se da através da insttucionalizagéio dda cultura, traduzida em termos de normas, da interiorizagdo dos valores por parte dos individuos - a socializagéo - da participagdo destes individuos em coletividades na bus- ca da realizagdo de fins coletivos e na fxa- ‘cdo de papéis que estabelecem os padroes de participacéo estruturada na interagao s0- cial. Cada uma destas necessidades funci- onais é realizada por subsistemas da socie- dade, cada qual correspondendo a um subsistema do Sistema Geral da Ago. Séo eles:a) manutengao de padréo ou fiducirio (valores); b) comunidade societaria (nor- mas); c) governo (coletividade); d) econo- mia (papeis)s Desta forma, quando se coloca 0 pro- blema da manutengdo de uma ordem social qualquer é preciso que duas condig6es 1d- gicas se facam presentes: que os individu- s comparilhem uma cultura comum e que eles, sendo todos pelo menos a maioria, obedecam as normas instituidas. O que Parsons quer dizer é que quando duas pes- soas se enoontram numa dada situagao ha uma reciprocidade de expectativas, no sen- tido de que 0 ego orienta-se pela provavel conduta do alter e também pela interpreta- ‘G40 que faz das expectativas do alter em elagéo a si mesmo. Tais processos interpretativos so mediatizados pela cultu- racomum, permitindo aos interagentes rea- lizar uma definigSo convergente da situacao. s atores, por um lado, compartiham um mesmo conjunto de simbolos de modo que o significado da ago do ego é compreendi- do pelo alter, e vice-versa. Tais simbolos, cujo melhor exemplo é a linguagem, é que permitem aos atores externalzarem suas in- tengdes, permitindo a efetivacdo da comu- nicagdo. Por outro lado, 0 ego espera que 0 alter aja de acordo com normas e valores morais socialmente definidas, ou seja, ele espera que 0 outro tenha um comportamen- to tipico para a situagao, ou dito em outras, palavras, que ele cumpra o seu papel. Nes: se sentido, a situagéo social deve ser ante- ipadamente conhecida pelos interagentes: internalizando papéis eles sabem de ante- mao como se comportar nos mais diferen tes contextos de interagéo, havendo uma expectativa reciproca de que tais condutas serdo obedecidas. Parsons assim resume a questéo: “As expectativas do ego frente ao alter so expectativas concernentes aos papéis de ambos e as sangSes reforcam as. ‘motivagdes do ego para a conformidade com essas expectativas de papel. Assim, a complementaridade de expectativas implica 0 reforco reciproco das motivagSes do ego edo alter, de conformidade com os padrdes normativos que definem suas expectativas.”” Por fim, ainda sobre o problema da ‘ordem social, resta discutr os processos de mudanga. O modelo parsoniano ndo assu- me, evidentemente, a estabilidade como condigdo permanente e necessiria das interagbes sociais: “a ordem da qual as so: ciedades humanas tém desfrutado deve ser tratada como problematica, no considera- da como sendo, obviamente, da natureza das coisas."® Assim, a ruptura com expecta- 3 A TEORIA DA ACAO E DA ORDEM NA OBRA DE TALCOTT PARSONS 8- Mer PARSONS. A Fong de tn Sen Soil a: Revista Imei yo 2.n°6,UNB, jane TILOSOFIA E CIENCIAS MUMANAS ~ Avo Ua 3~ tbo tivas de papel, ou a dissolugdo da ordem mesmo que temporaria, é sempre uma pos: sibilidade légica, inerente a qualquer interac. Contudo, mesmo assumindo essa possitilidade légica, Parsons descarta a imprevisibiidade como caracteristica das interag6es sociais, pois os atores tendem, geralmente, a se conformar com os papéis que thes cabem. Osprocessos de mudanga social pos- suem um carater muldimensional ¢ evolutivo. Eles compreendem quatro fatores estruturais basicos, cada um deles correspondendo ao seu respectivo sistema ou subsistema de ago. S4o eles: a) gene: ralizagio, referente a novos valores que penetram no sistema cultural; b) incluso, referente a criacdo de normas necessarias 2 insttucionalizagéo dos novos valores para resolver os problemas de integragdo surgidos com a diferenciagdo e com a as- censéo adaptativa;c) diferenciagéo, referen- te a pluralizagéo de papeis, segmentagdo de coletividades e multipicagao dos fins co- letivos; d) ascenséo adaptativa, aumento da ccaptagdo de recursos disponives: tecnologia e divisdo do trabalho. Esses quatro processos operam con- juntamente, sendo influenciados pelo ambi- ente fisico e social mais amplo. Como o sis- tema cultural €0 primeiro da hierarquia dos controles, pode-se concluir que o desenvol- vimento cultural (generalizagdo de valores) 6 essencial para 0 progresso evolutivo das sociedades em termos globais, tanto por fa- tores morais (religido), quanto tecnélogicos (mudangas cognitivas) 3 CONSIDERACOES FINAIS: VO- LUNTARISMO E DETERMINIS- MO DA OBRA DE PARSONS. Ao iniciarmos esse artigo afrmamos que 0 principal desatio enfrentado por Parsons fi ode solucionar o problema clas- sico da relagdo entre as dimensées macro @ micro da vida social, que em termos epistemolégicos se traduz nas dicotomias sujeito - estrutura, determinismo voluntarismo, individualism -coletivsmo. A questdo & saber até que ponto Parsons ob- ‘teve éxito em seu projeto. Vimos que a teoria parsoniana da or- dem social apresenta um vies nitdamente coletvista que se expressana centralizacéo da nocéo de sistema. Por outro lado. ainda que 0 autor ressaite essa dimenséo estru- tural, sua teoria da ago confere ao indivi- duo um papel de extrema relevancia, dada a sua relativa autonomia frente aos cons- trangimentos externos. O individuo parsoniano interpreta, faz escolhas e age. A ordem estabelecida impde limites cognitivos e normativos que evidentemente reduzem as posssibiidades de interpreta- (40, de escolha e de definic&o dos cursos de agdo, mas sendo a sociedade o conjunto de interagdes humanas a combinago des- tas escolhas individuais ¢ dos cursos de agdo que dai se seguem alteram a dindmi cado sistema, produzindo diferentes formas de equilbrio e adaptacéo funcionais. Bus- cando evitar a hipostasia das estruturas ¢ os determinismos teleol6gicos, Parsons ten- tou construir um modelo que ressaltasse a plasticidade da ordem social ‘Assim, na analse da formagéo de sis- temas sociais concretos, comoo sistema das sociedades modernas a partir do desenvol vimento da cultura crsté - sistema cultural que fez a ligagdo entre o mundo antigo ¢ 0 modemno - Parsons procura combinar ele- mentos de natureza mais estrutural com escolhas individuais estratégicas. Ao mes- mo tempo em que ressalta a importancia da deciséo de S40 Paulo de romper com cer- tos aspectos de tradigao judaica, dando aos PARSONS, T. A Formagaio de um Sistema Social, In: Revista Humanidades, vol 2, n° 6, UNB, Sologia UFMG0°24,.niofunbo janeiro/margo 1984, 1988 = PARSONS, T.O Sistem. i jodernas. Biblioteca Pioneira de Ciéncias Sociais. 1° trai oe RSONS, 7 Sistema des Sociedades Modemas. bloteca Plone de Socials. 1 Politica ea Tera da Esch Rae ‘ ional In: Revi PrasiradeGi-_~ REIS, FABIO W. Identidade, Politica © a Teoria da Eecolha Racional. in Revista Brasileira de ‘cia Soins, vl. 3.06, fevers Ciencias Sociais, vol. 3, n8, Fevereiro, 1988. seats, = WRONG, D. The Oversocialized Conception of Man. L. Coser, ed., The Pleasures of Sociology ®. New York Mentor Books, 1980. 14 er PARSONS,T. SHI CADERNO DE FILOSOFTA F CHENGIAS 56 HUMANAS Ano I= a 3 outro

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