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Paul Singer ‘oro rena rans AMA Nas paginas deste livro se encontram slidos argumentos reafirmando a necessidade de bbuscarmos uma forma de organizayio social e econdmica que ultrapasse as potencialidades oferecidas a humanidade pelo capitalismo, superando as desigualdades que the ‘sao inerentes. Economista, professor universitirio, intelectual reconhecido nacionalmente hi muitas décadas, militante metalirgico nos anos 50, ha mais de meio século Paul Singer se dedica com paixio - talver a paixto maior de sua vida — a uma defesa das idéias socialistas que no faz qualquer concessio a0 dogmatismo. Ele € provavelmente 0 pesquisador brasileiro que vem se dedicando com mais persisténcia, nos ‘altimos anos, ao trabalho de repensar utopia socialista a partir das duras lighes oferecidas pelas distorgdes e pelos rumos ditatoriais assumidos na ‘experiéncia do chamado socialismo real. Para pessoas como eu, que nunca acreditaram na viabilidade de um socialismo em que 0 Estado tudo decide, nem conseguem imaginar ‘uma sociedad baseada no igualitarismo absoluto, que anestesia © impulso que cada um de nds tem de cereseimento, este estudo de Singer vale como um bilsamo e como verdadeira fonte de luz Para pessoas como eu, adversérias de um certo discurso que solidéria no interior da sociedade injusta em que nascemos ¢ lutamos. Este livro sustenta que foi assim ‘no passado € deve ser assim no presente. Solidariedade ¢ uma palavra saborosa que vale como aposta radical na generosidade do ser hhumano ¢ em sua capacidade de ver 0 , 0 Outro, como parceiro € amigo — no como rival competidor. (0s exemplos discutidos por ‘Singer no final ~ Mondragén na Espanha, Emilia Romana na Itdlia, Pernambuco, historica que permitiré ao ser humano ~ no tempo e no ritmo que se mostrarem adequados - depositar a mentalidade possessiva que ¢ propria do capitalismo na mesma prateleira em que jé esti arquivados 0 feudalismo e a escravidio. Luiz Inacio Lula da Silva O capitalismo se tornou dominante hé tanto tempo ‘que nossa tendéncia é consideré-lo como normal ou ‘08 perdedores ficam na penumbra ou so excluidos. Em Introducdo & Economia Solidaria o professor ¢ ‘economista Paul Singer mostra que para termos uma sociedade em que predomine a igualdade entre todos os ‘seus membros é preciso que a economia seja solidaria em vez de competitiva. Isso significa que os participantes na atividade econémica deveriam cooperar entre si em vez de competir. Neste livro o autor expe os principios da Economia Solidéria defende a idéia de que ela poder ser uma alternativa superior ao capitalismo por proporcionat as pessoas uma vida methor, com solidariedade e igualdade. eLIepl[osg emuouos7] B ogdnponuy sedurg [neg eaneg eayp15, ovssouduyy ‘osouus 2214 OPW ede, sonepy voyeur revoyps opsuuspad6-y oursiqy nasiaq ovdupuny exONPA somp — opanszy ap opmaNL oweaqy nasiag opsepuny LE] some 0 yoy, SzI eHeBoNGE inpyos mune 3s eputoUod2 ep seansedsiog 2, G01 “Xx o]nD95 op wy ou ‘BUEPpHIOS VILOUODD Up OBSUDAUIA Y “| 9 asad — AT S01 “B90n ap seqni> 8 86 ‘uo Sespuopy ap eaneradoos orde10di03 ¥"/ ar sty ep oauey) xuLE] UODUIEI O {65 ‘oUppid ap ourstatte12d00> OZ 6¢ ‘CUINSUOD op oUIs|AfTEFsd00> 1 6¢ ‘voWyoUng ~ ode ol Pe “euIsIH — I] ojnyde> 91 ‘orsaBorsiey 9 opisosony"¢ [1 ‘soque8 sop ovsyusedar & uyprjos rsaiduza a esipendea esaudwa *Z {"ouood9 vu oxSnodutos x 2pepoisep: 1 ‘sonusurepung — J of onuns Scrsaneaaes Nnst lartiersuresqeay or Ov60-14ss CLD Xba ~ Bact 1ass (11) s2u0}eA stig 4S ointd OFS 140-L1140 Capit Fundamentos 1, Solidariedade X competi¢&o na economia s, cad: emprego dave ser dispatado por aumerosos pretendentes, cada vaga nia universidede deve ser disputads pornumeroses vestibulandos, € pen faz pelo menor prego; cla faz com queo mathor venga, ‘ques empresas que ‘mais vendem sio as que mais lucrame mais crescem, ao fasio que as que menos vender do prejuizo ¢ se ite a todos nds consumidates ese: do conseguirem mais clientes acabario por fechar. Os qu hor ndem os consurridores so 0s ganhad n S20 03 pardedores! unpave capital ou prestigio profissional, artistioo etc. entram na esmpe- 8. A apologia da igo econémiea com nitide vantagem em relazZo ai ‘shame a atengo apenas para os vencedres, & dentes dos que se arcuineram, empobreceram ¢ i exclufdos, © que acaba produzindo sociedades profundamente desiguais, Pata que civSssemcs uma sociedade em que precominasse a igualdade entre todos os sous membros, seria preciso que a economia fosse solidéria em vez d2 comp que descen- mente prio, ¢ os bancos do trabalho entre empreses e dentro das empres .ssaram uma vez, desempenha tempo desempreza- produto cue tos, assim como os que siic dutos de outras a atividade especializada da qual resulta um 1 utilidade quando complemantado pelos. idades. O médico s6 cons fate com a ajuda dos remédios pelos servigos prestados por hospitai ‘mesmo vale para quem a fils e para netos Os descendentes dos que acumal brvoxg J Bcoxouts S0.106004 Fuxointexros for mal, acumular dividas, todes pacticipam por igual nos 208 C nos esforgos para sala: os débitos assumidos, Se toda economia foss essoas que as compdem. Haveria portarto empresas ganhdc- ras ¢ perdecoras, Suas vantagens ¢ desvantagers teriam de ser pericdieamente igualadas pars nfo se tornarem curcul que exige um poder esatal que redistribea dinheiro dos ganha- ores aos perdedores, usando para isso impostose subsfcios e/ou crédito. (© que imports entender é que a desigualdade nio é natural ca competizao generalizada tampouce 0 é. Ele ea classe que (por nie dis- nte a verda de sua forga de tal é a competiciio e a Ico desses pric, classe de cravalhacores preendimentos soliddrios, sempre haveria necessidade de um ‘com amixsio de captar parte des ganhos acimado ocialmente nesessério para redistribuir essa rec: jnimo considzrado indispensé- entre os que ganham abssixo do: -afreqiientemente aventada para cumprir essa fungio é renda cidad, uma renda bds.ca igual, entregue a todo, qualquer cidadiio pelo Estado, que levantatia o fundo para esta ends mediarto um imposto ce renda progre: 2. Empresa capitalista ¢ empresa solidaria: a repartigao dos ganhos ‘Naempresa capitalis.a, cs smpregados gana conforms uma escala que reproduz aproxinna cada trabalho determinada poh ‘mesmo mudar deemprego ¢ portanto tendem a procur ‘empresas que pagam melhor. E 0s empregadores sto empregadose essimtendem a procurar as que produzem methor. Da interapoentre oferta—os trabalhacores que vendem sua ca- pacidade dle produziz—e demanda ~ asempresas q a am esealonarento de sal ywe acaba por prevale- soria das empresas. Este mest esc ariagdes, na se astonde a curras caract ferengas de pagamento sio objeto de negociagtes ent cde empregaclos e emprogadores,¢ formam planos de clas- de cargos, em que cada nivel & det lo per cri remuneragiio she Econ Se de cade trabalho é 0 incessanie ajuste entre ofesta e demanda desta forga de trabalho. Como hi forte rivalidads entre as carrei- ras, 08 smpregadores do a algumas, que desejam bereficiar, aumentos disfargedos em bOnus, seguro-saiide subsidiads ete. Esperam com isso que os riio.con:emp ‘mesmo beneticio, Ne emptesa so sho passer aexigir 1ndo recebem salério mas ida. Os sdcios decidem 05, ou quase, Mas lérias adota cera desigualdade das retira- las, que acompanha o escalonamento ¥: preses ca- as ompresas solidirias fi ie a menor e a maicr rotirada, As rardes que levam a maioria dos cooperacores a aceitar ceorta desigualdade de tetiradas varia Fuxoanteyros sos, tum edlculo racional: pagar melhor a técnicos e adminis- radores permite’ cooperativa alcangar ganhos maicres que be- 8 s6ci0s, inclusive os que (én retiracas ‘em geral, os menos favoreci ‘empresas ~ capi € solidstias ~, se dem que algummas cateporias de s6cios devernterF res, é de esperar que esta decisio seja benéfiea para eles. E a tegra que John Rawls chama de maximin. “Desigualdades s0 ara, ou a6 mens todas contri- permissfveis quands: clas maxim vase longo prazc do grupo me- 151). ‘a empresa (08 gemhos sic \Grios: os do me’ wxlos tendo em v'sta maximizar 0 Iucro, pois as decisies a |. tespeito sdo tomadas por cirigeates que perticipam nos lueras & -dameagada se a empresa qte dirigem obliver st, Na ma redugo de dx Moadragén Iyropusso A Fcoxantn Sousa ‘empresa solidaria, o escaloramento das reticadas Jos sSci0s, que tm por objetivo assegurar retiradas boas para todos e prineipalmente para a maioria que recebe as menores retiradas. Por isso, na empresa capitalist, os altos dirigentes re- cebem ordenadas mdz prémios genero- empresa soli alk es poder receber as retitadas mais ‘mas elas quase sempre so muito meaores que 08 ordens- dos de seus congénetes em empresas capit canismos ecritérios diferei mento, Na| 5 num e noatre tipo de empree: fa, a decisio sobre a destinagéo do lu- as, quase sempre dominada per crocabe a sssembiéiade aci para fundos de desses fundosé aerescida ao zap) luero & apropriado, imediatamente cu alguns anos depois, pelos acionistas, sempre em proporgo ag ntimero d= ages possufda ‘educacio (dos préprios sCeios ou de pessoes que podera tutta é poste em fundos ce im iva mente para cade sécio, pelo mesmo eritério ce ropartigBo da par- celadas sobras paga em diaheiro. Sabre o fundo erat 2a juros, sempre pela menor tax se retira da cooperativa, ele tem 9 direito de idodos jusos aeleere- I zepresentauma desea 1 no rertence aos sécins queo acumula .s A cocperativa como um todo, Os cooperadores que s° fopds a sua criagao, jam; como fato di Ele notou que os sécios mais an os reeém-chegados & empres: reitcs © vantagens decorrentes vas que novos trbalhadores que varia em geralemire s 160s, inclusive pela fixagzo da cata de capi- O fundo indivisivel sinaliza que estda servigo de seus sScios auais ape ummoucke A Scowow Scuodea Fuxoatentos (referida apenas ao se valorize excessivamente, o guedificultaria vos sScios, Hd casos em que aempresa o rentvel, o que a toma valicsa ne mereado. ‘em que empresas so compradase vendides, Os s6cios mais am tigos podern ficar tentados a vender a ecoperativa aalgumaem- teressada, Se, n3 entanto, uma grandc parte do capital da cooperativa estiver visfvel, esta tentacdo 6 mui mobjetivos diferentes. O mesmo vale paraa destinagzo Iuctos cu sobres. Na empresa capitalisia, pre 1. Na empresa solidria, prevalecem o poder o inte- resse dos s¢cios, cuja maioria em geral ganka menos por consti- tui a base da pirémide re reforgar a solidar ages 2 consultes fluem de baixo pars cima ¢ as ordens ¢ strugSes de cima para baixo. Os trabalhadorzs do nivel mais xo sabera muits pouco além do necessirio para que cumpram fase rotingiras. A medica nierarquia, 0 conhecimento sobre a empresa se porque as tarefas so cada vez. menos repetitivas e exi- \dade por pazte da trabalhador, Nos +9 £0) nto scbre a emprese deveria ser ‘que cabe 2 seus ocupantes tomer Gecistes es- is rumos Futuros. io 6 totalmente realisia porque no consi- ipetisllo enie se:ores © grupos de emprega uados nos nfveis intermediatics ¢ elevados da hierarquia gerencial. Sodretudo em empresas grandes, gruposrivais dispu- conto, cada um deman- dando al para expandir 0 setor em que exeree poder. (Os gerentes da produgo cuerem equipamentos novos para aper: _gerentes de vendas e marketing vs de produgdo, Fa contratar cursos €e A competicio exacerbada entre setores © grup dade do conjunto, pode nto de empresa como ue seria exe: peti vista como essencial para obter o esfargo miximo dos dos. Mas, para ants, seria preciso que el ‘ho sobre oque se passa na empresa, o que a 3répriacompzti¢ao 7 Kernopucio » 1.0 segredo do negécio, que protege a competi- is, é ulilizado tam>ém pelos com- mde suscitar grupados em yoperagtosao, cooperago entre 0s empr famertose sucursais, Competigloe 12 na comperigic; se voc ndo que depend2 de sua aj radigoa irmullas que yeia do pes- Ike permitam extrair o maximo d> trabalho > efi soal empregado, ‘A empresa solidéria se administra democrat ssessidace. Quando ela é grande, assem- ffeil organizar uma intervalos bigins-gecais sio mais racas porque § se rednem para n empre le comtdenadores. encarregacos fe os mesmes. A autcridade maior é a assembléia de todos leve adoter as diretrizes a sorem cummpridas pelos altos da administragio. is Fuso Para que a autogestdo se realize, & preciso que todos 05 se informem do que ocorre na empresae das alternativas dispontveis| le cada problema. Ao longo da em- Po, acumalam-se diretrizes © decises que, uma vez adctadas, servem para resolver muitos problemas freqientes. Mas de ver. ‘em quando surgem problemas que so complexos ¢ eajas solu- mde se preocupar com os problemas empresa. Esse es forgo adicional produz.6t cdo se trata de envi fante quando é precise s2 or pr6 ou contra companheir O maior ini Em geral nio é a diregio da evoperativa que sone aos sécins, sZo estes que preferer \iregao para que ela decid em I 19 Pena de delogados, cue tém que prestar contas ans colegas que representa. ‘A pritice aulogestionsria corre o perigo dese (Os gestores da ecoperaciva enfrentamn fre 's urgentes, que tém de ser r ipo de consultar outros sécias. Nas assembléias, 05 pro- biemas e as sclugSes adotadas pe em diseuti: se a solucdic Se nao houver algo emecionante, é provével aprove razidamente © sem prestar atengao os s informagdes relevantes séveis,cujas assam a se concentra em circulos sel propostas em toda chance de seraprovaclas, pel 9 que diz. que ecoperativas que vio mal F2- e ser cocperativas. Como gene- a diregao é substi 1em pedem vir a apresentar 0 quadto of esorgo concentra 0 pocer de decisio de ‘empresa escomrega sem perceber parauma pritica de hetzrogestio. ‘Mas ruitas ecoperativas que tém autogestio, pois seus sécios fazer cerios: porque gostam ce participare se realizam ra ‘outro modo de produgie. 20 (O perigo de degeneragiio de pratiea autogestionéria vem, em grande parte, da insuficiente formagio cemceritiea dos s6- cos, A autogestio tem como mérito principal nto a: econdmica (nesessiria em si we proporciona gos: nes o desenvolvimiento humano gure, para isso que vate « pena se erapenhar aa econ) solidaria, Acomtece que, at€agora grande pace dos esoperadctes cooperat As pessoas no sio racuralment assim como niioo sto Ahe:erogestio. Po.cos o nearrente: ‘© que Thes passa accncezer se deixarem de ay Tes, Aprende-se z obedecere temeros “superiores’ desd Sto por acaso apa vogo de outros a Iytaopucho A Ecoxe ssa cargg alienante 6 sacudida quardo a pessoa se envalve ev iutas emancipar6rias, que desafiam a ordem vigente: greves, nanifescagies de protesto, reunides de comunidades eclesiais de ase, ocupagdes de terra visando 4 revorma egrariae muitas ou- 1m os iguais, insurgir-se contra a sujeigio ea wuem experiéncias redeatoras, Quando reizera- tras, Irmanar-se. exploragio co: as, modificam 0 comportamento sccia! das sujeitos. Bn empresas solidrias, autogestao se pratica tanto mais au igiosos, As lutas emencipat as alteramas in: do praticas demoerivieas 2 banindo as politica, cucras conqui 5 pele revolugic feminina, que esti abo- que esté acabando com a re eres (ado ura pximero erescerte de pressiio sexual dos sobre:udo das nao), Da mesma .e demsera:iaands: sindicates, partidcs, escolase universidades, ce Esses evangos antiaucori-drios e democritices fazem com que as novas geragées sejam menos reprimislase passivas que as de seas clentificos. izrejs ete pais © avis 2 ‘Tudo isso provavelmente esté por detrds do atual surto de autogestio em qaase todos os campos de interagiio social. Cres- ce o-ntimero de pessoas que se acestumaram a eleger autorida- des, desde o grémic estudent Faculdades ¢ departamentos na , Sindicatos e associagSes ais até prefei- tos, governadores c presidantes da Republica mais trabalhar sob 2s ordens de che' interesse —0 luero- a vidades desenvolvidas na empresa 1 datas é a econdmica que serves ser eficiente em fornar empresas eapitaistas comperitivas © 6 oque seus donos almejam. A autagestio pron mente produtivas gue é o que seus seis precisam,

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