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Zygmunt Bauman O Mal-Estar da Pés-Modernidade Tradugio auto Gama ‘Clusia Martinel: Gara Revisto ténica Lajs Carlos Fridman Prfeszor adja do Dept. de Sociologia ke Universidade Federal Fanzone (UFF) Jonge Zahar Editor Ri de Jeo Si crn 1 ste omar aca bpseene Reena A erg soning es pcg, oto ter yan comtit apa do cpp (Lt 38) or, ane tne sg i ae yet Sumério Introduséo: O mal-estar — modemno ¢ pés-moderno, 7 © sonbo da pureza, 13 ILA criagio ¢ anulasio dos estanhos, 27 " 3 esteanhos da era do consume: do estado de bemestar & piso, 49 INA moralidade comega em eas ‘uo fngteme caminho para a justia, 62 \.Amivstas e périas: ‘os herbs © a vtimas da modernidade, 97 V. Taras ¢ vagabundos: (0s herbs © as vitimas da pos-modernidade, 106 iL A arte pi-moderna, ‘va impossibilidade da vanguarda, 121 YL © significado da arte e a ate do significado, 137 1% Sobre a verdade, a fiegdo ea incerceza, 142 XA cultura como consumidor cooperative, 160, 26, Sobre a redistribuigso ps-moderna do sexo: 4 Histéra da sesualdade, de Foucault, revisitads, 177 2a, Imontalidad, na versio pés-modera, 190 2, Reigito pbs-moderna?, 205 a Sobre o comuntarismo ea lberdade humana, ‘ou como enquadrar 0 eiculo, 231 Posficio: A tims palavra — Notas, 259 Indice remissiva, 269 ela pentence & libertad, 246 INTRODUGAO, © mal-estar — moderno e pés-moderno Em 1930, foi publicado em Viena um lio chamado, iniclalmente, Das Unglick in der Kultur (A infelicidade na cultura) e depois rebatizado como Das Unbehagen in der Kultur (Q.malesta: na ee ada a tradugao inglesa — para 2 qual Prevd suger 0 ilo Man's Discomfort in Cviaion (0 maestas do bomem na cl 23630). Come nos informa o editor inglés de Freud, James Strachey 2 tadutora inglesa do liv, Joan Riviere. por algum tempo wabalhov. ‘em ver disso, com o conceito de malaise, mas finalmenteescolhed © titulo Civilization and its Discontents (gue ficou consagrado em Portugués como O mal-estar na cuilzaedo). E sob esse titulo que © provocador desafo de Freud ao folelore da modernidade penetrou em nossa conscignca coletiva e,afinal, modelou 9 nosso pensamento 2 propésito das consequéncias — intencionals © nlo-inlencionais — da aventura moderna. (Sabemos, agora, queer histria da madernidade ‘que o livrocontava, ainda que seu autor prefeise falar de Kultur ou Civilzagio. S6 a sociedade moderna pensou em si mesma como ua nividade da "cult ag30" ¢ ap sobre esse auloco necimento com os esutados que Feud passou aestudar, aexpressio “civilizagio modema” &, por essa razi, um pleonasmo.) ‘Vocé gana alguma coisa mas, habitualmente, pesds om toca alguma coisa: pari daa mensagem de Freud. Assi como “cultura (ou “civilizga0". moderidade € mais ou menos beleza ("ssa coisa Init que esperamos ser valorizada pela ciilizagio"),limpers (2 sujeira de qualquer espécie parece-ns incompaivel com a civiiza 40") eordom ("Ordem & uma espécie de compulsio A repetigto que ‘Quando um regulamento foi definitivamenteestaelecido decide quan do, onde como uma coisa deve ser feita, de modo que em toda ‘icunstincia semethantenio hajahesitagso ou indevisio"). A elera (sto 6, tudo 0 que dé sublime prazer da harmonia © perfeigao de forma), a purezt ea ordem sio ganhos que nfo devem ser desprezados © que, certamente se abandonades, ido provocerindignagao, ress ‘éneia e lamentago. Mas tampouco devem ser abtidos sem 0 paga- ‘mento de um alto prego, Nada predispie “nturalmente” os eres hhumanos a procurar ou preservar a beleza, conserve limpo e ‘observar a rotina chamada ordem. (Se eles pafecem, aqui e apresentar ta “nstinto, deve ser uma inclinagdo crada ¢ adguiide ‘ensinada, sinal mais cero de uma civliagdo em alividade.) OS Seres humanos precisam ser obrigados a respeitare apreciar a harmo nia, a limpeza e a ordem. Sua liberdade de agir sobre seus proprios ‘mpulsos deve ser preparada. A coergio & dolorosa: a defesa contra © sofrimento gera seus proprios sfrimentos. "A clilizagio se constr sobre uma renincia 40 instinto.” Esp cialmente — assim Fread nos diz — a civilizajo (lease: a moder. nidade) “ime grandes sariicios” a rexualdade c agressvidade do hhomem. *O anseio de lberdade, portant, ¢ drigide contra formas € fxigéncias partculaes da eivilizaga0 ou contra a civiizagdo como tum todo.” E no pode ser de outra maneira, Os prazeres da vida civilizada, ¢ Freud insist nis, vem num paeote fechado com os Softimentos, a satistagéo com o mal-estar, a submissdo com a rebelito, A civilizagdo — a ordem imposta a uma humanidace natralmente ora e iresistivel. Quase todas as fantasias modernas de um “mundo bom foram em tudo profundamente animoderas, visto que vsua lizaram o fim da histria compreendida como um processo de mu ange, Walter Benjamin disse, da moderidade, quc ela nasceu sob © Signo do suicidio; Sigmund Freud sugsriu que ela foi drgida por ‘Tinatos —o instinto da more. As utopias modernas dferiam em muita de suas pormenorizadas prescrigdes, mas todas elas concord ‘vam em que 0 “mundo pereil” seria um que permanecesse para sempre idéntico 4 si mesmo, um mundo em que a sabedoria hoje ‘prendida permaneceriasdbia aman e depois de amanhi, e em que 4 hablidades adguirdas pela vida conservariam sua vlldade para sempre. O mundo retrtado nas utopias era também, pelo que se esperava, um mundo transparente — em que nada de obscuro ou Impenetrivel se colocava no camino do olhar, um mundo em que agasse @ harmonia: nada “fora do lugar"; um mundo sem um mundo sem estranos. 'Néo € surpreendente que em toda a idade moderna haja uma estrita correlago entre a propor, a radicaidade da “ordem nova e final” imaginada sonhada e experimentada na pritica,e a paixio com que “o problema dos estranhos" for abordad, assim como a severdade 4o tratamento dispensado aos estranhos. © que era “ttalitéra” nos programas politicos toalittos, cles proprios fenbmenos totalmente rmodernos, era, mais do que algo além da abrangéncia da onder que les prometiam, a determinagao de no deixar nada a0 acas0, & Simplicidade das preserigdes de limpers, ea meticulosidade com que cles atacaram a tarefa de remover qualquer coisa que colidisse com 6 postulado da pureza As ideologis totalitrias foram notiveis pela propensio a condensar 0 difuso, localiza o indefinvel, transformar ‘inconrolével num alvo a sew aicance e, por assim dizer, & distinc ‘de uma bala, A angista dsseminadse ubigua exalada peas ameagas Jgualmentedisseminadas e ubiquas & amplitude e ao senso da ordem fos, assim, estetada © comprimida de mancira que pudesse ser “manipulada”e profusamente repartda num nico © dito procedi ‘mento. O nazismo e 0 comunismo peimaram por impelir a tendincia ‘otaliéia a seu extremo radical — 0 primero, condensando a com- plexidade do problema da “pureza", em sua forma moderna, 10 da pureza da raga, o segundo no da pureza de classe. No entanto, 05 Snseiose pendorestolaitirios também toraram sua presenga vis, conguanto de uma forma levemente menos radical, a tendéncia do, stad nacional modemo como tal a escorarereforgr a uniformidade 4a cdadania do estado com a universlidadee abrangéncia da Tigo nacional. Por motivos que analisiahurese que sio complexose numero demais para serem registrados aqui, a tendéncia a coleivzare cen talizar as atvidades de “puriicagao” destinadas & preservagao da pureza, enquanto de modo algum extintas ou exauridas, em nosso tempo tendem a ser cada ver mais subsituidaspelasestratégias de destegulamentaraoeprivatizagio. Por um lado, observamos em muitos lugares uma crescent indiferenga do estado para com Sua antiga trea de promover um modelo de ordem tanto singular como abrangente, ‘© a cquanimidade sem precedenes com que a presenga coajumta de virios. desses modelos & contemplada pelos poderes vigentes. Por ‘outro lado, pode se distnguir 0 deelinio do “impulso para adante” Wo erucial para 0 esprito moderno, 0 afrouxamento da moderna fuerra de arto empreendida conea a tradi, a falta de entusssmo (ou mesmo de ressentimento) pelos esquemas que tudo incluem da fordem decretada e que prometecolocar ou fxar tudo em seu lugar —e, na verdade, o aparecimento do interesse sul generis conferido 2 diversificagdo persistent, 2 subdeterminaglo, 2 "desordem” do ‘mundo. Um nimero sempre crescente de homens e mulheres pismo. ‘derns, a0 mesmo tempo que de mado algum imunes 30 medo de se petderem, e sempre ou tuo fequentementeempolgados plas repetidas ‘ondas de "nostalgia", acham a infixidez de sua stuagio sufeiente- mente arava paraprevalecer sobre aafigho da incertra, Deleita-se na busca de novase ainda nlo apreciadas experiéncias, sto de bom ral seduridospelaspropostas de aventura e, de um modo geral a ‘qualquer fixagio de compromisso,preferem ter opgbes abertas. Nessa rmudanga de disposigao, sio ajudadose favorecidos por um mercado inteiramente organiaado em torne da procura do consumidore vigo- rosamenteinieressado em mantet essa procura permanentemente in fatisfeita, provenindo, assim, a ossifcasa0 de quasquer hibitos ad ‘uirdos, eexeitandoo apetite dos consmidotes para Sensagdes cada ‘ez mais intensas e sempre novas experiencias ‘A conseqiencia desa transformagio, mais relevante pars 0 n0ss0| tema, foi bem captada por Georges Balandier: “Aujoutdhu, (Out se broil es frontiers se deplacent, les categories deviennent confuses Les differences perdent leur encadiement; elles se dmuliplient, elles Se trouvent presque &I'éat libre, disponibles pour la composition de ‘ouveles configurations, mouvantes, combinables et maniplables"™ 'As diferengas se amontoam umas sobre a8 outs, distingbes ante- riogmente n8o.consideradas relevantes para 0 esquema global das cists e portanto invisives agora se impaem 2 tela do Lebenswelt Diferengas outrora consagradas como nlo-negeciéveis so langadas Inesperadamente no melfing-pot ou se tornam objeos de disputa. {Quadros de comptigso se sobrepaem ou colidem, excluindo toda ‘oportnidade de iam mapa de levantamento topogrifico “oficial” € ‘oniversalmenteaglutinante. No entanto, uma vez que cada esquema de pureza gera su propria sujeirae cada ordem gera seus propeios ‘strnhos, preparando @esiranho & sua propria semelhanga e medida ~ o esranho, agora, é to resistente & fixagio como a0 proprio espaso social: “L’Autre se révble muliple, localsable partout, changeant Selon les circonstances.” Sers que isso pressagia 0 fim do sacrffio © martio do estranho, a servigo da pureza? Nio necessariamente, a0 contério de muitas, apologias da nova toleincia pés-moderna, ou mesmo de seu suposto amor 8 diferenga, No mundo pés-modesno de estlos © padrbes de ‘ia livremente concorretes, hi ainda um severo teste de preva que se requer soja transposto por todo aque que solicite ser all admitdo: tem de mostratse capa de ser seduzido pela infnita posibildade € Constante renovagio.promovida pelo mercado consumidor, de se egozijar com a sorte de vestr e despiridentdades, de passa a vida ra cagaintermindvel de cada ver mais itensas sensagoes e cada Vez ‘mais incbriante experiéncia. Nem todos podem pass nessa prov ‘Aqueles que mio podem s8o 4 "sueira” da pureza péx-moderna. Uma vez que ocritrio da preza€ a aptido de paiciar do jogo consumista, 9 deixados fora coma um “problema coma a "su fue precisa Ser removida, S30 consumidores falhos — pessoas inca pzes de responder aps atativos do mercado consumidor porque Ines faliam os recursos requeridos,pessous incapazes de ser "individuos livres” conforme o senso de “liberdade” definido em funga0 do poder de escolha do consumidor. Sio cles os novos “impuros™ que nao se sustam a0 novo esquema de pureza. Encarados a panit da nova perspectva do mereado consumidor eles $80 redundantes — verde Seiramente “objetos fora do lugar © servigo de separa e eliminar esse refugo do consumismo é, jcomo tudo 9 mais no mundo pos-moderno, desregulamentado © prvatizado. Os centios comercais e es supermercados templos 40 ovo credo consumista, ¢ 0s estdios. em que Se dispula 0 jogo do, consumismo, impedem a entrada dos consumidores falhos. @ suas Dropras custas, cexeando-se de cdmeras de vigilincia, alarmes eleto= nicos © guardas fortemente armados: assim fazem as comunidades ‘onde 0s consumidores aforunados e felizes vivem e desfrutam de suas novas liberdades; assim fazem os consumidores individusis, fenearando suas casas e seus caros como murals de fortalezas permanentementesitiadas. -Essas preocupagdes destegulamentadas, privaizadse difusas com 1 preservagdo da pureza da Vida eonsumista também aparccem jun- ‘amente em duas exigéncaspollicas contradtrias, mas mutuamente nos visu s80 dean © conduc. A “ mata dep mere ‘questo jf mio é como se livra dos estranose do diferente wma vez Por todas, ou delarar a dversidade humana apenas uma inconvenién ia momentinea, mas como viver com a allenidde, dra e perma: Inentemente, Seja qual for aestratégia realista de compeigio com © dng viet To consitemeney com tn acon Ay ues Enpotteadecanpantastosimuttaramante ass ore mares fs aclctar Tastes © Taber que melhores parca apecicas sto, fe Yao, avai © espocfca; que clan esolvem.ponemas, lo SSioionam quesies; uc nenuna ds melhor tom peoabiidaes, de concluir a hist6ria da “longa marcha da humanidade para a justiga” conn o press seu fim vos: qu oda meio cert ‘inna to deca eainsnea quanto er mets arnove enor to mltante quanto sts conta td retracts ‘Somente quando sabemos tudo iso 0 desjo de jst digs de or nse sas pera ds pegs ‘9 da auto-satisfacb, Teds [Nesse aspecio crucial, o imbito da justiga no dere do mbito da responsabilidad moral ele relém lado os tragosestencais integral: vo erates de ptmeesiade ‘mente formados jf na “cena moral primordial”. Amos 0s dominios, ‘Sho reinos da ambivaléncia; ambos so manifestamente desprovidos de solugdes patenteadas, remédios iscntos de efeitos coateais e Imovimenos Isentos de riscos: ambos necesstam dessa incerteza, carierinconclusvo, subdeterminario e ambivalénca para manter 0 impuso moral eo dase de justiga eternamente vivo, vigilante © — sua maneia lmitada e menos que perfeta — eficaz. Ambos tm tudo a gankar, nada a perder porter conhecimento de sua endémica « incurivel ambivaléacia, e por se abster de uma cruzada aniamb ‘alncia (anal, suicida). E, portato, é em sua forma nunca conclu ‘iva, nunca verdadeiramente satsfaéria e cronicamente imperfeita, ‘em seu estado de perpétua ato-indignacto. que ajutia parece melhor orresponder& deserigho de Levinas, como a projegio de seaimentos, moras sobre a ampla tela da sociedad. Tanto a moralidade quanto ajustiga (ou, como prefeiiam alguns, 1 micro-tica e macro-ica) slo fii a seu nome somente como condigSes contingentes e projetos cnscios de sua contingécia. las, So ligndas por essa semelhanga tanto quanto so ligadas genetics ‘mente. Permitam-me repetir que a cena moral primordial, a reunito ‘oral de dois, € 0 terteno em que se cultiva toda responsabilidade para com 0 Outto eo terreno de aprendizado para oda a ambivaléncia, ecessaramente contida na pressuposicdo dessa responsbilidade Sendo assim, parece plausivel que a chave para umm problema to ‘vasto quanto a justia socal reside em um problema tio ostensiva mente) diminuto quanto 0 ato moral primordial de assumie responsa bilidade para com o Outo proximo, & poquena distincia — para com 1 Outro enquanto Rost. E aqui que a sensiildade moral nasce € tganha forg, até se fralecer 0 sufleiente para suportar @ fardo da ‘esponsablidade por qualquer caso de sofrimentoeinfornio humane, Sseja 0 que for que a5 reras legais ou pesquisas empiricas possam revelar sobre os seus vinculoscausase a partilha “objetiva” de culpa v Arrivistas e pdrias: os herdis e as vitimas da modernidade Socialmente, a modemidade wata de pudeOes, esperanga e culpa Padrdes — que acenam,fascinam ot icitam, mas sempre se exten: ‘endo, sempre um ou dois passos 8 frente dos perseguidores, sempre svangando adiante apenas um pouguinho mais ripido do que os que lhes vio no encalgo. E sempre prometendo que 0 dia sepuinte seri melhor do que o momento atual. E sempre mantendo a promessa viva imaculada,jé que o dia segunte tera ctemamente um dia depois EE sempre meselando a esperanga de aleangat a terra prometida Com 4 culpa de nlo caminhar suficientemente depress A culpa protege a frusragio; a esperangaeuida para que a culpa nunca estangue. "homme est coupable" observou Camus, este snigual velmente perspicaz coreespondente da terra da moderidade, "mai st de n'avoi su trer de lui-méme." Psiguicamente, a modernidade wala da identidade: da verdade de 8 existincia ainda ndo se dar aqui, ser uma area, uma missdo, uma responsabilidade. Como o estan dos padrdes, a identdade perma: rece obstinadamente 4 frente: & preciso corteresbaforidamente para leangi-ta. E, portato, se corre, puxado pela esperanga e impelido pela culpa, embora a’ corida, por mais cpida que seja, parega esranhamente arastada, Pecipita-se para a frente, em diregso 2 idenidade perpetuamente tentadora e perpetuamente inconsumad assemeiha-se a recuar da defeituosa c leita realidade do present. “Tanto social quanto psiquicamente, a modernidade € irremediave- ‘mente auiocrtica um exerci infindivel eo fim, sem porspectivas, ‘de autocancelamento e auto-invalidaglo. Verdadeiramente moderna ‘lo € a presteza em retardar 0 contentamento, mas 3 impossibildade ‘de fear contente. Toda relizagio € meramente uma paida cdpia do

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