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FRANZ VICTOR RUDIO INTRODUGAO AO PROJETO DE PESQUISA CIENTIFICA FICHA CATALOGRAFICA CIPBrasit Catalogagdo-na-fonte Sindicato Nacional dos Baltores de Livros, RJ Ral, Franz Vicor RAZ nkrodugto wo projet de psguisa cetica / Franz Visto Rudo. 34. el.~ Petropolis, Vors, 2007 Apendice: Um modelo dito para o projeto ISBN 978859260027-1 Bibligraa. 1 Pesquisa. L Tilo ‘COD - 001.43 y EDITORA COU - 001891 VOZES Petrépolis © 1078, Baltora Vozes Lida. Rua Frei Luis, 100, 2589-900 Petrépolis, RI Inweres: hip: /wnwwvozes connor ‘ods os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra podera ser reprodusida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (cltrénico ou meednico, incluindo forocdpiae wavaglo) ‘ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissio escrita da Editor, ISBN 978-85-326-0027-1 Eat liv fi cornposto impress pela Editors Vores Lid Ra re bus, 100, Petropolis, RJ ~ Basil CED 25689.900 ‘Caixa Postal 90028 Tel: (24) 2233-9000 Fac: (24) 2231-4676, SUMARIO INTRODUGAO, 7 ‘CAPETULO I: O PROBLEMA METODOLOGICO DA. PESQUISA, 9 1. Nogdes preliminares, 9 2. Conhecimento da realidade empfrica, 9 3. Caracteristicas do método da pesquisa cientifica, 16 CAPITULO Il: COMUNICAGAO E CONHECIMENTO CIENTIFICO, 22, 1. Nog 2. 0 uso de termos, 24 preliminares, 22 3. A definigao de termos, 29 CAPITULO It: A OBSERVAGAO, 39 1. Nogées preliminares, 39 2. A observagao assistematica, 41 3. A observagao sistematica, 44 4. A observagaio documental, 48 CAPITULO IV: 0 PROJETO DE PESQUISA, 53 1. Nogies preliminares, 53 2. Como elaborar um projeto de pesquisa?, 55 3. Populagao e amostra, 60 4, Exemplos de modelos para projetos de pesquisa, 65 CAPITULO V: PESQUISA DESCRITIVA E PESQUISA, EXPERIMENTAL, 69 1, Nogdes preliminares, 69 2. Distingdo entre a pesquisa descritiva € a experimental, 71 3. O experimento, 75 CAPITULO VI: © PROBLEMA DA PESQUISA, 87 1. Nogies preliminares, 87 2, O tema da pesquisa, 89 3, Formulagzo do problema, 93 CAPITULO VII: © ENUNCIADO DAS HIPOTESES, 97 1. Nogdes preliminares, 97 2. A hipétese: guia para a pesquisa, 98 3. A hipotese estatfstica, 105 CAPITULO VIII: COLETA, ANALISE E INTERPRETACAO DOS DADOS, 111 1. Nogies preliminares, 111 2. Instrumentos de pesquisa, 114 10 dos dados, 122 3. Anallise ¢ interpretag CONCLUSAO, 130 APENDICE: MODELO DE UM PROJETO DE PESQUISA, 132 BIBLIOGRAFIA, 143 INTRODUGAO iets a: ec aos innate We GUE ‘tio se iniciando no estudo de métodosetéenicas de pesquisa clentifica, E seu objetivo € servir de roteiro para ajudar os slunos a acompanharem as explcagées e outras orientagSes ddadas pelo professor. © nosso intuito é apresentar, de maneira simples, as nogoes basicas necessérias a elaboragao de um projeto de pesquisa. Faremos continuamente indicagdes de como se executar uma pesquisa; entretanto este procedimento tem. apenas a fungio de mostrar como se prepara um projeto, Talvez, devéssemos ainda acrescentar: o meio mais eficaz de alguém realizar uma boa pesquisa € elaborar um bom projeto da mesma, Deve ser permanentemente lembrado pelo leitor 0 cardter introdut6rio deste nosso estudo e que esté lidan- do com nogdes elementares, cuja finalidade € serem ultrapassadas pela reflexao e experiéncia, em busea de maior profundidade. No comego, este trabalho foi mimeografado, Alguns colegas tiveram a delicadeza de utiliza-lo em sala de aula, Tanto destes como de outros, que tiveram a bondade de le-lo, recebemos valiosas eriticas e sugestes que serviram para refundi-lo e apresenté-lo, tal como aparece agora, esperando novas eriticas € sugestdes. Como se torna im- possivel, em to pequeno espago, dizer da contribuigaio de cada um, manifesto a todos, de maneira global, os meus inceros agradecimentos. E se for verdade, como disse- ram, que este livro sera atil aos alunos (e de fato para isto foi feito), penso que tima das mais gratas recompen- sas € saber que os esforgos de colaboragao beneficiaram a quem se desejava AUTOR CAPITULO! O problema metodoldgico da pesquisa 1. Nogies preliminares “Pesquisa”, no sentido mais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. A fim de merecer o qualificativo de cient fica, a pesquisa deve ser feita de modo sistematizado, utilizando para isto método proprio ¢ técnicas especificas € procurando um conhecimento que se refira & realidade empirica. Os resultados, assim obtidos, devem ser apre- sentados de forma peculiar, Desta maneira, a pesquisa cientifica se distingue de outra modalidade qualquer de pesquisa pelo método, pelas técnicas, por estar voltada para a realidade empirica ¢ pela forma de comunicar 0 conhecimento obtido. Vejamos agora, numa visio resumida e de conjunto, ‘6 que significa cada um destes conceitos: a) comhecimento da realidade emptrica © b) caractertsticas do método de pesquisa cientffica. E, no capitulo seguinte, veremos ¢) co- ‘municagao e conhecimento cientifico. 2. Conhecimento da realidade empirica © termo “realidade” se refere a tudo que existe, em oposigao ao que é mera possibilidade, ilusao, imagin © mera idealizagao. “Empirico” refere-se a experiénei Chama-se de “realidade empirica” tudo que existe e pode ser conhecido através da experiencia. Por sua vez, “expe- rigncia’ € 0 conhecimento que nos é transmitido pelos sentidos ¢ pela consciencia. Fala-se de “experiencia exter- na” para indicar 0 que conhecemos por meio dos sentidos coxpéreos, externos. A “experiencia interna’ indica 0 co- nihecimento de estados e processos interiores que obtemos através da nossa constiéncia. Denomina-se “introspecyo” ’ ago de conhecer pela experiéncia interna o que se passa dentro de nds, A realidade empfrica se revela a nds por meio de fates. Este termo ~ “fato” ~ possui diversos significados. Nos 0 usaremos para indicar qualquer coisa que existe na reali- dade. Assim, por exemplo, este livro € um fato. Mas, também, € um fato que o leitor esta lendo este livre. AS palavras que se encontram escritas neste livro sao fatos, Mas nao sao fatos as idéias que elas contém, pois ndio existem na realidade. Quando 0 leitor, vendo as palavras, age mentalmente para transformé-las em idéias, a ago que est realizando, de elaboragao mental, torna-se um fato, O livro, as palavras que o livro contém ¢ o leitor esta Tendo este livro sao fatos percebidos pela experiencia exter~ na, A elaboragao mental, pela qual as palavras se transfor mam em idéias, € um fato que pode ser percebido pela experiencia interna. Utiliza-se freqiientemente a expressdo “isto €um fato” para se afirmar que algo € verdadeiro. Ora, na cigncia um ae nao é falso € nem verdadeiro: ele € simplesmente 0 Nao tem sentido, por exemplo, alguém dizer que é fhlso ou verdadero o fato de que a 4gua do mar ésalgada (© que, no entanto, pode estar certo ou errado é 0 conhe- cimento ow a interpretago que alguém tem de um fato, p- ex., supondo que a Agua do mar era doce quando, real- mente, é salgada ‘Ohomem pode produzirfatos eisto acontece intimeras vezes na rotina de cada dia como, por exemplo, cumpri- 10 mentar alguém, vestir-se, alimentar-se, ete. 0 homem. muitas vezes cria fatas com a nica finalidade de estudé- los, como acontece, por exemplo, nas situiagdes experi- mentais de laboratério. Entretanto uma grande parte dos esforgos, realizados pela ciéncia, destina-se ao conheci- mento de fatos que jé existem, produzidos pela natureza, que o homem ainda desconhece ou, pelo menos, nao sabe todo o alcance de suas implicagdes. Neste caso, a pesquisa € utilizada para fazer “descobertas”. Revelagdes como estas foram manifestadas, por exemplo, quando se deu a conhecer que a terra é redonda, que gira em torno do sol, {que hd organismos microscépicos causadores de fermentagao ede doengas infecciosas, ete. Kohan lembra que “0 objetivo principal de uma cié ia, mais do que a mera descrigao de fendmenos empiri €0s, € estabelecer, mediante leis ¢ teorias, os princfpios gerais com que se pode explicar e prognosticar os fend- menos empfricos” A preocupagio da cigncia gira em torno de fendmenas ‘empiricos, Para alguns o termo “fendmeno” indica apenas um sindnimo para “fato’. Entretanto, pode-se estabelecer ima distingio, dizendo-se que “fendmeno” € 0 fato, tal como € percebido por alguém. Os fatos acontecem na reali~ dade, independentemente de haver ou nao quem os conhe- a. Mas, quando existe um observador, a pereepgdo que este tem do fato € que se chama fendmeno, Pessoas diversas podem observar, no mesmo fato, fendmenos diferentes. Assim, por exemplo, um jovem viciado em drogas pode set visto por um médico como um fendmeno fisiolégico, por um psicblogo como fendmeno psicolégico, por um jurista como fendmeno juridico, ete 1. Nuria Covtado de li anal pan a emote.» p 13 Pode-se falar em “fendmenos ocultos” ou “sobrenatu- rais’, mas estes nao interessam a ciéncia, pois nao fazem parte da rcalidade cmpiriea. Oa que intcressam cabem numa faixa muito ampla e sdo, por exemplo, os fendmenas {fisicos (como 0 frio, © calor, etc.), 08 fisioldgicos (como a secrecao glandular, a contrago muscular, etc.) os sociais (como interago, migragao, etc.), os psigiticos (como per- cepede, emogao, ete.) ¢ qualquer outro suscetivel de ser observado, quer direta ou indiretamente. Pode alguém dedicar-se & pesquisa cientifica apenas para verificar a presenga ou auséncia de um determinado fenémeno ou ento com o intuito de compreendé-lo me- Ihor a fim de deserever adequadamente stias caracteristi- cas, natureza, ete. Assim, por exemplo, um cientista social pode estar interessado em estudar o casamento entre esquimds para dizer em que consiste ¢ como se faz, para identificd-lo ou ndo com um determinado modelo, O trabalho cientifica, no entanto, assume geralmente uma outra dimensdo. Ogburn ¢ Nimkoff lembram que “uma {grande percentagem (destes trabalhos) é mais do que uma simples descrigio de fendmenos. Grande parte se refere & rclagio entre dois ou mais fendmenos, como, por exemplo, as relagdes entre condigdes econdmicas e indices de casa mento”. E dizem, ainda: “um problema corrente sob este aspecto é determinar a cauisa do fendmeno”? Quer procurando descrever 0 fendmeno ou, entdo, tentando explicar a relagao que existe entre eles, a ciencia no esta preocupada com casos individuais mas sim com generalizagdes. Dedica-se aos casos particulares, no intuito de compreender o conjunto de individuos que participam da peculiaridade do caso estudlado. Este modo de proceder € denominado, pela ldgica, de “indugao”. Consiste numa 2. Wiliam F Ogburn e Meyer F Niko, Saco, p. 19. R operagio mental em que, a partir de fatos observados na realidade empirica, chega-se a uma proposigo geral que se enomina “Ie”, que € uma condensacao de conhecimento, determinando como os fatos acontecem e sdo regidos. Mas, neste processo de elaboragao, a citncia precisa também utilizar, além do procedimento indutivo, outro modo de operar lgico, que se denomina “dedugdo”, Esta € uma forma de raciocinio em que se parte dos principios para conseqiiencias logicamente necessdrias, ou seja, do geral para 0 menos geral ou particular. £ dedutivo, por exemplo, ‘0 raciocinio que se faz assim: todos os alunos desta classe so estudiosos, Jodo € aluno desta classe. Logo ele € estudio so. Eé indutivo o que se faz. desta mancira: Pedro é estudioso © € aluno desta classe, Antonio é estudioso e ¢ aluno desta classe, Joaquim € estudioso ¢ € aluno desta classe, José... Logo todos 0s alunos desta classe so estudiosos.. Através das leis que procura estabelecer, a ciéncia pretende construir, de forma dinamica, um modelo inteli- _givel ¢, ao mesmo tempo, o mais simples, preciso, completo € verificével do mundo em que vivemos. Este modelo deve ser também eficaz no sentido que ajude a fazer previsdes © a utilizar meios apropriados para controlar os fenome- nos. E, para estabelecer as eis, a ciéncia formula hipsteses, {que so suposigdes para orientar 0 pesquisador na busca ena descoberta dos fatos das relagdes que existem entre cles. Se a formulagdo da hipétese preencher determinadas condigdes e se for verificada, transformar-se-4 entdo em lei. Diz. Bunge que “uma hip6tese cientifica é uma formu lagao de lei se e somente quando: a) € geral sob algum aspecto e com algum alcance; b) se foi confirmada empi- ricamente de modo satisfatorio em alguma area; ¢) per~ tence a algum sistema cientifico”.? 3. Maio Bunge, La iveligactn cet, p. 393. 1B Um conhecimento mais amplo a respeito de fatos ou de relagao entre fatos jé nao € mais lei mas é uma feoria Este termo ~ tcoria ~ € treqiientemente utilizado na lin ‘guagem vulgar para se opor ao que é “pratico” e poss portanto, conotagdes especulativas. Na ciéncia ndo é a sim. Ele se refere a um modo de organizar os fatos, explicando-os, estabelecendo relagdes ¢ dando oportuni- dade de serem utilizados para previsdo e prognéstico da realidade. Dizem Selltiz.¢ outros que, de modo geral, ‘a intengdo de uma teoria na ciéncia contemporanea ¢ suma- riar 0 conhecimento existente, apresentar a partir de principios explicativos contidos na teoria, explicagao para relages ¢ acontecimentos observados (fatos) bem como predizer a ocorréncia de relagdes € acontecimentos ainda nao observados”.' ‘Na citagdo acima de Ogburn e Nimkoff foi dito que um dos mais importantes interesses da ciéncia ¢ determinar a causa dos fendmenos. Convém explicar 0 que este termo significa na ciéncia, Geralmente, no sentido vulgar, acausa se refere a um s6 fator, que supde-se ter “Forga” suficiente para produzir determinado efeito. Assim, por exemplo, diante de um jovem neurdtico, alguém perguntava: “a causa disto nao ¢ 0 fato de ele ter perdido a mae, quando ainda era muito pequeno”” Na ciéncia nao se espera que uma causa, sozinha, seja suficiente para produzir fendmenos. Mas necessirio haver uma conjuncao de causas que, influenciando-se mutuamente, criem uma situagdo onde o fendmeno € capaz de manifestar-se. Assim, um dos trabalhos muito importantes, em plano de pesquisa, é definir 0s fatores que estdo presentes ¢ influenciam a situagdo. Para que 0 assunto seja melhor compreendido, vamos aproveitar um. 4. Selle, Jahoda, Deutsch, Cook, Metados de essa,» 540. u exemplo dado por Selltiz e outros a respeito de um fend- meno — vicio com entorpecentes —a fim de considerarmos {as causas que criaram a situagao.? ‘uma causa é necessdria quando, sem ela, 0 fendmeno no pode ser reproduzido; p. ex.: experimentar o entorpe- cente ¢ causa necesséria para 0 vicio, pois sem experimen- ta-lo 0 individuo nao pode ficar viciado. A causa suficiente €aquela que, colocada, produ inevitavelmente o fenome- no, p. eX.: 0 vicio prolongado em entorpecentes produz disttrbios psicolégicos. Uma causa pode ser necesséria sem ser stficiente. Assim, p. ex., experimentar entorp cente nao leva o individuo necessariamente ao vicio, po hd pessoas que © experimentaram, sem ficarem viciadas, Outros tipos de causas sdo contribuintes, contingentes © alternativas. As primeiras sio as que aumentam a probabilidade (contribuem) do aparecimento do fendme no, sem garantir que inevitavelmente surgira. Estudos feitos com familias de viciados constataram que a ausén- cia da figura paterna no lar, durante a infancia, € causa ‘ontribuinte para 0 aparecimento posterior do vi filo. As condigdes favordveis, criadas para que a causa contribuinte possa attiar, constituem a causa contingente do fendmeno. Assim, constatou-se que o vicio em entor- pecentes, dos jovens que tiveram ausencia paterna no lar, 56 acontece quando, nos bairros em que eles moram ou. freqiientam hé disseminacao de entorpecentes e nfo acon- tece quando 0 uso nao esté difundido. As causas alterna- tivas sa0 as diversas modalidades de causas contribuintes que tornam provavel o fendmeno. Assim, se a causa contribuinte ¢ a auséneia da figura paterna no lar, as causas alternativas que apareceram no estudo feito sobre © vicio de entorpecentes foram: a) jovens que cresceram 5: ii, p. 93.097. 15 sem pais; b) filhos que tinham pais, mas que foram tratados por estes com hostilidade. © modo proprio que a cen mento da realidade empirica €a pesquisa, E, entre as diversas formas de fazé-la, as que vao nos interessar neste estudo so a descritiva e a experimental. A primeira tem por objetivo obter informagao do que existe, a fim de poder descrever © interpretar a realidad. A segunda, a experimental, esté in- teressada, nao tanto em descrever os fendmenos tais como ji existem na realidade, mas em criar condigdes para interferir ‘no aparecimento ou na modificagao de fatos a fim de poder explicar 0 que ocorre quando dois ou mais fendmenos so relacionados. A pesquisa experimental inclui os objetivos da pesquisa descritiva indo, no entanto, mais além tein para obter couhec 3. Caracteristicas do método de pesquisa cientifica Van Dalen ¢ Meyer lembram que “0 trabalho de pes- quisa ndo € de natureza mecénica, mas requer imaginagaio criadora e iniciativa individual”. E acrescentam: “entre tanto, a pesquisa ndo € uma atividade feita a0 acaso, porque todo 0 trabalho criativo pede o emprego de proce- dimentos e disciplinas determinadas’.* Talvez uma das maiores dificuldades, de quem se inicia na pesquisa cientifica, seja a de imaginar que basta um roteiro minucioso, detalhado, para seguir € logo a pesqui- sa estard realizada. Na verdade, 0 roteiro existe: sa0 as diversas fases do método. Entretanto, uma pesquisa devi- damente planejada, realizada e conclufda, ndo é um sim- ples resultado automético de normas cumpridas ou seguido. Mas deve ser considerada como obra de criatividade, que nasce da intuigao do pesquisador ¢ recebe 6. eo Vandalene Wiliam J. Mayer, Manual de Tenia... 143 16 a marca de sua originalidade, tanto no mode de empreen- dé-la como no de comunicd-la, As fases do método podem ser vistas como indicadoras de um caminho, dando, po- rém, a cada um a oportunidade de manifestar sta inicia- tiva e seu modo proprio de expressar-se. Fazer uma pesquisa cientifica nao € fil. Além da inicia- tiva e originalidade de que jé falamos, exige do pesquisador persistencia, dedicagao ao trabalho, esforgo continuo © pa- ciente, qualidades que tomam sua feigdo espectfica € s reconhecidas por cada um em si mesmo, quando alguem Vivencia a sua propria experiencia de pesquisador. E, no entanto, é uma das atividades mais enriquecedoras para 0 ser humano ¢, de modo geral, para a ciencia. Embora enfatizando o valor da criatividade, convém Iembrar que a pesquisa cientifica nao pode ser fruto apenas da espontaneidade ¢ intuigao do individuo, mas exige submissdo tanto aos procedimentas do método co- mo aos recursos da técnica. © método € 0 caminho a ser percorrido, demarcado, do comeco ao fim, por fases ou tapas. E como a pesquisa tem por objetivo um problema 4 ser resolvide, 0 método serve de guia para o estudo sisterndtico do enunciado, compreensiio e busca de solugio do referido problema. Examinado mais atentamente, 0 meétodo da pesquisa cientifica nao € outra coisa do que a claboragao, consciente € organizada, dos diversos proce- dimentos que nos orientam para realizar 0 ato reflexivo, isto ¢, a operagdo discursiva de nossa mente. Whitney nos recorda que costumamos utilizar 0 pro- cesso reflexivo quando nos encontramos diante de uma situagdo, que consideramos problema e sent géncia de resolvé-lo. Em atos mais simples, como 0 de amarrarmos os cordées do sapato, barbearmo-nos, pro- cedermos diante de amigos, estrankios ou inimigos, 0 nosso procedimento € espontiinco e reagimos sem reflexdio ‘ou quase sem reflexao. Estes mesmos atos, hoje to faceis "7 € familiares, foram considerados por nés, em outros tempos, como problemas mais ou menos complexos, que tivemos de resolver. (© mesmo autor faz referéneia a Kelly para dizer que um ato completo do pensamento relexivo compie-sedas seguintes fases: a) uma dificuldade ¢ sentida; b) procura-se entao com- preender e definir esta dificuldade; ¢) dé-se para a mesma uma solugio proviséria; d) elabora-se mentalmente uma soluea0 (elaborando-se, também, se fornecessério, solugies provissrias complementares) da qual se ter; e) a convicedo de ser a slug ‘correla; f)comprova-se experimentalmente a. mesma: g) procu- ra-se avaliar adequadamente os dados experimentais, que con- dduzem a aceitagdo da solugaio mental e a wma decisdo sobre a concluta imediata ou ao abandono ea retficagdo da necessidade sentida, donde nasceu a dificuldade. 0 processo se repete até que seobtenha una solugae comprovada, imediatamente utilizavel 1) procura-se ter wna visdo de futur, ou seja, a formagao de wm quadro mental de situagées futuras para as quais a situapao é pertinente.” As fases do método de pesquisa sao semelhantes as que acabamos de indicar, compreendendo: A) formulagao do problema da pesquisa (correspondente aos itens a ¢ b); B) enunciado de hipdteses (correspondente aos itens 6d ¢ @); © coleta ds dados (correspondente ao item f}; D) andlise ¢ interpretagio dos dados (correspondente aos itens g ¢ h). Embota sejam estas.as fases do método, nao se apresentam, semapre necessariamente em niimero de quatro. Alguns autores preferem desdobrar, p. ex., uma em duas ou, en- to, sintetizar duas em uma. Assim, a primeira fase pode aparecer desdobrada em duas: enunciado do problema ¢ definicao dos termes do problema. Ou, entdo, a terecira € quarta podem surgir sintetizadas numa s6: coleta ¢ inter= pretagao de dados. 17 Frederick Lamson Whitney, Elemento de invesigacin, p29 13 18 A primeira fase do método € a formutagdo de wm pro- blema, Algum principiante, ansioso por *comecar logo a pesquisa”, pode supor que © inelbor € pensar imediata~ mente na elaboragdo de questiondrio. Nao ha civida que € muito comum encontrar pessoas que confundem pes~ quisa com mera aplicagdo de questiondrio. Este procedi- mento, porém, pertence a coleta de dados que, na ordem por nds colocada, encontra-se na terceira fase. Na verdade, nio se pode fazer pesquisa sem ter um problema, devidamente enunciado, para resolver. Diz, Dewey que “nao formular 0 problema é andar as cegas, no escuro. A maneira pela qual concebemos o problema € que nos leva a decidir quais as sugestdes especificas a considerar ou desprezar; quais os elementos que devem ser selecionados ou rejeitados ¢ qual © critério para a conveniéneia e importancia ou ndo da hipétese e da estruturagao dos conceitos”." Formulado 0 problema, 0 método pede que 0 pesqui- sador enuncie as hipdteses, que so tentativas de solugbes, para posterior aceitacdo ou rejeicdo. A fungdo da hipotese €afirmar que, numa determinada situagao, um fendmeno se encontra presente ou ausente, que possui tais caracte- risticas ou natureza, que existe (ou nao existe) tal relagsio specifica entre fendmenos, ete,, devendo, aafirmagio, ser ‘ada na realidade empirica. Verificar & confrontar a afirmagiio da hipétese com informagies obtidas na reali- dade empirica, Se existe concordancia, a hip6tese foi com- provada ¢ pode ser aceita. Caso contrario, a hipétese foi rejeitada. Para obteras informagGes, 0 pesquisador observa a realidade. Como resultado da observacao, 0 pesquisador registra determinadas informagoes, que sao os dados ob- tidos. E, a0 processo de aleangi-los, denomina-se “coleta de dados” £8, Jon Dewey, Inti ivestigago. p 245, 1” Mas o simples fato de obter dados nao resolve 0 problema da pesquisa. Para isto, torna-se necessério dar fas mesmos uma forma de organizagio, que possibil serem examinados ¢ avaliados, transformando-se, assim, em material util a verificagao das hip6teses. Ao conjunto destes procedimentos denomina-se “analise de dados” ‘Teremos, em seguida, a “interpretagao de dados”, que consiste em dizer a verdadeira significagao que os dados obtidos possuem para os propositos da pesquisa, genera- lizando-se, depois, os resultados, no ambito que a pesqui- sa permite ea ldgica consente. Costuma-se terminar o relatério da pesquisa com uma “conelusdo’. Embora 0 assunto fuja ao dmbito deste tra- balho, que visa apenas dar as nogdes basicas para a claboragiio de um projeto, convém, no entanto, de passa gem, lembrar algumas indicagoes. Castro diz. que “na conclusio deve-se retomar a visio ampla apresentada na introdugao e tentar avaliar o impacto da pesquisa sobre aquela perspectiva... buscando destilar as contribuigdes mais importantes da pesquisa, bem como avaliar-Ihes 05 pontos fracos e controvertidos... Em termos formais, a conclusio apresenta um sumério comentado dos princi- pais resultados, realgando sua contribuigao a disciplina. Uma pesquisa sobre novas perspectivas sugere dreas em que nosso conhecimento € precario e abala convicgdes antigas; tais implicagées devem ser exploradas no capitulo das conclusdes”.” Em cada uma das fases do método, o pesquisador deve usar certos recursos, que sdo apresentados na forma de procedimentos téenicos, como o de selecionar a amostra, construir e aplicar instrumentos de pesquisa, ete. ¢ que sero vistos por nés em lugar oportuno, mais adiante. Para analise ¢ interpretagao dos dados recorre-sea técnicos +9. Clsuio de Moura Castro, estrturag apresentagdo, p11 € 12 20 de estatistica. Além disto, durante todo 0 processo da pesquisa devem ser usadas, pelo menos implicitamente, tecnicas de raciocinio légico. Antes de concluir este capitulo convém lembrar que método, acima descrito, nao € apenas um conjunto de procedimentos formais ou um complexo de normas cuja finalidade ¢ ser usado unicamente na pesquisa. Jé foi dito {que ele constitui a orientago bisica do pensamento refle- xivo. Além disto (ou por causa disto) € considerado tam- bem eficaz para o aumento de saber, no individuo que o utiliza, e meio adequado para ampliar o conhecimento, na direa da ciéncia Popper diz que “o problema central da epistemologia sempre foi ¢ continua a ser o problema do aumento do saber”, Eo método eficiente para aleangé-lo consiste “em ‘nundar elaramente um problema e examinar criticamente 4s varias solugSes propostas. Importa realgar: sempre que propomos uma solugao para um problema devemos tentar, do intensamente quanto possivel, por abaixo a mesma solugo, ao invés de defende-la. Infelizmente poucos de ios observamos este preceito, felizmente outros fardo as eniticas que nés deixarmos de fazer. A critica, porém, 36 sera frutifera se enunciarmos o problema tao precisamen- te quanto nos seja posstvel, colocando a soluigao por nds proposta em forma suficientemente definida — forma suscetivel de ser criticamente examinada’ Em conclusio, podemos utilizaro métode como condigao necessdria para realizarmos uma pesquisa. Ou, fora desta, podemos também usé-lo quando quisermos adquirir algum conhecimento pessoal. Num ¢ noutro caso, a sua eficacia depende de nosso estado de espfrito: uma atitude de desa~ pego, para que a critica, propria e de outros, possa lapidar ‘© nosso pensamento até encontrar a verdade. 10, Kol Popper, igi da pesquisa, p. 536. a CAPITULO I Comunicagao e conhecimento cientifico 1. Nocdes preliminares Nos livros de metodologia da pesquisa, o titulo deste capitulo pode servir para tratar de assuntos como, por exemple, da forma que deve ter um relatério de pesquisa Mas a perspectiva que vamos ter para abordé-lo ¢ outra: focalizaremos 0 aspecto do uso e da definigao das termos ‘que, na verdade, ¢ tao siti e importante para a elaboraco de projetos, como é para a execugio da propria pesquisa, € tao imprescindivel para o individuo produzir os seus proprios pensamentos, como para comunicar os resulta- dos a que tiver chegado. Comegaremos lembrando que toda experiencia, exter- na ou interna, deixa em nés um sinal do que aconteceu, denominado idéia ou conceito. Estes dois termos, sindni- mos, indicam a forma mais simples do pensamento ¢ pela qual conhecemos as coisas ¢ estas ficam representadas em nossa mente. Para melhor compreensio, vejamos um exemplo. Quando conhego uma pessoa, posso “guardar” a imagem de sua fisionomia, tornando-se esta imagem a pessoa representada dentro de mim. Pois bem, quando eu falo em “conceito”, que tenho da pessoa, nao ¢ a esta imagem que estou me referindo. De fato, a imagem pode oferecer-me a “representagio” da pessoa sob diversos as- pectos. Assim, por exemplo, fechando 0s thos, posso recordar sua fisionomia (imagem visual), sua voz (ima- 2 gem auditiva), ete. © conceito é menos sensivel do que a imagem, digamos que ¢imaterial. Aparece como resultado de um trabalho da nossa mente, procurando aprender 0 ‘quea pessoa é, enquanto que a imagem indica apenas como {al pessoa se manifesta. O conceito € uma atividade mental que produz. um conhecimento, tornando inteligivel nao apenas esta pessoa ou esta coisa, mas todas as pessoas € coisas da mesma espécie. Além de ser a representacao da coisa em alguém, 0 conceito € 0 meio que o individuo tem, para reconhecer esta coisa (ou outra qualquer da mesma espécie), compreendendo-a, tornando-a inteligivel para si. © conceito € diferente do juiz0. Quando, por exemplo, alguém diz o que entende por aluno e por bom, esta emitindo conceitos. Mas quando afirma: “0 aluno ¢ bom", esta formulando um juizo (mais apropriadamente esta apresentando uma proposi¢do, que €a manifestagao visivel do jufzo, formulado em sua mente). O jufzo, portanto, € uma relagdio entre conceitos. Os conceitos, que alguém atualmente possui, apareceram de repente, de uma s6-vez, mas foram forn los progressivamente e o processo de sua formagao con- tinua. Assim, por exemplo, a idéia que tinhamos de alunos quando éramos criangas foi gradualmente se modificando € hoje j4 € bem diferente. No comego era muito simples € ementar. Mas a nossa propria experiéncia como alunos € a que tivemos com os outros nos deram novos elemen tos, fizeram-nos perder outros ¢ transformar alguns, purificando, ampliando e enriquecendo © conceito ant rior: Para isto, além das experiéncias, foi necessdrio tam— hem que utilizassemos a nossa capacidade de reflexio,, comparando ¢ relacionando os novos elementos, que iam sendo adquiridos, com os antigos, que ja possufamos. Um dos pontos mais fundamentais para 0 desenvolvimento intelectual do ser humano consiste no alargamento, aper~ feigoamento ¢ aprofundamento dos conceitos, dando a0 23 indivaduo uma visio, cada vez mais precisa e adequada, de si e do mundo em que vive. Sob este aspecto, compreen- -sc, ent, que, para alguém definiro conceito de alguma coisa, néo € apenas reptir palavras talvez ja decoradas, mas E manifestar 0 que sabe sobre esta coisa e que foi aprendido, sobretudo através das experiéncias. Sob este aspecto, a alidade do nosso curso €ajudar o aluno a ter um conceito cada vez mais adequado de um projeto de pesquisa. 2. O uso dos termos ‘home, porque € capaz de conceituar, pode utilizar a linguagem falada ou escrita para se comunicar com os ‘outros homens. Pela linguagem, o homem pode transmitir ‘5 seus conceitos através de sons ¢ tragos (palavras) con- vencionais ¢ pode, por meios idénticos, saber 0 que os outros pensam ou sentem a respeito das pessoas, coisas, acontecimentos, ete. Se perguntarmos qual o conceito que alguém possui de aluno, poderemos receber, por exemplo, as seguintes respostas: a) “é aquele que aprende”; b) “€ 0 individuo do sexo masculino ou feminino, matriculado em estabeleci- ‘mento de ensino, com o objetivo de realizar uma apren- dizagem’. Temos, entao, duas formas (¢ poderiam ter sido apresentadas muitas outras) de se enunciar 0 conccito de aluno, Assim, 0 mesmo conceito pode ser apresentado de maneiras diferentes. Os elementos que alguém distingue mum conceito © utiliza para explici-lo denominam-se “notas” ou “earac~ teristicas” do conceito. Assim, no exemplo acima, 0 con~ ceito de aluno possui as seguintes caracteristicas no item by: individuo - sexo masculino e feminino ~ matriculado ~ estabelecimento de ensino ~ aprendizagem como objetivo a realizar, £ pela apresentagao de suas caracterfsticas que chegamos a compreender um coneeito. Desta forma, de- 4 nomina-se “compreensdo de um conceito” a apresentagio das caracteristicas que o constituem. Geralmente, quanto mais caracteristicas forem apresentadas, melhor sera compreensao que s¢ teré do coneeito, Chama-se de “ex- tensio de um coneeito” a aplicagio que se pode fazer dele ‘40s individuos, coisas, acontecimentos, ete. Quanto maior a compreensio menor a extensdo e vice-versa. Quando se diz, por exemplo, que professor € todo aquele que ensina deu-se ao conccito uma extensdo muito ampla e, em conseqiiéncia, uma compreensdo muito pequena (apenas sma caracteristica: que ensina). Quando se diz. que profes- sor é portador de um diploma de curso superior, devidamente provado por um departamento universitdrio, com a finali- dade de ministrar aulas de uma determinada disciplina e orientar os alunos em atividades discentes deu-se ao concei- to uma compreensdo grande mas diminuiu-se muito a extensao (comparando-se, no primeiro caso — professor é 0 que ensina ~, 0 conceito se aplicava a muita gente e, agora, restringiu-se muito esta aplicagao). Na ciéncia no basta apenas individuo saber, mas ‘eonsidera-se de grande importaneia que 0 seu conheci- Jnento seja constituide por conceitos adequados, claros e dlistintos. Lm conceito € adequado quando nele se encon- tram todas as caracteristicas proprias, que o compoem. Caso contrario ¢ inadequado. Assim, por exemplo, concei tuar bom alunocomoo que “tira boas notas” € inadequado, pois faltam outros elementos como “dedicagaio aos estu- dlos", “participagao em atividades discentes", “responsabi- lidade em sua propria formagao profissional”, etc. Um coneeito € claro quando, por ele, entre diversas outras coisas, pode-se reconhecer a coisa a que ele se refere. Caso contrario, ¢ obscura. No exemplo dado acima, de que bom aluno € equele que “tira boas notas", esta caracteristica leva a confundit, pelo menos em certos casos, born aluno com aluno que cola, aluno de sorte, ete. Um conecito & distinto quando, levando-se em consideragao as suas pr6- 25 prias caracteristicas, € capaz de distinguir umas das ou- tras. Caso contrério, € confuso. Assim (aproveitando a prépria definigsio de conceito para darmos o exemplo}, se dissermos que conceito €a representacdo mental das elemen- tas que compéem a coisa estamos dando, sobre o mesmo, uma idéia confusa. Para torné-la distinta, precisamos explicar melhor: que 0 conceito representa somente aquetes elementos que sao absolutamente essenciais & coisa ¢, por- tanto, comuns a todas as coisas da mesma espécie, deixando fora os elementos que so apenas particularizadores ¢ indi- vidualizadores de wma coisa A condigdo para nos comunicarmos bem com os ou tros € apresentarmos convenientemente os conceitos ¢ utilizarmo-nos apropriadamente das palavras ou termos Estes, como sabemos, so constituides por um conjunto de sinais visiveis que podem tomar a forma de sons (palavras ou termos orais) ou de tragos (palavras ou termos escritos), A palavra € empregada com a finalidade de transmitirmos aos outros o que se passa dentro de nos: nossos pensamentos e sentimentos. Para que 0 proce comunicagao seja eficaz € necessdrio que as palavras sir vam realmente para ajudar © outro a representar na mente o que estamos representando na nossa ¢ que dese~ jamos transmitir. Assim, por exemplo, penso num deter~ ‘minado instrumento que marca o tempo, Utilizando uma série de tragos, escrevo a palavra *religio”. Neste caso, 0 meu desejo € que a pessoa, lendo o que escrevi, represente também na sua mente 0 mesmo instrumento que pensei. A ciéncia nao esta interessada nas palavras em si. E nem as utiliza apenas para embelezar as frases ou para hes dar toques emocionais. A ciéncia rejeita, como espt- ria, qualquer forma de psitacismo, isto €, da utilizagao de palavras sem idéias correspondentes. Mas, pelo contrario, como as palavras devem servir sempre de meios para revelar uim pensamento.e/ou para mostrar algo na realidade, 26 a.atengio da ciéncia se localiza, de modo especial, no signi- ficado e no referente que a palavra pretende indicar, Sabe-se hoje que a relagio estabelecida entre a palavra e a coisa que cla designa € meramente convencional. Os povos primitives imaginavam que a palavra fazia parte da propria natureza da coisa, como se fosse, digamos, um “pedago” dela. Na ‘magia, supunha-se que alguém pudesse ser prejudicado pelo simples fato de se utilizar a palavra, que indicava seu nome, para se fazer nela, ou com ela, a “maldade” que se desejava para o individuo. Mas isto pertence a uma época pré-cien- Uifica. A cigncia no tem o culto da palavra ¢ utiliza-a somente como instrumento eficaz para a elaboracao do pensamento e para a comunicagao. Assim, dentro de certos limites, o cientista pode inventar uma palavra ou modifi- car outra para indicar mais adequadamente 0 conceito que cle pensae deseja manifestar. (© mesmo conceito pode, as vezes, ser indicado com polavras diferentes, p. ex: perito, experimentado, prético, sabedor, et., designa “alguém que possuii conbecimento & ‘exercicio para a execugao de determinaca abilidade”. Mas, por outro lado, acontece que conceit clerentes podem ser Indieados com a mesma palavra. Assim, por exemplo, 0 termo pé pode se referit-a uma parte de uma pessoa, de uma, mesa, de uma drvore, ao vento, a altura da parede, ete. Para ewvitar qualquer ambigiiidade, procura-se, na citnda, fazer 4 comunicago na base dos significados ¢ dos referentes € hndo apenas da propria palavra. Por isso, a compreensio deve ser procurada nas definigdes, sendo-o mais importante do que perguntar: “o que foi que cle disse?” e saber: “0 que foi que ele desejou significar com 0 que disse?” Embora a utilizaggo de palavras seja fundamental, dlevemos estar sempre prevenidos para as confusdes que cla possa ocasionar: Weatherall diz que, para evité-las, duas providencias devem ser tomadas: a) estar ciente da possibilidade de que a mesma palavra seja usada para 7 indicar referentes diversos ou de que uma palavra scja em- pregada sem qualquer referente; b) estabelecer exatamente qual o referente de determinada palavra, em dado contexto, ‘emanter constante a conendo entre oreferente ea palavra’."! Para ajudar a estabelecer o referente de determinadas palavras talvez, ajude a distingaio que se coloca entre significado extensional e intensional. O mundo extensional €aquele que podemos conhecer através de nossa propria experiencia. © significado extensional € aquilo que cle aponta no mundo extensional. Assim, por exemplo, quan- do alguém diz. “cadeira',o significado desta palavra € algo existente na realidade e que pode ser conhecido pela expe- rigneia, Diz Hayakawa que “um modo fécil de nos lem- brarmos disto, consiste em taparmos a boca e apontar o objeto com 0 dedo, sempre que alguém nos pedir um significado extensional’. Um termo qualquer que possa “apontar” um objeto no mundo extensional € chamado *denotativo". Por exemplo, cadeira € um termo denotati vo. O significado intensional é aquele que, pronumciada a palavra, € sugerido na forma de diversas idéias que sur- gem na mente de cada um. O termo que sugere estas idéias se chama “conotativo”. Assim, por exemplo, nesta frase: durante 0 sono aparecet-the um anjo, a palavra somo € denotativa porque podemos apontar uma pessoa dormin- do. Mas anjo no possui significado extensional: ndo pode ser visto, ndo pode ser tocado, sua presenga ndo pode ser detectada por nenhum instrumento cientifico. Para expli- car 0 que significa, cada um tem que fazer apelo a sua propria idéia, que tem de anjo. Pode ser até que nem existam anjos e, neste caso, uma palavra estd sendo usada sem referente algum 11M. Weatherall, Método inti, p26 12,54 Hayekave, inguagem no pensarento, 47,38. 28 Estudamos, mais acima, a compreensao e a extensao do conceito. Agora, podemos dizer que os termos denotativos tem referencia com a extensdo e os conotativos dizem respeito a compreensao. Mas 0 mesmo termo pode ser apresentado com significado extensional, quando 0 possui {p. ex: a cadeira, explicada tal como existe na realidade), € com 9 intensional (p. ex.: a cadeira explicada de acordo com um ponto de vista pessoal, isto €, 0 modo proprio pelo qual alguém "ve" uma cadeira, podendo nao coincidlr com ‘© que existe na realidade), No primeiro caso, 0 termo foi tomado no seu sentido peculiar, denotativo e, no segundo, assume um sentido conotativo. A pesquisa cientifica tem como referentes os ferdmenos ‘que podemos apontar, ver, tocar ou cuja presenga pode ser captada através de dispositivos cientificos. Na medida do possivel devemos usar termos denotativos para os fe hhos com que estamos trabalhando em. nossa pesq dando-lhe o significado que possui no mundo extensional. Mas, como toda pesquisa tem seu ponto de referéncia num. quadro conceitual, comumente traduzido na forma de ‘uma teoria determinada, as conotagdes que dermos aos fermos devem servir, apenas, para inseri-los adequada- mente nesse quadro conceitual a que pertencem 3, A definigao de termos 0s termos se tornam mais claros e compreensivos a0 serem definidos. Definir € fazer conhecer 0 conceito que temos a respeito de alguma coisa, é dizer 0 que a coisa é, sob ponte de vista da nossa compreensao. Evidenteme le, para que a nossa definigao seja certa e verdadeira é condigaio imprescindivel que © nosso conceito da coisa esteja de acordo com o que ela realmente é. Assim, tanto mais estaremos aptos a fazer definigdes corretas, quanto melhor conhecermos e compreendermos o que desejamos Uma das exigéncias muito importantes para rea- 29 lizarmos uma pesquisa € estudarmos com profundidade e experienciarmos o tema, a fim de que as nossas definigoes sejam sempre corretas. Quando definimos, dizemos 0 que a coisa do-a do que nao é. Podemos definir assiduo a Igreja como istir aos cultos com determinada regularidade, Assim, estamos dizendo o que a coisa é. Nao entra nessa definigao nada que se relacione com a presenga ou auséncia de bondade para com os filhos, a felicidade conjugal, a ho- nestidade ou desonestidade de praticas comerciais, etc. (0 quea coisa nao ¢). Entretanto, diz Hayakawa: ao afirmar- se que alguém € assfduo a Igreja, logo se vincula ao individuo uma série de conotagtes, que ndo Ihe pertencem, como ser bom cristo; bom cristo sugere fidelidade & mulher e ao lar, bondade para com os filhos, honestidade nos negécios, etc.” Ora, separando 0 que a coisa é do que a coisa nao € (isto €, deixando fora as conotagdes que nao Ihe pertencem), podemos identificar no mundo extensio- nal, sem enganos, 0s individuos aos quais devemos a © conceito. Assi, por exemplo, se definimos assiduo Igreja como assistir aos cultos com determinada regularida- de sabemos que 0 conceito convém a Pedro, José, Emen- garda c Pac6mio, embora Pedro tenha severidade excessiva com os filhos, José seja desonesto nos seus negécios, Emengarda cometa adultério e PacOmio seja alcodlatra. Entretanto, nenhuma destas conotagdes pertencem a0 conceito. De fato, severo com os filhas, desonesto nos negs- ios, cometer adultério e ser aleoblatra sao conotagbes que nio pertencem ao conceito de assiduo a Igreja. A definigao de um conceito serve, portanto, para tornar claras € reconheeiveis suas caracteristicas, separando-as de cono- tagdes que nao Ihe pertencem. , separan- 13.51, Hayakawa, op et p21 30 Pascal enunciou trés regras para uma boa defini¢a0: a) nao deixar qualquer idéia obscura sem definir; b) empre- gar na definicao apenas termos suficientemente claros por si ‘mesmas ou ja definidas (nao incluir, portanto, na definigao, a palavra que se quer definir, isto é, ‘nao explicar a palavra pela propria palavra’ e nunca definir o termo pelo seu contrério); ¢) nunca pretender tudo definir, porque a defi- cao € essencialmente uma andlise, devendo necessaria- mente deter-se nos elementos simples, suficientemente claros por si”™ Aproveitando 0 exemplo dado acima, de assiduo a Igreja, vejamos como se aplicam estas regras. Esta expres- duo a Igreja ~ndo pode ser definida: a) por aquele que vai a Igreja com assiduidade, porque seria explicar a palavra pela propria palavra (assiduo = assiduidade); b) por: aquele que nunca falta a Igreja, pois seria explicar a palavra pelo seu contrario (assiduo a Igreja = nunca faltar ‘ Igreja); ©) e nem mesmo, como ja foi definida, por: Aasistir ao culto com determinada regularidade. Reparando cm atengao veremos que determinada regularidade € um ermo obscuro, pois ndo permite identificar ao que se Fefere, no mundo extensional. Melhor seria entao dizer {que significa todos os domingos e dias santos. Neste caso, a definicdo completa de assiduo a Igreja sera assistir aos auiltos todos os domingos e dias santos. Carosi também apresenta 0 que denomina de “Ieis da definigao” € que sao as seguintes: a) a definicdo deve ser conversivel a0 definido, isto é, deve valer para todos os sujeitos que se incluem no ambito da coisa definida e 36 para estes sujeitos; b) a definiedo deve ser clara, ao menos deve ser mais clara do que o objeto definido; c) a definicao 14. Apu V de Magaes Vite, que Manat de lesa, p- 286 a” deve ser breve, do contrério, em vez de ser definicao, teremos uma exposi¢o ou um tratado."* ‘Uma das partes mais signifieativas da pesquisa con siste na defini¢ao dos termes, especialmente, no que s¢ refere & formutlagao do problema e ao enunciado das hipéte- ses, por serem 0 comego ¢ oferecerem a maioria das. palavras com as quais vamos lidar durante toda a pesqui- sa. Evidentemente nem todos os termos precisam ser definidos. Necessitam definigdo os pouco usados, os que poderiam oferecer ambigitidade de interpretagao, ou os. {que descjamos sejam compreendidos com um significado bem especifico, etc. A primeira vista pode parecer fécil selecionar os que devem ser definidos. Entretanto, ha muitas dificuldades para se fazer a discriminagao. Assim, por exemplo, para o pesquisador que ja conhece bem sua rea de estudo e vive em contato permanente com o ‘assunto de seu trabalho, todos os termos, ou pelo menos ‘a maioria deles, podem ser considerados como nao ofere- cendo dificuldade para a compreensao. Diz Bachrach: “Se vocé perguntasse a um psicoterapeuta o que entende por esta palavra, ele poderia dizer: bem, todos sabem 0 que melhor significa...” Eo autor acrescenta: “Dizer que todos sabem é repetir a pergunta e evitar o assunto principal da Glareza e precisio da definigao. Conforme Quine sugeriu, ‘a suposigao mtitua de compreensdo € uma abordagem imatura do método cientifico”."° Nao existem regras padronizadas para alguém saber, ‘com certeza, quais os termos que devem ser selecionados para definigao. Isto depende do discernimento do pesqui- sador. Mas alguns pontos podem ser indicados como sugestio, por exemplo, tentar ler 0 que escrevemios com 15, Pao Corsi, Curso de losofi, vol | 272. 46, Arthur J Bachrach, Introd a Pesquisa, p. 5S. 32 ‘0s olhos dos outros’, isto €, como os outros poderiam ler ecompreender. bom também lembrarmo-nos dos esfor- ‘08 que fizemos para chegar a entender certos termos, que hoje nos parecem simples e claros, mas que, antigamente, hos pareciam. obscuros ¢ confusos. Precisamos, ainda, levar em consideragao a divergéncia relativa a certas palavras € expressdes, cujos significados sao discutiveis de acordo com as teorias, areas de conhecimento, etc, Sera de {grande valor, além da nossa reflexdo pessoal e autocritica, Consultarmos determinadas pessoas, especializadas ou entendidas no assunto € outras que, por algum motivo Inais sério, julgamos poderem ser titeis € nos ajudarem. Bachrach referindo-se a definigao, considerada em si mesma, diz que “estamos de tal modo acostumados as Uefinigdes de dicionsrio, que temas a tendéncia de consi derd-las claras, inequivocas e reais. Neste ponto eu gosta- via de observar que um dos maiores erros do método cientifico €0 de transferirem definigdes de dicionario para © método cientifico sem fazerem critica, ja que as defini- (Ges de dicionario nao sao elaboradas de modo cientifico. nunca ¢ demais frisar que um dos maiores erros do método cientifico é usar definigdes quotidianas”."” Um dos principais objetivos da definigao, na pesquisa, € ajudar a observacao da realidade. Desta manera, ser30 melhores as que mais servirem para a identificagao de oisas, pessoas, acontecimentos ¢ situagdes, existentes no inundo extensional. As definigSes de dicionario ~ ndio- cientificas e, geralmente, vulgares e quotidianas ~nao siio suficientemente elaboradas para especificar fendmenos € hem para nos ajudar a discrimind-los pela observa¢ao. 17.1h,p 58053. \Vejamos um exemplo. Nos Estados Unidos foi realizada ‘uma pesquisa para verificar se havi discriminagio no modo de 2¢ tratar os fregueses pretos dos restzmrantes de Noval Iorque."® Bravo utiliza 0 fato para um exercicio sobre as definigdes de “fregueses pretos” e “discriminagao”."” Se procurarmos 0 termo preto no Novo Dicionério Aurélio, iremos encontrar: “que tem a mais sombria de todas as cores; da cor de ébano; do carvao. ~ Rigorosa~ ‘mente, no sentido fisico, o preto € austncia de cor, como. 6 branco € 0 conjunto de todas as cores. ~ Diz-se do individuo negro. Diz-se da cor da pele destes individuos. ow da cor da pele queimada pelo sol, ete.” Evidentemente, nenhuma destas definigdes serve como indicadora para que um observador possa identificar fregueses pretas que. estejam presentes num restaurante. Em Bravo, preto é definido como sendo “toda pessoa que, pela cor da pele € por seus tragos fisicos, estima-se pertencer a raga negra”. O ‘autor nao explicita quais os trapos fiscos, pertencentesa raga negra, supondo-sc naturalmente que o individuo, realizan- do a pesquisa no Ambito das ciéncias socias, tenha conhe~ ‘cimento suficiente para saber de que caracteristicas trata Podiamos, como exere‘cio, completar a definigao e dizer que: _fregueses pretos & qualquer pessoa que entra no restaurante e ‘pede uma refeigao, caracterizando-se por ter a pele escura, os labios grossos, nariz chato e cabelo encarapinhado. ‘Vejamos agora o outro termo: discriminagdo. O mesmo Dicionario diz que ¢ “desigualdade de trato”. Bravo acres~ centa que € “qualquer desigualdade no modo de tratar comensais pretos ¢ brancos, a menos que haja razao para. crer que a diferenga no trato € devida a fatores diferentes da raga’. Podemos também completar esta definigao, di- 18, sli, Jahoda, Deutsch, Cook, op cit, p78 19. Siera Bravo, Tenens de Investigacn,p. 58 34 vendo que discriminacao (no contexto da pesquisa) esté em ‘que 0s fregueses pretos so tratadas pelos garcons e demais pessoal de servigo do restaurante de modo diferente do que Wo atendidas os outros fregueses, ndo sendo observada, para ‘a diferenca do atendimento, outra razo a néo sera diferenca de cor existente entre as fregueses. Agora, um outro exemplo muito simples que tivemos m nossa experiencia de professor. Um grupo de alunos dlesejava realizar uma pesquisa, para saber até que ponto o stendimento, dado pelos funcionarios de um supermercado {chamemo-lo de supermercado X), estava agradando as mu- Theres que costumavam ir até Is fazer compras (na pesquisa, mulheres aparecia como consumidores do sexo feminino. Sabendo que um dos procedimentos mais importantes numa pesquisa € a definigao dos termos, os alunos procu- raram explicar o que entendiam por consumidores do sexo feminino. Mas fizeram-no da seguinte maneira: a) “con- sumidor” ~“aquele que compra para gastar no seu proprio uso”; b) “sexo” — “conformagao particular que distingue © macho da fémea”; ¢) “feminino’- “o que € proprio da mulher”. Evidentemente, esta definigao, tirada do dicio- nario, no servia para que um observador pudesse iden- tificar, no supermercado X, os consumidores do sexo femninino. Os alumos talvez.tivessem esquecido que definir, para uma pesquisa, nao € apenas um cumprimento me- cAnico de um dever escolar, mas um procedimento cujo resultado deve ser funcional. £ - digamos numa compa- ragdo muito elementar ~ como alguém que prepara um, bindculo, com o objetivo de poder utiliza-lo para enxergar { realidade. Assim, os alunos deviam ter definidoa expres- siio inteira (consumidores do sexo feminino) e nao cada uma de suas partes. Podiam, entio, ter dito, por exemplo, que 4 expressao significava: mitheres de qualquer idade ou condi¢do social que vao, pelo menos uma vez por semana, Jazer compras no supermercado X. Notem que mutheres niio 35 precisa ser definido: é um termo denotativo de facil vag. Fazer compras €0 mesmo que; entrar no super para adquirir qualquer genero que esteja a venda. Além di acrescentou-se, na definigio, pelo menos uma vez por se porque, na pesquisa, se desejava saber se os funcionarios supermercado estavam agradando as mulheres que ‘mavam ir fazer compras. Portanto, a palavra costumas foi definida por: pelo menos wma vez por semana. Por diversas razdes, uma definigao filoséfica € difer te da cientifica, e uma delas € que a filos6fica pretende {inica e definitiva. Assim, por exemplo, na escoldstica, dizqueohomem é“um animal racional’ Hé muito te que isto € afirmado como certo ¢, por isso, nao sol modificagio. Na pesquisa € diferente, Como ja foi dit anteriormente, o mesmo termo pode ser definido de neiras muito diversas. Mas, aqui, convém distinguir di situagées. Na primeira, o termo faz parte de uma Teot Cientifica. Neste caso, recebe a definigzio que ai se encor tra, Portanto, quando fazemos alusdo a uma Teoria podemos “inventar” definigdes para os termos que, nel jj se encontram definidos. A outra situagio € aquela que devemos, por iniciativa nossa, claborar uma defink (a0. Neste caso, embora sendo cocrente com as ba teGricas adotadas para a pesquisa, a definicio depende nnossos conhecimentos ¢ da nossa inventividade. E, co vai servir para indicar que observagdes devem ser feita a definigao pode variar, de acordo com o contexto as observado (mantendo-se, no entanto, para o mesmo con. texto, as mesmas definigdes). Voltando ao exemplo dad acima, por conveniéncia de observacao, foi definido qui consumidores do sexo feminino sao: mulheres de qual idade e condigao que vio fazer compras no supermercado X. Imaginemos, agora, outra situagao observacional, a de. tum fabricante de fumo, que deseja langar no mercado um produto caro para consumidores do sexo feminino. Neste! caso, a expressio poderia ser definida, por exemplo: mu: 36 que funam pelo menes 10 (dez) cigarras por dia e que win a classe média-alta e classe alta. Ivém fazer uma observagao a respeito da insistén- ile que o termo deva ser denotativo, “apontando" ima coisa na realidad empfrica. Na verdade acontece Aleterminados conceitos, usados pela ciéncia, ndo sio imente observaveis. © procedimento mais freqiiente ‘itncia € utilizar, entao, outros termos que possuem incia empirica ¢ aos quais os termos nao observaveis ‘oncontram ligados. Neste caso, a compreensdo do termo lede sua ligacdo ligica com ode referencia empirica. , por exemplo, na orientagdo nao-diretiva, a expres- fendéncia ao desenvolvimento indica que, na auséncia “We titores perturbadores graves, o desenvolvimento psi Joldgico se dirige espontaneamente para a maturidade. ‘Of, isto nao pode ser observado diretamente do ponto de ‘isla psicol6gico. Entretanto, a afirmagao se baseia num, Jiaralelo estabeclecido entre o desenvolvimento psicolégico € observagao direta que se faz do desenvolvimento fisiold- eo dos organismos. ‘Afi de assegurar a preciso e referencia empirica das Mefinigdes, evitando que esta se redurza a um simples jogo. de palavras, sustenta-se, as vezes, que o melhor modo de efinir € descrever as operagdes que sao observadas, me- das ou registradas de um determinado fendmeno. Diz, Weatherall: “Diante de qualquer palavra equivoca € con- veniente considerar 0 que alguém faz para representar faquilo a que ela se refere. © que este alguém faz pode ser lenominado operagao e esta forma de agir € freqtiente- mente denominada definigao operacional”.*® Assim, para \lefinir operacionalmente a inteligencia podemos dizer que la € resultado medido pela execucdo de tarefas comumente 20, M, Weatheral opt, p28. 37 chamadas de intelectual’ como o céleulo aritmeético, comple- tar relagdes verbais, etc. Nao hi ddvida: nenhuma que a definigio operaciona, quando pode ser usada, ajuda a compreender um conceito, orientando-nos para determinada experiéncia no mundo extensional. Entretanto, € bom nao exagerar 0 seu valor. De fato, muitos conccitos cientificos podem nao servir para ser observados, medidos ou registrados através de operagdes”. Além disto, a “operacdo” apresenta um valor relativo, no sentido de que o modo de operar de um individuo nao é exatamente igual ao de outro. Finalmente, a0 invés de a “operagio” determinar o conceito, podemos suipor que € 0 contrério: alguém precisa ter primeiramente 6 conceito para depois definir os modes de operago que Ihe so aptos. Para concluir o que foi dito neste capitulo, convém Tembrar que 0 pesquisador nao ¢sté interessado direta: ‘mente nas palavras mas nos conceitos que elas indicam € nos aspectos da realidade empirica que elas mostram, Para alcangar o significado ¢ o referente o pesquisador necessita ddas definigdes. A adequagao no uso dos termos € a utiliza~ Gao de definigdes corretas so meios de que dispSem o pesquisador para fazer raciocinios apropriados e desven~ dar para si mesmo e para os outros o conhecimento que tem do mundo em que vive. CAPITULO II A observagéo 1. Nogdes preliminares © campo especifico da ciencia € a realidacle empirica. tem em mira os fendmenos que se podem ver, sentir, tocar, te, Dafa importancia que tem a observacio. Deve- mos considerd-la como ponto de partida para todo estudo, Cientifio e meio para verificar e validar os conhecimentos axdquiridos. Nao se pode, portanto, falar em ciéncia sem fazer referencia a observagao. Mas 0 termo ‘observagao’ deve ser tomado aqui num sentido bem amplo. Como diz Minon: *Nao se trata apenas, de ver, mas de examinar. Nao s¢ trata somente de entender mas de auscultar. Trata-se também de ler documentos, (livros, jornais, impressos diversos) na medica em que estes nao somente nos informam dos resultados das ob- servagdes © pesquisas feitas por outros mas traduzem também areagdo dos seus autores’. E, por ser tao amplo,, podemos dizer que, de modo geral, a observagao abrange, dle uma forma ou de outra, todos os procedimentos utili- zados na pesquisa. Na vida quotidiana, a observago € um dos meios mais freqitentemente utilizado pelo ser humano para conhecer © compreender pessoas, coisas, acontecimentos e situagdes, 24 Paul Mino, tnliation aux métodes, p20 39 Nas pessoas, poclemos observar diretamente suas palavras, gestos e agbes, Indiretamente, podemos também observar 605 seus perismiiitos ¢ sentimentos, desde que se manifes- tem na forma de palavras, gestos ¢ ages. Da mesma forma indireta, podemos, ainda, observar as atitudes de alguém, isto é, o seu ponto de vista ¢ predisposicao para com determinadas coisas, pessoas, acontecimentos, ete. Entretanto, no podemos observar tudo ao mesmo tempo. Nem mesmo podemos observar muitas coisas a0 ‘mesmo tempo. Por isso uma das condigdes fundamentais de se observar bem é limitar e definir com preciso 0 que se deseja observar. Isto assume tal importancia na ciéncia, {que se torna uma das condigdes imprescindiveis para sgarantir a validade da observagao. No sentido mais simples, observar € aplicar os sentidos a fim de obter uma determinada informagao sobre algum ‘aspecto da realidade. Existe uma observagao vulgar, da qual ‘acima jé falamos, que € fonte constante de conhecimento para o homem a respeito de si mesmo ¢ do mundo que o Grcunda, Assim, pela observagao ele conhece e aprende 0 que € til e necessario para sua vida, desde coisas muito simples como, por exemplo, qual 0 6nibus que 0 leva a0 trabalho, qual o ponto em que deve tomar o nibus e deve saltar, qual o estado de humor do “chefe”, pela fisionomia que apresenta, ete. Estes conhecimentos nos ajudam a dis- ceri as reagGes que devemos ter diante de cada situagao. ‘Através da observago vulgar chegamos, ainda, a um certo ‘conhecimento e compreensao «lo mundo, da natureza que, embora imprecisa ede certa forma inadequada, nos ajudam, no entanto, a explicé-la ¢a fazermos previsoes. O pescador, pela “pritica’, €capaz.de conhecer as muvens ¢ ventos que ocasionam chuva ¢ pode prever se esta vai acontecer ou pao. E ainda capaz. de explicar as circunstancias marfti- mas, que favorecem ou prejudicam a pesca ¢, deste modo, dizer se o dia sera piscoso ou nao, Entretanto, a observago vulgar, além de oferecer compreensao previsdes muito limitadas e superficiais, esta suyjeita a freqtientes enganos ‘ea ertos crassos. Podemos ver as das coisas — 0s beneficios 0s danos da observagao vulgar ~ no conceito que o povo simples tem, por exemplo, de doengas ¢ no modo de curd-las através de ervas ¢ benzimentos. Aobservagao cientifica surge, ndo para destruir e negar © valor da observacao vulgar, mas para valerse das possibilidades que ela oferece, completando-a, enrique- cendo-a e aperfeigoando-a, a fim de Ihe dar maior valida- de, fidedignidade € eficécia. E, para estudé-la, vamos dividi-la, agora, em dois aspectos: a observagdo assiste- matica € a sistematica, 2. A observa assistemati A observacao assistemdtica ~ chamada também de ‘ocasional”, “simples, “no estruturada” ~ é a que se realiza, sem planejamento ¢ sem controle anteriormente claborados, como decorréncia de fendmenos que surgem de imprevisto, Imaginemos que um psicdlogo esteja pas- Jo por uma rua ¢ veja um prédio ser atingido por um_ incendio de grandes proporgdes. Ele pode transformar 0 evento, a que por acaso assiste, em oportunidade para estudar, por exemplo, 0 comportamento dos individuos diante de uma tragédia. Para continuar o seu estudo pode, depois, completar a observago com fotos, filmes, grava- (Ges, noticiarios de jornais, etc. Para as ciéncias do comportamento humano, a obser~ vagao ocasional € muitas vezes a tinica oportunidade para estudar determinados fendmenos. Muitos destes nao po- dem ser reproduzidos para serem verificados numa situa- gio de controle, porque isto seria impossivel ou imoral ou. -gal, ou teria, ao mesmo tempo, todos estes impedimen- tos. Assim, por exemplo, além de ser ilegal € também, imoral atear-se fogo num prédio para estudar a reagdo dos individuos diante de uma tragédia. Mesmo em casos textremos, como, por exemplo, de tim condenado a morte ‘(num pafs onde a pena existe), considera-se ilegal eimoral causar-lhe danos fisicos ou psicoligicos, no intuito de se fazer determinada pesquisa. Por isso, 0 meio que se tem para estudar certos fendmenos é de se aproveitar 0 acon- tecimento fortuito. Neste caso, a condigiio para se obse var € nao perder a oportunidade de “ver” 0 que esté acontecendo. Isto exige do pesquisador uma atitude de prontidao, isto é, de estar sempre preparado c atento a0 {que vai acontecer, na area da pesquisa em que esta inte- ressado. Esta prontiddo, este estar-atento-ao-que-vai- acontecer deu ocasitio a grandes descobertas ¢ inventos da humanidade, fato que ja se tornou até lendario, afirman- do-se mesmo que “as grandes invengGes foram feitas por caso”. Nao ha davida que o acontecimento pode ter surgido de modo inesperado, Entretanto, s6 produziu o efeito da “invengao” ou da “descoberta” porque foi “visto” poralguiém que estava preparado para observ-lo, embora sem saber 0 momento em que haveria de surgir. Sob este aspecto, podemos afirmar que a invengao € muito mais decorréncia da atengdo do observador do que da esponta- neidade do acontecimento, Eniretanto, 0 fato de se dizer que, na observagaio assistemética, 0 acontecimento se da de modo imprevisto. ‘no significa que seja necessariamente de repente, sem nenhuma previstio do pesquisador. Mas pode indicar tam- bém que o acontecimento era esperado, desconhecendo~ se, no entanto, em grau maior ou menor, o momento em ‘que havia de surgir. Caracteriza a observagdo assistema- tica o fato de o conhecimento ser obtido através de uma experiéncia casual, sem que se tenha determinado de antemao quais os aspectos relevantes a serem observados ‘e que meios utilizar para observé-los: isto vai depender da iniciativa do observador, enquanto esta atento ao que 2 acontece. Neste caso, ha duas situagdes possiveis: a) 0 observador é ndo-participante: aparece como um elemento que “ve de fora”, um estranho, um pessoa que nay esta envolvida na situagao, como, por exemplo, um professor interessado em conhecer 6 comportamento dos alunos na hora do recreio ¢ que os observa de uma janela; b) 0 observador ¢ participante, faz parte da situagao © nela dlesempenha uma fungao, um papel, como, por exemplo, alguém que observa a reagao dos alunos numa sala de aula, da qual ele mesmo €o professor. O observador pode comegar como nao-participante ¢ depois tornar-se participante ¢ Vice-versa. Costuma-se advertir que quanto mais alguém, € participante mais pode estar envolvido emocionalmente, perdendo a objetividade prejudicando com isso a obser- ago. Entretanto, pelo menos em determinadas circuns- tancias, torna-se muito dificil (ow muito superficial) a observagao de situagdes das quais ndo se participa. Kaplan, citando Hanson, diz. que "0 observador-padrao no é0 homem que vé ¢ relata o que todos os observadores, hormais véem e relatam, mas o homem que vé em objetos. familiares 0 que ninguém viu antes”. Fara quem deseja se dedicar a pesquisa esta idéia € muito importante. $6 para dar um exemplo, o problema da pesquisa, infcio de todo processo, nasce freqtientemente da intuigao de algu- ma dificuldade existente na realidade ou numa Teoria. Esta dificuldade, em geral percebida casualmente, é fruto da atengao, perspicécia e discernimento de quem € capaz. de selecioné-la, entre muitas outras que poderiam ser vistas, © escolhidas. Assim, quem estiver preparado para ver ¢ tiver acuidade para discriminar pode sempre descobrir, na realidade e na Teoria, um farto material, «til para qual- quer fase do processo da pesquisa em que se encontrar. 22, Abraham Kaplan, A canta na pes,» 140. 43 Sob o ponto de vista da pesquisa, muito importante € ‘o registro que se faz da observagao. Nele deve haver grande fidelidade, anotando-se realmente os falus que foram observados, procurando nao misturé-ios com desejos € avaliagdes pessoais. Se, por acaso, quisermos registrar também 0 nosso ponto de vista, € necessério que isto s¢ja feito separadamente: numa parte do registro os fatos que observamos e, noutra parte, distinta da primeira, as nos- sas opinides e interpretacoes sobre 0s fatos. 3. A observagao sistematica ‘A observagao sistematica ~ chamada também de “planeja~ da”, “estruturada’ ou “controlada” ~ € a que se realiza em condigées controladas para se responder a propésitos, que foram anteriormente definidos. Requer planejamento eneces- sita de operagGes especificas para 0 seu desenvolvimento.” Em qualquer processo de observacao sistematica, de- ‘vemos considerar os seguintes elementos: a) por que obser~ var (referindo-se ao plangjamento e registro da observagiio)?; b) para que observar (objetivos da observacio, definidos pelo interesse da pesquuisa)?; c) como observar (instrumentos que utiliza para a observaga0)?; d) 0 que observar (o campo da observagao, de que falaremos mais abaixo)?; ) quem observa (sujeito da observagao: 0 observador)? Estes itens pretendem indicar que a observa¢ao sistematica: A) deve ser planejada, mostrando-se com precisao como deve ser feita, que dados registrar e como registra-los; B) tem como objetivo obter informagoes da realidade empirica, a fim de verificar as hipdteses que foram enunciadas para a pes- quisa. Deve-se, portanto, indicar quais as informagdes que 23. Laboratrio de Esino Superior, EFHGS,p. 121 Fealmente interessam a observaga0; C)a fim de obter estas Informagdes € necessério utilizar um instrumento: que Instrumente utilizar © como aplicé-lo a fim de obler exatamente as informagdes desejadas; D) € necessério ndicar e limitar a “area” da realidade empfrica onde as Informagées podem e devem ser obtidas; E) € necessario que o observador tenha competéncia para observar ¢ obtenha os dados com imparcialidade, sem contamind-los om suas préprias opinides e interpretagdes. No sentido restrito s6 a observacao sistematica pode ser usada como técnica cientifica. A observagao assistems— {ica pode servir a interesses cientificos e realmente pode ser muito importante, por exemplo, para o estudo explo- ratorio de uma pesquisa. Mas ndo é propriamente uma {éenica no sentido de que podem ser previstos, para reali- Wi-la, procedimentos, condigdes ¢ normas que garantam 4 sua eficécia, dando aos seus resultados validade de controle. O valor da observagio sistemética depende da Iniciativa e competéncia pessoal de quem a utiliza. © planejamento de uma observacao sistemstica inchui a Indicacao do campo, do tempo e da duracao da observacao, hem como os instrumentas que sero utilizados e como serao egistradas as informagoes obtidas. A indicagao do campo serve para selecionar, limitar ¢ identificar 0 que vat ser observado. E s6 pode ser definido quando se tem, para Uletermind-lo, a formulagao de um problema, enunciado na forma de uma indagagao que deve ser respondida. Ha tres elementos importantes que o campo da observacao deve abranger: a) populagao (a que ou a quem observar); b) fircunstancias (quando observa); c) local (onde observar), Mesmo procurando determinar estes elementos, o campo tinda aparece muito amplo para a observacao. Como este livro tem finalidade didatica, talvez,ajude, para que o leitor possa observar a realidade, dividir 0 campo da observagao em partes, a que denominaremos 45 See SS de unidades de observagdo." Estas so agrupamentos de pessoas, coisas, acontecimentos, etc., que, sob o ponto de Vista de nossos conceitos (ou eumnpreensdo que temos dos mesmos), possuem caracteristicas comuns ¢, de alguma forma, significativas para a pesquisa que estamos fazendo. Se considerarmos que 0 termo serve para indicar alguma ‘coisa na realidade (p. ex: cadeira) € ao mesmo tempo para indicar o conceito que temos da coisa (p. ex.: 0 que pensa~ ‘mos da cadeira), ent&oa unidade de observarao é um modo de classificar conccitas, distinguindo e agrupando mental- mente 0 que existe na realidade. Certas modalidades ou caracteristicas das unidades de observago denominam-se “variveis’, mas isto iremos estudar mais adiante. \Vejamos um exemplo, Imaginemos que estamos assis~ tindo (observando) a um jogo de futebol, campo de observagao € constituido pelos seguintes elementos: a) populagao: os jogadores de futebol; b) circunstancia: en- quanto disputam a partida; ¢) local: no campo em que jogam. Para as unidades de observagao € suas respectivas varidveis podemos dar os seguintes exemplos: A) quanto 8 populagdo: os jogadores formando agrupamentos de acordo com o time a que pertencem (unidade de observa {Gao} € 0 entusiasmo ou desénimo com que jogam (vari eis); B) quanto a circunstancia: primeiro e segundo tempos da disputa do jogo (unidades de observagao) ¢ se houve ou. nao gol para cada um dos times em cada um dos tempos (waridveis; C) quanto ao local: cada parte do campo que mentalmente dividimos para acompanhar o jogo, p. €X.: perto das traves, centro do campo, etc. (unidades de ‘observacio) e se cada uma das partes est em boa conser- vagao, bem gramada, etc. (variaveis). + eavo da que “as unikades de abservagio So as pessoas, grupos, objeto, stiviades,insiuides acontecimentos sobre os quis versa a pesqus (cia op. tt P32, Aobservacio sistematica pode ser feita de modo direto, isto ¢ aplicando-se imediatamente os sentidos sobre 0 fendmeno que se deseja observar ou. de modo indireto, Utilizando-se instrumentos para registrar ou medir a informagdo que se deseja obter. A diferenga entre uma e ‘outta ndo esté propriamente no uso de instrumentos, mas ‘em se, para obter a informagao, € necessério ou nio uma inferéncia, isto €, se a partir do que foi registrado ou medido € necessério ou ndo concluir a informagao que se deseja. Desta forma, pode-se fazer, por exemplo, a obser- vacdo indireta da inteligéncia, através de um teste, mas usar um bindculo, que apenas aumenta a capacidade Visual, permitindo, no entanto, que os sentidos continuem, diretamente aplicados sobre 0 fendmeno, nao torna a observagaio indireta. Para a pesquisa, melhor so os instrumentos que ensejam 0 resultado das informagdes em simbolos numé- ricos © ndo apenas em palavras. De fato, os ntimeros ‘oferecem maior preciso e melhor oportunidade de discri- minagao. Na verdade, se alguém diz: “Observei que Pedro um pouco melhor do que Antonio em matematica” € menos preciso ¢ menos discriminatério do que afirmar: ‘Apliquei uma prova para saber qual o aproveitamento dos meus alunos em matemética: Pedro tirou 10 e Ant6- hio, 9,5". A linguagem numérica para os fins da pesquisa €melhor do que a linguagem verbal. Entretanto, Reuchlin, previne que “a utilizagdo de uma linguagem quantitativa por parte do observador supde que cle tera sabido cons- truir ou buscar instrumentos apropriados que Ihe tornem possivel medir, ordenar ¢ contar ¢ que ele tenha sido capaz dle sistematizar a maneira de po-los em agao”.”* 24, M.Reuclin, Os Modo om Polo, 3. a7 4. A observagao documental Rigorosamente falando, 0 termo observagao deve se referir apenas a fatos existentes na realidade empfrica Entretanto vamos utiliza-lo num sentido mais extensivo, aplicando-o também ao “uso da biblioteca”, tanto porque nela se encontram as observagdes ¢ experiéncias que os ‘outros j fizeram, como também porque nela se acham as pases conceituais, sem as quais nao pode haver verdadeira observacao cientifica ‘Alguém pode supor apressadamente que, como na’ pesquisa se faz tanta questo da experiencia, 0 “uso da biblioteca” parece supérfluo. E, no entanto, ndo se pode fazer uma pesquisa valida sem consultar livros e outras ‘obras, em cada uma das fases do processo. De fato, logo no inicio, para a escolha ¢ definigdo do tema da pesquisa, Enecessério recorrer a biblioteca, néo apenas para buscar ‘subsfdios que orientem a escotha e ajudem o enunciado, mas também para saber se 0 assunto que se pretende estudar j4 foi ou nao motivo de outras pesquisas. Seria, no mfnimo, desagradavel alguém afirmar que esté fazen- do um trabalho original, quando nao passa de uma repe~ tigdo do que outros ja fizeram, ou, ent&o, dizer que € uma repetigao, quando, de fato, 0 que se esta fazenco € dife- rente do que o outro jé fez. De qualquer maneira, seja. original ou repetigiio, € necessério saber como os outros: procederam na delimitago do tema e na realizagao de: cada uma das fases do método, quer a pesquisa seja {dentica a nossa ou apenas semelhante sob algum aspecto. de maxima importancia definir com exatidao a dea) de conhecimento humano (psicologia, sociologia, eduica~ Gio, ete.) a que pertence o nosso tema e determinar os fundamentos tedricos que Ihe servem de base, isto é estabelecer quais as relagdes entre o assunto da nossa. pesquisa e a Teoria Cientifica que desejamos utilizar: Al~ se no for possivel estabelecer um guns consideram que, 48 Vinculo determinado com alguma teoria, falta consistén- ta e a pesquisa se torna ociosa, pois, dizem, a finalidade testa € verificar, validar ou ampliar os conhecimentos contidos numa teoria. O conhecimento e aprofundamento esta, bem como a resolugdo de diividas que sobre a ‘mesma eventualmente possa aparecer, obtém-se pelo s- tudo e consulta de livros, obras, ete: Hayman explica que o uso da biblioteca € necessario, primeiramente para a formulagao do problema da pesqui- 4a, pelos seguintes motivos: a revisao da literatura ajuda a0 pesquisador delimitar e definir o problema, fazendo com que se evite © mangjo de idéias confusas © pouco Uefinidas. Além disto, faz. o pesquisador evitar os setores estéreis do problema, considerando as tentativas anterio- tes, que ja foram feitas neste ambito, e evitando a dupli- eagtio de dados ja estabelecidos por outros. A revisdio da literatura pode, ainda, ajudar o pesquisador na revisdo da metodologia que pretende usar pelas sugestdes e oportu- hiidades de dedugdes, recomendadas por pesquisas ante- rlores para as que fossem feitas depois.”* © pesquisador deve também usar a biblioteca para enunciar suas hip6teses, garantindo-thes validade e con- sistencia e fazendo que estejam sintonizadas, tanto com 0 conhecimento global da ciéncia como com a area especifi- €@, em cujo dominio se realiza a pesquisa. Ainda devem ser consultadas obras apropriadas para a construgao do instrumento de pesquisa ¢ sua aplicagao, como também, para serem elaborados corretamente os planos necesssrios, A-coleta de dados, bem como serem determinados adequa- damente os procedimentos necessarios a sta codificacio ¢ tabulagao. Finalmente, outras pesquisase trabalhos diver~ 405, feitos na mesma area, servirdo de indicagao preciosa, 25. tom , Hayman, Inestigain y ducaié, p49 € 50 49 para aandlise ea interpretagao das informagdes que foram. obtidas. ‘Tudo isto sfo apenas referéncias bem gerais. Na pratica, 0 uso da biblioteca depende evidentemente das. necessidades, experiencias e iniciativa de cada um, de acordo com 0 que Ihe for sugerido pelas suas consultas, reflexdes pessoais ¢ interesses da pesquisa que esta fazendo. ‘Temos empregado a expressao “uso da biblioteca” para indicar tudo que se encontra dentro dela e que pode ser utilizado com algum proveito para o trabalho da pesquisa, Inclui, portanto, enciclopédias, livros, catélogos, revista especializadas ou nao-especializadas, jornais, monografias, comunicagao pessoal de cientista, filmes, gravagbes, etc. Os livros e as revistas especializadas tém valor diferente para 0 trabalho de pesquisa. Estas ~ revistas especializadas ~ so ‘ais titeis do ponto de vista da atualizagao. Servem para informar sobre estudos recentes do assunto que nos interes- sa, Os livros dao geralmente uma visdo global, mais com= pleta; entretanto, como levam mais tempo para serem. publicados, perdem, por isso, muito de sua atualidade. Para tornar © uso da biblioteca mais produtivo, Best presenta um “método para tomar notas” que, resumida~ mente, € 0 seguinte: a) antes de comecar a tomar nota, {folhear a fonte de referéncia: € basica uma visdo de conjun- to, global, antes de se poder decidir qual o material que deve ser recolhido ¢ usado; b) manter em cada ficha um tema ou titulo determinado. Colocar o tema na parte supe rior da ficha e, na parte inferior, deve-se fazer a citagio Dibliografica completa; ¢) incluir somente um tema em. cada ficha e, se as notas so extensas, usar varias fichas. numeradas consecutivamente; d) antes de guarda-las, ter ‘a certeza de que as fichas estao completas e sa0 compreen= didas com facilidade; e) fazer, na ficha, distingdo entre resumo, citagao direta do autor, referencia a fonte do autor € a expressao avaliadora pessoal de quem faz a ficha; f) copiar ‘cuidadosamente as notas da primeira vez, sem fazer projeto, 50 de passar a limpo e nem de tornar a copia, pois isto € perda de tempo e dé possibilidade a erros e confusdes; g) para onde for, levar sempre consigu alguma ficha: pode de repente surgir alguma idéia; h) cuidado para ndo perder as fichas; i) procurar guardar as fichas sempre em ordem.”° © autor da os dois exemplos de fichas que vo abaixo. A primeira € ficka de contetido (também chamada docu- ‘mental) que pode apresentar uma citagdo ou um resumo ‘ou uma sintese ou referéncias breves €coneisas de um autor. Aficha bibliogr fica contém um breve comentario de livros u outras obras que nos podem ser dteis, anotando-se nla o que nos interessa, explicando por que nos interessa assunto, no exemplo da ficha de contetido, é de interesse discutivel, mas, certamente, a mesma vale como ilustra~ {lo da forma que Best recomenda: 4) Ficha de contetido Natureza intuitiva do conkecimento angélico “Tor outra parte, no anjo nilo se dé a ebscuridade do conheci- ‘mento imperfeito, nem tampouco imperfeigo em suas poten- as, O entendimento angélico est sempre em ato com relagio fio que pode entender. Entretanto, os anjes possuem també sus limitagGes naturais. Sua mentendo esgota arealidade, nem seu pensamento se identifica com a sua esséncia”. BRENNAN, RE. Picologia tomista. Trad. do Pe. Efrén Villacorta, OF Madrid, Morata 1960, p. 219. Wb. 10 Best, Come investiga, p78, 31 | b) Ficha bibliografica CAPITULO IV 0 projeto de pesquisa 373.1 | MEILI, R Manual de diagnéstic psicoldgico. Madrid, Ed. Morata 1955. Explica detalhadamente a técnica, andlise e comprovagao dos testes. Inclui apendice e bibliografia seletiva. 1, Nogées preliminares ‘A pesquisa cientifica deve ser planejada, antes de ser executada. Isso se faz através de uma elaboracdo que se denomina “projeto de pesquisa’. Embora, muitas vezes, fis expressBes projeto de pesquisa e plano de pesquisa sejam tomadas como sindnimos, faremos distingao em nosso fstuclo, dizendo que projeto € um todo, constituido por partes a que chamaremos, cada uma delas, de plano: 0 plano sera, portanto, uma parte do projeto. Holanda explica que um planejamento, até alcangar a forma de um projeto, passa pelas seguintes fases: a) (tudos preliminares, cujo objetivo € 0 equacionamento ijeral do problema, fornecendo subsidios para a orientagao tla pesquisa ou identificando obstaculos que evidenciam a Inviabilidade do projeto; b) anteprojeto que € um estudo ais sistematico dos diversos aspectos que deverao inte- ffrar o projeto final, mas ainda em bases gerais, sem {lefini-lo com rigor e precisao; ¢) projeto final ou definitivo G0 estudo dos diversos aspectos do problema, jé apresen- tando detalhamento, rigor e preciso. A diferenga entre Aanteprojeto e projeto final nao se pode estabelecer com hitidez. € preciso. E, completando as etapas do planeja- mento, o autor acrescenta: d) montagem ¢ execucao: colo- (ago em funcionamento; e) funcionamento normal?” 27, Nits Holand, Plangjamenton¢ Pres, 102. 33 ‘mentos que precisam ser definidas ¢, neste caso, dar-Ihes, a medida do possivel, uma definigdo de referéncia empiri- ca, isto 6, que os tornem suscetiveis de serem observados na realidade empfrica, dentro da perspectiva que interessa Para dar um exemplo simples de como se comega um projeto de pesquisa, imaginemos que, numa determinada Escola, o Diretor solicite a0 Orlentador Educational para verificar o resultado de um novo método de ensino que vai ser aplicado, A verificagio solictada deve ser feita través de uma pesquisa ¢, para realizé-la, € necessario tlaborar um projeto, O O.E. tem, como ponto de partida, estudas pretiminares (ou estuclos exploratorios), a fim de poder delimitar o tema do projeto e colher subsidios que ajudem a elabora-lo. Nesta etapa, os esforgos do Orienta~ dior estardo certamente dirigidos em tres diregbes impor- tantes: a) conhecimento tedrico do novo método de ensino que se pretende implantar e do método tradicional que ja € utlizado pela Escola. Além disto, fard outros estudos em plano mais amplo, p. ex.: de Psicologia, Sociologia, ete. para conhecer mais profundamente as implicagdes e con- Seqiiéncias que podem ter a Teoria de Aprendizagem do novo método a ser aplicado; b) conhecimento pratico atra- perder tempo € que o melhor é comegar imediatamente o Ves da observagao das salas de aula, professores, alunos, ff (Tabalho da pe: No entanto, a experigncia vai Ihe testratégias utilizadas em classe, ete., numa palavra, expe- IJ cnsinar que o inicio de uma pesquisa, sem projeto, € Sina conhecimento ¢ compreensio, através de uina ff langar-se a improvisagdo, tornando o trabalho confuso, Sbservacao exploratéria, do campo de observagio.em que ff dando inseguranca ao mesmo, reduplicando esforgos inu- Jai trabulhar; ©) andlise e avaliagao dos elementos que vao ff tilmente © que, agir desta manera, é motivo de muita vedo progressivamente encontrados em ae b (pelo co- Mf pesquisa comerada ¢ nio terminada, num lastimoso es- hecimente tebrico e pratico), selecionando os que pare- ff banjamento de tempo e recursos. Além disto, se a pesq em aproveitaveis para serem usados no projeto deff 52, que alguém pretende fazer, € para organizagoes pesquisa e definindo, pelo menos a “grosso modo”, como ff nacionais e internacionais, entio certamente seré obriga- eyo utilizados, quando tiver que fazer a claboragio do ff ‘ria a aprovagio anterior de um projeto, como condicao referido projeto; d) adequagao ao. projeto dos elementos para aceitd-la ou financié-la selecionados, isto é uma ver, que os elementos foram Fazer um projeto de pesquisa € tragar um caminho selecionados (como foi dito no item ¢) precisam um “tra~ Jf eficaz que conduza ao fim que se pretende atingir, lirando 2 pesquisa. A elaboragao de um projeto se faz. através da construgio de um quadro conceitual e, para construl-lo, precisamos colocar cada elemento que foi sclecionado (isto & cada conceito considerado relevante para a pesquiisa) no seu respectivo lugat, fazendo com que se integrem uns com 0s outros. Para ajudar o leitor neste trabalho, vamos oferecer mais adiante, em Apéndice, um modelo que indica como se distribui os elementos selecionados, num formu- lirio a fim de se elaborar 0 projeto. 2. Como elaborar um projeto de pesquisa? Um principiante pode supor que elaborar projetos é tamento” para justarem-seconvenientemente&clabora- Jo pesquisador do perigo de se perder, antes de 0 ter {G0 do projeto. O primeiro cuidado € formar um conceito If alcangado. Diz Churchman que "planejar significa tragar ‘adequado, claro e distinto dos elementos que foram scle- Jum curso de ago que pocemos seguir para que nos leve ionados (de acordo com o que foi dito mo cap. Il sobre of is nossas finalidades desejadas”. E diz também que 0 ‘uso dos termos). Depois € necessdrio determinar os ele- IJ objetivo do planejamento € organizar a ago de tal manei- 54 a ra que nos leve a evitar surpresas, pois, “para o planejador, | a surpresa é uma situagdo insatisfatéria”, e que “se pen- sarmos bem naquilo que vamos fazer, com antecedencia, ‘estaremos em melhores condigaes”.** Diz Belehior que projeto € a “mobilizagio de recursos: para a consecugao de um objetivo predeterminado, justi- ficado econémica ou socialmente, em prazo também de~ terminado, com 0 equacionamento da origem dos recursos ¢ detalhamento das diversas fases a serem efeti- vadas até a sua execugdo’.”” Aqui, a definigio € mais restrita, visando diretamente objetivos econémicos ¢ ad ministrativos. Mas serve também para o projeto de pe quisa cientifica. De fato, neste, o objetivo predeterminado € ‘a solugo que se pretende alcangar para um determinado problema. Para encontré-la, far-se-A mobilizagdo de recur— 50s, tanto humanos como materiais, bibliogréfico, instru- ‘mental e financeiro. Deve-se provar que os recursos mo- bilizados, o tempo c as despesas que serdo gastos justifi- cam a solugio que se procura pela pesquisa. No projeta deve existir detalhamento das diversas fases a serem efeti- vadas, apresentando-se também, num cronograma, 0 tempo que sera necesscrio para executé-lo € 0 que serd feito. em cada momento dele. Para Belchior, um projeto serve essencialmente para) responder as seguintes perguntas: 0 que fazer? por que, para que ¢ para quem fazer? onde fazer? como, com que, ‘quanto e quando fazer? com quanto fazer? como pagar? quem vai fazer? ‘Aproveitando estas indagagdes de Belchior, damos abaixo os pontos fundamentais de um projeto de pesquisa. ‘28. C, Wes Churchman; Introd 3 Tera dos Sistemas, p. 190 29, Proespio GO, Rekhio, Pangjamate eclaoragao, p. 1 56 Para isto, como jé foi dito, consideraremos 0 projeto como uum todo, integrado por partes, que so os planes. Em Apendice, no fim deste livro, encontra-se um mu- elo de projeto de pesquisa, elaborado por nés, de acordo com estes pontos fundamentais que passaremos a apre- sentar e com o objetivo didatico de ser devidamente preen- chido pelo leitor, como exercicio pratico de elaboragao de um projeto de pesquisa. PONTOS FUNDAMENTAIS DE UM PROJETO DE PESQUISA. (Obs.: para ilustrar a organizagio dos diversos planos que seguem, iremos utilizar sempre 0 mesmo exemplo hipo- tético que € "testar a eficécia de um novo método de ensino aplicado aos alunos do 2° grau do Colegio X".) 1) © QUE FAZER? (Planos da natureza e formulagao do problema ‘edo enunciado das hipéteses) 1.1. formular o problema 1.2. enunciar as hipéteses 1.3, definir os termos do problema ¢ das hipoteses 14, cestabelecer as bases tedricas, isto é, a relagio que existe entre a teoria, a formulagao do problema ¢ 6 enunciado das hipéteses (por que e de que modo a formulagio do problema e o enunciado das hipoteses se refere a teoria?) 1.5. conseqiiéncia para a escola ¢/ou para a teoria se as hip6- teses forem aceitas ou, ao contrério, se forem rejeitadas. 2) POR QUE? PARA QUE? E PARA QUEM FAZER? (Planos dos objetivas e da justificativa da pesquisa) 2.1, POR QUE? justificativa da pesquisa) 2.1.1, motivos que justificam a pesquisa: 2.1.1.1, motives de ordem tedrica 2.1.1.2. motivos de ordem pratica 2.2. PARA QUE? (objetivos gerais da pesquisa) 2.2.1. defini, de modo geral, 0 que se pretende aleangar com! _a execu da pesquisa (visio global ¢ ahrangente} 2.3. PARA QUEM? (objetivos espeeificos da pesquisa) 2.3.1 fazer aplicagaio dos objetivos gerais a situagdes par- ticulares; | 2.3.1.1, de Colegio x 23.1.2. de professores, alunos, et, do mesmo Colégio. 3) ONDE FAZER? COMO? COM QUE? QUANTO? QUANDO? (plano do experimento) a) populagdo e amostragem b) controle de varisveis ¢)instrumento de pesquisa 4) téenieas estatisticas ©) cronograma. 3.1. ONDE? COMO? (campo de observagaio) 3.1.1 descrever 0 campo de observagdo com suas unidades de observagio e varidveis que interessam & pesquisa 3.1.1.1, populago com suas caracteristicas 3.1.1.2, se for utilizar amostra justificar, dando os moti- vvos, € apresentar © modo como a amostra serd selecionada e suas caracteristicas 3.1.1.3, local 3.1.1.4, unidades de observagaio relevantes para a pesquisa 3.1.1.5. quais as varidveis que serio controladas, como serio controladas, qual o plano de experimento que serd utilizado, 3.2, COM QUE? (instrumento de pesquisa) 3.2.1, descrever 0 i utilizado, trumento da pesquisa que vai ser 3.2.2. que informagies se pretende obter com eles. 3.2.3, como o instrumento serd sade ou aplicado para ‘obter estas informagdes, 3.3. QUANTO? (utilizagaio de provas estatisticas) 3.3.1. quais as hip6teses estatisticas enunciadas 3.3.2.como os dados obtides serio codificados 3.3.3. que tabelas serio feitas ¢ como serdo feitas 3.34. que provas estatisticas sro utilizadas para verificar as hipdteses 335 3.3.6, previsio sobre interpretagao dos dados. 34, QUANDO? (eronograma) 3.4.1. definir o tempo que serd necessatio para executar © projeto, isto ¢, para realizar a pesquisa, dividindo o processo em etapas ¢ indicando que tempo € neces- ‘para a realizagao de cada etapa. em que nivel de signifieancia 4) COM QUANTO FAZER E COMO PAGAR? (Plano dos custos da pesquisa) 4.1, prever os gastos que sero feitos com a realizagio da pesquisa, especificando cada um deles. 5) QUEM VAI FAZER? (Plano do pessoal responsive! peta pesquisa) 5.1. coordenador da pesquisa ¢/ou responsavel pela mesma, 5.2. entidades co-participantes, se for 0.caso 5.3. participantes de nivel téenico 5.4, pessoal auxiliar (NB: num projeto de pesquisa, @ quesito referente ao item 5 — que, para seguir a ordem das perguntas, colocamos em tiltimo lugar ~ écolocado geralmen- te em primeiro lugar, comegando por ele a apre- sentagio do projeto.) Alguns termos que acabamos de utilizar nestes “Pon tos fundamentais de um projeto de pesquisa” jé foram estudados anteriormente como: definir, campo de observa- fio ¢ unidade de observagao. Outros foram apresentados 59 superficialmente e voltardo a ser tratados com maior] profundidade em capitulos posteriores como: formular problema e enunciar hipdteses. Outros, ainda, sao termos novos, que serao explicados em capitullos que virao depots, como: experimento, controle de varidveis, instrumento pesquisa ¢ provas estatisticas, E agora, logo em seguida,, queremos apresentar um conceito que assume grande importancia na pesquisa e, conseqiientemente, no projete da mesma e que se chama ‘amostra” 3. Populagao ¢ amostra 434 foi dito que a pesquisa cientifica nao esta interessa- da em estudar individuos isolados ou casos particulares. Seu objetivo é, antes, estabelecer generalizagdes, a parti de observagées em grupos ou conjunto de individuos chamados de “populagao” ou “universo” e que ja tivemos a oportunidade de indicar, quando, anteriormente, estu- damos os componentes de um campo de observarao. © termo populagao, usado no sentido vulgar, indic apenas um conjunto de pessoas que habita determinad rea geogrdfica. Em pesquisa 0 conceito € mais amplo. Designa a totalidade de individuos que possuem as me mas caracteristicas, definidas para um determinado est do. O conecito é, portanto, “fluido", dependendo, em cad caso, das especificagdes de caracteristicas que forem feitas.. Se, por exemplo, as especificagdes forem pessoas e residen-| tes em Recife, a populagao sera constituida por todas pessoas residentes em Recife. Se as especificagdes forem ovelhas e campos do Rio Grande do Sul, a populagao ser formada por todas as ovelhas que se encontrarem nos cam= pos do Rio Grande do Sul. Se as especificagdes forem pé de café, atacado pela ferrugem e no Estado de Sao Paulo, a populagao sera constituida por todos os pés de café, ataca~ dos pela ferrugem, existentes no Estado de Sao Paulo. Se as especificagées forem alucinagao, doentes paranéicos e Casa 60, de Repouso X, a populagao sera integrada pelas alucinagdes dos doentes parandicos da Casa de Repouso X. Spiegel diz que “uma populagao pode ser finita ou infinita. Por exem- plo, a populagao constituida por todos os parafusos pro- duzidos por uma fabrica em certo dia € finita, enquanto {que a populagao constituida por todos os resultados (cara ‘ou coroa) em sucessivos lances de uma moeda ¢ infinita’."” Como ja foi explicado, podemos, por exemplo, utilizar (5 termos pessoas e residentes em Salvador para definir a populagao constituida por todas as pessoas que residem em Salvador. Mas podemos também fazer uso de novos ter- ‘mos a fim de especificar outras populagdes que se encon- tram dentro de populagies ja definidas. Assim, podemos acrescentar alunos universitérios, ao exemplo dado acima, e teremos, entio, a populagao de alunos universitarios dentro da populagao de todas as pessoas que residem em Salvador. Se quiséssemos, podiamos, agora, acrescentar 0 termo sexo feminino e, desta maneira, terfamos a popula- (30 dos indivfdtuas de sexo feminino dentro de uma popu- lagao mais ampla de alunas universitérios dentro de uma populagao mais ampla ainda de todas as pessoas resdentes, em Salvador. A esta populagao, incl amplas, chamamos de “subpopulagao” -“estrato de popu- lagaio” ou, simplesmente, “estrato”. Assim, no exemplo dado, da populagao de pessoas que residem em Salvador, ha oestrato de alunos universitarias e, neste, 0 subestrato de indivtduos do sexo feminino. Pode acontecer, no entanto, que, de acordo com o interesse da pesquisa, 0 estrato ndo seja considerado como tal, mas como populagdo: isto dependeré do modo como o pesquisador faz as suas especificagdes. Assim, por exemplo, pode um determinado estudo, ao invés de considerar os alunas universitarios de 30, Murray . Spiegel, Estate, p 1. 61 Salvador como subpopulacao, apresenté-los como popt- lagdo, tendo ou ndo em si uma ou mais subpopulacao. Uma pesquisa geralmente no € feita com todos os elementos que compéem uma populagdo. Costuma-se, neste caso, selecionar uma parte representativa dela, de~ nominada “amostra”. Este procedimento de se estudar ‘uma populagao através de uma amostra é muito comum. Assim, por exemplo, quando vamos fazer exame de san- gue, 0 analista néo 0 retira, todo, para examind-lo, mas. apenas um pouco, numa seringa, com a suposigao de poder afirmar da totalidade 0 que observa na pequena parte que foi retirada, Ostle apresenta os seguintes moti- vos que justificam ser feito, através de amostra, 0 estudo. da populagao: a) quando pela restri¢do de tempo, dinheiro ‘ou pessoal, existe impossibilidade de se estudar todos os clementos de uma populagao; b) quando a populacao nd existir fisicamente; c) quando 0 exame de cada individua exigir sua destruicao.” Independente destes motivos, ge ralmente considera-se que € melhor trabalhar com amos tra do que com populagdo, ndo 6 pela maior economia de recursos ¢ tempo, como também porque oferece melhor garantia de controle ¢ precisao. Entretanto, como diz, Ostle, neste caso, jamais devemos esquecer: a) que estamos trabathando apenas com uma parte da populagao endo com toda ela; b) quais as especificagdes que caracterizam a populagao, cuja amostra estamos trabalhando. _Amostra €, portanto, uma parte da populagao, selecio- nada de acordo com uma regra ou plano, O mais impor tante, aoselecion4-la, é seguir determinados procedimentos, que nos garantam ser ela representagdo adequada da populagao, donde foi retirada, dando-nos assim confianga de generalizar para o universo 0 que nela for observado, Para garantir esta representatividade, a técnica de selegio 31.8. Ost, statisti aplicada, p63. 2 de amostra est interessada em responder a indagagdes fundamentais como as seguintes: a) quantos individuos deve ter a amostra para que represente de fato a totalidade ideclementos da populacao ¢ b) como selecionar os individuos de maneira que todes 0s casos da populagao tenham possi- biliclades iguais de serem representadas na amostra. Quando as téenicas so utilizadas de tal maneira que, por sorteio, qualquer elemento da populagao pode ser representado na amostra, diz-se que elas sio “probabilisticas”. Selltiz ¢ outros apresentam, como resumidamente se- gue, os diversos tipos de amostra ndo-probabilistica © probabilistica: A) Nao-probabilésticas: a) amostras acidentais — consi- deram-se apenas os casos que vio aparecendo ¢ continua- se © proceso até que a amostra atinja determinado tamanho. Assim, por exemplo, um jornalista que deseja saber 0 que 0 “povo” pensa a respeito de determinada questo determina quantas pessoas quer entrevistar e depois indaga a motoristas de taxis, barbeiros e outras pessoas que, supostamente, refletem a opiniao publica até completar 0 ntimero determinado; b) amostra por quotas = 0 objetivo fundamental é selecionar uma amostra que seja uma réplica da populagaio para a qual se deseja generalizar, Procura-se, entao, incluir na amostra os di- versos elementos de que consta a populagao, tendo certeza que estes elementos sdo considerados, na amostra, nas mesmas proporgdes que ocorrem na populagao. Sabendo- se, por exemplo, que a populagdo tem mimeros iguais de homens € mulheres, entrevistam-se também. mimeros iguais de homens € mulheres; c) amostras intencionais ~ através de uma estratégia adequada, sao escothidos casos para a amostra que represente, por exemplo, 0 “bom julgamento” da populagéo sob algum aspecto, ndo servin- do, conseqiientemente, os resultados obtidos nesta amos- tra, para se fazer uma generalizagao para a populagio ‘normal’. Podemos, por exemplo, desejar ndo generalizar 63 para a populago, mas obter idéias, numa situago quase ‘exatamente andloga aquela em que alguns especialistas so chamados como conselheiras, para tim caso médico dificil Esses conselheiros nao so convocados para que se obtenha. ‘uma opinigo média de todos os médicos, mas, sim, preci ‘mente por sua maior competéncia ¢ experienci B) Amostras probabilisticas: a) amostra casual simples ~ € 0 planejamento basico da amostra probabilistic, em {que esta € selecionada por um proceso que ndo apenas dé a cada elemento da populagaio uma oportunidade igual de ser inclufdo na amostra, mas também torna igualmente provavel a escolha de todas as combinagdes possiveis do nntimero desejado de casos. Suponha-se, por exemplo, que. desejemos uma amostra casual simples de dois casos numa populago de cinco casos. Os casos sio A, B, C, De Ee hi dez. possiveis pares de casos: AB, AC, AD, AE, BC, BD, BE, CD, CE, DE. Escreve-se cada combinago num. papel, colocam-se os dez papéis num chapéu, mistura-se completamente os papéis ¢ faz-se com que uma pessoa, de olhos vendados, retire um dos papéis. Os dois casos, correspondentes as letras no papel que foi selecionado,, constituem a desejada amostra casual simples; b) amostra. casual estratificada -nesta, como na amostra por quotas, fa populagao é inicialmente dividida em dois ou mais estratos, podendo estes ser baseados num 36 critério, p. ex., sexo, que dara dois estratos: homens ¢ mulheres ou. numa combinagio de dois ou mais critérios, p. ¢x., idade e sexo. Obtém-se, depois, uma amostra casual simples de cada estrato eas subamostras so todas reunidas para formar a amostra total; ¢) amostragem por agrupamentos nesta, chegamos ao conjunto final, através de amostra- ‘gem inicial de feixes maiores. Suponhamos, por exemplo, que desejamos fazer um levantamento de criangas do sétimo ano em algum Estado. Podemos proceder da se- guinte maneira: preparar uma lista de distritos escolares, Classificados talvez pelo tamanho da comunidade, e sele- 64 cionar uma amostra casual simples ou estratificada. Para cada um dos distritos escolares, incluidos na amostra, enumerar as escolas ¢ delas tirar uma amostra casual simples ou estratificada, Se todas as escolas, assim sele- cionadas para a amostra, ou algumas delas, tém néimero maior de classe do sétimo ano do que aquelas que podem ser estudadas, € possivel obter uma amostra destas classes, em cada uma das escolas. Os instrumentos da pesquisa podem entdo ser aplicados a todas as criangas destas, classes ou a uma amostra de criangas."” 4. Exemplos de modelos para projetos de pesquisa Para concluir este capitulo, oferecemos ao leitor dois modelos de projetos de pesquisa. Geralmente, cada enti- dade tem o seu modelo préprio, apresentado como for- muldrio a ser preenchido e contendo todos eles, com ak gumas variagGes, quesitos semelhantes. A) PRIMEIRO MODELO Titulo: modelo de solicitago de apoio Snanesro para a exenugio de tm projeto de estudo ou de pesquisa elucacional 2) Na primeira pagina 1). ao diretor do (nome da entidade) assunte:soliitlo de apoio fnancero para a ecco de um projeto de estudo/pesquisa educacional 2) entidade 3) enderegoe telefone 4) coordenador do projeto 5) participantes em nivel téenico: ‘rea de graduagao (a que cada um pertence) ~ (os curriculos ‘lever ir em anexo) 42, Selle, Jahoda, Deutsch € Cook, op. cit, p57 65 16). entidades co-participantes (se for 0 caso) 7). titulo do projeto 8) prazo previsto para a entrega do relatério final 9) assinatura do epordenador do projeto 10) data 11) assinatura ) Na segunda pagina 12) justificativa ©) Na terceiva pagina 13) definigaa do problema 14) hipoteses ) Na quarta pagina 15) érea para a execugao do projeto (regido, estado, municipio, bairro, etc) 16) indicago dos instramentos que sero utilizados (relacio= nar: questiondrios, testes a serem aplicades, ficha de coet de dados em cadastros, ete. anexar um exemplar de cad vvia ao presente modelo) 17) plano para a coleta de dados (inclusive identificagio de tuniverso e da amostra selecionada. Em caso de amostra, Jjustificar o dimensionamento e 0 esquema da amostrage! adotados) ©) Na quinta pagina 18) especificagiio dos quadros de safda (relacionar os quadro de saida simples, os cruzamentos duplos, triplos, etc., que vio oferecer informacSes para os abjetivos da pesquisa) 19) andliseestatistica dos quadros de saida (em caso de amostré para os quadros de saida que conduzam a uma hipotese ser testada, justficar a escolha do teste a ser empregado, Dar, em anexo, uma nota técnica com a descrigo sucint sobre o modo de aplicagdo de cada teste) 1) Na sexta pagina e seguintes 20) fases do projeto e eronograma 21) previsdio das despesas: 21.1. remunerago do pessoal 21.2. aplieago dos instrumentos de pesquisa 21.3, codificago dos dados tabulados 21.4. tabulagao dos dados 21.3. didrias 21.6. passagens 21.7. servigo grafico 21.8. outros servigos 21.9. material de consumo. 21.10. custo de execugo do projeto (quadro geral) B) SEGUNDO MoDELO Este segundo modelo pertencea uma entidade internacional endo apresenta um formulaio para ser preenchido, mas apenas {questdes para serem respondidas e que sio as seguintes: 4) Deve-se primeiramente definir bem claramente a natt- reza do problema, em que se inscreve a possivel pesquisa, iagnosticar as conseqii¢ncias negativas da situagao que se pretende resolver. by Partindo da referida descrigdo, deve-se definir o objetivo geral 0s objetivas especfios da pesquisa. Enecessério ter muito cuidado, para nao confundir metas com procedimentas. Os objetivos devern indicarclaramenteo que pretende fazer a pesquisa para contribuir, mnuar ou resolver o problema exposto. ©) Aluz dos pontos anteriores, deve-se antecipar 0 esquema Ale organizarao da pesquisa, incluindo etapas, metas, metodologia « pessoal. Sobre este tiltimo, devem ser apresentados resumos dos antecedentes dos pesquisadores, mostrando a idoncidade {que possuem para resolver o problema exposto. 4) Deve-se apresentar um quadro, com trés ou mais colunas, has quais se indicaré © montante de contribuigio da entidade solicitante (em dinheiro efetivo, em servigos ou em ambos), na utra, a contribuigdo que se espera do (entidade que faz estas Indicagées para o projeto) e, na terceira, a fusdo dos totais. ‘© O documento preliminar, que apresenta.a solicitago, no deve exeeder a dez piginas do tamanho carta com duple espago. or Foi dito que © projeto é um plano de agéo para a pesquisa. Elaborando-o, 0 individuo nao apenas recolhe € organiza o material necessdrio pata agir, como tem uma visio de conjunto, e se dispoe a0 que vai fazer, com previsio especifica do que realizaré em cada momento. Noutras palavras, um projeto bem feito ndo apenas ga~ ante ao pesquisador a orientagao que deve seguir, mas também coloca a sua disposigo, no momento oportuno, (© que ele necessita para executar seus objetivos, além de sustentar um desenvolvimento met6dico para 0 que ele pretende atingir. CAPITULO V Pesquisa descritiva e pesquisa experimental 1. Nogoes preliminares Sob o ponto de vista que interessa ao nosso trabalho, aa pesquisa pode ser descritiva © experimental. Lima das «liferengas mais fundamentais que existem entre as duas € que, na primeira, 0 pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade, sem nela interferir para modifica. Na pesquisa experimental, o pesquisador manipula delibe- radamente algum aspecto da realidade, dentro de condigdes anteriormente definidas, a fim de observar se produz ‘ertos efeitos. A este procedimento denomina-se experi- ‘mento: nao existe pesquisa experimental sem experimento. Para se realizar a pesquisa (tanto descritiva como experimental) € necessario trabalhar com varidveis, mas, de maneiras diferentes, conforme o tipo de pesquisa que esta sendo efetivada. Este termo ~ ‘variaveis” ~ constan- temente usado na ciéncia, tem sua origem no campo da ‘matematica, onde serve para designar uma quantidade que pode tomar diversos valores, geralmente considerados em relagdo a outros valores. Para se compreender o sentido que recebe na pesquisa, imaginemos uma unidade de observacao, . €X, 05 alunos de uma determinada classe de um Colégio. Para caracterizé-los, podemos fazer apelo acertas proprie- dades que possuem: idade, sexo, ete. A idade, entre eles, pode variar (p. ex. 18, 19, 20 anos, etc.) como também 0 sexo (masculino ¢ feminino). Chamamos, entdo, de "va ridveis" a estas propriedades que os individuos possuem para caracterizé-los e que podem tomar diferentes valores. De acord com ose nie de stag, poems stn- trés tipos de varidveis, que Bravo explica da seguinte erancira: a) vaidvels gras w eterem-se & realidade mas iio sZo ainda imediatamente empiticas ¢ mensurdveis (p. ex: Separar, por stias caracteristicas, os alunos de uma sala dde aula); b) varidveisintermediarias ~ mais coneretas e mais perto da realidade do que as anteriores (p. eX.: separar, por caractertsticas fisicas, os alunos de uma sala de aula) ¢ ¢) varidveis emptricas ou indicadoras que apresentam aspec~ tos da realidade, diretamente mensurdveis e observaveis (p-ex, separar os alunos por sexo, colocando os individuos ‘masculinas de um lado ¢ 0s femininos do outro). Dentre os modos em que se pode classificar as varidveis, o mas relevant para a pesquisa €dstngu moe inde- ndentes ¢ dependlentes, tendo em vista a relagio que se Peebelece entre elas, Atrbui-se A varidvelindependente um papel de preparador, contribuinte ¢ causador da segunda, isto 6, da varidvel dependente que assume, entdo, 0 papel subordinado, de efeito, Entre uma ¢ outra pode surgir a vvaridvelintermediria ou interveniente, que produz um efeito sobre a relagio da variavel independente com a dependente. Esta forma de considerar as variaveis € meramente contex- tual, Isto significa que a variavel independente num contex- to pode ser dependente noutro ¢ vice-versa. Assim, por ‘exemplo, nestas duas situagdes: “aluno estudioso (varivel independente) € aluno que sabe (variavel dependente)” € ‘aluno que sabe (variavel independente) € aluno aprovado (varivel dependente)” 33. Sierra Bravo, op. ci, p49. ‘ingdo entre a pesquisa descritiva ea experimental A diferenya que geralmente se estabelece entre os conceitos descrever e explicar pode, aproximadamente, indicar como a pesquisa descritiva se distingue da experi mental. Descrever € narrar 0 que acontece. Explicar € dizer por que acontece. Assim, a pesquisa dlescritiva esta interes- sada em descobrir ¢ observar fendmenos, procurando descrevé-los, classificd-los ¢ interpreté-los. A pesquisa ex- perimental pretende dizer de que modo ou por que causas © fendmeno ¢ produzido. Estudando © fendmeno, a pesquisa descritiva desgja conhecer a sua natureza, sua composiga0, processos que ‘oconstituem ou nele se realizam, Para alcangar resultados vlidos, a pesquisa necessita ser elaborada corretamente, submetendo-se as exigéncias do método. O problema seré enunciado em termos de indagar se um fendmeno acon- tece ou ndo, que varidveis o constituem, como classifi lo, que semelhangas ou diferengas existem entre deter- minados fendmenos, etc, Os dados obtidos devem ser analisados e interpretados e podem ser qualitativos, utili- zando-se palavras para descrever 0 fenOmeno (como, por exemplo, num estudo de caso) ou quantitativos, expressos mediante simbolos numéricos (como, por exemplo, 0 total de individuos numa determinada posigao da escala, na pesquisa de opiniao). A pesquisa descritiva pode aparecer sob diversas for~ mas, como, por exemplo: pesquisa de opinide, onde se procura saber que atitudes, pontos de vista e preferéncias tem as pessoas a respeito de algum assunto, com intuito geralmente de se tomar decisdes sobre o mesmo. Com este home ~ pesquisa de opinigo (ou pesquisa de atitude) — abrange-se uma faixa muito extensa de investigacio, feita com 0 objetivo de identificar falhas ou erros, descrever procedimentos, descobrir tendéncias, reconhecer interes- n ses, valores, ete., pesquisa de motivagdo para saber as ra~ zes inconscientes e ocultas que levam, por exemplo, 0 consumidor a utilizar determinade produta, etc.; estudo de caso ~ onde se faz. uma pesquisa de um determinado individuo, familia, grupo ou comunidade com o objetivo de realizar uma indagagao em profundidade para se exa- minar o ciclo de sua vida ou algum aspecto particular desta; pesquisa para andlise de trabatho a fim de identificar deficiéncias, claborar programas de capacitagao, distribuir tarefas, determinar normas, etc.; pesquisa documental ~ em que os documentos sao investigados a fim de se poder descrever © comparar usos € costumes, tendéncias, dife- rengas, etc. (distingue-se da pesquisa histdrica porque esta se volta para o pasado, enquanto que a pesquisa docu- ‘mental faz estudos de presente), etc. [A pesquisa experimental esta interessada em verificar a relagio de causalidade que se estabelece entre variaveis, isto é, em saber se a variével X (independente) determina a varidvel ¥ (dependente). E, para isto, cria uma situago de controle rigoroso, procurando evitar que, nela, estejam presentes influéncias alheias a verificagao que se deseja fazer. Depois interfere-se diretamente na realidade, dentro de condigies que foram preestabelecidas, manipulando a variavel independente para observar 0 que acontece com ‘a dependente. Nestas circunstancias, X (varidvel inde- pendente) sera causa de ¥ (variével dependente) se: a) ¥ io apareceu antes de X; b) se ¥ varia quando ha também variagdo em X; ¢) se outras influéncias ndo fizeram X aparecer ou variat. Assim, como exemplo, imaginemos: que desejamos verificar se num determinade grupo de homens 0 fumo (varidvel independente) produz cancer de pulmao (varidvel dependente). Para que a nossa resposta seja positiva (o fumo € causa do cancer) € necessério observar-se: A) 0 cancer nao apareceu antes dos homens comegarem a fumar; B) existe uma correlagao positiva entre quantidades de fumantes e quantidade de cdncer de a pulmo; €) nao existem outros fatores capazes de explicar © surgimento do cAncer, a ndo ser 0 fato de alguém ser fumante. E sobretudo para garantir este diltimo item que. ha pesquisa experimental, se cria aquela situagaio de “con- trole rigoroso” de que falamos acima, A pesquisa experimental estuda, portanto, a relagdo entre fendmenos procurando saber se um é causa do outro. Mas acontece que, também na pesquisa descritiva, pode haver 0 estudo da relag3o entre fendmenos, proc rando-se conhecer se uum é causa do outro. Como, entio, R’. Se R for igual ou menor do que R’, entao nao se pode afirmar que a varidvel independente ocasiona a varidvel dependente, isto €, nao foi verificado que método Z produz melhor rendimento escolar para os alunos do 2° grau do Colégio O do que o método W; em outras palavras, nao foi verificado que 0 novo método de ensino produz resultados mais satisfat6rios do que 0 {que ja esta sendo aplicado. Se R for significativamente maior do que R’, pode-se entao afirmar que foi verificada relagdio de causalidade entre a varidvel independente ¢ a dependente, isto 6, que 0 método Z € “causa” de maior rendimento escolar para os alunos que constituem a populagao da pesquisa que foi realizada. Este significa- tivamente maior bem como a comparagdo entre T2 €T1, 12. T'1 e Re R’ do feitos pela aplicagao de técnicas estatisticas, cuja escolha e utilizagao dependem das par- ticularidades de cada projeto de experimento, Pelo que foi dito, conclui-se que 0 plano classico de experimento permite-nos, sob controle, verificar se a apli- cagao do fator experimental afeta 0 grupo experimental ¢ como o afeta. Sumariamente, 0 plano cléssico segue 0 seguinte processo: 82 Tormlagio do probewa ‘Ena das poteses ‘Dafne do campo de observa 2) unas de cbservago Dyvarives “Sele de dos grupos para o experiment [uuivalnca dos grops com telao 8 varies elevates para a pesquisa ‘Aplin do pe tste para os das grapes Apap Wo fatorexpenmental ae GE] [Apap do ator de controle wo GE Apc o do pos tse para os ols grupos ‘Comparao das metas btdas pelo GE « pelo, ante "depot {por meio de proceimentos esatistins) esuladospossvesa) = K Roe Caco VARIAGOES DO PLANO CLASSICO a) Plano com grupo de controle, mas onde se utiliza apenas 0 pés-teste — Imaginemos que numa determinada Escola existam, na mesma série, duas classes, consideradas equivalentes, a classe A e a classe B. No comego do ano foi 83 aplicado um nove método de ensino (fator experimental) a classe A mas nao a classe B. No fim do ano, deseja-se saber ¢ 0 novo método produz melhor aprendizagem do que o antigo. Pode-se, neste caso, compararas duias classes através da aplicagaio de um teste, sendo este considerado, ento, como um p6s-teste. Se a média obtida pela classe A (8) for significativamente maior do que a média da classe B(R) seremos levados a considerar que o novo método de ensino foi responsavel pela diferenga. Entretanto, como nao foi aplicado um pré-teste, nao podemos saber com certeza se a diferenga foi realmente ocasionada pelo novo método. Podia ser, por exemplo, que desde o comego do ano o rendimento da classe A (que ndo foi medido no pré-teste) j4 era superior ao da classe B. Além disto, a suposicao de que os grupas so equivalentes € um desvio das cexigzncias do plano, mas é muitas vezes uma concessio que se faz as possibilidades ¢ limitagdes da realidade. Se hd ointuito de se aplicar o fator experimental e de se medir depois os resultados, deve-se procurar, desde 0 comeco, uma real equivalencia dos grupos, como ja foi explicado cima. O plano com grupo de controle, mas onde se utiliza apenas o pds-teste, &0 seguinte: Antes _Depois Grupo ‘experimental, Salon io T Lome Resultados contro possves contre — aT Tae Se 2 for significativamente maior do que T's entio pode-se supor que 0 fator experimental tem influencia sobre 0 G.E. nas variaveis que so observadas. Se for igual 84 ou menor no se pode afirmar a influéncia, Este plano € utilizado freqiientemente diante de uma situagao em que © fator experimental jé foi aplicado © supomos que dois ‘grupos (G.E. ¢ G.C,) sdo equivalentes, menos com relagao A variavel independente. No entanto, como jé foi dito, por no possuirmos 0 “antes”, nao podemos afirmar a “ver- dadeira” influéncia do fator experimental ) Grupo tinico comparado “antes” e “depois” ~ As vezes no podemos encontrar um grupo de controle para reali- zarmos um experimento. Neste caso, contamos apenas com um grupo experimental grupo tinico. Podemos, por exemplo, querer saber se a aplicagao de um determinado meétodo em sala de aula aumenta a participagao dos alunos. Neste caso, procura-se um teste que seja capaz de medi a participagiio dos alunos “antes” da aplicagtio do método, e, logo, este € posto em pratica. Entdio, aplica-se novamente tum teste para medir a participacio. H4, portanto, um pré-teste “antes” da aplicagio do fator experimental ¢ um pés-teste, “depois”. Este plano permite obter informagiio da influéncia que o fator experimental exerce sobre os indivi- duos e certas modificagées que produz, mas nao se pode estar certo de que isto foi, de fato, ocasionado pelo fator experimental, pois os resultados podem ter tido outras influencias, como a histéria dos individuos, sua maturidade, ctc,,impossiveis de serem controladas por causa da ausencia do grupo de controle. O plano utilizado é o seguinte: ‘Comparago (feita por ‘Antes Depa meio de tenis ea ‘statstias)- experimental al GE:t-T, . existe | existe a aecontrole posses: ee TT, 85 Se Ta € significativamente maior do que T1 podemos supor que 0 novo método tenha influencia na maior partieipagao dos alunos. Mas, se T2 for igual uu menor do que , entdio nao podemos supor que o novo método tenha influencia no aumento da participagiio. ©) Grupo tinico somente com pis-teste - £ 0 estudo de’ caracteristicas relevantes, cujas informagées foram obti- das por um pés-teste apenas, “depois” da aplicagio de um {ator experimental. Pode-se, por exemplo, aplicar um de~ terminado método de ensino numa classe e, depois, inda~ gar aos alunos e professores 0 que pensam do mesmo, ‘Apuradas as respostas, podemos relacion4-las com certas caracteristicas, sabendo, por exemplo, se 0 método agra- dou mais aos individuos do sexo feminino ou masculino, ‘quem se considera mais beneficiado: 05 mais velhos ou os mais novos, ete. Este plano permite pouco controle ¢ os dados reunidos sao de valor limitado por nao se possuir base de comparagao: nem em outro grupo (como seria 0 G.C) e nem “antes" e “depois” da aplicagdo do fator. O plano é 0 seguinte: Depois ‘Uma das diferengas mais fundamentais entre a pesquisa Uescritiva e a experimental € que esta utiliza 0 experimento como meio de observar a relagio entre fendmenos. Numa aproximagdo, a pesquisa descritiva, como o nome esta di- zendo, descreve os fendmenos, enquanto que a pesquisa expe rimental explica-os. As duas so muito importantes, cada ‘uma na missdo que deve cumprir, para ajudar o homem a descobrir cada vez mais ¢ compreender melhor o mundo em {que vivemos, permitindo-Ihe prever acontecimentos ¢ con trolar, para o seu bem, a realidade que o cerca. 86 CAPITULO VI O problema da pesquisa 11, Noges preliminares ‘Toda pesquisa cientifica comega pela formulacao de um problema e tem por objetivo buscar a solugao do mesmo. © problema da pesquisa costuma ser apresentado geral- mente na forma de uma proposigao interrogativa, por exemplo: ‘A aplicagao de um novo método de ensino aos alunos do 2° grau do Colégio X produziré aumento de rendimento escolar?” Ou, entao, pode aparecer sem forma interrogativa direta, mas como expressao concreta ¢ clara da mesma, p. ex. “Deseja saber se a aplicagao de um novo ‘método de ensino traz aumento de rendimento escolar aos alunos do 2° grau do Colégio X’. Asti Vera diz que “formalmente um problema € um. enundiado ou uma formula. Do ponto de vista semantico, € uma dificuldade, ainda sem solugio, que é mister deter- minar com precisio para intentar, em seguida, seu exame, avaliagao, critica e solugao”..” No sentido mais amplo, 0 problema é uma questdo proposta para ser discutida resolvida pelas regras da ldgica e de outros meios de que se dispde. Carosi diz que “uma questao é um enunciado acerca de um dado objeto, proposto de maneira interro~ gativa, de modo que se possa responder por dois termos 37, Armando Asti Vera, Metodolagia da Pesquisa, p94. de uma alternativa, contraditoriamente opostos entre aque paifece'mnals conventente para a pesquisa + quando as si*.™ Se, por exemplo, trabalhando num laboratério, um proposigGes sao contraditérias. Caso nao sejam, entdo nao Gientista pergunta: ‘A droga X cura a doenga ¥2" esta se estahelece quantas devam ser colocadas. propondo uma questdo acerca da droga (ou da doenga, conforme o contexto). A questo esta enunciada na forma de uma proposigao, interrogativa € ligica (ndo estamos interessados agora nos seus aspectos propriamente gra~ maticais), constituida por dois termos: 5 (suijeito: a droga X) € P (atributo do predicado: a doenga Y), ligados pelo predicado (cura: € curativa). Para responder a esta ques tao, sao possiveis duas hipéteses alternativas: a) a droga X ‘ura a doenca Y (chamemo-la de proposigao A) e b) a droga : X ndo cura a doenga Y (chamemo-la de proposicao 0). AS 2 OL eae proposigdes A ¢ © so contraditérias (usamos o termo no sentido da logica e no no vulgar), pois uma & positiva € outra negativa, recusando uma o que € afirmado pela anterior. Ambas ndo podem ser ao mesmo tempo verdadei- ras ¢ nem ao mesmo tempo falsas: se uma € verdadeira, a outra éfalsa.* Desta manera, sefor comprovada a hipstese que a droga X cura a doenga Y sera automaticamente rejeitada a outra hipotese, de que a droga X ndo cura a doenga ¥ ¢ vice-versa. Sabendo, portanto, disto e também que uma hipétese € solugao (proviséria) que se dé para um problema, ninguém pode evidentemente colocar, 20 mes ‘mo tempo, duas proposigSes contraditérias como hipste- ses para o problema de uma pesquisa. De fato, como uma Para resolver a dificuldade, formulada no problema -p. ex: a droga X cura a doenga Y? - 0 pesquisador ndo pode apenas adivinhar, fazer suposigoes gratuitas ou emitir opi- nides superficiais ¢ inconsistentes, mas deve realizar um processo pelo qual, ao mesmo tempo, se busca, examina € prova a solugao e ao qual se denomina pesquisa cientfica No sentido comum, tema € um assunto que se deseja provar ou desenvolver. Do ponto de vista da misica, 0 tema constitui o motivo, o ponto de partida de um trecho musical. Para isto, deve compreender elementos bem ca- racterizados, a fim de fornecer matéria para 0 desenvol- vimento da composigao ¢ apresentar unidade e cocréncia nos planos dindmico, melédico, ritmico ¢ harménico. No estudo que vamos fazer, nao interessa somente saber que ‘ tema ca pesquisa indica um assunto (aparecendoas vezes de modo vago, geral, indefinido), mas o importante é a elaboragdo que se realiza, para que ele se torne “concreto”, determinado, preciso, de forma bem caracterizada e com limites bem definidos. serd a solugao certa ¢ outra inevitavelmente a solu¢ao Se alguém dissesse, por exemplo, “desejo fazer uma errada, quem colocass¢ as duas estaria indicando para a pesquisa sobre delingiléncia juvenil”, estaria certamente sua pesquisa uma solugao que nao convém (a errada) apresentando um assunto, mas nao estaria ainda definin- Assim, € imprescindivel que seja escolhida apenas uma - a do, com preciso, um tema de pesquisa. Para termos os conhecimentos necessirios, a fim de transformar um assunto geral (ainda no convenientemente especificado) num tema de pesquisa, € necessario observarmos a reali- * Discute-se sobre a validade de aftrmar que uma hipétese& "verdadera” (ou. dade, de mancira cuidadosa ¢ persistente, no ambito do "als Agus dizer eas eg so Moots, naeguas pa assunto que pretenclemos pesquisar. Concomitantemente, {campo cet. Eto sera mehor alee alar-se ema hiptesesquetor : y ie eee devemos consultar livros, obras especializadas, periédi- 28, Palo Cars, Curso de Flosoia vo)» 375 85 cos, pessoas entendidas ou interessadas no assunto, etc ‘Talvez. uma boa orientagdo seja a seguinte: tanto melhor podemos definir o tema, quanta mais aptos estivermos para descrever, com acerto, o seu campo de observacao, com as respectivas unidades de observagao e variaveis. Se alguém nos diz, que vai fazer uma pesquisa sobre: “delingiientes juvenis", com esta afirmagao, estd indican- do apenas, de modo ainda vago e geral, um dos elementos do campo de observagao: a populagao. Se, além disto, acrescenta que seu interesse € por “crimes”, cometidos pelos referidos delingiientes, esta nos dando, entZo, uma as varidveis a serem observadas. Se nos afirma, ainda mais, que deseja saber se certos crimes, cometidos por delingiientes juvenis, s80 ocasionados pelo efeito do “uso de téxicos", expressa-nos, entdo, a intengao que tem de relacionar duas varidveis: se 0 uso de t6xicos (varidvel independente) ocasiona crimes (varidvel dependente), co- metidos por delingiientes juvenis. Precisamos ter agora uma visao de conjunto do campo. de observagao (¢ nao apenas de alguns de seus elementos ‘como acabamos de ver acima) procurando, ao mesmo tempo, caracterizé-los. Para isto € necessario que se espe~ cifique: a) a populacao, isto €, a quem observar, indicando idade, sexo, tipo de delingiiéncia ¢ de toxicomania que interessam a pesquisa, ete. (p. ex. jovens de 15 anos ou mais de 21 anos ou menos, de ambos 0s sexos, viciados em haxixe, que cometeram crime de homictdio)"; b) loca, isto é, onde a populagao ser observada (p. ex.; na cidade de Sao Paulo) ¢ ©) circunstancias, isto é, quando a populacao seré “observada (p. ex. tendo agido sab o efeito de toxico) sgsta diz que sua gravilade€ por su “ssoagio tom ato rtninowos (Intro Pgh . 269), 90 £ preciso agora definir as unidades de observagao ¢ as varidveis, consideradas relevantes para a pesquisa, Desta ‘maneira: A) Unidades de observagao: a) quanto & populagado (p. ex: jovens delingtientes distribufdos de acordo com a faixa etaria, sexo, tipodedelingiiéncia, ete.);b) quanto ao local (casas de deteneao, reformatérios e similares da cidade de So Paulo que abrigam delingiientes juvenis toxicémanos); ¢) quanto & cireunstancia (p. ex. sob os diversos efeitos de haxixe). B) Varidvels (segundo o nivel de abstracio): a) varidveis gerais: “uso de toxico" ¢ “comportamento crimino- so"; b) variaveis intermedidrias: “tomar haxixe” ¢ “cometer homicidio"; ¢) varidveis empiricas: “mastigar ou fumar ha- xixe'’ “usar as proprias maos ou utilizar outros meios ou instrumentos para tirar a vida de uma pessoa’ (certamente oleitor esta lembrado que geral, intermediario ¢ empirico so niveis diferentes de abstragdo da mesma varidvel). Assim, definidos todos os elementos do campo de ob- servagdo, com suas respectivas unidades de observagiio © varidveis relevantes para a pesquisa, podemos, entao, jar o seu tema: Influéncia de téxicos em crimes de homicidio cometidos por detingiientes juvenis na cidade de Sao Paulo, Alguém poder supor que, para entinciado tio simples, nfo valeu a pena tanto trabalho para a sua claborago. De fato nao é assim, pois agora sabemos 0 que significa cada um dos termos que compdem 0 enunciado e {qual sua compreensao cextensao. Desta maneira, estamos preparados tanto para utiliza-los apropriadamente, quando tivermos de formular o problema, como para dar a definigao de cada um, conforme o interesse e no lugar que a nossa pesquisa exigit. Numa palavra: 0 esforgo de claboragdo de um tema de pesquisa nao tem como rest tado final apenas o enunciado formal de uma proposigao. Mas € a oportunidade de nos familiarizarmos com os termos, *treinando” para conceitu-los de forma adequa- da e precisa, habilitando-nos a utiliz4-los, de modo con- veniente, no contexto pedido pela pesquisa. 31 De qualquer maneira, um enunciado bem feito de um tema de pesquisa € ao mesmo tempo ponto de partida (para a pesquisa) ¢ de chegada (da elaboragdo que se fez). Pode set que no comego o individuo tenha apenas uma idéia, uma intuigao, sobre a pesquisa que deseja fazer, sentindo até dificuldade de expressar com palavras o que pensa. Neste momento, pode dizer, por exemplo, “descjo fazer uma pesquisa sobre crimes cometidos por menores ‘mas ainda nao sei exatamente o que pretendo” . Depois de alguim tempo de observagio, estudo e reflexdo, pode en contrar termos mais adequados para indicar seu pensa- mento: “a pesquisa que desejo fazer € sobre delingiiéncia Jjuvenil (€ nao mais “sobre crimes e menores”). Entretanto, para tornar a pesquisa possivel, o individuo deve ainda determinar, progressivamente, os aspectos mais concretos que Ihe interessam, no estudo da delingiiéncia juvenil, ea relagio deste aspecto com outros ¢ outras situagdes. &, como) foi dito, o trabalho de defini o campo de observagio, a unidade de observacio e as variaveis, Assim, o tema da pesquisa, ao ser finalmente enunciado, deve indicat, ni apenas 0 assuinto que se pretende tratar, mas o seu campo de observacio ¢ limites, mostrando as varidveis relevantes que sero utilizadas eo tipode relagao que se estabelece entre clas, O trabalho de definir adequadamente o tema perdura durante toda a pesquisa, sendo freqiientemente revisto, ¢ 0 seu enunciado final servir4, provavelmente, como titulo do relatério da referida pesquisa, apresentando de forma sin- teética, resumida, mas abrangente e compreensiva, todo 0 assunto que nela sera tratado. © interesse por um assunto de pesquisa pode ser motivado por diversas razées: curiosidade intelectual, desejo de ampliar 0 conhecimento cientifico, tentativa de resolver uma questo de ordem pratica, ganho financeiro, etc. Um cientista, por exemplo, pode estar interessado em verificar se a droga X cura a doenea Y, a fim de fazer uma descoberta que Ihe dé renome ou porque tem em mente abrir um laboratério, onde possa fabricar o remédio para vende-lo ou, ainda, porque, sendo um estudioso de bio- quimica, esté interessado em ampliar 03 conhecimentos cientificos sobre os efeitos da drvga X. Mas pode ser também que ele esteja procurando alcangar simultanea- mente dois ou todos os trés objetivos: ter renome, ganbar dinheiro e testar os efeitos da droga X. Os motivos, portanto, podem ser variados. Entretanto, quaisquer que sejam, para que a pesquisa tenha valor cientifico, € neces- sério ser fundamentada ¢ realizada através de método proprio ¢ técnicas especificas {A fonte, isto é, a situagao que deu origem a primeira intuiggo ou idéia sobre o assunto, pode ser também as mais diversas: a observardo da realidade empirica ¢ dos fatos que acontecem em torno de nds, experiéncias pessoais ro setor profissional ou em outros, especificos do saber humano, sugestdes aparecidas em cursos ou em outras reunides de estudo ou nao, leitura de livros, revistas espe- ializadas, etc, Nao 56 a “idéia” pode surgir em situagdes muito diversas como também em qualquer momento, em qualquer lugar, quando menos se espera, semelhante a um raio de luz ou semente que pede cultive para produzir frutos. Entretanto, o simples fato de se ter uma intuica0 niio & suficiente para se comegar imediatamente uma pesquisa. Mas € necessario, como ja foi dito, enunciar 0 tema, e, depois disto, formular 0 problema, levantar hipoteses, ¢ tudo o mais, como pede o método. 3, Formulagao do problema Krick diz, que “o tempo empregado na formulagao de um problema é, no minimo, um téo vantajoso investi- mento como aquele de todas as demais fases necessdrias sua solugao”.”” Lembrar isto é muito importante. Em- 29, Eland V Kriek, Método Sistema (oo. p22 93 bora a formulagdo do problema possa parecer, as vezes, tarefa cansativa ¢ monétona ¢ exista quem de tal manecira nela se ‘emaranha, que nao consegue passar adiante, é, no entanto, cexigzncia imprescindivel ¢ condigao fundamental para que possam surgir as outras etapas do método. Sem uma for mulagio bem feita do problema, nao se sabe que soluczio se procura ¢, conseqitentemente, € impossfvel encontré-la Formular 0 problema consiste em dizer, de maneira explicita, clara, compreensivel e operacional, qual a difi- culdade, com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando © seu campo e apresentando suas caracteristicas. Desta forma, o objetivo da formulago do problema da pesquisa é tornd-lo individualizado, especifico, inconfundivel. Se alguém diz que o tema de sua pesquisa €“Influéncia de toxicos em crimes de homicidios, com dos por delingiientes juvenis na cidade de Sao Paulo” possivelmente o interesse esté em resolver problemas que poderiam ser formulados, por exemplo, da seguinte ma~ neira: A maior incidéncia de homictdios, cometides por de lingiientes juvenis na cidade de Sao Paulo, se encontra entre (05 que sdo viciados em t6xicas? (note-se que ndo € necessério colocar na indagagao do problema: “... se encontra ou nao, entre 0s que sao viciados..." pois a resposta “sim” ou “niio” pertence a solucao), ou até que ponto os homiciios cometides por delingiientes juvenis, toxicdmanos, na cidade de Sao Paulo, ‘so ocasionados como efeito de toxicos, e outros semelhantes? ‘Além das caracteristicas de ser explicita, clara, com- preensiva e operacional, a formullagao do problema deve possuir ainda as qualidades seguintes: a) enunciar uma questao, cujo methor modo de solucdo seja uma pesquisa Assim, por exemplo, esta formulagdo de quantes dias ‘consta 0 ano civil? nao é “boa” para uma pesquisa. De fato, a resposta € conhecida. E, se alguém ndo a soubesse, poderia facilmente consultar um calendario, Da mesma forma nao ha motivo para se repetir uma pesquisa que ja {oi feita se a tinica razao é conhecer 0 resultado jé alcan- ‘ado, Pode haver, no entanto, outros motivos que justi quem a repeti¢ao, como a duivida sobre a validade ou adequagao dos procedimentos empregados, a suspeita de algo nao ter sido alcangado pelo processo, 0 desejo de se confirmar que tais procedimentos levam a tais fins, a aprendizagem no sentido de se aleangar um determinado resultado através de tais meios, ete.; b) apresentar wma {questo que possa ser resolvida por meio de processos cien {ficos. Assim, ndo servem as seguintes formulagdes: quais ‘as cores das asas des anjos? ou a alma humana é imortal? porque a cigncia nao tem meios de observar anjos (asas de anjos) ¢ nem alma, Ainda sob este aspecto nao serve a seguinte formulagao: no ano de 2001 haverd o mesmo indice de audiéncia aos programas de TV que houve em 1977?, pois a cigncia nao possui meios capazes de medir a quantidade de telespectadores que haverd no ano 2001 (poderd fazer previsdes, mas que nao passam de meras hipéteses, até serem verificadas); ¢ ser factivel, tanto com relagdo a compe- téncia do pesquisador, quanto a disponibilidade de recursos. Assim, por exemplo, uma pesquisa que poderia ser (8 recursos téenicos e financeiros de uma grande Universi- dade no pode ser realizada apenas com os parcos recursos de um estudante que, para efetiv-la, conta apenas com o que possui. Ou, entio, umassunto complexo, cuja utilizagaio para a pesquisa exige conhecimento ¢ capacidade de um perito, ndo pode servir para um principiante. Para concluir este capitulo sobre a formulagio do problema da pesquisa, apresentamos os critérios estabe~ lecidos por Best, que tanto poderdo orientar o leitor nas suas formulagdes como também poderdo, talvez, servir de indicagao para avaliar até que ponto foram bem feitas: a) este problema pode realmente ser resolvido peto processo de pesquisa cientfica? b) o problema é suficientemente relevante a ponto de justificar que a pesquisa seja feita (se nao € tio relevante, existe, com certeza, outros problemas mais im- 95 portantes que estdo esperando pesquisa para serem resol= vidos)? ©) trata-se realmente de um problema original? d) a pesquisa € factivel? e) ainda que seia “bom’, 0 problema é adequado para mim? {) pode-se chegar a uma conclusdo valiosa? g) tenho a necessdria competéncia para planejar ¢ executar tm estudo deste tipo? h) as dados, que a pesquisa exige, podem realmente ser obtidos? i) ha recursos financeiras dispontveis para a realizacéo da pesquisa? j) terei tempo de terminar o projeto? 1) serei persistente?” Finalmente, convém o leitor estar atento para 0 se- {guinte: quase 6 mesmo trabalho que se realiza para obter ‘elementos a fim de enunciar o tema serve para a formulaao do problema, Podemos, no entanto, considerar que o tema € uma proposi¢o mais abrangente € a formulacao do problema é mais especifica; em outras palavras, o primel- ro, estabelecendo uma relagao entre variaveis, de modo geral, nao indica exatamente qual a dificuldade que s€ pretende resolver: esta se encontra definida na indagacdio do problema 40.1 Best, op. it p36. CAPITULO VII O enunciado das hipéteses 1, NogGes preliminares Chama-se de “enunciado de hipoteses" a fase do mé- todo de pesquisa que ven depois da formulagao do proble- ma, Sob certo aspecto, podemos afirmar que toda pesquisa cientifica consiste apenas em enunciare verificar hipdteses Hipétese € uma suposigdo que se faz na tentativa de explicar 0 que se desconhece. Esta suposigao tem por caracterfstica o fato de ser proviséria, devendo, portanto, ser testada para se verificar sua validade. Trata-se, en- ‘do, de se antecipar um conhecimento, na expectativa de ser comprovado para poder ser admitido. Diz O'Neil: como as hipdteses so conjeturas feitas para explicar algum conjunto de dados observados, podemos dizer que servem para preencher lacunas que ficam em nosso conhecimento pela observacao”."" Na verdade, as hip6- teses servem para preencher “lacumas de conhecimento”. Entretanto, pelo menos no que se refere as hipdteses das pesquisas cientificas, parece inadequado dizer que so “conjeturas”. Esta palavra, no sentido comum, significa uma “opinizio com fundamento incerto”. Ora, a hipétese da pesquisa € uma suposi¢do objetiva endo uma mera ‘opiniio”. Alem disto, precisa ter bases s6lidas, assentadas 41M ONG itrodcn a méods, 124 97 € garantidas por “boas” Teorias ¢ por matérias-primas consistentes da realidade observavel e, portanto, nao pode ter “fundamento incerto”. Em nossa vida didria, costumamos utilizar hipdteses para suprir “lacunas do conhecimento”. Mesmo neste ‘caso, nao se pode dizer que sejam meras “conjeturas”, pois sempre buscamos alguma base ligica ou de observagao para enuncié-las. Para exemplificar esta utilizagao na vida quotidiana, imaginemos a situagao de alguém que deseje falar urgentemente ao telefone ¢ constate que nao esta funcionando. H4, entdo, uma “lacuna de conhecimento” nndo se sabe por que o telefone nao funciona, Esta dificuldade, assim confirmada, faz surgir um problema que precisa ser resolvido: “o que terd este telefone para nao funcionar?* Imediatamente aparece uma série de hipéteses, todas como tentativas de solucionar o problema: a) talvez. tenha ha- vido esquecimento de pagar a conta ¢ a Telefonica tenha desligado 0 aparelho; b) pode ser que, na rua, o fio de ligacso esteja cortado; ¢) pode ser que o aparelho esteja com algum defeito, etc. Note-se que, a0 levantar as hipateses a, b ¢¢ 0 individuo ainda ndo sabe qual delas ¢ a “verdadeira” para resolver o problema. Vai, ento, “tomar providéncias’, isto é obter informagies, orientando-se pelas proprias hipoteses para saber em qual delas est a solugdo. Para isto: A) indaga se as contas do més foram pagas a TelefOnica e recebe a resposta: foram; B) manda ver se 05 fios de liga¢ao esto cortados: nao estao; Q) manda chamar um ténico que examina o aparelho ¢ verifica: est com defeito, Esta titima é,entao, ahipétese comprovada, que pode ser aceita, enquan= fo que as outras devem ser rejeitadas. Nela, portanto, se encontra a solugao do problema 2. A hipotese: guia para a pesquisa No exemplo do telefone, que acabamos de apresentar, 05 procedimentos indicados pelas letras A, B e C foram! 98 orientados respectivamente pelas hipteses a, b e ¢, que serviram, nao apenas para dar explicagao proviséria ao que se desconhecia, mas também funcionaram como setas indicadoras de um caminho a seguir: i. €, guias para os procedimentos em busca da “verdadeira” solugao a ser descoberta. Assim, quando se enunciam hipéteses para uma pesquisa, dleve-se ter diante dos olhos esta dupla fungdo que ela desempenha: dar explicagées provisérias ¢ ‘40 mesmo tempo servir de guia na busca de informagoes para verificar a validade destas explicagdes. O enunciado das hipoteses, para ser bem feito, depende da iniciativa e originalidade do pesquisador: cada um escolhe a que julga mais adequada para solucionar o seu problema de pesquisa. Ninguém é obrigado a justificar por que fez tal op¢a0 € nao outra: 0 enunciado se apresenta como expressiio da livre escolha, da intuigao, do bom senso, da experiéneia e da competéncia de cada um. Mas isto nao significa que deva ser feito de modo confuso e desordenado, Costuma-se indicar alguns critérios, que surgem como balizas demarcando um campo, dentro do qual as hipoteses podem ser enunciadas com toda a liber= dade. No entanto, nao se pode ir além das balizas, pois a ultrapassagem ¢ sinal da formulagao estar defeituosa e, por isso, ser invélida. Respeitar a demarcagao €, portanto, condigao para garantir o valor da hipotese. Como critérios apresentados, geralmente pede-se que a hip6tese seja: a) plausivel; b) consistente; ¢) especifica; d) verificavel; e) «lara; f) simples; g) econdmica; h) explicativa, Todas estas caracteristicas devem se encontrar na formulagio de uma hipotese para ser considerada valida. Vejamos, agora, 0 que significam estes critérios. £, para melhor explicé-los, iremos fazer referencia a0 exem- plo que segue mais abaixo, Antes, porém, torna-se neces sdrio um ligeiro esclarecimento: na orientacio nio- \iretiva, chama-se de ‘resposta’ ao procedimento verbal, 99 mimico ou gestual do terapeuta como reagdo ao que € ‘manifestado pelo cliente. Tanto na situacio de Aconselha~ ‘mento, especifico do Orientador Educacional, como na de Psicoterapia, especifico do Psicélogo (que tambem pode fazer Aconselhamento) sao utilizados, de modo geral, os ‘mesmos tipos de respostas. Como professor de um curso de Formagaio de Psicdlo~ {gos €, ao mesmo tempo, de outro, para formar Orienta~ dores Educacionais, fizemos um exercfcio para “saber, de modo simples, até que ponto um grupo pode aceitar as ‘mesmas respostas dadas por outro”. Os alunos de Orien- tagdo Educacional constituiram 0 Grupo I ¢ os de Forma- {a0 de Psic6logo cram integrantes do Grupo Il. Notem que nao se tratava de grupo experimental ¢ de grupo de controle, uma vez que 0s dois grupos nao eram equiva lentes sob todos os aspectos. Era, antes, um grupo tinico, ‘onde foi aplicado um fator experimental (0 exercicio dado) a fim de se observarem as respostas € compararem deter~ minadas varisvis, Fara o trabalho ques tentamos fazer com os grupos, podemos ter o seguinte problema formu Indo da seguinte mancira “existe diferenga sgnifiatva entre as respostas dadas por alunos de O.E. e por alunos de EP, quando se encontram diante dos mesmos casos, apresentados pelos mesmos clientes?"* ‘Vamos, agora, descrever os critérios, indicando, para cada um deles, uum exemplo de hip6tese mal enunciada. E 6 ao final apresentaremos a critica do leitor as hipoteses, que nos parece cumprir as exigencias dos critérios: a) a hipdtese deve ser plaustvel, isto é, deve indicar ums situagao possivel de ser admitida, de ser aceita. Assim, nao serve o seguinte enunciado: “existe uma diferenga total: + Veja Franz Vietor Rudi, Orintapdo nde, p95 100 os alunos de FP. apresentam respostas adequadas e corre- tas ¢ 0s alunos de 0.E. apresentam respostas inadequadas e incorretas’. De fato, nao ¢ admissivel que, tendo decor ido o mesmo tempo de estudo, relativo ao mesmo con- tetido, houvesse tal diferenga entre os dois grupos; b) a consisténcia indica que 0 enunciado ndo esta em contradi¢io nem com a Teoria € nem com 0 conhecimento cientifico mais amplo, bem como que nao existe contradigao dentro do préprio enunciado, Assim, nao serve esta formu lagdo: “as respostas dos alunos de O.E. ¢ dos alunos de ER so todas incorretas ¢ inadequadas, pois ndo se pode saber quando ha respostas corretas em Aconselhamento ¢ Psi- coterapia’. De fato, a inconsisténcia aparece sob dois aspeetos: 1) no préprio enunciado, com relagao a si mes~ ‘mo: se niio se pode saber quando as respostas so adequa~ das e corretas, como se pode afirmar que as respostas si0 inadequadas e incorretas?; Il) com relagao a propria Teoria que, embora colocando limites na aprendizagem que se possa ter, procura ensinar e treinar os alunos para darem Fespostas corretas ¢ inadequadas; Ill) com relagdo ao conhecimento cientifico mais amplo ao ensinar que se pode fazer aprendizagem, tanto de relacionamento huma- no como, particularmente, de atividades psicoterdpicas; ©) 0 enunciado deve ser especificado, dando as caracte- risticas para identificar o que deve ser observado. Assim, nao serve esta formulagao: “em qualquer caso ou em qualquer situagdo as respostas dadas pelos alunos de ER so sempre superiores as dadas pelos alunos de O.E.". De fato, € impossivel observar qualquer caso, qualquer situapao e so sempre superiores. Estas expressdes devem ser "traduzidas” ‘em termos de referéncia empfrica para indicat o que deve ser observado na realidade; 4) a hipotese deve ser verificdvel pelos processos cient(- ficos, atualmente empregados. Assim, nfo serve esta for- mulagao: “nao existe diferenga significativa entre os alu- 101 nos de O.E. € de FP nas respostas dadas, sob a perspectiva da reagao imediata que tiveram na profundidade do in= consciente”, De fato, nao se pode saber, por processos cientificos atuais, qual a reagdo imediata que alguém possui na profiundidade do inconsciente; ©) a clareza refere-se ao modo de se fazer 0 enunciado, isto é, que sejam constituidos por termos que ajudem real mente a compreender o que se pretende afirmar e indiquem, de modo denotativo, as fendmenos a que se referem. Assim, niio serve a seguinte formulagao: “o ideal dos alunos de EP e de OE. transcendendo as incompatibilidades das respostas, que aparentemente possam exist, garantem 0 ‘mesmo nivel de significagdo, equiparando-as na essencia= lidade”. De fato, 0 enunciado esta confuso, no se com= preendendo exatamente o que se pretende afirmar. Além isto, possui uma série de termos que no convém a hipétese, por nao terem referencia empfrica: ideal, trans cendendo, incompatibilidade, aparentemente, nivel de signi- ‘ficagao, essencialidade; £) para ser simples, o enuinciado deve ter toclos os termas € somente 0s termos que so necessrios a compreenséo. ‘Assim, nijo serve a seguinte formulagao: “com relagao a0 problema dado, podemos levantar a seguinte hipotese: no existe diferenga entre as belissimas respostas dadas pelos esforcados altmos de O.E. eas dos inteligentes alunos de FP*, De fato, o enunciado deve possuir uma linguagem substantiva, Assim, nao tem sentido utilizar palavras com a finalidade de embelezar ou “compor” a frase, como, por exemplo, belissimas, esforrados, inteligentes. Além disto, toda a parte inicial do enunciado ¢ imitil: com relagao ao problema dado, podemos levantar a seguinte hipdtese... bas- tando que se diga apenas: Hipétese: ndo existe diferenga, etc, Por outro lado, faltou uma palavra importante para caracterizar a diferenca: “significativa” (mais apropriada~ mente, na linguagem de estatistica, se diz significante). 0 102 enunciado, entio, poderia ser: Hipétese: Nao existe diferen- ¢a significativa, ete. 8) a economia do enunciado supoe a simphieidade e consiste em utilizar todos os termos e somente as termos necessarios & compreensao mas na menor quantidade possi- vel. Assim, na seguinte formulagao, os termos que nio estiio sublinhados sao intteis: “O conjunto das respostas, emitidas pelos alunos de O.E., na solugao de cada caso, nao presenta diferenga significativa com a solugao de cada caso, apresentada pelo conjunto de respastas, dadas pelos alunos de FR” (‘As respostas emitidas pelos alunos de O.E. no apresentam diferenca significativa das respostas da- das pelos alunos de ER"); hy) uma das finatidades basicas da hipdtese é servir de explicagao para 0 problema que foi enunciado. Se isso no acontece, a hipétese nao tem razao de existir. Assim, nio serve a seguinte formulagdo: “os casos de aconselhamento so melhor resolvidos pelos alunos de OLE, e 0s casos de Psicoterapia pelos alunos de FP De fato, no problema se pergunta se ha diferenca significativa entre as respostas dadas ¢ no quem € melhor em Aconselhamento ou Ps coterapia. A hipdtese é portanto invalida por nao posst a forca explicativa para 0 problema formulado. Colocamos agora a andlise ¢ apreciago do leitor as seguintes hip6teses que levantamos para responderem as exigencias dos criterias: a) “nao existe diferenga significativa, entre as respostas dadas pelos alunos de O.E. ¢ pelos de ER, ‘quanto a correcao, isto & quando se julga que as respostas dadas possuem as caracteristicas de ser nao-diretivas; b) Wo existe diferenca significativa, entre as respostas dadas pelos alunos de OLE, pelos de FP, quanto a adequagao, isto 6 quando se julga que as respastas dadas convém ao caso a que se referem € nao a outro"; ¢) ‘no total das respostas dadas, os alunos de FP apresentam maior grau de diserimi- nagao e precisdo do que os alunos de O.E.” 103 Pelos exemplos que acabamos de apresentar, 0 leitor viu que uma hipétese nao é enunciada em forma interro- gativa e nem em forma condicional, mas é uma afirmarao {provis6ria) que se faz. Diz Bunge: “0 fato de que a maioria das hipéteses cientificas se formulem de um modo cate- ‘g6rico nao nos deve confundir. Nao € paradoxal que uma proposigao categorica expresse uma hipdtese. © paradoxo se desvanece quando se substitui o velo nome tradicional de hipotéticas que se dava a estas proposig6es “se - entio" pelo moderno nome de condicional”."* Outro aspecto, que deve ser igualmente lembrado, € que uma hipotese nado é apenas um enuunciado repetitivo da formulagao do problema. Anteriormente, neste trabalho, deu-se um exemplo de um problema com a seguinte formulagdo: ‘A droga X cura a doenga Y?" E foram apre- sentadas as seguintes proposigoes alternativas como poteses: a) “a droga X cura a doenga Y" e b) “a droga X nao cura a doenga Y". O leitor deve estar lembrado de que isto foi feito para explicar a légica que relaciona a hipotese com 0 problema e nao para mostrar como uma hipotese deve ser enunciada, Vejamos um exemplo pata mostrar que a hipotese nao ¢ repetitiva. Imaginemos um problema formulado nos seguintes termos: ‘Até que ponto a delin= aqiiencia juvenil, na cidade de Sao Paulo, € ocasionada pela toxicomania?” Sabe-se que, neste caso, existem duas va riveis: toxicomania (varidvel independente) e delingiiéncia jjuvenil (varidvel dependente). Suponhamos que, para 0 interesse da pesquisa, se inclua apenas o estudo de roubo € de homicidio para a delingtiéncia juvenil. Neste caso, ppoderiamos, talvez, enunciar para o problema as seguin tes hipsteses: a) “entre os delingiientes juvenis de So Paulo existe uma quantidade significativamente maior de 42, Marto Bunge, opt, p- 252 104 crimes de homicidio, causados pelo uso de drogas que por outros motivos"; b) “entre os delingitentes juvenis de S80 Paulo nio existe diferenga significativa entre os erimes de roubo, cometidos por causa do uso das drogas, ¢ os cometidos por outras causas” Como se vé, 0 enunciado da hipétese nao repete ma- terialmentea formulagao do problema. E, isto, demaneira especial, porque deve possuii forca explicativa (geralmen- tea simples repeticdo possui uma forga explicativa muito pequena, as vezes insignificante, quando possui), que aparece, no exemplo, pelo menos sob trés aspectos: 1) responde se os crimes sa0 ou ndo ocasionados pelas dro- gas, mencionando um modo de verificar a resposta; b) indica que varidveis interessam ao estudo da pesquisa, discriminando as situagdes em que ambas se encontram; diz 0 tipo de relagio que se estabelece entre as varidveis, orientando, neste caso, se a pesquisa deve ser descritiva ou experimental 3. A hipotese estatistica Uma hipétese pode ser constituida apenas de uma varidvel, p.ex.: ‘os estudantes universitarios de Recife s80 favordveis ao divércio". Pode ter duas ou mais varidveis, relacionadas entre si, sem vinculo de causalidade, p. ex.: “aumentando a desnutriggo aumenta a religiosidade entre 0s favelados do Rio de Janeiro”. Pode, finalmente, ter dias ou mais varidveis, relacionadas com vineulo de causalidade, P. eX “0 aumento da religiosidade entre os jovens de Vitoria ocasiona 0 aumento de sua freqiiéncia a igreja” (Evidentemente ndo é 0 simples enunciado de uma hipé- tese, mas €a realizagdo de uma pesquisa, que nos dir se existe ou ndo relagdo de causalidade entre variaveis. A hipdtese faz uma mengo que poder ou nao ser compro~ vada). Para se verificarem as hipéteses, obtém-se infor- magies na realidade empirica, e este procedimento cons- 105 titui a fase que, no método, se denomina coleta de dados ¢ {que veremos no proximo capitulo. btidas as informagves, precisamus deidir se wonnpro~ ‘vam ou nao as hipoteses enunciadas. Esta decisiio nao € efetivada pela simples comparagio dos dados obtidos ou através unicamente do raciocinio légico, mas exige que se recorra.a procedimentos espectficos de estatistica, Aqui, se 6 proprio pesquisador nao € perito em estatistica, deve recorrer a um deles." A utilizagao da estatistica € meio: nao se deve confundir pesquisa com estatistica, embora esta seja para aquela um recurso indispensavel, obrigatério. A fim de comprovar as hipdteses, a estatistica nos diré se os resultados obtidos, a partir das informagdes colhidas, so significativos ou meramente fruto do acaso. Ajuda-nos, portanto, a termos confianga na decisdo sobre os resulta dos, mas nao explica nem como estes foram alcangados € nem quais as suas causas, pois estas questdes devem ser rrespondidas pelo processo de pesquisa e nao pela estatis~ tica. Para a estatistica nos ajudar, € necessério que as hipéteses sejam enunciadas com exatido e apresentadas na forma de linguagem numérica. Devemos distinguir a hipétese da pesquisa, isto é, aque- la que foi enunciada logo depois da formulagao do pro~ blema e a hipdtese da estatistica, isto €, aquela que vai ser ttilizada para aplicago das técnicas estatisticas. Geral- mente a segunda nao €mais do quea primeira “traduzida” em linguagem numérica. Vejamos um exemplo. Imagine- ‘mos o seguinte problema de pesquisa: ‘A maior quantida- de de toxicOmanos, entre os estudantes universitarios da cidade N, € constituida de rapazes ou mogas?” Para este + cyano so necesria a orienta e colatoraxo do prto em estat ete Mlve or procurado logo no ini da claboraSo do projet, ito €. dese a fortwo do problema ow ave, ates, para defini que particpago ter tanto na labora dopo como a exe da pesquisa, se for 080 106 problema, poderiamos enunciar, por exemplo, a seguinte hipotese: ‘A maior quantidade de estudantes viciados em drogas, entre os untversitanios da cidade X, encontra-se nos individuos do sexo masculino” (simplificou-se o enun= ciado para facilitar a explicagio que segue). Esta € a hhipotese da pesquisa. Mas, para poder ser verificada esta- tisticamente, ela deve ser “traduzida” em linguagem nu- mnérica. Assim, poderfamos, talvez, dizer: ‘Entre os estudantes universitarios da cidade X, viciados em drogas, 83,27% sao constituidos por individuos do sexo masculi- no”. Entretanto, aqui vem a dificuldade: nao é facil encon- trar a “quantidade” exata para se fazer a previsao: por que 83,27% e nao 83,28% ou 82,56% ete.? Em que nos pode- mos basear para prever, na hipotese, que sdo precisamente 83,27% (depots que a pesquisa for feita, saberemos, mas a hipétese € enunciada antes)? Se escolhéssemos 83,27% ¢, ‘a0 fazer a pesquisa, constatdssemos que a “quantidade” € de 83,20%, a nossa hipdtese deveria ou nao ser rejeitada por margem tao pequena (independentemente do que nos revelasse a estatistica)? Assim, para evitar todas estas dificuldades, © modo mais comum € enunciar a hipotese estatistica na forma dda hipotese nul. Para explicar no que esta consiste, Garret diz que “em sua forma mais simples esta hipétese estatui que nao ha diferenga entre duas médias de populagao € que a diferenga que se admite existir entre médias de amostra €, portanto, acidental e sem importancia. A hi- 6tese nula € andloga ao principio legal de que um homem. € inocente até que seja provada sua culpabilidade’.”” Quando pretendemos fazer comparagaes estatisticas, uti lizamos a média, ¢, quando comparamos amostras, deve- ‘mos tomar uma decisdo. A hipdtese nula afirma que a 443,14. Garret, statistic ma Psicologia, val. 3 107 diferenga entre as médias das amostras € igual a zero, isto €, que elas so iguais entre si. Em outras palavras, isto indica que elas sio da mesma populagao € nao de popt- lagies diferentes. A hipdtese nulla € enunciada por motives operacionais, porque permite, no ponto de vista estatisti- co, um tratamento eficaz. Muitas vezes cla ja € enunciada ‘com a intengao expressa de ser rejeitada. Assim, no exem- plo acima, dado por nés, previmos que existe, entre os to- xicémanos, uma quantidade maior de individuos perten- centes ao sexo masculino. E, no entanto, podemos, para a nossa pesquisa, enunciar a seguinte hipotese nula: “Nao existe diferenca significativa entre a quantidade de indivt- duos do sexo masculino € os de sexo feminino, entre os estudantes universitérios, viciados em drogas, da cidade N”. Na hipotese da pesquisa, supusemos que a diferenca existe, Entretanto, paraa eficacia do tratamento estatistico, agimos ‘comosse a diferenga fosse mula, isto €, igual azero. Devernos, ‘depois, aplicar uma prova de estatistica para verificar se realmente a diferenca existe ou no. E, neste caso, se a hipétese nula (representada por Ho) for rejeitada — isto é, se a diferenga for comprovada -, devemos entio accitar a hipotese alternativa (representada por H1). Caso contrério, aceitamos Ho € rejeitamos Hi. A hipétese levantada para nossa pesquisa € a alternativa (Hi). Desta maneira, cla s6 pode ser aceita se a hipdtese nula for rejeitada, Siegel apresenta os seguintes passos para decidir, por: tratamento estatistico, se uma hipdtese nula deve ser aceita ou rejeitada: a) enunciado da hipStese nula (Ho); b) escolha de uma prova estatistica, com seu respectivo modelo estatistico, para provar Ho. Das provas capazes de serem usadas, num plano de pesquisa, deve-se escolher aquela cujo modelo mais se aproxime das condigbes da pesquisa... cujos requisitos de medida satisfagam as medidas usadas na pesquisa; ¢) especificagao da significancia (w) edo tamanho da amostra (N); 4) apresentagao (ou suposi¢do) da distribuigao da amostra da prova estatistica conforme Ho; €) sobre as bases de b, ced 108 definigao da regido crttica; £) eélculo do valor da prova estat(stica com os dados obtidos da amostra. Se 0 valor se ‘encontra na regido da rejeigdo deve ser rejeitado, se estiver fora da regio da rejeigao nao se pode rejeitar Ho ao nivel de significdncia escolhido. * Com relagao ao item b, a escolha de uma prova esta- {istica sera considerada “boa’, quando houver pequena probabilidade de se rejeitar a hipotese nula, quando esta € “verdadeira” ou, entdo, de aceit-la, quando € “falsa”. A escolha da prova depende de uma série de circunstancias: do objetivo que se pretende alcangar com a pesquisa, da maneita como a amostra foi selecionada, do instrumento que se utilizou para a coleta de dados, da maneira de medit as variaveis, ete. Quanto a especificagao da significincia, ‘convém notar o seguinte: se uma hipétese for rejeitada, ‘quando devia ser accita, diz-se que foi cometido um erro tipol. Se, por outro lado, for aceita uma hipétese que devia ser rejeitada, diz-se que foi cometido um erro tipo Il. 0 dese}avel seria que nenlium dos dois erros fosse cometido. Entretanto, a possibilidade de se cometer o erro tipo I, ao testar uma hipotese, € dada pelo ntvel de significncia, isto €, por. Quanto mais se aumenta o valor de & mais se corre © perigo de se rejeitar a hipétese nula, sendo esta “verda- deira”. Na prética, geralmente se adota o nivel de signi Ancia igual a 0,05 ou 0,01. No primeiro («x = 0,05) hé probabilidade de que em 95% dos casos se tome uma decisio acertada, isto é que em cinco dentre cem casos a Ho seja rejeitada quando devia ser accita. Diz-se, entao, que a hipotese nula € rejeitada a0 nivel de significdncia de 0,05. Na pratica, o nivel de significancia deve ser expresso, logo depois de se ter enunciado a hipstese nula e de se ter definido que prova estatistica vai ser aplicada, e antes da 44, Sidney siege, Etatistica mo paramere, p27. 109 selegdio da amostra. £ neste momento que, juntamente com onivel de significancia, deve-se apresentar 0 tamanho da amustia que sera selecionada. Relativamente & regidlo da rejeigio, deve-se observar 0 seguinte: tendo como referencia a curva normal, o espago que contém 95% dos casos (quando a = 0,05) € + 1,960 ¢ ~ 1,960 ¢ 0 espaco que contém 99% dos casos (quando a = 0,01) € + 2,580 € = 2,580. O espago compreendido entre um ¢ outro conforme a € denominado regido da accitarao ¢ 0 espago que fica fora ¢ acima ou abaixo da regio da aceitagaio & denominado de regido de rejeigdo da hipétese, 0 que se verifica para cada caso através de provas estatisticas. Para concluir este capitulo, convém lembrar, como ja foi dito, que a diferenga, indicada na hipétese nula, refe- re-se a uma interpretagdo estatistica. Ao compararmos dois grupos € ao afirmarmos que, entre eles, néo existe diferenca significativa, estamos querendo indicar que esta~ tisticamente eles nao sao diferentes. Se, tendo em vista @ fendmeno a respeito do qual so comparados, eles realmente ‘sdo ou nao-diferentes depende de a pesquisa ter sido ou nao bem feita. Se o modo de proceder na pesquisa foi correto, entio 0 fato de ndo haver estatisticamente diferenga sig~ nificativa pode ajudar a inferéncia de que também quanto ao fendmeno, que serve para comparé-los, ndo hé dife- renga significativa e que qualquer diferenca encontrada se deve apenas ao acaso, 0 CAPITULO Vil Coleta, andlise e interpretagéo dos dados 1. Nogies preliminares Chama-se de “coleta de dados” a fase do método de pesquisa, cujo objetivo € obter informardes da realidad. A fase seguinte, em continuagao a esta, € 0 proceso de anali- sar interretaras informagdes obtidas e denomina-se “andlise cinterpretacdo de dados”, Iremos ver as duas neste capitulo, Deacordo com o tipode informagdes que se deseja obter, +4 uma variedade de instrumentos que podem ser utilizados € manciras diferentes de operd-los. Os instrumentos mais titeis a pesquisa sao 03 que, além de assinalar a presenga ou auséncia de um fendmeno, sao ainda capazes de quantifies Jo, dando-nos uma medida sobre 0 mesmo. Assim, por exemplo, abalanga pode acusar quieo homem pesa, mas tem ‘uma utilidade maior porque, além disto, pode indicar quanto pesa, p.ex.: 80kg. Nas cigncias comportamentais, preferem- se também instrumentos que possam medir 0 fenémeno, por isto, p. ex, um teste de inteligencia ¢wtl, porque além de acusar que o homem é inteligente pode oferecer uma medida a fim de se avaliar 0 seu QL © termo medir serve para indicar a atribuigio de ntime- ros a fendmenos, permitindo que, desta forma, se possa efetuar determinadas operagies. E as medidas, para isto, podem se apresentar em quatro niveis: nominal, ordinal, de intervalo e de proporgao, cujos significados so os seguintes: a) escala nominal € o nivel mais elementar que existe para a medida. Nela os niimeras so utilizados apenas para indicar que os fendmenas pertencem a classes diferentes. Os nti- aw eros servem, entdo, para distinguir uma classe da outra. £ ‘que acontece, por exemplo, com ntimeros de telefone. Em Recife, o prefixo 326 indica que o telefane pertence A classe de telefones de Boa Viagem, e 429, a classe de telefones de Olinda, Neste caso, nao tem sentido dizer que 429 € maior ou superior a 326, Na escala nominal, os nmeros servem também para indicar igualdade ow equivaléncia entre os clementos que pertencem mesma classe. Assim, todos os telefones como prefixo 429 so iguais e equivalentes quanto ao fato de pertencerem & classe de telefones de Olinda; ) quando os mimeros sao utilizadas para estabelecer uma ordem entre os individuos, entao se diz. que formam uma escala ordinal. Assim, por exemplo, medida que chegam a um Ambulatério, as pessoas vao recebendo uma ficha numerada. Aqui, o mimero de cada ficha indica a ordem de chegada eo conjunto de fichas forma uma escala ordinal. Neste caso, os ntimeros j4 nao indicam mais equi- valéncia, mas que um, sob algum aspecto, é mais (ou maior) do que ooutro (p. ex.: 0 que chegou primeito € mais pontual do que 0 segundo, que é mais pontual do que 0 terceiro, que mais pontual, etc.). Isto também acontece com 05 ntimeros, quando sao utilizados para a classificagdio esco- lar: 0 19 é mais do que 0 2°, que € mais do que o 3° ete.; ©) na escala de intervalo dos mimeros, além da ordem, indicam uma distancia entre eles. Assim, por exemplo, no termometro, os graus de temperatura: 36, 37, 38, etc. O primeiro indica uma temperatura ‘normal’, 0 segundo um comeco de febre, 0 terceiro o aumento da febre, etc. Embora no termdmetro (© ponto zero seja arbitrério, em qualquer um deles a distancia entre os mimeros permanece sempre a mesma, dando iguais medida e classe de informagao, mantendo a unidade de medida, comum e constante; 4) a escala de proporgao possui as mesmas caracteris~ ticas da escala de intervalo, tendo, no entanto, mais 0 fato de sua origem ser 0 ponto zero. Assim, por exemplo, os m2 ntimeros que, numa balanga, servem para pesar, formam, uma escala de proporgio. As excalas oferecem um interesse particular para a pesquisa cientifica porque definem tratamentos estatisti- os especificos que devem ser usados em cada uma delas. Aceste respeito, Siegel apresenta o seguinte quadro: ‘OS QUATRO NIVEIS DE MEDIDA E AS ESTATISTICAS APRO- PRIADAS A CADA NIVEL alas Relais Bremples desta. Provas stat. ainda tities aprpriadas teas arovriada Nominal — equvalencia ‘Modo rein Cocticente de con- lingtncia Proves estas nina 1 Bxvalcin Pecans arr 3B Ga Seaman 2. Desmaioe pra menor i esmenoe eda W Interloan iia 2 Demise peramener Desvio-padio SPrpmsscons Cancale ceummicraios fear Sualuercuro” ——correlaplo mii irs Prat saline 1 Buln pounder © 2 Demat pwameror Mia peoméin [| orpaamdics 5S Prope conbcsis -Propre copii Conse eri | alge asec comesitn ‘rum eraio da Se ager oto Fonte: sey seg" 45, Sidney Siegel, stata, p. 51 3

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