Você está na página 1de 16
NOVOS PUBLICOS, NOVAS POLITICAS, NOVAS HISTORIAS: DO REDUCIONISMO ECONOMICO AO REDUCIONISMO CULTURAL: EM BUSCA DA DIALETICA! Emilia Viowt da Casta Esa épaca ¢ uma época de caos, as opinidies sdo uma mistura; os par fidos so uma eonfusin, a Hinguagem das novas idéias nfo foi criedaz nada é mais dificil do que dat urna boa definigao de si mesmo em reli- giao, em filosofia, cm politica... © mundo cmbaralhou seu eatélogo, (Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine, 1790-1869)" “Em maio de 68 nds refizemos o mundo, Em Maio de 86 nds refi zemos a cozinha.” Esta legenda, que apareceu numa prepaganda publi- cada no jornal francés Le Monde, paga por uma empresa que vende ca- zinhas modernas, sugere uma mudanga nas atitudes das pessoas dos anos 60 para os anos 80; de um periodo de militancia politica para a geragao juppie. TE, verdade que se poderia questionar o radicalismo de Maio de 68 e duvidar se ele realmente ocorreu para refazer 0 mundo — embora néo exista divida de que esta era a intengado de muitos dos milhares de jovens, ¢ nilo to jovens, que se reuniram nas ruas de Paris e de outras cidades do mundo ocidental. Poderiamos também duvidar que a nova geracdo seja fundamentalmente consumista, individualista ¢ conserva- dora. A propaganda provavelmente expressa as esperangas dos empre~ sarios, ndo as atitudes dos consumidores. Mas esta propaganda, que foi mais tarde reproduzida na capa de um numero do Radical History Revi- ew, devatado ao estudo do impacto de novas formas de consuinismo na. cultura e politica contemporineas, ¢ uma boa metafora para caracterizar oestado de espirite de muitos historiadores e militantes quando confron- tatn as novas tendéncias tanto nas historias que vivemos como nas his- torins que escrevemos ? Temos apenas que olhar alguns dos artigos publicados em anos re- centes sobre acontecimentos contempordneos para detectar um tom de Emilia Viottida Costa ¢ Anos 90, Porta Alegre, n,10, dezembro de 1998 q siecle que atingiu a geragao de Alfred de Musset (1810-1852), a qual viu as esperangas iniciais da Revolugdo Francesa ruirem temporariamente durante a Restauragdo, Ainda mais reveladoras so alguimas das criticas de livres ¢ ensaios que discutem novas tendéncias historiograficas, Pre- ocupadas com as novas tendéncias que desviaram os estudos histaricos dos caminhos tradicionais, ampliando as frontciras da pesquisa histari- ca para areas nunca antes cxploradas e levantando diividas sobre abor- dagens, métodos e interpretagdes até cntao vigentes (tendéncias que fre- qientemente yém junto com novos objetivos c estratégias politicas), al- guns historiadores reagiram como se essas tendéncias represcntassem uma ruptura perigosa com o passado ¢ uma ameaga ao futuro, O campo esta palarizado, De um lado estilo aqueles que vem as novas tendéneias com suspeita ¢ reserva ¢ que, nao dispostos a estabele- cer um didlogo com o novo, continuam a escrever a historia como se cles ainda vivessem nos anos 60. Do outro lade estio aqueles que perseguem de medo nao eritico o trabalho de demoligao das abordagens tradicio- nais, adotando novos modos simplesmente porque eles sio novos, sem examinar suas limitagées ¢ implicagdes. Ambas as posigdes so erréne- as. A primeira porque se recusa a incorporar em nivel tedrico as trans- formagées extraordinarias que ocorreram nos ultimos trinta anos, tcimo- samente insistindo em esquemas tcéricos que nao seryem mais para o mundo a volta deles. Nao surpreendentemente, os que adotam esta posi- cdo perderam a capacidade de recrutar seguidores no seio das novas ge- ragdes. A segunda € errdénea, porque, em sua busca de originalidade. e cm sua sedugao por novas maodas, simplesmente inverte as assuncGes da historiogtafia dos anos 60, em vez de integra-las numa sintese nova e mais tica. Portanto, apesar de todos og seus anseios por novidade, corre o ris- code recriar um tipo de historia ainda mais tradicional do quea que esta sendo repudiada, c — o que é pior —, na sua Ansia de busca de noves te- mas, a “nova historiografia” deixa de lado aspectos que s4o cruciais para a compreensio da sociedade e da histéria, Os leitores desta nova histé- tia freqiientemente nao dispéem de meios para se situarem em relagdo a0 passado e ao presente, senclo, portanto, incapazes de construir o futu- ro, Na melhor das hipoteses, esta atitude converte a histéria num mero exercicio de retérica que visa a entreter o leitor. Na pior das hipéteses, a transforma num exercicio académico que. apesar das intengdes de seus autores, serve a propdsitos fundamentalmente conservadores. Neste campo assim polarizado, ¢ extremamente importante que pa- remos para pensar sobre essas tendéncias contraditérias, néo com o pro- 8 Anos 90 radas pela propria historia, ou para celebrar sem criticar as novas abordi gens, mas para abrir novos caminhos para uma sintese muito necessaria, Para compreender a ruptura epistemologica que ocorreu nos ulti- mos trinta anos, temas qué colocar no seu contexte histérico as mudan- gas que afetaram tanto a sociedade como as condigées de pradugao inte- lectual. Sinais de tensdo podiam ser deteclados a partir dos anes 50, 0 trabalho de Jean-Paul Sartre, particularmente sua Critica det razdo aia- fética, e também o de seu adversario, Merleau Ponty, especialmente Humanisme ¢ terror e As aventuras da dialética, ji continham as per- plexidades ¢ diividas que levaram ao impasse teorico que controntames hoje em dia, Num ensaio publicado nos anos 60, Merleau Ponty obser- vou que a dialética tinha sua propria historia. Ele chamou a atengao a tensdo enire liberdade ¢ necessidade no seio da dialética, ¢ cbservou que, dependendo da praxis social, os historiadores eram conduzidos a enfati: zar tanto forgas historicas impessoais ¢ “objetivas” como ¢ papel de su- jeito histérico ¢, portanto, da subjetividade, yontade ¢ liberdade, Na verdade, quando examinamos as mudangas que ocorreram na historiografia nos ultimos trinta anos, observamos um desvio gradual da necessidade para a liberdade. De uma énfase no que foi uma vez defini- do como forgas histéricas “objetivas” a uma énfase na subjetividade, criatividade ¢ agao do ator historico, De uma preocupagdo com condi- gdes materiais da existéncia a uma preocupagdo com percepgdes, sim= bolos, significados ¢ rituais. Do que nos anos 60 era caracterizado como. infra-cstrutura a uma preocupagdo com o que era entio conceitualizado come superestrutura. O que iniciou como uma critica saudavel e neces- saria das interpretapées mecanicistas, do determinismo ecendmica ¢ do cstruturalismo (como na critica de Althusser de E,P. Thompson, por exem- plo), ¢ da separagdo artificial entre infra e superestrutura (uma separa- cao habilmente criticada por Raymond Williams om Marxisina ¢ litera (ura) terminon, contrariamente As intengdes originais dos autores, numa. inversao completa. Cultura, politica, linguagem e significado, em vez de serem constituidas (dcterminados), se tornaram canstituintes (determi- nantes}, A consciéncia era novamente vista como determinadora do ser social, em vez do contrario ~ conforme postulade pela historiografia dos anos 60 (deixando de lado, naturalmente, a historiografia conservadara, que sempre afirmou a natureza transcedental da consciéncia) A critica valida das nogées essencialistas de classe ¢ das relagdes mecdnicas entre classe € consciéncia de classe (tao bem problematiza- das em 4 idealogia de poder e o pader da ideologiay’ e os noves cami- Anos 90 o lagdo de miultiplas ¢ freqtientemente contraditérias identidades (étnica, religiosa, de classe, de género, de nacionalidade. ¢ assim por ciante) muitas vezes levaram ao descaso total do conceito de classe como uma categoria interpretativa. O que comegou como um reconhecimento de que os historiadores constrocm scus proprios objetes e uma critica do obje- tivismo caracteristico de uma Ieitura positivista do marxismo, a qual er- roneamente assumia uma separacdo total entre sujeito © objeto, decla- rando a natureza cientifica do conhecimento historico, conduziu freqlien- temente a um subjetivismo completo, 4 negagiio da possibilidade do co- nhecimento. ¢. algumas vezes, até ao questianamento das fronteiras en- tre historia ¢ fiogdo, “fato ¢ fantasia”. (Por exemplo, a énfase de Hayden White na “natureza fictiva da narrativa historica’.*) ‘Tanto as abordagens tradicionais como as novas sao cemincntemente atiti-dialéticas. Elas nado apenas estabelecem uma separacao artificial (oposig4o) entre objetividade ¢ subjetividade (ou liberdade e necessida- de). esquecende que uma esta implicada na outra, mas clas também ig- noram um principio dialético basico: o de que homens ¢ mulheres fazom a historia, mas nao sab condic¢des de sua propria escolha O resultado do desvio de uma posigde tedrica para a oulra foi uma inversdo: nds simplesmente passamos de um reducionisme para outro, do reducionismo cconémico para o cultural ou linguistico. A uma reifi- cacdo nds opomes outra. Ambas sio igualmente insatisfatérias. Nenlu- ma abordagem faz justica & complexidade da dialética c da teona da praxis humana. No entanto. gragas a tal inversdo, pode ser possivel hoje tentar- mos uma nova sintesc. A demoligdo das abordagens tradicionais prevocou varias baixas. Uma foi a nogao de processo histarica, Insatisfeitas, ¢ com boas razdes, com uma historia telealogica que via cada momento historice como um estagio necessario num processo histérico lincar que automaticamente conduzia a um fim ja conhecido, um grande nimero de historiadores che- fou ao ponte de negar que a histéria tivesse qualquer Logica propria. Eles tambem desistiram de qualquer tentativa de totalizagao. Isto levou ao deseredito de todos os modelos tedricos, independente de serem origi- narios das teorias da moderniza¢ao, dependéncia, sistema de mundo, ou modas de produgdéo. Como conseqiiéncia, os debates tedricos, que no passado tuitas vezes nao tinham base teérica e corriam o risco de se tor- narem escolasticos ¢ estércis, foram adiades. se nio completamente aban- donados. O empirismo tornou-se moda novamente, néo come wm mo~ mento necessario 4 elaboragdo de qualquer teoria, mas come um fimem io Anos 90 si mesmo, como se a historia pudesse de algum mede revelar-se a qual- quer pessoa que se debrugasse sobre documentos, De uma abordagem nao-dialética, dedutiva, que demonstrava mais do que investigava ¢ que parceia saber o que iria encontrar mesmo antes de comegar a procurar, passamos a uma abordagem indutiva que nunca alcanga niveis tedricos. Em vez de semelhangas, os historiadores enfatizam diferengas, em vez de regularidades, eles privilegiam o imprevisivel, o avidental, o inespe- rado, © irracional, o espontaneo. © “quadro histérico” ¢ a “historia da vida cotidiana’’, que ficaram famosos na Franga nos anos 50 ¢ foram desde entéo enterrados, foram ressuscitados com uma neva ¢ mats refinada apareneia retorica, Tambem o foram teorias de carater nacional, que todos acreditavam terem sido abandonadas com a derrota de nazismo em 1945. mas que agora reapa- recem sob o disfaree de “cultura” ou “etnicidade”, Simultaneamente, a meméria muitas vezes tomou o lugar da historia. Um crescente mimero de historiadores pareciam mais interessados em coletar testemunhos de pessoas, recelhendo suas memérias, do que em eserever sua historia. Esta tendéneia se tornou tao importante que, em dezembro de 1997, o Ameri- can Historical Review dedicou uma de suas secées “forum” 4 historia ¢ memoria. Na introdugao, o editor salicntou que “a memdria coletiva se tornou uma forma atraente de andlise histdrica”, Seguindo os passos do historiador francés Pierre Nora, os adeptos do que logo se tornou um género dominante criaram revistas, promoveram encontros internacio- nais, €, nfo surpreendentemente, reerutatam cada vez mais seguidores. Embora a maioria dos historiadores continue a utilizar testemunhos orats como um subsidio ao material de arquivo, alguns comegaram a confiar cada vez mais exclusivamente nas entrevistas. A memoria toma o lugar da histéria, a historia oral substitui a pesquisa de arquivo. Este género se tornou especialmente bem-sucedido entre grupos envolvidos em fa- zer ouvida a voz dos sem-voz, na arena publica.® Mas freqiicntemente, conforme coloca Steven Watts, “ansiosos para difundir a “participagao” discursiva em todos os grupos culturais excluidos, os esquerdistas lin- glisticos falharam no desafio ag estruturas sécio-ccondmicas, politicas, ¢culturais subjacentes, que exeluiram esses grupos desde o inicio ¢ que sustentaram a ilusao de ‘escolha’* Por ter a historiografia tradicional negligenciado a subjetividade dos agentes histéricos (transformando-a num epifenémeno, vendo as pesso- as como “portadoras” de forgas histéricas em vez de agentes historicos), a nova historiografia escolheu colocar seu foco no “agenciamento hu- mano” e escrever a historia sob o ponto de vista daqueles que foram si- Anos 90) 1 lenciados ou esquecides, Q niimero de praticantes da historia oral cres- ceu, assim como o numero de estudos bascados exclusivamente em tes- temunhos e entrevistas — como se estas contivessem toda a historia, ou come se a historia ndo passasse de uma confusdo de subjetividades vozes, uma especie de Torre de Babel. Os extremistas clamavam que a mica solugio era cada um contar a sua propria versio da histaria, Os historiadores se limitariam a registrar as muitas versées, talvez acres- centariam a sua propria versio. Havia no entanta um risco nesta aborda- gem, que alguns estudiosos rapidamente detectaram. Os relatos de tes- temunhas sempre sao parciais, nao s¢ pode captar processos historicos pela escuta de um lado. E mesmo apos ter escutado muitos testemunhos contraditorios, os historiadores tém que submeté-los 4 critica histérica. Sendo eles perderao a historia que esta por tras das palavras, Sob a influéncia de Foucault, a atengdo dos historiadores passou das estruturas globais de dominagéo, os processos de acumulagao de ca- pital, o Estado, ¢ as relagdes entre as classes sociais, todos enfim que estiveram no centro da historiografia tradicional, para a microfisica do poder, Isto levou a uma extraordinaria expansdo das fronteiras da histo- ria: criminalidade, prostituigdo, homossexualidade. bruxaria, carnaval, cheiros. procissdes, rituais, 0 teatro ¢ os rituais de poder, mitos e lendas, cartografia ¢ outras formas de representagées (todas haviam interessado os historiadores apenas marginalmente no passado), absorveram as ener- gias da nova geragdo de historiadores. Mas apenas raramente eles tenta- ram estabelecer uma conexdo entre a macro ¢ a microfisica do poder. Em algumas raras ¢ nolaveis excegées,'° estes dois tipos de abordagem se aproximaram, No mais das vezes, clas correram paralelas uma a outra, soma modas altematives de ver a historia. O resultado foi que, apesar da expansdo extraordinaria do campo da historia ¢ de nossa. compreen- sio da multiplicidade ¢ variedade da experiéncia humana, a macrofisica do poder permaneceu na sombra. Embora este méteda de andlise. deri- vado de uma Ieitura simplista de Foucault, realmente tenha ajudado a identificar os muitos lugares onde o poder cra exercido — ¢ esta foi uma contribuigdo positiva a nosso conhecimento do passado — cle se reeus va a explicar como ¢ por que o poder é constituido, reproduzido e trans- formado. Contrariamente a intengao original de Foucault, as microisté- tiag permanceeram com freqiéncia como pegas coloridas de um calei- doscopio quebrado, nunca sc juntandoe para produzir um desenho, me- ros fragmentos de experiéncia sem significado. As estratégias politicas, que no passado se baseavam na critica do Estado e das estruturas cconémicas e sociais, nao foram validadas pela 12 Anos 90 nova historiografia, Outras estratégias encontraram justificagdo na nova historia que celebra a espontancidade, a resisténcia diaria, as “armas dos fracos”, e que prega a subversao da linguagem. Mas estas tendéncias que podem significar emancipagdo, podem facilmente levar a um beeo sem. saida, uma vez que ¢ dificil tomar posig¢4o perante uma historia que € arbitraria, cadtica, ¢ sem significado ou diregao. Nenhuma das tendéncias mencionadas aqui contribuiu tanto para a inversao da dialélica como a énfase no discurso, seja este o dos opri- imidos ou o dos opressores, o dos reformistas ou o dos conservadores - uma tendéncia que um autor definiu como “lingtiicismo vulgar”. Con- forme Bryan Palmer salicnta, em Merguihe ro discurse," muitos auto- res que adotaram esta abordagem importaram uma terminologia que serve apenas para enfeitar seus textos histdricos, os quais de autre mode con- tinuam a seguir métodos muito convencionais. Discurso, linguagem, sim- bolic, deconstrucao, tornaram-se expressdes comuns no jargdo do his- toriador, embora freqtientemente apenas como parte do seu vocabulario, endo como parte de sua teoria. A proxima etapa, no entanto, foi a reifi- cacao da linguagem, Esta tendéncia aparece claramente em estudos im- portantes sobre a classe trabalhadora.'* Gareth Stedman-Jones, por exem- plo, em Lingwagens de classe? apas ter afirmado que nao ha realidade social fora ou antes da linguagem, conclui que a classe ¢ construida ¢ inserita numa retérica complexa de associagGes metaforicas, inferénei- as causais € construgdes imaginarias — algo que é sempre bom lembrar, mas que por si s6 no é suficiente para compreender a experiéneia de classe (conforme Neville Kirk observou na sua fina analise critica da li- teratura sabre o Chartisino),'* Criticando Stedman-Jones por nao ter le- vade sua metodologia as ultimas conseqiiéncias, Joan Scott em “Sobre finguagem, género e historia da classe trabathadora’)* props um mé- todo que mostraria como “idéias tais como classe tornam-se, através da linguagem, realidades sociais”. Isto é uma completa inversao da meto- dolagia tradicional, Neste casa, a linguagem determina as relagaes saci- ais, em vez de occrrer 0 contrario# Neste texto, Scott parece priorizar oconceilo de classe sobre a experiéncia de classe, quando ela afirma que “conecitos como classe so necessarios antes que os individuos possam identificar-se como membros de tal grupo, antes que eles possam agir coletivamente come tais”, A analise do discurso €, naturalmente, fundamental para o traba- lho do historiador. Na verdade seria justo dizer que ndo ha pesquisa his- térica que ndo comece com uma analise do discurso. Mas reconhecer este fato no ¢ o mesmo que dizer que a andlise do discurso ¢ suficiente para Anos 90 13 a compreensao da historia, E certamente isto ndo significa, como algu- mas pessoas gostariam de acreditar, que as unicas coisas que existem so textos e mais textos, ou que o trabalho do historiador, como 0 do critico literario, néo passe de uma infinita deconstrugao. Terry Eagleton, descrevendo os eventos de 68 ¢ as emergéncias do pos-estruturalismo, comentou ironicamente que, incapaz de subverter o poder do Estado, a geragdo de 68 subverteu a linguagem. Numa analise critica do livro de Furet sabre a Revolugao Francesa, Lynn Hunt obser- vou, em 198], quea historia da Grande Revalugao. a qual durante muito tempo tinha estado associada a violéncia, fome ¢ conflito de classes, ti- nha sido transformada num “evento semiolagico”. Furet tinha inventa- do uma nova metafisica na qual a linguagem cria relagdes humanas.'* A nova historiografia também mostrou uma crescente preacupagia com problemas epistemoldgicos, isto é, com a discurso do historiador. Esta tendéncia nao é nova. Numa palestra proferida em 1966, no John Hopkins, Jacques Derrida observou que precisamos interpretar a interpretagao, mais do que interpretar as coisas propriamente ditas, Seu apele encontraria muitos scguidores que estavam mais preacupados com a discussao dos |i- mites da consciéncia histérica do que com a histdria em si. As categorias utilizadas pelos historiadores em suas interpretagdes do passado foram colocadas cm questionamento, conduzindo a especulagao obsessiva sobre a validade de sc aplicar nossas praprias categorias a outras culturas, ea outras épocas e lugares. Podemos aplicar categorias origindrias da experi- éncia européia ao “Oriente”? Pade o colonizador falar pelo colonizado? Podemos escrever a historia des oprimidas ou eles deveriam falar por si mesms? Pedem os subalternos falar? Podem as teorias sobre divisio sexual do trabalho, que utilizamos para estudar as areas centrais do capi- talismo, ser aplicadas 4 periferia?* Duvidas aparecem ¢ se multiplicam. Mais ¢ mais, falamos sobre a que os historiadores podem ou nao podem fazer, em vez de falar sobre historia, Aqui também, © que comegou como uma reflexdo saudavel sobre as distorgdes que os preconceitos des histo- nadares impSem a escrita da historia, ¢ uma critica do ponto de vista “cu- rocéntrico” ou “centrado no Ocidente”, pode facilmente transformar-se numa perversamente alegre negagio da possibilidade do conhecimento historico. Estamos longe das muitas certezas que caracterizaram os anos 60. Isto pode ser bom, mas também pode ser ruim, especialmente se nds os tarnarmas muito certos de nossas incertezas. ‘Que a historiografia surgida de uma leitura positivista dos classi- cos da dialética deixou muito a desejar ¢ algo que foi reconhecido ha inuito tempo, cmbora o cspancamente de cavalos mortos continue sen- 14 Anos 90 do um dos nesses esportes favoritos. Na verdade, muito do que aparece hoje sob a etiqueta de pds-moderno au pos-estruturalista encontrou suas raizes no trabalho de um filésofo francés que teve um grande impacto nos anos 60, mas foi depois legado ao ostracismo. provavelimente devi- do a suas conexdes politicas. Qualquer pessoa que se desse ag trabalho heje de ler as primeiras duzentas paginas da Critica da razdo dialética de Sartre" (a seqdo intitulada “A questo do método”), encontrara uma critica inteligente da historiografia marxista conforme cla foi eserita pe- los contempordincos de Sartre. Sartre criticou intelectuais que acredita- vam estar servindo seu partido ao simplificar os dados, negligenciando detalhes, e conceitualizando o acontecimento antes de t@-lo estudado. Ele os acusou de ter transformado o que deveria ser um métedo de pesquisa numa nova metafisica. Tecendo comentarios sabre A futa de classes nea Primeira Republica, de Daniel Guerin, Sartre disse que “Este método é a priori, O autor nao constroi seus conceitos a partir da experiéncia que cle deseja decifrar, Ele conhece a verdade antes mesmo de ter iniciade Seu unico objetivo é encaixar os acontecimentos, as pessoas ¢ suas agdes em moldes pré-fabricados”. Sartre também eriticou a redugao do poli- tica ao social, ¢ da ideologia aos interesses de classe. Ele condenou os historiadores por nao serem capazes de integrar em suas historias a pers- pectiva dos agentes historicos. ¢ por desumanizarem a histéria. Sartre também desafiou aqueles que estabeleceram uma relagdo mecanicista entre og individuos ¢ as classes sociais, entre classe social ¢ conscién- cia, € entre praxis imaginaria e real. Ele insistiu na importancia das me~ diagdes e condenou a natureza telealégica das explicagdes histéricas tre também criticou as abordagens essencialistas, funcionalistas e esta- ticas que ignoraram o significado das contradigées e a importancia do pracesso historice. Sua amiga ¢ companheira. Simone de Beauvoir. fot também uma pioncira, Ela levantou a bandeira do nowo feminismo. Foi uma das primeiras a mostrar como o poder esta implicado na construgao do outro.” Portanto, j nos anos 50 ¢ 60 sc poderia detectar as perplexi- dades, o8 conflites ¢ as tendéneias que vieram a dominar a nova histori- ografia, Mas a nova geragda de historiadores nao seguiu Sartre. Seu trabalho esta mais proximo de Foucault, Derrida ¢ dos novos filosofos franceses,~ Isto os conduz a uma confrontag4o ¢ a uma ruptura com as tradigées historiograficas da era de Sartre E talvez no campo da historia do trabalho que 9 conflite entre o novo co antigo ¢ mais visivel, Enquanto que no passado os historiadares se con- centravam nos conflitos entre capital e trabalho ¢ na macrofisica do po- der, ¢ estavam preocupadas com as estruturas econdmicas ¢ cam o papel Amos $0) 15 do Estado ¢ dos lideres sindicais ¢ partidos politicos na formagae da clas- se trabalhadora, a nova historiografia se voltou para o estudo de rituais, linguagem, familia, lazer ¢ resisténcia diaria. Enquanto que no passado os historiadores perguntavam qual impacto a mudanga industrial co Estado tiveram no movimento trabalhader, a nova historia inverteu a questao ¢ perguntou que impacto teve o movimento trabalhador na economia ¢ na formagdo do Estado. Enquanto que a historiografia tradicional estava pre= ocupada com “a classe trabalhadera”’. que era considerada a classe revo- lucionaria, a nova historiografia problematizou ¢ historizou nogGes de clas- se-¢ de consciéneia de classe, questionando a visdo essencialista da classe trabalhadora, caracteristica da historiografia tradicional. A nova historio- grafia também levantou dividas sobre a alegada solidariedade “natural” da classe trabalhadora, ¢ expds os conflitos internas que emanaram das muitas € por vezes competitivas identidades — nacional. religiosa, étnica, sexual, ¢ assim por diante -, corroendo a solidariedade da classe trabalha- dora. Simultaneamente, a nova historiografia repudiou as abordagens te- leolégicas que no passado consideraram que a historia 1a inevitavelmente em diregia do sogialismo e que cada momento histérico era uma nova etapa nesta diregdo, O foco da ateneao se moveu do movimento trabalhador para 8 trabalhadores, da fabrica para o lar, do homem trabalhador para a mu- ther trabalhadora, do trabalhador individual para sua familia, ¢ do traba- lho para o lazer ¢ cultura Anova historiografia do trabalho reexaminou as relagdes entre lide- ratiga € as raizes, entre os sindicatos e os governs. Ela desafiou aque! que acreditavam numa conexdo autematica entre as formas de conscién- cia ¢ os tipos de alividadcs nas quais os trabalhadores estiveram envolvi dos, ¢ repudiau os conecitos de hegemonia ¢ falsa consciéncia freqiiente- mente empregados pela historiografia tradicional. Neste processo de revi- so, historiadores também incorporaram em sua anilise os trabalhadores urbanos ndo-industriais, que tinham pouce chamado sua atengéio no pas- sado. Como conseqténcia de todo este revisionismo, houve uma grande expansio das fronteiras da historiografia do trabalho, a qual veio a meluir movimentos saciais, mulheres e trabalhadores do setor terciario. Aqui, mais uma vez, trata-se de um movimento positive. Mas, s¢ for levado ao extre- mo, pode ter conseqiéncias negativas, pois faz com que as pessoas per- cam a visdo das forgas historicas fundamentais, que afetam nao apenas a vida dos trabalhadores, mas Lambem nossas proprias vidas. As novas tendéncias na historiografia do trabalho propiciaram gran- des debates e aloumas reagdes negativas, particularmente por estarem diretamente ligadas a questées politicas contemporaneas, Isto tarna-se 16 Anos 90) par exemplo, no ensaio de 1087 de Michacl Schneider, “In Sear- ch ofa ‘New Historical Subject’: The End of Working-Class Culture, the Labor Movement, and Proletariat’“’ no qual ele mostra a conexdo dire- ta entre a nova historiografia ¢ as tendéncias politicas na Alemanha do pos-guerra, tendéncias que leyaram alguns autores a afirmar que as for- mas tradicionais de consciéneia proletaria néo podem emergir na época alual, ¢ até a prever o fim do proletariada e do movimento trabalhista, ¢ aemergéncia em seu lugat de movimentos sociais, tais como movimen- tos pela paz, movimentos ecolégicos, movimentos feministas ¢ assim por diante, Confrontanda este desafio, outros olham com nostalgia para um passado que eles descrevern como uma ¢poca onde a cultura da classe trabalhadora era integradora e radical, ¢ culpam as estratégias da Demo- eracia Social por sua desapari¢do. Schneider argumenta que os sucessos da Democracia Social c dos sindicatos no seio do sistema democratico liberal, ¢ a economia de mercado na Alemanha realmente melhoraram as condigdes dos trabalhadores.® conduzindo a uma erosio da consci- éncia de classe, O declinio numérico da classe trabalhadora ¢ as dificul- dades para se criar uma “consciéncia de classe” levaram a uma redefini- gao das estratégias politicas, ¢, simultaneamente, 4 busea de novos pa- radigmas historiograficos, focados no estudo das politicas das vidas co- tidianas de “pessoas ordindrias”. Analisando as conseqiéncias dessas novas praticas politicas ¢ historiograficas, Schneider observa que a soli- dariedade entre pequenos grupos de trabalhadores, ou os moradores de uma vizinhanga, pode, de fato, criar ilhas alternativas de cultura ¢ refor- ma social, mas nao pode substituir um programa politico mais inclusi- vo. Na sua opiniao, os projetos que visam explorar o potencial politico nas vidas de pessoas ordinarias, ¢ que enfatizam apenas os aspectos ne- gativos de organizagdes politico-partidarias e de classe mais inclusivas, podem conduzir a um beco sem saida, Apés indiear falhas metodolagi- cas nesta nova historiografia, Schneider conclui que muitos dos estudas regionals ¢ locais, que scguem as novas tendéncias, nao oferecem nada mais do que uma compilagdo ndo-critica de detalhes, cuja relevancia é nada. Eles permaneeem como um cemitério de fontes, museu de curiosidades, Ha também o perigo, cle afirma, de que os h toriadores que cultivam este tipo de histéria tornem-se, cles mesmos. incapases de avaliar de maneira critica sua propria situagao, ¢ sua pro- pria vulnerabilidade, O que Schneider talvez nfo veja, é que o que hoje lhe parece tio derivative pode ser um momento necessario para corrigir distorgées ¢ insuficiéncias da historiografia do passado, ¢ que isto poderia conduzir Anos 90) 17 a produgao de uma nova e mais rica sintese ¢ de uma nova ¢ mais efetiva pratica politica.” Para que esta sintese ocorra, no entanto, precisamos prestar aten- ¢do a ambos og lados, ¢ submeté-los a uma séria critica, A necessidade de tal critica parece ainda mais importante na periferia, onde as modas intelectuais, em vez de serem um resultado de uma reflexao sobre con- digSes internas, sdo freqiientemente importadas de lugares onde a reali- dade é profundamente diversa, Quando escuto Michelle Perrot, a famo- sa feminista francesa e historiadora do trabalho, dizer que a sociedade pos-moderna ¢ “‘uma sociedade na qual as possibilidades de expressivi- dade individual se multiplicaram na realidade”, e que “o impacto dos modelos politicos ¢ culturais dominantes sobre as pessoas tem sido exagerado, que as pessoas ainda possuem suas vidas privadas, suas fa- culdades criticas, as quais sio cada vez mais importantes porque as pes- soas estéo cada vez mais educadas”’, eu paro ¢ penso se esta realidade sc aplica A América Latina. Mas quando cla continua, dizendo que: “Afi- nal, a sociedade pds-moderna ¢ uma sociedade na qual classe tem um significado diferente e na qual as pessoas (¢m um respeito maior umas pelas outras’, cu me pergunte, cm que mundo cla tem vivido?™ Certa- mente néo no mundo que eu conhege, Racismo, tortura, massacres de lideres politicos, esquadrées da morte, problemas de sobrevivéncia que afetam a vida ditria de homens ¢ mulheres na periferia, de Mogambique até El Salvador e Guatemala, os seis milhées de criangas abandonadas no Brasil, os problemas das cidades internas nos Estados Unidos — este tipo de coisas nao parece ter entrado no universo de Michelle Perrot, ou de muitos outros intclectuais de nagécs desenvolvidas, Visto da perife- tia, o narcisismo celebratério e as formas de militancia desta nova van- guarda, que ignora o que acontece em suas ex-coldnias, ¢ algumas yezes o que aconteee cm seu préprio territério, parece suspeito e me leva a le- vantar questées sobre a validade de se aplicar categorias analiticas ori- ginarias de uma experiéncia tao diversa, para outtas partes do munda, ¢ talvez até mesmo para nos. As novas tendéncias da historiografia americana ¢ curop¢ia nasec- ram de situagdes concretas. Algumas sdo similares 4s que encontramos no assim chamado Terceiro Mundo, outras nao. Elas estao, em parte. li- gadas a crise do sistema soviético ¢ de uma certa leitura do marxismo durante o periodo pds-guerra, ¢ as criticas que se seguiram das formas de organizagao ¢ das estratégias sepuidas pelos partidos politicos asso- ciados a Unido Sovittica. Na periferia, este processo se acelerou pela repressao politica induzida pela Guerra Fria. O fracasso dos assim cha- 18 Anos 90) mados regimes socialistas na Africa ¢ os acontecimentos na China gera- ram dividas e perplexidades entre a esquerda académica. Durante os tl- timos quarenta anos, a polariza¢do Ocidente-Oriente ¢ a intensa propa- ganda cm ambos os lados tornaram dificil uma avaliac&e critica dos acon- tecimentos contemporaneos e histéricos. Foi neste contexto que as no- ‘vas geracées procuraram novas formas de agao politica, ¢a historiogra- fia buscou novos caminhos. Mas este ¢ apenas um lado da historia. O outro é muito mais dificil de ser analisado e tem a ver com a creseente intemacionalizacdo da economia; a industrializagia das periferias: 0 pro- cesso de desindustrializagao no centro; a adogao de novas tecnologias € cncolhimento ¢ natureza mutante do proletariado nas areas centrais do mundo capitalista (embora nfo necessariamente na periferia), a expan- sao do setor tercidrio eda economia informal; a prescnga do numero cres- cente de trabalhadores nngratorios (arabes, africanos, italianos, portu- gueses que trabalham na Franga, Inglaterra on Alemanha, por exemplo, ou mexicanos e haitianos, salvadorenhos ¢ guatemaltecos, vicinamescs, coreanas, chinescs ¢ outros que trabalham nos Estados Unidos); a me- thoria das condicdes de vida de setores da classe trabalhadora as expen- sas de outras setores (brancos verszs negros nos Estados Unidos, nacio- nais versns estrangeiros na Inglaterra, Franga ou Alemanha) ¢ a conse- qliente intensificagdo de conflitos étnicos, que tornam dificil promover a solidariedade de classe; a expansao dos setores informais (onde os tra- balhadores niio tém nem poderes nem direitos); 0 extraordinario aumen- ta da participagao das mulheres na forga de trabalho (gerando conflitos no Ambito doméstico); o reaparecimento de sistemas de transferéncia (iso- lando os trabalhadores); a multiplieagéo dos trabalhadores temporiirios (o que torna cada vez mais dificil organiza-los de modos tradicionais): as transformagdes dos padres residenciais, com o desaparecimento das vizinhangas de classes trabalhadoras (que tradicionalmente tinham sido centros de atividades da classe trabalhadora}: mudangas nas formas de lazer (isolando os trabalhadores na frente da TV): 0 crescente impacto da midia a servigo do Estado e de corporagées de negdcios: e, finalmen- te, a generalizagdo de uma mentalidade consumista que intensifica a ten- sia entre privagéo e desejo, e enfatiza o individual a custa do social - tudo isso tem conduzido a uma redefinigio da pratica ¢ da teoria. E no Ambito desse cenario extremamente complexo, que varia de uma socie- dade & outra, que a nova historia nasceu. Apos tudo isso, deve ser Gbyio que a mera reprodugao de interpre- tages tradicionais néo dara conta dessa nova realidadc. E, uma vez que © trabalho do historiador & sempre um didlogo entre o passado ¢ 0 pre- Anos 90) 1g sente, ndo é surpreendente que modos tradicionais de olhar a historia parecam inadequados, ¢ que o passado esteja sendo reeserito a partir de novas perspectivas. Neste sentido, 1968 foi realmente um divisor de aguas. Mas a oposigae sugerida pela propaganda com a qual inicici este texto — “Maio de 68, nds refizemos o mundo, Maio de 86, nés refizemos a cozinha”, consumismo versus militéncia — pode ser mais aparente do que real, © 6 certamente reversivel. Os acontecimentas recentes na Eu- ropa ¢ a nova ¢ recorrente crise no mundo capitalista, particularmente sentida na periferia, sugerem talvez que estejamos entrando num novo periodo histérico, O momento favorece uma sintese que evitara todas as formas de reducionismo e de reificagao, seja econdmica, cultural au li guistico, uma sintese que nao perdera de vista a articulagdo entre a mi- ero ¢ macrofisica do poder, uma sintese que reconhecera que a subjeti- vidade humana € ao mesmo tempo constituida por ¢ constituinte de rea- lidades sociais, uma sintese que resultara tanto numa nova historiogra- fia como em novas estratégias politicas.” Esperemos que, no préxime século, os historiadores sejam capa- zes de juntar as pegas neste campo entulhado de fragmentos, ¢, assim, eriarem uma visdo mais rica ¢ menos cadtica que possa auxilia-las (e aos outros) a se liberar da camisa-de-forga do narcisismo, a reimventar no- vas formas de solidariedade, ¢ a encontrar novos caminhos para um mun- do mais aberto ¢ verdadeiramente democratico, ande todas as pessoas de géneros, classes, etnias, religides e nacionalidades diferentes se jun- tem para participar, em igualdade de condigées, da riqueza do mundo. NOTAS 1. Uma versao ligeiramente diferente deste trabalho foi apresentada como pa- lestra inaugural na Sétima Conferéncia de Estudos do Trabalho, Atlanta, Ge- orgia, outubro 1991, 2. Citado por Clifford Geertz, The Interpretation af Cultures (New York, 1973), p.220, Radical History Review n.37, 1987, p.29-93, 4, Isto aque Jean e Jobn Comaroff esto lentando fazer na antropologia. Veja por exemplo scu Of Revelation and Revolution: Christianity and Conciau- sness it South Africa (v.1, Chicago: 1991; v.2, Chicago: 1997) GOran Therborn. fhe [delogy af Power and the Power af ideology (London, 1980), 6, Hayden While, “The value of narrativity in the representation of reality, Crit cal Jnquiry (Autumn L980), p.6-27; “The structure of historical narrative,” Clie n,1 (1972) p.3-20, ¢ “The historical text as literary artifact,” /bid., p.4162. we we 2 Anas 90) 7, Tented esta sintese em Crowns of Glory, Tears of Blood, ¢ The Demerara Slave Rebellion of 1823 (New York, 1994). 8. Daniel James em ~“Meatpackers, peronists. and collective memory: A view from the South”, observa que ha uma nova tendéncia na academia “centrada na produgao de textos sobre memdria, comemoragao e esquecimento”. Ele assinala que “hd alguma convergéncia entre a tematica da academia ea cul- tura mais amplamente popular”. American Historical Review (Dezembro 1997), 1404, Para es problemas referentes ao trabalho com a meméria como fonte historica, veja Daniel James. “Tales told out on tthe Borderlands: Dona Maria's Story, Oral History and Issues of Gender”, ¢ Jahn D_ French, “Oral History, Identity Formation and Working-class Mobilization” em John D. French e Daniel James eds.. The Gendered Worlds of Latin American Wo- men Workers: From Household and Factory to the Union Hall and Bailot Box (Durham, 1997), p.31-52 ¢ p.297-313, respectivamente. 9. Steven Watts, “The Idiocy of American Studies: Postructuralism, Langua- ge. and Politics in the Age of Self- Fulfillment”, American Ouarierty (de- zemibro, 1991), 652, Para maiores detalhes ver Emilia Viotti da Costa, “Structures versus Experi- ence: What do we gain What do me lose?" Jaternational Labor and Working Class History, n.36 (Fall, 1989), p.3-24. . Bryan Palmer, Descent into Discourse: The Reification of Language and the Writing of Social history Philadelphia, 1990). Veja R. Gray, “The Deconstruction jof the Working Class”, Social History, p.11 (1986), ¢ I. Foster, “The Declassing of Language”, New Lejf Revie p.150 (1985). Gareth Stedman-Janes, Languages af Class Class History, 1832-1982 (Cambridge, 1983). . Neville Kirk, “In Defence of Class: A critique of Recent Revisionist Writing upon the Ninelcenth-Century English Working Class”, fntermational Revi- ew of Social History, 0.37 (1987), p.2-47. Veja também PA. Pickering, “Class without Words: Symbolic Communication in the Chartist Movement”, Past cid Present, p.112 (1986), ¢ J. Epstein, “Rethinking the Categories of Working-Class history”, em Labour/Le Travail, p.n.18 (1986) 15, [LIFICH n.3] Primavera 1987) p. 1-14. 16. Veja as criticas de Joan Scott no mesmo ntimero de [LIFAICH, 17, Veja a resposta de Scatt as criticas em JLVHICH n.32 (outano 1987), p.39-45. 18, Veja Palmer, Descent into Discourse 19, Gayatri Chakorvaorty Spivak, em Cary Nelson ¢ Lawrence Grossberg, eds. Afarxisn and the Jaterpretation of Cultura (Chicago, 1988). ‘Veja, por exemplo, Liynne jPhilips, “Rural Women in Latin America: Di- rections for Fulure Research’, Latin American Research Review, v.25, 13 (1990), p.89-L08. Jean-Paul Sartre, Critique de ia Raison Dialeerique, précedé de Question de Méthode, Tome |, Théorie des Ensembles Practiqites (Paris, 1960). i = Bn a Studies in English Warking- = 2 S 2 Anas 90 21 22. Esta é uma tradugao livre, 23. Quire autor dos anos 50 ¢ 60, cujo trabalho foi muito importante, é Rolland Barthes, particularmente seu Mvihotogies. 24. No Segundo sexo cla argumentou que era “ad construir a mulher como ‘ou- Iro” que os homens na cultura ocidental constituiram-se coma sujeitos”. Fran- ces E. Mascia-Lee. Patricia Sharpe ¢ Colleen Ballerine Cohen, The Posto- Modernist Tura in Anthropology, Cautions from a Feminist Perspective. Signs, v.15, 1.11 (1989), p.7-33 5. Comentando a experiéneia de sua geragdo nos anos 70, Florencia Mallon es- creven que “alguns carregavam (a0 campo) 0 volume I do Capital sob seus bragos, outros, Lendo o Capital, Numerosos eran os que viajavam em com- panhia de E.P. Thompson, EJ. Hobsbawn ou Antonio Gramsci”, Mallon, “Dialogues Among the Fragments. Retrospect and Prospect” em Frederick Cooper, etal. Conjonting Historical Paradigurs. Peasants, Labor and the Capitalist World System in Africa and Latin Anverica (Madison, 1993), 372. Se continuarmos seguindo sua metafora, diriamos que a geracdo atual foi a campo carregando Foucault ¢ Derrida, Iromeamente, apesar de suas diferengas, estes autores tendem a ser anti-lui- manistas ¢ anti-historicos em sua abordagem. Veja Kate Soper, Miemanism aud Anti-Humanisn, Problens of Modern European Though! (London, 1986) 27, [LWHICH (outono 197), p.46-58. 28. Melhorias similares foram observadas na Inglaterra nas dnas décadas apos a Segunda Guerta, conforme indicou James Cronin. James Cronin e Jona- than Schueer, ods., Social Conflicts and Political Crisis in Modern Britain (New Briniswick, 1982}, Alf Ludike tenta estabelecer uma ponte entre o nove ¢ o antigo em “The his- loriography da vida cotidiana: o pessoal e 0 politico”, em Raphael Samuel ¢ Gareth Stedman-Jones, eds.. Culture, deology: and Potitics (London, 1983), p.38-S4. 30. “New Subjects, New Social Commitments: An Interview With Michelle Per- rol by Laura Frader and Victoria de Grazia.” Esta entrevista foi realizada por de Grazia em Paris. em 20 de setembro de 1985. Radical History Review 0.37 (1987), p.27-40. Walter Adamson, “Leflist Transformations; A Clash between the Feasible and the Desirable”, Radical History Review, 37,n.31. RP G a & 2 S a 22 Anos 90

Você também pode gostar