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‘UNIVERSIDADE DE SAO PAULO - _—INSTITUTO DE GEOGRAFIA 13 CADERNO DE CIECIAS DA TERRA So Paulo 1972 PAISAGEM E GEOGRAFIA FISICA GLOBAL ESBOCO METODOLOGICO G. Bertrand "Paisagem" é um termo pouco usado ¢ impreciso, e por isto mesmo, cémodo, que cada um utiliza a seu bel prazer, na maior parte das vezes um qualificativo de restricao que altera seu sentido ("paisagem vegetal", etc.), Emprega-se mais 0 termo "meio" mesmo tendo este termo outro significado. O “meio” se define em relago a qualquer coisa; este termo e impregnado duna finalidade ecolégiea que nao ¢ encontrada na palavra "paisagem’. Meio: "Espaco que envolve imediatamente as células ou os organismos vivos e com o qual os seres vivos realizam trocas constantes de matéria ¢ de energia. "Grand Larousse Encyclopedique, t. 7, p. 358. O problema é de ordem epistemolégica Realmente, 0 conceito de "paisagem' ficou quase estranho a geografiafisica moderna € no tem suscitado nenhum estudo adequado. E verdade que uma tal tentativa implica numa reflexdio metodolégica e pesquisas especificas que escapam parcialmente a geografia fisica tradicional. Esta € com efeito desequilibrada nela hipertrofia da pesquisa geomorfoldgica e por graves caréncias, em paiticular no dominio das ciéncias biogeogrificas. Enfim, ela permanece essencialmente analitica © “separative” qualificativo emprestado de P. PEDELABORDE que opje a climatologia classica "separativa" (estudo das temperaturas, das precipitagies, ete.) A climatologia “dindnica" (estudo global das massas de ar). Introduction a l'étude scientifique du climat, Paris, C.D.U., 1955, p.3 enquanto que 0 estudo das paisagens nao pode ser realizado sendio no quadro de uma geografia fisica global. ‘A paisagem niio é a simples adigo de elementos geogrificos disparatados. E, numa determinada porgiio do espago, o resultado da combinagio dindmica__instdvel, de elementos fisicos, bioldgicos e antrépicos que, reagindo jaleticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem_um_conjunto_tinico_e indissociével__em_perpétua_evolugdo. A dialética tipo-individuo & 0 proprio fundamento do método de pesquisa, E, preciso frisar bem que nio se trata somente da paisagem “natural’ mas da paisagem total integrando todas as implicagdes da agiio antropica. No entanto, deixaremos provisoriamente de lado as paisagens fortemente urbanas que, criando problemas originais, determinam possivelmente, para alguns de seus aspectos, métodes andlogos. Estudar uma paisagem é antes de tudo apresentar um problema de método. A exposigiio que segue da énfase sucessivamente a problemas de taxonomia, de dinimica, de tipologia e de cartografia das paisagens. I-A ANALISE DA PAISAGEM A nogao de escala é inseparavel do estudo das paisagens. As escalas témporo-espaciais de inspiragao geomorfoldgica de A. CAILLEUX e J. TRICARD foram utilizadas como base geral de referéncia para fendmenos geograficos (a ordem de grandeza é indicada entre paréntesis, abreviada C.l., Gl e G. Ill) J. TRICARD, Principes et Méthodes de la Geomorphologie. Patis, Masson, 1965, 79-90. Ver também L. GLANGEAUD, Degré de regionalité, Bull Geol. Fr., 1952] 1 - As classificagdes clementares - cada disciplina especializada no estudo de um aspecto da paisagem se apoia num sistema de delimitago mais ou menos esquemiitico formado de unidades homogéneas(ao menos em relagao a escala considerada) e hierarquizadas que se encaixam umas nas outras. A classificagdo fitogeogrifica de H. GAUSSEN: ANDAR (ex mediterrineo) SERIE (ex: carvalho) ESTA (ex. garrigue) ¢ a melhor ilustragdo disso. Em qualquer dos casos trata-se de unidades especificas que podem ser qualificadas de "elementares" em relagao ao complexo formado pela paisagem. Esses sistemas so tio variados quanto humerosos; nés nfio retiramos sendo os que apresentam um interesse do ponto de vista da taxonomia das paisagens. As classificagées climéticas ¢ pedolégicas so também tio gerais como teéricas e além disso sio bastante discutiveis. A hierarquia bem conhecida desde Max Sorte: clima zonal (G1) clima regional (G.I a G.IV), clima local (G.V-G.VI) e microclima (G. VII) pode fornecer um primeiro ponto de partida. Os geomorfologistas nunca demonstraram tanto interesse por questdes taxonomicas. Podemos citar somente a classificagdo morfo-estrutural apresentada pot G. VIERS conforme os trabalhos de TRICART: © dominio estrutural (ex. a Europa heleniana, G.I) a regio estrutural (ex. as Ardene (G.IV) a unidade estrutural: (ex. um anticlinal -alpino, G.V) [G. VIERS, Eléments de Geomorphologie, Paris, Nathan, 1967, 27-29]. A bacia-vertente, unidade hidro-geomorfoldgica, corresponde a uma descontinuidade essencial da paisagem, mas ela heterogénea por definigao e o limite a jusante e’sempre dificil de ser estabelecido. Enfim, as paisagens ditas "fisicas" sio com effito quase sempre amplamente remodeladas pela exploragdo antrépica. A divisio em parcelas, territ6rios, comunidades, quarteirées e "pays" vai entéo constituir um dos eritérios essenciais da taxonomia das paisagens.- [Terminologia izada por R. BRUNET nos estudos a serem publica dos: La notion de quartier rural. Bull. A.G.F,1968 et Rev. geogr. Pyr. $.0., 1968]. No entanto, a melhor aproximagio do problema é fornecida pela vegetagio que se comporta sempre como verdadeiro "reativador" do meio. As unidades fitogeogrificas citadas acima (andar-série-estédio)corespondem a massas vegetais perfeitamente definidas tanto no plano fisionémico quanto no plano dindmico. A fitossociologia modema com orientaglo sinecol6gica vem harmoniosamente completar este sistema, permitindo delimitar unidades homogéneas do ponto de vista floristico (associagdes ¢ agrupamentos vegetais, G.VI aG.VII). Como era de se esperar, essas diversas classificagdes elementares no tem entre elas nenhuma relagio légica porque os fenémenos em causa pertencem a 2 ordens geogréficas diferentes. Certos especialistas realizaram reagrupamentos parciais que constituem jé uma 1° etapa para a definigao das paisagens. Nesse dominio, os biogedgrafos, ja ha muito tempo, precederam os gedgrafos. 2 As combinagces bioecologicas - A biocenose é "um agrupamento de seres vivos, correspondendo, pela Composigio e pelo numero das espécies e dos individuos, a certas condigdes medias do meio, agrupamento de organismos ligados por uma dependéncia reciproca que se mantém por reprodugio de maneira permanente” M. ANGELIER, Cours de biogeoanimale proferido no Centro de 3° ciclo de Biogeografia, da Faculdade de Ciéncias de Toulouse ano 1963-1964] . O pantano com ris é um exemplo dessa combinagiio. A biocenose coloniza 0 bidtipo que é a unidade elementar correspondente e menor conjunto homogéneo do meio fisico- quimico VII-VIID). 0 ecétopo, a biogeocenose, 0 microcosmo, 0 "holocoen", “naturcomplex", o fisiétopo, a geoforma, etc., exprimem com algumas variagdes, de diversas maneiras e uma realidade bem préxima. (Cf . mais particularmente E.S.KORMONDY, Readings of ecology, New Jersey, 1965, 220 pag. As unidades biogeogrificas superiores como a tundra, savana, a floresta tropical timida, so qualificadas de "biomas". So massas relativamente homogéneas de vegetais e de animais, em equilibrio entre elas, ¢ com a clima. As "zonas ecoldgicas equipotenciais" de P. REY poderiam servir de unidades intermediarias entre a biocenose eo bioma, tanto mais que elas tentam integrar certos dados geolégicos © humanos (G.V-VI). Apoiando-se nessa nogdo de "equipotencialidade" ecolégica © aplicando métodos de andlises multifatoriais preconizadas por B.L.J. BERRY no dominio da pesquisa sociopsicolégica, M. PHIPPS tem a ambigdo de achar as estruturas da "paisagem biogeografica” e de definir matematicamente um "modelo biogeogrifico” da paisagem; R REY, CABAUSSEL, ARLES, Les bases biogeographiques de la restauration forestiere et pastorale dans departement de I'Aude-Corbieres, Razes, piege. Toulouse, 1961 (CNRS., Service de la Carte de la vegetation, 39 p. ronéo). M. PHIPPS, Introduction au concept de modéle biogeographique. Actes 2° Symposium Internat, Phot. Interpretation, Paris, 1966, IV(2), 41-49. Os biogedgrafos modemos foram ainda mais longe a caminho da sintese, definindo o "ecossistema’, Acentuaram as cadeias ¢ as redes troficas, isto é as ligagdes alimentares que unem os individuos e as comunidades vivas: "Qualquet que seja o ecossistema estudado, trata-se sempre e, em definitivo, de um problema de elaboragho, de circulagao, de acumulagtio e de transformagio de energia potencial, pela ago dos seres vivos € seu metabolismo". P-DUVIGNEAUD et M.TANGHE, Ecosysteme et biosphere. L’écologie, science modeme de synthese (vol. 2) Trav. Centre Ecologie generale, minist. Education Nationale, Bruselles, 1962, 127 p.] Entre as melhores aplicagdes desse sistema em particular no plano cartografico, € preciso citar os trabalhos dos norte-americanos, dos belgas, dos alemaes, dos soviéticos e dos poloneses. Entre outros citemos: J. M.CROWLEY, M.JURDANT, _A.W.KUCHLER, V.ESHELDFORD (Canada, U.S.A.) J.SMITHUSEN, C.TROLL et R.TUXEN (Alemagne), DUVIGNEAUD (Belgique), ICHACHENKO, NEOSTRLEV PALYNOV, SOTCHAVA, VILENSKY, VINK, etc. (U.RSS.), KONDRACKI (Pologne) et PLESNIK (Tehécoslovaquie). Ver mais particularmente J.M.CROWLEY, La Biogeographie vue par um géographe, C.R. som, Soc. Biogeographie, 1967, n° 380-382, 20-27. O ecossistema nfo tem nem 3 escala nem suporte espacial bem definido. Ele pode ser 0 oceano, mas também pode ser 0 pantano com riis. Nao € portanto um conceito geogrifico. Nessas condigaes é melhor renunciar a reajustar a taxonomia biogeografica a escolher livremente unidades geogrificas globais adaptadas ao estudo da paisagem, Diversas tentativas jd foram realizadas nesse sentido 3 - As primeiras sinteses geogréficas "regio natural" foi durante longo tempo o pilar da geografia francesa. "O termo de regitio se aplica tanto a conjuntos fisicos, estruturais ou climéticos como a dominios caractetizados pela sua vegetagio". A.CHOLLEN , La geographic guide de letudiant. Paris, 1951, p.31. Realmente, a "regio natural" escapa a toda definig&o racional tanto pelo contetido como pela superficie coberta (G.III 4 G.V). Pode-se conservar esta unidade maledvel € cOmoda com a condigdo de colocé-la num sistema taxonémico coerente. Duma maneira geral, as sinteses de geografia fisica realizadas durante a "idade de ouro" da geografia regional francesa pecavam pela falta de cultura bioldgica e ecolégica. E fora da Franga que devem ser procuradas as raras tentativas para apreender a paisagem na sua totalidade. Nés deixaremos por enquanto de !:ido todas as delimitagdes mais ou menos agronémicas ligadas ao "land-use" britanico ou a0 "soil-survey" norte-americano. A nogio de "Landschaft" domina toda a geografia germénica. Desde a 2" metade do século XIX uma "Landschaftskunde" tentou precisar as relagdes do homem e do meio. O determinismo abrupto desta ciéncia da pagem arruinou completamente a iniciativa e certamente contribuiu a desviar os gedgrafos franceses da ecologia, entiio em nascimento. C.TROLL retomou esta idéia apoiando-se nos trabalhos dos ecologistas anglo-saxdes, tirando proveito de sua propria experiéncia sobre foto-interpretagiio. C-TROLL, Landscape ecology. Publicated the I.T.C., UNESCO Centre For Integrated Surveys, 1966, Delft S. 4, 23 p. Ele langou as bases da “Landschafiskologie™ que € um estudo da paisagem do ponto vista ecolgico. As paisagens sio divididas em cétopos" (ou em “landschafzellen") que so unidades inteiramente compardveis ao geosistema. Este método representa um progresso decisivo sobre os estudos fragmentados dos gedgrafos e dos biogedgrafos, porque ele reagrupa todos os elementos da paisagem, ¢ 0 lugar reservado ao_fendmeno antrépico é bem importante nele. No entanto, trata-se mais duma atitude de espirito do que de um método de estudo cientificamente estabelecido. A definigao dos "ecdtopos" -permanece imprecisa e a hierarquizagéio dos fatores no é evocada, Nenhuma ‘ipologia sistemética permite langar claramente o problema da representagio cartogréfica. ‘Trata-se em suma dum método mais ecolégico que geografico. Pesquisadores soviticos ¢ americanos ultrapassaram por generalizagao © conceito de ecossistema e tentaram abordar as paisagens sob 0 aspecto estritamente quantitativo. [Idem - TROLL]. A paisagem € considerada um sistema energético cujo estudo se langa em termos de transformacio e de produtividade bioquimica. Esta "geochimical landscape" enriquece e simplifica ao mesmo tempo a nogdo tradicional de "paisagem’. Mas os préprios especialistas se perguntam como poderdio medir (posta de lado, a fotossintese) as transformagées de energia ao nivel de outros elementos que niio. os vegetais, particularmente ao nivel da microfauna. Mesmo o célculo aproximado do balanco energético de uma paisagem néo é ainda 4 possivel. No momento, o principal interesse da uma_tipologia dindmica das paisagens em funcio da migragio das substdncias geoquimicas. Distinguem-se 3 categorias de paisagens: um tipo “residual” (estavel), um tipo de “transito" (perda de substancia) © um tipo de "acumulagdo", Sob uma formulagio diferente, reencontra-se a bio-resistasia de HERHART que certos gedgrafos tentam adaptar a geografia fisica, H. ERHART, La génese des sais entant que phenomene geologique. Esquisse d'une theorie geologique et geochimique. Exemples d'application. Paris, 2° ed., 1967, 177 p. Neste nivel de concepgio, a paisagem aparece como um objeto de estudo bem definido que apela para um ponto de vista metodolégico. Il- A SINTESE DA PAISAGEM. Todas as delimitagdes geogréficas so arbitrarias ¢ "é impossivel achar espago que respeite os limites préprios para cada ordem de fendmenos" P.CLAVAL, La division regionale de la Suisse. Rev. Géogr. de I'Est, 1967, 83-94, contudo, de-se vislumbrar uma taxonomia das paisagem com domindncia fisica sob a condigao de fixar desde ja seus limites. 1°) A delimitagao nao deve nunca ser considerada como um fim em si, mas somente como um meio de aproximagao em relagdo com a realidade geografica em lugar de impor categorias preestabelecidas, trata-se de pesquisar as descontinuidades objetivas da paisagem. 2°) E preciso de uma vez por todas renunciar a determinadas unidades sintéticas na base de um. compromisso a partir das unidades elementares seria certamente um mau método querer superpor, seja pelo método cartogrifico direto, seja pelo método matemético (sistema de rede), 0 maximo de unidades elementares para destacar dai uma unidade "media" que no exprimiria nenhuma realidade por existir a estrutura dialética das paisagens. Ao contrario, é preciso procurar talhar diretamente a paisagem global tal qual cla se apresenta. — Naturalmente a delimitagao sera mais grosseira, mas as combinagGes € as relagdes entre os elementos, assim como os fendmenos de convergéncia aparecerio mais claramente. A sintese vem felizmente no caso substituir a analise. 3°) O sistema taxonémico deve permitir classificar as paisagens em fungdo da escala, isto ¢, situé-las na dupla perspectiva do tempo e do espaco. Realmente, se os elementos constituintes uma paisagem so mais ou menos sempre os mesmos, seu lugar respectivo e sobretudo suas manifestagdes no seio das combinagdes geograficas dependem da_escala t@mporo-espacial. Existem para cada ordem de fendmenos "inicios de nanifestagao" ¢ de “extingao" ¢ por eles pode-se legitimar a delimitagZiosistematica’ das paisagens = em ~—_unidades hierarquizadas.[R.B.......Les phenomenes de discontinuité en geographic complem. Toulouse, 1965, 22-28), Sur ex. ronéo (Em vias de publicagdo no "Memoires ¢ Documents du Centre de Recherches et Documentation cartographiques et geographiques du C.N.R.S"), Isto nos leva a dizer que a definigfo de uma paisagem é fungiio da escala. No seio de um mesmo sistema taxondmico, os elementos climéticos ¢ estruturais so basicos nas unidades superiores (C.l.a G.IV) eos elementos biogeograficos e antrépicos nas unidades inferiores (G.V. a G.VILD. O sistema de classificagao finalmente escolhido comporta seis niveis témporo-espaciais;de uma parte a zona, o dominio e a regio; de outra parte, o geosistema, 0 geoficies o gestopo. (Observar a tabela). (Dy As unidades superiores - As pesquisas tem-se limitado as unidades inferiores. No entanto pareceunecessério apresentar um sistema taxondmico completo. Para as unidades superiores, ¢ suficiente retocar o sistema de delimitagao consagrado pelo uso, precisando somente a definigao eo lugar relative de cada unidade, © qualificativo de zona deve ser imperativamente ligado ao conceito de zonalidade planetiria. E entio reservado aos conjuntos de 1* grandeza (zona temperada). Na realidade, a zona se define primeiramente pelo seu clima e seus "biomas ", acessoriamente por certas megaestruturas (os escudos das dreas tropicais). © dominio corresponde a unidades de 2° grandeza. O dominio mediterrineo ss. e um exemplo deste tipo com suas paisagens vigorosamente individualizadas. Da mesma maneira, define-se um dominio cantabrico caracterizado por uma certa combinagio de relevos montanhosos ¢ de climas ocednicos. A definigio do dominio deve ficar suficientemente maledvel para _permitir reagrupamentos diferentes nos quais a hierarquia dos fatores pode no ser a ‘mesma (dominio alpino, dominio atlantico europeu ... ). A regio natural, jé apresentada, situa-se entre a 3° e a 4” grandeza. Os Picos de Europa constituem, no interior do dominio cantabrico, uma regiao natural bem cireunscrita que corresponde a individualizagao tect6nica de um macico calcdrio vigorosamente compartimentado e carstificado. Ele constitu’ uma "frente montanhosa" hiper-himida ¢ hiper-nebulosa caracterizado por um andar biogeogrifico original (mistura faia-carvalho verde nas baixas encostas, auséncia de resinosas, limite superior da florestas bem baixa, passagem da "terra fusca” ocednicas 08 solos alpinos himicos). 2) As unidades inferiores - Foi necessério montar todas as pegas das unidades globais inferiores a regio natural, Apés numerosos ensaios, forjaram- 3 entidade novas: o geossistema, 0 geoficies © o gedtopo. Estes termos tem a vantagem de nao terem sido utilizados, de serem construidos num modelo idénti de evocar cada um o trago caracteristico da unidade correspondente. Na verdade, geo “sistema” acentua o complexo geogréfico e a dinimica de conjunto ; geo "facies" insiste no aspecto fisiondmico ¢ geo "topo" situa essa unidade no ultimo nivel da escala espacial. Num 1° estudo consagrado a anilise dum caso concreto (G.BERTRAND, Esquisse biogeographique _de la Liébana, La dynamique actuelle des paysages, R.GP.S. -0, 1964, fase. 3, 225-262), havia-se utilizado um vocabulario diferente que tinha, sido criticado por um certo numero de especialistas. 2) O geossistema - 0 exemplo do geossistema Sierras Planas (Espanha do Noroeste; dominio cantabrico, regio dos Picos de Europa - As Sierras Planas sio plataformas escalonadas entre 180 ¢ 450m de altitude entre 0 oceano Atlintico © 0 macigo Cantébrico, Talhadas no arenito e os quartzitos do Primério, elas representam os vestigios de superficies de aplainamento de idade miocénica que se ligam a0 piemonte norte-cantabrico hoje em sua maiorparte afundado e afogado sob 0 oceano. 6 Esses planaltos, talhados em estreitas linguas, por. sulcos de erosio plio-quaternérios, mergulham num clima hiperocednico particularmente . timido e nebuloso. As "andes" atlanticas partilham a superficie com as turfeiras oligotréficas de "Sphaignes" e" "Poliaricum". As Sierras Planas foram desmatadas ¢ usadas como pastagens, desde 0 neolitico, Atualmente, sfo sub-utilizadas: alguns pedagos para pastoreio ¢ reflorestamentos, recentes com "Eucalyptus Globulus." e "Pinus insignis" uma exploragio arcaica da turfa, _ E uma paisagem nitida e bem circunscrita que se pode, por exemplo, identificar instantaneamente nas fotografias aéreas. Portanto as Sierras Planas se ligam a unidades elementares discordantes ¢ de extensio varidvel: um piemonte complexo que franjeia toda a vertente norte-cantébrica, um clima comum ao conjunto do litoral asturiano, fenémenos de podzolizagao que sao vistos em todas rochas matrizes quartziticas das montanhas cantabricas, uma série vegetal dominada pelo carvalho pedunculado que abre uma superficie muito mais vasta, enfim uma exploragao silvo-pastoral que nao ¢ muito diferente das encontradas nas regides, vizinhas. A unidade da paisagem ¢ portanto incontestavel. Ela resulta da combinagio local e nica de todos esses fatores de declive, clima, rocha, manto de decomposicao, hidrologia das vertentes) e duma dindmica comum (mesma geomorfogénese, pedogénese idéntica, mesma degradagao antrpica da vegetagdo que chega ao paraclimax "Iande" podzol ou A turfeira). A paisagem das Sierras Planas caractetiza-se pot uma certa homogeneidade fisiondmica, por uma forte unidade ecolégica e biolégica, fato essencial, por um mesmo tipo de evolugiio. Este exemplo permite esbogar uma definigdo teérica do geossistema. [me 1 POTENCIALECOLOGICO | EXPLORAGAO BIOLOGICA GEOSSISTEMA ACAO ANTROPICA [Oearsenm suse catrea Feat grander enporesiacal | © geossistema situa-se entre a4" ea 5* grandeza témporo-espacial. Trata-se portanto de uma unidade dimensional compreendida entre alguns quilémetros quadrados e alturas centenas de quilémetros quadrados. E nesta escala que se situa a maior par te dos fendmenos de" interferéncia entre os elementos da paisagem e que evoluem as combinagdes dialéticas as mais interessantes para 0 7 gedgrafo, Nos niveis superiores a ele sé 0 relevo e o clima importam e, acessoriamente. as grandes massas vegetais. Nos niveis inferiores, os elementos biogeogrificos so capazes de mascarar as combinagdes de conjunto. Enfim o geossistema constitui uma boa base paraos estudos de organizagio do espago porque ale compativel com a escala humana. © geossistema corresponde a dados ecoldgicos relativamente estaveis. Ele resulta da combinagio de fatores geomorfolégicos (natureza das , as rochas ¢ dos mantos superficiais, valor do declive, dindmica das vertentes...) climéticos (precipitagdes, temperatura ... ) € hidrolégicos —_(Iengéis fredticos epidérmicos ¢ nascentes, PH das aguas, tempos de ressecamento do solo. ). E 0 "potencial ecolégico” do geossistema. Ele ¢ estudado por si mesmo e nao sob o aspecto limitado de um simples "Iugat”, Para uma soalheira caleéria da média montanha pirenaica, por exemplo as paredes talhadas no calcério urgoniano-aptiano da bacia de "Tarascon-Ariege", © potencial ecolégico corresponde a vertentes recobertas de camadas de fragmentos rochosos, a uma insolago e a um aquecimento do substrato, superiores & media regional, enfim, a auséncia de fontes e mesmo de todo o ‘escoamento epidérmico. Pode-se admitir que existe, na escala considerada, uma sorte de "continuo" ecoldgico no interior dum mesmo geossistema, enquanto que a passagem de um geossistema ao outro é mareada por uma descontinuidade de ordem ecolégica © geossistema se define em seguida por um certo tipo de exploragio do espago. A vertente Norte da Montanha Negra (SW do Macigo Central), bem servida por chuvas, fresca € nebulosa, é colonizada por uma floresta de faia montanhosa com urzes, “asperula odorata’, "melia" como a flor, etc... em equilibrio com solos brunos florestais de vertente, Hé uma relagio evidente entre o potencial ecolégico ¢ a valorizagao bioldgica. No entanto, esta tltima depende também muito estreitamente do estoque floristic regional. Por exemplo, se o pinheiro pectineo fosse exponténeo na Montanha Negra, a floresta de faia seria naturalmente substituida, seja por uma floresta de faia € pinheiro, seja mesmo por uma floresta de pinheiro pura, com prenanthes purpirea" em solos lixiviados ou em solos podzdlicos. O geossistema esté em estado de climax quando hé um equilibrio entre 0 potencial ecolégico ¢ a exploragiio biolégica. A floresta de faia ja citada realiza este equilibrio. © potencial ecoldgico esté de qualquer maneira "saturado" ¢ a geossistema caracteriza-se por uma boa estabilidade de conjunto. Mas & um caso relativamente raro. Com efeito, 0 geossistema ¢ um complexo essencialmente dinémico mesmo num espaco-tempo muito breve, por exemplo o de tipo histérico. O climax std longe de ser sempre realizado, O potencial ecolégico ¢ a ocupagao biolégica so dados instaveis que variam tanto no tempo como no espago. A mobilidade-biolégica € bem conhecida (dindmica natural da vegetagdo € dos solos, interveng&es antrépicas, ete.). De outro lado, parece que os naturalistas se interessaram pouco pela evolugdo prépria do potencial ecoldgico que precede, acompanha ou segue as modificagdes de ordem bioldgica. Por exemplo, a destruigao de uma floresta pode, seja contribuir para a elevagaio do lengol fredtico, seja desencadear erosdes susceptiveis de transformar radicalmente as condigdes ecolégicas. As nogdes de "fator limitante" ¢ de "mobilidade ecoldgica merecem um exame aprofundado da parte do geégrafo advertido dos fendmenos de geomorfogénese e de degradagao antropica, Sur la notion de "mobilité écologique", ef. G. BERTRAND, Pour une étude géographique de la végéiation, R.G.P.S.-O., 1966, fase. 2, 129-143). Por essa dindmica intema, 0 geossistema no _apresenta necessariamente uma grande homogeneidade fisiondmica.N a maior parte do tempo, ele é formado de paisagens diferentes que representam os diversos estgios evolugio do geossistema, Realmente, estas paisagens bem circunscritas s4o ligadas ‘umas as outras através de uma série dindmica que —_tende,ao_—_-menos teoricamente, para um mesmo climax. Estas unidades fisiondmicas se unem entdo numa mesma familia geografica. Sio os geoficies (pl. VII A € B). b) O geoficies e 0 gedtopo: No interior de um mesmo geossistema, 0 geofiicies corresponde entfio a um setor fisionomicamente homogéneo onde se Gesenvolve uma mesma fase de evolucgio geral do geossistema. Em relagio 4 superficie coberta, algumas centenas delas em média, 0 geoficies se situana —6* ‘grandeza de escala de A. Cailleux e J. Tricart. Como para o geossistema, pode-se distinguir em cada geofiicies um potencial ecolégico e uma exploragao biolégica. Nessa escala é muitas vezes esta ultima que vem a ser determinante e que repercute, diretamente na evolugio do potencial ecolégico. O geoficies representa assim uma pequena malha na cadeia das paisagens que se sucedem no tempo e no espago no interior dum mesmo geossistema, Pode-se falar de cadeias progressivas e de cadeias regressivas de geofacies, como também de um "geofcies-climax" que constitui um estéigio final da evolugao natural do geossistema. Na superficie de um geossistema, 05 geofécies, desenham um, mosaico mutante cuja estrutura e dindmica traduzem fielmente os detalhes as pulsagées de ordem biolégica, O estudo dos geoficies deve sempre ser recolocado, nessa perspectiva dinamica ‘As vezes é indispensdvel conduzir a anélise ao nivel das microformas, na escala do metro quadrado ou mesmo do decimetro quadrado, (7° grandeza). Uma diaclase alargada. pela, dissolugdo (Pr. VIII,B) uma cabeceira de nascente, um fundo de vale que 0 sol nunca atinge, uma face montanhosa, constituem igualmente biétopos cujas condigdes ecolégicas so multas vezes muito diferentes das do geossistema & do geoficies dentro das quais eles se acham. Eo refugio de biocenoses originais, as vezes (relictuais) ou endémicas. Este complexo bidtopo-biocenose, bem conhecido dos gedgrafos, corresponde a0 gedtopo, isto é, a (melhor)unidade geogréfica homogénea diretamente discernivel no terreno; os elementos inferiores precisam da anilise fracionada de laboratério. ‘A tabela acima resume a classificagdo sintética das paisagens. De um Jado, ela dé a escala e 0 lugar relativo de cada unidade global na hierarquia das paisagens como também os encadeamentos entre as diversas unidades. De outro, ela situa a série geossistema-geoficies-gedtopo em relagio a um certo numero de unidades e de classificagao elementares. III - A DINAMICA DA PAISAGEM Considerando a paisagem como uma entidade global admite-se implicitamente que os elementos que a constituem participam de uma dindmica comum que nao corresponde obrigatoriamente 4 evolugiio de cada um dentre eles tomados separadamente, Somos levados entio a procurar 05 mecanismos gerais da paisagem em nivel dos geossistemas ¢ dos geoféicies. O "sistema de erosio" de A. CHOLLEY, inspirou diretamente esta ordem metodolégica. Por que nao alargar 0 conceito de "sistema de erosio" no conjunto da paisagem? passar-se-ia assim de um fato estritamente geomorfoldgico a nogdo mais vasta, mais completa e mais geogrifica de "sistema geral de evolugao" da paisagem. 1-O exemplo de geossistema "mediterrineo" da Baixa (Liebana) ¢ do geossistema hiperoceanico das Sierras Planas (dominio Cantébrico, regido dos Picos de Europa). G.BERTRAND, ibid, note 18, 236-248] - Os ravinamentos ¢ os desnudamentos das vertentes sfio freqiientes na Baixa Liebana. As causas siio primeiramente geomorfolégicas (possante dissecgio plio-quaternaria nos xistos tenros, mantos superficiais espessos instaveis) e fitogeogrficos (tapete vegetal ralo € fragil de tipo relictual, isto é, em desequilibrio bicclimatico). A situagdo é agravada pelo sistema de valorizagio antropica que multiplica os desmatamentos, os incéndios ea degradagio das florestas claras, dos "maquis" e das "garrigues". Os solos so descontinuos e mal evoluides (tipos "rankeriformes"). A geomorfogénese condiciona entio a dindmica do conjunto desse geossistema e domina o "sistema de evolugiio" da paisagem. Nas Sierras Planas os pastores asturianos destruiram a floresta para aumentar as areas de pastoreio. Eles desencadearam uma cascata de processos pedolégicos (podzolizago, formagao de turfa, hidromorfizagdo) botinicos (extensio das "landes" dcidas) e as vazes mesmo geomorfologicos (movimentagdo dos mantos arenosos j4 pedogeneizados). A pedogénese tem ai um papel essencial e bloqucia atualmente a dindmica geral da paisagem. Cada um desses geossistemas possui entao tum sistema de evolugdo diferente. 2 = O sistema de evolugo de uma unidade de paisagem, de um geossistema, por exemplo, retine todas as formas de energia, complementares ou antag6nicas que, reagindo dialeticamente umas em relagdo as outras, determinam a evolugao geral dessa paisagem. Para as necessidades da analise, pode-se isolar trés conjuntos diferentes no interior de um mesmo sistema de evoluga0. Com efeito , eles esto, estreitamente solidérios ¢ se entrecruzam largamente: = 0. sistema geomorfonético tal qual o compreendem os geomorfologistas modemos que insistem no seu cardter dindmico € bioclimatico G.TRICART); * a dindmica biolégica que intervém ao nivel do tapete vegetal ¢ dos solos, Ela é determinada por toda a cadeia de reagdes, ecofisioldgicas que se manifestam através, dos fendmenos de adaptagdo (ecétipos), de plasticidade, de disseminagao, de concorréncia entre as espécies ou as formagées vegetais, etc. , com prolongamentos no nivel dos solos; - o sistema de exploragao antrépica que tem muitas vazes um papel determinante , seja ativando ou desencadeando erosdes, seja somente modificando a vegetagiio ou solo (desmatamento, reflorestamento 3. O sistema de evolugio se define por uma série de agentes de processos mais ou menos bem hierarquizados. Sem querer desenvolver aqui essa questo, podem ser distinguidos agentes naturais (climéticos, biolégicos, etc...) que determinam processos naturais (ravinamentos, pedogénese, dindmi ecofisioldgica) e agentes antrépicos (sociedades agropastoris, florestais ... ) dos quais dependem os processos _antrépicos-_ (desmatamento, —_incéndio, reflorestamento). Se no & nunca facil apreciar a importincia de determinado agente ou de determinado proceso isolado, ¢ no entanto possivel classificar os sistemas de evolugiio em fungao do ou dos fatores dominantes (geomorfogenético, antrépico ... ) . E jd um primeiro esbogo de classificagiio das paisagens. A TIPOLOGIA DAS PAISAGENS Antes de classificar os geossistemas, € preciso dar-Ihes nomes. Trata-se de definir 0 mais breve possivel combinagdes ricas, muitas vezes tinicas, que escapam as terminologias tradicionais, Na verdade , nao so evitadas perifrases complicadas que a despeito de serem carregadas, no sfio sempre explicitas. A solugao mais facil consiste em designar geossistema pela vegetagdo correspondente que representa muitas vezes a melhor sintese do meio. Como nome de uma espécie nao é suficiente, pode-se reter 0 nome da formagao vegetal climax e seu traco ecoldgico essencial (geossistema da floresta de carvalho atléntica acidéfila, geossistema da floresta de faia montanhosa higrofila...). Todavia, néio se pode fazer disso uma regra geral porque 0 tapete vegetal nio é sempre o elemento dominante ou caracteristico da combinagao (por ex., para certos geossistemas de alta montanha ‘ou das regides atidas). Dai, parece preferivel reter 0 trago ou a associagio geogrifica caracteristica, qualquer que seja sua natureza. Para maior preciso, acrescenta-se o nome do conjunto regional 20 qual pertence o geossistema. Citemos a titulo de exemplo: para a vertente Norte do macigo Cantibrico Central, o geossitema hiperocednico das Sierras Planas, o geossistema da montanha média oceanica silicosa da Sierra de Cuera, o geossistema do setor das gargantas calcarias com lenhosas, submediterranea, 0 geossistema da alta montanha carstica dos Picos de Europa. Para a Montanha Negra ocidental: geossistema das garupas super-florestadas da alta Montanha Negra o geossistema sub-mediterréneo acidéfilo do "Cabardes"... Os geoficies definem facilmente no interior de cada geossistema porque eles correspondem sempre a uma combinagio caracteristica. Nesta escala, a vegetagio fornece os melhores critérios, em particular sob a forma de agrupamentos fitosociolégicos, com a condigao de completar as definigdes com a ajuda dos outros elementos geogréficos: geoficies das paredes calcérias de montanha com "Potentilletalia caulescentis", geofacies do prado calcicola pastoril com "Elyno-Seslerietea"...A denominagtio dos ge6topos obedece aos mesmos principios: cabega de nascente com "Osmunda regalis", tufos do "Androsace" em "auto-solo” hiimico, turfeira com "Sphaignes"... u ‘A. relativa complexidade desse esbogo taxonémico sublinha perfeitamente os problemas que aparecem na classificagao global das paisagens. A dificuldade ¢ menos de chegar a uma definigao sintética que de adaptar o sistema de classificagao ao fato de que a estrutura ¢ a dindmica das diferentes unidades mudam com a escala. As tipologias estritamente fisiondmicas (vertente florestal, planalto calcdrio com "garrigue" ) ou ecoldgicas (geossistemas mediterriineo , atlntico, montanhés...) nflo deram os resultados esperados. Elas so cémodas, mas carecem de rigor e sua generalizagao é dificil. A escolha caiu numa tipologia dindmica que classifica os geossistemas em fungao de sua evolugdo ¢ que engloba através disso todos os aspectos das paisagens. Ela leva em conta trés elementos, o sistema de evolugdo, 0 estagio atingido em relagfio ao climax, o sentido geral da dinamica (progressiva, regressiva, estabilidade). Esta tipologia se inspira portanto na teoria de bio resistasia de H. ERHART. Foram distinguidos 7 tipos de geossistemas reagrupados em 2 conjuntos dinamicos diferentes. 1 = Os geossistemas em biostasia - trata-se de paisagens onde a atividade geomorfogenttica ¢ fraca ou nula. O potencial ecaldgico é no caso, mais ou menos estivel, O sistema de evolugo é dominado pelos agentes € os processos bioquimicos: pedogénese, concorréncia entre as espécies vegetais, ete _.. A intervengao antrépica pode provocar uma dindmica regressiva da vegetagio dos solos, mas ela nunca compromete gravemente 0 equilibrio entre o potencial ecoldgico e a exploragio biologica, Esses geossistemas em estado de biostasia classificam-se de acordo com sua maior ou menor estabilidade. la - Os geossistemas “climaticos", “plesiocliméticos" ou “gubclimaticos" correspondem a paisagens onde o climax é mais ou menos bem conservado, por ex., uma vertente montanhosa _sombreada com cobertura viva" (P. Birot) continua ¢ estavel, formada por uma floresta de faias em solos brunos florestais "Mul-Moder". A intervengiio humana, de caréter limitado, nao ‘compromete 0 equilibrio conjunto de geossistema. No caso de um desmatamento ou mesmo de um acidente "natural" (corrida de lama), observa-se bem rapidamente ‘uma reconstituigio da cobertura vegetal ¢ dos solos; 0 potencial ecolégico nao parece modificado, 1b, Os geossistemas "paraclimiticos" aparecem no decorrer de uma evolugio regressiva, geralmente de origem antrOpica, logo que se opera um bloqueamento relativamente longo ligado # uma modificagao parcial do potencial ecol6gico ou de exploragio biolégica. © melhor exemplo é o do geossistema hiperocefnico das Sierras Planas onde a floresta de carvalho destruida foi substituida por uma “lande” empobrecida em equilibrio com os podzéis. A base aqui é de origem pedologica, A podzolizacao interdita todo retorno espontneo do ‘climax florestal. A evolugao nao pode prosseguir sendo artificialmente para uma outra forma de climax (reflorestamento_com resinosas apés aragiio profunda). Te, Os geossistemas degradados com dindmica progressiva sfio bem freqiientes nas montanhas temperadas imidas submetidas ao éxodo rural, Os territérios rurais cultivados passam ao abandono, com "landes", capoeiras € retorno 12 a.um estado florestal que 6, na maior parte dos casos, diferente da floresta-climax. E 0 caso de certas areas declivosas dos territérios rurais pirenticos do andar do carvalho séssil, que se cobrem de mata de tronco fino como aveleiras, bétulas, castanheiras e carvalhos diversos que mo constituem obrigatoriamente a frente pioneira da floresta de carvalho-climax anteriormente destruida, Id. Os geossistema degradados com dindmica regressiva sem modificagao importante do potencial ecolégico representam as _paisagens fortemente humanizadas onde a presstio humana ndo afrouxou_ainda (montanhas cantabricas com economia agro-pastoril). A vegetagio é modificada ou destruida, 08 solos so transformados pelas praticas culturais ¢ 0 percurso dos animais. No entanto, o equilibrio ecolégico nao é rompido malgrado um inicio de "ressecamento ecolégico". As erosdes mecfinicas, sempre muito localizadas, guardam um carater excepcional (por ex. ao longo dos caminhos vicinais). 2 = Os geossistemas em resistasia - A geomorfogénese domina a dindmica global das paisagens. A erosio, o transporte e a acumulagio dos detritos de toda a sorte (humus, detritos vegetais horizontes —pedoldgicos, mantos superficiais e fragmentos de rocha in loco) Jevam a uma mobilidade das vertentes € a uma modificago mais ou menos possante do potencial ecolégico. A geomorfogénese contraria a pedogénese e a colonizagdo vegetal. No entanto, ¢ preciso distinguir os 2 niveis de intensidade: De um lado, os casos de resistasia verdadeira ligados a uma crise geomorfoclimética capaz de modificar a modelado ¢ 0 relevo. O sistema de evolugdo das paisagens se reduz entiio ao sistema de erosfo clissico, A destruigao da vegetacio e do solo pode nesse caso ser total, Cria-se um geossistema inteiramente novo. Este fendmeno ¢ freqiiente nas margens das regides aridas onde cele é muitas vezes acelerado pela explorago antrépica (“terras mas do Oeste dos EEUU). Pode tratar-se também de uma ruptura de equilibrio "catastréfica” (por ex. lava torrencial em montanha). Por outro lado, os casos de resistasia limitada a "cobertura viva" da vertente, isto é, a parte superficial das vertentes: vegetagio, restos vegetais, humus, solos € s vezes manto superficial e lengéis fredticos epidérmicos. Esta evolugtio ainda nao interessou suficientemente os gedgrafos ¢ os biogedgrafos. E certo que cela & quase negligencivel do ponto de vista geomorfolagico porque ela nfo cria relevos, mesmo que anuncie as vezes inicios duma_ ‘crise geomorfoldgica. No ‘entanto seu interesse é capital do ponto de vista biogeografico porque ela mobiliza toda a parte biologicamente ativa da vertente. Pode-se qualificar esta erostio de “epidérmica" para bem distingui-la da erostio verdadeira ou "geomorfolégica" © para evitar as confusdes ¢ as discussdes initeis que durante um certo tempo puseram em oposiga0 0s contra ¢ a favor da erosdo sob cobertura vegetal: eles nio falavam do mesmo tipo de erosio nem da mesma cobertura vegetal ¢ nao se situavam na mesma escala, A erostio epidérmica j4 tinha sido definida sob o nome de erosio biolégica (G_ BERTRAND, ibd, note 19,140-143) mas este qualificativo era uma B fonte de confusio, A tipologia dos geossistemas em resistasia deve levar em conta todos esses fatos. 2a, Os geossistemas com geomorfogénese "natural". Nas regides dridas e semi-dridas, assim como na alta montanha, a erosdo faz parte do climax, isto é, ela contribui a limitar naturalmente o desenvolvimento da vegetagao ¢ dos solos (vertente montanhosa com talude de detritos mével, superficie de um "glacis” de erosdo alimentado por escoamento anastomosado de "oued"). 2b. Os geossistemas regressivos com geomorfogénese ligada a ago antrépica. Ja se insistiu longamente sobre este aspecto da dindmica das paisagens. F preciso encarar 3 casos: primeiro, os geossistemas em resistasia bioclimatica cuja geomorfogénese é ativada pelo homem. Em seguida, 03 geossistemas marginais em "mosdico", isto é com geofaicies em resistasia ¢ com geofiicies em biostasia, caracterizados por um certo desequilibrio e uma certa fragilidade natural. © exemplo tipico é 0 do dominio mediterdneo cuja degradagio no esté ligada somente ao fator antropico. Enfim, os geossistemas regressivos e com potencial ecoldgico degradado que se desenvolve por intervengo antrépica no seio das paisagens em plena biostasia (certas culturas de "plantation" em economia colonial), Este esbogo tipolégico deve ser sumariamente colocado na dupla perspectiva do tempo e do espago. No tempo, o problema mais delicado é considerar a parte das herangas. Com efeito, essas no so somente geomorfoldgicas ¢ pedolégicas, mas também floristicas e antrépicas. Seria preciso reconstituir a cadeia histérica dos geossistemas, sobretudo levando em conta a altemndncia ¢ a duragdo respectiva das fases de equilibrio bioldgico ¢ das fases de atividade geomorfogenttica. Os resultados combinados da anilise de pélen, do exame dos depésitos superficiais e dos paleo-solos do estudo da ago humana, desde os inicios da vida a pastoril e da agricultura, permitem as vezes obter-se uma idéia precisa da dindmica recente das paisagens. A regitio cantabrica se presta bem a essa pesquisa agracas aos ttabalhos dos pré-historiadores, dos palindlogos e dos fitosocidlogos. No espago, a justaposicao dos geossistemas e um fato geral. No entanto, os geossistemas com equilibrio biolégico ocorrem sobretudo nas zonas temperadas e tropicais timidas, assim como em certas regides de planicie. A alta montanhae as diagonais éridas abrigam sobretudo os geossistemas com mais ou menos grande atividade geomorfogenética. A exploragao antrépica esta em vias de perturbar esta distribuigdo essencialmente bioclimética estendendo os geossistemas em desequilibrio biolégico. Mas a erosdo "geomorfoldgica", muitas vezes rapida e espetacular, no se exerce senfio em superficies reduzidas. Em compensagdo, 0 verdadeiro perigo do ponto de vista da organizagio do espago © a erosio epidérmica', que, de forma as vezes insidiosa; arranha a pelicula viva das vertentes fem setores extensos sem que se preste a ela uma real atengio. O estudo da distribuigdo espacial dos geossistemas é pois um problema de geografia “ativa" que vem reforgar o interesse da pesquisa cartografica. V - ACARTOGRAFIA DAS PAISAGENS, A tepresentagiio cartogrifica das paisagens exige um inventdrio geografico completo e relativamente detalhado. A andlise deve ao menos descer até © nivel dos geofiicies mesmo se eles ndo devem figurar na carta. O essencial do trabalho se efetua no terreno: levantamentos geomorfologicos, pedolégicos © fitogeograficos, exame das figuas superficiais, observagdes elementares, _inquéritos sobre o sistema de valorizagdo econdmica (gestio florestal, percursos pastoris, direitos de uso, ete. Essas informagées e levantamentos teméticos so completados pelos trabalhos de arquivos ¢ inquéritos diversos (cadastro, servigos administrativos, ete... A consulta da bibliografia especializada é bem entendido indispensiivel, mas ela é muitas vezes dificil de ser utilizada por causa da diferenga de ponto de vista Para orientar toda. essa documentagao volumosa ¢ disparatada, ¢ preciso escolher uma linha mestra. Ela é fornecida pelo tapete vegetal cujo levantamento sistemitico a 1/50.000 segundo um método simplificado, intermediério entre 0 do servigo da Carta da Vegetagao a 1/200,000 da Franga co da Carta de Vegetagio a 1/100.000 dos Alpes de P. Ozenda, serve de, base a cartografia global das paisagens. A interpretagao das fotografias aéreas constituem um apoio precioso, porque ela fornece uma visio sintética ¢ instantinea das paisagens. Ensaios cartograficos foram realizados em diversas escalas. Contentamo-nos em lembrar aqui o método seguido © 05 resultados obtidos no curso das pesquisas de tese ¢ direglio de Mestrados. ‘Na escala média (1/100 000 e 1/200.000)1) pode-se cartografar © geossistemas de maneira satisfat6ria com a condigao de renunciar a acumulagao dos sinais analiticos e de uma representagao sintética. Cada geossistema corresponde ‘a um lugar cuja cor ¢ respectiva trama so escolhidas em fungio da dinémica do geossistema, (exemplo: azul para os geossistemas climéticos, verde para os geossistemas paraclimaticos, amarelo _para_geossistemas _regressivos com degradagao antrépica dominante, vermelho para os geossistemas com evolugio essencialmente geomorfolégica). Os jogos de trama permitem variar esta tipologia. Na carta 1/200,000 das montanhas cantabricas centrais (cobrindo mais ou menos 6.000 km) foram determinados 32 geossistemas. Esta carta a 1/200.000 em 7 cores existe sob forma de maquete e deverd estar terminada em 1968. Na escala grande 1/20.000, pode-se facilmente cartografar os geoficies no interior dos geossistemas. A cor ou a variagio na cor de cada geossistema indica a situagio dinimica em relagio ao climax (geofacies-climax em azul, geoficies degradado em amarelo ou em vermelho). Pode-se assim escolher um tema, por ex., as relagGes entre a cobertura vegetal e a crosto "epidérmica” ‘A geografia fisica global néo esta destinada a substituir nem mesmo aconcorer com os estudos especializados tradicionais dos quais alias, ela se nutre. Ela constitui uma pesquisa paralela que aproxima, confronta ¢ completa os dados da andlise e que coloca cada elemento no seu complexo de origem, estudando mais especialmente as combinagSes geogréficas € sua dindmica global. Sua fungao essencial & portanto de "redescobrir" a geografia fisica tradicional e de fazer diretamente apelo as ciéncias biol6gicas e as ciéncias humanas. Mas ainda dando 0 meio de descrever, de explicar e de classificar cientificamente as paisagens, ela se abre naturalmente para os problemas de organizagao do espago nao urbanizado. Mas este estudo global dos meios naturais nfo pode ser conduzido semente pelos gedgrafos. Ele ndo pode expandir-se sentio na pesquisa e na reflexao interdisciplinar. 1s Bentovel Q- Paiacses ii © vemerttaco dea drnirees di pA ee deast fied, de ene ten (Aero? bie ke gees a2 antcgicar Gy, agin te doa Li beam th yar Asse D ettes, faye de pore Be Con yor Gan ee jade hd be eM qe eee nga SateQ wO enon dt Ke cher ecperlaged » d+ pa eenleged + Ba Tous farneges ge EES weet. pole Aen BAe BD Gocheerieot land seepe : daen sore Ligedoge BinS mee, das parayes Oi rn gees da mrcoeged dar, suba— taurcra a Dis Bags HD en Tego das posse | 3) Desi dock Cttame) b) Wee Cpuda a estes aancio) e) Cen mn legas @ Sy ae arse {ten - Node os ALL Ae be ee ae been Ame anes travian» 0 eee Teen eR ay perenne a oper GB bet oe eee PANS

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